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POLÍTICAS SOCIAIS, POPULAÇÃO CARCERÁRIA E AS FACÇÕES NO ESTADO DO CEARÁ: breve análise das causas da onda de terror que apavorou a população cearense.

Ana Caroline Freitas do Monte e Silva Forte1 Ana Cristina Pereira da Costa2

RESUMO: O trabalho aqui apresentado vem tonar a público e ao conhecimento da população acadêmica os recentes ataques das facções no Estado do Ceará, e uma breve análise da situação e perfil do sistema carcerário e dos presos no Estado.

O estudo baseia-se em pesquisa documental em que demonstra através de dados, alguns fatores como idade, escolaridade e inserção no mercado de trabalho da população carcerária. O resultado é a evidência do crescente quadro de desigualdade social e ausência de políticas públicas eficientes, em um contexto que o fator econômico se sobrepõe às necessidades sociais dentro de uma lógica neoliberal.

Palavras-chave: Políticas Sociais. População carcerária.

Facções. Estado do Ceará.

ABSTRACT: The work presented here brings to the public and the knowledge of the academic population the recent attacks of the factions in the State of Ceará, and a brief analysis of the situation and profile of the prison system and prisoners in the State. The study is based on documentary research that shows through data, some factors such as age, schooling and insertion in the labor market of the prison population. The result is evidence of the growing picture of social inequality and the absence of efficient public policies, in a context where the economic factor overlaps with social needs within a neoliberal logic.

Keywords: Social politics. Prison population. Factions. State of Ceará.

1 INTRODUÇÃO

O Estado do Ceará está localizado na região Nordeste do país e possui uma população de 8.452.381, apresentando rendimento nominal mensal domiciliar per capita R$855,00 e IDH 0,682 (17ª posição nacional). Sua capital Fortaleza tem 2.452.185

1Assistente Social do Hospital Universitário Walter Cantídio/ Fortaleza-Ce, e discente do curso do Mestrado Acadêmico de Serviço Social, Trabalho e Questão Social (MASS-UECE). E-mail:

ana.forte@ebserh.gov.br.

2 Assistente Social e analista do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), especialista em Saúde Mental e em Gestão Pública em Saúde, discente do curso do Mestrado Acadêmico de Serviço Social, Trabalho e Questão Social (MASS-UECE). E-mail: anafortal13@gmail.com.

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habitantes com salário médio mensal dos trabalhadores formais de R$2,7 salários mínimos, tendo somente 74% de esgotamento sanitário adequado, conforme dados do IBGE.

O Ceará ocupa a sétima posição no Brasil em maior concentração de renda. De acordo com o IBGE, 1% da população cearense concentra os maiores rendimentos do Estado. Além disso, dos mais de 8 milhões de habitantes, apenas 5 milhões e 200 mil pessoas têm algum tipo de rendimento, seja originado do trabalho, do aluguel, seja de alguma outra fonte de renda, como um benefício social (Tribuna BandNews FM, 2019).

Segundo dados da Receita Federal, só 600 mil cearenses são obrigados a declarar o imposto de renda, porque apenas esse número atingiu a cota de declaração, mostrando o nível de desigualdade, conforme informações da Tribuna Band News FM.

O aumento da concentração de renda no Estado se acentuou na passagem de 2016 para 2017, como explica o disseminador de pesquisas do IBGE, Helder Rocha, tendo como base o índice de Gini, que mede a distribuição de renda.

“O Índice de Gini é um índice que mede a desigualdade da distribuição de renda e o seu valor varia de zero até um. Zero é a igualdade uniformemente distribuída entre a população e 1 é a desigualdade máxima. No Nordeste, o Ceará, em 2017, tinha o terceiro maior Índice de Gini, e o estado da Bahia tinha o maior com 0,599. O Rio Grande do Norte tem o menor da região Norte-Nordeste, 0,529”. (Tribuna BandNews FM, p. 1, 2019)

2 DESENVOLVIMENTO

O início do ano de 2019, em Fortaleza e algumas cidades do interior, foi marcado por uma série de ataques e uma onda de terror coordenados por facções3 que comandam o tráfico de drogas do estado, que assustou os cearenses, sendo notícia nos principais jornais do país e do mundo. Situação fomentada pelo discurso de posse, no dia 1º de janeiro, do Sr.

