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Efeitos da poluição do ar na saúde humana e os impactos na Saúde

No documento Tese Gustavo dos Santos Souza (páginas 34-37)

Parece crescente a difusão e aumento da consciência ambiental em parcelas consideráveis da população, o que elevaria o nível preocupação com a melhoria da qualidade do ar. Nesse sentido, citam-se o membro do Centro de Pesquisa em Epidemiologia Ambiental de Barcelona (CREAL), Nino Künzli, “Políticas de melhoria da qualidade do ar são de longe mais baratas do que os custos do impacto da poluição do ar na saúde das pessoas” e Brian Miller, do Instituto de Medicina Ocupacional de Edimburgo, “Você não pode pedir para que as pessoas deixem de respirar nos dias de intensa poluição do ar”, de modo a abordar este problema que envolve o meio ambiente, com grande potencial para impactar negativamente a saúde das pessoas (KÜNZLI; MILLER [s.d.]).

Ademais, a existência de modificação de efeito e/ou potencial confundimento na cadeia causal entre poluição do ar e eventos agudos de morbimortalidade tem sido investigada para temperatura e sazonalidade (BACCINI, et al., 2008; PARK; HONG;

KIM, 2011; PATTENDEN et al., 2010).

Outra categoria de doenças, as neoplasias, também têm sido investigadas quanto ao nexo causal, ou seja, quanto ao real papel desempenhado pela poluição do ar no seu aparecimento, de maneira que o câncer de pulmão, dado o nível de evidência científica alcançado, é considerado pela IARC uma neoplasia que pode ser causada pela exposição à poluição do ar (ARBEX et al., 2012; INTERNTIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER, 2013).

Além dos esforços despendidos por pesquisadores afeitos ao método epidemiológico e concernentes à identificação fidedigna dos efeitos causados pela poluição do ar na saúde humana, outras abordagens de investigação vêm sendo empregadas com a intenção de estimar o impacto das políticas de redução e controle dos níveis de poluição do ar sobre a saúde no Brasil, geralmente traduzindo as perdas em saúde pública para valores econômicos.

Nesse sentido, André et al. (2014) com base em suas projeções estimaram que, o adiamento da implementação da política de produção de veículos com base em tecnologias de diesel limpo para 2012, segundo padrões da EURO IV em seis regiões metropolitanas brasileiras, resultará no excesso estimado de 13.984 mortes e oneração do setor saúde em cerca de 11,5 bilhões de dólares até 2040 (ANDRÉ et al., 2012).

No intuito de valorar economicamente os efeitos da poluição do ar no setor saúde em 29 regiões metropolitanas brasileiras, Miraglia e Gouveia (2014) estimaram os custos associados às 20.050 mortes prematuras atribuídas ao MP em 1,7 bilhões de dólares por ano, o que correspondeu a 2% do orçamento do Ministério da Saúde em 2014 (MIRAGLIA; GOUVEIA, 2014).

A diferença individual entre os níveis de exposição à poluição do ar produz efeito menor, em termos de risco à saúde, quando comparado ao tabagismo. Por exemplo, fumantes pesados estariam mais expostos do que fumantes leves ou não fumantes, produzindo uma diferença de risco “substancial”. Por outro lado, há consenso de que toda a população que habita centros urbanos está exposta à poluição do ar ambiente, inexistindo indivíduos não expostos (KÜNZLI, PEREZ, 2010).

Portanto, a relevância e os efeitos do impacto global da poluição do ar na saúde pública não devem ser tomados com base unicamente no pequeno RR encontrado em estudos epidemiológicos sobre poluição do ar. Devem ser considerados conjuntamente (i) a frequência da doença relacionada à poluição do ar na base da população e (ii) a distribuição da exposição. Essa compreensão de fração atribuível aplicada às questões de saúde e poluição do ar foi chamada por Künsli et al. (2010) de “paradoxo da poluição do ar” em que pequenos riscos podem causar um grande impacto na saúde pública (BOFFETTA; NYBERG, 2003; GREENLAND; ROBINS, 1988; KÜNZLI, PEREZ, 2010).

