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O mercado de trabalho no Mercosul

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Academic year: 2017

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CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊrvITCA E PESQUISA CURSO DE NIESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O MERCADO DE TRABALHO NO MERCOSUL

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA P ARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

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ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O MERCADO DE TRABALHO NO MERCOSUL

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR SILVIO REIS DE ALMEIDA MAGALHÃES

E1.~ ·-/cC~J j.<\

I"".A"...-'

APR6VADAEM

PELA COMISSÃO EXAMINADORA

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(4)
(5)

1- INTRODUÇÃO ... 03

2- AS TENTATIVAS DE INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANAS ... 06

2.1- A integração Argentina-Brasil. ... 09

2.2- Mercosul: institucionalização, mecanismos para implementação, processos de negociação ... 15

3- A GLOBALIZAÇÃO E O MERCADO DE TRABALHO ... 24

3.1- Introdução ... 24

3.2 - As alterações nas representações de interesse no final do século XX ... 3!

3.3 - Globalização e o papel do Estado ... 33

3.4 - A democratização no local de trabalho ... .36

3.5 - A reação sindical em novas bases ... 39

4- A QUESTÃO TRABALHISTA NO MERCOSUL ... .43

4.1 - Introdução ... 43

4.2 - Panorama geral da questão trabalhista no Mercosul.. ... .44

4.3 - A participação das Centrais Sindicais ... 60

5- CONCLUSÃO ... 68

6- BffiLIOGRAFIA ... 74

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Somos testemunhas do desenvolvimento de uma terceira revolução tecnológica, que impõe a todas as nações um novo patamar de inserção na economia internacional. Crescem as exigências de investimentos tecnológicos e a necessidade de mão-de-obra qualificada. Esta nova conjuntura obriga os países a encontrarem uma forma de consolidar suas participações no comércio mundial, marcado pelas forças da regionalização e pelas conjunturas que direcionam os rumos da globalização.

Dentro deste painel, que vem sendo denominado genericamente de nova ordem mundial, observamos que a regionalização aparece como uma forma não excludente de inserção, pois se apresenta como um regionalismo aberto, onde a condição de membership

de um determinado esquema de integração não inviabiliza a participação simultânea em outros gruposl e tão pouco limita o número de participantes que podem vir a se tomar componentes .

Na região latino-americana, os países do Cone Sul viram na criação de um merca-do comum a alternativa para melhorarem sua competitividade em nível internacional. Esta ampliação de mercado lhe permitiria consolidar suas eficiências produtivas por meio de economias de maior escala, visto que a implantação de um mercado comum pode propor-cionar maiores possibilidades de crescimento da demanda como um todo.

Desta forma, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai parecem ter chegado à conclu-são de que a integração regional poderia ser a alternativa para enfrentar os desafios im-postos pelo atual processo de industrialização, pois o mercado ampliado lhes possibilitaria uma complementaridade setorial, que geraria a redução dos custos de suas produções e os tomariam mais competitivos.

Assim, estes quatro países assinaram o Tratado de Assunção, em 1991, criando o Mercado Comum do Sul (Mercosul), com o objetivo de responder tanto aos

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tes políticos exógenos quanto aos endógenos, além de uma estratégia de crescimento vol-tado para fora.

o

Tratado de Assunção instituiu o Conselho de Mercado Comum (CMC), seguindo o mesmo tipo de orientação que havia marcado o Tratado Argentino-Brasileiro de 1988. O CMC deveria ser auxiliado por um órgão técnico, o que levou à criação do Grupo Merca-do Comum (GMC), a fim de que este cumprisse funções operativas. Todavia, foram e continuam sendo os Ministérios de Relações Exteriores que coordenam o funcionamento desses órgãos. São estes Ministérios os responsáveis pelas reuniões do CMC e dos traba-lhos executados pelos GMC e seus Subgrupos de Trabalho. Como se pode observar, o formato institucional do Mercosul caracteriza-se por uma dinâmica essencialmente inter-governamental, com vistas a evitar a criação de instâncias supranacionais, pelo menos até o presente momento. Este caráter intergovernamental do processo é reforçado por sua me-cânica decisória, que se dá pelo sistema de votações majoritárias e operações por consen-so.

No campo jurídico, segue-se a mesma linha de estratégia intergovernamental. O Protocolo de Brasília estabeleceu um mecanismo de solução de controvérsia, cuja vigên-cia pretende eliminar temporariamente a necessidade de um Tribunal permanente, mas que até hoje não foi aplicado. O sistema de arbitragem que foi criado deve funcionar por convocação de tribunais ad hoc, a fim de reduzir as possíveis colisões com os

ordena-mentos jurídicos de cada um dos Estados partes.

No que se refere às questões sociais, o que se pôde observar de forma geral foi que estas não representaram papel de grande relevância para os policy makers do Mercosul,

pelo menos até o momento atual, e continuam sendo preocupações de segundo plano.

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são afetados pelo grave problema de subdesenvolvimento social, com falta de formação profissional e etc, veremos o quanto se coloca urgente a necessidade de se promover a análise da questão trabalhista no contexto do Mercosul.

Neste quadro de urgência, se impõe a necessidade de dar início a uma integração social e não apenas comercialista, com destaque para o papel que desempenham e devem desenvolver as organizações sindicais dos países membros, representantes óbvios dos tra-balhadores, cuja missão supõe estarem capacitadas para se mobilizarem, de modo a ga-rantir os direitos trabalhistas neste contexto de mercado ampliado.

A capacidade de mobilização das centrais sindicais geralmente obedece a estímulos particulares em cada país, de acordo com o tipo de atuação das organizações sindicais em seus respectivos cenários políticos nacionais. No caso argentino, por exemplo, o período recente está marcado pela desarticulação de suas organizações e pela relativa perda de força política, provocadas pelo próprio processo de reestruturação que vem sofrendo as relações trabalhistas neste país. Já no Brasil, o que se observa é exatamente o contrário: uma crescente projeção política das centrais em função do fato de que as conseqüências potenciais do Mercosul sobre o mercado de trabalho são observadas num contexto do-méstico ainda não submetido completamente aos dogmas neoliberais que vêm regendo a economia internacional.

o

que se começa a observar, então, é que apesar das diferentes características de atuação das centrais sindicais dos países do MercosuL e de seus distintos contextos do-mésticos, estas já iniciaram o desenho de uma agenda de interesses comuns, pois constata-ram os riscos que o processo de integração pode gerar, como a redução dos postos de tra-balho ou as práticas de dumping social, se não houver uma mobilização coordenada dos

representantes dos trabalhadores.

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perce-utilização das novas tecnologias, que têm como resultante a criação de mercados regio-nms.

A partir do que acaba de ser exposto, podemos assinalar que a proposta deste tra-balho está direcionada à apresentação das questões trabalhistas que permeiam o de-senvolvimento do processo de integração do Mercosul. O objetivo, aqui, é formar um pa-norama onde se destacam os principais pontos da questão trabalhista que se apresentam como os novos desafios que devem ser enfrentados pelos trabalhadores neste contexto que está se consolidando. Dentro deste quadro, busca-se destacar o desenvolvimento do papel das centrais sindicais dos trabalhadores, como atores societais, participantes deste esque-ma de integração, que vem respondendo ao processo, a partir de distintos posicionamen-tos. Estes posicionamentos têm sido modificados ao longo do processo de integração, de acordo com as mudanças que ocorrem na percepção do processo e de suas consequências para os trabalhadores.

Desta forma, o trabalho começa com os elementos antecedentes que permitiram a implementação do Mercosul. Assim o primeiro capítulo, intitulado AS TENT ATIVAS DE INTEGRAÇÃO LATINO AMERICANA, objetiva a visualização destes condicionantes que levaram à criação do Mercado Comum do Cone Sul e assinala a evolução deste pro-cesso integracionista mostrando seus mecanismos de implementação e o desenvolvimento dos processos de negociações.

