1 ArtigobaseadonaDissertaçãodeMestradodaprimeiraautora,desen-volvidasoborientaçãodosegundoautor.
2 Endereço:UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul,RuaRamiro Barcelos, 2600/111, PortoAlegre, RS, Brasil 90035-006. E-mail: piccinini@portoweb.com.br
DepressãoMaternaeInteraçãoMãe-Bebêno
FinaldoPrimeiroAnodeVida
1DanielaDeliasdeSousaSchwengber CesarAugustoPiccinini2
UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul
RESUMO–Oobjetivodesteestudofoiodeexaminareventuaisdiferençasnainteraçãomãe-bebêentremãescomesem depressãonofinaldoprimeiroanodevidadobebê.Participaram26díadesmãe-bebê,11commãescomindicadoresde depressãoe15commãessemindicadores.AdesignaçãoaosdoisgruposocorreucombasenosescoresdoInventárioBeckde Depressão.Análisedostotaisdecomportamentosmaternoseinfantisdurantesessãodeobservaçãodobrinquedolivrerevelou quemãescomindicadoresdedepressãoapresentarammenoscomportamentosfacilitadoresdaexploraçãodebrinquedospelos bebêsenquantoseusfilhosmostrarammaisafetonegativo.Alémdisso,mãescomindicadoresdedepressãoevidenciaram maisapatia,mantiverammenosaatençãodeseusfilhosnosbrinquedose demonstrarammenosternuraeafeiçãoeseusbebês apresentarammaisvocalizaçõesnegativas.Essesresultadosapóiamasexpectativasdequeadepressãomaternapodeocasionar umimpactonegativonainteraçãomãe-bebê.
Palavras-chave:depressãomaterna;interaçãomãe-bebê.
MaternalDepressionandMother-Infant
InteractionbytheEndoftheFirstYearofLife
ABSTRACT–Theaimofthisstudywastoexamineeventualdifferencesinmother-infantinteractionbetweenmotherswith andwithoutindicatorsofdepressionbytheendofthefirstyearofthebaby’slife.Twenty-sixmother-infantdyads,eleven comprisingmotherswithindicatorsofdepressionandfifteenwithmotherswithoutindicators,tookpartinthestudy.The assignmenttobothgroupswasbasedonscoresontheBeckDepressionInventory.Analysisofthetotalofmaternalandinfant behavioursduringafree-playobservationsessionrevealedthatmotherswithindicatorsofdepressionpresentedlessbehaviours thatfacilitateexplorationoftoysbytheinfant,andtheirchildrenpresentedmorenegativeaffect.Furthermore,motherswith indicatorsofdepressionshowedmoreapathy,keptlesstheirchildren’sattentioninthetoys,demonstratedlesstendernessand affection,andtheirbabiespresentedmorenegativevocalizations.Theseresultsgivesupporttotheexpectationsthatmaternal depressionmayproduceanegativeimpactonmother-infantinteraction.
Keywords:maternaldepression;mother-infantinteraction.
&Zekoski,1984).Nessesentido,algunsautoreschamaram aatençãoparaanecessidadedarealizaçãodeinvestigações apósesseperíodoinicial,aosugeriremquealgumasmulheres permanecem com os sintomas por um período prolongado enquanto outras começam a se sentir deprimidas mais tardiamentenoprimeiroanoapósoparto(Beck&Steer,1993; Brown,Lumley,Small&Astbury,1994;Klaus&cols.,2000; Murray,Cox,Chapman&Jones,1995).Damesmaforma, salientaramaimportânciadeseconsiderarqueosefeitosda depressãomaternaparaainteraçãomãe-bebêestãoassociados aotempodepermanênciadossintomaseàcronicidadedo quadrodepressivo(Beeghly&cols.2002;Campbell&Cohn, 1997;Campbell,Cohn&Meyers,1995;Cooper,Campbell, Day,Kennerley&Bond,1988).
Osestudosqueavaliaramoimpactodadepressãomaterna paraainteraçãomãe-bebêemperíodosmaisavançadosdo desenvolvimento do bebê não utilizaram observações da interaçãoface-a-face,mas,sim,situaçõesdejogonasquais ashabilidadesecomportamentosmaissofisticadosdacriança pudessemserobservados(Schwengber&Piccinini,2001). Alguns desses estudos examinaram os comportamentos maternos e infantis durante a exploração de brinquedos Oprimeiroanoapósonascimentodeumfilhorepresenta
pelosbebêsemsituaçõesdejogocomsuasmães.Deacordo comLawson,ParrinelloeRuff(1992)eTamis-LeMondae Bornstein(1989),essaexploraçãoporpartedobebêdurante ainteraçãocomamãeestariaassociadaaoseudesenvolvi-mento cognitivo posterior. Dessa forma, comportamentos maternos de introduzir brinquedos e manter a atenção do bebêemumbrinquedopeloqualmostrouinteresseestariam associadosaumaumentonaexploraçãodeobjetosporparte dobebêenquantoqueoredirecionamentodesuaatençãoe amanifestaçãodeintrusividadeporpartedamãeestariam relacionadosaumdecréscimonessaexploração.
