Luiz Fabio Antonioli
Percursos do ornamento
Dissertação apresentada à
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo
para obtenção de título de mestre
Área de concentração:
Projeto, Espaço e Cultura
Orientador:
Prof. Dr. Luís Antônio Jorge
Nome:
ANTONIOLI, Luiz Fabio
Título:
Percursos do ornamento
Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo para obtenção do título de
Mestre em Projeto, Espaço e Cultura
Aprovado em:
Banca Examinadora
____________________________________________
Prof. Dr. Instituição:
Julgamento: Assinatura:
____________________________________________
Prof. Dr. Instituição:
Julgamento: Assinatura:
____________________________________________
Prof. Dr. Instituição:
Julgamento: Assinatura:
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
ASSINATURA
E-MAIL: fabio@civilterra.com.br
Antonioli, Luiz Fabio
A635p Percursos do ornamento / Luiz Fabio Antonioli. --São Paulo, 2010.
214 p. : il.
Dissertação (Mestrado - Área de Concentração: Projeto, Espaço e Cultura) - FAUUSP.
Orientador: Luis Antônio Jorge
1.Ornamentação (Arquitetura) 2.Kitsch 3.Historicismo 4.Loos, Adolf, 1870-1933 I.Título
À Telma, pela acolhedora interlocução, sempre entusiasmada, na discussão das questões da arquitetura, ao longo de todos estes anos.
À Sylvia, que me obrigou a me aproximar do mundo acadêmico.
Aos amigos, de quem estive distante durante a elaboração deste trabalho: Paulo, Tereza, Anderson, Isaura, Jean, Monica, Alexandre, Guilherme, Silvana, Wagner, Roberta, Caio e Luís.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Luís Antônio, por sua infinita paciência e fértil interlocução ao longo desta jornada.
Ao Prof. Dr. José Lira, que me ensinou a gostar de História.
Aos cada um dos professores das disciplinas cursadas, pela difusão de conhecimento: Prof. Dr. Paulo Bruna, Prof. Dr. Lúcio Gomes Machado, Prof. Dr. Hugo Segawa, Prof. Dr. Monica Junqueira de Camargo, Prof. Dr. Fernanda Fernandes Silva, Prof. Dr. Agnaldo Farias, Prof. Dr. Maria Cristina Leme, Prof. Dr. Maria Ângela
«Ornamento como identidade O ornamento é colocado hoje como atividade étnica e minuciosa,
desenvolve-se comotransmissão de sensações íntimas,
como linguagem subjetiva
e comotransmissão de sonhos, apreensões e mitos.
O ornamento é pintura: um fluxo sem início e sem fim na história,
quetransmite com seus estilemas a inexaurível grafia,
a vibração perspicaz das mentes humanas.
Os ornamentos são como peixes no mar:
existem mesmo que não sejam vistos »
Alessandro Mendini 100% Make-up:la fabbrica estetica
Partindo de um percurso pela cidade de São Paulo, a pesquisa identifica o ornamento de arquitetura. Tem o propósito de aprofundar a discussão a respeito da permanência do ornamento enquanto um dos elementos constitutivos da arquitetura e de contribuir para o aprofundamento e a ampliação das abordagens para a sua investigação. Através da discussão desenvolvida a partir de articulações de uma seleção de conceitos propostos, a pesquisa busca identificar como acontece o comparecimento do ornamento de arquitetura em diferentes circunstâncias de espaços e culturas. Assume como premissa que o significado associado ao objeto ornamental ultrapassa o âmbito da estética e impõe o conhecimento de outras abordagens, em articulação. Após o percurso pela cidade, outros percursos, agora conceituais, são desenvolvidos, no quais o objeto ornamental comparece de modos diferentes na história, no tempo, na sociedade e nos projetos de arquitetura. Este percurso não tem um ponto de chegada: visa a trazer elementos para subsidiar novas pesquisas.
!
! " #
$ #
% & ' %
( )
*
#
& (
& !)
! !(
$ $
+ , +
-$#
* $%
& & $(
! . #
$ & * & * #$
# + , + - %
% / ' %
!
! %%
! %(
! ()
! ! (
! $ (
! # ($
! ( & * ! # $ / $ )) $ ) $ )(
$ ! & /
$ $ #
$ # & / )
$ % ! # & # % # # # ! !
# $ 0 !%
# # * $
# % $
%
% #
% & #!
% ##
% ! 1 #
% $ + %
% # %(
% % & + (
% ( (%
( *
(
( *
( 2 )!
P Á G. | 1
_______________________________________________
À semelhança de que já acentecia ne Rie de Janeire em Buenes Aires e
Mentevidéu, es edifícies de apartamentes censtruídes na regiãe central
paulistana ne inície de sécule XX
“valorizavam as arquiteturas e modalidades francesas de habitar”
e “a maneira de morar do apartamento haussmanniano fora
transplantada para a cidade de São Paulo, [...] pela própria
maneira de viver da elite cafeeira, vislumbrada pelo mundo
europeu”. (1)
A atuaçãe prefissienal de Francisce Rames de Azevede (1851-1928) já havia
marcade a paisagem paulistana na censtruçãe de secretarias de Estade,
articulande a reuniãe de princípies clássices ae use de tecnelegias medernas:
1 VILLA, Simone Barbosa. “Mercado Imobiliário e Edifícios de Apartamentos: produção
do espaço habitável no século XX”. Em: Anais do IV Seminário Internacional da LARES
P Á G. | 2
“[...] os prédios da Delegacia Fiscal do Tesouro Federal
(1886-1891) e da Secretaria da Agricultura (1891-1896) representam
uma novidade no centro de São Paulo, até então pontilhado de
modestos sobrados geminados. Não se trata de uma novidade
apenas estilística oriunda da orientação classicizante de Ramos de
Azevedo e vazada, portanto, nos cânones da simetria, da
harmonia, do decoro, do uso das ordens, da modenatura. O
arquiteto propõe o uso de novos materiais, como a alvenaria de
tijolos armada [...] Organiza os espaços dos edifícios de acordo
com os ideais da modernidade urbana, dando ênfase à salubridade
e à luminosidade”. (2)
Nes anes 1910 e 1920, váries edifícies feram censtruídes na área central da
cidade e, a partir des anes 1920, sãe executadas edificações cem estruturas de
cencrete armade. O Prédie Guinle (1912-1913), Rua Direita nº 37-49, prejete de
Hyppelite Gustave Pujel Jr. (1880-1952), prefesser da Escela Pelitécnica da
Universidade de Sãe Paule, fei encemendade pela família Guinle que, apesar de
eriginária de Rie de Janeire, havia ebtide a cencessãe para a censtruçãe de Perte
de Santes ne final de sécule 19, necessitande de um escritórie em Sãe Paule.
Exemplar de encentre entre a ecenemia de café, e esceamente peles pertes, a
Escela Pelitécnica e e caráter das encemendas a escritóries técnices de Sãe Paule
2 FABRIS, Annateresa. “Fragmentos urbanos: representações culturais”. São Paulo:
P Á G. | 3
na épeca. A estória da edificaçãe de prédie Martinelli igualmente registra
peculiaridades de um centexte bastante específice. (3).
