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lise do discurso. Analítica (lín - osé Pereira da Silva

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Analítica (abordagem)

Sobre abordagem analítica, veja o verbete Escola francesa de aná- lise do discurso.

Analítica (língua)

Um tipo de língua, estabelecido pela linguística comparada, usando critérios estruturais (em oposição a diacrônicos) e focalizando as ca- racterísticas da palavra, considerando que, nas línguas analíticas, todas as palavras são invariáveis (e as relações sintáticas são mostradas prin- cipalmente pela ordem das palavras), segundo David Crystal (1988, s.v.). O termo se opõe a línguas sintéticas (e, às vezes, também a polis- sintéticas). Nestas últimas (que podem ser do tipo aglutinativo ou flexi- onado), as palavras costumam ter mais de um morfema. O vietnamita, o chinês e diversas línguas do sudeste asiático são exemplos de línguas analíticas. Como sempre acontece nessas classificações, os limites das categorias não são definidos completamente, pois muitas línguas apre- sentam características analíticas em maior ou menor grau, como pode ser visto no capítulo 7 de Linguística geral, de Robert Henry Robins (1981) e no capítulo 5 de Introdução à linguística teórica, de John Lyons (1979).

Segundo Jean Dubois et al. (1998, s.v.), língua analítica é uma lín- gua isolante, como o francês e o português, por exemplo.

Veja o verbete: Isolante (língua).

Analítica (proposição)

Veja o verbete: Analisabilidade.

Analítico

O grau comparativo de superioridade analítico e superlativo absolu- to analítico são constituídos de mais de uma palavra, ao contrário dos sintéticos. Exemplos: comparativo de superioridade analítico: mais pe- queno (contrasta com menor, que é sintético); - superlativo absoluto analítico: muito bem, muito mal (contrastam com ótimo, boníssimo e péssimo, que são sintéticos).

Voz passiva analítica é, na nomenclatura tradicional, aquela que apresenta verbo auxiliar. Exemplo: ser amado. Será sintético quando apresentar pronome apassivador. Exemplos: faz-se carreto; dá-se ater- ro. A Nomenclatura Gramatical Brasileira não acolheu essa aplicação dos termos. A verdade é que tanto em "aterro é dado" como em "dá-se aterro" a forma é analítica. Em latim, sim, temos forma passiva analíti- ca (amatus sum) e sintética (amor).

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Semanticamente, o juízo é denominado analítico quando é necessa- riamente verdadeiro, sendo a sua veracidade assegurada pelo seman- tismo das palavras que o constituem e pelas regras sintáticas da língua que colocam tais palavras num certo tipo de ralação. Assim, Pedro é um Homem é um julgamento analítico, por Pedro tem em seus traços

"humano", e a relação sintática da frase lhe atribui esse traço. O juízo é sintético quando só é verdadeiro numa determinada situação, e a sua veracidade depende de circunstâncias, como Pedro está embriagado.

Jean Dubois et al. (1998, s.v.) dizem que uma frase é analítica quando a interpretação semântica (o sentido) do sintagma predicativo está inteiramente contida no sujeito. A frase Meu pai é um homem, por exemplo, é uma frase analítica. Pode-se dizer que também uma frase relativa é analítica quando o sentido da principal está inteiramente con- tido no sentido da relativa. Por exemplo: Os que falam português falam uma língua.

Processo analítico é um tipo de análise linguística que consiste em segmentar o enunciado em frases, sintagmas, morfemas, para chegar às unidades últimas, os fonemas. Esse processo "de cima para baixo" se opõe ao processo sintético, que consiste em partir de baixo para cima na análise, pelas unidades menores, a fim de agrupá-las num conjunto segundo regras combinatórias, chegando-se, enfim, à frase. O processo analítico, por exemplo, é o Louis Trolle Hjelmslev (1961), e o sintético, o de Zellig S. Harris.

Analogia

É uma tendência niveladora que se exerce sobre as palavras aparen- tadas, reduzindo as formas irregulares e menos frequentes em outas mais regulares e frequentes. Fenômeno psicológico que consiste em modificações de forma que uma palavra sofre, em virtude da ação que outra palavra exerce sobre ela, por se estabelecer entre ambas uma rela- ção de natureza sistemática, uma associação de ideias ou conexão me- cânica. Temos em consequência, a analogia morfológica, a analogia semântica e a analogia léxica.

O cônego Francisco Maria Bueno de Sequeira (1895-1979) de- monstrou com maestria a importância e frequência da analogia na sin- taxe, em seu livro A Ação da Analogia no Português: Sintaxe, em 1954.

A analogia morfológica é de natureza gramatical. Consiste em transpor flexões de uma palavra a outra, de acordo com o predomínio da que ocorre com maior frequência. Praticamente, elimina ou tende a

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eliminar as chamadas "formas irregulares" de uma língua. Nos erros da linguagem infantil, atua normalmente a analogia. É o que se dá quando uma criança diz eu fazi por eu fiz, ou escrevido por escrito. Temos aqui o processo de ordem psicológica que o linguista franco-suíço Ferdinand de Saussure comparou com o mecanismo de uma "quarta proporcio- nal". Ou seja: vender : vendi :: fazer : X, de onde X = fazi. A forma pre- dominante foi vendi e não fiz, por ser aquela a regular, isto é, a mais frequente, vale dizer, a que tem caráter "sistemático".

A analogia semântica ocasiona câmbios fonéticos que não podem ser explicados pelo jogo das leis da evolução linguística. Assim o e de sensu devia ter dado, de acordo com o fonetismo da língua portuguesa, seso (cf. preso < prensu, por prehensu; teso < tenso, e assim por dian- te). O que temos, porém, é siso. Admite-se analogia com juízo (que vem, regularmente, de iudiciu), em virtude da afinidade de sentido.

A analogia léxica resulta da influência de uma palavra sobre outra em virtude de ocorrerem associadas frequentemente no uso linguístico.

Assim, de quinque tivemos, por dissimilação, cinque e, depois, cinco, forma atual. A passagem do e final para o não se pode explicar foneti- camente: admite-se analogia com a final de quatro, numeral que prece- de a cinco na série natural dos números inteiros.

A analogia, como já se pode depreender dos exemplos acima, é fa- tor de suma importância na evolução dos fenômenos linguísticos. Basta dizer que os neogramáticos, linguistas alemães dos princípios do século passado, explicavam toda a evolução das línguas somente com dois fa- tores: um de ordem física, as leis fonéticas; outro de ordem psíquica, a analogia. Foi, por exemplo, graças à analogia, que as quatro conjuga- ções latinas se reduziram a três na Península Ibérica (a terceira latina em ĕre breve foi absorvida quase sempre pela segunda, em ēre longo, de modo que dicĕre passou primeiro a dicēre e depois a dizer, como habēre deu haver); que a maioria dos particípios passados tomou as terminações ado ou ido (assim quaestu, de quaerere > querer, deu primeiramente questo e depois quisto, forma que ainda aparece nos compostos benquisto e malquisto; mas, depois, quisto, por analogia, cedeu lugar a querido, forma atual e regular. É ainda à analogia que se devem certos plurais (anões por anãos, por ser mais corrente o plural em ões), certos femininos (parenta e presidenta, com a próprio das pa- lavras femininas, embora os nomes em -nte sejam uniformes na origem, como ainda é o caso de cliente, amante, ouvinte etc.), certos superlati- vos (negríssimo ao lado da forma etimológica nigérrimo) e vários ou- tros acidentes morfológicos.