Mauro Albuquerque, Secretário da Administração Penitenciária, pasta criada no segundo mandato do Governador Camilo Sobreira de Santana.

Tal discurso prometia acabar com a entrada de celulares nas prisões, afirmando ainda que não reconhecia as facções e que, portanto, não haveria divisão de presos, segundo a filiação a grupos criminosos. O mesmo coordenou vistorias nos presídios, tendo

3 Em todo o Estado do Ceará as facções que disputam o tráfico de drogas dividem-se em: a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), a fluminense Comando Vermelho (CV), a cearense Guardiões do Estado (GDE) e a amazonense Família do Norte (FDN).

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sido apreendidos 2.300 celulares, drogas e armas, segundo a Secretaria de Justiça (SEJUS).

No dia 2 de janeiro, no Ceará teve início ataques a ônibus; vans de transporte coletivo; prédios públicos e privados; veículos escolares; tentativas de explorações de pontes e viadutos; câmeras de segurança; caminhões da coleta de lixo, carros oficias dos serviços e água, esgoto, telefonia e energia elétrica; agências bancárias; postos de gasolina e ambulâncias. Posteriormente, os acometimentos se expandiram para outros municípios, totalizando mais de 280 ações criminosas em 180 municípios dos 184 pertencentes ao estado. Quase todo o Estado foi atingido.

Inicialmente, as ações das facções se concentraram na capital Fortaleza e tinham o objetivo de fazer o Estado se retratar e reconhecer o poderio do crime organizado, bem como ainda a exoneração do Secretário recém nomeado.

Na sequência, como forma de reação, o governo pediu apoio da Força Nacional. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Fernando Moro, autorizou o envio de tropas, em torno de 406 agentes da Força Nacional que vieram para reforçar a segurança no Estado. Como forma de conter os avanços dos ataques, líderes de facções presos em Fortaleza foram transferidos para o presídio federal situado no município de Mossoró/RN e 466 pessoas detidas por envolvimento com os ataques.

A população de Fortaleza e da Região Metropolitana padeceu com interrupções frequentes no transporte público, falta de coleta de lixo e com o fechamento do comércio. A onda de violência afastou turistas e fez a ocupação hoteleira no estado cair de 85% para 65%, o que teve impacto direto na economia.

Algumas medidas foram tomadas no combate à ação das facções. O governador Camilo Sobreira de Santana criou algumas leis, as quais foram aprovadas por unanimidade pelos 36 parlamentares (deputados estaduais) em sessão extraordinária, entrando em vigor imediatamente. As leis sancionadas foram:

1. Lei da Recompensa, que paga em dinheiro quem denunciar autores de ataques ou fornecer informações que possam prevenir crimes;

2. Retirada das tomadas em celas de presídios, para evitar que criminosos possam usar carregadores de celular;

3. Aumento de 48 para 84 o máximo de horas extras que policiais civis, militares e bombeiros podem fazer por mês;

4. Convocação de policiais da reserva para aumentar o efetivo nas ruas;

5. Criação de um banco de informações sobre veículos destruídos na onda de ataques;

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6. Restrição da presença de pessoas no entorno dos presídios, com objetivo de evitar fugas;

7. Criação do Fundo de Segurança Pública, que terá reserva para investir na prevenção de crimes e pagar beneficiados da Lei da Recompensa;

8. Regularização do comando de tropas de policiais militares cedidas por outros estados (o que na prática já está acontecendo com agentes cedidos pelos governos de Bahia, Piauí, Santa Catarina e Pernambuco)

Hoje, no Ceará, há quatro facções que dominam o crime organizado: a paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), a fluminense Comando Vermelho (CV), a cearense Guardiões do Estado (GDE) e a amazonense Família do Norte (FDN).