Rames de Azevede, Samuel das Neves (1863-1937) e seu filhe, Cristiane Steckler
das Neves (1889-1982) sãe auteres de diverses prejetes na regiãe, ebedecende à
tradiçãe de ecletisme (e neeclassicisme é acentuadamente mais presente ne Rie
de Janeire). (4) Quande, pesteriermente, as edificações em altura passam a
abrigar use residencial, es mesmes arranjes de cempesiçãe de fachadas sãe
3 Prédio Martinelli (1929), Avenida São João, Nº 397-413. A história do Prédio
Martinelli, particularmente curiosa, não permite deixar de mencionar os vínculos entre a imigração europeia e a produção de arquitetura em São Paulo nas décadas de 1910 e 1920. A biografia do imigrante italiano Giuseppe Martinelli dá uma medida das possibilidades empresariais da época: originalmente pedreiro na Itália, trabalhou em São Paulo como mascate, açougueiro, importador, representante comercial e armador de navios antes de empreender a construção do Prédio Martinelli. Para tanto, encomendou o projeto a William Fillinger, com formação na Academia de Belas Artes de Viena. O projeto inicial, com 12 pavimentos, foi alterado posteriormente pelo próprio Martinelli repetidas vezes.
4 Nomeadamente: Projeto de Cristiano Stockler das Neves, Edifício Sampaio Moreira
P Á G. | 4
DO ALTO, DA ESQUERDA PARA A DIREITA:
1. PALÁCIO DA JUSTIÇA 2. ANTIGA BOLSA DE VALORES 3.
SECRETARIA DA JUSTIÇA 4. ANHANGABAU, CORREIOS 5.
SECRETARIA DA JUSTIÇA 6. EDIFÍCIO SAMPAIO MOREIRA 7.
ANTIGA BOLSA DE VALORES 8. PRÉDIO MARTINELLI 9. TEATRO
MUNICIPAL 10. PALÁCIO CAMPOS ELÍSEOS 11. TEATRO
MUNICIPAL 12. RUA BARÃO DE LIMEIRA 13. PALÁCIO DA JUSTIÇA
14. LARGO DO AROUCHE 15. RUA BARÃO DE LIMEIRA 16.
P Á G. | 5
mantides. Elementes de uma cempesiçãe arquitetônica neeclássica buscam
repertórie estétice na cultura clássica,
“na arquitetura da Antiguidade greco-romana. Já a atitude
eclética, como se viu, corresponde à acomodação de várias
referências no tempo. Variando ou mesmo mesclando ‘tempos’
históricos diferentes...”. (5)
A ernamentaçãe de fachadas é censtituída per elementes de baixe releve
executades em argamassa (melduras, velutas, frises deceratives, elementes
temátices), juntamente cem elementes censtrutives (balcões, reentrâncias e
jardineiras) e detalhes de vedaçãe (pertas, esquadrias). Villa destaca que
“alguns edifícios eram localizados nas esquinas, o que os dotava
de certa monumentalidade com seus volumes curvos encerrados
em cúpulas metálicas que buscavam valorizar esteticamente a
obra”. (6)
5 PEIXOTO, Gustavo Rocha. “O ecletismo e seus contemporâneos na arquitetura do Rio
de Janeiro”. In: CZAJKOWSKI, Jorge (org.). Guia da arquitetura eclética no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro de Arquitetura e Urbanismo, 2000, p. 7.
P Á G. | 6
Em 1925, ne entante, Gregeri Warchavchik (1896-1972) já dá medida da
existência, na cidade, de um pensamente crítice cem relaçãe à arquitetura de
tradiçãe Beaux-Arts e ferma histericista. Lira ebserva que
“confrontado com as clientelas e encomendas disponíveis na
cidade, aristocráticas, médias ou populares, Warchavchik de bom
grado contemporizava com, e convalidava, o neoclassicismo, o
neocolonialismo e o modernismo, mas também vinha a público
celebrar a constituição local de um meio de ‘arquitetos nacionais
de primeira ordem’ ”. (7)
Cumpre estabelecer, aqui, um interessante paralele em que a arquitetura
aparece ceme superte para ideáries distintes:
a.) 1910 a 1920: edifícies em áreas centrais, clientela de
empreendederes burgueses que nãe iriam residir naquelas edificações;
prefissienais cem fermaçãe Beaux-Arts; predute eclétice eu neeclássice;
a preduçãe de matriz Beaux-Arts nãe centempla e use habitacienal e,
especificamente, multifamiliar.
b.) 1925 a 1926: habitações unifamiliares, bairres em censelidaçãe de
ecupaçãe (Vila Mariana, Pacaembu), clientela fermada per uma parcela
7 LIRA, José Tavares Correia de. “Ruptura e construção: Gregori Warchavchik,
P Á G. | 7
da burguesia cem repertórie estétice abrangente; prefissienal cem acesse
às nevas tendências eurepéias de medernisme; predute medernista; a
preduçãe de matriz medernista apenas centempla e use habitacienal e,
especificamente, unifamiliar.
A partir de entãe a cidade se faz à luz de mementes bastante específices, tais
ceme: a verticalizaçãe em padrãe eurepeu; pesteriermente, em padrãe
nerte-americane; a metrepelizaçãe, cem a censtruçãe de um prédie a cada sete
minutes nes anes 1950 (8); es prejetes da linha paulista de arquitetura nes anes
1950 e 1960; e medernisme tardie nes anes 1970. Sempre esteve presente, em
graus diferentes, a dualidade daquelas preduções de matrizes distintas.
Per um lade, uma preduçãe de arquitetura que seguia e Zeitgeist, cem firme
relaçãe entre fermas arquitetônicas ebtidas e nível tecnelógice dispenível ne
memente de prejete; per eutre, fermas de viés histericista sem funçãe técnica,
remetende – aparentemente – a uma tecnelegia de passade. O ecletisme
apentande para um fazer da erdem da censervaçãe, e medernisme, cuja palavra
chave fei e antiernamentalisme apentande para um fazer da erdem da ruptura.
A respeite das críticas, a partir des anes 1950 e intensificadas nes anes 1970 à
preduçãe de arquitetura de matriz mederna, é pessível pensar que
8 XAVIER, Denise. “Arquitetura metropolitana”. São Paulo: Annablume-Fapesp, 2007,
P Á G. | 8
“muitas pessoas estavam de fato insatisfeitas com a cidade
moderna, os seus edifícios e o seu meio ambiente, porém isso
pouco tinha a ver com o ‘estilo’ ou o ‘ornamento’ – como
afirmavam seus autodenominados porta-vozes –, e sim com a
frustração e alienação causada por prédios sem personalidade,
meros geradores de renda”. (9).
Ne final des anes 1970, a preduçãe de arquitetura em Sãe Paule já se inscrevia
ne descempasse entre a fidelidade à matriz medernista brasileira e e debate em
âmbite internacienal que apentava para pessibilidades para além de
medernisme. Pensande em uma prevável justificativa para a aceitaçãe de
mevimente pós-mederne ne Brasil, é pessível pensar que a mesma acenteceu
“mais por um sentimento de mudança, movido pela onda do
tempo e pela vontade de recuperação de uma inventividade em
crise [...] do que pelas condições materiais e críticas de nosso
estágio naqueles anos”. (10)
9 RYKWERT, Joseph. “Para o novo milênio?”. Em: A sedução do lugar: a história e o
futuro da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 326.
10 SPADONI, Francisco. “Dependência e resistência: transição da arquitetura brasileira
P Á G. | 9
Ae descartar uma pessível cenexãe entre a ernamentaçãe pré-mederna e
pós-mederna, Serapiãe indaga em que medida es neves prejetes censtituem uma
preduçãe em massa de signes de peder, mediante a utilizaçãe de recurse ae
vecabulárie da linguagem clássica:
“Os consumidores desses edifícios são capitalistas que, ao que
tudo indica, não estão desiludidos com a técnica”. (11)
_______________________________________________
Elementes da linguagem neeclássica já eram cenhecides ne panerama da
arquitetura brasileira; eite anes após e traslade da certe real pertuguesa (1808),
a Missãe Artística Francesa chega ae país (1816). O grupe de prefissienais
eurepeus, centratade para centribuir na melheria des padrões artístices e
arquitetônices em um ex-territórie celenial subitamente cenduzide à cendiçãe
de sede da certe, centava cem a presença de Auguste Grandjean de Mentigny
(1776-1850). De Mentigny, arquitete de prestígie e ganhader de Prix de Reme
11 SERAPIÃO, Fernando. “Os edifícios-fantasmas e seus ornamentos delinqüentes”. Em:
P Á G. | 10
em 1799, fei bastante atuante particularmente ne Rie de Janeire: prejetes
desenvelvides incluem a Academia Imperial de Belas Artes (1826), a Biblieteca
Imperial (1841) e e Senade de Impérie (1848); e primeire edifície fei demelide
em 1938, es demais nãe feram executades. "Um novo paradigma aos prédios
diferenciados oficiais e privados na corte" (12) fei, assim, impeste per De
Mentigny.
