XXXI Congresso de Iniciação Científica
Influência do estresse oxidativo na suscetibilidade de biofilmes de Streptococcus mutans à clorexidina.
Júlia Biliato Javaroni, Elisa Maria Aparecida Giro, Raquel Souza Marques. Campus de Araraquara, Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP. Curso de Odontologia. Email:
JuliaBiliato@hotmail.com, Bolsa PIBIC-Reitoria.
Palavras Chave: estresse oxidativo, clorexidina, Streptococcus mutans.
Introdução
O peróxido de hidrogênio (H2O2) é uma fonte importante de espécies reativas de oxigênio responsáveis por estresse oxidativo e danos no biofilme dental1,2. A sua natureza tóxica aguda levanta a interessante questão de como os estreptococos lidam com o H2O2 produzido intrinsecamente, e que subsequentemente se acumula no microambiente do biofilme. Assim, torna-se importante avaliar o comportamento de S.
mutans tolerantes ao estresse oxidativo com H2O2
frente a ação da clorexidina.
Objetivo
Gerar uma cepa de S. mutans tolerante ao H2O2, e avaliar a suscetibilidade de biofilmes formados com esta cepa à clorexidina.
Material e Métodos
Para gerar a cepa tolerante, a cepa de S. mutans UA159 foi submetida a tratamento com H2O2. Para o crescimento do biofilme, lamínulas de vidro (n=24 por grupo), foram imersas verticalmente em caldo BHI com 1% de sacarose inoculado com 106 UFC/mL da cepa UA159 (grupo controle GC), da cepa tolerante sem adicionar H2O2 no meio (grupo GT) ou da cepa tolerante com 80 mM de H2O2 no meio (grupo GT+H2O2). As placas foram incubadas a 37°C com 5% de CO2 por 5 dias. Em seguida, metade das amostras (n=12) de cada grupo foram tratadas com diacetato de clorexidina 0,2% por 5 minutos. Os biofilmes foram dispersos em solução salina 0,9%, foi feita a diluição seriada e o cultivo em BHI ágar. As placas foram incubadas a 37 oC em 5% CO2 por 48 h. A contagem das Unidades Formadoras de Colônias (UFC) foi realizada e os resultados expressos em log (UFC+1/mL). Os experimentos foram realizados em triplicata, e em quatro ocasiões. Após a verificação da normalidade dos dados e da homogeneidade de variâncias, foi aplicada a análise de variância complementada pelo pós-teste de Games-Howel (α=0,05).
Resultados e Discussão
Os grupos GT+H2O2 e GT+H2O2+CLX não foram incluídos na análise estatística por não ter ocorrido crescimento de micro-organismos. Esse resultado
está de acordo com De Furio et al.3 que demonstraram comprometimento da membrana e morte celular quando altas concentrações de H2O2
foram utilizadas. Para os outros grupos do estudo, a análise de variância mostrou diferença significativa (p≤0,001), e a comparação dos grupos entre si está apresentada na Tabela 1.
Tabela 1. Quantificação de S. mutans em biofilmes de cinco dias.
Grupo Log 10 de S. mutans (UFC+1)
GC 8,05 (0,45)a
GC+CLX 6,98 (0,96)b
GT 8,12 (0,48)a
GT+CLX 6,87 (0,89)b
Valores correspondem a média e desvio-padrão (n=12)
GC= Grupo controle; GT= Grupo de S. mutans tolerante ao peróxido de hidrogênio; CLX= clorexidina. Letras diferentes indicam diferença estatisticamente significativa (pós-teste de Games-Howell; p≤0,015).
Os resultados deste trabalho corroboram com Zenaro4. Apesar de não ter encontrado diferença na contagem de micro-organismos entre os grupos GC e GT, a autora verificou, que o grupo GT mostrou produção de ácido lático e de polissacarídeos extracelulares insolúveis em água significativamente menores. Isso pode ser indicativo de alterações na sua estrutura tornando-o menos cariogênico. A resposta ao estresse oxidativo pode ter um papel importante na tolerância de biofilmes de S. mutans a antimicrobianos5, contudo, no presente trabalho não foi observada diferença entre os grupos com relação a suscetibilidade a clorexidina.
Conclusões
A cepa de S. mutans tolerante ao H2O2, na ausência de peróxido de hidrogênio no meio, apresentou capacidade de formação de biofilme e suscetibilidade a CLX semelhantes a cepa controle.
Agradecimentos
À Pró Reitoria de Pesquisa da UNESP pela concessão da Bolsa de Iniciação Científica.
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1. Baldeck, D.J.; Marquis, E.R. J Microbiol. 2008, 54: 868-75.
2. Zhu, L.; Kreth, J. Oxidative Med Cell Longev. 2012, 2012:717843.
3. de Furio, M.; Ahn,S.J.; Burne, R.A.; Hagen, S.J. Appl Environ Microbiol.2017, 83:e01345-17.
4. Zenaro, P.P. Disssertação. Araraquara: Faculdade de Odontologia da UNESP; 2018.
5. Nilsson, M.; Jakobsen, T.H.; Givskov, M.; Twetman, S.; Tolker- Nielsen, T. Microbiol. 2019,165:334-42