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O Povo Brasileiro by Darcy Ribeiro (z-lib.org)

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Ramiro Valdez

Academic year: 2023

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Por que só volto a isso agora, depois de tantos e tantos anos, em que me ocupei com as mais diversas tarefas, fugindo. O tema que agora propus foi reconstruir o processo de formação dos povos americanos, na tentativa de explicar as suas causas.

Introdução

E apenas nos raros casos em que a massa populacional de uma região se organiza na luta por seu próprio projeto alternativo de estruturação social, como aconteceu com os Cabanos, nos Canudos, no Contestado e entre os Mucker. Sempre houve uma falta, e ainda falta claramente, de uma compreensão clara da história vivida, como necessária nas circunstâncias em que ocorreu, e de um projeto alternativo claro de ordem social, claramente articulado, apoiado e adotado como propriedade sua. pela grande maioria.

I – O NOVO MUNDO

Matrizes étnicas

A ilha Brasil

O que aconteceu e mudou completa e radicalmente o seu destino foi a introdução no seu mundo de um novo protagonista, um europeu. No nível etnocultural, essa transformação se dá com o surgimento de uma nova etnia que unifica em língua e costumes os índios que rompem com suas vidas.

A matriz tupi

Bárbaros e Guerras na Amazônia - Os índios nunca estabeleceram uma paz estável com o invasor, por isso foi uma luta constante dele para dominar cada região durante décadas. Um dos cronistas da difusão da civilização em seus territórios nos diz claramente que “levaram pouco tempo para exterminar todos os espanhóis no Paraguai” (Félix de Azara apud Holanda 1986:70).

A lusitanidade

O enfrentamento dos mundos

As opostas visões

Eles eram tão medrosos e terríveis que para muitos índios era melhor morrer do que viver. Alguns se aproximaram e aderiram, preferindo a aventura de conviver com os jovens mestres, como arqueiros em suas guerras contra índios distantes, à rotina da vida tribal, que havia perdido o frescor e o brilho.

Razões desencontradas

Para os colonos, os índios eram gado humano, cuja natureza, mais próxima dos animais do que dos homens, os recomendava apenas para a escravidão. Tais eram as suas missões onde os índios se concentravam – depois de serem atraídos pelos sacerdotes ou subjugados pelo braço mundano –.

O salvacionismo

O processo civilizatório

Povos germinais

Exterminaram simultaneamente milhares de pessoas que antes viviam em prosperidade e alegria, espalhadas pelo país com as suas línguas e culturas nativas. As nações-germe, como Roma no passado, foram os ibéricos, os ingleses e os russos no mundo moderno. Fechados em si mesmos, feudalizados, envolvidos em divergências com suas variantes internas, não se organizaram como.

Os ingleses expandiram-se como industriosos agricultores puritanos ou como uma burguesia industrial e empresarial que calculava cuidadosamente cada movimento seu.

O barroco e o gótico

O próprio Estado assume as funções sacerdotais, expressamente dadas pelo Papa, para cumprir o seu destino como Cidade de Deus vs. Na visão deles, estavam simplesmente forçando aquele índio inativo a viver mais um destino de acordo com a vontade de Deus e a vontade de Deus. No nosso sul, o que está a ser criado é uma elite de proprietários de terras e governantes civis e militares, reunidos como um só.

A evolução de uma e de outra destas formações conduz na mesma direção, por um lado, ao amadurecimento de uma sociedade democrática baseada nos direitos dos cidadãos, que em última análise abrange também os negros.

Atualização histórica

Essas inovações tecnológicas, somadas às já mencionadas formas mais avançadas de ordenação social e a esses instrumentos ideológicos de controle e expressão, forneceram as bases sobre as quais a sociedade e a cultura brasileiras foram construídas como um implante colonial europeu. Aqueles que cumprem este papel, seja como agentes de exploração económica ou como gestores da hegemonia política, são na verdade agentes de. As próprias classes dominadas não constituem um povo dedicado a produzir as suas próprias condições de existência e nem sequer são capazes de se reproduzir vegetativamente.

São um conglomerado diversificado, composto por índios trazidos de longe, que só se entendiam; com as pessoas arrancadas das suas origens africanas originais, algumas reuniram-se contra a sua vontade para se verem transformadas numa mera força de trabalho escrava para ser consumida no trabalho;

II – GESTAÇÃO ÉTNICA

Criatório de gente

O cunhadismo

Os colonos europeus que aqui chegaram eram alguns perdidos e exilados, deixados por navios de descobrimento, ou marinheiros que fugiram em busca de uma nova vida entre os índios. Eles vão para a guerra com os índios e suas festas são para os índios e por isso vivem andando nus como os mesmos índios. Um terceiro núcleo de considerável importância foi o de Pernambuco, onde alguns portugueses, aparentados com os índios Tabajara, produziram vários mamelucos.

Alcançaram certa prosperidade através das mercadorias que persuadiram os índios a produzir e transportar em numerosos navios.

O governo geral

A sorte revelou-se diferente em cada província quando a Coroa, insatisfeita com o que tinha sido conseguido, colocou-a sob controlo. Nenhuma mulher solteira compareceu, exceto, pelo que sabemos, uma escrava provavelmente mourisca, sobre a qual houve animada discussão. Acima de tudo, queriam os órfãos do rei, que se casariam com os bons e os ricos daqui.

A situação agravou-se com a revolta dos índios que se recusaram a aceitar o novo papel que lhes foi atribuído na colonização do Brasil.

