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D ESENVOLVIMENTO DAS ESPÉCIES VEGETAIS INTRODUZIDAS E A REGENERAÇÃO NATURAL

No documento Universidade do Vale do Itajaí - Univali (páginas 34-41)

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3. D ESENVOLVIMENTO DAS ESPÉCIES VEGETAIS INTRODUZIDAS E A REGENERAÇÃO NATURAL

A cobertura vegetal também é importante para a proteção do solo e contenção da erosão. A presença de material cobrindo o solo reduz significativamente a perda de solo por erosão pluvial (Santos et al., 2009; Ramos et al., 2011). Apesar de diferentes categorias de solo e utilização de vegetação morta, Cogo (1981), Lopes (1984), Amado et al. (1989) e Silva et al.

(2005), observaram que a partir de 40% de cobertura vegetal a perda é quase nula.

Independentemente da quantidade de precipitação (mm), o aumento da porcentagem de cobertura leva a uma redução da perda de solo (Silva et al., 2005). A cobertura vegetal limita a capacidade da água de destacar as partículas de solo e transportar os sedimentos, e devido a este efeito, a taxa de perda de solo diminui exponencialmente com o aumento da porcentagem (Sousa, 2015).

No presente estudo observou-se que após um período de nove meses (abril/2019 a dezembro/2019) houve um aumento de 15% na média da cobertura vegetal do solo em relação ao primeiro mês da amostragem (Figura 24), sendo que a partir do mês de setembro/2019 o aumento foi considerável. A temperatura influência o crescimento vegetal e as mais baixas, no período do inverno, reduzem as funções fisiológicas (Carvalho et al., 2009). Tal fator abiótico pode ter influenciado em uma menor cobertura vegetal nos meses de abril/2019 a agosto/2019 e portanto, os Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas devem levar em conta a temperatura e serem implantados nos períodos que favoreçam o crescimento vegetal.

Não foram observadas diferenças significativas (t= 0,13793 p=0,89069) entre as metades superior (N=36) e inferior (N=36) das Grades Vivas. A presença da cerca pode ter influenciado na ausência de diferenças entre os tratamentos, por se tratar de uma barreira física contra os efeitos do aumento da vazão, da variação do nível do rio e do tráfego de embarcações.

Além disso, a proteção do solo pela cobertura vegetal em conjunto com as estruturas físicas, também pode ter influenciado na redução do processo erosivo na AP.

Figura 24: Porcentagem (%) média de cobertura vegetal do solo por mês entre a porção superior e inferior da AP.

Quanto aos resultados referentes a regeneração natural, ao final do último mês de amostragem foram identificados ao total 22 táxons vegetais (Tabela 2), sendo 20 indivíduos na categoria de espécies (90,90%), um indivíduo na categoria de família botânica (4,54%), e um indivíduo que não foi identificado (4,54%). Dos táxons identificados: 16 possuem hábito herbáceo (72,72%), três arbustivo (13,63%), um arbóreo (4,54%) e um escandente (4,54%).

Quanto a origem: 15 são espécies nativas (68,18%), duas exóticas (9,09%), três naturalizadas (13,63%) e duas não foram identificadas (9,09%).

Tabela 2: Relação das plantas registradas no período de março/2019 a dezembro/2019. Família botânica, nomenclatura científica, nome popular, origem (Nativa/Exótica/Naturalizada) e hábito. As espécies Hibiscus tiliaceus L. e Acrostichum aureum L. foram introduzidas na implantação. “NI” = não identificado.

Família Nome Científico Nome Popular Origem* Hábito

Apiaceae Hydrocotyle bonariensis Lam. Para-sol N herbáceo

Apium leptophyllum (Pers.) F. Muell. ex Benth.

