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História do livro didático no Brasil

CAPÍTULO 1 Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), livro didático (LD) e livro

4.1 História do livro didático no Brasil

4 LIVRO DIDÁTICO (LD) E LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS (LDP)

Um olhar sócio-histórico sobre o livro didático no Brasil pode levar-nos a uma história de nosso ensino, das práticas escolares, da transformação das disciplinas ao longo do tempo, tudo isso determinado e explicado pela evolução de políticas culturais, sociais e, consequentemente, educacionais.

No século XIX, muitos livros permaneceram nas salas de aula por até cinco décadas.

Entre eles, Soares (1996) destaca a Cartilha do povo, de Lourenço Filho, publicada em 1928, tendo sido utilizada até 1961, num total de 1.716 (hum mil setecentas e dezesseis) edições. E também o Ensino rápido de leitura, de Mariano de Oliveira, que chegou a 2.228 (duas mil duzentas e vinte e oito) edições. Os chamados “livros de leitura” e as antologias, publicados no final do século XIX e na primeira metade do século XX, também permaneceram por longo tempo nas escolas. Dentre eles, estão os Contos Pátrios, de Olavo Bilac e Coelho Neto, de 1894. Esse livro dominou o ensino da leitura nas escolas durante a primeira metade do século XX.

Contudo, a partir da década de 1960, o tempo de permanência dos manuais didáticos na escola foi se tornando cada vez menor. Ainda de acordo com Soares (1996), muitos fatores contribuíram para isso. Primeiro, em decorrência da democratização do acesso ao ensino, houve uma ampliação do número de alunos nas escolas públicas, o que ocasionou um aumento de consumidores de livro didático. Houve também uma redução do número de edições e tiragens de cada obra, multiplicando-se a quantidade de autores, de obras disponíveis no mercado editorial e de exemplares vendidos. Um outro fator diz respeito às mudanças nos conteúdos a serem ensinados, exigindo atualização dos livros que se tornavam desatualizados.

No início, os LD eram constituídos apenas de textos para leitura, cabendo ao professor elaborar as atividades. Porém, com a expansão do número de vagas nas instituições escolares, a partir da primeira metade do século XX, houve um aumento na contratação de professores, acompanhado por uma má remuneração, por uma precarização das condições de trabalho, bem como por uma formação profissional deficiente. Com uma carga horária de trabalho cada vez maior, os professores passaram a ter cada vez menos tempo para preparar e corrigir atividades. Nesse processo, os livros didáticos passaram a apresentar exercícios e a ter influência direta na preparação da aula (SOARES, 1996).

A respeito desse ponto, considero oportuno mencionar Lajolo (1996, p. 8), quando diz que “substituição, alteração e complementação de exercícios e atividades propostos pelo livro didático adotado em classe não ocorrem apenas a propósito de livros didáticos

insatisfatórios”. Portanto, caberá sempre ao professor a tarefa de reelaboração de atividades para seus alunos.

Uma outra mudança significativa está relacionada ao perfil dos autores de LD, que passaram a ser professores licenciados. Para Soares (1996, p. 60), “talvez seja justamente a criação de Faculdades de Filosofia, nos anos 30, que explique por que, a partir dos anos 50, os livros didáticos para o Ensino Médio passem a ser produzidos por professores licenciados que então se fazem autores”. Para Bunzen e Rojo (2005, p. 79) esse fato “pode ser visto como um indício de como o gênero aula, de alguma forma, começou também a influenciar a própria estrutura e os aspectos discursivos do LDP” (ênfase no original).

Atualmente, o trabalho de concepção e elaboração do LD é coletivo, envolvendo a participação de diversos agentes (escritores, editores, diagramadores, ilustradores, assessores, pareceristas, revisores, professores, etc.) e a produção de textos verbo-visuais (capas, explicações, instruções, ilustrações, infográficos), que mobilizam diferentes capacidades de letramento, em um dinâmico e complexo processo de elaboração didática. Isso permite dizer que esses livros são peças fundamentais para um conjunto de práticas escolares, envolvendo diversas vozes sociais que emergem de redes intertextuais e interdiscursivas (BUNZEN, 2014).

Assim sendo, concordo com Lajolo (1996, p. 8-9), ao afirmar que

Nenhum livro didático, por melhor que seja, pode ser utilizado sem adaptações. Como todo e qualquer livro, o didático também propicia diferentes leituras para diferentes leitores, e é em função da liderança que tem na utilização coletiva do livro didático que o professor precisa preparar com cuidado os modos de utilização dele, isto é, as atividades escolares através das quais um livro didático vai se fazer presente no curso em que foi adotado.

Ela conclui dizendo que “o pior livro pode ficar bom na sala de um bom professor, e o melhor livro desanda na sala de um mau professor. Pois o melhor livro, repita-se mais uma vez, é apenas um livro, instrumento auxiliar da aprendizagem (LAJOLO, 1996, p. 8, ênfase no original).

Sobre essa afirmação de Lajolo (1996), concordo que nenhum livro didático, por melhor que seja, por si só, será capaz de superar a presença do professor, pois é ele que dará o tom quanto às propostas apresentadas nesse material. Desse modo, o professor, em sua prática docente, contará com esse recurso sem, no entanto, ficar limitado a ele.

Sobre a distribuição de livros didáticos no Brasil, de acordo com informações disponíveis no site do FNDE14, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) foi o primeiro programa criado com o fim de distribuir livros didáticos aos estudantes da rede pública de ensino e iniciou-se em 1929 com outra denominação. Desde então, o programa foi aperfeiçoado e teve diferentes nomes e formas de execução. Atualmente, o PNLD é voltado à Educação Básica.

Em 1929, o Estado cria um órgão específico dedicado à legislação de políticas de obras didática, o Instituto Nacional do Livro (INL). Em 1938, é instituída a Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD). Um acordo celebrado em 1966 entre o Ministério da Educação (MEC) e a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), permitiu a criação da Comissão do Livro Técnico e Livro Didático (Colted), que tinha como objetivo a coordenação das ações envolvendo produção, edição e distribuição de livros didáticos. Em 1971, o Instituto Nacional do Livro (INL) começa a gerenciar o Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental (Plidef), ficando responsável pelas atribuições administrativas e de gerenciamento dos recursos financeiros que até então estavam sob a responsabilidade da Colted. Em 1976, o governo assume a compra de boa parcela de livros didáticos. E a execução do programa desse material fica a cargo da Fundação Nacional do Material Escolar (Fename) devido à extinção do INL. No ano de 1983, em substituição à Fename, foi criada a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), que incorpora o Plidef.

Finalmente, em 1985, o Plidef dá lugar ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

Esse programa tem o objetivo básico de adquirir e distribuir universal e gratuitamente livros didáticos para alunos das escolas públicas. Essa distribuição passa, então, a ser realizada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia vinculada ao Ministério da Educação. Além da distribuição desse material, a partir de 1993, o PNLD decide também avaliá-lo em atendimento a um discurso instaurado desde a década de 1960, considerando que

“estudos e investigações sobre a produção didática brasileira vinham [...] denunciando a falta de qualidade de parte significativa desses livros: seu caráter ideológico e discriminatório, sua desatualização, suas incorreções conceituais e insuficiências metodológicas” (BATISTA, 2003, p. 28).

14Disponível em: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-historico Acesso em: 28 fev.

2017.