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Academic year: 2023

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CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

OBSERVATÓRIO DA INCLUSÃO E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO – DIVERSIFICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM INCLUSÃO E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO

MARCELO ALVES PINTO

UM OLHAR DECOLONIAL PARA O ENSINO DE LITERATURA

SANTO ANTÔNIO DE JESUS 2020

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UM OLHAR DECOLONIAL PARA O ENSINO DE LITERATURA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Especialização em Inclusão e Diversidade na Educação, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, como requisito para obtenção do grau de Especialista em Inclusão e Diversidade na Educação.

Orientador/Orientadora: Prof.ª(a). Andréia Silva de Araújo

SANTO ANTÔNIO DE JESUS 2020

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UM OLHAR DECOLONIAL PARA O ENSINO DE LITERATURA

Santo Antônio de Jesus – Ba, aprovada em 10/07/2020

Banca Examinadora

___________________________________

Prof. Me. Andréia Silva de Araújo - orientadora

___________________________________________

Prof. Dra. Ticiana Osvald Ramos – Examinador

____________________________________________

Prof. Me. Selma Maria Batista de Oliveira - Examinador 2

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INTRODUÇÃO ... 4

O PENSAMENTO DECOLONIAL E O GRUPO MODERNIDADE/

COLONIALIDADE ... 6

O ENSINO DE LITERATURA AFRO-BRASILEIRA NUMA PROPOSTA

DECOLONIAL ... 11

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 19

REFERÊNCIAS ... 22

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ALVES PINTO, Marcelo. Um olhar decolonial para o ensino de literatura. 22 páginas, 2020.

Trabalho de Conclusão do Curso em Inclusão e Diversidade na Educação – Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Santo Antônio de Jesus, 2019.

UM OLHAR DECOLONIAL PARA O ENSINO DE LITERATURA

Marcelo Alves Pinto1

INTRODUÇÃO

Neste trabalho nos propusemos a investigar os conceitos teóricos produzidos pelo grupo Modernidade/Colonialidade e como eles nos auxiliam a interpretar a nossa realidade afim de que possamos construir uma história outra.

O grupo Modernidade/Colonialidade tem como objetivo analisar a realidade dos povos que foram colonizados através de um novo olhar, defendendo uma nova epistemologia, isto é, uma nova forma de investigar a realidade sem uma dependência metodologia eurocêntrica, por isso tem como suporte pensadores de outras origens em especial intelectuais da América Latina.

Alguns nomes que mais se destacam são Walter Mignolo, Catherine Walsh, Anibal Quijano e Dussel, dentre outros. Correspondendo a um grupo transdisciplinar que analisa a situação colonial da América Latina em diferentes áreas.

Para a compreensão da situação de desigualdade vivenciada pelo negro no Brasil, recorremos a Abdias do Nascimento (2016) que vê as políticas promovidas a nível de estado como arma estratégica para o genocídio da população negra tanto física quanto cultural. O autor aborda as diferentes formas elaboradas através das políticas de estado com esta finalidade e implicações no dia a dia.

Igualmente importante para esta discussão é Kabengele Munanga (2008), antropólogo que investiga a mestiçagem no pensamento brasileiro, criada como categoria para a promoção de uma identidade brasileira, mas que acaba por alienar os negros de sua realidade racial, criando uma condição de inferioridade da identidade negra. Para este autor a mestiçagem faz

1 Graduado em letras pela Universidade do Estado da Bahia — UNEB e pós-graduando no curso de especialização em Inclusão e diversidade na educação ofertado pela Núcleo Diversifica da Universidade Federal do Recôncavo Baiano — UFRB E-mail marceloallves18@gmail.com

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com que os negros fujam da sua identidade real abdicando da reivindicação de ações sociais para a população negra, por não se sentirem pertencentes.

Este autor traz o conceito de passing, que é a transição que os afro-brasileiros podem mudar sua identidade, uma vez que o critério adotados no Brasil difere dos Norte-americanos que adotam a regra da pureza racial.

A categoria parda oferece um ponto de fuga para uma identidade superior, uma vez que ser negro é considerado como algo negativo a luz das teorias que via somente no eurocentrismo um padrão culturalmente aceito de superioridade racial.

O racismo elaborado para demarcar os locais sociais dos povos contribuíram para uma intensa situação de desigualdade social. A construção de uma epistemologia eurocêntrica desconsiderou todas as formas de ser, saber e poder aos povos colonizados.

Em consonância com as leis 10.693/03 e 11.646/08 que tratam sobre a inclusão do estudo de cultura afro-brasileira e indígenas nos currículos escolares vemos a oportunidade da construção de uma prática pedagógica decolonial no ensino de literatura através da interculturalidade crítica.

O conceito de interculturalidade crítica é formulado por Walsh apud Oliveira &

Candau (2010), como uma forma de inclusão de novos saberes e culturas nas escolas, saberes estes que foram desconsiderados no processo de colonização dos povos empreendida pelo eurocentrismo, aceito como único modelo cultural aceito.