O segundo capítulo, denominado A GLOBALIZAÇÃO E O MERCADO DE TRABALHO, procura descrever as modificações que estão ocorrendo dentro do mercado de trabalho em um contexto de globalização. É, também, traçado um paralelo entre a re-estruturação capitalista e o mundo do trabalho e suas conseqüências para o movimento sindical.

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temas trabalhistas que se destacam no processo de integração do Mercosul e que repre-sentam pontos de essencial interesse para os trabalhadores.

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A discussão da problemática ligada à integração latino-americana, não se restringe à história mais recente da América Latina. De fato, como idéia e proposta político-cultural, a integração é tema que esteve muito presente nas obras e na ação política de re-nomados homens públicos do passado.

Mesmo sem a intenção de fazer uma periodização das idéias e dos movimentos de integração na América Latina e sem pretender supor que as propostas do passado sejam fundamento imediato das instituições atuais, pode-se identificar duas épocas bem distintas da problemática integracionista latino-americana, assim como se pode distinguir períodos bem marcados dentro do atual movimento integracionista.

Segundo Leonel (Mello, 1996), a primeira época vai da fase das lutas pela inde-pendência política do século passado até as primeiras décadas do século atual, o que inclui a criação da Aliança Popular Revolucionária Americana (APRA) em 1924 por Haya de la Torre. A APRA se propunha a trabalhar em prol da cooperação e da união entre os povos latino-americanos.

Um dos primeiros a defender as idéias de uma união da América Latina foi Simon BolívarI, ainda durante a fase de lutas pela independência política dos Estados do novo

mundo.

Os ideais bolivarianos de união americana foram melhor explicitados e sistemati-zados na famosa e extensa carta que "el Libertador" escreveu na Jamaica, em 6 de setem-bro de 1815, na qual manifesta ser "uma idéia grandiosa pretender formar de todo o Novo Mundo uma só nação com um só vínculo que ligue suas partes entre si e com o todo" (Mello, 1996).

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Apesar de que, em certo sentido, Bolívar possa ser considerado o patrocinador das primeiras idéias integracionalistas na América Latina, seus esforços não deram os frutos que ele talvez esperasse. As tentativas de criar e efetivar uma Federação, na América Central, na Gran-Colombia e entre o Peru e a Bolívia fracassaram. (Mello, 1996)

Na segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX, vários ou-tros autores defenderam também as idéias de união latino-americana. Dentre estes desta-caram-se, pela repercussão de suas obras e pelo trabalho internacional por eles desenvol-vidos, o argentino Domingo Faustino Sarmiento, o chileno Andrés Bello, o peruano Vic-tor Raul Haya de la Torre, o mexicano José Vasconselos e o uruguaio José Henrique Ro-dó. (Mello, 1996).

A América Latina, desde 1949, sob a influência dos estudos de Prebish e da CEP AL, que estabeleciam a necessidade de incremento do comércio regional intralatino americano, teve experiências frustradas de integração regional.

Raúl Prebish afirmava que a idéia de mercado comum vinha sendo elaborada há muito tempo, até que os governos da região solicitaram ao Comitê de Comércio da CEP AL, em novembro de 1956, a constituição de duas equipes de especialistas, uma para formular, numa visão gradualista, um regime de pagamentos multilaterais; e outra, para definir as características do mercado regional.

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Não se trata somente de um problema de produtividade, por si só muito importante. Existe outro aspecto que gostaria de acentuar: é a vulnerabilidade econômica dos países latino americanos ( ... ) Não vejo outra solução para este grave problema e para o alto custo do processo de substituição de importações, do que romper com esse modelo anacrônico através da formação gradual e progressiva do mercado comum e a conseqüente diversificação de importação e exportações (N ações Unidas, 1987).

Percebe-se, portanto, que o pressuposto da Integração Regional estava relacionado com o processo de desenvolvimento econômico desses países, que englobava, necessariamente, um grau mais alto de industrialização, de tal forma que um mercado ampliado tomasse possível a implantação e consolidação de novos setores industriais, com maior intensidade de uso de capital. Esse tipo de concepção também implicava na adoção de políticas macro-econômicas que viessem a beneficiar a inversão industrial vis-a-vis de outros setores da economia.

A criação da Comunidade Econômica Européia, em 1957, através do Tratado de Roma, foi mais um impulso para a idéia de conformação do espaço comum latino-amencano. Em 1960 foi criada a ALALC (Associação Latino Americana de Livre Comércio), cujo objetivo último foi atingir a constituição de um mercado comum latino americano. A formação do Grupo Andino2, em 1969, aconteceu como resultado de

divergências e como forma de manifestação diferenciada de interesses dos países "médios" e "desenvolvimentistas" - o Chile, a Venezuela, a Colômbia, a Bolívia, o Equador e o Peru e foi uma resposta aos "grandes" e "comercialistas" - a Argentina, o Brasil e o México, que naquela época advogavam o comércio multilateral.

A substituição da ALALC pela ALADI (Associação Latino Americana de Integração), em 1980, com a assinatura do Tratado de Montevidéu, representou o contexto de um amplo processo de reestruturação dos objetivos e modalidades de integração econômica na região. A ALADI buscava ampliar o intercâmbio comercial através de mecanismos bem distintos, e mais realistas, do que aqueles estabelecidos pela ALALC, ao

2 O Grupo Andino constitui o acordo de integração sub-regional latino americano com maior

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elabo-longo de seus vinte anos de existência. Três princípios básicos da antiga associação foram deixados de lado: a cláusula de nação mais favorecida, que estendia, obrigatoriamente, a todos os países sócios, as preferências comerciais negociadas bilateralmente; a meta de estabelecer uma tarifa externa comum para os países não-membros, e a exigência de prazos fixos para o cumprimento de etapas determinadas do processo de integração (ARAÚJO JR., 1990).

Com uma visão mais pragmática e flexível, a ALADI, prosperou, sobretudo, em relação aos acordos bilaterais, em que pese a tragédia que representou para a região, a "Década Perdida" dos anos 80.

Esta reconstituição das tentativas de integração no período 60 - 80 é importante para salientar as diferenças de natureza e de concepção dos atuais processos de regionalização , que já não estão baseados em modelos de substituição de importações, nem tão pouco no estabelecimento de longos períodos de reserva de mercado, como principal indutor de novas inversões. É evidente que algumas questões estruturais continuam presentes e atravessam a maioria dos países do subcontinente, embora tanto a sua realidade, quanto a realidade mundial tenham passado por mudanças de grande envergadura.

O desafio maior do MERCOSUL, nesse contexto, está em consolidar-se em meio a um processo crescente de abertura das economias nacionais à concorrência externa.

2.1- A integração Argentina-Brasil

Em 1985, os presidentes Raul Alfonsin, da Argentina, e José Sarney, do Brasil, aproveitaram a oportunidade da inauguração da ponte Tancredo Neves, que une os dois países, e assinaram a "Ata de Foz de Iguaçu", expressando a "firme vontade política de acelerar o processo de integração bilateral", pondo fim a uma longa rivalidade tradicional

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entre as duas maIores nações da América do Sul. Na verdade, desde a superação do contencioso sobre o aproveitamento do Rio Paraná, em 1979, as diplomacias argentina e brasileira se manifestavam de forma crescentemente amistosa. A humilhação sofrida pelo povo Argentino no episódio das ilhas Malvinas e o fim dos regimes militares, que exacerbavam as questões de segurança nacional nas regiões de fronteira, também contribuíram para que os dois países não mais se percebessem como ameaças mútuas.

