• Nenhum resultado encontrado

Pátios invisíveis: a dimensão do verde na educação infantil

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Pátios invisíveis: a dimensão do verde na educação infantil"

Copied!
450
0
0

Texto

(1)

1

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, Arte e História da Cultura

CÍNTIA RIBEIRO RONDON

Bolsista CAPES / 1º Semestre de 2012 Bolsa Mackenzie / 2º Semestre de 2013

PÁTIOS INVISÍVEIS:

A DIMENSÃO DO VERDE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Orientadora: Prof

a

.

Dr

a

. Ingrid Hötte Ambrogi

São Paulo

(2)

2

CÍNTIA RIBEIRO RONDON

Bolsista CAPES / 1º Semestre de 2012 Bolsa Mackenzie / 2º Semestre de 2013

PÁTIOS INVISÍVEIS:

A DIMENSÃO DO VERDE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Depósito final da Dissertação de Mestrado apresentada ao

Departamento de Pós-Graduação Stricto Sensu

da Universidade Presbiteriana Mackenzie

como requisito para obtenção do título de Mestre

em Educação, Arte e História da Cultura.

Orientadora: Prof

a

.

Dr

a

. Ingrid Hötte Ambrogi

São Paulo

(3)

R771p Rondon, Cíntia Ribeiro

Pátios invisíveis: a dimensão do verde na educação infantil / Cíntia Ribeiro Rondon – 2014.

449 f. : il. ; 30cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014. Bibliografia: f. 440-449.

1. Arquitetura escolar. 2. Educação infantil. 3. Escola americana. 4. Escola normal Caetano de Campos Froebel. 5. Jardim da infância. 6. Paisagismo. 7. Paisagismo escolar. 8. Parques infantis. 9. Pátios escolares. 10. Propostas

(4)

3

CÍNTIA RIBEIRO RONDON

Bolsista CAPES / 1º Semestre de 2012 Bolsa Mackenzie / 2º Semestre de 2013

PÁTIOS INVISÍVEIS:

A DIMENSÀO DO VERDE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Depósito final da Dissertação de Mestrado apresentada ao

Departamento de Pós-Graduação Stricto Sensu

da Universidade Presbiteriana Mackenzie

como requisito para obtenção do título de Mestre

em Educação, Arte e História da Cultura.

Aprovada em

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________________

Professora, Mestre eDoutora Ingrid Hötte Ambrogi

Universidade Presbiteriana Mackenzie

______________________________________________________________________

Professora, Mestre eDoutora Márcia Aparecida Gobbi

Universidade de São Paulo

______________________________________________________________________

Professora, Mestre eDoutor Olair Falcirolli de Camillo

(5)

4

Agradecimentos

À Estrelinha, pequena e genuína, por ser a essência de todas as crianças.

Aos meus dois filhos, Maurício e Cibelinha, que me mostram como é ser criança.

À minha avó, Clotilde, que me presenteava sempre com flores e as vendia na feira.

À minha avó, Célia, que desfazia suas próprias roupas para minha mãe continuar a estudar.

Aos meus pais, Denise e Lino, pelo lema: nunca parar de estudar, e pelo desejo eterno por excursões imersas em natureza, animais e banhos de mar, de rio e de cachoeiras!

Aos meus queridos tios, Ivette e Adelmo, pelo seu aconchegante quintal com plantas e pela inesquecível varanda, da onde eu podia observar as estrelas e pela vitamina de abacate!

Aos meus queridos tios, Odette e Ítalo, pela casinha de praia em Peruíbe e pelo macarrão com canela!

Ao meu primo, Del, por me fazer pensar na Engenharia e na Arquitetura, mesmo que lá do céu.

À minha prima, Di, por ser muitas vezes minha fonte de inspiração para estudar e trabalhar.

A toda minha família. Ao meu atual ex-marido, Marcelo, que me ajudou a pagar o curso.

À meu irmão, Douglas, que voltou de sua viagem de estudos que marcará nossas vidas de todas as maneiras e que valoriza meus estudos e me apoia. E mesmo assim virou meu assistente de pesquisa oficial, em trio com minha mãe, para encarar os cruéis ácaros dos documentos antiguíssimos que tivemos, com luvas e máscaras, abrir e estudar!!!!

