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Trajetória das Diretrizes Educacionais 1996-2015

2. FORMAÇÃO DE PEDAGOGOS NO BRASIL: DESAFIOS E

2.2. Trajetória das Diretrizes Educacionais 1996-2015

Ao longo dos anos, a formação de pedagogos encontra-se amparada em vasta legislação. No entanto, ao mesmo tempo, o curso passou por várias in- consistências quanto a sua identidade devido as constantes mudanças na re- gulamentação da educação brasileira em nível superior, fato que fragilizou a consistência do curso enquanto formação profissional.

Buscando sistematizar o sistema educacional brasileiro, promulgou-se, nos anos 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei nº 9.394/1996). A LDB além de organizar a educação básica (Educação Infan- til, Ensino Fundamental e Ensino Médio) também institui diretrizes para o Ensi- no Superior e destina o título VI, especificamente, à formação de profissionais da educação que devem “atender aos objetivos dos diferentes níveis e modali- dades de ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do edu- cando” (BRASIL, 1996).

Em âmbito nacional, considera-se a LDB (BRASIL, 1996) um importante marco legal que impulsiona a organização da educação, principalmente no que tange o ensino básico. A partir de então, o sistema educacional brasileiro vem buscando se adequar para melhor atender as necessidades culturais, sociais e econômicas da sociedade contemporânea.

De acordo com Demo (1997), um dos problemas da referida lei é a verti- calização do processo de criação das leis educacionais, uma vez que “toda Lei importante sofre, no Congresso, inevitavelmente sua marca histórica própria, sobretudo a interferência de toda sorte de interesses, muitas vezes pouco

‘educativos’” (DEMO, 1997, p. 10).

Entretanto, um passo crucial foi dado, ampliando notavelmente o que poderíamos chamar de “direito de estudar” em termos de profissionalização continuada, o que poderá repercutir, com o tempo, em melhorias socioeconômicas concretas (DEMO, 1997, p. 48).

No que tange a formação docente, a LDB introduziu a perspectiva de ní- vel superior para os professores de educação básica, reforçando a necessida- de de o profissional realizar curso de licenciatura, graduação plena, como exi-

gência mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental.

Todavia, uma fragilidade relativa ao ensino superior, é que a maioria das instituições possuem estruturas arcaicas (DEMO, 1997), totalmente dissocia- das da realidade e das necessidades da sociedade. Com isso, por mais que haja tentativa de suprir e superar tais necessidades, percebe-se que as univer- sidades estão sempre “apagando incêndio”, ou seja, tendo em vista o impacto e a velocidade das inovações modernas e pós-modernas, pode-se notar que a universidade ainda caminha lentamente em direção a essas mudanças.

Nesse sentido, com a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) a formação docente ganhou uma estrutura sólida e concisa. No entanto, ainda restaram muitas lacunas para serem preenchidas.

A fim de superar essa problemática e reestruturar o curso de pedagogia, foi promulgada em 2002 a Resolução CNE/CP nº 1, que institui as Diretrizes Cur- riculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.

A resolução (BRASIL, 2002) trouxe para formação de professores prin- cípios, fundamentos e procedimentos que devem ser observados na organiza- ção institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino. O documento, ainda ressalta em seu artigo 5º inciso II: que o projeto pedagógico de cada cur- so levará em consideração que “o desenvolvimento das competências exige que a formação contemple diferentes âmbitos do conhecimento profissional do professor” (BRASIL, 2002).

Posteriormente, no ano de 2006, foi regulamentada a Resolução CNE/CP nº 1/2006, que institui as Diretrizes Curriculares para a Licenciatura em Pedagogia. O referido documento (BRASIL, 2006), modifica o foco do curso de bacharelado para licenciatura, evidenciando a docência como base da for- mação deste profissional, deixando claro que o objetivo principal do curso de pedagogia será a formação de professores para os anos iniciais da educação básica.

Contudo, a resolução também destaca o diversificado campo de atuação do pedagogo, que não se restringe apenas à sala de aula. Desse modo, o cur-

so de licenciatura em pedagogia passa a capacitar o pedagogo para atuar no ensino, na organização e na gestão do trabalho pedagógico em diferentes con- textos educacionais, conforme o artigo 4º.

O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educa- ção Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos (BRASIL, 2006).