A inclusão de diferentes culturas precisa ser feita de forma crítica, não somente um amontoado de culturas inclusa no currículo, de forma acrítica o que só acarretaria na propagação do estereótipo.

A interculturalidade crítica busca questionar a relação de desigualdade aos povos subalternos atuando na promoção de uma educação que tem como objetivo combater as desigualdades e todos as formas de discriminação.

O papel da literatura neste cenário aprece com o estudo e divulgação da Literatura afro-brasileira como espaço para análise reflexão em sala de aula, uma vez que esta arte difere de representações cristalizadas sobre o negro na literatura canônica na qual se observa diversas formas de estereótipos excludentes, como podem ser vistos em Proença Filho (2010).

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A Literatura Afro-brasileira ressignifica a cultura negra por trazer sobre este uma valorização positiva, mostrando uma literatura sem marcas de estereótipos, narrando as lutas do povo negros e denunciando o racismo existente, contribuindo assim para uma arte na qual os alunos sintam-se representados.

O PENSAMENTO DECOLONIAL E O GRUPO MODERNIDADE/

COLONIALIDADE

Discutir as relações raciais no Brasil obriga-nos a ir além do nosso passado colonial, e nos levar a uma reflexão das estratégias utilizadas pela Europa na demarcação dos locais sociais para o outro como forma de legitimar a inferioridade dos povos não europeus e justificar a dominação dos mesmos.

Assim, analisar nossa realidade recai na compreensão do nosso passado como colônia e na compreensão dos efeitos causado com a história da modernidade europeia construída como parâmetro de civilização universal, que para Mignolo (2017) pensar a modernidade europeia significa compreender os efeitos nefasto da colonialidade, pois a noção de uma história europeia que chegaria ao status de moderna a levaria a viajar em busca do novo mundo, colonizando povos considerados sem culturas. Na contemporaneidade os efeitos desta modernidade que além da colonização política promoveu um fetichismo cultural dos padrões de vida europeu, atuando uma negação das identidades outras, junto como formas de saberes e pensares.

Diversos estudos pós-modernos e pós-coloniais foram realizados a fim de investigar a situação de povos que por serem colonizados foram subalternizados, no entanto um grupo de estudantes questionava tais teorias por verem a mesma como importações de formas de pensar eurocêntricas o que ocasionava uma dependência epistemológica na compreensão e análise da realidade. Assim na década de 90 forma-se o grupo de estudo Modernidade/Colonialidade preocupados em investigar a situação de inferioridade econômica da américa latina, pois [...] a especificidade do debate latino-americano só pode ser apreciada a contra luz do que tem sido feito em outros lugares sob essa legenda (MOTA NETO, p71 2015).

O grupo tem como principais nomes Walter Mignolo, Catherine Walsh, Aníbal Quijano e Dussel. Estes autores promovem uma desobediência epistêmica ao analisar os

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efeitos do colonialismo na América Latina. Este movimento não tem um líder e realizam diversas conferências em universidade visando divulgar as ideias do movimento.

A colonização de povos empreendido desde o século XVI pela Europa resultou aos povos dominados a assimilação da cultura dos colonizadores, no entanto esse intercurso cultural nunca foi feito de maneira pacífica, a escravização e colonização funcionou de forma violenta através da diáspora negra, escravização de povos autóctones e imposição dos padrões culturais europeus.

Esta relação de dominação entre povos europeus ao redor do mundo e em especial Ásia e América resultou numa relação de hierarquia dos colonizadores e inferioridade dos colonizados como consequência atuou na imposição de padrões culturais que permeia aos povos dominados até os dias atuais. A assimilação destes padrões dá-se o nome de eurocentrismo.

O eurocentrismo atuou destruído a cultura dos povos colonizados, assumindo a cultura europeia como único padrão aceitável de pensar, negado todas as formas de saber dos povos colonizados. Assim Mingolo (2017) entende que há uma relação entre a modernidade e a colonialidade:

Ou seja, modernidade e colonialidade são as duas faces da mesma moeda. Graças à colonialidade, a Europa pode produzir as ciências humanas como modelo único, universal e objetivo na produção de conhecimentos, além de deserdar todas as epistemologias da periferia do ocidente; (OLIVEIRA & CANDAU, p17 2010).

O conceito de decolonialidade advém da percepção que o nosso processo de descolonização encontra-se inacabado. Ainda que a colonização como prática política tenha acabado os resquícios da prática colonial permanece aos povos colonizados através da subalternidade dos povos recebendo o nome de colonialidade.

Desta forma este conceito pode ser entendido como uma forma de sobrevivência dos povos colonizados mediante a preservação de sua cultura e a busca por direitos que são negados, levando-se em consideração o lugar da subalternidade ocupado por negros, indígenas e povos que experimentaram a colonização como é o caso da América Latina. A decolonialidade objetiva rasgar a escrita da história contada pelo outro e dar aos povos subalternizados a autonomia para narrar sua história

Propomos que o conceito de decolonialidade seja entendido, a despeito de sua diversidade, como um questionamento radical e uma busca de superação das mais distintas formas de opressão perpetradas pela modernidade/colonialidade contra as

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classes e os grupos sociais subalternos, sobretudo das regiões colonizadas e neocolonizadas pelas metrópoles euro-norte-americanas, nos planos do existir humano, das relações sociais e econômicas, do pensamento e da educação. (MOTA NETO, p46, 2015).