Ao querido Gilmar que nos deixou, tão inesperadamente...que dê tudo certo aí no céu. E à sua esposa, maezona de todos, Cidinha.

Ao Sr. Silvio Gaggini, pelo carinho de sempre e pela tradução da carta de Gianfranco Staccioli do italiano para português.

Aos incríveis professores que lecionaram para mim na Graduação, Pós-Graduação e Mestrado. No Mackenzie, na FAAP, na Belas Artes, na PUC-SP. E, com grande apreço para este estudo, aos meus professores do jardim da infância da escola de Educação Infantil Dr. Oséas de Castro Neves, ainda existente na cidade de Santo André (saudades também daquele divino gramado com palmeiras e árvores do tamanho de um campo de futebol!), e a todos do Ensino Fundamental ao Ensino Médio por aprimorarem meu senso crítico e pelos estudos intensos! Alguns inesquecíveis, como o prof. Carlão, do Colégio Singular.

Às profissionais do berçário, coordenadoras e docentes da Educação Infantil por educarem e cuidarem de meus pequenos filhos, tornando assim esta dissertação possível.

À minha orientadora, Ingrid, pessoa indescritível, tanto pela simplicidade enquanto pessoa, quanto pela força e profundidade de suas palavras.E pelo apoio que nunca, nunca esquecerei!

(6)

5

À Ariane Hetch, também docente de Artes, que sempre mê dá forças e me consola!

Também à minha amiga de infância, Renata de Almeida, pedagoga de formação, que veio do Estados Unidos a pouco me dizer: "Se fosse outra pessoa, sei que não conseguiria...mas como é você, vai dar tudo certo!" E a minha amiga de colegial, Erica Seiichi, pelo apoio total - psicológico, emocional e afetivo - dando-me as mãos em momentos de trevas por mim, infelizmente, vivenciados no 2o semestre de 2013. Não esqueço suas centenas de mensagens: "Bola pra frente! Você é linda amiga!" e "Amiga, respira fundo!", 'A vida continua..."

Ao concurso Rima Rara 2012 –Novo Poetas, por ter classificado meu poema “Pátios invisíveis”, originado desta dissertação e dedicados aos parques infantis de Mário de Andrade e aos jardim da infância da Escola Normal Caetano de Campos.

Ao pessoal que me apoiou durante as pesquisas nos arquivos e departamentos visitados:

ao Arquivo Histórico do São Paulo (na figura da Liliam, Cidinha e Marlene e Elenice),

ao Arquivo do Estado (pessoal do Iconográfico e no Textual),

ao Centro Histórico do Mackenzie ( na figura inesquecível de Ingrid e Ítalo),

ao Arquivo da Escola Caetano de Campos e ao CRE Mário Covas (na figura inconfundível e na minha memória para sempre, o prof. Diógenes Nicolau Lawand) , por dias ao meu lado!

ao Arquivo de Processos Municipais da rua da Balsa ( com atenção e hospitalidade do diretor Marcos Antonio Ferreira Alves e do sr. Walter Biondi),

à Selma Mendes Souza do Arquivo Técnico da FDE,só possível de ter sido apresentada pelo pai de uma amiguinho do meu filho, o Alberto Ishikava, também da FDE!

À Cindy Veloso, paciência e dedicação (da Secretaria da Pós graduação desta tese),

À diretora Eliana e à bibliotecária Valéria da Biblioteca da FAU-USP ( que propiciaram meu encontro inesperado com Dna. Jecy),

ao atencioso diretor Paulo Dutra da Divisão Técnica de Processos Municipais da cidade de São Paulo,

ao prestativo Ademar Castro da SP OBRAS/ EMURB do munícipio de Sao Paulo,

ao Wagner J. S. Lima e ao Flávio da CPOS (arquivo ainda a ser reconhecido como essencial aos estudos arquitetônicos históricos!).

à todos do Arquivo Histórico EDIF 3, hoje na Praça da República,

ao Museu Paulista (pessoal do Iconográfico e ao Ernandes Evaristo Lopes, do DDC/MP, que me recebeu mesmo quando o museu já havia sido fechado completamente em meados de julho para reabrir só daqui a uns sete anos).

