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EU SOBREVIVI: narrativas de mulheres sobreviventes das tentativas de feminicídio no Piauí

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Academic year: 2023

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O último exemplo de violência contra a mulher é o feminicídio, que consiste em matar mulheres com base em seu gênero. A tipificação do feminicídio é vista como uma continuação da política legislativa iniciada com a Lei Maria da Penha em relação à violência contra a mulher.

Percurso metodológico

Após a pesquisa documental, foi realizada uma pesquisa de campo, onde foram selecionadas quatro mulheres piauienses que sobreviveram a tentativas de feminicídio, a fim de compreender a realidade do fenômeno no Piauí através de suas perspectivas e vivências. Para a realização da pesquisa de campo foi utilizado o método Narrativas de Vida de Daniel Bertaux (2010).

As mulheres plurais como agentes da história

Gonzalez (1984) analisa o duplo fenômeno do racismo e do sexismo e destaca como as mulheres negras são oprimidas na sociedade brasileira. As mulheres negras são, portanto, vítimas de uma tríplice opressão de raça, gênero e classe social.

Gênero e patriarcado

A Lei nº. tem como paradigma o reconhecimento da violência contra a mulher como violação dos direitos humanos. De fato, estudos têm mostrado que em situações de violência, as mulheres buscam diferentes alternativas para superar a situação. A atenção primária no Brasil desempenha um papel importante no enfrentamento da violência contra a mulher.

Em geral, as mulheres em situação de violência não têm conhecimento prévio da respectiva função de cada serviço especializado. A assistência social é um dos eixos previstos na política nacional de enfrentamento à violência contra a mulher. Quando a violência contra a mulher atinge seu pico mais extremo, ocorre o feminicídio - o assassinato de mulheres com base no gênero.

Em 2019, surge uma importante ferramenta que parece exitosa em relação à violência contra a mulher e ao feminicídio no Brasil. No tocante ao enfrentamento da violência contra a mulher no Piauí, confirmamos a necessidade de implementação de políticas gerais de habitação, trabalho e qualificação.

Gráfico 1 – Taxas de feminicídio no Brasil no ano de 2021
Gráfico 1 – Taxas de feminicídio no Brasil no ano de 2021

Considerações teóricas sobre violência e violência de gênero no Brasil

Os feminismos e as lutas das mulheres contra a violência de gênero no Brasil

O movimento feminista se espalhou por todas as grandes cidades brasileiras e trouxe novas bandeiras como os direitos reprodutivos, o combate à violência contra a mulher e a sexualidade. Ao fazê-lo, passa do estudo das mulheres e do gênero para o estudo das relações de gênero. A visão de que as mulheres experimentam a opressão em diferentes formas e em diferentes graus de intensidade.

Sobre a questão da violência contra a mulher no Brasil, Santos e Pasinato (2005) apontam a existência de três correntes de pensamento na compreensão desse fenômeno.

A história de Maria da Penha e sua importância no enfrentamento da violência de gênero

Seu objetivo é criar mecanismos de combate e prevenção à violência doméstica e familiar contra a mulher. Nos casos de violência contra a mulher cometidos por parceiros íntimos, o feminicídio é resultado de uma série de diferentes formas de violência que as mulheres sofreram ao longo do tempo. O escopo da Segurança Pública “inclui o estabelecimento e a aplicação de normas penais que garantam a punição e a responsabilização dos agressores/autores de violência contra a mulher” (BRASIL, 2005, p. 26).

De acordo com o Observatório da Mulher contra a Violência (2022), as defensorias públicas e defensoras da mulher têm como objetivo prestar assistência jurídica, orientar e encaminhar mulheres em situação de violência. Isso abre inquérito policial, medidas protetivas para mulheres em situação de violência e processo criminal contra os agressores. Todos os profissionais de saúde capacitados devem estar aptos a receber mulheres em situação de violência.

A capacitação dos profissionais dá às mulheres uma sensação de confiança no serviço oferecido e, assim, aumenta o combate à violência contra a mulher. Para a coordenadora do Núcleo de Pesquisas com Crianças, Adolescentes e Jovens da Universidade Federal do Piauí (NUPEC-UFPI), o alto número de casos de violência contra a mulher no Piauí mostra a insegurança da rede de acolhimento às mulheres em situação. de violência.

A rota crítica: o caminho das mulheres para romper o ciclo da violência

A origem do termo feminicídio: quando a violência de gênero se torna letal

Para Caputi e Russel (1992), os assassinatos de mulheres cometidos por homens, parceiros, conhecidos, parentes ou estranhos não são produto de algum desvio inexplicável dos perpetradores, são feminicídios, a forma mais extrema de terrorismo sexista, motivado pelo ódio , desprezo, prazer ou sentimento de posse sobre as mulheres. Esta compilação de artigos tornou-se um marco conceitual no estudo do feminicídio, cujo objetivo era "nomear o feminicídio e identificá-lo como uma questão urgente tanto para as feministas quanto para as pessoas que lutam pelo fim da violência contra as mulheres". Mark Lepine, o assassino, afirmou que as mulheres morriam porque cada vez mais ocupavam o lugar dos homens."