Mota Neto (2015) esclarece que segundo Walsh O conceito téorico da decolonialidade passa a ser usado pelo grupo Moderindade/colonialidade em 2004, porém seu conceito é ainda mais antigo e já era usado desde a década de 90 por feministas chicanas e na década de 60 Fanon já havia pensando esta descolonização em termos similares. Mignolo entende que a luta decolonial já existia muito antes da formulação deste conceito, desde os indígenas do século XVI na empreendida de formas de resistência decolonial.

Ressaltamos aqui, que o grupo modernidade/colonialidade funciona como uma escola de pensamento, no qual não há um líder ou uma sede, e transcende barreiras geográficas, tendo como interesse a discussão acerca de criar uma perspectiva outra para pensar na constituição dos povos para além da demarcação étnica racial proposta para Europa, logo este grupo atuou na divulgação deste conceito no mundo acadêmico promovendo-o como forma de análise da realidade.

Esses autores e em especial Mingolo apresenta diversas críticas na forma de pensar os sabres dos povos colonizados através de autores pós-modernos, pois para ele estes autores ainda que trouxessem contribuição para pensar a situação colonial ainda não tinham rompido com a epistemologia teórica eurocêntrica para repensar a realidade da América Latina.

A CONDIÇÃO SOCIAL DOS NEGROS NO BRASIL

A história do negro e seus descendentes no Brasil sempre foi marcada pela exclusão e negação dos seus direitos, através de uma política de estado que buscou leva-los ao desaparecimento físico e cultural.

A negação da existência negra no Brasil acontece desde o início da história colonial, quando transplantados do território africano para o trabalho escravo o primeiro passo era negar a humanidade dos povos não europeu o que consequentemente justificaria a sua dominação.

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Em terras brasileiras as estratégias para mobilizar forças de resistência eram inumares começando com a separação de escravizados de forma que membros da mesma etnia não ficassem juntos coibindo qualquer forma de organização.

Tais práticas que aconteciam no passado, e modificadas na contemporaneidade, colocam os sujeitos afro-brasileiro em uma situação de negação dos seus direitos, Nascimento (2016) considera as estratégias políticas promovidas pelas elites como genocídio, manifestando-se através da violência física e simbólica. Conceito bastante difundido no seu livro O Genocídio nego no Brasil.

A palavra genocídio em seu significado diz respeito a uma prática de extermínio de um grupo étnico, sendo sua eliminação física, o extermínio de sua língua, cultura, política e organização social. Nascimento informa-nos que a princípio esta palavra que parece soar forte é o que acontece deliberadamente no nosso dia a dia. Pois nós vivemos o que o autor intitula como processo de um racismo mascarado.

O Brasil nega a história do seu passado escravocrata e fundamenta-se em mitos para não assumir o nosso passado segregacionista e as implicações do racismo no dia a dia, como afirmar sobre a benevolência do senhor de escravizados ou que na história da diáspora negra grupos rivais africanos entregavam seus companheiros, como se isso eximisse os colonizadores de suas responsabilidades e de alguma forma, fosse uma justificativa para o lugar social que o negro ocupa hoje torando válida a isenção da promoção de políticas públicas.

Munanga (2008) em Rediscutindo a mestiçagem no Brasil, nos apresenta uma pesquisa na qual os entrevistados respondiam as perguntas, se você se considerava racista e se conhecia alguém racista. A maioria dos entrevistados diziam não ser racistas, mas conhecer alguém racista. O que demonstra a cordialidade do racismo a brasileira. Por ser algo se apresenta estrutural em nossa sociedade, as pessoas desconhecem em suas ações atitudes discriminatórias e não são levadas a refletirem que o racismo não garante oportunidades iguais para ascensão social de pessoas negras.

O que vem contribuir em muito com a manutenção das desigualdades sociais no Brasil é o mito da Democracia racial que a muito tempo descontruído, permeia o imaginário de grande parte dos brasileiro e aliena o negro para a não mobilização em busca dos seus direitos sociais.

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Ao trazer a ideia da convivência pacífica entre as diferentes raças no Brasil esse mito deslegitima a lutas antirracista no plano individual e coletivo através da mobilização dos indivíduos e no domínio das políticas públicas, uma vez que ao se acreditar na democracia no acesso a saúde, educação e trabalho comum a todos os povos qual seria a necessidade de lutar pela promoção de políticas raciais antidiscriminatórias.

A mestiçagem no pensamento da intelectualidade brasileira é o que melhor justifica o delineamento de uma falsa convivência pacífica, e para os intelectuais do século XIX, seria o símbolo de uma verdadeira identidade brasileira. Porém como considerar pacífico a convivência entre as raças uma vez que a mestiçagem é o produto do estupro das mulheres africanas, e a mestiçagem só aprece como positiva quando atenuava traços negroides em prol de um embranquecimento que se queria físico e cultural.