Segundo reportagem em jornal O Povo online, O Comando Vermelho (CV) possui cerca de 9.056 membros e surgiu no estado do Rio de Janeiro. A Família do Norte (FDN) tem pelo menos 663 integrantes e nasceu no Amazonas. Os Guardiões do Estado (GDE) é uma facção cearense, que teve sua origem no bairro Conjunto Palmeiras, conta com cerca de 5.718 membros, e a organização paulista Primeiro Comando Capital (PCC) tem 3.230 integrantes no Ceará. (OPovo, 2019).

A Lagoa Encantada, em Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza foi palco do assassinato de dois líderes do PCC, em fevereiro de 2018: Rogério Jeremias de Simone, conhecido como Gegê do Mangue, tido como o número 1 na escala da chefia e Fabiano Alves de Sousa, de alcunha Paca, foragidos da Justiça.

O Doutor professor em Sociologia e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luiz Fábio Silva Paiva, em entrevista para a BBC, relata que as primeiras ações envolvendo facções criminosas no estado ocorreram em 2005. À época o crime era controlado por gangues armadas e quadrilhas de traficantes que dominavam determinadas regiões e disputavam violentamente entre si (Souza, 2019).

A partir daquele ano, membros desses grupos se envolveram com integrantes de facções nacionais. Uma delas é o Primeiro Comanda da Capital (PCC) participante de ações como o assalto ao Banco Central em Fortaleza, que inclusive virou filme e de onde cerca de R$ 164 milhões foram roubados. Passaram a organizar o comércio de drogas no Ceará. No fim de 2015, surge a facção local os Guardiões do Estado, inicialmente ligado ao PCC e CV, mas em 2016 as facções de atuação nacional entraram em conflito e se dividiram, conforme a BBC.

Para o professor ações de repressão não resolvem o problema:

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“O governo precisa atuar a médio e longo prazo para evitar que mais jovens entrem no crime organizado e reforcem o "exército" das facções, com políticas de assistência social e emprego e uma reformulação do sistema penitenciário”. (Souza, 2019)

O Ceará, fundado oficialmente em 1612 com a construção do Forte de São Sebastião, na Barra do Ceará, por Martins Soares Moreno, somente teve seu pioneiro censo penitenciário oficial em 2014.

À época foram entrevistadas 12.040 pessoas reclusas, traçando um perfil da população encarcerada, que brevemente apresentaremos aqui alguns dados, como forma de ampliar e divulgar o recorte do sistema penitenciário cearense e seus os reflexos no sistema nacional. Nesse perfil observa-se que: 95,2% são do gênero masculino e possuem idade média de 30,2 anos; 91,7% nasceram no estado do Ceará; 47,1% são solteiros e 36,2% estão em união estável; 95,8% se declaram heterossexual. Quanto à cor da pele, a maioria é parda ou indígena 34,2%, e somente 13,9% se autodeclaram negros, entretanto dados do Ministério da Justiça, através do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN)/2017, apresenta que 64% dos presos são negros e no estado do Ceará essa taxa é de 84%, (CNMP, 2014)

Vocês compreendem, em consequência, a importância - eu ia dizer a importância vital - do racismo no exercício de um poder assim: é a condição para que se possa exercer o direito de matar. Se o poder de normalização quer exercer o velho direito soberano de matar, ele tem de passar pelo racismo. E se, inversamente, um poder de soberania, ou seja, um poder que tem direito de vida e de morte, quer funcionar com os instrumentos, com os mecanismos, com a tecnologia de normalização, ele também tem de passar pelo racismo. É claro, por tirar a vida não entendo simplesmente o assassinato direto, mas também tudo o que pode ser assassínio indireto: o fato de expor à morte, de multiplicar para alguns o risco de morte ou, pura e simplesmente, a morte política, a expulsão, a rejeição, etc (FOUCAULT, p. 306, 1999).

Foi aferida a tipologia criminal, registrando que: 45,5% cometeram crimes contra o patrimônio (roubo/furto) e 20,3% relacionados a entorpecentes; 46,9% das mulheres encarceradas estão com os companheiros também presos.