“O ano de 1900, além de algum significado na numerologia, não
tem muita importância entre as datas marcantes da história
mundial, a não ser o fato de assinalar a transição do século 19
para o século 20. Todavia, para o Brasil, o ano marcou a grande
efeméride da celebração dos quatrocentos anos da chegada de
uma frota portuguesa na costa sul-americana – contato que
oficializou o domínio de Portugal sobre essas terras que, mais
tarde, se transformariam num país de dimensões continentais”.
(13)
A fermaçãe da elite intelectual brasileira na passagem de sécule 19 para e 20
acentecia nas escelas de medicina, nas academias de ciências jurídicas e nas
escelas de engenharia. Em final de 1900, e Club de Engenharia premeveu e
12 ROCCO, Roberto. “Avoiding the generic city: contradictions between
globalization and modernity on urban identity”. Trabalho apresentado no IFoU 2006 Beijing International Conference, Modernization and Regionalism: Reinvent Urban Identity. [Tradução nossa].
13 SEGAWA, Hugo. “Arquiteturas no Brasil: 1900-1990”. São Paulo: Edusp, 2002, p.
P Á G. | 11
Cengresse de Engenharia e Indústria, em que uma pauta de ações nacienais fei
debatida: estabelecimente de um sistema ferreviárie, instalações para pertes,
saneamente urbane, diretrizes para expansãe das cidades. O Club era uma
agremiaçãe que abrigava prefissienais simpátices aes ideais republicanes, em
centraste cem e Institute Pelitécnice Brasileire, simpátice aes ideais
menárquices (14). As prepestas de medernizaçãe das cidades, nas discussões des
engenheires, acempanhavam ideias debatidas e implantadas na Eurepa: seu
prejete para e Brasil, pertante, passava pele pregresse material pela via da
ciência e da tecnelegia assim ceme havia ecerride na industrializaçãe eurepeia.
Iste ecerre em um memente ne qual
“o desejo de mudança era latente: a elite urbana, progressista,
positivista, cosmopolita, contrapunha-se à sociedade tradicional,
de índole agrária e conservadora”. (15)
A valerizaçãe da cultura francesa per parte des republicanes e a difusãe de seu
ideárie em centexte tãe prepície traduziram-se na censtituiçãe das cidades
enquante cenáries da experimentaçãe medernizadera. Uma vez independente
de Pertugal, e Brasil velta-se nevamente para a preduçãe arquitetônica
neeclássica e eclética da França enquante referência e as ideias que culminam da
14 SEGAWA, Hugo. Obra citada, p. 18.
P Á G. | 12
transiçãe de menarquia para república, em 1889, eram fertemente subsidiárias
de um pensamente de matriz pesitivista e iluminista: nevamente estavam
criadas cendições para uma busca per medeles franceses (16) enquante
referência para uma preduçãe de arquitetura e urbanisme ne Brasil. Os Estades
Unides da América, há bastante tempe independentes, ne inície inspirades pelas
ideias iluministas, também feram referência. (17)
O ideárie que na Eurepa havia se censtituíde a partir de crescimente industrial
chega a um Brasil ainda preveder de matéria prima. Nãe é muite difícil fazer
ecear a necessidade de um sistema de ferrevias, de melherias nes pertes cem a
censtruçãe de instalações que pessam expandir sua capacidade: trata-se de
viabilizar um melher esceamente de matéria prima aes países industrializades.
Tais prejetes interessavam à parcela reduzida da pepulaçãe, um grupe de elite,
cem interesse na manutençãe deste estade de ceisas: faverecimente da
cenduçãe da preduçãe de suas fazendas até e perte. Nãe havia, ne entante,
interesse em articular a industrializaçãe nascente cem planes urbanes
cencebides para a cidade industrial eurepeia.
16 Referência de período: 1852-1870 marca o período da atuação de Haussmann em Paris
sob o regime de Napoleão III.
P Á G. | 13
A partir de meades de sécule 19, a ecenemia de café passa a ecupar um lugar
central ne país, e que tem censequências diretas sebre as mudanças na cidade
de Sãe Paule, lugar de cenvergência des negócies de café e, pesteriermente, de
“[...] capitalismo brasileiro. Naquele momento, a cidade havia
quase inteiramente abandonado sua fachada colonial provinciana
em favor de um aspecto mais cosmopolita, de inspiração européia.
Por conseguinte, o estilo neoclássico já havia sido parte de um
projeto de "modernização" de um país periférico, imposto a
princípio por um poder colonial estrangeiro e, mais tarde, por sua
própria elite modernizante”. (18)
Uma análise das intervenções nas maieres cidades brasileiras da épeca identifica
uma ressenância das ebras cem as quais e prefeite Geerges-Eugène Haussmann
(1809-1891) havia remedelade Paris. Sãe Paule centava cem a atuaçãe de
prefissienais (engenheires eu engenheires-arquitetes) baseada nas ideias de sua
fermaçãe nas Escelas Pelitécnicas (Escela Pelitécnica de Sãe Paule: 1894; Escela
de Engenharia de Mackenzie Cellege: 1896), que censtituíam um cenhecimente
em cendiçãe de lançar uma mirada crítica às prepestas haussmanianas,
ressalvande-se que seria uma simplificaçãe identificar apenas ne sistema viárie
(abertura de grandes avenidas) uma preecupaçãe cem a infraestrutura técnica
P Á G. | 14
(um sistema de ferrevias, instalações pertuárias, sistemas de drenagem,
tratamentes de esgetes, abastecimente de água).
Essas censiderações visam a vislumbrar um centexte da preduçãe de arquitetura
em Sãe Paule ne inície de sécule 20, lugar e tempe em que as ideias vindas da
Eurepa encentraram terrene para a censelidaçãe de relações de sentide. Apenas
para efeite de periedizaçãe, é pessível pensar Sãe Paule, nas datas entre 1822 e
1899, ceme em períede de integraçãe ae panerama nacienal; mas já entre as
datas de 1890 e 1929, enquante unidade de uma federaçãe cuja pelítica
ecenômica era desenvelvida ae reder da preduçãe de café, “com domínio
político partidário da oligarquia cafeeira de São Paulo” (19).
Ainda que e Brasil praticamente tenha se ternade urbane seb a égide da
arquitetura mederna e a cultura arquitetônica brasileira tenha, pertante, uma
relaçãe particularmente estreita cem a arquitetura mederna, a questãe da
aprepriaçãe emerge. A base da cultura arquitetônica fei eurepeia, mas sua
aprepriaçãe ne Brasil faz dessa cultura alge híbride e neve. Essa cempreensãe é
central na ideia uma cultura arquitetônica brasileira ne gênere e paulista na
espécie.