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Alguns autores distinguem entre analogia niveladora e analogia criadora. A primeira atua sobre formas ditas irregulares, enquadrando- as nos respectivos paradigmas. É o caso da forma jazi, atual, que subs- tituiu a forma arcaica jouve, para melhor conformar a conjugação de ja- zer com o modelo da segunda conjugação (vender, por exemplo). Uni- formiza, nivela, mas não cria. A analogia criadora, ao contrário, faz surgir uma palavra nova na língua. Do antigo aceiro, por exemplo (cf.

espanhol acero, francês acier), proveniente de aciariu (na expressão ferru aciariu) tivemos, por derivação regressiva, aço. Surgiu, destarte, um novo primitivo, calcado na analogia de pares como carro carreiro, berro berreiro, negro negreiro e outros.

É também uma forma de analogia a chamada etimologia popular.

Consiste na alteração da forma de uma palavra em razão de ser ela vin- culada a outra com a qual historicamente não tem nenhuma relação de dependência. A etimologia popular revela a tendência natural do ho- mem para dar um sentido às coisas, procurando interpretá-las à sua ma- neira, de acordo com o seu grau de conhecimento da realidade. De ve- ruclu, diminutivo de veru, "espeto", "gancho", através da forma ve- ruclu, depois verruclu, deveríamos ter em português verrolho. O que temos, porém, é ferrolho, pois o povo interpretou a palavra como signi- ficando objeto feito de "ferro", o que foi facilitado pela semelhança fo- nética dos fonemas /f/ e /v/. A etimologia popular pode até refletir-se na ortografia. Assim, já se escreveu em português sachristão, por falsa re- lação com christão, facilmente compreensível, palavra esta em que o ch estava, etimologicamente, certo.

A analogia alcança, inclusive, os fenômenos sintáticos. Um exem- plo: a regência consistir de em vez de consistir em surgiu por analogia com a regência de constar (constar de) em frases onde os dois verbos podiam permutar sem prejuízo do sentido.

Entre os gregos e seus discípulos latinos, analogia era o princípio adotado por certos filósofos da linguagem que afirmavam haver parale- lismo entre o pensamento e a linguagem. A corrente contrária denomi- nava-se anomalia, e seus seguidores eram chamados de anomalistas.

Como lembra Walmírio Macedo (2012, s.v.), o linguista Ferdinand de Saussure (1857-1913) diz que a analogia supõe uma consciência e a compreensão de um liame unindo as formas entre si. Ele considera a analogia como de ordem psicológica, ou seja, associativa e de ordem gramatical, tratando-se de uma forma criada à imagem de outra.

Na história da língua, são numerosas as ocorrências da analogia.

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Segundo Zélio dos Santos Jota (1981, s.v.), analogia é a modifica- ção que sofre uma palavra para se amoldar a um paradigma, por associ- ação de caráter morfológico, léxico, sintático ou semântico. Na analo- gia morfológica, que se processa nas flexões, as formas ditas regulares é que servem de base: louvávamos, louváveis (e não como manda a etimologia), por analogia com louva, louvavas etc. A terceira conjuga- ção latina em ĕre se acomodou, por analogia à segunda em ēre; com- bustio (cum + ustum, supino de uro) que tem b por analogia com am- bustio (amb + ustum); também por analogia formaram os femininos lu- pa, domina etc. (a par dos masculinos lupus, dominus etc.). Nosso plu- ral de nomes neutros latinos deveria ser em a; a analogia, porém, amol- dou-o aos nomes masculinos (memoranda → memorandos). E plurais neutros latinos (folia) se amoldaram ao singular português (folha); gos- tar algo passou a gostar de algo, por analogia com gosto de algo. Co- mo se vê, a analogia é um cruzamento entre a forma existente (ou que deveria existir) de um paradigma e a forma de outro paradigma, con- guês ou conguense cruzado com angolense deu congolense; herbizar cruzado com arborizar deu herborizar. Vejamos mais alguns exem- plos: friorento (por friento), confira calorento; limarense (ou limense), confira bracarense; homófono (por homofono), confira homógrafo;

medroso (por medoroso), confira temeroso (este, por sua vez, de temo- roso cruzado com temer), caminhão (por camião), confira caminho;

androceu (por, talvez, andreu), confira gineceu (grego Gynaikós). O s grego do futuro caía, quando intervocálico, mas persistia diante de con- soante; generalizou-se depois, sem queda: lyso, grápso. Alguns produ- tos de analogia são vitandos, mas ainda assim empregados por muitos que se têm em conta de bem-falantes: cincoenta (por cinquente), confi- ra cinco; escrevaninha (por escrivaninha), confira escrever; meretíssi- mo (por meritíssimo), confira merecer; diminuitivo (por diminutivo), confira diminuir; umidecer (por umedecer), confira úmido; femural (por femoral do latim), confira fêmur. A linguagem infantil, outrossim, está repleta de formações analógicas, como fazi, fazeu, cabeu etc., cal- cados em sorri, corri, correu etc. Em latim, latrociniu e lenocinium são calcados nos compostos em que, de fato, ciniu representa canere; nora (por nurus), analogia com socra; desilio (de e salio) e não derilio (o s intervocálico deveria rotarizar-se), por analogia com dissilio, insilio etc. com s não intervocálico); promepus (literalmente, que precede o neto) com o significado de "o que segue o neto, isto é, o bisneto", por analogia com proavus (que precede o avô, isto é, o bisavô), insanire, vesnire (ire por are), por analogia com outras formações de tema em i,

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como tussire; os supinos cantum (de cano), jactum (de jacio), dictum (de dico) geraram, por analogia, cantare, jactare e dictare; honor (ao lado de honos), aparece por analogia com as formas oblíquas honorem, honoris etc. e palavras como cultor, amor etc. (com r nominativo já do indo-europeu). E Karl Friedrich Christian Brugmann (1849-1919) crê provir a ideia incoativa do sufixo –isco da ideia contida na raiz de ver- bos como cresco, adolesco etc. E, semelhantemente ao nosso cabeu ou fazi, temos em alemão gebrungen (por gebracht), de pringen, por ana- logia com singen, que gera gesungen; e no inglês já que fling se opõe a flung, a criança faz a gring opor-se brung (por brought). A analogia também se justifica no plano sintático: compartilhar da... e comunicar uma coisa a outra, construções ainda recriminadas ilogicamente pelas gramáticas, são empregadas quanto compartilhar a... e comunicar uma coisa com outra; uma, pela analogia com compartilhar da... ou parti- lhar a...; noutra, com unir uma coisa com outra (ou a outra).

Segundo Robert Lawrence Trask (2015, s.v.), analogia é um tipo de mudança linguística na qual algumas formas são mudadas apenas para torná-las mais parecidas com outras formas. Certos processos correntes de mudança linguística, ente os quais se incluem as mudanças de pro- núncia perfeitamente regulares, têm o efeito de introduzir irregularida- des. às vezes, os falantes reagem à presença de irregularidades em sua língua, eliminando-as e regularizando as formas irregulares: esse é um dos aspectos que assume a analogia.

Quanto o latim estava se transformando em francês, por exemplo, as pronúncias do /a/ acentuado e do /a/ não acentuado se desenvolve- ram de maneiras diferentes, ainda que perfeitamente regulares. O /a/

acentuado deu origem ao ditongo /ai/, ao passo que o /a/ não acentuado continuou /a/. Isso levou a variações aparentemente irregulares no pa- radigma de certos verbos, como o verbo amar, por exemplo. Compa- rem-se as duas primeiras colunas na tabela que segue, em que o acento agudo marca a posição do acento latino:

Como se pode ver, o tema do verbo oscilava entre aim- e am- em francês antigo de uma maneira aparentemente imprevisível; além do mais, o acento latino tinha se perdido em francês antigo. Em decorrên-

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cia disso, os falantes submeteram as formas em am- à analogia, produ- zindo as formas do francês moderno que aparecem na quarta coluna.

Naturalmente, houve outras mudanças na pronúncia, mas estas não são relevantes aqui.