Por outro lado, as relações econômicas internacionais, o surgimento de novos centros de poder, o fim da Guerra-Fria provocaram uma perda de expressão da região, em relação aos Estados Unidos. Os países do sub continente, asfixiados pelo processo de endividamento externo e pelo bloqueio dos empréstimos internacionais, iniciaram toda uma articulação interna, baseada na ampliação de suas trocas comerciais bilaterais e na retomada da idéia da integração, como uma possibilidade estratégica de responder ao processo de estagnação do desenvolvimento econômico regional. 3

Nesse novo contexto havia, contudo, uma razão de força que impulsionava o acordo: a ampliação da assimetria no comércio bilateral entre o Brasil e a Argentina, em conseqüência da decisão do governo argentino de abrir a sua economia em 1976, a partir da sobrevalorização cambial, produzindo uma queda nas suas exportações, entre outras conseqüências nefastas. Portanto, a necessidade de manter o atual mercado argentino, tanto em quantidade, como em qualidade, foi uma das razões fortes do Acordo de Iguaçu, já que o Brasil vinha, após 1979, tendo saldos sucessivos neste intercâmbio bilateral, o que era preocupante, em função do princípio de reciprocidade, como atesta a tabela 1

3 A Venezuela, que desde a alta do petróleo vivia em boas condições, estabelece com Carlos André

(16)

Tabela 1

BALANÇA COMERCIAL ARGENTINA - BRASIL 1976-1980

Ano 1976 1977 1978

Exportações· 429.0 453.1 544.4

Importações 331.0 373.0 348.8

1979 1980

896.0 756.6

718.0 1.091.5

FONTE: Monica Hirst y Miguel Lengey (1986), Las relaclOnes comerciales argentino-brasilenas. FLACSO

Ao longo da década de 70, o valor total do comerclO argentino com o Brasil favoreceu aquele país. Até 1976, as exportações de manufaturas argentinas representavam 36% do total das compras brasileiras, o que veio a despencar após a desindustrialização argentina.

(17)

Tabela .2

BALANÇA COMERCIAL BRASIL/ARGENTINA - CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES (1980 - 1987)

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986

Export 1.091.521 880.226 649.959 654.625 853.110 547.793 682.384 Import 756.487 586.580 550.437 358.070 511.060 468.865 736.988 Saldo 335.034 293.646 99.422 296.557 342.044 78.928 -56.604

Expor

-

-19.4 -26.2 0.7 30.3 -35.8 24.6

Import - -22.5 -6.2 -34.9 -42.7 -8.3 57.2

FONTE: Cacex. Valor em US$ 1000

FOB-1987 831.782 580.062 251.720 21.9 -21.3

De qualquer forma, vêse pela tabela 2 o quanto irregular foi o comércio Brasil -Argentina na década de 80, com exportações e importações brasileiras caindo de 1980 a 83, novamente crescendo em 84, para logo decrescer em 1985 e novamente subir, em 1986.

Traçar os antecedentes e a evolução do comércio bilateral até 1986, quando são assinados 12 Protocolos de cooperação, não é ocioso, sobretudo para entender as razões que levaram Buenos Aires e Brasília à decisão política de firmar os acordos. O chamado Programa de Integração e Cooperação Econômica (PICE), estabelecido pela Ata para a Integração Brasil-Argentina em 1986, vem a ser o embrião do Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento. que foi assinado pelos dois países em 1988. Muito do que se desenrolou nesse período, determinou a criação do MERCOSUL, em 1991.

(18)

De 1986 a 1988, foram assinados vinte e três protocolos e mais de quarenta atas e anexos, o que já apontava para a criação posterior de uma união aduaneira, pela quantidade dos itens incluídos: setores tão amplos como bens de capital; criação de empresas binacionais; cooperação siderúrgica, nuclear, aeronáutica, transportes, entre outros. Mas, a substância do Tratado estava centrada em dois protocolos: o de bens de capital (protocolo nO 1), que abre a lista, e a venda de trigo argentino (protocolo nO 2), em segundo; os protocolos de nO 3 e 4, a eles vinculados, tratavam da complementação do abastecimento alimentar e da expansão do comércio.

A escolha desses dois setores se justifica, principalmente, pela capacidade ociosa, sistematicamente observada no setor de bens de capital brasileiro, desde o início dos anos 80, refletindo capacidade de oferta a um custo relativo reduzido para os argentinos. Do lado brasileiro, os negociadores sempre se interessaram pelas vantagens comparativas do trigo e da carne bovina. De fato, o trigo era o único produto argentino que podia, rapidamente, aproximar os números gerais do intercâmbio, largamente favoráveis ao Brasil. Ademais, resta uma interrogação sobre o porquê do Brasil adquirir trigo no exterior a um preço muito mais alto, quando um seu vizinho possuía a melhor economia mundial de trigo e com capacidade para abastecer o nosso país

e').

o

protocolo do trigo (n02) incluía o compromIsso de compras pelo Brasil, que adquiriria na Argentina quantidades crescentes durante um período de cinco anos, até chegar a 2 milhões de toneladas, em 1991. ~vlas como afirmou Oscar Camilión, ex-ministro das Relações Exteriores da Argentina, o "coração do Tratado" era o protocolo 1, sobre bens de capital (CAMILIÓN, 1987) .

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A opinião de Camilión é semelhante à de Renato Bauman, que toma como o aspecto mais inovador do Tratado bilateral o fato de que a liberalização do comércio se iniciou pelos bens de produção, o que o converte numa experiência inovadora, não só por se iniciar através daquelas indústrias, que possuem um elevado número de vínculos intersetoriais, e portanto um grande efeito multiplicador, mas também por definir, a priori, a necessidade de se expandir a liberalização em um horizonte de tempo previsto e, segundo uma lista que definia "o universo", além de definir, também, mecanismos para evitar o desequilíbrio do comércio (BAUMANN,1989).

o

equilíbrio bilateral do comércio definia um máximo de desequilíbrio admissível, fixado em 10% do volume total de transações setoriais. Até aí, se consideraria que o comércio estava em equilíbrio dinâmico. Caso um país tivesse um déficit superior a 10%, seriam acionadas as famosas cláusulas de salvaguardas, provenientes de financiamentos e, posteriormente, de recursos do Fundo de Inversão Bilateral. Quando o desequilíbrio ultrapassasse 40%, seriam adotadas medidas compatíveis com a situação geral do intercâmbio, o que é vago e remete para as instâncias de maior definição política.

No protocolo sobre bens de capital, se partia de um volume de comércio total de US$ 200 milhões desses produtos em 1985, dos quais o Brasil vendia 150 e a Argentina 50. Se os compromissos fossem mantidos e como se esperasse um comércio total de US$ 300 milhões para 1987, conforme planejado. Isto faria supor um aumento significativo das vendas argentinas em bens de capital. Mas, para que houvesse equilíbrio dinâmico, o máximo permitido de diferencial era de 10%. Portanto, caso se pretendesse cumprir os compromissos para 1987, e de acordo com os termos estabelecidos, a Argentina deveria passar a exportar um valor muito mais alto em 1987 (CAMILIÓN, 1987).

Evidente, isto não se consegue por decreto nem em espaço de tempo tão curto. Portanto, ficava a dúvida sobre a implementação prática dos acordos. Além disso, permanecia a questão de como serem corrigidas as assimetrias existentes.

(20)

aspecto da maior relevância e que tem sido, se não negligenciado, ao menos pouco estudado ao longo da integração. Por tudo aquilo que foi afirmado anteriormente, sobre o peso que têm as corporações multinacionais no conjunto da economia subregional, não há como minimizá-lo, sobretudo no Brasil. O Brasil é o principal centro latino americano para as multinacionais. No setor químico, a título de exemplo, a dimensão da escala produtiva de filiais de mesma empresa, no país e na Argentina, tem diferença média de 6 para 1.

2.2- Mercosul: institucionalização, mecanismos para implementação, processos de nego-ciação.