Emumdessesestudos,Hart,Field,DelValleePelaez-Nogueras (1998) encontraram que os bebês de mães de-primidasmostraram-semenosengajadosnaexploraçãode objetosequefilhasdemãesdeprimidasapresentarammais afeto negativo.Além disso, mães deprimidas cujos bebês eram meninos foram mais intrusivas do que mães não-deprimidas.Emboranãotenhamsidoencontradasdiferenças entre os grupos quanto à introdução de brinquedos, mães deprimidasintroduzirammaisbrinquedosparameninosdo queparameninas.Essesresultadoscorroboraramevidências arespeitodamaiorintrusividadeeenvolvimentoativona interaçãodasmãesdeprimidascommeninos(Radke-Yarrow &cols.,1995).
Aindaemrelaçãoàquestãodaintrusividade,umestudo posteriorrealizadoporHart,Jones,FieldeLundy(1999) revelouaexistênciadedoisestilosdistintosqueumamãe deprimidapodedesenvolvereminteraçãocomseufilho:o primeiroécaracterizadopeloafastamento,faltadeengaja-mento e pouca estimulação; o segundo caracteriza-se por comportamentos intrusivos e de superestimulação. Esse estudorevelouquemãesdeprimidasintrusivasapresentaram maisrespostaspositivas,maisdemonstraçãodebrinquedose umatendênciamaioraguiaremfisicamenteseusbebêsque, noentanto,mostrarammenosmanipulaçãodeobjeto.Por outrolado,mãesdeprimidasquesemostrarammaisapáticas, quietaseafastadasmantiveramacriançabrincandocommais freqüênciaemostraramafetomaisrestrito,enquantosuas crianças demonstraram menos expressão afetiva, positiva ounão.
Osresultadosreferentesàapatiaevidenciadapormães deprimidas corroboram aqueles encontrados por Seiner e Gelfand(1995),aoavaliaremoefeitodasimulaçãomater-nadedepressãoeafastamentoparaainteraçãomãe-bebê. Diantedasmãesmenosresponsivas,expressivas,envolvidase falantes,osbebêstendiamaseafastarfisicamenteeapresen-tavammaiscomportamentosnegativosparachamaratenção. Quandoasmãesnãoestavamsimulandoafetodepressivoe afastamento,osbebêsevidenciavammaiscomportamentos positivosebrincavammaispróximosàsmães.
Além dos estilos interativos apresentados por mães deprimidas, as expressões afetivas das díades durante a interaçãomãe-bebêtambémforaminvestigadasemalguns estudossobreoimpactodadepressãodamãeemestágios maisavançadosdodesenvolvimentodobebê.Emumdes-sesestudos,Radke-Yarrow,Nottelmann,BelmonteWelsh (1993) examinaram diferenças na ocorrência de algumas expressõesdeafetodemãesdeprimidasenão-deprimidase deseusbebês.Osresultadosindicaramquemãesdeprimidas mostrarammaisafetonegativodoquemãesnão-deprimidas
eapontaramtambémparaumacorrelaçãoentreoafetodas mãesedosbebês.
Considerandooexposto,opresenteestudobuscouam-pliarasinvestigaçõesrelatadasnaliteratura,examinandoas implicações da depressão materna na interação mãe-bebê aos12mesesdevida,emumasituaçãodebrinquedolivre. Combasenaliteratura,aexpectativainicialeradequemães comindicadoresdedepressãotenderiamaapresentarmenos comportamentosfacilitadoresdaexploraçãodebrinquedos pelobebê,comointroduçãodebrinquedos,manutençãoda atenção do bebê nos brinquedos e demonstração física e verbal de afeto, e mais comportamentos não-facilitadores dessa exploração, como redirecionamento da atenção dos bebêsparaoutrosbrinquedos,intrusividade,contrariedade eapatia.Alémdisso,esperava-sequeosbebêsdemãescom indicadoresdedepressãodemonstrassemmaisafetonegativo (rejeiçãodebrinquedos,choro,vocalizaçõesnegativaseafas-tamentodamãe)doqueosbebêsdemãessemindicadores de depressão, e menos afeto positivo (definido este como focalizaçãodaatençãonosbrinquedos,sorrisos,vocalizações positivasebuscadeproximidadedamãe).
Método
Participantes
Participaramdesteestudo26díadesmãe-bebê,11das quaiscommãescomindicadoresdedepressão(moderada: 4;leve:7)e15commãessemindicadoresdedepressão. Adesignaçãoaosdoisgruposocorreuapartirdosescores obtidos pelas mães nas respostas ao Inventário Beck de Depressão(Beck&Steer,1993),quandoobebêestavacom 12meses.Todasasmãeseramprimíparas,nãoapresentaram complicações físicas durante a gestação e o parto e, com exceçãodeumamãeemcadagrupo,viviamcomospaisdos seusbebês.Osbebêseramdeambosossexos,comaidade de12mesesporocasiãodainvestigação.