Vale ressaltar, que a partir da vigência da referida resolução, extingue-se as habilitações, podendo estas serem disponibilizadas pelas instituições na modalidade de pós-graduação. Permanecem vinculadas ao curso como áreas de atuação pedagógica a supervisão, administração, orientação educacional, coordenação e planejamento.

Sendo assim, para atender a esse novo formato, o curso passa a possuir uma carga horária de 3200 horas, distribuídas da seguinte maneira: I) 2800 horas dedicadas às atividades formativas como assistência a aulas, realização de seminários, participação na realização de pesquisas, consultas a bibliotecas e centros de documentação, visitas a instituições educacionais e culturais, ati- vidades práticas de diferente natureza, participação em grupos cooperativos de estudos; II) 300 horas de estágio supervisionado; III) 100 horas de atividades teórico-práticas de aprofundamento em áreas específicas de interesse dos alu- nos (BRASIL, 2006).

No que tange a diversidade cultural, o referido documento define que os egressos de pedagogia devem estar aptos a “demonstrar consciência da diver- sidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológica, étnico- racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras” (BRASIL, 2006, Art. 5º).

Para isso, o curso de Pedagogia contará com uma estrutura que respei- tará a diversidade nacional e a autonomia pedagógica das instituições, e cons- tituir-se-á de:

I - um núcleo de estudos básicos que, sem perder de vista a di- versidade e a multiculturalidade da sociedade brasileira, por meio do estudo acurado da literatura pertinente e de realidades

educacionais, assim como por meio de reflexão e ações críti- cas, articulará: j) estudo das relações entre educação e traba- lho, diversidade cultural, cidadania, sustentabilidade, entre ou- tras problemáticas centrais da sociedade contemporânea (BRASIL, 2006, Art. 6º).

Recentemente, a Resolução nº 02 de 01 de julho de 2015 que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cur- sos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada, foi considerada discus- são prioritária no meio acadêmico, tendo em vista suas novas colocações no que diz respeito aos cursos de licenciatura. A nova resolução (BRASIL, 2015), assim como a Resolução CNE/CP 02/2002, volta a abarcar todos os cursos de licenciatura e acaba por não considerar as especificidades do curso de peda- gogia, uma vez que não considera a sua vasta habilitação em relação as de- mais licenciaturas, fato que compromete e fragiliza mais uma vez a formação do pedagogo.

As Diretrizes (BRASIL, 2015), mantém o mesmo total de carga horária definido anteriormente, mas altera sua distribuição ficando da seguinte forma: I) 400 horas de prática como componente curricular, distribuídas ao longo do pro- cesso formativo; II) 400 horas dedicadas ao estágio supervisionado; III) pelo menos 2200 horas dedicadas às atividades formativas; IV) 200 horas de ativi- dades teórico-práticas de aprofundamento em áreas específicas de interesse dos estudantes.

Em relação ao tratamento da diversidade cultural, a Resolução (BRASIL, 2015) ressalta que os princípios da formação de profissionais do magistério da Educação Básica, devem perpassar: o compromisso com projeto social, político e ético, contribuindo para a consolidação de uma nação soberana, democráti- ca, justa, inclusiva e que promova a emancipação dos indivíduos e grupos so- ciais, atentando ao reconhecimento e à valorização da diversidade e, portanto, contrária a toda forma de discriminação. Além disso, deve ter as questões so- cioambientais, éticas, estéticas e relativas à diversidade étnico-racial, de gêne- ro, sexual, religiosa, de faixa geracional e sociocultural como princípios de equidade (BRASIL, 2015, Art. 5º).

O referido documento (BRASIL, 2015), também destaca a docência co- mo base para processo formativo do pedagogo, tendo em vista seu caráter ge- neralista que abrange todas as licenciaturas sem levar em consideração as especificidades do curso de pedagogia que forma profissionais para atuarem dentro e fora da sala de aula.

Nesse sentido, percebe-se que a identidade do pedagogo ao longo dos anos assim como a do curso de pedagogia, tem encontrado dificuldades para se definir, tendo em vista seu vasto campo de atuação e a velocidade das transformações sociais que impõe aos cursos novos desafios. Em meio a en- traves e reformulações, a pedagogia vem resistindo e tentando definir sua iden- tidade, além de delimitar seu campo de atuação.