O Tratado de Assunção, firmado em 26 de março de 1991, definiu os princípios, mecanismos adotados e utilizados para sua implementação - o Conselho e o Grupo Mercado Comum - a dinâmica dos subgrupos de trabalho, a forma de participação, quem e como participa; os processos de negociação e de solução de controvérsias; a agenda institucional do MERCOSUL; os problemas e desafios durante a transição; a evolução do quadro institucional de integração regional.

Para se ter uma idéia do nível de complexidade do que foi proposto para a fase de transição do Mercado, sabe-se que as decisões intragovemamentais foram encaminhadas via dois órgãos provisórios: o Conselho do Mercado Comum (CMC) e o Grupo Mercado Comum (GMC); sendo o Conselho, o órgão superior de condução política e o Grupo, o órgão executivo para cumprimento das decisões do Conselho. O GMC, por sua vez, constituiu seus próprios órgãos subordinados de negociação, de caráter técnico, chamados Subgrupos de Trabalho, a princípio em número de 104. As decisões de ambos os órgãos

4 Os subgrupos de trabalho criados inicialmente foram: Subgrupo 1: Assuntos Comerciais; Subgrupo 2:

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políticos - Conselho e Grupo Mercado Comum - sào adotadas por consenso entre os Estados-partes e na presença de todos os seus membros.

o

Tratado de Assunção estabeleceu ainda mais 02 órgãos, a Comissão Parlamentar Conjunta (CPC) e a Secretaria Administrativa do MERCOSUL. Quando da assinatura do Protocolo de Ouro Preto, foram criadas a Comissão de Comércio do MERCOSUL - (CCM) e o Fórum Consultivo Econômico e Social, totalizando 06 órgãos que compõem a estrutura organizacional atual do MERCOSUL.

A CCM foi criada por sugestão da Argentina, com o objetivo de administrar e ze-lar pela aplicação da Tarifa Externa Comum - TEC e os demais instrumentos de política internacional comum (as práticas desleais de comércio, as restrições não-tarifárias, o re-gime de origem, as zonas francas, os rere-gimes especiais: automotivo, têxtil e açucareiro, etc.).

A CCM está subordinada hierarquicamente ao GMC e reúne-se, obrigatoriamente, pelo menos, duas vezes ao mês. Este órgão tem autoridade sobre as disputas comerciais e se pronuncia mediante diretrizes que são obrigatórias a todos os Estados-Membros. Está integrada por 10 comitês técnicos.

O Fórum Consultivo Econômico e Social (FCES), o órgão através do qual o setor privado (empresariado e trabalhadores) encaminha os seus pleitos ao GMC, tem função consultiva e se pronuncia por meio de recomendações. (HIRST, 1996).

A Comissão Parlamentar Conjunta - de caráter consultivo, deliberativo e proposi-tivo - envia suas recomendações ao CMC através do GMC (sendo integrado por parla-mentares escolhidos pelos Congressos dos respectivos países).

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paí-ses assinaram na ALADI, o "Acordo de Complementação Econômica N° 18", que registra as preferências intercambiadas.

Para a consolidação da União Aduaneira, as decisões do CMC e GMC ocorreram na segunda metade de 1994, definindo-se, então, a Tarifa Externa Comum, as regras de origem, os tratamentos para as zonas francas e o perfil institucional do MERCOSUL.

Em relação à Tarifa Externa Comum (TEC), o "Cronograma de Las Leoas", de ju-nho de 1992 - a agenda de negociação do MERCOSUL, passou a apontar o conjunto de temas substanciais para a consolidação do processo de integração:

- redução das assimetrias nos instrumentos de política comercial;

- aperfeiçoamento da coordenação de políticas macro e micro-econômicas, de forma a tornà-Ias compatíveis com a formação de uma união aduaneira na região, a partir de 1994.

(23)

Quadro 1

T ARIF A EXTERNA COMUM NO MERCOSUL PROPOST AS E CRITÉRIOS APRESENTADOS PELOS PAÍSES

Níveis Critérios

Tarifários

Brasil

De 0% a • 0% - produtos exportáveis, sem produção nacional I 35% e/ou com custo de transporte elevado;

5% - insumos básicos;

10% - produtos agropecuário e intermediários;

I

15% - bens intermediários;

I 20% - bens de consumo, bens de capital e bens

inter-•

mediários;

25% - equipamentos com controle numérico;

35% - produtos da área de informática, automóveis e I

outros produtos sensíveis

j

Argentina

De 0% a

A proposta não especifica a que grupos de bens; !

20%

Os níveis tarifários se aplicariam, à exceção de bens

I

de capital que teriam alíquotas entre O e 4%;

Tarifas aduaneiras como instrumento de controle do I poder de mercado de setores oligopolizados.

I

Paraguai

De 0% a

0% - matérias-primas e insumos sem produção regio-

I

15% I

n~;

I

5% - matérias-primas e insumos sem produção nacio-I nal em um ou mais países da região; I

10% - produtos em geral;

I

15% - artigos de luxo(não especificados)

I Uruguai

De 0% a

A proposta não especifica a que grupo de bens se

20% aplicariam as tarifas;

Taxas de proteção efetiva iguais para a agropecuária e a indústria

(24)

o

processo de liberalização comercial suscitou, no Brasil, uma série de reações dos setores potencialmente prejudicados, receosos de que os níveis de proteção pudes-sem ser ainda mais reduzidos - agricultura, química fina, bens de capital, eletro-eletrônicos e automóveis. Na Argentina, houve idêntica reação, sobretudo em decorrência dos desequilíbrios dos fluxos comerciais entre os dois países. Naquele momento, em fun-ção do Plano de Conversibilidade Argentino de abril de 1991, a valorizafun-ção do peso pri-vilegiava o Brasil. De fato, havia diferenças marcantes entre os parques industriais argen-tino e brasileiro; este, vinha há mais de vinte anos implementando políticas industriais ati-vas, enquanto aquele, era gradativamente sucateado, perdendo, o Estado, a tradição do papel de promoção da competitividade internacional.

o

programa de desgravação tarifária automática e linear, fixado pelo Tratado de Assunção, previa para janeiro de 1995 a isenção de tarifas alfandegárias para a quase to-talidade dos produtos, que como é sabido, não veio a se concretizar por inteiro. O comér-cio intrazona passou a receber uma preferência de 47%, a qual foi aumentando até se atingir os 100% em janeiro de 1995. Os Estados membros puderam estabelecer um trata-mento alfandegário especial para um número reduzido de produtos, que constituiria um "regime de adequação final à união aduaneira". Os produtos, então incluídos nesse regi-me, integravam as listas de exceção ou ficavam submetidos a salvaguardas. Estas exce-ções terminariam para o Brasil e a Argentina em quatro anos e, em cinco anos, para o Pa-raguai e o Uruguai.

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de informática e telecomunicações, as tarifas oscilariam entre O e 12% e, os 24 produtos, incluídos no lote dos mais sensíveis - microcomputadores, centrais telefônicas e impres-soras, estariam sujeitas à tarifa máxima de 16%, a partir de 2006. O Paraguai e o Uruguai fariam todas as suas convergências nestes produtos, até o ano de 2006.

A aprovação de uma TEC que preserve o objetivo de uma integração aberta parece demandar, a médio prazo, a definição e implantação de políticas convergentes de reestru-turação e reconversão industrial, capazes de minimizar os impactos negativos gerados pelo processo integrativo e de garantir o desenvolvimento da competitividade do parque industrial do MERCOSUL (MACHADO, 1993).

Em relação às Listas de Exceções, o Brasil, a Argentina e o Uruguai não deveriam exceder 300 itens, incluindo-se aí os bens de capital, de informática e de telecomunica-ções. O Paraguai teve lista maior, com 339 itens tarifários, exclusive os produtos citados anteriormente. O Brasil apresentou a sua primeira lista ao final de 1994, constando de 233 itens, sobretudo alimentos, químicos, petroquímicos, petróleo e derivados, madeira e bor-racha. Alguns desses produtos já passaram por aumento tarifário, em razão dos déficits constantes na balança comercial, em função do aumento das importações, devendo ser in-cluídos nas listas de exceções definitivas. Os automóveis, produtos sensíveis, tiveram suas alíquotas de importação acrescidas, de 20 para 32%. Posteriormente, os automóveis e os eletrodomésticos tiveram um aumento, passando para 70%.