Aamostrafoiselecionada,combasenoscritériosdescri-tosacima,dentreosparticipantesdo“EstudoLongitudinal dePortoAlegre:DaGestaçãoàEscola”(Piccinini,Tudge, Lopes&Sperb,1998).Esteestudoiniciouacompanhando aproximadamente 100 famílias, cujas gestantes eram pri-míparas,representandováriasconfiguraçõesfamiliares,de diferentesidades,escolaridadeeníveissocioeconômicos.O estudobuscouatendertodasasnormaséticasdecondutaem pesquisacomsereshumanos,tendosidoaprovadopeloCo-mitêdeÉticadoHospitaldeClínicasdePortoAlegre(Proc. nº98293).Ocontatoinicialparaparticipardesteestudofoi feitocomagestantenoterceirotrimestredegestação,através dehospitaisdaredepúblicaeprivadadePortoAlegre,postos desaúde,porindicaçãoeanúnciosemjornais.Quandoos bebêstinhamtrês,oitoedozemesesforamfeitascoletasde dados sobre seu desenvolvimento e interações familiares. Paraopresenteestudoforamutilizadososdadosobtidosaos dozemesesdevidadobebê.Detalhesdetodasascoletasde dadossãodescritosporPiccininiecols.(1998).
dos participantes. No grupo de mães com indicadores de depressãoasidadesvariaramentre15e27anos(MMM=21;
DP=3,4)enogrupodemãessemindicadoresdedepressão entre15e33anos(MMM=25,3;DP=5,7).Aescolaridadeno primeirogrupovarioudeseisa11anos(MMM=9,4;DP=1,7) enosegundodequatroa17anos(MMM=10,8;DP=3,6).O nívelsocioeconômicovarioudebaixoaalto,combasena escolaridadeeprofissãodasmães.Àsmãescujosescores obtidos no BDI3 revelaram a presença de indicadores de depressão foi oferecido atendimento psicoterápico por te-rapeutasintegrantesdogrupodepesquisa,apósacoletade dadosquandoseverificouadepressão.
Delineamentoeprocedimentos
Foi utilizado um delineamento de grupos contrastantes (Nachmias&Nachmias,1996),sendoumgrupocomdíades cujasmãesapresentavamindicadoresdedepressãoeooutro
com díades cujas mães não apresentavam indicadores de depressão.Examinou-seainteraçãoentreasdíadesdosdois gruposaos12mesesdevidadobebê,particularmentenoque serefereaoseuengajamentonaexploraçãodebrinquedos. Asfamíliaseramcontatadaseconvidadasparacompareceram àSaladeBrinquedosdoInstitutodePsicologiadaUFRGS, quandoerarealizadaaObservaçãodaInteraçãoFamiliar,e amãerespondiaaoInventáInventInvent rioBeckdeDepressão(Beck& Steer,1993).Nestaocasiãooutrosinstrumentostambémforam aplicados,cujosdetalhesencontram-seemPiccininiecols. (1998),masquenãosãoanalisadosnopresenteestudo.
Instrumentos
ObservaçãodaInteraçãoFamiliaroFamiliaroFamiliar(GIDEP,1998):esta sessãodeobservaçãoconstavadeumaseqüênciadequatro episódiosdeinteraçãolivreentreafamília:pai-mãe-bebê, pai-bebê,mãe-bebêenovamentepai-mãe-bebê.Cadaseqüên-ciatinhaaduraçãodeoitominutoseforamfilmadas.Parao presenteestudo,analisou-seseisminutosdainteraçãolivredo bebêcomamãe.Oprimeirominutofoidescartadoporserum períododeadaptaçãoaonovocontexto.Oúltimominutofoi descartadotendoemvistaqueemalgunscasosafilmagemfoi Tabela1.Dadosdemográficosdasmãescomindicadoresdedepressão
Nº NíveldeDepressão EscoreBDI Idade Estadocivil Escolaridadeemanos Ocupação Sexodobebê
1 Moderada 31 19 Solteira 11 Estudante Masculino
2 Moderada 20 20 Casada 10 Nãotrabalhafora Masculino
3 Moderada 20 20 Casada 8 Babá Masculino
4 Moderada 20 24 Casada 8 Nãotrabalhafora Feminino
5 Leve 16 27 Casada 11 Nãotrabalhafora Feminino
6 Leve 16 18 Casada 10 Estudante Feminino
7 Leve 15 24 Casada 6 Confeiteira Masculino
8 Leve 15 20 Casada 11 Comerciante Masculino
9 Leve 15 20 Casada 11 Aux.Escritório Masculino
10 Leve 12 15 Casada 8 Estudante Feminino
11 Leve 12 24 Casada 10 Garçonete Feminino
Tabela2.Dadosdemográficosdasmãessemindicadoresdedepressão
Nº Níveldedepressão EscoreBDI Idade Estadocivil Escolaridade
emanos Ocupação Sexodobebê
12 Ausente 11 23 Casada 11 Vendedora Feminino
13 Ausente 11 18 Casada 9 Nãotrabalhafora Masculino
14 Ausente 11 28 Casada 13 Nãotrabalhafora Masculino
15 Ausente 10 32 Casada 8 Aux.Lavanderia Masculino
16 Ausente 10 26 Casada 13 Nãotrabalhafora Feminino
17 Ausente 9 28 Casada 11 Serviçosgerais Masculino
18 Ausente 8 18 Solteira 11 Estudante Masculino
19 Ausente 8 19 Casada 7 Doméstica Masculino
20 Ausente 7 15 Casada 8 Nãotrabalhafora Feminino
21 Ausente 6 33 Casada 15 Fonoaudióloga Feminino
22 Ausente 6 31 Casada 16 Programadora Feminino
23 Ausente 6 27 Casada 4 Nãotrabalhafora Masculino
24 Ausente 6 25 Casada 8 Nãotrabalhafora Masculino