Estimativas da OMS para a UE em 2012 indicaram que a fração atribuível de morte por câncer de pulmão relacionado à poluição do ar na população foi de 7,27%

[Intervalo de Confiança de 95% (IC 95%): 1,24 - 12,99], o que correspondeu a 20.268 óbitos. Em termos globais, esta medida foi de 6% (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2013).

Quadro 1 - Principais contaminantes do ar, origens, locais de ação no sistema respiratório e reflexos na saúde humana

Poluentes Fontes Penetração no sistema

respiratório

Fisiopatologia PTS Fontes antropogênicas: concentração de

poeira, fumos e partículas sólidas em geral provenientes de ruas, estradas, atividades agrícolas e construção civil.

Fontes naturais: sal marinho, pólen, esporos, fungos e cinzas vulcânicas.

Nariz, garganta. Diminui a atividade muco-ciliar e de macrófagos. Produz irritação nas vias respiratórias. Causa estresse oxidativo e, por conseguinte, inflamação pulmonar e sistêmica. A exposição crônica pode ocasionar remodelamento brônquico e DPOC. Potencial cancerígeno.

MP10 Traqueia, brônquios,

bronquíolos.

MP2,5 Queima de combustíveis fósseis e de biomassa; usinas termoelétricas.

Alvéolos.

MP0,1 Alvéolos, tecido pulmonar,

corrente sanguínea.

O3 Não é emitido diretamente na atmosfera.

Sua formação ocorre através de reações químicas complexas entre compostos orgânicos voláteis (COVs) e óxidos de nitrogênio (NOx) - oriundos de veículos automotores, indústrias químicas, lavanderias e atividades que utilizam solventes - na presença de luz solar. A luz solar e a temperatura propiciam reações, de modo que os picos de concentração do ozônio ocorrem preferencialmente nos dias ensolarados e quentes.

Traqueia, brônquios, bronquíolos e alvéolos.

Trata-se de um agente oxidante fotoquímico e irritante. Causa inflamação da mucosa do trato respiratório. Em altas concentrações é capaz de causar irritação nos olhos, mucosa nasal e orofaringe.

Provoca tosse e desconforto torácico. A exposição por várias horas pode lesionar o tecido epitelial de revestimento das vias aéreas. Pode causar também inflamação e obstrução das vias aéreas na presença de certos estímulos como, frio e prática de atividade física.

NOx e NO2 Fontes antropogênicas: a principal fonte de emissão é representada por motores de combustão, o que o torna um importante marcador de poluição veicular. As demais são representadas por indústrias de ácido nítrico e sulfúrico, queima de combustíveis em altas temperaturas e usinas térmicas.

Fontes naturais: a partir de descargas elétricas na atmosfera.

Traqueia, brônquios, bronquíolos, alvéolos.

Irritante. Acomete a mucosa dos olhos, nariz, garganta e vias aéreas inferiores (VAI). Estimula a reatividade brônquica e aumenta a suscetibilidade a infecções e alérgenos.

SO2 Fontes antropogênicas: refinarias de petróleo, veículos a diesel, fornos, metalurgia e fabricação de papel.

Fontes naturais: atividade vulcânica.

Vias aéreas superiores (VAS), traqueia, brônquios, bronquíolos.

Irritante. Afeta a mucosa dos olhos, nariz, garganta e trato respiratório. Causa tosse e aumenta a reatividade brônquica, favorecendo a bronco-constrição.

CO Fontes antropogênicas: queima de biomassa e incêndios florestais, queima incompleta de combustíveis fósseis ou outros compostos orgânicos e escapamento veicular. A principal contribuição para emissões desse poluente está relacionada às áreas urbanas com tráfego intenso.

Fontes naturais: erupções vulcânicas e degradação da clorofila.

Alvéolos e corrente sanguínea.

Ligação com a hemoglobina, interferindo no transporte de oxigênio. Pode ocasionar cefaleia, náusea e tontura. Exerce efeito deletério sobre o feto e está associado com baixo peso ao nascer e morte fetal.

PTS: partículas totais em suspensão; MP10, MP2,5 e MP0,1: material particulado menor do que 10, 2,5 e 0,1 µm de diâmetro, respectivamente.

Fonte: Adaptado de Arbex et al., (2012); Künzil et al., (2010).

No documento Tese Gustavo dos Santos Souza (páginas 34-37)

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