Na história do português, a analogia levou várias vezes à simplifi- cação de um paradigma “irregular”. Durante os séculos XIII e XIV é comum encontrar particípios passados como teúdo (de ter), temudo (de temer), vendudo (d vender): o sufixo -údo era, na realidade, a termina- ção regular dos verbos da segunda conjugação. Dessa terminação, só restam hoje algumas raras sobrevivências, como o substantivo conteú- do, e a expressão teúda e manteúda. Como formadora de particípios passados, ela foi substituída por -ido (tido, contido, temido, vendido).

Essa mudança se deveu à analogia com verbos comp partir, ouvir e sentir, que sempre tiveram um particípio passado em -ido. Em outras palavras, a série de formas (partir, parto, partia, parti, ..., partido) fun- cionou como um modelo para que se passasse de (vender, vendo, ven- dia, vendi, ..., vendudo) a (vender, vendo, vendia, vendi, ..., vendido).

Mais antigamente ainda, os efeitos da analogia se fizeram sentir quando passaram para a segunda conjugação os verbos fazer, dizer, conhecer, morder e tantos outros originários da terceira conjugação latina. Em la- tim, o infinitivo de todos esses verbos era proparoxítono, por isso eles deveriam ter passado ao português em formas com fázer (ou far), dízer (ou dir), mórder e conhécer. Mas o acento se desloca para a última sí- laba do infinitivo, como em amar, dever e ouvir. Atuou aqui mais um processo analógico, no caso, um processo que tornou invariavelmente oxítonos todos os infinitivos portugueses.

A analogia pode ser bem menos sistemática do que isso, e pode mesmo transformar formas regulares em irregulares. No começo do in- glês moderno, o passado de catch (apanhar) era o regular catched, mas esta forma foi substituída por caught, aparentemente por analogia com taught, e muitos americanos substituíram dive / dive por dive / dove, por analogia com verbos como drive / drove. Em português, a forma sou (irregular, e criada por analogia com vou) substituiu a forma mais antiga, som, que remontava ao latim sum. Essa forma sou serviu de modelo para criar estou, também irregular.

Segundo Patrick Charaudeau e Dominique Maingueneau (2006, s.v.), analogia é um conceito empregado desde a Antiguidade clássica, nas primeiras discussões sobre a gramática (BARATIN, 1989), e que designa as semelhanças de qualquer natureza entre os elementos de uma língua.

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Para Aristarco e a Escola da Alexandria, a analogia define o cará- ter regular das línguas naturais. Isso se manifesta nos agrupamentos de formas, os paradigmas, que apresentam relações estáveis de semelhan- ça: nas declinações nominais ou na flexão verbal, as variações das for- mas dos signos linguísticos são previsíveis e essas formas são dedutí- veis umas das outras (rosa / rosam, aquila / aquilam). Em contraparti- da, os gramáticos anomalistas acentuaram a complexidade das línguas e seu caráter fortemente irregular. No livro VIII de De Lingua Latina (45-44 a.C.), Varrão fez eco a esse debate. É esse ponto de vista analó- gico que explica por que, de uma certa maneira, Ferdinand de Saussure (1857-1913) considera o conceito de parole individual como não des- critível, precisamente porque ele parece imprevisível. O conceito de discurso, fundador dos campos disciplinares posteriores às ideias saus- surianas, enfatiza, ao contrário, que os discursos podem ser abordados como apresentando regularidades que não são, entretanto, aquelas do sistema da língua.

Na análise de dados textuais, o exame das realizações semânticas derivadas da analogia constitui uma entrada descritiva muito esclarece- dora. Em um dado corpus, pode-se examinar sistematicamente as rela- ções específicas entre certos objetos de discurso (por exemplo, no qua- dro de uma definição, de uma explicação, de uma retomada nas cadeias anafóricas) ou descrever as atualizações linguísticas de algumas delas no quadro dessas categorias retóricas: aquelas que registram, à sua ma- neira, o fato, fundamental para a análise, de que os discursos constroem seus sistemas de correferência, os quais traduzem linguisticamente re- presentações sociais ou ideológicas. Assim, a quantificação ou a defini- ção (em um quadro discursivo) podem se realizar por meio de tropos de natureza analógica. Por exemplo, nos discursos científicos das mídias cotidianas, encontram-se formulações como “A lei de Hubble descreve o universo como um ventre que incha com o tempo” (Le Monde, 23 de abril de 1997). Nos discursos de divulgação dos conhecimentos cientí- ficos, observa-se a utilização de elementos lexicais que são usados de- vido a sua capacidade de esclarecer e que não são, necessariamente, es- pecíficos à disciplina. Eles são considerados como pertencentes à expe- riência do leitor e poderiam, assim, explicitar melhor os conceitos su- postamente desconhecidos para ele, por meio de palavras ou de repre- sentações familiares. Mas, geralmente, a analogia desempenha, discur- sivamente, um papel de ilustração, de exemplo ou de prova, já que ela, em parte, liga-se à explicação, apesar de se distinguir dela (GRIZE, 1990, p. 96-109). Certos discursos podem, mesmo, ser sustentados por

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analogias fundadores, que estão ligados a estereótipos. Para Nanine Charbonnel (1993), o discurso sobre a educação, independentemente das épocas ou do nível teórico, é estruturado por uma dezena de analo- gias recorrentes: a educação é apresentada com0o um combate, uma arquitetura, como desempenhando o papel da luz.

ANALOGIA, METÁFORA E METONÍMIA

Tropos da retórica clássica muito conhecidos, que já foram objeto de inúmeras teorizações, essas figuras caracterizam relações analógicas particulares criadas no discurso ou estabilizadas no léxico. A metáfora é a figura por meio da qual se designa um referente através da utiliza- ção de um signo diferente daquele que o designa correntemente, por uma comparação subentendida tal como é definida usualmente (a pri- mavera da vida = a juventude); a metonímia consiste em designar um referente por um signo que é distinto do signo habitualmente emprega- do, mas que está ligado a ele por uma relação definível (como a parte pelo todo: teto por casa, ou continente pelo conteúdo: tomar um copo, confira Michel le Guern, 1973). Para descrever o léxico, podem ser uti- lizadas as relações de metáfora e de metonímia ou, recentemente, rela- ções analógicas de uma outra ordem, que permitem identificar combi- natórias preferenciais na língua, espécie de clichês do discurso seme- lhantes às locuções. Assim, em formulações como: chuva / diluviana, chorar / rios de lágrimas, censura / grave; diluviana está para chuva assim como grave está para censura, uma expressão lexical da quanti- dade; o que leva a postular a existência de uma “função” intensidade (MEL’CUK, 1993, p. 89) que se baseia em relações analógicas idênti- cas.

A metáfora é privilegiada na descrição de certos discursos. Ela ser- ve frequentemente, por exemplo, para caracterizar os textos científicos, às vezes como manipulação cientificamente não controlada dos destina- tários, ou como meio legítimo, tanto no plano didático quanto no eurís- tico, de transmitir ou de difundir os conhecimentos: “A metáfora [...] é um ‘catalizador’ de compreensão. Ela ‘fala’ à imaginação, ela visuali- za, encarna, especifica aquilo que, segundo o julgamento do redator, não pode ser ‘apanhado’ intelectualmente de outra maneira”

(LOFFLER-LAURIAN, 1994, p. 78).

Segundo Franck Neveu (2008, s.v.), a noção de analogia descreve uma propriedade fundamental da língua que é a da criatividade. Esta propriedade foi longamente desenvolvida por Ferdinand de Saussure (1857-1913) no Curso de Linguística Geral (2012):

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“A analogia supõe um modelo e sua imitação regular. Uma forma analógica é uma forma feita à imagem de outra ou outras a partir de uma regra determinada. Assim, o nominativo latino honor é analógico.