25 Ausente 6 32 Casada 17 Cons.Familiar Masculino
26 Ausente 4 24 Casada 11 Nãotrabalhafora Masculino
concluídaaindadentrodooitavominuto,oqueimpossibilitou quefosseutilizadocompletamente.Parafinsdeanálise,os seisminutosutilizadosforamdivididosemintervalosde15 segundos,totalizando24intervalos.Emcadaintervaloexa-minou-seapresençadeoitocategoriasdecomportamentos maternoseoitocategoriasdecomportamentosdobebê,de acordocomumprotocolodesenvolvidoporSchwengbere Piccinini(2001),oqualfoibaseadonossistemasdecodifi-caçãooriginalmentedesenvolvidosporHartecols.(1998), Lawsonecols.(1992)eRadke-Yarrowecols.(1993).As categoriasdecomportamentosmaternosforam:introduzum brinquedo,mantémaatenéé çãoemumbrinquedo,redireciona aatençãoparaoutrobrinquedo,evidenciaintrusividadeao brincar,expressaprazer/alegria,demonstraternura/afeição, evidencia apatia, demonstra contrariedade.As categorias decomportamentosdobebêforam:focalizaaatençãoem umbrinquedo,rejeitaumbrinquedo,sorri,chora,vocaliza positivamente,vocalizanegativamente,buscaproximidade, afasta-se/resisteaocontato.
Doisobservadoresforamtreinadosparaautilizaçãodo protocolodeobservaçãoduranteaproximadamente30horas, assistindoavídeosdeinteraçãomãe-bebêdeoutrospartici-pantesdoprojetodepesquisalongitudinal.Otreinamento levouaalgumasmodificaçõesnadefiniçãodascategorias decomportamentosparamelhoradequaçãodoinstrumento. Apósessetreinamentoinicial,seiscasosforamutilizados pelosdoiscodificadoresparaocálculodoíndicedeconcor-dâncianaanálisedascategorias,realizadoatravésdoKappa. Nas categorias de comportamentos maternos o índice de concordânciaatingiu0,674enquantoquenascategoriasde comportamentosdobebêatingiu0,85.Umavezestabelecidos essesíndices,osdoiscodificadoresexaminaramseparada-mentetodososoutros20videoteipes.Eventuaisdiferenças entreoscodificadoresforamdirimidasposteriormentepor umterceirocodificador,nocasoapesquisadora.
Inventário Beck de Depressão - BDI (Beck & Steer, 1993): esteinstrumento éumaescalasintomáticadeauto-relato, composta por 21 itens com diferentes alternativas de resposta a respeito de como o sujeito tem se sentido recentemente, e que correspondem a diferentes níveis de gravidadedadepressão.Asomadosescoresdositensin-dividuaisforneceumescoretotal,queporsuavezconstitui um escore dimensional da intensidade da depressão, que pode ser classificado nos seguintes níveis: mínimo, leve, moderadoougrave.AversãoemportuguêsdoInventário BeckdeDepressãoresultoudeumaformulaçãoconsensual datraduçãodooriginaleminglês,comacolaboraçãodequa-tropsicólogosclínicos,quatropsiquiatraseumatradutora, sendotestadajuntocomaversãoeminglêsem32pessoas bilíngües,comtrêsdiasdeintervaloevariandoaordemda apresentaçãodosdoisidiomasnasduasmetadesdaamostra (Cunha, 2001; Cunha, Prieb, Goulart & Lemes, 1996).A consistênciainternadoBDIfoide0,84eacorrelaçãoentre testeeretestefoide0,95(p
testeeretestefoide0,95(
testeeretestefoide0,95( <0,001).Tendoemvistaque muitasdasparticipantesdopresenteestudopossuíamnível educacionalbaixo,optou-seporaplicarseparadamentecada
itemdoinventário,osquaisforamapresentadosemcartões pelospesquisadoresparacadaparticipante.Umexameini-cialdaaplicaçãomostrouqueesseprocedimentofacilitava acompreensãoporpartedasparticipantes.
Resultados
Umaanáliseinicialdosdadosfoirealizadaparaexaminar oefeitogeraldacondiçãomaterna(comesemindicadoresde depressão)nosescorestotaisdecomportamentosmaternos e infantis. Para tanto, as categorias maternas foram agru-padasedenominadasfacilitadorasounão-facilitadorasda interaçãomãe-bebê,emparticularnoengajamentodobebê na exploração de brinquedos.As categorias classificadas comofacilitadorasforam:introduzumbrinquedo,mantéméé aatençãoemumbrinquedo,expressaprazerealegriaede-monstraternuraeafeição.Jáascategoriasclassificadascomo não-facilitadorasforam:redirecionaaatençãoparaoutro brinquedo,evidenciaintrusividadeaobrincar,mostraapatia emostracontrariedade.DamesmaformaDamesmaformaDamesmaforma ascategoriasde,
comportamentosinfantisforamagrupadasedenominadasde
afetopositivoeafetonegativo.Ascategoriascompreendidas comoenvolvendoafetopositivoforam:focalizaaatenção em um brinquedo, sorri, vocaliza positivamente e busca proximidade.As categorias consideradas afeto negativo foram:rejeitaumbrinquedo,chora,vocalizanegativamente eafasta-se/resisteaocontato.