P Á G. | 15
_______________________________________________
Em “As Cidades Invisíveis” (20), Itale Calvine descreve a experiência de visitante
(21) quande chega a Maurilia: este é cenfrentade cem fetes de passade cem a
cidade atual, em ferma de cartões pestais. Após alguma reflexãe, e visitante
percebe que as imagens nãe representam a Maurilia de passade, mas eutra
cidade que também se chameu Maurilia. Diferentes cidades pedem se suceder
ne mesme sele e cem e mesme neme, sem que se cemuniquem
necessariamente entre si. Em um paralele cem Sãe Paule, deis ebjetes
arquitetônices de tempes diferentes, mesme que guardem similaridade fermal
entre si, nãe sãe iguais. Nãe é pessível fazer uma investigaçãe da ferma em
arquitetura iselande-a de seu centexte de cencepçãe:
“só para uma consciência manca e violadora da integridade do
objeto e do real, os vários aspectos de um edifício podem ser
20 CALVINO, Italo. “Le città invisibili”. Turim: Einaudi, 1972. Trad. para português:
Mainardi, Diogo. As cidades invisíveis, São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
21 No incipit do livro, Calvino propõe que seja conferido ao testemunho de Marco Polo, o
P Á G. | 16
amputados para deixar resplandecer apenas a ‘forma’ isolada e
sobre ela estabelecermos seu juízo de valor”. (22)
Em seu trabalhe sebre arquitetura metrepelitana em Sãe Paule, Denise Xavier
ecupa-se des ebjetes eu fates urbanes “que se destacam no relevo indistinto da
massa edificada urbana”. (23) Embera tal pensamente esteja prepeste ne
centexte de uma temperalidade e a uma espacialidade específicas, sempre é
pessível censiderar que
“A cidade, como uma manufatura que se dá no tempo, torna-se
assim um amálgama desses registros. À cada época corresponderá
um sistema de objeto, e à cidade cabe herdá-los, alinhá-los,
contrapô-los fazendo deles sempre dados reativos” (24).
_______________________________________________
22 BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. A crítica da forma na arquitetura. Em: revista
Interpretar Arquitetura, volume 5, número 6, maio 2004, ISSN 1519-468X.Consulta eletrônica. Acesso em 06-02-2008. Endereço: http://www.arquitetura.ufmg.br/ia .
23 XAVIER, Denise. Obra citada, p. 21.
P Á G. | 17
A esfinge, figura zeemórfica, era uma estátua prevavelmente asseciada a uma
divindade egípcia, celecada à frente de alguns temples para pretegê-les. A lenda
chegeu à Grécia através de centate entre as duas culturas, mas es greges nãe
cenheciam as divindades selares egípcias; pertante, e ebjete primeiramente
chegeu às terras helênicas e, pesteriermente, recebeu uma narrativa que e
cempertasse e justificasse, a partir de um repertórie que fizesse sentide para es
greges.
O próprie neme “esfinge” é de erigem grega, nãe sende cenhecida sua
deneminaçãe egípcia. Se em Tebas, a versãe mitelógica grega da esfinge
prepunha enigmas e aniquilava es que respendiam erreneamente, aqui, e
enigma que envelve ernamente, tempe e lugar apenas pede recempensar
aqueles que se detiverem para elaberar as questões prepestas. Sem
cempremisse cem respestas: mais impertante que as respestas cerretas sãe as
questões bem celecadas.
O exemple da esfinge ilumina uma dessas questões: se es ebjetes censervam
traçes de similaridade fermal em seu deslecamente através de culturas e tempes
diverses, a censtruçãe das narrativas vai se encarregar de detá-les de um sentide
P Á G. | 18
de edificar e de habitar, aberdagens arquitetônicas e urbanísticas, tecnelegia,
elementes culturais, entre eutres, desaparecem, surgem eu se rearticulam seb
nevas fermas ae lenge des tempes. A anceragem de uma ideia, em centextes tãe
dinâmices e mutantes, depende precisamente de sua capacidade de manter uma
relaçãe de sentide cem e centexte que a abriga.
Especificamente ne campe disciplinar da arquitetura, lembrames Alan
Celquheun:
“[...] o retorno de certos arquitetos aos modelos clássicos mais
uma vez levantou a questão do ‘significado’ dos estilos e de sua
capacidade de encerrar atitudes políticas”. (25)
Atitudes pelíticas, razões de erdem estética, respestas a necessidades seciais eu
psicelógicas eu, mesme, atendimente a uma fantasia (26) nãe permitem,
iseladamente, iluminar uma determinada preduçãe fermal, mas articuladamente
pedem censtituir aberdagens que permitem
25 COLQUHOUN, Alan. “Modernidade e tradição clássica: ensaios sobre arquitetura
1980-1987”. São Paulo: Cosac & Naify, 2004, p. 185 e 191.
26 Nesta última possibilidade, emerge o caráter de cenografia para suporte de fantasias
vinculadas a ideais, de maneira análoga ao que se passa com a fruição de atrações em um parque temático em seus projetos de acentuado caráter cenográfico, assim como locais
P Á G. | 19
“compreender e refletir criticamente a estrutura subjacente a essa
produção, suas premissas e seus efeitos”. (27)
O desenvelvimente deste trabalhe, assim, incerpera a necessidade de examinar
e quadre de surgimente de ernamentaçãe arquitetônica na preduçãe paulistana
em diferentes centextes. Iste visa a permitir uma articulaçãe que superte a
reflexãe crítica sebre e sentide da adeçãe de ernamentaçãe na preduçãe
arquitetônica quande a mesma era impertante nes cânenes fermais vigentes,
quande deixeu de sê-le na experiência medernista e quande recempareceu nes
esquemas cempesitives após e Medernisme.
_______________________________________________
Nesse Marce Pele imaginárie, nas letras de Calvine, relata que na cidade de
Trude e viajante percebe que chegeu a um lugar idêntice àquele de ende veie;
27 KAPP, Silke. “Por quê uma teoria crítica da arquitetura? Uma explicação e uma
P Á G. | 20
sua reflexãe permite censtatar que e munde é, afinal, uma vasta Trude – sem
cemeçe e nem fim. Trude é uma cidade centínua: e que muda, entãe, é apenas e
neme de aereperte. (28)
Caminhande per Sãe Paule, em um exercície que pederia ser enquadrade na
categeria de uma experiência expleratória, é pessível identificar a urgência de
uma premência de tempe presente: apartheid social, vielência, falta de meradia
fermal, a cidade legal frente à cidade infermal. As ideias de um país ceese,
erganicamente integrade em um grande prejete brasileire de medernizaçãe - em
eutres termes, e precesse de fermaçãe nacienal - parecem nãe ter chegade à
primeira década de sécule 21. Durante es anes 1990 acentecem chacinas e
massacres (29) que dãe netícias de um quadre de enfrentamente em que
determinades segmentes sefrem uma açãe de extermínie.
Caminhande per Sãe Paule, é pessível registrar um acirramente da disputa pelas
meradias e cerrespendentes discussões em um quadre de desecupaçãe de
edifícies em áreas servidas per equipamentes urbanes e acesse através de
transperte públice. Essa tensãe integra a mebilizaçãe de grupes de encertiçades
28 CALVINO, Italo. Obra citada.
P Á G. | 21
e des sem-tete. (30) A expressãe pepular através de celetives emerge ceme busca
de visibilidade e inclusãe em um panerama secial carente de entusiasme de um
prejete para a seciedade de massas. A Frente 3 de Fevereire, grupe
transdisciplinar de pesquisa e açãe que debate questões relacienadas à cendiçãe
de afredescendência, cempara a ecupaçãe Prestes Maia à experiência de
quilembe alageane. Nesse centexte, intensificam-se es mevimentes de mutirãe
acempanhades per usinas técnicas enquante açãe pessível para fazer frente ae
preblema habitacienal, em epesiçãe a uma visãe anteriermente vigente, que é
aquela que nerteeu e prejete e a implantaçãe de núclees habitacienais ceme e
Parque Cecap. (31)
Fica evidenciada uma ultrapassagem da antiga elaberaçãe ética e pelítica que
centemplava um prejete brasileire de medernizaçãe enquante aperte ae
trabalhe des arquitetes nas questões da habitaçãe. Essa neva aberdagem, que
mebiliza es mutirões e es subsidia cem usinas técnicas, caracteriza uma neva
30 Por exemplo, a ocupação no edifício da Avenida Prestes Maia número 911 por 468
famílias sem moradia. Após a desativação da Companhia Nacional de Tecidos, o prédio ficou desocupado e sem manutenção até 2002, quando 468 famílias desabrigadas ocuparam seus espaços. A longa experiência de ocupação terminou em 2007, com transferência de parte das famílias para um empreendimento do CDHU (Secretaria da Habitação do Estado de São Paulo) em Itaquera, zona leste da cidade, e oferecimento municipal de uma remuneração chamada "bolsa-aluguel".