O pós-abolição não incorporou os negros no mercado de trabalho, jogou-os a própria sorte e eximiu dos seus senhores a responsabilidade do cuidado, sendo que muitos deles em idade já eram considerados impróprio para o trabalho.

E é neste momento que estimula a vinda massiva de europeus para o Brasil como forma de embranquecer o país e começa-se a considerar o negro impróprio para o trabalho assalariado justificando assim a vinda dos europeus. A possibilidade de mobilidade social dos negros é dificultada quando não conseguem um emprego, na década de 50 as vagas de emprego especificavam não aceitar gente de cor como nos exemplifica Nascimento (2016).

Sem ter condições mínimas de sobrevivência muitos deles aglomeraram-se em morros, com condições precárias.

Processos inúmeros visam a negação a existência negra como o cerceamento do exercício de usa fé, como hoje vemos nos noticiários terreiros de candombe sendo incendiado, Nascimento (2016) nos mostra que na década de 70, somente aos templos religiosos de matrizes africana era necessário a obrigatoriedade de possuírem registros na polícia.

O colonialismo atua negando a existência do outro promovendo discursos que se manifestam nos povos colonizados dando-lhes a sensação de inferioridade e a única forma de torna-se superior seria adentrar na identidade do outro.

No Brasil isso é possível, como aponta Munanga (2008) pois o brasileiro consegue fugir da sua identidade racial, pois aqui adota-se o racismo de marca, na qual os traços fenótipos são decisivos para a classificação racial, diferente de países como os Estados

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Unidos, que adotava a pureza racial, bastando apenas ter um descendente negro para sê-lo completamente.

Além dos órgãos de poder — O governo, as lei, o capital, as forças armadas, a polícia — as classes dominantes brancas têm a sua disposição poderosos implementos de controle social e cultural de massas — a imprensa, o rádio, a televisão — a produção literária; Todos esses instrumentos estão a serviço dos interesses das classes no poder e são usados para destruir o negro como pessoa e como criador e condutor da própria cultura. (NASCIMENTO, 2016 p112).

Por isso os sujeitos afro-brasileiro desejam realizar o passing, isto é transitar a uma identidade que considera superior. A miscigenação oferece ao afro-brasileiro a oportunidade de adentrar em uma identidade que parece superior. Sendo a mestiçagem mais uma estratégia política para a desvinculação da sua cultura indo para um entrelugar na categoria de pardo.

A mestiçagem oferece aos negros a possibilidade de fuga para uma identidade cujos estereótipos colonialistas coloca como superior, a miscigenação é a maior arma política para alienar os negros, a fazendo-os negarem suas identidades e consequentemente a abdicação da sua cultura.

Qualquer política de ações afirmativas, necessita antes de tudo descolonizar a mentes dos negros, despertando-os para uma consciência crítica que acarretaria no resgate da identidade.

O ENSINO DE LITERATURA AFRO-BRASILEIRA NUMA PROPOSTA DECOLONIAL

Através da leitura literária temos acesso a inúmeras discussões tanto política como humanística, sendo esta uma arte complexa ela vai além do entretenimento do leitor e alça o status de cânone2 por seu inestimado valor e torna-se universal por isso é dever da escola propiciar aos alunos estar em contanto com este tipo de arte.

Pensar o papel da literatura no cenário educacional nos impulsiona a ir mais além, ao abordar a temática da discriminação racial e valorização da cultura negra através de uma literatura que se considera afro-brasileira.

2 Em decorrência da brevidade da vida humana e a imensa produção de livros o cânone literário como pode ser lido em Reis (1992) aparece como uma seleção de livros cujo valor artístico sobressaem aos demais, sendo escolhidos por críticos literários que legitimam obras e autores que serão eternizadas diferenciando a Literatura da literatura.

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Ao abordar a literatura afro-brasileira precisamos delimitar o seu espaço, uma vez que alguns críticos literários afirmariam a literatura não ter cor. Em Cânon, Reis (1992) afirma que no processo de sacralização de uma literatura não somente o caráter político da obra determina sua canonização, contudo no escopo da Literatura Brasileira de tradição canônica a escolha de obras que figuram o cânone literário em detrimento de outros é sim escolhido levando-se em consideração questões políticas e sobretudo raciais.

Na configuração do cânone literário há uma ideologia na sacralização de obras e autores cujo pertencimento cultural volta-se para práticas eurocêntricas, atuando diretamente na forma como os sujeitos negros e afrodescendentes aprecem nas obras produzidas por esses autores em que se promoverem apenas os negros no olhar do outro, neste caso o homem branco.

A literatura afro-brasileira surge para demarcar um lugar enunciativo de denúncia do racismo existente com a produção literária de autores de cor que não figuram os espaços de poder e garantir-lhes o direito a auto apresentação na literatura, para que de objetos tornem-se sujeitos e construa uma obra sem as marcas de estereótipos excludentes.