Recentemente, um grande obrigado ao diretor da Poli, sr. José Roberto Cardoso e a todas as bibliotecárias pela atenção especial no Setor de Obras Raras de Ramos de Azevedo.

(7)

6

Mariana, também da Estilo de Aprender, por me fazer sonhar com um futuro mais divertido para a Educação Infantil no Brasil e seu amor incondicional às crianças. E, claro, ao seu professor assistente (mais criança que todas juntas...que se pendura em árvores e anda em muros como Peter Pan!), o prof. Marcel.

Aos entrevistados que espero serem lembrados pelos leitores e citados em futuras pesquisas, a graciosa e tímida D. Jecy Netto de Azevedo Marques (aluna do Jardim da Infância da Escola Normal Caetano de Campos desde 1925, primeira bibliotecária da Mário de Andrade) e ao prof. Hoover Americo Sampaio, personalidade acadêmica e docente raro de se ver (aluno do Jardim da infância da Escola Americana na década de 1930).

Porque não, à minha favorita livraria, Livraria Cultura e seus meninos do atendimento?!

Agradeço ao Congresso Inter. de Educação Infantil, promovido pela prof. Márcia Gobbi.

Ao monge Imai, do Templo Budista da Rua do Cursino, por sempre falar comigo sobre "a busca pelo autoaperfeiçoamento" e à Monja Coen, pela sua doce voz nas palestras de terças-feiras, me fazendo lembrar que "o que permanece é a impermanência"( Buda). E ambos, pelo "caminho do meio" para que um dia também sejamos iluminados.

À Paula e, em especial, à Maria, que desde quase sempre cuida de penosas minhas tarefas domésticas e nunca me abandonou! (risos) . Literalmente para "a casa não cair" (risos).

Aos animais da família que colorem (ou coloriram) meu mundo: Bruski, Iuma, Agra, Tobby, Kevin, Tom, Pingo, Lila, Babi, Tia Meg e Robin Wood.

À minha infância, por eu nunca ter deixado apagar suas memórias de minha mente!

E também àquele sabiá sem-vergonha, que vem todo dia às 4 da manhã cantar e me pedir mamão no meu quintal. Só para me lembrar que ele pode voar. Fato invejável!

À Natureza, em sua plenitude, por nos abrigar, na forma de mar, de ventos e de rochas!

(8)

7

Há um vilarejo ali Onde areja um vento bom Na varanda, quem descansa Vê o horizonte deitar no chão

Pra acalmar o coração Lá o mundo tem razão Terra de heróis, lares de mãe Paraíso se mudou para lá

(...)

Lá o tempo espera Lá é primavera Portas e janelas ficam sempre abertas Pra sorte entrar

Em todas as mesas, pão Flores enfeitando Os caminhos, os vestidos, os destinos E essa canção

(...)

Trechos da música: Vilarejo

Intérprete: Marisa Monte

(9)

8

"Em algum lugar entre o certo e o errado,

existe um jardim."

Frase do filme: Diana

Dirigido por: Oliver Hirschbiegel

(10)

9

Resumo

Num primeiro momento, a pesquisa pretendeu resgatar os “laços” perdidos,

ou melhor, “desfeitos” entre o ser humano, o ser humano em sua primeira infância e

