• Nenhum resultado encontrado

Exemplos de aplicação: definição de áreas prioritárias

UNIDADE 4: Geotecnologias como suporte para o planejamento e gestão de

4.4 Exemplos de aplicação: definição de áreas prioritárias

regional, utilizando a Avaliação Multicriterial (AM), com o método da Média Pon- derada Ordenada (MPO).

A AM é uma das técnicas empregadas para a tomada de decisão e sua integração com os SIGs foi considerada um avanço em relação ao procedimen- to convencional de cruzamento de planos de informação para a priorização de áreas (MALCZEWSKI, 1999; THILL, 1999). Com essa integração a AM pode ser considerada um processo que combina e transforma dados espaciais (planos de informação de entrada) em mapas finais para a tomada de decisão, sendo as regras de decisão é que definem as relações entre os dados de entrada e os mapas finais (MALCZEWSKI, 1999).

Segundo Malczewski (2004), essa avaliação envolve a utilização de dados georreferenciados, os conceitos dos tomadores de decisão e a manipulação desses dados e conceitos com base em regras específicas. Para esse autor duas considerações são importantes: (I) a capacidade do SIG de adquirir, ar- mazenar, recuperar, manipular e analisar dos dados georreferenciados e (II) a capacidade de combinar esses dados e os conceitos dos tomadores de decisão em alternativas de decisões.

A base do processo de tomada de decisão, com a AM são os critérios. Eles são a evidência sobre a qual um indivíduo pode ser designado a um conjunto de decisão. Podem ser de dois tipos fatores e restrições, podendo referir-se tanto a atributos do indivíduo quanto ao conjunto todo de decisão (EASTMAN, 2001).

Os fatores que representaram as características da paisagem importantes aos objetivos do estudo foram: proximidade à rede hidrográfica; proximidade à co- bertura florestal; proximidade entre fragmentos de maior área nuclear; distância aos centros urbanos; distância à malha viária; e vulnerabilidade à erosão.

Na produção destes fatores foram necessários os planos de informação rede hidrográfica, fragmentos florestais, áreas urbanas, estradas, declividade e erodibili- dade do solo. Com exceção destes dois últimos planos, os demais foram extraídos do mapa de uso e cobertura do solo produzido por Valente & Vettorazzi (2008), por meio de uma classificação digital supervisionada de imagens do satélite LANDSAT 7, apresentando exatidão de classificação de 93%. Todos os planos de informação e fatores compõem o banco de dados cartográfico do Laboratório de Geoprocessa- mento da ESALQ/USP e foram produzidos com 20 m de resolução espacial, no sistema de projeção UTM 23 S (Datum Córrego Alegre).

O método MPO pressupõe a definição de dois grupos de pesos: os pe- sos de fatores e os de ordenação. Os pesos de fatores expressam a importân- cia, ou ordem de importância, dos fatores no processo de tomada de decisão (MALCZEWSKI, 2004). Valente & Vettorazzi (2008) os definiram (Tabela A) com base no Método da Comparação Pareada, no contexto do Processo Hierárquico

Analítico e com auxilio da Técnica Participatória. O segundo grupo de pesos, os de ordenação (Tabela B), controla a maneira pelo qual os fatores são agre- gados e o nível de compensação entre eles (YAGER, 1988). De acordo com Jiang & Eastman (2000) eles controlam a posição de operador de agregação em um continuum existente entre a aversão a risco e o risco total, além do nível de compensação entre fatores. Consideraram-se, assim, os parâmetros risco e compensação, sendo avaliados mapas de áreas prioritárias com riscos médio, alto e baixo.

Valente & Vettorazzi (2008) por meio de uma amostragem (52 pontos defi- nidos estatisticamente, como sugerido por Eastman, 2001) avaliaram os mapas de fatores e prioridades e, sobretudo, qual mapa de prioridades representou a melhor interação entre fatores. Os autores obtiveram que o mapa associado a um alto risco (r = 0,40) e com compensação de 78% entre os fatores representou a melhor alternativa na priorização de áreas.

Para esta melhor alternativa, os autores realizaram uma análise de sensi- bilidade (método exploratório), sendo a matriz pareada reorganizada à medida que se eliminava os fatores. Como anteriormente, avaliaram-se os diferentes mapas gerados por meio de pontos amostrados. A análise de sensibilidade in- dicou um novo cenário à priorização de áreas, o qual foi produzido com riscos baixo, médio e alto (Tabelas C e D).

Tabela AMatriz de comparação pareada entre os mapas de fatores e pesos de fator.

Fatores Vulner. Dist.

urb. Dist.

malha Prox.

rede Prox.

frag. Prox.

área Pesos de fator

Vulner. 1 0,0725

Dist. urb. 2 1 0,1171

Dist. malha 2 1 1 0,1171

Prox. rede 2 2 2 1 0,1736

Prox. frag. 2 2 2 1 1 0,1736

Prox. área 4 2 2 3 3 1 0,3462

Taxa de Consistência (TC) = 0,03 Total 1,0000

Sendo: Vulner.: vulnerabilidade à erosão; Dist. urb: distância aos centros urbanos; Dist. malha: distância à malha viária; Prox. rede: proximidade à rede hidrográfica; Prox. frag.: proximidade aos fragmentos florestais; Prox. área: proxi- midade entre fragmentos com maior área nuclear.

Tabela BPesos de ordenação para a matriz de comparação pareada.