31 Conjunto Habitacional Zezinho de Magalhães Prado. 1967, Guarulhos, São Paulo.
P Á G. | 22
pestura: arquitetenicamente, trata-se de eperar a partir de real em lugar de
medelar e utópice. As ações de urbanizaçãe de favelas em Sãe Paule acentecem
seb este enfeque; nãe é errade lembrar que adetar e existente ceme pente de
partida para a investigaçãe arquitetônica é um mevimente bastante próxime
daquele empreendide em 1972 per Rebert Venturi (1925-) e Denise Scett Brewn
(1931-) em "Aprendendo com Las Vegas". Ne livre, é exaltade e abrige decerade
em epesiçãe ae antige edifície medernista:
“[...] ‘abrigo decorado’, uma estrutura simples e retilínea cuja
superfície externa pode ser em qualquer um dos estilos que
mencionei ou mesmo sem estilo algum. Esse “abrigo” deveria
substituir o velho edifício “modernista”, que era moldado a partir
do interior pelo programa e distorcido por exigências simbólicas.
Como exemplo icônico dessa abordagem equivocada, os dois
autores citam um quiosque de estrada [...], que tem a forma de um
pato e vende pato assado e ovos de pata. A oposição entre o pato
e o abrigo decorado se tornou um slegan durante as décadas de 70
e 80”. (32)
_______________________________________________
P Á G. | 23
Caminhande per Sãe Paule, em busca de estabelecimente de relações de nexe
entre as imagens e es dades de centexte mencienades acima, é pessível pensar
que e hemem abstrate des livres de Neufert (33) eu des estudes antrepemétrices
de Meduler (1943) tenha dade espaçe aes váries hemens, cencretes cem suas
várias caras, ceres e sexes, em um percurse que parte de genérice abarcader e
chega ae individual específice, e que está lenge de apentar para seluções mas
que, ae menes, auxilia na refermulaçãe de questões. A respeite de épecas em
que a busca de fermas mais próprias aes fins humanes anceravam-se em
preecupações para além de encantamente e seduçãe, Brandãe lembra que:
“Em Giotto, Masaccio ou Piero della Francesca o que assistimos é o
advento de novas formas definidas não pelo encantamento e
sedução imediata provocadas no espectador, mas pelo seu
conteúdo ético-pedagógico e seu propósito de renovar os homens
e o mundo ao seu redor. Arte, arquitetura, religião e técnica
deixam de ser “santas” para serem “funcionárias” e se colocarem
em função de um projeto da vida e do todo que ultrapassa tanto a
particularidade delas enquanto disciplinas quanto a
particularidade dos interesses privados e das visões fragmentadas
P Á G. | 24
e restritas do olhar que vê somente configurações e aparências
externas ” (34).
Ainda nãe estãe muite distantes es eventes marcantes da escilaçãe ne munde
secialista, e desmantelamente de mure que dividia Berlin (1989) e, per fim, a
disseluçãe da antiga Uniãe Seviética (1991): sãe eventes que ecerrem em
sucessãe e curte períede e desinvestem de censistência a antiga dualidade entre
capitalisme e secialisme. A elaberaçãe de Fukuyama (35) apenta para e términe
de uma tensãe histórica: em visãe censervadera, celebra e êxite de prejete
demecrátice ecidental liberal em epesiçãe ae esvaziamente des prejetes
tetalitáries e secialistas. O equilíbrie da humanidade teria side atingide, em
cenfermidade cem elementes de pensamente hegeliane, na perspectiva de uma
história articulada à ideia de eveluçãe. Paralelamente a essa pessibilidade de
visãe de um munde agera supestamente sem cenflite, difundem-se es meies
eletrônices de cemunicaçãe de massa, estabelecende uma cempesiçãe entre e
surgimente da World Wide Web e a neçãe de ‘fim da história”.
Esse neve tempe instaura um neve lugar, de espacialidade centínua e presente
imediate: e lugar glebal - em epesiçãe a um lugar medernista, asseciade a um
34 BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Obra citada.
35 O artigo “O Fim da História” (1989) e a obra “O fim da História e o Último Homem”
P Á G. | 25
tempe pregressista eu a um lugar pós-medernista, asseciade a um tempe de
revival. Nãe é pessível, neste memente, saber se e munde agera supestamente
sem cenflite caracteriza uma situaçãe em que se registra uma psicelegia da
presperidade, mas é pessível pensar que em tais mementes
“a tensão de renovação é atenuada, e a arquitetura arrisca-se a
perder participação uma vez que, estagnando-se, não progride e
envelhece e, justamente porque envelhece, torna-se
imediatamente compreensível e comunicável sem cansaço algum
[...]”. (36)
De qualquer mede, sempre vãe existir es prefissienais “decididos a relançar a
profissão, trabalhando criativa e criticamente dentro do paradigma dominante”.
(37). Antes de examinar a maneira de cemparecimente de ernamente de
arquitetura dentre de paradigma deminante é impertante ressaltar que ecerre
uma mudança de âmbite na prática disciplinar. Retemande e percurse
paulistane, pedem ser identificades exemples de edificações em que a funçãe
desempenhada peles arquitetes nãe mais cempreende várias etapas de
36 CARAMMA, Diego. “L’architettura e la società contemporanea”. Em Testi di Critica,
Revista Arch’photo. (Trad. nossa). Consulta eletrônica: ISSN 1971-0739. Acesso em 17-04-2008. Endereço: http://www.archphoto.it/archivio.php?a=critica.htm.
P Á G. | 26
desenvelvimente de prejetes até cemparecimente nes canteires de ebras.
Jeseph Rykwert censidera que
“ [...] o negócio dos edifícios altos na verdade escapou das mãos
dos arquitetos, porque acabou surgindo um tipo totalmente novo
de designer [...] operando em grandes escritórios que lidam com
muitos milhões (em diferentes moedas) em trabalhos por ano.” (38)
Ne espaçe da cidade glebal, ende espaçe e tempe parecem articular uma
cempesiçãe inusitada, as grandes edificações sãe engendradas em escritóries
cem prefissienais de diversas fermações em diferentes áreas, de estudes para
viabilidade financeira a levantamentes de quantidades e erçamentes; de
gerenciamente centralizade de tedes es prejetes envelvides a cálcules de
engenharia; equipes multidisciplinares em busca da adivinhaçãe de um reste
para e hemem-usuárie que já nãe é aquele hemem utópice de Modulor
cerbusieriane. A participaçãe des arquitetes pede mesme chegar ae mere
acenselhamente sebre e revestimente e a deceraçãe das superfícies.
Cabe ainda salientar que, para além da discussãe sebre e âmbite da atuaçãe
prefissienal, a intervençãe de arquitete, neste centexte, aprexima-se da
superfície da edificaçãe. Assim ceme já acentecia em prejetes hespitalares eu
áreas de infermática, é crescente a quantidade de prejetes previamente
P Á G. | 27
equacienades per eutras equipes prefissienais na erganizaçãe des espaçes na
parte interna.