o meio natural enquanto ambiente favorável ao bem estar psíquico, à saúde e às práticas educativas visando aprendizagens na fase da Educação Infantil, de modo integrado. E esta afinidade, a necessidade do encontro entre o ser humano e a natureza pode ser demonstrada em vários registros artísticos, como quadros, tapeçarias, louças, esculturas, entre outras manifestações artísticas (e até mesmo no próprio nome das pessoas, de ruas, bairros ou cidades) e no cerne de muitas religiões e filosofias. O segundo momento da tese tentou responder a seguinte pergunta formulada pela orientadora para focar mais os objetos de estudo: Qual fase da educação escolar seria pertinente neste estudo que busca exemplares pioneiros que possuíssem "pátios educativos verdes" na cidade de São Paulo? Na verdade, se desejamos saber sobre os pioneiros construídos na cidade de São Paulo, o certo é a famosa frase: "começar pelo começo". Ou seja, ideal é focar a pesquisa nos pátios escolares da Educação Infantil, por serem o primeiro pátio escolar da vida de uma criança após seu contato com o quintal de sua família. E assim começamos a "lapidar" pátios-jardins dos Jardins de Infância dos paulistanos! Pesquisa que detalhou, levantou dados e fatos - conhecidos e inéditos - sobre jardins (Arte Paisagística) & crianças (História da Cultura, no caso a Infantil) & Jardins da Infância (Educação). Gama interdisciplinar contemplada no perfil do curso de Stricto Sensu em "Educação, Arte e História da Cultura" no qual esta tese esta inserida. Pátios invisíveis, estes e os nossos pioneiros paulistanos. Ainda pouco se sabe sobre eles, historicamente, arquitetonicamente. Exceto muitos trabalhos sobre sua Pedagogia baseada no Sistema de Froebel - teoria que amalgamou os exemplares identificados e selecionados. Assim, os chamamos de "Pátios Invisíveis", porque precisamos torná-los visíveis novamente. Porque eles foram capazes de conectar jardim e educação infantil e meio natural. E também podem ser "resgatados" para renovar os pátios escolares presentes, a começar pelos primeiros: da Educação Infantil. Estas descobertas se dão com ênfase num último momento, com o aprofundado estudo sobre o jardim do Jardim da Infância anexo à Escola Normal Caetano de Campos: Histórias de uma aluna do Jardim da Infância caetanista, Arquitetura e Paisagismo. Acompanhado de uma série de reflexões da própria mestranda na leitura dos projetos destas áreas. Análises possíveis se entendidas dentro de dois grandes conceitos: o da Micro-História da História Cultural (Peter Burke) e o do "Método da Teoria Fundamentada nos Dados", de Glaser e Strauss.

Palavras-chave: Arquitetura Escolar, Educação Infantil, Escola Americana, Escola Normal Caetano de Campos, Froebel, Jardim da Infância, Paisagismo,

(11)

10

Abstract

In a first moment, the research intended to rescue the lost “laces”, or better, “undones” between the human being, the human being in your first childhood and the

natural environment while favorable environment to the psychic wellness, to the health and to the educative practices aiming learnings in the Infant Education, in a integrated manner. And this affinity, the need of the meeting between the human being and the nature can be demonstrated in vary artistic records, as pictures, tapestries, wares, sculptures, and other artistic manifestations (and even in people´s own names, of streets, neighbors or cities) and in the core of many religions and philosophies. The second moment of the thesis tried to answer the following question formulated by the tutores to focus better the study objects: Which phase of the scholar education would be pertinent in this study that seeks pioneer examples that

owned “educative green yards” in the city of São Paulo? Actually, if we wish to know about the pioneers built in the city of São Paulo, the right is the famous phrase:

“begin by the beginning”. In other words, the ideal is to focus the research in the

scholar yards of the Infant Education, for being the first scholar yard of the life of a child after his or her contact with their´s family yards. And in this way we start to

“lapidate” yard-gardens of paulistanos´ Kindergartens! Research that detailed, raised data and facts – known and unpublished – about gardens (Landscaping Art) & children (History of Culture, in the case the Infantile) & Kindergarten (Education). Interdisciplinary extension contemplated in the Stricto Sensu`s course profile in

“Education, Art and History of Culture” in which this thesis is inserted. Invisible yards,

these and our pioneer paulistanos. Still little is known about them, historically, architecturally. Except lot of works about its Pedagogy based in the Froebel System

– theory that amalgamated the examples identified and selected. Therefore, we call them invisible Yards, because we need to transform them visible again. Because they were capable to connect garden and infant education and natural environment.

And also can be “rescued” to renew the actual scholar yards, starting by the firsts: of

Infant Education. These discoveries are made with emphasis in a last moment, with the deeper study about the garden of the Kindergarten attached to the Escola Normal Caetano de Campos: Histories of a caetanista Kindergarten student, Architecture and Landscaping. Followed by a serie of reflexions of the own graduate student in the reading of projects in this areas. Possible analyses if understood in two big concepts: of Micro-History of Cultural History (Peter Burke) and of “εethod of the Theory Based on Data”, de Glaser and Strauss.