Aipo-bravo N herbáceo

Asteraceae Youngia japonica (L.) DC. Crepe-do-japão E herbáceo

Emilia fosbergii Nicolson Pincel N herbáceo

Sphagneticola trilobata (L.) Pruski Arnica N herbáceo

Commelinaceae Commelina erecta L. Commelina N herbáceo

Cyperaceae Cyperus esculentus L. Tiriricão Na herbáceo

Cyperus iria L. Junquinho N herbáceo

Dennstaedtiaceae Pteridium aquilinum (L.) Kuhn Samambaia-das- taperas

N herbáceo

Fabaceae NI NI - NI

Hypoxidaceae Hypoxis decumbens L. Tiririca-de-flor-

amarela

N herbáceo

Lamiaceae Aegiphila integrifólia (Jacq.) Moldenke Tamanqueiro N arbóreo

Malvaceae Hibiscus tiliaceus L. Algodoeiro-da-

praia

N arbustivo

Sida rhombifolia L. Vassourinha N herbáceo Hibiscus rosa-sinensis L. Graxa-de-estudante E arbustivo Malvastrum coromandelianum Garcke Guanxuma N herbáceo Melastomataceae Tibouchina urvilleana (DC.) Cogn. Orelha-de-onça N arbustivo

Oxalidaceae Oxalis corniculata L. Azedinha Na herbáceo

Oxalis latifolia Kunth Trevo-azedo Na herbáceo

Phyllanthaceae Phyllanthus tenellus Roxb. Quebra-pedra N herbáceo

Pteridaceae Acrostichum aureum L. Samambaia-do-

mangue

N herbáceo

NI NI NI - escandente

*Nativa = Na; Exótica = E; Naturalizada = Na

As espécies com hábito herbáceo foram as que apresentaram maior número e as primeiras a colonizarem a área. Herbáceas são pioneiras comuns em áreas em restauração e são comumente indicadas para utilização em Recuperação de Áreas Degradadas, pois além de formarem uma boa cobertura vegetal, seu sistema radicular permite uma maior proteção do solo contra os efeitos da erosão superficial e eólica facilitando a sucessão ecológica (Gray & Sotir, 1996; Souza, 2015). Os autores também destacam a importância de espécies lenhosas, que apresentam sistema radicular mais profundo que as herbáceas e são eficazes na contenção e mitigação de processos erosivos pouco profundos. Apesar de representaram menor número de espécies na AP, as arbustivas são caracterizadas por este tipo de sistema radicular.

A Figura 25 apresenta os dados de número de espécies e o número total de indivíduos amostrados no período de março/2019 a dezembro/2019. Nota-se que entre os meses de maio/2019 a setembro/2019 somente três novas espécies foram identificadas e o número total de indivíduos na amostragem não passava de 60 (número total de indivíduos em dezembro/2019

= 167). A partir do mês de setembro/2019 o número de indivíduos aumentou consideravelmente e em contrapartida, somente quatro novas espécies foram identificadas, indicando uma possível dominância de algum táxon. O que era esperado, já que a área se encontra em processo inicial de regeneração e colonizada principalmente por espécies pioneiras. De acordo com Laurence et al. (1998), pode haver maior densidade quando uma ou mais espécies são localmente favorecidas por algum distúrbio. Carvalho et al. (2007) constataram em fragmento de Mata Atlântica que apenas dez espécies eram responsáveis por 50% do total de indivíduos, sendo espécies anuais e de hábito arbóreo. Os autores associam a fragmentação e retirada de madeira como a possível causa da dominância, pois as espécies sofrem ação dos efeitos de borda no fragmento, reduzindo a variabilidade genética e estabelecimento de espécies oportunistas.

Figura 25: Número de espécies (N) em relação ao número total de indivíduos (N) por mês de amostragem (março/2019 a dezembro/2019).