No tocante à assistência jurídica, 22,3% não possuem qualquer tipo de assistência;

37,5% são atendidos pela Defensoria Pública e, desses, 53,2% nunca tiveram um encontro com o Defensor Público, os demais têm advogados particulares. No que se refere à reentradas, 44,9% relataram não terem reentradas no sistema penitenciário contra 55,1%

que afirmam possuir mais de uma reentrada (CNMP, 2014).

Naquele censo constatou-se que 88,2% não estudam nas unidades prisionais e 10,4% aderiram uma formação superior. No grupo de mulheres esse percentual atinge 40%.

A escolaridade foi aferida, verificando-se que: 10,3 são analfabetos; 1,5% sabem ler, mas nunca frequentou a escola; 52,5% possuem o ensino fundamental incompleto; 11,9% têm ensino fundamental completo; 14,2% ensino médio incompleto; 7,6% ensino médio

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completo; 0,1% possuem ensino técnico incompleto e o mesmo percentual o completaram;

0,8% superior incompleto, somente 0,3 são graduados e 0,7 não informaram.

Quando indagados sobre o motivo da evasão escolar, 24,6% relataram que não gostavam de estudar e 24,1% precisou sair da escolar para trabalhar. Dos internos, 23,8%

possuem pais analfabetos. Trabalharam essencialmente na informalidade 60,3%. O percentual de 42,9% possuem parentes que estão ou já cumpriram pena.

Da estrutura prisional em relação à cela, a mesma é construída para acomodar 6 pessoas, mas 19,7% das celas possuem entre 10 a 16 pessoas, segundo a Secretaria de Justiça e Cidadania do Ceará. É provável que em razão disso 39,2% tenham contraído doenças no Sistema Penitenciário, conforme aponta a pesquisa do censo, sendo 10,4%

problemas respiratórios. Os transtornos mentais/psicológicos são identificados em 8,9% dos detentos (CNMP, 2014).

Valdir João Silveira, coordenador nacional da pastoral carcerária, falando para o jornal El País, relata que em média 44% dos presos no Brasil são provisórios e aguardam a primeira audiência com um juiz, a qual deveria acontecer no máximo 90 dias após a prisão.

Alguns ficam três ou quatro anos presos sem essa audiência. “Quando esses provisórios são julgados, 37% são considerados inocentes ou já cumpriram a pena determinada. Se existe a barbárie no sistema prisional, quem mantém isso é o Judiciário brasileiro” (Alessi, 2015). Para a pastoral carcerária esse fato é responsável pela superpopulação nos presídios. O Brasil ocupa hoje a terceira posição no ranking mundial em termos de população carcerária, ficando atrás da China e dos EUA (Barbon; Turollo, 2017).

"Muitos presos que têm direito ao regime semiaberto acabam cumprindo pena de forma integral no fechado, e a grande maioria dos detentos do país (88%) não têm acesso a estudo e 94% não podem trabalhar para reduzir a pena. “Se a legislação fosse aplicada para a população carcerária em geral como foi aplicada para os presos do julgamento do Mensalão, 80% dos detentos já estariam na rua, já teriam direito a trabalhar fora... Lá a lei foi aplicada com rigor. A prisão deve ser a última medida tomada pelas autoridades, e não a primeira”. (ALESSI, 2015)

O coordenador da pastoral carcerária enfatiza, ainda, que o poder Executivo investe na lógica da repressão policial, principalmente nos bairros onde falta a presença do Estado:

falta escola, saneamento, saúde e condições dignas de vida.

Ressalta a ausência efetiva das políticas públicas - Faltou tudo antes da prisão – para ele o que sobrou foi o encarceramento como forma de resposta violenta para quem não teve as condições mínimas de infância, adolescência e juventude. Enfatiza veementemente que: “o Estado falhou, foi ausente, responsável por um déficit social, econômico e educacional na vida de muita gente. E a resposta que ele oferece para isso é repressão”

(Alessi, 2015).