Dissemos inicialmente honos: honosem, depois, por rotacismo do s ho- nos: hororem. O radical tinha, desde então, uma forma dupla; esta dua- lidade doi eliminada pela nova forma honor, criada sobre o modelo de orator: oratorem etc., por um procedimento [...] que reduziremos [...]

ao cálculo da quarta proporcional: oratorem: orator = honorem: x, x = honor. Pode-se ver, portanto, que para contrabalançar a ação diversifi- cante da mudança fonética (honos: honorem), a analogia unificou no- vamente as formas e restabeleceu a regularidade (honor: honorem) [...]

Toda criação deve ser precedida de uma comparação inconsciente dos materiais depositados no tesouro da língua, onde as formas gerado- res se alinham de acordo com suas relações sintagmáticas e associati- vas. Assim, toda uma parte do fenômeno se realiza antes que se veja aparecer a forma nova. A atividade contínua da linguagem que decom- põe as unidades que lhe são dadas contém em si não somente todas as possibilidades de um falar conforme o uso, mas também todas as possi- bilidades de um falar conforme o uso, mas também todas as possibili- dades das formações analógicas. É, portanto, um erro acreditar que o processo gerador só se produz quando surge a criação; seus elementos já estão dados [...].

Em resumo, a analogia, considerada em si mesma, não passa de um aspecto do fenômeno de interpretação, uma manifestação da atividade geral que distingue as unidades para utilizá-las em seguida. Eis por que dizemos que é inteiramente gramatical e sincrônica” (SAUSSURE, 2012, 217-218, 222 e 223).

De todos os procedimentos que permitem modelar o conteúdo e a forma dos objetos linguísticos (extensão, restrição, metonímia, analo- gia), a analogia é sem dúvida a mais ativa. Como o demonstra Robert Martin:

“[...] basta-lhe uma propriedade comum, se tomada em si mesma, para que uma palavra ou uma expressão se aplique a uma outra coisa.

[...] Existindo similaridade em número infinito, a língua, por este com- ponente analógico, possui possibilidades inesgotáveis. Ela é em si mesma um lugar de incessante evolução” (MARTIN, 2002).

Sugere-se a leitura das páginas 105 a 115 do livro Historical Lin- guistics, de Robert Lawrence Trask.

Veja os verbetes: Aglutinação, Arbitrário linguístico, Comparação,

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Criatividade linguística, Mudança, Paradigma definicional / designa- cional.

Analogia criadora

Analogia criadora é a que dá formação a nova palavra, por analogia com outra existente. É tal analogia fonte inesgotável de formação de palavras. Assim, por analogia com verbos em ar, izar etc., e substanti- vos em ista, eiro etc., temos em potencial um sem fim de outras pala- vras com os mesmos sufixos, que a cada momento vão surgindo, à me- dida que são fazendo necessários (JOTA, 1981, s.v.).

Segundo Marcos Bagno (2017, s.v.), a analogia é um dos processos sociocognitivos de mudança linguística (BAGNO, 2012a). Consiste na comparação, por parte dos falantes, entre determinadas formas linguís- ticas irregulares e outras, mais frequentes, regulares, e na tentativa de reconduzir as formas irregulares, mais raras, aos paradigmas regulares.

Segundo a fórmula clássica empregada por Ferdinand de Saussure para explicar a analogia, A : B :: C : x → “A está para B, assim como C está para x”. Por exemplo, a forma impeço do verbo impedir se formou por analogia com a forma peço, de pedir, embora os dois verbos não te- nham uma origem comum (pedir deriva do latim petire, enquanto im- pedir deriva de impedire, em que está presente a raiz ped-, ‘pé’, de mo- do que impedire significava, originalmente, ‘travar os pés de alguém para que não se mova’), ou seja, pedir : peço :: impedir : impeço.

Numa análise mais profunda da analogia como processo fundamen- tal da cognição humana, Raimo Anttila (2006, p. 426) afirma que “a analogia medeia entre a atualidade e a potencialidade”, uma vez que “a similaridade é o mais importante processo holístico da vida mental”

(ANTILLA, 2006, p. 430). Segundo o autor, “a analogia é crucial em qualquer ciência; ela aperfeiçoa as explicações dentro de teorias e sus- tenta hipóteses já descobertas. (...) A analogia pode ser considerada como uma inferência que leva à solução de um problema, mesclando, portanto, abdução, indução e silogismo prático, isto é, percepção e con- texto experiencial na medida em que premissas (condições necessários) levam à interpretação como conclusão” (ANTTILA, 2006, p. 432).

Sua função foi muito explorada no século XIX pelos chamados ne- ogramáticos que, tentando extrair o máximo possível de regularidades infalíveis na mudança linguística, atribuíam à analogia todo e qualquer processo não passível dessa sistematização regular. Com isso, o recurso à analogia para explicar as mudanças passou a ser visto com desconfi- ança pelos teóricos posteriores. De fato, segundo Carlos Alberto Faraco (2005, p. 149), em sua avaliação da escola neogramática, “o imanen-

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tismo subjacente ao conceito de analogia, antes de esclarecer qualquer coisa, acaba por obscurecer a compreensão dos fenômenos, na medida em que escapa pela saída simples da existência de um princípio regula- rizador cuja realidade é extremamente vaga, além de ser de aplicação totalmente assistemática (a analogia não se aplica sempre que há, em tese, condições para tanto) e, portanto, dificilmente tratável por qual- quer princípio geral”.

Mais recentemente, contudo, os estudos de matriz sociocognitiva têm apontado a analogia como um dos processos fundamentais da mu- dança linguística, ao lado da gramaticalização e da economia linguísti- ca, junto, é claro, com a variação e o contato de línguas (AITCHISON, 2001; DEUTSCHER, 2005; BYBEE, 2015).

“A analogia tradicional, tal como manifestada e conhecida na lin- guística histórica, era e é correta” (ANTTILA, 2006, p. 432). Assim, numa tentativa de desfazer certos equívocos associados aos neogramá- ticos, John Earl Joseph (2010, p. 227) escreve: “Os dois mais importan- tes princípios do movimento ‘neogramático’ são os seguintes: primeiro, toda mudança sonora, desde que ocorre mecanicamente, se dá segundo leis que não admitem exceção. O ‘desde que ocorra mecanicamente’

implica claramente que toda mudança sonora não é mecânica, mas tem aspectos não mecânicos que não seguem leis sem exceção. A declara- ção prossegue, especificando casos ulteriores em que o princípio não se aplicaria: ou seja, a direção da mudança sonora é sempre a mesma pa- ra todos os membros de uma comunidade linguística, exceto onde ocorre uma divisão em dialetos; e todas as palavras em que aparece na mesma relação o som sujeito à mudança são afetadas pela mudança sem exceção. Uma lei sonora pode se aplicar somente em alguns ambi- entes, mas neles ela se aplicará a todos os sons, a despeito de seu signi- ficado ou função. Os neogramáticos pareciam afirmar um antipsicolo- gismo pesado, em que não havia espaço algum para analisar os ‘moti- vos’ que os falantes podiam ter e que faziam sua língua mudar, ou al- gumas partes dela mudarem e outras não. Essa é, de novo, uma caracte- rização inexata. Eles atribuíam o papel central em mudanças ad hoc ao processo da analogia, que se baseia num princípio psicológico que as- socia semelhanças de forma com semelhança de significado ou função (...). O princípio neogramático não pretendia ser um dogma psicológico ou evolutivo, mas uma metodologia que protegesse a linguística histó- rica de explicações arbitrárias”.

A analogia também pode ser vista como uma espécie de economia linguística, impulsionada pelo princípio “uma forma/um significado”;

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também conhecido como “universal de Humboldt”.