Sobre as espécies vegetais introduzidas (Tabela 3), os hibiscos apresentaram uma Taxa de Enraizamento (TE) de 42,5%. Prasad et al. (2012) em estudo de enraizamento de espécies da flora em solos arenosos, constataram que a espécie Hibiscus tiliaceus pode ser utilizada com eficiência para estabilização de processos erosivos. Em estudos com o mesmo gênero, Pizzato et al. (2011) obtiveram 70% de enraizamento com a espécie Hibiscus rosa-sinensis sem a utilização de hormônios e Viana et al. (2017) utilizando hormônio AIB (Ácido Indolbutírico) obtiveram 92,5%. No presente estudo não foram utilizados hormônios para enraizamento. Já para a espécie Hibiscus diversifolius Jacq., Souza et al. (2007) obtiveram 100% de enraizamento em substrato com casca de arroz carbonizada, sem utilização de hormônios. Apesar de uma TE mais baixa que a observada na literatura para o mesmo gênero, tais valores podem ser explicados pelo fato que os autores realizaram seus experimentos em ambiente laboratorial controlado, diferente do presente estudo. A temperatura influência nas funções fisiológicas dos vegetais (Carvalho et al., 2009) e pelo PRAD ter sido implantado no final do verão e começo do outono, as baixas temperaturas podem ter causado a menor taxa de enraizamento dos hibiscos.

A TS das espécies introduzidas apresentou valores baixos (Tabela 3), tanto para as estacas de hibisco enraizadas e sem raízes, como para a samambaia-do-mangue. Sendo para a espécie Acrostichum aureum (samambaia-do-mangue) um resultado inédito, pois não foram

y = 3E-06x3- 0,424x2+ 18540x - 3E+08 R² = 0,9621

y = 1E-05x3- 1,4756x2+ 64348x - 9E+08

R² = 0,9008 0

20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26

fev-19 mar-19 abr-19 mai-19 jun-19 jul-19 ago-19 set-19 out-19 nov-19 dez-19 jan-20 Indivíduos (N)

Espécies (N)

Meses

Riqueza (s) Indivíduos (N)

Polinomial (Riqueza (s)) Polinomial (Indivíduos (N))

encontrados estudos que monitoraram a sobrevivência de indivíduos, tanto ocorrendo naturalmente, como introduzidos em PRADs.

Apesar do baixo valor de sobrevivência observado no presente estudo para o hibisco, de acordo com a literatura a espécie apresenta bons resultados de sobrevivência de indivíduos plantados (Liu et al., 2014), boa regeneração natural (Nafus et al., 2018) e grande dominância na regeneração em áreas degradadas (Prabakaran & Paramasivan, 2014), além disso, contribui para a melhoria da qualidade do solo (Liu et al., 2014). Ainda, segundo Liu et al. (2014), a espécie possui tolerância mediana ao sombreamento. Na AP a espécie exótica de bambu causa sombreamento e talvez os indivíduos de hibisco sofreram tal influência.

A literatura apresenta diferentes valores de sobrevivência para diferentes espécies e métodos de plantio utilizados na recuperação de áreas degradadas. Nakata et al. (2016) utilizando plantio consorciado de diferentes espécies arbóreas em conjunto com estrutura física de bambu obteve 90% de sobrevivência. José et al. (2007) obteve 100% de sobrevivência para a espécie Schinus terebinthifolius Raddi. (aroeira) em uma recuperação degradada por mineração de bauxita. A espécie ocorre no Parque com certa abundância, sendo possível a utilização na área do PRAD como um futuro enriquecimento. Quanto ao uso de estacas, Aguirre (2012) utilizou estaquias com outras espécies de sub-bosque e arbóreas e constatou 100% de mortalidade em campo após o período de 45 dias, em contrapartida as mesmas espécies que foram mantidas em casa de vegetação sobreviveram. A autora associa a alta taxa de mortalidade em campo com os períodos de estiagem e a baixa qualidade nutricional do solo. Também a baixa sobrevivência observada no presente estudo possa estar associada ao período de estiagem (meses de abril a agosto). Apesar de não ter sido monitorada a qualidade do solo introduzido, bem como as fases lunares no momento da coleta, esses podem ter influenciado no crescimento e estabelecimento das espécies vegetais introduzidas (Fischer & Rombouts, 1986).

Tabela 3: Taxa de Sobrevivência e Taxa de Enraizamento das espécies vegetais introduzidas após o período de 10 meses (março a dezembro/2019).

