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LIMA BARRETO E A CULTURA HISTÓRICA:

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Academic year: 2023

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Esta tese discute a relação do escritor carioca Afonso Henriques de Lima Barreto com a cultura histórica brasileira do início do século XX. Essas leituras revelam um interesse pela obra de Lima Barreto que extrapolava o campo da Literatura.

Uma trajetória de inquietações: entre a “Vila Quilombo” e o centro da capital federalcapital federal

A história familiar da mãe Amália Augusta também apresenta semelhanças com a descendência de João Henriques. Algo extremamente importante para um escritor que enfrentou a discriminação durante toda a vida e, como vimos, pretendia inicialmente escrever "a história da escravidão negra no Brasil e sua influência em nossa nacionalidade".

Projetos iniciais de escrita: revendo o passado

Esses registros feitos por Lima reforçam a importância que os temas da presença negra e do processo de abolição da escravatura no Brasil adquiriram em seus estudos iniciais. Do diálogo com aquela senhora obteve informações sobre suas origens africanas e sua trajetória no Brasil durante a escravidão.

O cientificismo e a intelectualidade sob a perspectiva barretiana .1 “Um bando de ideias novas” no Brasil

Lima Barreto e o “bando de ideias novas”

Lima Barreto tinha uma visão extremamente clara dos limites e propriedades do conhecimento humano, especialmente do grande mito de sua época - a ciência. A atitude crítica de Lima Barreto em relação à ciência continuou em seus diversos escritos ao longo de sua carreira. Notamos como Lima Barreto fazia parte de um pequeno grupo de intelectuais que se opunha a essas ideias e se preocupava com a imagem que estava sendo construída do Brasil no exterior.

133 No último capítulo desta tese, trataremos da recepção dessa obra por Lima Barreto, bem como de suas respostas a algumas críticas feitas por alguns intelectuais da época. Entretanto, esses embates de Lima Barreto contra os determinismos defendidos pela ciência não podem ser vistos como uma revelação da total imunidade do autor a seus ditames. 153 Inicialmente, este texto foi escrito para uma conferência que Lima Barreto faria na cidade de Mirassol em 1921.

Lima Barreto escolheu a parte do pensamento de Taine que justamente desloca o sentido de raça para a cultura e enfatiza as condições sociais como determinantes. No capítulo seguinte desta tese, analisaremos os principais aspectos da escrita da história nacional no início do século XX e a concepção de literatura de Lima Barreto.

Como lidar com o passado? Intelectuais brasileiros e uma revisão da HistóriaHistória

A escrita da história do Brasil nas primeiras décadas do século XX inseriu-se em um contexto de mudanças significativas na sociedade brasileira. Reflexões sobre o conceito de história" foi publicado na Revista do IHGB em 1908, mas segundo a nota anterior havia aparecido "em outro lugar". A acreditar nos filósofos da história, sua teoria cobre toda a história humana.

A filosofia da história de qualquer povo é o problema mais terrível que pode ocupar a inteligência humana. No segundo capítulo de sua História da literatura brasileira, Romero fez questão, portanto, mesmo que apenas indicasse “os lados mais marcantes, de apresentar sua reflexão sobre as teorias da história do Brasil listando-as em ordem cronológica. Uma teoria da história de um povo, segundo Romero, deve ser "ampla e abrangente", fornecendo "uma explicação completa de sua marcha evolutiva".

Veríssimo também não excluiu "um estudo especial da história do estado em que" os alunos viveram, bem como um "breve e preciso relato biográfico de homens ilustres"49, mostrando os serviços que prestaram à nação.50. A escrita da história no Brasil e a difusão de uma determinada memória nacional estiveram mutuamente envolvidas na produção de uma identidade brasileira que legitimou o regime republicano.

Literatura, história e nacionalismo na escrita barretiana

Entre os historiadores, Nery identificou a presença na narrativa de Eça de uma intextualidade com obras dos franceses David Strauss e Ernest Renan. um pouco mais acima. Lima Barreto entre lutas de representação: uma análise da modernização da cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. A escolha de Lima Barreto por esta obra de Prado também deve ser vista como um indício de sua visão de como deve ser abordada a produção de narrativas sobre o passado.

Lima "esquece", no trecho destacado acima, a discriminação e a exploração existentes no Brasil desde o período colonial, descrevendo uma imagem do Brasil, antes das relações com os Estados Unidos, marcada pela "doçura e generosidade" e pela desistência da crítica histórica que até então ele havia aplicado ao comentar sobre a influência norte-americana no Brasil, contra o próprio nacionalista Renan e até mesmo em sua análise sobre a discriminação sofrida pelos negros no Brasil. Daí sua posição de ressalvas quanto à aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos na carta que enviou a Lima.180. Também merece destaque nesse artigo o amadurecimento intelectual de Lima Barreto em sua visão sobre a forte relação entre o que era considerado conhecimento científico na época e a desigualdade racial.