ATabela3apresentaaincidênciamédia,desviopadrão, valordeFeníveldesignificânciaparaosescorestotaisde comportamentosmaternoseinfantis.Paraexaminaroefeito geraldapresençadeindicadoresdedepressãomaternanos escorestotaisdecomportamentosmaternoseinfantis,duas análisesmultivariadas(MANOVA)foramrealizadassepara-damente,sendoumaparaosescorestotaisdecomportamentos maternoseoutraparaosescorestotaisdecomportamentos infantis.Umaanáliseinicialnãodemonstrounenhumefeito dosexodobebê,idadeeescolaridadedamãenaincidência totaldecomportamentosmaternoseinfantis.Poressarazão, esses fatores não foram utilizados como co-variantes nas análisesmultivariadas.Procedimentosimilarfoiadotadopor Hossain,Field,Gonzalez,MalphurseDelValle(1994),Pelaez-Nogueras,Field,Cigales,GonzalezeClasky(1994)eHarte cols.(1999)emestudosenvolvendodepressãomaternaque utilizaramamostrasdetamanhosemelhante.Exameinicialdos dadosmostrouqueemborahouvessecertaheterogeneidadena distribuiçãodosescoresentreosgruposdopresenteestudo, os testes propostos são suficientemente robustos para lidar comavariânciaencontrada.Aanálisemultivariada2(mães comindicadoresdedepressãoversusmãessemindicadores dedepressão)x2(comportamentosfacilitadoresversus com-portamentosnão-facilitadores)utilizandoosescorestotaisdos comportamentosmaternosrevelouumefeitosignificativoda presençadeindicadoresdedepressãodamãenaincidência total dos comportamentos maternos facilitadores e não-facilitadores(FFF(2,23)=6,65,ρρρ<0,006;Wilk’slambda= 0,63).Osresultadosindicaramquemãescomindicadoresde depressãoapresentarammenoscomportamentosfacilitadores (p
(( <0,001)eumatendênciaaapresentarmaiscomportamentos não-facilitadores(p
não-facilitadores(
não-facilitadores( <0,07)quandocomparadasàsmãessem indicadoresdedepressão.
Asegundaanálisemultivariada2(mãescomindicadores dedepressãoversusmãessemindicadoresdedepressão)x2 (afetopositivoversusafetonegativo)realizadanosescores totaisdoscomportamentosinfantisrevelouumefeitosigni-ficativodapresençadeindicadoresdedepressãomaternana incidênciatotaldeafetoinfantilpositivoenegativo(FFF(2,23) =3,89,ρρρ <0,03;Wilk’slambda=0,74).Osresultadosindi-caramqueosbebêsdemãescomindicadoresdedepressão apresentarammaisafetonegativo(p
apresentarammaisafetonegativo(
apresentarammaisafetonegativo( <0,01)doquebebês demãessemindicadoresdedepressão.Nãohouvediferença significativaparaototaldecomportamentospositivosdos bebêsdeambososgrupos.
Paraexaminarmaisdetalhadamenteoefeitodapresença deindicadoresdedepressãomaternasobrecadacategoriade comportamentosmaternoeinfantil,análisedevariânciafoi realizadaseparadamenteparacadacategoriadecomporta- mentos.ATabela4apresentaaincidênciamédia,desviopa-drão,valordeFFFeníveldesignificânciaparacadacategoriade comportamentosmaternos.Osresultadosrevelaramalgumas
diferençassignificativasentreosgruposnaincidênciados comportamentosobservados.Asmãescomindicadoresde depressão,quandocomparadascommãesdooutrogrupo, apresentaram uma incidência de comportamentos signifi-cativamentemenornascategoriasmantématenéé çãoemum brinquedo(ρ<0,03),demonstraternuraeafeição(ρ<0,02) eumaincidênciasignificativamentemaiornacategoria de-monstraapatia(ρ<0,03).Alémdisso,háumatendênciadas mãescomindicadoresdedepressãoaapresentaremmenor incidêncianacategoriaintroduzumbrinquedo(ρ<0,08).
ATabela5apresentaaincidênciamédia,desviopadrão,va-lordeFFF eníveldesignificânciaparacadacategoriadecomporta-mentosinfantis.Osbebêsdemãescomindicadoresdedepressão apresentaramumaincidênciasignificativamentemaiornacate-goriavocalizanegativamente(ρ<0,01).Alémdisso,ocorreu umadiferençamarginalmentesignificativanacategoriasorri
(ρ<0,06),indicandoqueosbebêsdemãescomindicadores dedepressãotenderamasorrirmenosdoqueosdemãessem indicadoresdedepressão.