O termo Literatura afro-brasileira sana ainda uma problemática apresentada por Duarte (2010) no que viria a ser considerado como Literatura Negra. Defendida por Proença Filho (2004) como a escrita de uma literatura cujo autores assumem-se identitariamente como negro e em lato sensu uma literatura que tematiza sobre o negro.

Na assimilação da Literatura Negra teríamos que lidar com duas realidades, numa um espaço no qual o negro aparece como um sujeito engajado convivendo com outro espaço no qual o negro é abordado de forma estereotipada. Como exemplo o poema modernista de Jorge Lima, Nega Fulô!

Essa Nega Fulô

[...]

O Sinhô foi ver a negra levar couro do feitor.

A negra tirou a roupa, O Sinhô disse: Fulô!

(A vista se escureceu que nem a negra Fulô) [...]

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(LIMA, Jorge)

Em outra realidade, uma literatura engajada que substitui o negro em posição estereotipada e passiva num sujeito crítico e atuante.

Outra Nega Fulô O sinhô foi açoitar a outra nega Fulô

– ou será que era a mesma?

A nega tirou a saia, a blusa e se pelou.

O sinhô ficou tarado, largou o relho e se engraçou.

A nega em vez de deitar pegou um pau e sampou nas guampas do sinhô.

[...]

(SILVEIRA, Oliveira, 1998)

Os dois poemas apresentam diferentes representações para a mulher negra, no primeiro há uma passividade do sujeito, além de uma representação erotizada, que seduz o seu algoz, imagem muito difundida na Literatura Brasileira. No segundo, a personagem resiste ao abuso, Silveira ainda nos deixa um questionamento, seria a mesma Nega Fulô? Que contrariando a historiografia da passividade da mulher negra no processo da miscigenação, ela lutou das formas que pôde contra todas as formas abuso.

Duarte (2010) nos afirma que a Literatura afro-brasileira não só existe como se faz presente nos tempos e espaços históricos de nossa constituição enquanto povo; não só existe como é múltipla e diversa.

As leis 10.693/10 e 11.645/08 que versam sobre a obrigatoriedade da inclusão da história da cultura afro-brasileira e indígena são marcos essenciais para a construção de uma educação antirracista e antidiscriminatória uma vez que visa romper com a epistemologia eurocêntrica que opera nos currículos escolares.

A abordagem decolonial é fundamental para analisarmos nossa realidade, os conceitos formulados pelos autores decoloniais sobre colonialidade do ser, saber e poder são essências para nós enxergamos através de uma ótica não eurocêntrica rompendo com a colonialidade do ser que nega a existência de todos nós, povos não europeus.

Quijano (2005) nos diz que a colonialdiade do poder opera na construção da subjetividade dos povos e foi neste contexto que nasceu o conceito de raça, categorizando hierarquicamente os povos. A colonialidade do saber atua negando qualquer forma de conhecimento não eurocêntrica. Ela aparece como produto do colonialismo, atuando no

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imaginário de povos não europeus, que adotam para si a noção de inferioridade, de forma que estes povos anseiam por tornar-se europeu.

Segundo Oliveira & Candau(2010) as estruturas subjetivas, os imaginários e a colonização epistemológica ainda estão fortemente presentes. Uma vez que que a negação na existência de povos outros discrimina suas práticas culturais considerando-os como incivilizados, sendo o status de civilização um conceito único europeu.

No tocante as questões raciais tornar-se o outro é tornar-se branco uma vez que não o ser é visto como negativo. O embranquecimento no Brasil é formulado pelo próprio projeto político da construção da nossa identidade elaborada pelos intelectuais durante o século XIX que representaria na miscigenação a nossa transição para uma cultura superior.

A decolonialidade da educação objetiva produzir um novo giro epistemológico promovendo novas formas críticas de análise da realidade abordando novas teorias e novos prensadores, sobretudo uma corrente intelectual produzida na América latina.

Walsh (2019) defende um posicionamento educacional a partir do pensamento-outro que busca ressignificar a existência de povos não europeus garantindo-lhes o direito à vida que foi negado através da desumanização como fizeram com os indígenas e afrodescendentes transplantados na América latina.

A inclusão do ensino de história da cultura afro e indígenas representa a nossa opção descolonial, garantindo a estes povos, através de uma educação crítica a construção de uma nova história a partir das narrativas dos colonizados. Uma vem que na historiografia eurocêntrica estes povos foram representados como bárbaros, cuja existência estava ligada a animalidade desconsiderado todas as suas formas de sabres e cultura.

A interculturalidade segundo Walsh (2019), na educação como postura decolonial não recai meramente na inclusão de novos temas ao currículo, uma vez que o objetivo e a promoção de novos conhecimentos que resultam em um giro epistêmico, assim conhecimentos subalternizados e ocidentais aparecem de forma igualitária.