Em relação às Regras de Origem, já que o MERCOSUL ainda não conforma uma união aduaneira plena, o que ficou estabelecido é que os produtos comercializados entre os parceiros só terão isenção tarifária se ao menos 60% de seus insumos forem originários dos paises do bloco. Neste particular, o Brasil, por ter parque industrial maior e mais arti-culado, defendeu uma taxa de 70% do preço FOB (Free 011 Board) de exportação do

pro-duto final com insumos de origem, evitando a maquiagem de propro-dutos. A Argentina de-fendeu taxa menor, de 50% e o Paraguai ainda menos, de 30%. As regras de origem serão aplicadas para os produtos não incluídos na TEC, para bens sujeitos a regimes especiais de importação e mercadorias submetidas a salvaguardas. Para os bens de capital, o índice

IIBLlOTECA MAHIU tH:tm:2UE: SIMUN::II:I,

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será de 80% até 2001 e, para produtos oriundos do Paraguai e Uruguai, não superior a 50% até a mesma data (LIMA RÊGO, 1995) .

Alguns produtos tidos como mais sensíveis, têm tratamento especial, sobretudo os do setor automotivo (i), açucareiro (ii) e do trigo (iii).

i- Quanto ao setor automobilístico, o Protocolo de Ouro Preto, de dezembro de 1994, es-tabeleceu tratamento preferencial do Brasil para com a Argentina, sendo que o Brasil se obriga a importar um dólar, neste segmento, para cada dólar exportado, o que está provo-cando o renascimento da indústria automotriz argentina. O comércio permanecerá admi-nistrado até 1999, preservando-se um sistema de cotas e de comércio equilibrado. Contu-do, nem tudo são rosas, a exemplo do contencioso ocorrido em junho de 1995, quando a diplomacia dos dois países teve que entrar em ação. O que está em jogo são as vantagens estabelecidas individualmente pelos sócios, para receberem novas plantas industriais das multinacionais já instaladas ou novas. A ação do governo brasileiro de conceder diversos subsídios á implantação de fábricas automotivas na região nordeste do país, para enfrentar um problema regional interno de estímulos temporários, provocou a ira dos argentinos (LIMA, 1996).

Mais recentemente, os diretores de 11 montadoras automotoras se reumram em Buenos Aires com o presidente Menem, preocupados com o estabelecimento do regime automotivo a ser implantado a partir do ano 2.000, conforme declaração do presidente da Asociación de Fabricantes de Automotores. "Planteamos la necesidad de uniformar todos los criterios lo más rápido posible para que nuestros inversores tengan la certeza de cuáles serán las regIas deI juego después deI 2000 '.' (Clarín, 17/03/98) .

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Imposto de Importações atualmente aplicado sobre o açúcar brasileiro (21 % incluindo uma sobretaxa) à revisão dos subsídios aos usineiros, por meio do produtor de álcool). A lei havia sido vetada pelo presidente Menem, mas seu veto foi derrubado em setembro pelo Senado.

No Brasil, a resposta do Congresso veio através do deputado Paulo Bornhausen (PFL-SC), que propôs criar barreiras ao trigo argentino. O ministro das Relações Exterio-res da Argentina, Guido Di Tella declarou, na ocasião, que "os brasileiros não deveriam fazer violações aos acordos do MERCOSUL por mais violações que existam do outro lado, poderemos entrar em uma cadeia muito perigosa" (Folha de São PaulolDinheiro 04/09/97) .

iii- No caso do trigo, a Argentina reivindicava que se estabelecesse uma sobretaxa variá-vel sobre o produto proveniente de outros países ( EUA, Canadá), sempre que o preço do trigo extra bloco fosse inferior, sob alegação de que aqueles países concediam subsídios ao produto. O que ficou confirmado foi a cobrança de uma sobretaxa de 10% para o trigo de outros países, até abril de 1995, além da tarifa vigente de 10%, até que seja definido o tratamento comum a ser dado aos produtos sobre os quais incidem práticas desleais de comerCIO.

Outro ponto sensível é o relativo às Zonas Francas, no caso a de Manaus, pelo Bra-siL e a da Terra do Fogo, pela Argentina. Os produtos provenientes destas zonas comerci-ais e industricomerci-ais estão isentas da TEC, permanecendo como exceções, podendo trocar e intercambiar produtos, sem a cobrança de tarifas, até 2013.

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3. 1- Introdução

A magnitude da internacionalização econômica observada nos tempos atuais estimulou a cunhagem de um novo termo para melhor referir os processos em curso: globalização. A expressão é carregada de significado, mas as idéias subjacentes nem sempre parecem cristalinas, já que diversos aspectos da vida moderna podem ser assim indicados (Baumann, 1996).

O termo globalização não se reduz à reorganização da economia mundial, embora ele normalmente esteja associado a processos econômicos, tais como circu-lação de capital, ampliação de mercado e integração da produção. Além da transna-cionalização das relações econômicas, refere-se também às relações sociais, políticas e culturais. A globalização segundo Luis Vieira:

Uma nova configuração espacial da economia mundial como re-sultado geral de velhos e novos elementos de internacionalização e integração, como também na difusão de padrões transnacionais de organização econômica e social, consumo, vida ou pensa-mento, que resultam do jogo de pressões competitivas do merca-do, das experiências políticas ou administrativas, da amplitude das comunicações ou da similitude de situações e problemas mas impostos pelas novas condições internacionais de produção e intercâmbio. (Vieira, 1997)

Mas mesmo no plano estritamente econômico a precisão não goza de exclu-sividade, o que, entretanto, não deve causar assombro, pois são vários os problemas colocados em relevo nas diferentes análises: a globalização econômica tem sido ob-jeto de investigação sob, pelo menos, as perspectivas financeira, comercial, produti-va e quanto às possibilidades das políticas econômicas nacionais. (Baumann, 1996)

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internaci-onalização integral, incidente sobre todas as partes de um todo, que o capital pode ser percebido como algo de fato global. Entretanto, conforme assinala Benko (1996), o que parece preponderar é a internacionalização do capital produtivo. A idéia de globalização fornecida pela OECD (1992) põe ênfase na internacionalização produ-tiva como aspecto básico dos principais processos em curso atualmente na economia mundial:

Globalização refere ao estágio agora alcançado, e às formas hoje assumidas, pelo que é conhecido como produção internacional; nomeadamente, atividades agregadoras de valor possuídas ou controladas e organizadas por uma firma (ou grupo de firmas) fora de suas fronteiras nacionais. O conceito relaciona-se ao conjunto de condições em que uma crescente fração do valor e da riqueza é produzida e distribuída mundialmente através de um sistema de redes privadas interligadas. Grandes firmas multina-cionais, operando dentro de estruturas concentradas de oferta mundial, e capazes de obter total vantagem da globalização fi-nanceira, encontram-se no centro deste processo. (OECD, 1992)

Portanto, no que diz respeito às atividades produtivas, a globalização repre-senta a nova etapa de um processo de internacionalização cuja trajetória é revelada pela observação histórica. Realmente, por razões diversas, prevalecentes em combi-nação ou de forma individual conforme circunstâncias de tempo e lugar, quase todo o século XX foi marcado pelo crescimento da produção internacionalizada. Na ver-dade, o aprofundamento desta já constituía elemento de caracterização da passagem para o novo capitalismo, na virada do século XIX para o atual. Lins (1998)

A exportação de capital era assinalada por Lênin (1979) como um dos princi-pais traços do capitalismo chegado ao estágio monopolista. E exportar capital signi-ficava, principalmente, difundir mundo afora a relação social básica do capitalismo, implicava modificar a geografia da extração de mais-valia, envolvia, portanto, inter-nacionalizar a produção em bases capitalistas. Lins (1998)

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aquisições em escala internacional, algumas de suas principais características. O vetor básico são as empresas multinacionais, de presença enormemente fortalecida e protagonistas de intenso comércio intrafirma. Para Nakano (1994), o tipo de com-portamento dessas empresas na atualidade constitui característica maior da economia globalizada. No passado as estratégias das empresas multinacionais afiguravam-se principalmente como coleções de estratégias nacionais: o que ocorria em um país em termos de competição não dependia, praticamente, do que acontecia em outro país; hoje, as fronteiras nacionais não conseguem conter as atividades daquelas empresas. Tendo em vista que a concorrência se dá agora em plano verdadeiramente global, o planeta como um todo constitui referência para a organização dos negócios!. Como sublinha Chesnais (1996), a cadeia de valor simplesmente transborda as fronteiras, em uma efetiva integração internacional da produção.