Tabela3.Incidênciamédia,desviopadrão,valordeFeníveldesignificânciaparaototaldeescoresdecomportamentosmaternoseinfantisnosgruposcom esemindicadoresdedepressão
Comportamentos MãescomindicadoresdedepressãoM(DP) MãessemindicadoresdedepressãoM(DP) F ρ<
Maternos
Facilitadores 37,45(8,66) 46,73(3,84) 13,69 0,001
Não-facilitadores 17,90(9,40) 12,00(6,65) 3,53 0,07
Infantis
Afetopositivo 29,90(7,75) 33,33(5,55) 1,73 0,20
Afetonegativo 4,54(2,80) 2,13(1,84) 7,00 0,01
Tabela4.Incidênciamédia,desviopadrãoeníveldesignificânciaparacadacategoriadecomportamentosmaternosnosgruposcomesemindicadoresde depressão
Comportamentosmaternos MãescomindicadoresdedepressãoMMM DP( ) MãessemindicadoresdedepressãoMMM DP( ) F ρ<
Introduzumbrinquedo 0,91(1,14) 2,07(1,87) 3,30 0,08
Mantémaatenção 16,36(4,34) 19,47(2,59) 5,19 0,03
Expressaprazerealegria 0,91(1,64) 2,20(2,11) 2,84 0,10
Demonstraternuraeafeição 19,27(5,46) 23,00(2,30) 5,68 0,02
Redirecionaaatenção 6,00(3,92) 5,29(3,14) 0,34 0,56
Evidenciaintrusividade 4,82(3,74) 4,27(3,20) 0,16 0,68
Demonstraapatia 3,64(5,63) 0,33(1,05) 5,00 0,03
Demonstracontrariedade 3,45(2,58) 2,20(2,24) 1,74 0,19
Tabela5.Incidênciamédia,desviopadrãoeníveldesignificânciaparacadacategoriadecomportamentosinfantisnosgruposcomesemindicadoresde depressão
Comportamentosinfantis MãescomindicadoresdedepressãoMMM DP( ) MãessemindicadoresdedepressãoMMM DP( ) F ρ<
Focalizaatençãoemumbrinquedo 18,18(3,76) 19,27(3,77) 0,52 0,47
Sorri 0,45(0,30) 1,20(1,90) 3,65 0,06
Vocalizapositivamente 10,45(6,59) 12,40(4,79) 0,76 0,39
Buscaproximidade 1,18(1,89) 0,47(0,92) 1,64 0,21
Rejeitabrinquedo 1,91(1,76) 1,20(1,42) 1,29 0,26
Chora 0,18(0,60) 0,33(0,62) 0,39 0,53
Vocalizanegativamente 2,27(2,15) 0,47(0,83) 8,88 0,01
Discussão
Osresultadosdopresenteestudoapóiamasexpectativas iniciaisdequemãescomesemindicadoresdedepressão apresentariam uma incidência de comportamentos dife-rente durante a situação de interação livre.As mães com indicadores de depressão apresentaram significativamente menoscomportamentosfacilitadoresdaexploraçãodeob-jetospelobebêetambémumatendênciaaapresentarmais comportamentosnão-facilitadoresdessaexploração.Juntos, essesachadosapóiamaexpectativadequeainteraçãomãe-bebê parece ser influenciada pela presença da depressão materna.
Umaanáliseespecíficadecadacategoriadecomporta-mentosmaternostambémindicoudiferençassignificativas entreosgruposemdiversascategorias.Mãescomindica-doresdedepressãoapresentaramsignificativamentemenos comportamentosdemanutençãodaatençãodeseusbebêsem umbrinquedo,alémdeumatendênciaaintroduziremmenos brinquedosparaacriança.Essesresultadosapóiamasevidên-ciasdequemãesdeprimidastendemasermenosatentasem relaçãoaosbrinquedosdobebê(Breznitz&Friedman,1988). Poroutrolado,contrariamosresultadosencontradosporHart ecols.(1998)emumestudoqueobservouainteraçãomãe-bebê,oqualnãoreveloudiferençasnousodessascategorias entremãesdeprimidasenão-deprimidas.Épossívelqueessa inconsistênciaentreosestudosdeva-seaproblemasmetodo-lógicos,emvirtudedeque,nopresenteestudo,utilizou-se umtempomaiordeobservaçãodainteraçãodoquenoestudo deHartecols.(1998)baseadoemapenastrêsminutosde interação.Poder-se-iapensarqueoperíodomaisprolongado deobservaçãotenhaatenuadoaartificialidadedasessãode observação,permitindoàsmãesamanifestaçãodecompor-tamentosmaiscondizentescomaquelesqueeventualmente apresentariamemsituaçõesnaturaisdeinteraçãocomseus bebês.Nessesentido,aexacerbaçãodasdiferençasentreos gruposqueocorreunopresenteestudopoderiaserexplicada emtermosdeumagradativadescontraçãodasmãesfrenteà situaçãodefilmagem.
Outradiferençaimportanteentreosgruposrefere-seàs evidênciasdequemãescomindicadoresdedepressãoforam menosenfáticasnademonstraçãofísicaeverbaldeafetoe maisapáticasdoquemãessemindicadoresdedepressão. Esses resultados apóiam aqueles encontrados por Radke-Yarrowecols.(1993)que,aoexaminaremosescorestotais daexpressãodeafetodemãesdeprimidaseminteraçãocom seusbebês,verificaramqueestasdemonstrarammaisafeto negativodoquemãesnão-deprimidas.Maisespecificamente, osautoresencontraramquemãesdeprimidasmostrarammais expressõesdeansiedade,tristeza,apatiaemenosternurae afeiçãocomosbebêsdoquemãesnão-deprimidas.