Muitas vezes a interculturalidade é entendida como a promoção do contato e convívio de diferentes culturas. Walsh (2019) analisa esse conceito sobre outra perspectiva a autora investiga a interculturalidade como pensamento crítico, um conceito desenvolvidos por grupos indígenas equatoriais e povos andinos, sobretudo pelos povos do Equador.

A interculturalidade para esses povos aparece como pensamento outro, construído a partir da diferença colonial, oferecendo uma nova forma de pensar os conhecimentos de povos não europeus. É uma corrente produzida dentro dos movimentos sociais indígenas fora

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da academia e só posteriormente incorporada ao discurso acadêmico, desta forma é uma epistemologia que é produzida na América Latina oferecendo uma nova condição para analisar a realidade de povos não europeus sem dependência da epistemologia de sabres eurocêntrico.

Walsh (2019) aponta que a Interculturalidade em sua formação foi mais significativa no Equador que em outros países da América Latina, pois neste país a CONAIE – Confederação de nacionalidade indígenas do Equador preconiza a Interculturalidade como projeto político ideológico que busca questionar os efeitos do neocolonialismo, a estrutura do Estado, o porquê de grupos indígenas estarem subalternos.

Enquanto projeto político a interculturalidade nesse movimento não busca o contato cultural ou apenas participação no governo, e sim garantir que estes povos estejam nos espaços de forma digna, que participem de políticas de promoção de igualdade rasurado os locais subalternos que povos não europeus experimentam em países que sofrem os efeitos da colonialidade.

Um conceito boliviano que é incorporado a este movimento é o de plurinacionalidade ou estado plurinacional, que tem como objetivo a construção de um estado que consiga resolver os problemas acarretados pelo colonialismo como pobreza, analfabetismo dentre outros. A plurinacionalidade enxerga os povos como todos dotados de história logo a construção de uma uninacionalidade e resulta no apagamento de outros culturalmente e no âmbito de participação plena na sociedade.

Ao se falar interculturalidade não se fala de promover o contato do ocidente com o oriente, mas uma nova forma de interpretar o conhecimento através de uma nova ótica seja ela indígena ou de povos não eurocêntricos. Em Walsh (2019), a autora nos informa que para Mignolo isto pode ser lido como uma nova cosmologia do conhecimento, pois é um construto teórico que não tem dependência epistemológica eurocêntrica por isso promove um contra discurso, uma contra hegemonia.

Outro exemplo que Walsh nos dá de como a interculturalidade é aplicada é a criação da UIN-PI, Universidade intercultural das nacionalidades e dos povos indígenas, também conhecida como Amawtay wasi — ou casa do conhecimento —. O objetivo dessa universidade é produzir conhecimentos que analisa a realidade dos povos a partir de uma nova

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perspectiva, no entanto não deve ser visto como a construção de uma ciência que nega a outra, nem um conhecimento que é superior a outro, ou a ainda a separação das ciências.

O objetivo como nos traz Walsh é propor uma ciência que é intercultural, que interdialogam, mas estão em sempre em tensão, que em suas palavraras

O objetivo não é a mescla ou a hibridização das formas de conhecimento, nem uma forma de invenção do melhor dos dois mundos possíveis. Pelo contrário, representa a construção de um novo espaço epistemológico que incorpora e negocia os conhecimentos indígenas e ocidentais (e tanto suas bases teóricas quanto as experimentais), mantendo consistentemente como fundamental a colonialidade do poder e a diferença colonial da qual vêm sendo sujeitos. Surge aqui a possibilidade de falar em uma "inter-epistemologia" como uma possível forma de se referir a esse campo relacional. (WALSH, p.17-18 2019)

A interculturalidade aparece como política de pensamento cultural de oposição e não a inclusão de pensadores não eurocêntricos, ou adição de conhecimento não eurocêntricos ao currículo, e sim tendo como objetivo a promoção de alternativas para confortar o poder ao analisar a estrutura social com um aporte teórico que não tem dependências epistemológicas eurocêntricas.

O multiculturalismo tem sido utilizado como sinônimo de interculturalidade, ou mesmo a interculturalidade tem sido usada por outros países com uma conotações diferentes da que tem para povos equatoriais e andinos e a consequência disso é que há uma monopolização de um conhecimento e a interculturalidade acaba dando suporte a projetos neoliberais que não tem interesse em promover uma geopolítica do conhecimento obscurecendo o conceito e silenciando a luta de povos subalternos que tem na interculturalidade uma ferramenta de descolonização.

A compreensão da interculturalidade como multiculturalismo traz consequências negativas sobretudo para a educação, na produção e cursos, materiais didáticos, pois o produto disso muitas vezes resulta na inclusão de diferentes culturas no currículo, mas o faz de forma que não questiona os efeitos do colonialismo e não contribui para a construção de uma sociedade plurinacional, muitas vezes vulgarizam uma cultura e estereotipa os povos, não contribuindo para a construção de uma narrativa feita pelos povos colonizados, porque a visão dos povos é ainda é construída pela cosmologia eurocêntrica.