A organização em rede, ao estilo Nike, por exemplo, constitui ilustração do referido processo de transbordamento, no que concerne às deslocalizações sem reali-zação de investimentos diretos, em que as empresas aproveitam a conjugação de liberalização comercial e tecnológica para usufruir dos diferenciais de salário e de legislação trabalhista frouxa2. Sobre a Nike3, Chesnais assinala:

As coleções são concebidas na sede do grupo, no Oregon (que tem menos de 500 assalariados americanos), onde está concen-trada sua capacidade de design, bem como sua estratégia comer-cial. Os padrões dos novos modelos são transmitidos (por uma rede de comunicações telemáticas privada) para Taiwan, onde se situa um segundo elo importante do grupo. É lá que são fabrica-dos os protótipos, que vão servir de modelos para a produção in-dustrial de massa. Esta vai ser feita no Sudeste Asiático, mas onde puderem ser conseguidos contratos de terceirização mais vantajosos, de sorte que tem-se assistido à Nike sair de certos países, à medida que os salários aumentavam ou que surgIa a sindicalização (Chesnais, 1996)

I Um interessante quadro sobre o funcionamento das empresas multinacionais nos anos 90 é traçado em

The Economist (1995).

: A empresa-rede é somente uma modalidade entre várias de organização produtivo-territorial das grandes emrepsas na atualidade. Para um maior aprofundamento no assunto Veltz (1996) mostra um interessante painel sobre as diferentes possibilidades de articulação entre produção e território.

J O modelo Nike é exemplo de integração simples em termos de organização internacional dos negócios.

Contrasta com a integração complexa em que ··as companhias localizam todas as suas atividades de acordo com a lógica do mercado e dispersam a tomada de decisões através de toda a organização. Sua particularidade é o interminável flu.xo de informação em todas as direções, ao im·és de um sistema

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Diante da maturação de uma terceira revolução industrial e tecnológica há vá-rias possibilidades de conformação de relações sociais fundadas no conhecimento e na interligação das informações. De um lado, ocorre a permanência de parcelas soci-ais cada vez msoci-ais excluídas dessas novas possibilidades de relações socisoci-ais. A apar-tação social ocorre em maior ou menor medida, mesmo nas economias mais avança-das, sobretudo quando estas passaram a abandonar o compromisso com o pleno em-prego ou aceitaram o uso da força de trabalho através de formas cada vez mais pre-cárias, insuficientes para a garantia de condições adequadas de vida. (Ianni, 1995)

De outro lado, sustentam-se condições apropriadas para a superação do pa-drão de uso e remuneração pretéritas, através de formas revolucionárias de produzir e gerir o uso da mão-de-obra. Inquestionavelmente são apresentados no plano teóri-co novos horizontes de libertação do homem das formas esquemáticas e não criati-vas do trabalho.

A partir do uso de novas tecnologias e ferramentas especiais, que utilizam novos materiais com maior eficiência e menores custos, são introduzidos novos pro-dutos e insumos como o aço superplástico, a cerâmica, os supercondutores, o silício e as fibras óticas, cada vez mais adequados à implantação de grande vias de infor-mação, fundamentais para a definição do futuro do sistema internacional de comuni-cação e relacionamento social. (lanni, 1995)

Um novo perfil do trabalhador está sendo gestado, mais polivalente, qualifi-cado e com a visão de todo o processo de produção, podendo, inclusive, inserir-se num mundo que supere a relação desfavorável entre o tempo livre e o de trabalho, bem como a dicotomia entre o trabalho repetitivo e criativo e o rendimento insufici-ente e inadequado.

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internacio-nalização econômica. Esta internaciointernacio-nalização segundo Kon (1998) se intensificou na segunda metade do século XIX, passando da esfera da circulação de mercadorias para o da produção, com o desenvolvimento da indústria na Europa e o processo extremamente rápido de concentração da produção e de capital. Esta concentração dos excedentes de capital, resultou num novo estágio de desenvolvimento industrial através de investimentos diretos das grandes empresas, propiciando investimentos no exterior, na produção de matérias-primas e de produtos manufaturados, em busca de mercados mais amplos e de menores custos dos fatores produtivos, resultando em maior retomo do capital investido.

A partir da Segunda Guerra Mundial, os países subdesenvolvidos foram tam-bém conduzidos a um processo de industrialização e a uma nova divisão internacio-nal do trabalho através do monopólio do novo conhecimento científico e técnico, que conservaram porém uma desigualdade estrutural já consolidada anteriormente. Dessa maneira, com a continuidade dos avanços tecnológicos nas áreas de transpor-tes e comunicações do pós-guerra, o próprio aparato produtivo das empresas foi deslocado para o exterior. Inicialmente, com a internacionalização da produção de produtos acabados e, posteriormente, com o desenvolvimento da microeletrônica e da tecnologia da informação.

Em alguns setores o processo da produção é internacionalizado, com o des-envolvimento de cada parte do processo em uma diferente região mundial, como afirma Hobsbawn,

o

esforço físico via sendo substituído pela força da microele-trônica, ampliando a qualidade, a rapidez e a precisão da produ-ção e dos serviços e com isso reduzindo o desgaste físico e o desperdício dos recursos, que potencializam as novas bases da expansão da riqueza e do excedente econômico. Entretanto, os novos horizontes que se abrem para as populações de todos os países não são iguais, nem mesmo plenamente satisfatórios para os habitantes de uma mesma nação. (Hobsbawn, 1994)

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avanço tecnológico. Nesse contexto, "desde a década de oitenta, configurou-se uma nova etapa mais avançada e veloz de transformações tecnológicas e de acumulação financeira, intensificando a internacionalização da vida econômica, social, cultural e política", como salienta Coutinho. (Coutinho; 1996).

No âmbito da fábrica global criada com a nova divisão transnacional do tra-balho e produção, a transição do fordismo ao toyotismo e a dinamização do mercado mundial, tudo isso amplamente favorecido pelas tecnologias eletrônicas, colocam-se novas formas e novos significados do trabalho. A crise do paradigma taylorista-fordista na década de 70 e a entrada de novas tecnologias baseadas na microeletrôni-ca, tanto nas indústrias, como nos serviços, provocaram transformações no mundo do trabalho. As novas tecnologias baseiam-se em dois paradigmas fundamentais: a flexibilidade e a integração. Com a utilização de computadores que planejam e ope-racionalizam rapidamente o processo produtivo responde-se com maior agilidade e rapidez às exigências do mercado, à otimização do tempo de operação e circulação dos materiais, e à diversidade da produção de mercadorias. A difusão de robôs, prin-cipalmente nas indústrias automobilísticas, e dos sistemas CAD/CAM, na década de 80, com maior incremento em 1989, assinalam investimentos importantes por parte das empresas (Neves, 1998)

De acordo com Coriat:

ao modificar profundamente o processo de trabalho, os princípi-os tayloristas e fordistas de organização do trabalho afetam tam-bém as modalidades gerais de extração do sobretrabalho e as condições de formação dos valores de troca. Sobre a base da nova forma de organização do trabalho, que se soma às trans-formações ocorridas no maquinismo industrial, o taylorismo e o fordismo renovam totalmente o mecanismo de produção da mais-valia, repercutindo sobre a acumulação do capital: o meca-nismo de produção da mais-valia passa a se basear na produção em série de mercadorias estandardizadas com valor mais baixo. (Coriat, 1982)

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socieda-de global, rompem-se os quadros sociais e mentais socieda-de referência estabelecidos com base no emblema da sociedade nacional.(Ianni; 1997).