Em seu estudo clássico sobre gramaticalização, Paul J. Hopper e Elizabeth Closs Traugott (1993) sugerem que a analogia opera no eixo paradigmático, enquanto a reanálise opera no eixo sintagmático, e que somente a reanálise pode criar novas estruturas gramaticais. Para os au- tores, “a analogia é mais bem concebida como generalização de regras”

e que, além disso, essa generalização se faz “por meio de padrões de uso, tal como refletidos pela frequência com que ocorrências dessas es- truturas podem se dar através do tempo” (HOPPER & TRAUGOTT, 1993, p. 59). E concluem: “Reanálise e analogia são os principais me- canismos da mudança linguística” (HOPPER & TRAUGOTT, 1993, p.

61). É comum associar a analogia (similaridade) com o eixo paradig- mático e, portanto, com o mecanismo cognitivo da metáfora, enquanto a reanálise (contiguidade) é associada ao eixo sintagmático e, portanto, com o mecanismo cognitivo da metonímia. Tomando como exemplo a transformação do verbo inglês to go de verbo pleno a auxiliar, os auto- res oferecem a seguinte representação gráfica das mudanças (idem, ibi- dem):

Casos de mudança analógica são, por exemplo, em português, a re- gularização de incontáveis particípios passados que, em latim, eram ir- regulares: metido, mordido, rompido, ofendido, oferecido, oprimido, assumido, tendido, vencido etc. (confira latim: missu-, morsu-, ruptu-, offensu-, offertu-, oppressu-, tensu-, victu-). Mas a analogia também pode operar no sentido oposto, isto é, da transformação de formas regu- lares em formas irregulares. No português brasileiro contemporâneo, os verbos trazer e chegar, que têm particípios regulares (trazido, chega- do), vêm sendo cada vez mais conjugados com particípios irregulares (trago, chego), ainda não aceitos pelas instâncias normatizadoras, de- correntes da comparação com outros irregulares (pego, dito, feito, pago etc.) e também por hipercorreção. A tendência à regularização, no en- tanto, parece ser sempre mais acentuada, uma vez que “as mudanças tendem a ir das formas marcadas para as formas não marcadas” (AN- TTILA, 2006, p. 435), pois “o nivelamento e a extensão permanecem

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como os conceitos de mudança analógica mais prevalentes” (ANTTI- LA, 2006, p. 427).

Na aquisição da língua pelas crianças pequenas, a analogia atua de forma bem notável. São conhecidas as formas regularizantes do tipo eu sabo (por eu sei), eu di (por eu dei), se eu sesse (por se eu fosse) etc., que demonstram a força da analogia como processamento cognitivo da língua. Essas formas analógicas costumam ser corrigidas pelos pais e outros membros da família da criança. Outras, porém, de uso menos frequente, acabam se incorporando ao uso mais geral, provocando a mudança. As formas irregulares que sobrevivem por mais tempo são justamente as de uso mais intenso e frequente, como é o caso dos ver- bos de significado fundamental como ser, ter, ver, ir, vir, saber, dar, fazer etc. A alta frequência de uso e o rápido acesso, na memória, às formas irregulares são as barreiras que protegem essas formas do poder regularizador da analogia.

Em seus manuscritos, Ferdinand de Saussure (1857-1913) propôs o termo paraplasmo para as inovações morfológicas surgidas por analo- gia, em consonância terminológica com metaplasmo, termo que desig- na as mudanças ocorridas no nível fonológico (JOSEPH, 2010).

Elizabeth Closs Traugott e Graeme Trousdale (2013, p. 38) questio- nam o emprego de analogia porque, em seu entender, o termo engloba, ao mesmo tempo, uma motivação e um mecanismo de mudança lin- guística. Assim, preferem distinguir o pensamento analógico como a motivação (o “porque” da mudança) da analogização como o meca- nismo (o “como” da mudança): “O pensamento analógico combina as- pectos de significado e de forma; ele habilita a mudança, mas pode ou não resultar em mudança. Em contrapartida, a analogização é um me- canismo ou processo de mudança que faz surgir combinações de signi- ficado e forma que não existiam antes”.

Analogia de forma

Quanto à analogia de forma, segundo Orlando Mendes de Moraes (1965, s.v.), podemos distribuir as palavras em três grupos: homónimas, parônimas e cognatas.

Chamam-se homônimas as palavras que têm a mesma forma nos sons ou nas letras, mas exprimem ideias diferentes: livro (do verbo li- vrar) e livro (substantivo), bota (do verbo botar) e bota (substantivo), cessão, seção, sessão, caça e cassa.

As palavras homônimas subdividem-se em homófonas e homógra- fas. São homófonas quando têm o mesmo som, sejam elas escritas com as mesmas letras ou não: acento e acento, cegar e segar. Diz-se que

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são homógrafas, quando idênticas na forma escrita, embora possa haver diferença na qualidade e tonicidade das vogais: acordo (verbo ou subs- tantivo), governo (verbo ou substantivo), sábia (adjetivo), sabia (ver- bo) e sabiá (substantivo).

Parônimas são palavras que possuem significação diferente, embora se pareçam na forma: discriminar e descriminar, despensa e dispensa etc.

Cognatas são palavras que pertencem à mesma família ou grupo morfológico, isto é, derivadas de um mesmo radical. Exemplos: vidro, vidreiro, vidraça, vitral, vidrar.

Veja os verbetes: Concordância verbal, Conjugação, Fonética, Fu- turo do subjuntivo, Infinitivo, Latim, Língua, Morfologia, Norma culta, Sintaxe, Verbo e Voz passiva sintética.

Analogia de função

Quanto à analogia de suas funções, segundo Orlando Mendes de Moraes (1965, s.v.), as palavras dividem-se em: palavras nominativas, palavras modificativas e palavras conectivas.

Palavras nominativas, com a função de nomear os seres – substan- tivo e pronome.

Palavras modificativas, cuja função é modificar outras palavras – adjetivo, verbo e advérbio.

Palavras conectivas, com a função de ligar ou relacionar outras pa- lavras entre si – preposição, conjunção, verbo de ligação, pronome e advérbios conjuntivos.

Analogia e oposição de sentido

Algumas palavras apresentam entre si significado análogo, e outras, sentido oposto – são as palavras sinônimas e antônimas, segundo Or- lando Mendes de Moraes (1965, s.v.).

Sinônimas são palavras que possuem identidade ou semelhança na significação, donde temos sinônimos perfeitos (?) e sinônimos imperfei- tos. Beiço e lábio, rosto e cara são considerados sinônimos perfeitos;

ver e olhar, sábio e erudito são exemplos de sinônimos imperfeitos.

Antônimos são palavras que têm formas diferentes e sentido oposto:

dia e noite, amar e odiar, bem e mal.

Ainda quanto à significação, as palavras podem ser tomadas no sen- tido próprio, como e cabeça, quando nos referimos a essas partes do corpo humano, e no sentido figurado, como da mesa, cabeça da re- volução etc.

Sempre que uma palavra é tomada fora do seu sentido natural, pró-

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prio, primitivo, e aplicada na designação de um objeto diferente do primitivo, dizemos que essa palavra está tomada em sentido figurado ou translado.

Analogia fonética

Analogia fonética é a que tem caráter exclusivamente fonético. O ino (grego), breve, por influxo de ino (latino), tônico: elefantino; o il átono de projétil e réptil, que passou a tônico; a acentuação de amáva- mos, amáveis (por amavamos, amaveis); rúbrica, forma que deve ser evitada (por rubrica), por analogia com pública, súplica, réplica etc., que são substantivos derivados dos verbos publicar, suplicar, replicar etc. Em sentido mais lato, aqui se incluiria a analogia morfológica (JOTA, 1981, s.v.).

Analogia formal

Analogia foral é a que se processa em elementos da mesma espécie ou função.