(12)

11

Sumário

INTRODUÇÃO 12

Capítulo I: A Criança e a Natureza: uma simbiose necessária

ao aprendizado na primeira infância 25

Capítulo II: Lapidando" exemplares com potencial para a pesquisa 113

II.I. A Descoberta de Pátios Invisíveis 118

Capítulo III: As três "nascentes" que alimentam a "floresta" 182

Capítulo IV: O jardim do Jardim da Infância da Caetano de Campos 289

IV.I. Uma criança do Jardim da Caetano: hoje, Dona Jecy 292

IV.II. A Arquitetura do Jardim da Caetano: quais raízes projetuais? 307

IV.III. O Paisagismo do jardim do Jardim da Caetano e a Praça da República 341

Considerações pela defesa de uma História do Paisagismo na

Educação Infantil Paulistana 415

(13)

12

Introdução

A cidade de São Paulo foi escolhida, entre milhares de cidades brasileiras, tanto por já ter sido estudada pela pesquisadora desta tese durante cinco anos ao longo dos estudos na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e mais dois anos na Pós-Graduação em História da Arte na FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado, quanto por ainda resguardar uma série de instituições escolares de referência nacional e internacional em qualidade da Educação, do ensino pré-escolar ao Livre-Docência. Incluindo escolas técnicas.

Assim, fizemos a seguinte pergunta disparadora da busca por um objeto de estudo mais focado e finito, descartando a possibilidade de pelo menos mais de uma centena de escolas paulistanas a serem pesquisadas em praticamente um ano (o que inviabilizaria a pesquisa em si, esta tomada deste já no seu caráter predominantemente qualitativo):

1) Seria possível se identificar exemplares de projetos escolares construídos e/ou, inclusive, já demolidos (estaduais, municipais ou da rede particular - inicialmente um "leque" aberto) onde a dimensão do "verde" (entendido aqui como Paisagismo, sendo este uma manifestação artística em si que é capaz de projetar paisagens para serem usufruídas pelo ser humano) pudesse ter alguma relação - declarada e oficial - com a proposta educativa adotada por tais instituições?

Para se ter ideia do vulto de exemplares (amostragem bruta, pois ainda não se conferiu a existência de tais áreas verdes com intuito educativo a existir nestes exemplares), quase que inatingível para os limites (entendidos como prazos acadêmicos, por exemplo. Numa reflexão posterior.) desta pesquisa, sabemos que, em 2012, a cidade dos paulistanos já possuía, segundo o IBGE - Instituto Brasileiro, mais de 10.000 escolas com pátios com certa presença "do verde".

Logo, um total impressionante de 10.700 estabelecimentos de ensino "aflorou" (se emprestando termos usuais nem Paisagismo), num grupo único formado pela rede federal, estadual, municipal e particular de ensino.

(14)

13

municípios. Preocupações não contempladas neste momento, mas relevantes em outros enfoques.

O que fazer com 10.700 escolas?

Impossível visitá-las uma a uma para se verificar a existência deste "pátios educativos verdes" ( como os batizamos nesta pesquisa). Anos se passariam.

Assim, tentando não se perder nesta "floresta" que propiciaria o início inédito proposto de uma possível Pequena História do Paisagismo Escolar Paulistano, pensamos na segunda questão abaixo:

2) Caso existam tais exemplares concebidos em conjunto com seus "pátios educativos verdes" (como os denominaremos daqui em diante, na fusão clara entre Paisagismo e Pedagogia e ao mesmo tempo negando a escolha de pátios secos, ou seja, sem nenhuma cobertura vegetal ou áreas permeáveis com vegetação de qualquer porte), os quais - em especial - não teriam sido projetados para o simples embelezamento destas edificações escolares (já que é uma pesquisa interdisciplinar, e não exclusiva de teses dedicadas integralmente a área do Paisagismo, por exemplo), quais seriam os três exemplares pioneiros na própria história da construções escolares na cidade de São Paulo que possuam (ou possuíam) tais qualidades, na sua faceta pedagógica e paisagística, simultaneamente?