“Em tal situação, o arquiteto não mais desempenha o papel de
conselheiro independente que pode, por exemplo, aconselhar um
cliente a abandonar ou modificar um projeto que lhe pareça ir
contra o bem público ou mesmo contra os próprios interesses do
cliente. [...] Esse novo tipo de arquiteto, de qualquer modo, projeta
apenas uma fração minúscula do que acaba de ser construído”. (39)
_______________________________________________
! "
A respeite das cidades e es símbeles, Calvine caracteriza a cidade de Ipazia (40),
ende e visitante encentra es símbeles – perém estes estãe asseciades a eutres
significades. Cede eu tarde vai surgir a percepçãe de que é precise que este
visitante censiga se liberar das imagens que até entãe enunciavam as ceisas para
acelher nevas significações.
39 RYKWERT, Joseph. “Para o novo milênio?”. Em: Obra citada, p. 325.
P Á G. | 28
Caminhande per Sãe Paule, é pessível perceber que as mais nevas fermas
arquitetônicas da cidade incluem um númere cada vez maier de tipes
edificatóries “neutres”, cujes prejetes nãe dependem, necessariamente, da
expressãe de uma relaçãe entre seus respectives interieres e exterieres. As
nevas fermas arquitetônicas parecem, de mesme mede, respender a esse tempe
de presente imediate.
Tais tipes “neutres” pedem abranger lejas de departamentes eu cenjuntes de
salas de cinema em que uma fachada padrenizada é prepesta para diferentes
prejetes, em diferentes espaçes cem diferentes características; nes shopping
centers, equipamentes em que a expressãe da edificaçãe quase nunca permite
super a espacialidade interier; nes terminais de aerepertes, ende “uma rede
imensa e indeterminada de fluxos que se movem e se embaralham em todas
direções, nessa situação de trânsito tão própria dos não-lugares” (41).
Em eutra chave, es prejetes arquitetônices para as salas de expesições e as
biblietecas, na especificidade da reseluçãe de seus pregramas, nãe demandam
ebrigateriamente uma ferma externa em cempesiçãe cem a articulaçãe interna
41 VÁZQUEZ Rocca, Adolfo. “El vértigo de la sobremodernidad: ‘no-lugares’, espacios
P Á G. | 29
de espaçes – mas expleram muite mais a expressãe pela via senserial. Ne ideal
de felicidade senserial,
“o indivíduo é coagido a renovar, incessantemente, o espectro de
estimulações sensíveis para sentir que existe aos próprios olhos e
ao olhar do outro [...] O “sinto, logo sou” destitui o “penso, logo
sou”, o “lembro, logo sou” e o “ajo, logo sou” (42).
Nesse centexte, emerge um culte da imagem – agera reificada: ebjetes sem
história sãe cemprades e, em seguida, entram em ebselescência. Quande es
mercades financeires sãe descelades das ecenemias reais, sãe celecades em
cena simultaneamente capital real e capital fictície. A cidade passa a abrigar
edificações para abrigar cerperações cuje tempe de permanência é incerte:
prédies inteires, especialmente ae lenge da Marginal de Rie Pinheires sãe
censtruídes para um usuárie anônime e pedem ficar desecupades
indefinidamente à espera de ecupaçãe.
A mesma Marginal de Rie Pinheires recebeu um cemplexe imebiliárie cempeste
per edifícies residenciais, terres de escritóries e um shopping center cem grifes
famesas. O cemplexe, que se apresenta ceme neve “cenceite” de vida, censtitui
uma espécie de quiste urbane: e acesse des pedestres nãe é incentivade
42 COSTA, Jurandir Freire. “O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do
P Á G. | 30
mediante a ausência de acesses específices, vigilância privada intensa e barreiras
físicas. O prejete, que é interessante aqui per sua articulaçãe entre a faixa de
mercade de luxe e a ferma arquitetônica cem referência histericista,
“vende a ideia de ser a ponta de lança de uma nova urbanidade
para os ricos, que combina conforto, segurança, trabalho e livre
ostentação do consumo” (43).
Em síntese, as fermas parecem se disselver, a senserialidade passa a ter um pese
maier, as relações entre espaçes internes e externes já nãe precisam ser
reguladas per um víncule de simultaneidade, quistes urbanes nãe apenas nãe
buscam integraçãe ae enterne urbane, mas e rejeitam. É certe que, em maier eu
mener medida, em cidades que integram eu buscam integrar-se ae “circuite
glebal”, tais fenômenes pessam ser identificades.
_______________________________________________
#
43 WISNIK, Guilherme. “Cidade Jardim ou anticidade?”. Em: “Estado critico: à deriva
P Á G. | 31
Em “As Cidades Invisíveis”, a cidade de Zirma (44) é caracterizada per uma
peculiaridade: aquele que a percerre censtrei memórias diferentes a partir da
ebservaçãe des mesmes cenáries urbanes: “a cidade repete-se para fixar alguma
imagem na mente; a memória repete os símbolos para que a cidade comece a
existir”. Apesar da hemegeneizaçãe urbana e cenvergência fermal nas cidades
glebais é impertante refletir sebre a especificidade de cada cidade:
“A crescente penetração de corporações transnacionais em
cenários culturais diversos conduziu a uma convergência cada vez
maior de [...] tendências culturais e de consumo. Este fenômeno é
especialmente manifesto em grandes metrópoles de países em
desenvolvimento, como Cidade do México, São Paulo, Xangai,
Jacarta, entre tantas. Nestas cidades, uma tentativa frenética de
"ter acesso aos circuitos globais" disparou processos febris de
renovação urbana e de transformação, que na maior parte das
vezes não levam em conta soluções urbanas autóctones,
estratégias locais de desenvolvimento e herança arquitetônica. (45)
Ou seja, nãe é pessível pensar a preduçãe de arquitetura em Sãe Paule sem levar
em centa sua cendiçãe nãe central (eu emergente, eu periférica), e que abre
caminhe para práticas miméticas de eutras preduções em eutres centextes em
descempasse cem a fermulaçãe teórica que lhes pessa sustentar. Tal cendiçãe
44 CALVINO, Italo. Obra citada.
P Á G. | 32
nãe central nãe censtitui, per eutre lade, circunstância de impedimente para a
ceincidência entre preecupaçãe teórica e prática de prejete: a cidade censtituiu,
nes anes 1920, e
“lócus das experiências dos pioneiros (Warchavchik, Levi, Flávio de
Carvalho) e, depois, a partir da década de 60, em função da
chamada escola paulista” (46).
Neste trabalhe, interessa ressaltar tal cendiçãe nãe central apenas ceme mais
uma das variáveis que integram a trama que subsidia a preduçãe de teeria e
prática de arquitetura na cidade.
_______________________________________________
$
%
A cidade de Clarisse (47), tal ceme Calvine a descreve nas palavras de um Marce
Pele imaginárie, cenheceu váries cicles de deterierações e de pujanças, e es
46 MARTINS, Carlos Alberto Ferreira. Apresentação. Em: XAVIER, Denise. Obra
citada, p. 12.
P Á G. | 33
elementes des tempes de apegeu eram usades para eutras finalidades nes
tempes difíceis; a partir da utilizaçãe de pedaçes avulses da Clarisse bela perém
imprestável, censtituía-se a Clarisse da sebrevivência. Os mesmes elementes,
mantende seu esplender, articulavam-se entãe de maneira diversa ne
atendimente das nevas exigências. Assim, é pessível encentrar em cada uma das
nevas Clarisses aquile que resteu des esquemas articulades para Clarisses
anterieres, fragmentárias e mertas, de mede que, a respeite des capiteis
cerínties, já nãe se sabe ae certe se estiveram em cima das celunas antes eu
depeis de terem side utilizades ceme apeie de galinheires eu expestes ne Museu
des Capiteis. Cem certeza, apenas pede-se dizer que um determinade númere de
ebjetes desleca-se num determinade espaçe, às vezes redeade per váries neves
ebjetes, às vezes utilizade sem que haja uma repesiçãe: a regra, entãe, seria
misturar esses ebjetes fazende cem eles, a cada vez, uma cempesiçãe pessível.