Analogia gráfica

Analogia gráfica é a influência analógica da grafia de uma palavra na grafia de outra: excessão (por exceção), analogia com excesso; es- crevaninha (por escrivaninha), analogia com escrever; ascenção (por ascensão), analogia com assunção etc. O limite entre a analogia gráfica e a morfológica é algo muito sutil. Dir-se-ia que toda mudança gráfica carreia alteração morfológica. Mas não é nesse ponto que a diferença poderia diluir-se. Com a gráfica, quer-se dizer que não há alteração fô- nica na palavra: excessão é apenas um erro de ortografia; foneticamen- te, continua sendo a palavra correta exceção. Já em farroupilha (talvez de farrapilha, diminutivo de farrapo) teria havido influência de roupa, com alteração da morfologia. Em altomóvel (por automóvel) teríamos analogia gráfica ou morfológica, conforme analogia gráfica ou morfo- lógica, conforme a pronúncia do ele (mas como a troca de um por outro é de pessoas menos cultas, melhor supor a pronúncia automóvel, pelo que capitularíamos o exemplo na analogia gráfica); escrevaninha (por escrivaninha) seria exemplo idêntico (a pronúncia do e diria o tipo de analogia). Outros exemplos de analogia morfológica: estrela (por este- la, latim stella) com o r de astro, caminhão (por camião, do francês camion), com nh de caminho (é possível outra explicação: camião >

camīão > camīyão > caminhão); praiamar (por preamar), onde surge o praia por influxo de mar, do mesmo campo semântico (observe-se que a palavra influenciadora nem sempre é da mesma esfera semântica,

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embora tal fato corrobore talvez de maneira ponderável) (JOTA, 1981, s.v.).

Analogia léxica

Analogia léxica é o mesmo que etimologia popular.

Analogia material

Analogia material é a que se exerce entre formas do mesmo para- digma ou que são aproximadas pelo sentido ou pela etimologia.

Analogia morfológica Veja: Analogia gráfica.

Analogia niveladora

Analogia niveladora é aquela que nivela uma forma a outra: negro, ao lado de nigérrimo, faz negríssimo, por nivelamento com o superlati- vo de outras palavras: eu cabo, ele cabeu, fazerei, fazeu etc. O latim, paralelamente a momordi e tetendi, admitiu morsum e tensum pela mesma razão (JOTA, 1981, s.v.).

Analogia nocional

Analogia nocional é a que se efetua pelo sentido, em oposição a analogia gramatical, que se processa pela forma.

Analogia polar

Analogia polar é a que se observa pelo confronto com palavra antô- nima. O latim sic, por exemplo, deu o português si, que passou a sim por analogia com o antônimo não (JOTA, 1981, s.v.).

Analogia proporcional

Analogia proporcional é a analogia estribada numa proporção: ven- der está para vendível, assim como ofender está para X; daqui se deduz X = ofendível (JOTA, 1981, s.v.).

Analogia semântica

Analogia semântica é a que carreia extensão no emprego de palavra por algum traço de semelhança: cabeça de alfinete, barriga da perna, perna do compasso etc. Se fulano é ignorante e o burro é ignorante, is- so nos autoriza dizer que fulano é ignorante como o burro (donde a ad- jetivação de burro em fulano é burro), e daí nova substantivação de burro já em nova acepção: Fulano é um burro (JOTA, 1981, s.v.).

Analogia sintática

Analogia sintática é a que se evidencia no campo da sintaxe. A ten- dência a dar objeto direto (por indireto) a certos verbos: assistir o jogo

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(por assistir ao jogo); uma pouca d'água (por um pouco d'água), cru- zamento com pouca água. Às vezes, faz-se presente também a analogia semântica: preferir isso do que aquilo (por preferir isso a aquilo), por influxo de antes quero isso do que aquilo (JOTA, 1981, s.v.).

Analógico

Denomina-se mutação analógica, segundo Jean Dubois et al. (1998, s.v.), qualquer evolução da língua que possa ser explicada por um fe- nômeno de analogia.

Analogistas

A partir do século II a.C., desenvolveu-se, entre os gramáticos gre- gos, uma discussão sobre a importância que se devia dar à regularidade no estudo dos fenômenos linguísticos. Segundo Jean Dubois et al.

(1998, s.v.), os analogistas afirmavam que a língua é fundamentalmen- te regular e excepcionalmente irregular, enquanto a tese inversa tinha a aprovação dos anomalistas.

Os analogistas se emprenharam em estabelecer modelos (paradig- mas) segundo os quais as palavras (chamadas então "regulares") podi- am, em sua maioria, ser classificadas. Com isso, eram levados a corri- gir tudo o que podia aparecer como uma irregularidade, sem sequer perceberem que o que é irregular por um lado pode ser perfeitamente regular por outro. Assim, a declinação de boûs, boos, parece irregular em relação a korax, korakos, mas é regular se a encaramos sob o ponto de vista histórico, admitidos os diversos tratamentos de sua transcrição pelo digama, letra antiga desaparecida do alfabeto grego: boFs / boFos.

As pesquisas dos analogistas muito contribuíram para o estabelecimen- to da gramática.

Análogo

Segundo Jean Dubois et al. (1998, s.v.), classificavam-se, outrora, como análogas, as línguas nas quais a ordem das palavres é relativa- mente fixa, como o francês e o inglês. Tratava-se, no caso, de uma ana- logia com o que se julgava ser de ordem lógica. Na classificação tipo- lógica do padre Gabriel Girard, análogo se opunha a inversivo.

Anamita

Anamita é a língua falada no lado leste de Aname.

Anankê

Veja o verbete: Tragédia.

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Anantapódoton

Anantapódoton é o tipo de anacoluto decorrente da supressão do segundo termo de sua correlação, substituído por um rodeio. Exemplo:

Tanto mais ele se esforça, não creio possa recuperar-se tão cedo (JO- TA, 1981, s.v.).

Segundo Massaud Moisés (2004, s.v.), anantapódoton é uma espé- cie de anacoluto que “consiste na interrupção de uma frase pela inclu- são de uma ou mais frases incidentais e pelo retorno e desenvolvimento da primeira sob uma forma diferente” (MOURÃO-FERREIRA, 1975, p. 21). Exemplo:

Divorciado do romantismo, esse movimento febril e doido através do qual, no entanto, parece indispensável que a alma passe para aí lar- gar, como se fosse em depurativo alambique, as suas escórias e renas- cer restituída ao seu definitivo aspecto, divorciado pois do romantismo e reintegrado na minha lídima idiossincrasia poética, me trasladei pela primeira vez das frescas, umbrosas margens do Lima às tórridas plagas algarvias” (Manuel Teixeira-Gomes, “Gente Singular”, apud MOU- RÃO-FERREIRA, 1975, p. 22).

Como leitura complementar, sugere-se verificar este verbete no Di- cionario de términos filológicos, de Fernando Lázaro Carreter (1977).

Anapesto

Anapesto é o verso composto de quatro pés anapestos, podendo qualquer deles ser substituído por espondeu ou dáctilo.

Anapódoton

Anapódoton é o tipo particular de anacoluto em que uma frase se repete, total ou parcialmente, sob outra forma. Exemplo: Se desejas que ela venha, isto se fará (isto corresponde a que ela venha).

Anaptixe

Intercalação de uma vogal para desmanchar certos grupos conso- nantais de pronunciação considerada difícil em dado momento da evo- lução da língua.

Alguns exemplos: De calvus, pelado, tirou-se o derivado calvaria, o qual, depois, por anaptixe, passou a calavaria, de onde caaveira e, fi- nalmente, caveira. Do latim februarius passou-se a febrariu no latim vulgar e, depois, por anaptixe, a feberariu, de onde, finalmente, o por- tuguês fevereiro. De um hipotético trabella, diminutivo de trabs, a tra- ve, tivemos primeiro tramela e, depois, por anaptixe, taramela. Outros exemplos: grupa > garupa; brata > barata; prão > porão

Nos grupos consonantais chamados impróprios isto é, cuja segunda

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consoante não é l nem r e dos quais a primeira consoante é uma oclusi- va –, a tendência atual no português do Brasil é para o desenvolvimento de uma vogal anaptítica. São comuns, mesmo entre pessoas cultas, pro- núncias como adevogado, pissicologia, abissoluto, indiguinar-se etc.