Segundo a autora, a violência contra a mulher existe em todas as situações, mas nesses contextos, que chamamos de cenários de feminicídio, a probabilidade de a violência atingir sua forma extrema é aumentada por circunstâncias agravadas por relações desiguais de poder entre homens e mulheres.

A produção acadêmica brasileira sobre feminicídio

Nos anos seguintes foram muitas as lutas promovidas pelos movimentos sociais de mulheres com o objetivo de fazer a transição da discussão dos crimes conjugais para os feminicídios com foco no acesso à justiça. O estudo menciona as dificuldades de encontrar uma quantidade de homicídios que podem ser classificados como feminicídio no Brasil e que a literatura sobre o assunto é escassa no país, dada a quantidade de cobertura da mídia sobre casos de feminicídio. Vânia Pasinato aparece nos estudos sobre feminicídio com a publicação do artigo Feminicídio e as mortes de mulheres no Brasil, em 2011.

Um dos maiores entraves aos estudos sobre mortes e homicídios femininos no Brasil é a falta de dados oficiais que permitam uma visão mais precisa sobre o número de mortes e as circunstâncias em que ocorrem.

Feminicídio e Legislação Penal: análise da Lei nº 13.104/2015

Como resultado dos debates e ações propostas pelo CPMIVC, em 9 de março de 2015 a Lei nº. promulgada conhecida como Lei do Feminicídio. Segundo Campos (2015), a aprovação da Lei nº pelo Congresso Nacional foi possível após a modificação da redação do projeto. Com a entrada em vigor da Lei nº os feminicídios começaram a ser tipificados, o que ocasionou um aumento de registros nos estados.

Nota-se, portanto, que apesar da inegável importância da Lei nº para o combate ao feminicídio, ela não tem conseguido alcançar resultados satisfatórios no que diz respeito à prevenção dos crimes contra a mulher, visto que o número de feminicídios no país ainda é baixo. alto e apresentou tendência de crescimento ao longo dos anos, apesar de uma leve queda em 2021.

Dados do feminicídio no Brasil: a vida de todas as mulheres importa?

Akotirene (2019) aponta que a falta de articulação entre raça, classe e gênero, tanto na teoria feminista quanto na produção afrocêntrica, criou descumprimentos interseccionais que alimentaram esse cenário alarmante de violência contra mulheres negras no Brasil. Nesses termos, para Akotirene (2019), o universalismo dessas políticas governamentais promove a exclusão racial de gênero na medida em que as mulheres negras enfrentam atendimentos racistas e sexistas ao negar-lhes o direito humano de reclamar da discriminação sofrida. Assim, torna-se fundamental pensar em mais políticas públicas que garantam efetivamente o direito de todas as mulheres a uma vida livre e não violenta.

A implementação de políticas públicas para as mulheres deve ser prioridade do governo brasileiro por meio de um trabalho articulado que visa garantir uma maior conscientização das pessoas em relação a pautas como patriarcado, interseccionalidade, violência contra a mulher e feminicídio, como forma de ampliar o conhecimento e eventualmente promover uma mudança estrutural na sociedade.

Gráfico 3 - Taxa de homicídios femininos e de feminicídios, por UF Brasil, 2021
Gráfico 3 - Taxa de homicídios femininos e de feminicídios, por UF Brasil, 2021

Análise histórica do papel da mulher piauiense

As delegacias comuns encaminham casos de violência contra a mulher para delegacias especializadas de atendimento à mulher, que segundo o Observatório da Mulher contra a Violência (2022) são unidades especializadas da polícia civil responsáveis ​​pelo atendimento às mulheres em situação de violência. , Realizam atividades preventivas e repressivas. Portanto, os serviços de segurança pública e justiça presentes na Rede de Enfrentamento devem estar bem articulados, como forma de enfrentar o problema da violência doméstica contra a mulher no país e garantir o acesso das mulheres à informação, assistência e a garantia de seus direitos. Sob esse ponto de vista, podemos considerar a realidade do Piauí, país fortemente associado ao machismo e com alto índice de violência contra a mulher e feminicídio tentado e/ou consumado.

O mapeamento mostra os marcadores sociais e biográficos de todas as mulheres vítimas de feminicídio no Piauí entre 2015 e 2018. Desde então, foram realizados contatos com profissionais e lideranças comprometidos com o enfrentamento da violência contra a mulher e feminicídio no estado do Piauí, com o objetivo de de encontrar os participantes do estudo. A desnaturalização de certas práticas hierárquicas e opressoras exige, antes de tudo, a publicação de matérias como esta, que expõem a verdadeira face da violência contra a mulher e do feminicídio no Piauí.