Logo, ficou evidente ao longo da coleta intensiva de informações convergentes com a questão, que teríamos que tentar "abrir o caminho" para que este trabalho acadêmico e quaisquer pesquisadores ou interessados pudessem se comprometer em dar continuidade a este estudo muito singular.

Respostas começaram a "podar" esta "floresta" que se apresentou tão selvagem, inicialmente.

Metaforicamente, ela foi se silenciando até podermos descobrir, até então durante esta trilha, invisíveis fontes de água pura que puderam ser encontradas pelos "viajantes". Agora, os três pátios invisíveis se tornaram visíveis!

Como "lapidar" tamanha amostra ofertada pelo própria pesquisa à mestranda?

(15)

14

Qual fase da educação escolar seria pertinente neste estudo que busca exemplares pioneiros que possuíssem "pátios educativos verdes" na cidade de São Paulo? Seria ideal pátios do Ensino Médio? Os do Ensino Fundamental II? Os do Fundamental I? Quais?

Resposta: Nenhum destes. Na verdade, se desejamos saber sobre os pioneiros construídos na cidade de São Paulo, o certo é a famosa frase: "começar pelo começo". Ou seja, ideal é focarmos a pesquisa nos pátios escolares da Educação Infantil, por serem o primeiro pátio escolar da vida de uma criança após seu contato com o quintal de sua família. Sim, vamos começar pelos pátios-jardins dos Jardins de Infância dos paulistanos!

Recentemente, tivemos que adentrar num novíssimo universo des estudos: o dos Jardins da Infância, resgastando a presença das crianças em espaços escolares.

Desta forma, descobrimos livros atualmente voltados para este público, sendo dois deles muito compatíveis e acolhedores com as idéias-chave desta pesquisa. Pesquisa agora em diante sobre jardins (Arte Paisagística) & crianças ( História da Cultura, no caso a Infantil) & Jardins da infância (Educação). Gama interdisciplinar contemplada no perfil deste curso de Stricto Sensu em "Educação, Arte e História da Cultura".

Sim, comecemos pelas pré-escolas paulistanas, as quais acreditamos que poderiam formar um único bloco de entidades por suas origens em comum e práticas semelhantes.

Pátios "parentes" pedagogicamente e paisagisticamente? Seria o caso do de Horace Lane, do de Gabriel Prestes, dos de Mário de Andrade e destes, nas florestas e bosques da Alemanha e Dinamarca, por "beberem da mesma fonte" e por terem como identidade física pré-escolas imersas por "uma dimensão verde" focada no aspecto educativo?

Arriscamos neste estudo rascunhar esta possibilidade. A ser, se possível em breve (como desejamos declaradamente), fundamentada com mais profundidade.

Assim, já deixamos nossos anseios registrados!

Poeticamente, neste momento, "o sol nasceu" e de agora em diante "o dia vai se desacortinar ao longos das horas".

(16)

15

Pátios invisíveis, porque precisamos torná-los visíveis novamente, pela renovação dos pátios escolares. Porque eles foram capazes de conectar jardim e educação infantil para viabilizar propostas pedagógicas!

Pátios Invisíveis, pois nunca saberemos o que é realmente estar dentro deles, e, sendo assim, apenas pela micro-história "abrirá portais" para adentrá-los em seu cotidiano em determinados períodos disponíveis.

Estas análise só foram possíveis se entendidas dentro de dois grandes conceitos: o da Micro-História da História Cultural (Peter Burke) e o do "método da teoria fundamentada nos dados", de Glaser e Strauss, estudada anteriormente neste capítulo.

Em "O que é História Cultural" (Burke, Peter. 1937), entendemos o enfoque "microscópio", uma faceta da História Cultural - presente neste estudo por privilegiarmos o estudo específico da História da Educação Infantil e do Paisagismo Escolar através dos exemplares pioneiros da cidade de São Paulo: os Jardins da Infância de Caetano de Campos, da Escola Americana e os Parques Infantis de Mário de Andrade, ao elencarmos pequenos prismas de reflexão sobre suas práticas pedagógicas atreladas ao paisagismo (pátio escolar verde) e a própria arquitetura dos mesmos. Ou seja, um dos muitos jeitos de se esboçar uma realidade escolar que parecia concretizar a inclusão do Paisagismo como um espaço didático.