Emboraasdiversasdiferençasreveladasentreosgrupos no presente estudo sejam apoiadas pela literatura, outras que eram esperadas, como, por exemplo, que mães com indicadoresdedepressãoapresentariammaiorintrusividade eredirecionamentodaatençãodobebêduranteainteração (Breznitz&Friedman,1988;Hart&cols.,1998;Hart&cols., 1999;McElwain&Volling,1999)nãoforamencontradas. Alémdisso,algunsautoresconsideraramquedemonstrações decontrariedadeeexpressõesdeprazerealegriatambém
constituiriam dimensões afetivas relevantes para a identi-ficação de diferenças comportamentais ocasionadas pela depressãodamãe(Teti&Gelfand,1991).Porém,nopresente estudo,nãoforamencontradasdiferençassignificativasentre osgruposemrelaçãoaessascategorias.
Quanto às categorias de comportamentos infantis, di-ferenças também foram encontradas entre os grupos. Os resultadosdaanálisedosescorestotaisdoscomportamentos infantisrevelaramquebebêsdemãescomindicadoresde depressãodemonstrarammaisafetonegativodoquebebês demãesdooutrogrupo.Essesachadosapóiamevidências anterioressobremaisdemonstraçãodeafetonegativoentre bebêsdemãesdeprimidas,independentementedogêneroda criança(Radke-Yarrow&cols.,1993).Porém,corroboram apenas parcialmente aqueles encontrados por Hart e cols. (1998)queencontraramquefilhasdemãesdeprimidasapre-sentarammaisafetonegativo,nãoocorrendoomesmocom bebêsdosexomasculino.Alémdisso,osautoresencontraram quefilhasdemãesdeprimidasapresentaramtambémmenos afetopositivo.Nopresenteestudo,nãoforamencontradas diferençasentreosbebêsdemãescomesemindicadoresde depressãoemrelaçãoaosescorestotaisdeafetopositivo.Da mesmaforma,nãofoiencontradoefeitodogênerodobebêna incidênciatotaldecomportamentosmaternoseinfantis.
Jáosresultadosdasanálisesrealizadasseparadamente paracadaumadascategoriasdecomportamentosinfantis revelaramdiferençasexpressivasemapenasduasdasoito categoriasexaminadas.Bebêsdemãescomindicadoresde depressão apresentaram significativamente mais vocaliza-çõesnegativas.Alémdisso,foiencontradaumadiferença marginalmente significativa na categoriasorri, indicando queosbebêsdemãescomindicadoresdedepressãosorriam menosdoquebebêsdemãessemindicadoresdedepressão. ResultadossemelhantesforamencontradosporFieldecols. (1996),aocompararemoengajamentodebebêsde12me-ses,filhosdemãescomesemdepressão,emumasituação estruturadadeexploraçãodebrinquedos.Elesencontraram quebebêsdemãesdeprimidassorriammenosetinhammais vocalizaçõesnegativas.
Aforaasdiferençasrelatadasacimaquesãoapoiadaspela literatura,algunsestudostêmindicadoquebebêsdemãesde-primidastendemafocalizarmenosaatençãoembrinquedos duranteainteraçãocomsuasmães(Hart&cols.,1998),re-jeitambrinquedosmaisfreqüentemente(Hart&cols.,1998; Seiner&Gelfand,1995),têmmenosvocalizaçõespositivas (Field&cols.,1996),afastam-sedasmãesechorammais vezes (Radke-Yarrow & cols., 1993). Porém, no presente estudonãoforamconstatadasdiferençassignificativasentre osgruposnoqueserefereaessescomportamentos.
comportamentalqueumamãedeprimidapodemanifestar aointeragircomoseubebê.Oprimeirocaracteriza-sepelo afastamentoemocionaldamãeenquantoosegundocaracteri-za-seporsuaintrusividadeeexcessodeestimulação(Hart& cols.,1999;McElwain&Volling,1999).Emboraaavaliação dessesestiloscomportamentaisnãotenhasidoprivilegiadano presenteestudo,osresultadosencontradospermitempensar emumatendênciadasmãescomindicadoresdedepressão amanifestaremumestilomaisapáticodoqueintrusivoao interagiremcomseusbebês.