Na conjugação, essa vogal de apoio se torna até tônica entre pessoas descuidadas. Exemplos: eu mi resiguino (em vez de resigno), tu ti indi- guinas (em vez de indignas).

A anaptixe é um caso particular da epêntese e também se chama su- arabácti.

Anariano

Anariano é o que não é ariano; que não é indo-europeu.

Anartria

Segundo Jean Dubois et al. (1998, s.v.), anartria é o nome dado à afasia de expressão, caracterizada por perturbações na programação dos fonemas e das sequências de fonemas.

Segundo Zélio dos Santos Jota (1981, s.v.), anartria é a incapacida- de da linguagem articulada. O doente baralha as sílabas de modo tal que se torna incompreensível. É o mesmo que disartria.

Segundo Franck Neveu (2008, s.v.), a palavra anartria designa uma patologia, consecutiva a uma lesão do córtex cerebral, e que se caracte- riza por uma incapacidade do indivíduo de efetuar movimentos articu- latórios necessários à fala, mas sem perturbações motoras do aparelho fonador (ao contrário da disartria). Por esta perspectiva, a anartria é de- finida como um caso de afasia pura, onde se observam somente pertur- bações articulatórias isoladas. A compreensão da linguagem, tanto es- crita quanto oral, e sua produção escrita, não são afetadas (afemia).

Veja os verbetes: Afasia, Afemia, Disartria, Neurolinguística, Pato- logia da linguagem.

Anastasiografia

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), anastasiografia é a técnica de reativação da escrita raspada dos palimp- sestos pela utilização de raios ultravioleta com uma lâmpada de cristal de quartzo. Foi descoberta pelo italiano Giuseppe Ludovico Perugi (1807-1890).

Anastático

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), anastático se diz do processo de impressão, gravação e cópia que per- mite reproduzir, por meio de decalque químico, textos e gravuras já

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impressos.

A impressão anastática é um processo de impressão em relevo, usa- do pela primeira vez em Berlim por Rudolf Appel por volta de 1840, em que utilizou chapa de zinco gravada a água-forte para produzir fac- símiles de escrita, desenhos e texto impresso. Permite reproduzir as obras esgotadas ou antigas com a sua perfeição tipográfica primitiva sem as reimprimir. Por meio de processos especiais de decalque ou por fotografia, obtém-se uma prova das páginas do livro a reproduzir e a transfere para pedra ou metal. Este processo é também chamado de pa- lingrafia.

Anástrofe

Inversão de termos pertencentes a um mesmo grupo sintático.

Os grupos sintáticos são dois: o nominal e o verbal. O grupo nomi- nal é formado pelo par substantivo-adjetivo e o grupo verbal pelo par substantivo-verbo. No grupo nominal, o adjetivo pode ser substituído por uma locução, tomando, então, a forma principal complemento. O grupo verbal se subdivide em outros dois: sujeito verbo e verbo-objeto.

Qualquer inversão dentro desses grupos é anástrofe. Exemplos: O das águas gigante caudaloso (complemento antes do principal). Dorme o batalhador (verbo antes do sujeito); Um soneto pediste-me, criança (objeto antes do verbo). "Qual vermelhas as armas faz de brancas" (Lu- síadas, VI, 64). "Terribilíssimos foram os sonhos que Deus mandou ao presbítero". (Alexandre Herculano).

Segundo Massaud Moisés (2004, s.v.), anástrofe é figura de cons- trução, espécie de hipérbato que consiste na inversão, para fins estilís- ticos, notadamente poéticos, da ordem natural das palavras. A inversão, porque suave, não obscurece o sentido do pensamento, como de hábito sucede com o hipérbato. No seguinte exemplo, o complemento se ante- põe ao predicado: “No rigor da verdade, estás pintada, / No rigor da aparência, estás com vida” (Gregório de Matos, “Retrata o autor à Do- na Ângela”).

Quando é mais violenta, a inversão recebe o nome de sínquise.

Veja os verbetes: Hysteron proteron e Sínquise.

Anatomia da linguagem

Segundo Franck Neveu (2008, s.v.), o termo anatomia da lingua- gem cobre de maneira bastante ampla o estudo do substrato biológico e neuropsicológico da faculdade da linguagem: sobretudo, os órgãos da fonação (lábios, língua, palato, úvula, cordas vocais, faringe, laringe etc.), o sistema nervoso central, os hemisférios cerebrais, os córtices, as

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áreas cerebrais etc.

Veja os verbetes: Fonação e Neurolinguística.

Ancípite

Ancípite, na métrica quantitativa clássica, é a sílaba que pode ser longa ou breve; ou seja: que pode ser medida de acordo com a necessi- dade da métrica.

Segundo Massaud Moisés (2004, s.v.), ancípite é o expediente usa- do na métrica greco-latina que consiste numa sílaba, sobretudo no final do verso, que, independentemente do seu real valor, pode ser longa ou breve, conforme as exigências do ritmo.

O vocábulo também designa as edições antigas de livros sem men- ção do impressor, nem do lugar ou data da impressão.

Veja o verbete: Escansão.

Âncora

Segundo Franck Neveu (2008, s.v.), é chamado de âncora, em um documento eletrônico, um reenvio automático a seções desse documen- to. A âncora é, portanto, um link interno para um hipertexto, ou, mais amplamente, para um hiperdocumento multimídia. Pode ser constituída por uma nota de referência, uma palavra, um grupo de palavras, uma frase, uma imagem etc., que permite abrir uma nova janela, mostrando informações textuais, iconográficas, sonoras etc. As âncoras são utili- zadas principalmente em tabelas e sumários de documentos volumosos.

Elas asseguram um acesso rápido e preciso a uma seção, sem perda de dados.

Veja os verbetes: Hipertexto, Janela, Link.

Andaluz

Andaluz é o castelhano da Andaluzia, de sistema fonético e, em al- guns lugares, também fonológico algo diferentes do castelhano, como em Granada (JOTA, 1981, s.v.).

Andaluzismo

Andaluzismo é a influência andaluza no espanhol da América.

Andorrano

Andorrano é a variedade dialetal do catalão ocidental.

Anedota

Anedota é um fato curioso ou jocoso que acontece à margem dos eventos mais importantes de uma determinada personagem ou passa- gem histórica. Por extensão de sentido, é a narrativa breve de um fato

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engraçado ou picante sobre pessoas “públicas” de uma comunidade (COSTA, 2018, s.v.)

Veja o verbete: Piada.

Anepigráfico

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), anepigráfico é o documento que carece de inscrição, título ou epígrafe.

Os incunábulos eram frequentemente anepigráficos.

Anepígrafo

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), anepígrafo é o livro sem folha de rosto, sem título, sem inscrição, indi- cações que faltam em toda a edição.

Anexação

Segundo Franck Neveu (2008, s.v.), anexação faz parte dessas no- ções em desenvolvimento que costumam responder a uma necessidade descritiva, mas que na realidade escapam a toda tentativa de definição:

“Não considerando propriamente nem o sistema de formas da lín- gua, nem o registro das formas textuais, a anexação – ou seja, o efeito de anexar – impõe-se, intuitivamente, como parte de uma grande varie- dade de fenômenos: funcionamentos sintático-enunciativos, dispositi- vos tipográficos de pontuação e paginação, organização de textos”

(AUTHIER-REVUZ & LALA, 2002).