Cativeiro indígena

Moinhos de gastar gente

Os brasilíndios

Nas entradas mais profundas e pioneiras que demoraram anos, viajaram durante alguns meses e acamparam para plantar e colher campos com os quais se abasteceram de mantimentos para continuarem a viagem rumo ao sertão, por entre florestas e campos naturais. Friederici (1967), comparando-os com as suas emulações canadianas, os rijders de boi, que proliferaram nos primeiros séculos, supõe que nenhum outro caminho histórico lhes seria aberto senão o extermínio em sociedades europeias mais estruturadas, baseadas nas famílias. Onde quer que haja dados concretos, pode-se observar que a convivência da aldeia indígena com a.

O passo que se dá nesse processo não é, como se supõe, a passagem do estado de índio para o de brasileiro, mas da situação de índios específicos, investidos de suas características e vivendo de acordo com seus costumes, para o estado de índios genéricos, cada vez mais aculturados, mas sempre indianos na sua identificação étnica.

Os afro-brasileiros

Neste âmbito, por exemplo, destaca-se um catolicismo popular muito mais diferente de qualquer uma das heresias cristãs tão perseguidas em Portugal. Na verdade, foi o Brasil que se construiu de acordo com sua base ecológica, o projeto colonial, a monocultura e a escravidão, resultando em uma sociedade completamente nova. Exposto a esta compressão, cada povo é derrotado por si mesmo e deixa de ser ele mesmo, primeiro, de não ser ninguém, ao ver-se reduzido a um estado de propriedade mutável, como um animal de carga; então, ser outro quando transformado.

Eles não têm outra saída, porque a única saída do estado de escravidão é pela porta da morte ou da fuga.

Os neobrasileiros

Na verdade, o tupi como língua de civilização inicialmente se difundiu mais que o português (sobre o surgimento e difusão da língua geral, ver Cortesão 1958 e Holanda 1945). Mais tarde, espalhou-se pela população como língua comum tanto nas cidades como nas aldeias. A substituição da língua comum pelo português como língua nativa dos brasileiros só será concluída no século XVIII.

Introduzido pelos Jesuítas como língua da civilização, o Nheengatu permaneceu como língua comum da população local brasileira após sua expulsão e permaneceu como língua dominante até 1940 (Censo Nacional de 1940).

Os brasileiros

Na busca pela própria identidade, pode até não ter gostado da ideia de não ser europeu, pois também considerava inferior qualquer coisa nativa ou negra. Através dessas contradições e do esforço persistente para desenvolver uma autoimagem e uma consciência correspondentes à nova entidade etnocultural, a brasilidade gradualmente emerge e toma forma. A assimilação da própria identidade para os brasileiros, como para outras pessoas, é um processo variado, longo e dramático.

A outra, de ser tão errante, como uma criatura da terra, que de qualquer forma não se enquadrava nas etnias aqui constituídas, rejeitado por elas como estrangeiro, que vive em busca de sua identidade.

O ser e a consciência

Bagos e ventres

Desindianização

Os Palmares foram destruídos meio século depois pelos homens de Jorge Velho, que partiram do Piauí para combater, primeiro, os índios Janduí (1688) e, depois, os Palmares (1694) com uma força de 1.300 índios e 150 “brancos”. Significa simplesmente estabelecer um modus vivendi muito precário através do qual eles passam da condição de índios especiais, com raça e cultura próprias e especiais, para a de índios genéricos. Saint-Hilaire, falando da região do Rio Grande do Sul, observa que os índios escravizados “são inúteis para povoar a terra, pois fora de suas terras não encontram esposas para casar” (Saint-Hilaire 1939).

Diante da necessidade de abertura de novas frentes de colonização, foi necessário um trabalho cuidadoso com os índios.

O incremento prodigioso

A população “branca”, que ascenderia a 150 mil, composta maioritariamente por citadinos de pais europeus e mães indígenas, falava principalmente o Nheengat como língua materna. Para avaliar a importância da actividade mineira basta que tenham sido produzidos cerca de mil toneladas de ouro e 3 milhões de quilates de diamantes, cujo valor total corresponde a 200 milhões de libras. Havia milhões de almas vestidas de corpos mortais e doloridos definhando aqui nestas Minas.

O resultado fundamental dos três séculos de colonização e dos sucessivos projetos para tornar o Brasil economicamente viável foi a constituição desta população – de 5 milhões.

Tabela I Brasil 1500-1800
Tabela I Brasil 1500-1800

Estoque negro

A coroa permitia que cada fazendeiro importasse até 120 “peças”, mas seu direito de comprar negros trazidos para o mercado de escravos nunca foi restringido. As estimativas iniciais sobre o número de negros introduzidos no Brasil durante os três séculos de tráfico de pessoas variam muito. Com base no número total de escravos geralmente registrado em fontes primárias para cada século, Buescu aplica a taxa de reposição que considera necessária para manter o volume populacional.

Portanto, apenas estimativas vagas e algumas séries dispersas do número de negros nativos registrados podem ser contabilizadas, principalmente em Minas Gerais.

III – PROCESSO SOCIOCULTURAL

Aventura e rotina

As guerras do Brasil

O processo de formação da nação brasileira, que se deu através do confronto de seus contingentes indígenas, negros e brancos, foi, portanto, altamente conflituoso. A situação muda completamente quando entra neste conflito um novo tipo de concorrente, de caráter incompatível, que é o dominador europeu e os novos grupos humanos que ele traz consigo, avassaladores e configurando-se como uma macroetnia expansionista. Este conflito, claro, não se realiza como um debate em que cada parte apresenta os seus argumentos.

Sempre que um contingente etnicamente estranho, dentro deste território, deseja manter o seu próprio modo de vida tradicional, ou criar para si um género de existência autónomo, irrompe um conflito sangrento.

Imagem

Tabela I Brasil 1500-1800

Referências

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