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Realidade urbanística de Picos no contexto da crise sanitária

Com a criação da SUDENE (Superintendência Desenvolvimento do Nordeste), houve um alinhamento que intitulava a abordagem de fortalecimento da região nordeste ao restante do país, com planos estratégicos de desenvolvimento nacional, aproveitando as potencialidades regionais. O Piauí, como os demais estados naquela época, necessitava de políticas intervencionistas do governo para desenvolver, beneficiado com a política de integração e reestruturação urbana da cidade (LIMA, 2019).

A cidade de Picos ganhou destaque posterior à inauguração da Br 316 Transamazônica que interligava a diversas regiões, inclusive realizando o cruzamento entre as áreas urbanas, favoreceu ainda mais seu crescimento socioespacial, paralelo à manifestação de minimizar os problemas sociais. Neste cenário, a urbanização, também apresentaram transformações demográficas, logicamente mudando a dinâmica econômica local, consequentemente, foram apresentando escassez nas condições de distribuição de renda, com a incapacidade do poder de gerenciar políticas públicas voltadas a tentar diminuir as desigualdades socioambientais.

O tecido urbano ganhou destaque no crescimento comercial, na prestação de serviços e fornecimentos de mercadorias, potencializando o agravamento das desigualdades, já que a dinâmica e expansão não tinha concentração somente no centro, mas em horizontes como nas encostas dos morros e outras próximo ao Rio Guaribas sem garantias mínimas de habitação, ocasionando mudanças significativas no município, como crescimento das desigualdades, violência urbana, desemprego, crescimento da informalidade, ocupações em áreas afastadas dos serviços (LIMA, 2019).

Havia ausência de políticas sociais, a cidade foi alvo de destaque na luta por moradia, em meados de 1983. Os bairros mais antigos - Paroquial e a Vila Malvinas, apresentavam precárias condições de moradia. Essas marcas surgiram problemas de habitação, a criação de zonas marginalizadas havendo um acirramento entre poder público e a Igreja Católica, onde surgiu um bairro vulnerável socioambiental denominado Paroquial, um dos mais carentes da cidade (VELOSO, 1992).

Veloso (1992) destacou sobre áreas periféricas em Picos:

Foi na década de 70, principalmente, que a cidade de Picos sofreu sensíveis transformações, as quais repercutiram de forma decisiva para a emergência de inúmeros problemas urbanos, em especial o da favelização. Picos cresceu

e urbanizou-se rapidamente, tanto em termos de população, como de mudanças em sua estrutura socioeconômica e urbana (VELOSO, 1992, p.41).

O bairro Malva foi anteriormente constituído por famílias de baixa renda. A região apresentava grandes índices de vulnerabilidade social, onde o poder público decidiu ceder alguns lotes de área de domínio para algumas famílias. Atualmente, em razão da expansão demográfica, os terrenos foram sendo vendidos para uma população de maior renda, abrindo interesse comercial e aumento imobiliário em razão das proximidades com o centro (BESERRA, 2016).

Não é por acaso que ao verificar as fotografias da Praça Félix Pacheco, uma área central da cidade de Picos na década de 1940 é caracterizada pelo vestígio de um desenho urbano de casarões arquitetônicos, calçadão, a praça pública e presença da zona verde no Morro da Mariana (Figura 5), possível detectar que nos anos de 1950 permaneceu o mesmo panorama, sem alterações nas transformações do Moro da Mariana (Figura 7).

Figura 5 – Praça Félix Pacheco em Picos em 1940

Fonte: Museu Ozildo Albano

Figura 6 – Casarões da Praça Félix Pacheco em 1940

Fonte: Museu Ozildo Albano

Figura 7- Praça Félix Pacheco em Picos em 1950

Fonte: Acervo Cristina Varão

Figura 8- Vista panorâmica de Picos em 1970

Fonte: Acervo Cristina Varão

O reconhecimento da área central da cidade foi incorporando a locomoção no desenho urbano, principalmente, a partir das transformações dialéticas socioambientais, evidencia o desordenamento da urbanização, surgimento de áreas periféricas primeiramente nas encostas do Morro da Mariana, para fugirem das enchentes do Rio Guaribas (LUZ, 2021) foram sendo ocupadas para que as pessoas de baixos rendimentos ficassem próximas aos seus empregos (BESERRA, 2016).

A estrutura da visão panorâmica do centro já obteve alterações conforme (Figura 8), dado o nível de expansão demográfica e fatores ambientais, comum ao longo do processo de crescimento a ocupação do entorno imediato do Morro da Mariana, com a oferta de distinções das classes sociais. A comparação destas figuras justifica ser comum a presença da história de formação da cidade, em composição com vários elementos que demarcam o perímetro do cultivo da memória social e sem dúvidas a compreensão dos processos de desigualdades socioambientais que desafiavam conforme a expansão da cidade.

Por conta da existência de fortes desigualdades sociais, havia populações que moravam em regiões de risco, em decorrência das fortes chuvas as suas casas foram invadidas por deslizamentos, região conhecida como Vila das Grotas, localizada no bairro São José, nas encostas do Morro do Urubu. Cerca de 25 famílias residiam naquela região sem condições mínimas de higienização, totalmente em invisibilidade social (BESERRA, 2016).

Posteriormente, a luta de grandes movimentos sociais, reuniões com os governos estadual e municipal, resolveram realizar uma parceria disponibilizando o fornecimento de 35 casas em cima do Morro do Urubu, denominado bairro Morada do Sol, além da entrega de residências. Foi realizada a divisão em lotes dos terrenos e, em sequência doada a moradores de rua e pessoas considerados como vulneráveis sociais (BESERRA, 2016).

Em razão do impulsionamento do comércio, a cidade foi se modificando, considerada a quarta cidade com maior PIB (2022) e o segundo maior entroncamento rodoviário do Nordeste (CEPRO/SEPLAN, 2022). Observando a renda per capita por habitantes, declara que rendimentos médios de 5 e 10 salários mínimos e acima de 20 concentram-se nos seguintes bairros: Canto da Várzea, Centro e Ipueiras (BESERRA, 2016).

Figura 9 - Praça Félix Pacheco em 2022

Fonte: (Autora, 2022).

Figura 10 - Praça Félix Pacheco em 2022

Fonte: (Autora, 2022).

Figura 11 - Praça Félix Pacheco em 2022

Fonte: (Autora, 2022)

As figuras (9, 10 e 11) trazem a lume, o reconhecimento do desmanche histórico do centro da cidade, onde foram apagados os vínculos históricos, os casarões não foram preservados, modificando a memória social e o patrimônio cultural do ambiente artificial. O desmanche das rupturas arquitetônicas das casas históricas, são rapidamente descaracterizados por crescimento da concentração de estabelecimentos comerciais, onde influencia diretamente os bairros em seu entorno.

Observa-se a fragilidade presente na cidade por não preservar o patrimônio cultural, permitir agressivos processos de verticalização e a expansão de imóveis residenciais no Morro da Mariana expostos à ineficácia de normas de infraestrutura urbana e a falácia da igualdade da política pública.

Neste contexto, também pode ser analisada a ofensa à integridade dos seus habitantes no ponto da poluição visual. No contexto do meio ambiente artificial, revelou nas figuras (9, 10 e 11), a forma de construção nas encostas do Morro da Mariana afeta desfavoravelmente a biota, afetando também as condições estéticas do meio ambiente do centro da cidade. Em face da ausência dos casarões históricos na Praça Félix Pacheco, podem ser enquadrados como degradação que afeta a qualidade ambiental.