A propriedade característica da noção de anexação pode descrever, com efeito, ao mesmo tempo, as construções apositivas, os grupos co- ordenados, as proposições incidentes, os segmentos destacados do resto do enunciado entre travessões ou parênteses e, ainda, as notas de roda- pé, notas em geral, apêndices, posfácios etc. O ponto de encontro des- ses fatos gramaticais ou textuais se encontra na relação de anexação a uma base, porque a noção de anexo pressupõe uma anterioridade, uma ordenação, uma hierarquia. Ela permite, assim, identificar a existência de um enunciado como suporte, e manifesta, por consequência, a pre- sunção de informação incompleta desse ponto de ancoragem.

Veja os verbetes: Adição, Adjunto, Aposição, Destaque, Incidência.

Anexim

Anexim é o mesmo que provérbio.

Segundo Massaud Moisés (2004, s.v.), diz-se dos ditos sentenciosos de cunho popular.

Exemplos vernáculos são encontrados na Eufrosina (1555) e na Aulegrafia (1619), peças teatrais do Jorge Ferreira de Vasconcelos

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(1515-1585), carregadas de provérbios e sentenças. Dom Francisco Manuel de Melo (1608-1666) compendiou numerosas expressões da sabedoria do povo na Feira dos Anexins (1875). Artur Azevedo (Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, 1855-1908) deixou uma comédia in- titulada Amor por Anexins (1872?), cujo herói, Isaías, fala sempre neste diapasão: “Vim em pessoa saber da resposta da minha carta: quem quer vai e quem não quer manda; quem nunca arriscou não perdeu nem ga- nhou; cautela e caldo de galinha...”.

Veja o verbete: Máxima.

Anexo

Anexo são partes extensivas que se destacam do corpo do texto para evitar descontinuidade na sequência lógica das seções. Podem ser tabe- las, mapas, fotografias, plantas, modelos de formulário etc. (COSTA, 2018, s.v.).

Segundo Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (2008, s.v.), anexo é a matéria complementar ou suplementar relacionada com um texto ou documento que não constitui parte essencial dele e que é acrescentada no final. Compreende notas do autor, citações, ilustrações, gráficos, tabelas ou mapas, correspondência, documentos, legislação de interesse etc.; ou seja, é o conjunto de documentos, estatísticas, gráfi- cos, ilustrações ou textos dos quais não costuma ser autor o da obra em que se inserem, mas que tem com ela estreita ldependência.

Veja os verbetes: Adendo, Aditamento e Apêndice.

Anfiboli a

Anfibolia é o mesmo que anfibologia.

Anfibologia

Segundo Orlando Mendes de Moraes (1965, s.v.), quando a frase é de sentido duplo ou duvidoso, temos a anfibologia, também chamada ambiguidade, que deve ser cuidadosamente evitada. Exemplos: "João prendeu o ladrão em sua casa". Neste caso, não sabemos se o ladrão foi preso na casa de João ou em sua própria casa. "Ama o povo o bom rei e dele é amado"; "Estivemos na escola da cidade que foi fundada em 1856".

Segundo Zélio dos Santos Jota (1981, s.v.), anfibologia é o mesmo que ambiguidade. No entanto, há quem pretenda que a anfibologia seja apenas a ambiguidade sintática ou frase equívoca. Exemplo: Deixei-o contrariado (quem estaria contrariado? eu ou ele?)

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Anfíbraco

Anfíbraco é o pé de verso cercado de braquias, como no nome suge- re.

Veja o verbete: Pé.

Anfiguri

Trecho propositadamente obscuro. É um artifício literário, usado por certos autores, notadamente de comédias, para mover o riso. Ou se- ja, o trecho que se faz confuso para efeito cômico.

Segundo Massaud Moisés (2004, s.v.), anfiguri designa as compo- sições, em prosa ou verso, de sentido ininteligível, absurdo, com vistas a provocar o riso ou a satirizar. Frequente na época do Barroco, apro- xima-se do burlesco e da paródia ou poesia pantagruélica, praticada por alguns dos românticos brasileiros, de que são exemplo os primeiros versos de um soneto de Bernardo Guimarães (), citado por João Cardo- so de Meneses e Sousa: “Eu vi dos polos o gigante alado / Sobre um montão de pálidos coriscos, / Sem fazer caso dos bulcões ariscos, / De- vorando, em silêncio, a mão do Fado” (SOUSA, 1965, p. 165).

Anfímacro Veja o verbete: Pé.

Angevino

Angevino é o dialeto francês falado em Anvers e Tours.

Anglicismo

Qualquer fato da língua inglesa que aparece no português falado ou escrito. Os anglicismos são principalmente de ordem a) sintática, b) le- xical. Como anglicismos sintáticos, temos: a) sintática, b) lexical. Co- mo anglicismos sintáticos, temos: 1) a antecipação de um adjunto adje- tivo ao seu substantivo, sem o intuito que essa colocação tem em por- tuguês, mas com valor descritivo (quando em português é normal a posposição do adjetivo) como nos nomes de hotel (Exemplo: Majestoso Hotel); 2) o emprego de um substantivo com função de adjetivo porque anteposto assim (Exemplo: Rio Hotel); 3) o emprego de um substantivo com função de adjetivo porque anteposto (Exemplo: Rio Hotel); o em- prego de uma preposição, como com, isolada do nome a que rege (Exemplo: capas com e sem forro) ou até, como contra, em fim de fra- se (Exemplo: eu sou pelo povo e tu és contra). Os anglicismos lexicais, ou anglicismos stricto sensu, são a) formais (Exemplos: sport, tank, week-end, b) semânticos (Exemplos: realizar "compreender", assumir

"supor"). Outros exemplos de anglicismo: bar, basquete, boiar, bolina,

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brigue, cúter, gentleman, grogue, grumete, gurupés, hugh-life, iate, jó- quei, júri, lanche, lorde, macadame, match, pudim, rail, redingote, ros- bife, rum, sanduíche, tramway, warter-closet e siglas como AIDS, WC, USA etc.

Em sintaxe, a influência é mínima, ocorrendo na anteposição de ad- jetivo a substantivo (Majestoso Hotel) e no emprego de substantivo com função de adjetivo porque anteposto (Rio Hotel, Araxá Tênis Clu- be, Éden Motel).

Veja os verbetes: Adjetivo, Empréstimo, Léxico, Língua, Palavra, Sintaxe e Substantivo.

Anglófono

Anglófono é aquele que tem a língua inglesa como língua materna ou como segunda língua.

Animado (inanimado)

Termo usado na classificação gramatical das palavras (principal- mente substantivos), quando pertencem a uma subclasse que se refere a pessoas ou animais, em oposição a conceitos e entidades inanimadas, segundo David Crystal (1988, s.v.). Em algumas línguas, como o por- tuguês, são feitas distinções entre os seres "animados", utilizando-se recursos morfológicos, como no contraste de gênero. A distinção tam- bém pode ser feita em termos semânticos, como no inglês. Em adjeti- vos que exprimem o conceito de "velhice", por exemplo, idoso é ani- mado e antigo, inanimado, velho pode ser aplicado para as duas catego- rias. Veja o capítulo 4 de Introdução à linguística teórica, de John Lyons (1979) e capítulo 5 de Aspects of Language, de Dwight L. Bo- linger e Donald A. Sears (1981).

Animais

Os nomes de animais constituem uma subcategoria de substantivos que designam seres vivos não humanos e que se caracteriza por uma sintaxe diferente daquela dos substantivos que designam seres huma- nos. Assim, o verbo pensar, por exemplo, implica um sujeito humano.

Se damos a tal verbo um sujeito não humano, atribuímos ao animal as propriedades do homem.

Veja os verbetes: Humano e Recategorização.

Anisófono

Anisófono é o fonema vocálico que se pode realizar com abertura algo diferente. Assim, em latim, os ditongos ae, oe e au podem ser con-

Referências

Documentos relacionados

Não incluiremos aqui todos os verbetes relativos às diversas formas e tipos de edição, que são numerosas, conforme relatam Maria Isabel Fa- ria e Maria da Graça Pericão 2008, s.v., para