A interculturalidade como é concebia por Walsh (2019), representa um pensamento fronteiriço, a parir dos conhecimentos subalternos é produzido um novo conhecimento para

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pensar a realidade de povos colonizados corroborando para uma postura decolonial exercida pelos os movimentos indígenas, mas nos auxilia a promover práticas educacionais que rompam com o colonialismo a todos povos que vivencia os efeitos do racismo epistêmico num país tão diverso como o Brasil.

Walsh (2019) defende uma interculturalidade crítica, esta ultrapassa a interculturalidade funcional que já acontece em muitos países, porém sem uma postura não crítica e composta pela mera inclusão da diversidade cultural, e muitas das vezes acaba propagando estereótipos do que combatendo.

A interculturalidade crítica questiona a base do poder buscando intervir diretamente nas formas de exploração, dominação e combate às desigualdades entendendo que a história da Modernidade/Colonialidade europeia todos as formas de saberes e culturas foram menosprezadas não importando quão grandes fossem.

O espaço que a interculturalidade aparece na sala de aula vem como instrumento educativo de respeitos às diferenças, o direito a igualdade e respeitos as culturas, sobretudo as indígenas e africanas.

A literatura afro-brasileira aparece para rasgar as representações consagradas pelo discurso colonial na literatura tradicional mostrando uma literatura em que a cultura afro- brasileira é apresentada, o racismo é denunciado e o negro é apresentado de forma não estereotipada tendo elementos de sua cultura valorizado apresentando uma visão positiva auxiliando na identificação dos sujeitos.

A escola é um espaço que naturalmente apresenta-se diversificado contudo isto não significa que esta diversidade seja efetivamente acolhida e respeitada, uma vez que todas as instruções escolares são voltadas a uma visão eurocêntrica desde a formação do seu currículo colocando grupos divergentes do eurocentrismo como inexistente das práticas educacionais ou se aparecem estão estigmatizados.

Tudo isso corrobora para que o espaço escolar seja um ambiente que ao invés de combater as diferentes formas de discriminação acabe nutrindo neste espaço com ferramentas para a propagação de estereótipos que já estão cristalizados.

É necessário que a escola adote o combate as formas de discriminação racial como parte integrante do seu projeto pedagógico, suscitamos que munida das melhores intenções muitas escolas adotam a bandeira da diversidade racial, porém muitas vezes não é e feito de

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forma efetiva, pois ainda se tem uma dependência epistemológica dos sabres eurocêntricos sobretudo na escolha de obras lidas.

A história brasileira contada sobre os índios e povos africanos sempre foi contada pelos outros, resultado em uma história única, composta por práticas discriminatória que deprecia estes povos e não propicia o conhecimento de suas histórias, tão pouco corrobora para uma educação antirracista nos moldes educacionais que a interculturalidade crítica defende.

Trazida para a discussões identitárias e afirmativas a Literatura Afro-brasileiras nos fornece um amplo arcabouço cultural para a construção de uma educação pluricultural de valorização das diferenças sobretudo as raciais, embora os temas abordados nessa literatura sejam amplo e deem conta de toda uma dimensão histórica contemplando questões como gênero além da própria valorização da cultura negra sempre, colocada como inferior.

A incorporação de temáticas raciais em sala de aula é benéfica a todos os alunos independe de sua etnicidade pois corrobora para desconstrução do racismo, ao analisar todo o processo histórico de dominação europeia que racializou e inferiorizou as populações do que no século XV estabelecia-se como Novo mundo.

Por isso não deve ficar restrita somente a um grupo racial, à população negra descontrói estigmas que estes povos tem sobre si, uma vez que sempre estiveram reféns dos discursos segregacionistas vinculados ao Estado e demais aparelhos ideológicos que reforçam nos imaginários destes povos traços negroides como negativo.

Num contexto tão adverso, duas tarefas se impõem: primeiro, a de levar ao público a literatura afro-brasileira, fazendo com que o leitor, tome contato não apenas com a diversidade dessa produção, mas também com novos modelos identitários; e, segundo, o desafio de dialogar com o horizonte de expectativas do leitor, combatendo o preconceito e inibindo a discriminação sem cair no simplismo muitas vezes maniqueísta do panfleto. (DUARTE, p.15 2010)

A inclusão das temáticas raciais muitas vezes não consegue ser efetiva pois há um despreparo docente em decorrência da carência desta temática nos cursos de formação de professores e muitas vezes esta também fica a cargo apenas dos professores de história e geografia.

As disciplinas de Língua portuguesa e Literatura também contempla um importante espaço para a promoção de uma prática pedagógica antirracista em especial nestas áreas pois

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lhes é dado um maior espaço para os estudos dos textos literários, da construção de encenações teatrais, dentre outros que são importante espaços para a promoção da reflexão.

Muitas vezes os textos trabalhados em sala de aula são de autores eurocêntricos cujos textos são recorrentes os estereótipos, o sujeito negros aparecem caricatos muitas vezes subalternizados em papeis de subserviência, a não inclusão de textos da Literatura afro- brasileira além de deixar uma lacuna no combate a discriminação racial por não propiciar aos alunos contato com textos que valorizam a etnicidade e cultura negra também reflete em uma carência para os sujeitos afrodescendentes de representações de personagens com quem possam se identificar.