Fatores Peso de ordenação

Risco médio Risco baixo Risco alto

Vulner. 0,1667 0,1200 0,0800

Dist. urb. 0,1667 0,2200 0,1800

Dist. malha 0,1667 0,2200 0,1800

Prox. rede 0,1667 0,0500 0,0800

Prox. frag. 0,1667 0,0500 0,0800

Prox. área 0,1667 0,3400 0,4000

Total 1,0000 1,0000 1,0000

Risco 0,5000 0,6200 0,4000

Compensação 1,0000 0,7000 0,7800

Tabela C Matriz de comparação pareada e pesos de fator: sem proximidade à rede hidrográfica.

Fatores Vulner. Dist. urb. Dist.

malha Prox.

frag. Prox.

área Pesos de fator

Vulner. 1 0,0867

Dist. urb. 2 1 0,1520

Dist. malha 2 1 1 0,1520

Prox. frag. 2 2 2 1 0,2198

Prox. área 4 2 2 3 1 0,3895

Taxa de Consistência (TC) = 0,03 Total 1,0000

Tabela DPesos de ordenação : sem proximidade à rede hidrográfica.

Fatores Peso de ordenação

Risco médio Risco baixo Risco médio-alto

Vulner. 0,1667 0,0800 0,0800

Dist. urb. 0,1667 0,2300 0,1800

Dist. malha 0,1667 0,2300 0,1800

Prox. frag. 0,1667 0,1300 0,1600

Prox. área 0,1667 0,3300 0,4000

Total 1,0000 1,0000 1,0000

Risco 0,5000 0,5400 0,4600

Compensação 1,0000 0,7800 0,7300

Valente & Vettorazzi (2008) descrevem que, de acordo com este novo ce- nário, o fator proximidade à rede hidrográfica não deve ser empregado na prio- rização de áreas à conservação florestal na bacia do rio Corumbataí. Dentre os três mapas produzidos, foi aquele com risco médio-alto (r= 0,46) e compensa- ção de 73% entre os demais fatores.

Segundo os autores, a presença do mapa de proximidade à rede hidrográ- fica promovia a priorização, predominantemente, em função dos corpos d’água.

Mesmo na região marcada pela presença dos fragmentos de maior área nuclear, definida em função dos maiores pesos (compensação e ordenação) atribuídos ao fator proximidade entre fragmentos de maior área nuclear. Quando esse fator foi eliminado passou-se a priorizar as regiões associadas à presença dos frag- mentos de floresta e, principalmente, daqueles com maiores áreas nucleares.

No caso da Bacia do Rio Corumbataí o principal problema da priorização em função, principalmente, da rede hidrográfica está em algumas de suas regi- ões onde corpos d’água não possuem vegetação ciliar ou então somente frag- mentos pequenos e distantes uns dos outros. A importância de ações nas regi- ões ao longo dos corpos d’água é amplamente discutida na literatura (DURIGAN

& SILVEIRA, 1999; FORMAN, 1997; FORMAN & COLLINGE, 1997), contudo, quando se deseja incremento da biodiversidade, por meio de ações de conser- vação, não se pode desconsiderar os fragmentos de floresta e, sobretudo, os fragmentos com uma estrutura mais bem definida. Esses últimos são, segundo McNeely et al. (1990), os retentores de maior diversidade em uma paisagem e quando conectados (espacialmente ou por meio de outros fragmentos menores) é que irão subsidiar a reestruturação de toda a paisagem.

Os autores ressaltam, também, que os pesos de ordenação desse mapa de prioridades promoveram a definição de áreas prioritárias de acordo com o preestabelecido para o processo de tomada de decisão. Promovendo, dessa for- ma, a conexão florestal, principalmente daqueles fragmentos com maiores áreas nucleares, em locais mais sensíveis da bacia (maiores declividade e erodibilida- de do solo) e, na medida do possível, distantes de fontes de distúrbios (estradas e áreas urbanas, por exemplo). Grande parte das áreas com maior prioridade estão em regiões da bacia que concentram as maiores áreas de floresta nati- va. Essas regiões (sub-bacias do rio Passa-Cinco e Alto Corumbataí), segundo Valente & Vettorazzi (2008), além da concentração de floresta nativa, possuem os melhores fragmentos (maiores, mais próximos uns dos outros, com melhor forma e maior área nuclear) da Bacia do Rio Corumbataí.

No que diz respeito aos dois outros mapas de prioridades, com riscos médio (R= 0,50, compensação=100%) e médio-baixo (R= 0,54, compensação=78%), os autores verificaram que eles não se mostraram adequados a priorização de áreas porque a relação mapa de prioridades e importância dos fatores foi al- terada. No primeiro caso, a priorização considerou, na maioria das situações, a proximidade entre fragmentos, mas não a proximidade entre fragmentos de maior área nuclear, que são necessários para o incremento da biodiversidade de

81

distâncias à malha viária e aos centros urbanos. Para que se obtivesse risco

baixo (ou próximo ao baixo) foi necessária uma alta compensação (baixo peso de compensação e alto peso de ordenação) dos mapas de distâncias e, assim, (I) algumas regiões, da bacia receberam alta/muito alta prioridade, mesmo sem a presença e/ou proximidade de fragmentos de floresta (independentemente de seu tamanho) e (II) a priorização de algumas regiões independentemente se estão distantes ou não de fontes de distúrbios (estradas e centros urbanos).

Valente & Vettorazzi (2008) concluíram, dentre outros aspectos, que mes- mo um processo decisório perfeitamente estruturado pode levar a decisões não coerentes, se empregado um método inadequado de agregação de fatores. O MPO é, por sua vez, adequado a priorização de áreas, sendo flexível, fácil de implementar no ambiente SIG e, mais importante, permite a interação de conhe- cimentos e características da paisagem, no processo de tomada de decisão.