Poder-se-iapensartambémqueaausênciadediferen-çasemrelaçãoàincidênciadecomportamentosmaternos intrusivosederedirecionamentodaatençãodobebêesteja associadaàprópriasessãodeobservação.Nopresenteestu-dooptou-sepelaobservaçãodeumasituaçãodebrinquedo livreaoinvésdeumasituaçãoestruturada,comoaquefoi utilizadaporMcElwaineVolling(1999)aoavaliaremain-trusividadedemãesdeprimidasenão-deprimidascomseus bebês.Essesautoresapontaramquesessõesdebrinquedo previamenteestruturadas,nasquaispropõe-seàmãeeao bebêaresoluçãodeumadeterminadatarefa,requeremuma maioratividadeedirecionamentoporpartedamãe,oque pode ter exacerbado o aparecimento de comportamentos intrusivosentreasmãescomdepressão.Nopresenteestudo, aausênciadeumaatividadeestruturadaparaadíaderealizar pode ter contribuído para que esses comportamentos não pudessem ser vistos como mais característicos de um ou outrogrupodemães.Emvirtudedisso,asituaçãodebrin-quedolivreutilizadanesteestudopodetercontribuídoparaa ausênciadediferençassignificativasemalgumascategorias decomportamentosinfantis,comoporexemplofocalizaa atenção,aonãoexigirdamãeumaparticipaçãomaisefetiva. Algunsautoressugeriramqueoscomportamentosdosbebês naexploraçãodebrinquedossãodiretamenteinfluenciados pelasestratégiasdeatençãoutilizadaspelamãe(Lawson& cols.,1992).Apoiandoessasconcepções,aliteraturaaponta tambémquebebêsdemãesdeprimidastendemafocalizar menosaatençãonosobjetosàsuavolta,enquantoamãe tendearedirecionaraatençãodobebêeasermaisintrusiva (Breznitz&Friedman,1988;Hart&cols.,1998).
Aausênciadediferençassignificativasentreosgrupos emrelaçãoàscategoriasdecomportamentosmaternos de-monstracontrariedadeeexpressaprazerealegriacorrobora oestudode Radke-Yarrowecols.(1993),quetambémnão encontraramdiferençassignificativasentremãesdeprimidas enão-deprimidasnessascategorias,emborativessemexpec-tativasnessesentido.Poder-se-iapensarqueessaausênciade diferençasnopresenteestudoestejarelacionadaapossíveis esforçosdasmãesnosentidodeestarememocionalmente maispróximasdeseusbebês,cantando,gargalhandoecome-morandoseusfeitostantoquantomãesquenãoapresentavam indicadoresdedepressão.ComosugeriuStern(1997),uma vezdeprimidasasmãeslutariamcontrasuarelativafaltade disponibilidadecomobebêe,porvezes,obteriamsucesso nessastentativas.
Ofatodequepoucasmãesdopresenteestudoapresen-tavamníveismaisgravesdedepressãopodetercontribuído para a ausência de diferenças entre os grupos tanto nas categorias de comportamentos maternos como infantis. É possívelpensarqueasdiferençasentreosgruposdemães
comesemindicadoresdedepressãopudessemserexacerba-dasdiantedeumnúmeromaiordemãescomdepressãoem níveismaisgraves.Alémdisso,algunsautoressugeriramque asrepercussõesdadepressãodamãenainteraçãomãe-bebê estãoestreitamenterelacionadasaotempodepermanência dodiagnóstico,nosentidodeque,quantomaioressetempo, maioresseriamasimplicaçõesnoscomportamentosmater-noseinfantis(Campbell&cols.1995;Field&cols.,1996). Nopresenteestudo,acronicidadedosquadrosdepressivos apresentados pelas mães não foi examinada.Apesar da amostraserderivadadeumainvestigaçãolongitudinalque acompanhavaasmãesdesdeagestação,foraminvestigados indicadoresdedepressãomaternaapenasquandoosbebês estavamcom12mesesdevida.
Umoutropontoaserressaltadoemrelaçãoàausência de diferenças entre os grupos em algumas categorias de comportamentosdamãeedobebê,refere-seàadequação doprotocoloutilizadonopresenteestudoparaoexameda interaçãomãe-bebê.Épossívelqueelenãotenhasidosu-ficientementesensívelparacaptaralgumasparticularidades nadinâmicamãe-bebêdosdoisgrupos,principalmenteem virtude do tempo reduzido da sessão de observação (seis minutos). Poder-se-ia pensar que durante o curto período defilmagemasmãestenhamsepreocupadoemmostraro melhordesi,oquecolaborariaparaaausênciadediferenças significativasentreosgruposemalgumascategoriascomo, porexemplo,nacategoriamaterna demonstracontrarieda-deenacategoriainfantilafasta-se/resisteaocontato.Essa possibilidadeparecetersidorespaldadanopresenteestudo pelasevidênciasdaocorrênciadealgumasdiferençasque nãoforamencontradasemumestudosemelhante,noqualos autoresutilizaramumperíododetempoaindamaisreduzido naobservaçãodainteraçãomãe-bebê(Hart&cols.,1998).
Tendoemvistaessasconsiderações,éimportanteque novos estudos busquem ampliar a compreensão sobre as implicaçõesdadepressãomaternanaqualidadedeintera-çãomãe-bebê,utilizandoamostrasmaioresinvestigadasem situaçõesestruturadasetambémnaturalísticas,permitindo quesecompreendaadinâmicadainteraçãoemdiferentes contextos. De qualquer modo, os resultados do presente estudoreafirmamoimpactopotencialdadepressãomaterna paraainteraçãomãe-bebê.Apontamparticularmenteparao seupapelnofinalprimeiroanodevida,considerando-seque muitosautorestêmsededicadoprincipalmenteaoestudode suasrepercussõesnosprimeirosmesesapósoparto.
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Recebidoem05.04.2004 Primeiradecisãoeditorialem02.11.2004 Versãofinalem11.11.2004