Entendamos a "micro-história" (estudada em plenitude em uma das disciplinas deste mestrado, com o professor Arnaldo Contier - referência na área), criada apenas em 1970, com expoentes como Carlo Ginzburg, Edoardo Grendi e Giovanni Levi, historiadores italianos (BURKE, p.61 e 63):

Em primeiro lugar, a micro-história foi uma reação contra um certo estilo de história social que seguia o modelo da história econômica, empregando métodos quantitativos e descrevendo tendências gerais, sem atribuir muita importância à variedade ou à especificidade das culturas locais.

...

Em segundo, a micro-história foi uma reação ao encontro com a antropologia. Os antropólogos ofereciam um modelo alternativo, a ampliação do estudo de caso onde havia espaço para a cultura, para a liberdade em relação ao determinismo social e econômico, e para os indivíduos, rostos na multidão. O microscópio era uma alternativa atraente para o telescópio, permitindo que as experiências concretas, individuais ou locais, reingressassem na história.

(17)

16

Há um paralelo óbvio entre a crítica a essa grande narrativa na história e a crítica ao chamado "cânone"dos grandes escritores da literatura inglesa, ou dos grandes pintores na história da arte ocidental. Por trás delas, pode-se ver uma reação contra a globalização, enfatizando os valores culturais regionais e dos conhecimentos locais.

...

Outros estudos históricos, inspirados mais pela geografia e pelo folclore que pela antropologia, examinaram unidades locais mais amplas, regiões e não aldeias ou famílias. Charles Phythian-Adams, por exemplo, tentou identificar o que chamou de "províncias culturais" da Inglaterra, 14 no total...David Underdown concentrou-se nas variações da cultura popular no começo do período moderno, relacionando formas culturais à economia local e mesmo a padrões de ocupação da terra.

...

Da década de 1970 em diante, foram publicados centenas de estudos micro-históricos...A variedade é impressionante.

Sim. Esta tese foi concebida dentro do método qualitativo e não do quantitativo. Por isso, de um universo enorme de instituições escolares existentes até hoje na cidade de São Paulo, conseguimos focar em três exemplares, pioneiros cronologicamente inclusive na relação da dimensão do verde na Educação Infantil na fase pré-escolar em forma de jardins da infância: 1875 (Jardim da Infância da Escola Americana/ rede particular) - 1896 (Jardim da Infância anexo à Escola Normal Caetano de Campos/rede estadual) - 1930 (Parques Infantis de Mário de Andrade / rede municipal). Não por redes de ensino (coincidência serem um de cada), mas por inter-relação entre os mesmos e pelo pioneirismo na simbiose entre Educação&Paisagismo no olhar específico do sistema froebeliano advindo dos Estados Unidos ao Brasil, em solo específico dos paulistanos. Valorizando, assim , os casos específicos e não tendências educacionais generalizadas da cidade citada, do próprio Estado ou, porque não, do Brasil.

É na riqueza dos pormenores que podemos entender o nascimento de uma "micro-história" da educação infantil paulistana. Por si só uma tentativa de contribuir com "experiências locais" relevantes para a História da Educação Infantil Brasileira e, também, pela criação de uma pequena História do Paisagismo Escolar Paulistano (quisá um dia, nacional).

Dessa forma, a "narrativa grandiosa" não se encaixa na postura adotada à luz da "micro-história" nascida no seio da História Cultural. Enfatizando outro lado da moeda: com apreço aos "conhecimentos locais" nascidos desta nossa pesquisa. Também de caráter documental.

(18)

17

...é cada vez mais difícil dizer o que não faz parte da "cultura"... O que é história cultural? A pergunta foi feita publicamente há mais de um século, em 1897, por um historiador alemão pioneiro...Karl Lamprecht.

Alguns historiadores culturais trabalham intuitivamente, como Jacob Burckhardt declarou fazer.Poucos usam métodos quantitativos. Alguns descrevem seu trabalho em termos de uma procura de significado, outros focalizam as práticas e as representações. Alguns veem seu objetivo como essencialmente descritivo, ou acreditam que a história cultural, como a história política, pode e deve ser apresentada como uma narrativa.