A inclusão de Gregório na biblioteca de Quaresma representa também o acompanhamento do escritor Lima Barreto às mudanças recentes na história da literatura brasileira. A monografia do naturalista bávaro Carl Friedrich von Martius Como escrever a História do Brasil foi vencedora do concurso promovido pelo IHGB em 1840 e fez parte das leituras de Lima Barreto durante a redação do romance Triste fim de Policarpo Quaresma. O diálogo de Lima Barreto com parte da cultura histórica nessa narrativa nos forneceu elementos de sua visão, como polígrafo - assim como muitos outros integrantes da intelectualidade brasileira da época - da discussão em torno da questão nacional e sua consequente produção de memórias .

Em seguida, dentro da cultura histórica com a qual dialogou e desafiou, trataremos das aproximações e distanciamentos de Lima Barreta em relação a autores e instituições considerados representativos da produção historiográfica entre os intelectuais brasileiros.

Lima Barreto, leitor de João Ribeiro

Compreender o significado dessas referências à obra História do Brasil será possível se observarmos a inserção de seu autor no meio intelectual do Distrito Federal e consequentemente a recepção de sua obra, bem como o posicionamento de Lima Barreto em relação a esta cenário. A história do Brasil acompanhou essa busca pela formação da nacionalidade e em determinados momentos utilizou a filologia para sustentar seus argumentos. Araripe Júnior afirma em seu prefácio que João Ribeiro afirmou em nota final do livro ter seguido "à risca as indicações de Martius, que foi inegavelmente o iniciador da filosofia do Brasil na admirável obra Como escrever a história da Brasil." 10.

O trecho acima da História do Brasil de Ribeiro pode ter sido objeto da reflexão de Lima, destacada naquela carta escrita em 1906. A História do Brasil de João Ribeiro, dentro dessa trajetória barretiana, tornou-se um diálogo necessário para os embates que o escritor carioca lutou com a situação dos negros e seus descendentes naquele cenário intelectual em que o racismo era uma perspectiva que norteava muitas discussões sobre a formação da nacionalidade brasileira. Lima Barreto, nos projetos de escrita que empreendeu na época da releitura da História do Brasil de João Ribeiro, criou personagens que foram escravizados ou ainda sofrem com a perpetuação de práticas e pensamentos advindos do período da escravidão brasileira.

Apresentou a república "como historicamente determinada, inevitável e também definitiva", como afirma a última seção de algumas edições da História do Brasil. Constatamos que a leitura de História do Brasil de João Ribeiro constituiu um dos capítulos do diálogo que Lima Barreto estabeleceu com a cultura histórica e expressou vários de seus desconfortos quanto ao modo como se deu a inserção do negro na formação da nacionalidade brasileira sendo lembrado.

Implicâncias com a historiografia oficial

Instrumentos eficazes para a construção de um imaginário entre os membros da nação com o objetivo de legitimar um determinado regime político. Gonzaga de Sá, publicado em 1919, Lima também critica o Barão do Rio Branco, mas de forma mais explícita. Esta não é uma revista escolar, uma colaboração de "clã" ou uma cabana literária.

Ainda mais em contraste com uma obra que era referência para quem se interessava pela história nacional. Quatro anos antes, Lima já havia manifestado preocupação por meio de seus escritos sobre a atividade dos integrantes do IHGB na produção de uma memória oficial. Dissertação (Mestrado em História Social da Cultura) – Programa de Pós-Graduação em História Papal da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003, p.

Para Barreto, essa busca pela construção de uma tradição que legitimasse o presente republicano também se deu no Brasil. Como todo lembrar envolve esquecer, a construção de uma memória oficial permite manter certas exclusões.

Trajetórias paralelas, discursos que se cruzam: Lima Barreto e Capistrano de Abreude Abreu

Nessa discussão sobre a relação de Lima Barreto com os tratados dos historiadores brasileiros, não poderíamos deixar de questionar um possível diálogo desse autor com a obra do grande referencial da historiografia da época, Capistrano de Abreu. Tanto em suas anotações diárias quanto em sua correspondência, não há indícios de encontros entre Lima Barreto e Capistrano de Abreu ou troca de cartas. Em algumas dessas notas, porém, temos momentos que indicam o conhecimento de Capistrano de Abreu sobre a obra de Lima, bem como o apoio à circulação do romance Vida e Morte de M.

Em setembro de 1921, Lima apontou para a cópia de uma carta do professor da Universidade de Stanford, John Branner, a Capistrano de Abreu, comentando o livro de Lima Barreto e alguns escritos de Monteiro Lobato que o historiador lhe enviara.119. Fernando Amed, em seu estudo sobre a correspondência de Capistrano de Abreu, argumenta que o historiador cearense "não levava em conta o tipo de trabalho realizado pelos participantes do IHGB" porque era muito crítico "ao sistema de bajulações que possibilitaria o elaboração de trabalhos de pesquisa". Outro ponto em comum entre Capistrano de Abreu e Lima Barreto refere-se à escrita de intelectuais que se apoiaram em suas formulações do passado exclusivamente ou em maior medida em teorias, negligenciando a análise de documentos.

126MORAIS, Alexandre Magno de. Historiografia na Web: Capistrano de Abreu e a construção da historiografia brasileira moderna. 127Apud AMED, Fernando As Cartas de Capistrano de Abreu: Sociabilidade e Vida Literária na Belle Époque do Rio de Janeiro.

Referências

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