Gráfico 5 – Feminicídio no Estado do Piauí – 2015 a 2021
Gráfico 5 – Feminicídio no Estado do Piauí – 2015 a 2021

As Políticas Públicas de Proteção a Mulher e a Rede de Enfrentamento à Violência contra

Dados do feminicídio no Piauí

Diante da complexidade de seu estudo, a seguir atentaremos para os marcadores sociais das mulheres vítimas de feminicídio no estado (raça, faixa etária, estado civil, ocupação e relação com os autores da violência). 2018 88 27 Pardo Casado Trabalhador rural familiar. namorado Brown Solteiro Empregada doméstica Família. Brown companheiro Stable Union Housemaid. ex-sócio Sindicato Brown Stal Trabalhador rural Família. parceiro(a) Trabalhador Doméstico Divorciado Negro. Brown Stal Union Desempregado Família (companheiro). man) Fonte: ampliada com base na tabela de Eugênia Villa (2020), ampliada por meio de dados obtidos nos sistemas operacionais da polícia civil (SISBO, SISPROCEP, SIMCVLI) e da Justiça (THEMIS WEB).

Portanto, o perfil biográfico das vítimas de feminicídio no Piauí entre 2015 e 2018 pode ser assim compilado: negras, solteiras, adultas donas de casa que mantinham vínculo familiar com os autores do crime.

Gráfico 6 – Mortes violentas intencionais femininas no Piauí – 2015 a 2021
Gráfico 6 – Mortes violentas intencionais femininas no Piauí – 2015 a 2021

Sobre o caminho da pesquisa de campo: apresentando os passos metodológicos

Por meio de uma conversa franca entre as mulheres, foram observados momentos em que foram observadas emoções como ansiedade, medo, dificuldade em se expressar sobre o assunto, envolvimento emocional com a situação e muitas manifestações de choro. Ressaltamos, portanto, que as entrevistas narrativas com a combinação do método Narrativas de Vida permitiram a formação de um vínculo de acolhimento, respeito mútuo, cooperação e escuta respeitosa às mulheres, transformando-se em um espaço de troca. tanto para o entrevistador quanto para o entrevistado. Ressalte-se que, como Critelli (2007, p. 150), reconhecemos que o registro é “uma mera preservação de um som, uma entonação, uma imagem que apenas provoca a atenção e a memória do interrogador”.

Relatos que revelam suas histórias e ao mesmo tempo possibilitam a escuta e aceitação desse sofrimento, pois quando mostramos que a pesquisa está relacionada à sobrevivência à violência, pensamos em algo traumático, que os mobiliza emocionalmente e que em muitos casos não foi expresso antes.

Caracterização das participantes do estudo

Sobrevivi, posso contar: conhecendo as protagonistas do nosso estudo

Esmeralda

No dia que descobri que ele estava me traindo não aguentei e pedi pra ele ir embora. Em minha mente, ele não seria preso, e isso só o levaria a se vingar de mim e das crianças mais tarde. Preferi acreditar que ele me deixaria em paz e que não teria coragem de cumprir as ameaças (Esmeralda).

Ele alegou que o valor estava em cima da mesa da sala e que ele não estaria naquele momento.

Jade

O mais difícil de terminar um relacionamento assim é aguentar ele vir atrás de mim, mandar mensagem, vir na minha casa me implorar pra voltar, ter que ouvir ele falar que se eu não voltasse com ele, ele matava ele mesmo, porque sua vida não tinha sentido sem mim. Foi muito difícil resistir, teve vezes que acabei tendo uma recaída e ficando com ele, mas não voltei no encontro (Jade). Eu não queria mais esse contato com ele, mas ele continuou insistindo, então eu o deixei.

De repente ele começou a dirigir o carro em alta velocidade, e muitas vezes me insultava, muitas vezes me repreendia e dizia que se eu não fosse dele, não seria de mais ninguém.

Rubi

Depois disso tentei deixá-lo mas ele me ameaçou, era muito manipulador, sabia o que dizer para eu ficar com ele e isso me manteve na relação. No caso de Rubi, podemos confirmar a existência de violência física quando ela menciona que ele a agrediu. Chegou um ponto em que não aguentei mais e coloquei um ponto final em 15 de maio de 2021.

Depois que recebi alta, voltei imediatamente para minha cidade natal para ficar com minha família.

Safira

Disponível em: Correiocidadania.com.br/cultura-esportiva brasil-feminicidio-ao-vivo-o-que-nos-clama-eloa Acesso em 13 jul. Disponível em: https://www.mppi.mp.br/internet/wp-content/uploads/2020/09/Raio-x-feminicidio-NUPROJURI-e-NUPEVID.pdf Acessado em 20 dez. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/civitas/article/view/6484 Tirada em: 12 jul.

No entanto, caso ainda restem dúvidas, você pode entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da UFPI, que acompanha e analisa pesquisas científicas em seres humanos, no Campus Universitário Ministro Petrônio Portella, Bairro Ininga, Teresina –PI, telefone e-mail: cep.ufpi @ufpi.br; durante o horário de atendimento ao público, de segunda a sexta-feira, manhã: 8h00 às 12h00 e tarde: 14h00 às 18h00.

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Gráfico 1 – Taxas de feminicídio no Brasil no ano de 2021
Gráfico 3 - Taxa de homicídios femininos e de feminicídios, por UF Brasil, 2021
Gráfico 4 - Feminicídios e demais mortes violentas intencionais de mulheres, por relação entre  vítima e autor, 2021
Gráfico 5 - Feminicídios e demais mortes violentas intencionais de mulheres, por instrumento  empregado, ano de 2021
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