A globalização abre outros horizontes sociais e mentais para indivíduos, gru-pos, classes e coletividades, nações e nacionalidades, movimentos sociais e partidos políticos, correntes de opinião pública e estilos de pensamento. As condições e as possibilidades da cultura e da consciência já envolvem também a sociedade global. Tudo o que continua a ser local, provinciano, nacional e regional, compreendendo identidades e diversidades, desigualdades e antagonismos, adquire novos significa-dos, a partir dos horizontes abertos pela emergência da sociedade global. (Ianni, 1997)

Ainda que incipiente, esse mundo do trabalho e o conseqüente movimento operário apresentam características mundiais. É desigual, disperso pelo mundo, atra-vessando nações e nacionalidades, implicando em diversidades e desigualdades so-ciais, econômicas, políticas, culturais, religiosas, lingüísticas, raciais e outras. Inclu-sive apresenta as peculiaridades de cada lugar, país ou região, por suas característi-cas históricaracterísti-cas, geográficaracterísti-cas e outras. Mas há relações, processos e estruturas de alcan-ce global que constituem o mundo do trabalho e estabelealcan-cem as condições do movi-mento operário.

Segundo lanni ,

Esse o contexto em que se colocam as novas formas e os novos significados do trabalho. Não se trata de afirmar que o capitalis-mo global nada tem a ver com o capitaliscapitalis-mo nacional, ou que os capitalismos competitivo, monopolístico e de estado estão su-perados pelo global. (Ianni, 1997)

o

desenvolvimento capitalista tem sido sempre desigual e contraditório, in-clusive no sentido de que compreende articulações e tensões de tempos e espaços, contemporaneidades e não-contemporaneidades. Mas cabe reconhecer que já é reali-dade o capitalismo global, implicando novas formas sociais e novos significados do trabalho. De acordo com lanni

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sistema de máquinas auto-reguladas - o que implica a capacidade das instalações automatizadas de substituir não somente a mão humana, mas também as funções cerebrais requisitadas pela vi-gilância das máquinas-ferramenta. No entanto, em oposição ab-soluta ao mito da fábrica sem homens, a intervenção humana está longe de desaparecer. (lanni, 1997)

Reduzido a apêndice da máquina-ferramenta durante a revolução industrial, o homem, a partir de agora, e inversamente aos lugares-comuns, deve exercer na au-tomação funções muito mais abstratas, muito mais intelectuais. Não lhe compete, como anteriormente, alimentar a máquina, vigiá-la passivamente: compete-lhe trolá-la, prevenir defeitos e, sobretudo, otimizar o seu funcionamento. Assim, con-forme Lojkine (1990), "novas convergências surgem entre a concepção, a manuten-ção e uma produmanuten-ção material que cada vez menos implica trabalho manual e exige cada vez mais, em troca, a manipulação simbólica".

3.2- As alterações nas representações de interesse no final do século XX

As transformações deste final de século são rápidas e profundas, muitas vezes de dificil aprendizado por aqueles que nele encontram-se inseridos, como diz Men-donça (MenMen-donça; 1998), "aliás, como sempre chamam a atenção os historiadores, o homem revela ter grandes dificuldades para identificar as mudanças materiais e so-ciais do seu tempo, sobretudo quando elas ocorrem concentradamente". Nos casos da primeira e segunda Revolução Industrial e Tecnológica, no final dos séculos XVIII e XIX, respectivamente, isso parece ter ocorrido. Naquele momento, as alte-rações na base material do capitalismo, rápidas e concentradas no tempo, foram acompanhadas de mudanças nas relações sociais, com fortes repercussões sobre as instituições de representação de interesses. De acordo com Mendonça:

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suas próprias instituições de representação de interesses. (Men-donça, 1998)

Ao final do século XX, a base produtiva e tecnológica que deu sustentação ao sindicalismo, há mais de 100 anos, está sendo amplamente alterada. As unidades empresariais desverticalizam a produção, ao mesmo tempo que externalizam parte do processo produtivo, introduzindo novos materiais e usando técnicas inovadoras de produção e gestão da mão-de-obra (Mendonça, 1998).

Por outro lado, o trabalho é transformado não apenas em sua natureza como em seu significado. Enquanto declina a presença do trabalho na produção e surgem novas ocupações nos serviços, as habilidades manuais tradicionais e várias profis-sões e ocupações tendem a desaparecer.

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Quadro 2: Reestruturação capitalista e o mundo do trabalho

Efeitos Conteúdo

Declínio do trabalho na produção A agricultura com o mínimo de ocupados, a in-dústria perde participação absoluta e relativa no emprego total, enquanto os serviços privados re-duzem seus empregados devido aos investimentos em tecnologia, que são racionalizadores de mão-de-obra. O emprego público é comprimido pelas políticas neoliberais.

Modificação na natureza do tra- Drástica redução nas atividades manuais tradicio-balho nais e expansão do emprego com múltiplas

especi-alizações funcionais.

Modificação no significado do As habilidades tornam-se rapidamente obsoletas, trabalho cresce o individualismo e diminuem os laços de solidariedade entre os empregados e os sem tra-balho.

Modificações no conteúdo do tra- Torna-se cada vez maior a contradição do trabalho balho enquanto meio de satisfação das necessidades so-I

ciais e coletivas e meio de subsistência individual. Aumento do terceiro setor.

Mudança no mercado de trabalho Crescem os requisitos de Qualificação na contra-(insegurança no trabalho, no em- tação, redução do emprego estável, emprego para prego e na renda) poucos, maior desemprego e subemprego,

ocupa-ções atípicas, individualização do salário e associ-ação às metas de produção e de vendas.

Movimento de descentralização das negociações Mudança nas relações de trabalho coletivas e insegurança na representação sindical, com queda na taxa de sindicalização e nas greves. Fonte: Mattoso & Pochmann, 1995.

3.3- Globalização e o Papel do Estado

Na atual transição de um milênio para outro, dois fenômenos capitais afetam e ajudam a redefinir o cenário internacional: o avanço da globalização e o papel cada vez maior da regionalização e dos blocos econômicos. Os dois processos, apesar de inter-relacionados, têm uma dinâmica própria e atores distintos.

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as empresas transnacionais. Estas, aliás, constituem o próprio carro-chefe da globali-zação, na medida em que as atuais políticas de liberalização e desregulamentação em nível mundial conferem a elas um grau inédito de liberdade de atuação, expresso na mobilidade do capital industrial produtivo, nas transferências de bens, nas aquisições e fusões de empresas, etc. A globalização ajuda a remover as barreiras à livre circu-lação do capital, o qual se encontra em condições de definir estratégias globais para a continuidade de seu processo de acumulação.(Chaloult, 1999)

Do ponto de vista estritamente econômico, o tema da globalização compre-ende uma variedade de perspectivas: produtiva, comercial, institucional, político-econômica e financeira (Baumann, 1996). Dessas, os movimentos financeiros foram os que mais se destacaram nos últimos quinze anos, com um crescimento superior aos índices de crescimento dos investimentos, do Produto Interno Bruto (PIB) e do comércio exterior dos países desenvolvidos. Um volume cada vez maior de capital produtivo começa a se destinar à especulação. O avanço das telecomunicações e da informática aumentou a capacidade dos investidores de fazer transações em nível global, em tempo mínimo. Mais de US$ 1,2 trilhão, só no mercado de moedas, per-corre diariamente as principais praças financeiras do planeta. Esses fluxos de capital volátil são uma fonte permanente de desequilíbrio financeiro e instabilidade política. A crise mexicana em fins de 1994 foi reveladora de quão nefastas podem ser as con-seqüências da desregulamentação financeira para os mercados emergentes. F oram necessários aportes externos da ordem de US$ 38 bilhões, oferecidos pelo governo norte-americano e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), para que fossem evi-tados a falência do Estado mexicano e o risco de uma crise em cadeia do sistema financeiro internacional .No final de 1997 e durante 1998, o sistema financeiro viu-se de novo abalado, desta vez com criviu-ses no Sudeste Asiático, Rússia e América Latina, cujos efeitos atingiram uma parte significativa das economias do planeta4.