Espécie Plantio (mês) Momento* No inicial

No final TS TE

Hibiscus tiliaceus

- - 207 88 - 42,5%

Março 1r 24 2 8,3% -

1s 8 0 0,0% -

Maio 2r 12 1 8,3% -

2s 8 0 0,0% -

Julho 3r 14 0 0,0% -

3s 1 0 0,0% -

Setembro 4r 17 0 0,0% -

4s 8 2 25,0% -

Outubro 5r 11 4 36,0% -

Acrostichum aureum Abril - 25 5 20,0% -

*r=enraizado / s=sem raiz

A Tabela 4 apresenta os valores referentes as nove estacas de hibiscos sobreviventes ao final de dez meses de monitoramento (março/2019 a dezembro/2019). Observa-se que todas mostraram incremento na altura e número de folhas, o que denota crescimento, chamando atenção para as duas sobreviventes do primeiro momento (1r), que foram implantadas no mês de março/2019. Das estacas implantadas sem raiz, somente duas do segundo momento (2s) sobreviveram e ambas apresentaram um pequeno incremento, que pode ser notado pela diferença do número de folhas no momento inicial e ao final.

Tabela 4: Crescimento dos hibiscos introduzidos. Classificados em: estaca, plantio (mês), momento (1, 2, n, ...), posição (superior/inferior), altura incial (ho), altura final (hf), número de folhas (inicial e final).

Estaca Plantio (mês) Momento* Posição ho(cm) hf(cm) nº folhas (inicial)

nº folhas (final)

22 mar/19 1r inferior 68 92 15 29

23 mar/19 1r inferior 64 72 13 22

9 mai/19 2r superior 5 33 0 6

8 set/19 4s inferior 15 17 0 13

16 set/19 4s inferior 20 20 0 6

6 out/19 5r inferior 18 26 4 6

11 out/19 5r superior 23 18 5 3

19 out/19 5r superior 28 30 8 9

21 out/19 5r inferior 16 25 4 9

*r=enraizado / s=sem raiz

A mortalidade e crescimento das espécies vegetais introduzidas pode ter sido influenciada pelo; baixo volume de chuva nos meses de julho/2019 a setembro/2019;

sombreamento causado pelas touceiras remanescentes de bambu, sendo que as espécies utilizadas são exigentes de sol; qualidade e profundidade do solo na área do estudo, considerando que este foi introduzido no PRAD sem conhecimento de sua procedência e sem levantamento das propriedades físicas e químicas, bem como sem material suficiente para preencher totalmente o espaço entre a estrutura de bambu e a superfície do talude; e interações bióticas com outros organismos.

As interações bióticas são importantes indicadores de que está ocorrendo a restauração da área degradada e a resiliência do ecossistema (McDonald et al., 2016). Durante os meses de monitoramento foram observadas interações da fauna com a vegetação, como; herbivoria

(lepidópteros) e xilofagia (cupins) (Figura 26 e 27), e a presença de carcinofauna (tocas de indivíduos de Uca sp.) (Figura 28). Ressaltando que a presença de organismos xilófagos só foi observada nas estacas de hibiscos e não na estrutura física de bambu.

Figura 26: Herbivoria nas estacas de Hibiscus tiliaceus. Detalhe para a presença de pupa de Lepidóptero na porção abaxial da folha. PNM Raimundo Gonçalez Malta, BC - SC. Fonte: Autor.

Figura 27: Presença de organismos xilófagos (cupins) na base da estaca de Hibiscus tiliaceus. PNM Raimundo Gonçalez Malta, BC - SC.

Figura 28: Detalhe para as tocas de caranguejos Uca sp. na porção inferior das Grades Vivas. PNM Raimundo Gonçalez Malta, BC - SC. Fonte: Autor.

Apesar do efeito negativo sobre a vegetação, as interações bióticas são importantes para o funcionamento da restauração e são consideradas como indicadores de resiliência do ecossistema, conforme Instrução Normativa sobre PRADs (IBAMA, 2011). Por sua vez, estas interações na área de estudo não prejudicaram a estrutura física, comprovando a eficácia do material bambu.

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