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O coordenador do Laboratório dos Estudos da Pobreza da UFC, Vitor Hugo Miro, esclarece que a recessão econômica brasileira piorou a distribuição de renda. Segundo ele, o cenário macroeconômico complica os efeitos de demais políticas públicas em outras áreas a serem implementadas e, portanto, afeta a reversão do quadro.

Afirma o coordenador, Vitor Hugo Miro:

“Nos últimos anos, inclusive um pouco antes de estarmos num período de crise, a nossa desigualdade de renda já veio sofrendo uma piora. Muito disso se deve ao cenário macroeconômico de crise, de redução de rendimentos, de aumento de desemprego. Então, pelo menos a curto prazo, a gente só vai conseguir reverter esse aumento de desigualdade de renda quando a gente melhorar as nossas condições econômicas, redução de desemprego e a economia crescer” (Tribuna BandNews, p. 1, 2019).

Dessa forma, muito do quadro social que se apresenta nos últimos anos, como o aumento da violência, segundo os especialistas, justifica-se pelo crescente índice de desigualdade social do Estado. Outro dado alarmante é revelado pelo IBGE, em que: 1% da população cearense concentra os maiores rendimentos do Estado, com média mensal chegando a quase R$ 20.000,00 (vinte mil reais). O valor é 40 vezes maior que os R$497,00 reais recebidos por metade dos trabalhadores cearenses.

Para o professor de economia da Universidade Estadual do Ceará e conselheiro federal de economia, Lauro Chaves Neto, a concentração de renda é um problema histórico, que pode se resolver apenas nas próximas décadas, desde que sejam implementadas políticas públicas eficientes.

“Para você reduzir a desigualdade, você precisa primeiro capacitar esses 50% de renda menor no estado do Ceará para que eles consigam, melhorando seu nível educacional, melhorar sua produtividade, de empreendedorismo e não ficarem dependendo de emprego, mas possam ser microempreendedores individuais, que possam colocar pequenos negócios, microempresas e isso vai contribuir para reverter esse quadro ao longo de décadas. Mas não só a educação. Nós precisamos melhorar a estrutura física, o capital social, as instituições, associações de bairros” (Tribuna BandNews, p. 1, 2019).

Segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, o índice de Gini que mede a distribuição de renda das pessoas a partir de 15 anos de idade, o indicador vinha apresentando redução da concentração desde 2012, mas na passagem de 2016 para 2017 em que houve acentuação na concentração de renda do Ceará, a mesma tendência foi observada no país.

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De acordo com o Banco Nacional de Monitoramentos de Prisões (BNMP 2.0), a população privada de liberdade no país chega a 753.386 pessoas, sendo presos provisórios 307.657, estando foragidos 19.275 e procurados 305.860. Os dados ultrapassam um milhão de pessoas e refletem o descaso com as políticas públicas, em que o fator econômico se sobrepõe às necessidades sociais dentro de uma lógica neoliberal de retração dessas políticas pela minimização do papel e função do Estado.

As unidades prisionais da Região Metropolitana de Fortaleza estão recebendo, desde o dia 4 de fevereiro do corrente ano, uma força-tarefa de análise processual, por iniciativa da Defensoria Pública do Estado do Ceará, por meio do Núcleo de Assistência ao Preso Provisório e às Vítimas de Violência (NUAPP) e Núcleo Especializado em Execuções Penais (NUDEP). O objetivo consiste em analisar os processos de todos os internos de uma determinada unidade prisional, avaliando a situação e os benefícios que podem ser concedidos pelo judiciário.

Aliado a isso, está sendo realizada inspeção geral em cada unidade para análise das condições carcerárias que podem ser aprimoradas pela Secretaria de Administração Penitenciária (SAP).

3 CONCLUSÃO

Os dados acima revelam que o crescente aumento do número de encarceramento e consequentemente as crises frequentes no sistema prisional, acarretando uma quantidade cada vez maior de presos.