A leitura da diversidade de gêneros que compõe a Literatura Afro-brasileira pode desempenhar em sala de aula importante discussões pois a arte literária não trabalha somente com as discussões sociais, é um texto com fundo emotivo por isso tem um poder maior na sensibilização dos sujeitos e deve ser inserido em todas as etapas da educação, pois quando pensando na educação infantil, época muito importante na formação dos sujeitos, quantas crianças não puderam ser príncipes e princesas em apresentações escolares.

Faz-se relevante a incorporação da Literatura afro-brasileira na escola, pois devido ao processo secular de discriminação e marginalização que a população negra é colocada a sua produção literária não consegue ocupar o mercado editorial, sua divulgação e produção muitas vezes são custeada pelos próprios autores, como a antologia literária Cadernos Negros.

Partido disso, muitos autores precisam recorrer a espaços alternativos para veiculação de suas obras, como a internet, como nos lembra Duarte grande parte dessa população não tem acesso, o que acarretaria em mais outra barreira que precisaria romper.

Resta, então, trabalhar por uma crescente inclusão digital para que se concretize nessa estratégia a saída frente às dificuldades existentes tanto no âmbito da produção editorial, quanto na rarefação de um mercado consumidor de reduzido poder aquisitivo. (DUARTE, p15, 2010)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reflexões de Munaga (2008), mostra-nos que o brasileiro foge a sua identidade racial, portanto qualquer política antirracista antes de tudo necessita conscientiza-los para a construção de uma identidade negra.

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A representações para os negros no Brasil foram elaboradas de forma negativa e propaganda em todos os dispositivos ideológico, como a literatura, a televisão, o cinema dentre outros, desta forma, para que se consigamos romper com este estigma que inferioriza a população negra é necessário a construção de uma identidade que rompa com a episteme eurocêntrica, promovendo o processo decolonial de descolonização das mentes .

A literatura afro-brasileira mostra-se importante na construção da subjetividade negra, pois ela rompe com os estereótipos difundidos sobre os negros nos espaços midiáticos, sempre negativos. Esta literatura sensibiliza-os para a compreensão da situação de inferioridade que racismo nos coloca e reforça a construção de uma identidade positiva sobre o ser negro.

Esta literatura nos apresenta as formas empenhadas pelos negros e as estratégias adotas para a resistência de sua cultura, oferece-nos ainda elementos que auxilia na construção da identidade negra ao usar elementos que antes eram utilizados como como forma de inferiorizar, passando agora como símbolos importantes na luta antirracista como acontece com o cabelo crespo.

Ferro

Primeiro o ferro marca a violência nas costas Depois o ferro alisa a vergonha nos cabelos Na verdade o que se precisa é jogar o ferro fora

e quebrar todos os elos dessa corrente

de desesperos.

(Luiz Silva – Cuti apud PROENÇA FILHO p191, 2004)

O poema apresentado acima pertence ao escritor Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, importante militante das causas raciais, mestre e doutor em letras pela UNICAMP — Universidade de Campinas. É um dos fundadores da antologia literária Cadernos Negros3 e da ONG Quilombhoje Literatura.

3 Cadernos negros é uma antologia literária que reúne produções textuais de autores afro-brasileiros, surgindo como uma forma destes autores compartilharem seus escritos uma vez que muitos encontram empecilhos à veiculação de suas produções em grandes editoras. Está em produção desde 1978 em publicação anual. Os volumes de números impares contam com poemas e os pares com contos.

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Encerramos este trabalho com este poema pois ele melhor ilustra o caráter decolonial da Literatura afro-brasileira. A palavra ferro mostra-se plurissignificativa, no primeiro momento alude para o violento processo da diáspora África empreendida pela empresa europeia utilizando o ferro como ferramenta de tortura.

No segundo momento alude para os efeitos do colonialismo e suas ferramentas de negação das subjetividades outras, fazendo com que os sujeitos anseiem pelo seu embranquecimento fisco e cultural. Ferro aqui remente aos processos de alisamentos do cabelo crespo com a finalidade de apagamentos de traços da negritude.

Ao final do poema, jogar o ferro fora é um dos processos almejado pela decolonialidade e pela a literatura afro-brasileira, significa neste momento romper com toda ótica eurocêntrica que estigmatiza os sujeitos afro-brasileiros e construir uma nova identidade em que os seus traços são valorizados.

Importante destacar também, que para as comunidades negras o cabelo crespo é um importante símbolo de identidade, pois como no Brasil traços físicos são decisivos para a classificação racial assumir a etnicidade através do cabelo é romper com processos seculares estigmatiza esse traço da etnicidade.

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REFERÊNCIAS

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Terceira margem v.14 n23 2010 Disponível em <

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Referências

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Cabe destacar que nem sempre as substâncias consideradas desejáveis são não-tóxicas, mas podem ser ingeridas mesmo assim, desde que as concentrações não ultrapassam os limites