Dois aspectos da globalização - o institucional e o político-econômico - dem implicar a perda ou a redução de certos atributos da soberania econômica e

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lítica de um Estado, estimulando este outro fenômeno contemporâneo: a regionaliza-ção econômica. Para Oman (1994), a regionalizaregionaliza-ção pode ser de facto ou de jure. É

de facto quando se dá uma intensa integração natural entre países fronteiriços, como

tem sido o caso do Canadá e dos EU A, durante as últimas décadas, e da Ásia do Pa-cífico, nos dias de hoje. Por sua vez, a integração dejure ocorre quando, por meio de

arranjos políticos e institucionais, dois ou mais países de uma região formam um bloco econômico, de que são exemplos a União Européia (UE) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul). Nos dois tipos de regionalização, especialmente no segundo, o Estado desempenha um papel fundamental. Note-se, no entanto, que a

regionaliza-ção de facto tem-se acompanhado cada vez mais de acordos regionais de jure. A

regionalização obedece a certos imperativos estruturais, como a intercomplementa-ridade recíproca de duas ou mais economias, a intimidade "natural" de comércio, a relativa homogeneidade de condições macroestruturais, etc. (Chaloult, 1999)

Cumpre frisarmos que não existe contradição entre a globalização e a regio-nalização, embora seus atores-chave sej am diferentes. A globalização é um fenôme-no relacionado ao mercado e tem nas empresas seus atores principais; já a regionali-zação é marcada sobretudo pela primazia da ação política dos Estados, que estabele-cem regras nos planos regionais ou sub-regionais. Quando a regionalização contribui para consolidar o jogo da concorrência, e a ação do Estado reforça a homogeneiza-ção das condições de operahomogeneiza-ção do capital em diferentes mercados, os dois processos tendem a se reforçar mutuamente.(Chalout, 1999)

Ademais, quando a regionalização estimula a concorrência, internamente ou entre os países-membros de um bloco, propiciando uma integração profunda das políticas nacionais, ela pode fortalecer a soberania coletiva das políticas dos Esta-dos-membros de um bloco econômico em face do mercado global e conseqüente-mente aumentar a sua eficácia, ao mesmo tempo em que permite uma maior compe-titividade regional em relação ao resto do mundo (Oman, 1994).

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eqüi-tativa, e estas exigem a ação do Estado no sentido de proporcionar condições ade-quadas a fim de se ter um desenvolvimento sustentável e integrado.

o

Estado está passando por um período de reformulação em dois níveis. De um lado, é ator do sistema de relações internacionais e fomenta a formação e conso-lidação de blocos econômicos, de outro, no âmbito doméstico, deve ser interlocutor e representante da sociedade nacional e de seus interesses. Nessa qualidade, compe-te-lhe promover o debate e criar mecanismos permanentes de consulta sobre as es-tratégias econômicas, políticas, sociais e culturais para poder construir um projeto regional ou sub-regional de desenvolvimento viável no atual contexto de construção de diversos processos de integração.

3.4- A democratização no local de trabalho

No mundo moderno, a concepção de participação expressa-se pela cidadania ativa, entendida como a ampliação dos direitos políticos do cidadão por meio de um processo de tomada de decisão em matérias de interesse público. A cidadania ativa contrapõe-se à reprodução dos privilégios e do poder socialmente dominante e emerge com o anseio de amplas parcelas da sociedade civil para conquistar novos espaços e criar novos direitos, muitas vezes adquiridos na teoria por meio da demo-cracia representativa (Benevides, 1996).

A democracia participativa não exclui nem substitui a representativa, ao con-trário, ela é a base pela qual se desencadeia o processo de participação da sociedade civil que

requer uma tripla credibilidade do Estado: que seja considerado democrático, honesto e eficaz. Isto é, representativo em todos os níveis, descentralizado r e defensor das liberdades da sociedade. Honesto e eficaz em todas as administrações públicas, transpa-rente em seu funcionamento e gastos, flexível e aberto ao diálo-go em seu estilo de relação com a sociedade. (Borja, 1988).

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apare-lho do Estado, exigindo a criação de canais de participação para desbloquear uma crescente exclusão. Em vista disso, toma-se premente a demanda e a (re)invenção de novas formas de gestão e de incorporação da população, sobretudo de seus setores carentes de recursos econômicos, políticos e culturais (Schurmann, 1998).

Apoiados na complexidade crescente da sociedade moderna, os defensores da democracia participativa argumentam que se toma cada vez mais difícil para os par-tidos políticos representarem a heterogeneidade das necessidades dos diferentes se-tores sociais. De um lado, o momento eleitoral é insuficiente para expressar essas necessidades, provocando um distanciamento da sociedade civil, principalmente no nível municipal, onde é mais premente a reivindicação por participação; por outro, a representação política por meio de partidos tem um caráter mais geral e não garante a representação das minorias (Schurmann, 1998).

A relevância do tema da participação e da democratização interna pode ser atestada também pela importância que adquiriram, nos últimos trinta anos, os movi-mentos que criticaram o distanciamento entre Estado e sociedade, reivindicaram maior participação e demandaram maiores espaços de decisão e gestão. Experiências implementadas por governos europeus foram baseadas na ampliação da participação dos cidadãos na vida pública: a política de De Gaulle na França baseou-se na parti-cipação e há doze anos o governo socialista francês promoveu um processo de des-centralização do Estado. O insucesso em construir espaços de democratização, neste e em outros países, pode estar na coexistência de um duplo poder: a recentralização de funções estratégias concentrada em um Estado forte com a vivência de espaços descentralizados. (Lojkine, 1990)

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problemas cotidianos estimula a sensação de eficácia pessoal, favorece maior capa-cidade e competência na participação política nacional e, em conseqüência, tem um papel fundamental no desenvolvimento de uma cidadania competente (Pateman, 1992).

Carole Pateman (1992) considera que a incapacidade de o cidadão participar da política moderna deriva não do tamanho e da complexidade do Estado, mas da falta de oportunidade para os cidadãos aprenderem os rudimentos de autogoverno em unidades menores, como os municípios e os locais de trabalho. Afirma também que a necessidade de cooperação dos homens no local de trabalho não deve ter como objetivo apenas a mera eficiência material, mas a auto-expressão - entendida por ele como autogoverno - e a participação na tomada de decisões em assuntos comuns aos participantes. Como pré-requisito para que os trabalhadores controlem e dirijam seus próprios assuntos, é preciso que os indivíduos sejam capacitados, e as organizações, autônomas.

No mundo do trabalho, as experiências sindicais de participação e de demo-cratização interna estão baseadas em uma forte presença operária na fábrica por in-termédio de organismos de representação dos trabalhadores, como as Comissões de Fábrica no Brasil. As organizações no local de trabalho têm em comum o fato de o tema da participação estar intimamente vinculado á negociação, ou seja, as experi-ências de participação aparecem interligadas com a reformulação da estratégia do confronto para a negociação.

Referências

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