A mais recente divulgação dos dados estatísticos de pessoas encarceradas, da Secretaria de Justiça Penitenciária data de janeiro de 2019, e informam que há no estado do Ceará uma população de 30.180 pessoas. Desta totalidade 6.655 estão condenados; 15.685 são presos provisórios; 3.315 se encontram no regime semiaberto e 4.525 no regime aberto (Melo, 2018). Esses dados informam um aumento de 18.180 presos, de 2014 até 2019, ou seja, mais do que o dobro em cinco anos.

Conforme o censo penitenciário do CNMP, podemos analisar que os fatores influenciadores da ida e permanência no crime estão a oferta/ausência de mercado de trabalho para a população e o acesso a níveis mais elevados de escolaridade, donde pode- se perceber que 52,5% possuem o ensino fundamental incompleto e, em relação ao mercado de trabalho, 60,3 % trabalharam essencialmente na informalidade. O que chama

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também atenção é o fato de 84% da população carcerária ser composta de negros, segundo a pesquisa feita pelo Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN)/2017, acima supracitada, expressando ainda mais a situação de exclusão e vulnerabilidade social da população negra.

Esses dados revelam que mais da metade dos detentos não tem acesso a trabalhos formais e condignos, e ainda despontam a ausência da política educacional, criando um retrato social com recorte de classe no sistema penitenciário.

Como consequência desse sistema perverso e com uma sensação de “enxugar gelo”, os índices mostram as expressões do real quadro de desigualdade social do Estado, sendo uma das maiores do mundo. A realidade é que a maioria dos jovens envolvidos com tráfico de drogas são atraídos pela promessa da “boa vida”, pelo poder e o dinheiro fácil, sendo cooptados pelos grandes traficantes, devido à falta de oportunidades e de políticas públicas eficientes.

Nesse caso, pode-se perceber, pelos índices crescentes de superlotação das unidades prisionais (intimamente ligado ao aumento da violência) que a solução não é apenas a cadeia (ou a morte desses jovens). Deve-se combater a raiz, e tentar alcançar essa população de forma preventiva, através de políticas sociais voltadas para inserção social, incluindo cultura, educação e emprego, além de analisar políticas públicas que visem à redução da desigualdade de renda e social, com vistas a melhoria de vida e de oportunidades.

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REFERÊNCIAS

Adorno, 2019. O que aconteceu no Ceará? Sob sensação de insegurança, Força Nacional deixa o Ceará e futuro para a população permanece incerto. Disponível em:

<https://noticias.uol.com.br/reportagens-especiais/o-que-aconteceu-no-ceara/index.htm#o- que-aconteceu-no-ceara> Acesso em: 19 de março de 2019.

Alessi, 2015. “O grande consumidor de cocaína e maconha está nos condomínios”.

Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/01/26/politica/1422280432_427247.html Acesso em: 19 de março de 2019.

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Duarte e Almeida, 2019. Criminosos detonam explosivos em viaduto e queimam ambulância no 10º dia de ataques no Ceará. Disponível em:<https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/01/11/criminosos-detonam-explosivos-em- viaduto-na-10a-noite-de-ataques-no-ceara.ghtml> Acesso em: 19 de março de 2019.

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FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade. Curso no Collège de France (1975-1976).

Trad. Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

IBGE. Panorama. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ce/panorama>, Acesso em: 19 de março de 2019.

G1CE. Governador Camilo Santana sanciona leis de combate a facções criminosas no Ceará. Disponível em: <https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/01/13/governador- camilo-santana-sanciona-novas-leis-para-seguranca-publica-no-ceara.ghtml> Acesso em:

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65 .: il, color.

Souza , 2019. Ceará sob ataque: como facções locais e nacionais se juntaram para dominar o crime no Estado. Disponível em:<https://www.bbc.com/portuguese/brasil- 46789403> Acesso em: 19 de março de 2019.

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https://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/ceara/um-por-cento-da-populacao-cearense- concentra-os-maiores-rendimentos-do-estado-diz-ibge/ Acesso em: 19 de março de 2019.

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