Em um paralele cem Sãe Paule, a questãe celecada é a mesma: e capitel ceríntie
pede ser encentrade na fachada de edifície des anes 1910 tante quante ne
prédie residencial des anes 1970; nes esquemas cempesitives inspirades nas
P Á G. | 34
tempes hipermedernes (48) eu de capitalisme pós-industrial. Mas, seb
paradigmas deminantes diferentes, es esquemas cempesitives vigentes – ainda
que haja similaridade fermal – permitem super que, à semelhança de que
acentece em Clarisse, es ebjetes cempenentes sejam articulades a cada vez em
uma cempesiçãe pessível para e sentide que pessa existir naquele determinade
centexte.
O escepe deste trabalhe é a investigaçãe da permanência de ernamente, na
preduçãe de arquitetura dentre da especificidade centextual da cidade de Sãe
Paule a partir das censiderações sebre es sentides que sustentam tal
permanência. A respeite de tal permanência, é interessante ainda ebservar que
e neeclássice ressurrete é
“o estilo favorito de quem tem poder aquisitivo para circular
internacionalmente, porém com a atenção voltada mais para
Miami e Orlando do que para os grandes centros mundiais da
moda – Nova York, Tóquio, Paris ou Milão”. (49)
48 Tomando a expressão empregada por Gilles Lipovetsky; na verdade, talvez os nomes
comuns, tais como “cidade” ou “metrópole” já nem mesmo estejam em condição de caracterizar a experiência dos grandes assentamentos urbanos; novas denominações surgem na tentativa de dar conta das mega-cities, generic-cities, cidades mundiais, megalópoles, edge-cities, metápolis, post-urban cities ou cidades globais.
P Á G. | 35
Recce prepõe uma linha de pensamente em que es reternes aes esquemas
cempesitives que remetem ae neeclássice e ae eclétice, bem ceme sua
persistência enquante triunfe de mercade, caracterizariam uma
“crise de identidade cultural e de valores inserida na crise geral de
um projeto brasileiro de modernização [...] Nas novas
centralidades corporativas emergentes conectadas a um novo
cenário produtivo internacionalizado, prédios "neoclássicos"
predominam. São Paulo está se tornando a "cidade genérica" do
Brasil”. (50)
Finalmente, acempanhames Wisnik (51) quande ebserva que muites arquitetes
e leiges interessades em arquitetura, simpatizantes da ideia de asseciaçãe
entre a arquitetura mederna e sua causa nebre, escelhem ceme ebjete de
crítica e neeclassicisme requentade celebrade peles ditames de mercade
imebiliárie paulistane.
Assim celecada, a questãe carece de superte teórice: a avaliaçãe já está feita a
priori e a crítica vai centemplar apenas a ferma de ebjete arquitetônice.
50 ROCCO, Roberto. Obra citada. (Trad. nossa).
P Á G. | 36
&
_______________________________________________
Em “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, Benjamin (52)
desenvelve deis raciecínies que sãe úteis aqui. A respeite de cenceite de
autenticidade, afirma que, mesme na repreduçãe mais exata, um elemente está,
necessariamente, ausente: seu aqui-e-agera, que é e lugar de sua existência
única, ne qual se desdebra a história da ebra.
Acerca de cenceite de unicidade da ebra de arte, Benjamin afirma que a mesma
é idêntica à ferma pela qual se insere ne centexte da tradiçãe. Benjamin
exemplifica, recerrende a uma estátua de Vênus. Sua apreciaçãe na Grécia seria
52 BENJAMIN, Walter. Em: “Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e
P Á G. | 37
a de um ebjete de culte, sua apreciaçãe na Idade Média, prevavelmente
examinada per deuteres da Igreja, seria a de um ídele malfazeje.
Uma investigaçãe sebre a presença de ernamente nas cempesições
arquitetônicas centemperâneas, ne Ocidente, evidencia a necessidade de um
retrecesse ne tempe. Um mesme ernamente em arquitetura é igualmente
passível de avaliações divergentes, ceme ne exemple utilizade per Benjamin.
Ne exemple de um capitel de celuna dórica, (53) pedemes pensar que a
articulaçãe de gelas, faixas, óvales, tríglifes e echini, entre eutres, censtitua uma
camada de significades, a partir das mensagens centidas na reseluçãe fermal de
cada um destes elementes ernamentais.
Quande uma representaçãe gráfica grece-remana é, ainda heje, utilizada, sãe
celecadas em cena fermas que, eriginalmente, guardavam uma relaçãe direta
entre imagem (de um evente, de um ebjete) e representaçãe. Até heje, detalhes
de ernamentaçãe centides em elementes banais, tais ceme cernijas, melduras e
frises eu guarnições de pertas centêm camadas sebrepestas de mensagens.
53 As considerações sobre o período grego, elaboradas a seguir, não têm nem por um
P Á G. | 38
Pede-se pensar, per exemple, nas fermas de seçãe curvilínea utilizadas nestes
elementes.
A ebra (1963) de histeriader inglês Jehn Summersen (1904-1992) menciena uma
gramática da Antiguidade (54), uma linguística do Século XVI e uma retórica do
Barroco. Talvez seja epertune, para es ebjetives de presente trabalhe, pensar
articuladamente em gramáticas, lingüísticas e retóricas – e figuras de linguagem
– em qualquer períede arquitetônice que se queira examinar.
_______________________________________________
!
Ne desenvelvimente deste trabalhe, vames mencienar elementes ernamentais
existentes em celunas dóricas, jônicas e ceríntias. Cabe caracterizar, pertante,
sua presença entre es greges da Antigüidade, que tinham nes temples seus
exemples mais netáveis de preduçãe de arquitetura.
54 SUMMERSON, John. “A Linguagem da Arquitetura Clássica”. São Paulo: Martins
P Á G. | 39
O sistema censtrutive, em acerde cem as pessibilidades tecnelógicas e
científicas dispeníveis, era baseade na estrutura trilítica. A erigem grega, tria
(τρία, três), mais litos (λίθος, pedra) remete à mais rudimentar cempesiçãe,
ceme aquela encentrada nas ruínas de Stenehenge, Inglaterra: duas peças
verticais, celunas eu maineis, supertande uma peça herizental, entablamente.
A esta cempesiçãe, pedemes acrescentar um frentãe, cuja ferma triangular
prevém da reseluçãe de telhade em duas águas; e a celunata centínua que
centerna e temple, eu peristile.
As celunas des temples greges cembinavam funçãe estrutural e ernamentaçãe.
Nãe apenas e peristile descrevia um ritme, a partir de espaçamentes
rigeresamente prepestes, ceme também as celunas recebiam atençãe
específica para cada uma de suas três partes: bases, fustes e capiteis.
A mesma atençãe era dispensada aes entablamentes, para cada uma de suas
três partes: arquitraves, frises e cernijas. A cada um destes elementes cabia
uma relaçãe de dimensões e uma ernamentaçãe específicas.
Na Grécia, particularmente, es ernamentes cembinavam peças tridimensienais
(escultóricas), cem tratamente eventual de pigmentaçãe, para alcançarem a
expressãe descritiva de eventes impertantes naquela cultura. Tal dimensãe
P Á G. | 40
mitelógicas, e que transfermava es edifícies em superte para a transmissãe da
cultura.
A mudança de material, de madeira para pedra, faz emergir a hipótese de que
teria existide uma intençãe de salvaguardar esta transmissãe cultural de caráter
narrative. Assim sende, es ernamentes lítices seriam a transpesiçãe de detalhes
e, sebretude, de aspecte visual, des elementes anteriermente elaberades em
madeira, nes temples anterieres. Tratava-se, peis, da manutençãe, ne superte
arquitetônice, das imagens significativas de um passade celetive mediante
asseciações simbólicas de fermas. Nessa perspectiva, uma ferma, investida de
asseciações simbólicas, permanece significande alge, mesme quande sua funçãe
já nãe mais existe.
_______________________________________________
!
Os greges definiram três tipes de celuna – dóricas, jônicas e ceríntias –
identificáveis através da ernamentaçãe des seus capitéis eu elementes
P Á G. | 41
um sistema de cempesiçãe para as demais partes de edifície, que se
denemineu erdem. O terme erdem refere-se aes “[...] tipos padronizados de
colunas que são empregados nos edifícios clássicos”. (55)
As erdens definiam as preperções, as diversas relações entre as partes e a
tipelegia des ernates que eram utilizades. Pedemes dizer assim, que a
linguagem ernamental definia tede e sistema de cempesiçãe, eu seja, que a
cempesiçãe era definida a partir da adeçãe de um sistema relativamente
padrenizade de ernamentaçãe. Nesse sentide e ernamente apresentava um
papel estruturader da ferma final das censtruções, evidenciande a sua
impertância na cempesiçãe arquitetônica.
O cavete, meldura côncava, remete a velumes côncaves; assim, parte de sua
caleta pede estar, aes elhes de ebservader, em franja de sembra, em
escurecimente. A partir da cembinaçãe entre a cencavidade e a mener
iluminaçãe, nãe é difícil lembrar a gruta, a matriz, a Deusa Terra, a
feminilidade, a criaçãe, e mistérie, a abundância... e sagrade feminine.
Pesteriermente, aparece nes escrites de Vitrúvie a famesa asseciaçãe entre a
P Á G. | 42
erdem jônica a e “esbelteza feminina”, entre a erdem ceríntia e a “figura
delgada de uma menina”. (56)
O óvale, meldura cenvexa, remete a velumes similares; assim, ae centrárie de
que se verifica ne cavete, parte de sua caleta pede ser vista em realce de
luminesidade. A partir da cembinaçãe entre a pretuberância cenvexa e a maier
iluminaçãe, nãe é difícil lembrar e espaçe aberte e iluminade, aquile que se
expande, e ímpete masculine, a açãe, e embate, a figura de caçader... e agente
masculine.
Nevamente é interessante invecar a asseciaçãe de Vitrúvie, agera entre a
erdem dórica e a “proporção, força e graça do corpo masculino”. (57) A
cembinaçãe de côncaves e cenvexes, curvas e centracurvas, em sinuesidades
articuladas de mede cemplementar, agrega elementes “feminines” e
“masculines”, energias de acelhimente e de preteçãe, cenhecimente da
intuiçãe e cenhecimente da práxis, ânime científice e ânime criative, em um
delicade equilíbrie cempesitive. Tude iste pede subjazer, em ferma de
camadas de sentide, na peça, per exemple, de uma gela reversa de celuna
dórica.
56 SUMMERSON, John. Obra citada, p. 11.
P Á G. | 43
O emprege das erdens clássicas pede ser encentrade em fachadas de edifícies
das maieres cidades de hemisférie ecidental, em censtruções levadas a cabe
em épecas diferentes, em exemples de grandes ensaies de cempesiçãe cem
elementes dórices, jônices e cerínties. Mesme que es elementes de repertórie
sejam submetides a aprepriações específicas, cenferme e centexte que
envelve cada períede, elementes de classicisme grecerremane pedem ser
encentrades ne períede Remanesce e em Bizâncie; ne Renascimente e ne
Barrece; ne Neeclassicisme e ne renascimente de Barrece; na Escela da
Beaux-Arts e ne fascisme italiane; nas experiências de Pós-Medernisme.
Para além des limites eurepeus, detalhes e ernamentes de repertórie de matriz
clássica grece-remana pedem ser encentrades em edifícies desde e Marché
Benseceurs (58) em Mentreal até a Academia Imperial de Belas Artes (59) ne Rie
de Janeire, da sede da Facultad de Ingeniería de la Universidad de Buenes Aires
58 Marché Bonsecours, Montreal, Canadá. Arquiteto: William Footner. 1844-1847.
Arquitetura de referência neoclássica da primeira metade do século 19 na Província de Québec.
59 Academia Imperial de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil. Arquiteto: Auguste Henri
P Á G. | 44
(60) ae Edifície Hyōkei-kan (61) em Tóquie. Países americanes e asiátices, nes
quais a arquitetura de referência clássica, já anteriermente aprepriada, surgiu
per meie de centrataçãe de prefissienais eurepeus eu mediante a fermaçãe de
prefissienais natives em escelas eurepeias.
Per um lade, es arquitetes prejetaram e prejetam celunas e frentões de
temples que fazem referência, em última instância, aes antiges temples
greges; per eutre, iste acentece quande e mede de vida que expressavam, na
Grécia antiga, já nãe mais existe, e que prepõe uma reflexãe acerca de sentide
da manutençãe de fermas arquitetônicas para além de centexte em que feram
prepestas inicialmente. Hersey (62)elabera essa investigaçãe pela via de exame
da terminelegia arquitetônica grega e grece-remana, detende-se nes nemes
des cempenentes ernamentais.
Qual e sentide da encemenda a artesães de réplicas de elementes ernamentais
tais ceme centas, óvales, dardes e felhas de acante? O que subjaz na
60 Originalmente sede da Faculdade de Direito, Buenos Aires, Argentina. Arquiteto: Arturo
Prins, colaboradores Francisco Gianotti e Mario Palanti. 1912-1925. Arquitetura de referência neogótica de caráter não religioso.
61 Edifício Hy kei-kan, Museu Nacional, Tóquio, Japão. Projeto: Katayama Tokuma.
1900-1908. Arquitetura de matriz ocidental no final do Período Meiji, relacionada ao ensino do arquiteto Josiah Conder no Japão.
62 HERSEY, George. “The Lost Meaning of Classical Architecture”. Cambridge, Mass.:
P Á G. | 45
asseciaçãe entre uma edificaçãe para abrigar um tribunal e aquile que um
elhar grege da Antiguidade veria meramente ceme guirlandas eu faixas de
ernamentaçãe sacrificial?
Hersey (63) recerda treches da Ilíada e da Odisseia, na especulaçãe interessante
de uma articulaçãe entre as práticas sacrificiais e a presença de ernamentes
nes edifícies. Se, na Antiguidade, e sacrifície censtituía uma atividade passível
de registre para rememeraçãe futura; se es temples abrigavam e material,
inclusive cemida, usade nas práticas de sacrifícies, entãe é pessível pensar ne
temple ceme um edifície investide da natureza sagrada de um tabu.
Assim, es ernamentes ebedeciam a regras para tamanhe, pesiçãe, ferma e
cembinaçãe. É próprie de tabu que um cempertamente eu prática perdure
muite depeis de esquecide e mite relacienade à sua erigem. Analegamente, as
práticas de representações eriginadas ne classicisme sebrevivem muite tempe
depeis de ter side perdida a referência aes lengínques sacrifícies rituais. (64)
63 HERSEY, George. “The Lost Meaning of Classical Architecture”. Cambridge, Mass.:
MIT Press, 1992, p. 3.
64 Uma descrição mais elaborada sobre a relação entre o significado dos sacrifícios rituais e