Despertemos para dois detalhes: "1897" (um ano depois da inauguração do Jardim da Infância anexo à Escola Normal Caetano de Campos, baseada no sistema froebeliano) e "alemão", origem do sistema do criador dos jardins da infância no mundo: Froebel.

Reforçando mais o provável elo ligado à origem alemã, tanto da própria concepção dos jardins da infância aqui analisados, quanto do próprio sistema de ensino adotado com a dedicação de Gabriel Prestes a traduzir textos em inglês e em alemão (BURKE, p.15):

A história cultural não é uma descoberta ou invenção nova. Já era praticada na Alemanha com esse nome (Kulturgeschichte) há mais de 200 anos. Antes disso havia histórias separadas da filosofia, pintura, literatura, química, linguagem e assim por diante. A partir de 1780, encontramos histórias da cultura humana ou de determinadas regiões ou nações.

Já temos, assim, a tendência de afirmar a contemporaneidade desta História Cultural - em especial, da "micro-história" - com nossos lapidados "pátios invisíveis", que sob esta égide ser tornam aos poucos visíveis!

Froebel viveu entre os séculos XVIII e XIX. Nasceu em 1782 e morreu em 1852. O próprio educador parece pertencer ao mesmo período e talvez o tenha agregado em seu pioneiro projeto educacional: o primeiro jardim da infância do mundo, "em junho de 1840, na cidade de Blankenburg...destinado a crianças menores de 6 anos (ARCE, 2002: p.66).

Parece sustentável aparente relação em se aceitar à luz da História Cultural sobre nossos estudos citados, com pré-escolas paulistana pioneiras na aparente simbiose entre crianças e natureza em prol de processos de aprendizagem em espaços escolares verdes.

(19)

18

formação, poder ter a sorte (já que seriam centenários os entrevistados) de conhecer um usuário deste Jardim.

Assim, esta tese conseguiu descobrir e documentar raros registros do até então "perdido" projeto do Jardim da Infância da Caetano de Campos na imensa mapoteca da biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo), no caso, as raras fachadas, quando ao oficializar em forma de ofício o pedido de reprodução e uso das imagens teve um dado "revelador" (por isso, a "Teoria Fundamentada em Dados" é presente em igual teor na valorizaçào deste achado): a atual chefe da Seção de Comunicação Especializada do Serviço de Biblioteca e Informação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - SBI/FAUUSP, Eliana de Azevedo Marques, se interessou pela tese aqui presente.

Mal sabíamos que uma "aluninha" do nosso Jardim da Infância deste capítulo em breve seria apresentada e marcaria, para sempre este estudo. Nos trazendo o quase improvável: suas memórias que insistiram em não se apagar desde 1925! Quando, hoje Dona Jecy, com seus 93 anos, "abriria à nós um raro portal", nos contando como foi ser uma aluna desta pré-escola (lembremos, demolida) e, mais, como era estar no jardim do Jardim da Infância: viver neste que se tornou o pioneiro do Estado de São Paulo e o segundo da cidade desta paulistana.

Esta tese também valoriza não somente Froebel enquanto pedagogo ilustre, mas especialmente quer dar oportunidade para os leitores também apreendê-lo enquanto suas outras formações: aprendiz de guarda-florestal nas florestas da Turíngia (Alemanha), estudante de Arquitetura e de Ciências Naturais. entre outras formações afins, como Mineralogia e, principalmente, Silvicultura - focada no cultivo e melhoramento de árvores.

Por exemplo, quando Froebel define "kindergarten", seu repertório acima citado é convergente com a de um paisagista capaz de esboçar diretrizes para um projeto aqui entendido como "paisagismo escolar educativo". Sendo assim, aqui, sendo este considerado um paisagista que conseguiu concretizar práticas pedagógicas alicerçadas na dimensão do verde na educação infantil.

Alessandra Arce (2002, p.11), destaca que este pedagogo-paisagista (como o consideramos) visualizava a infância como uma plantinha que deveria receber cuidados para crescer de modo correto, pois para ele “[...] a infância é assim como

uma planta; deve ser objeto de cuidado atencioso, deve receber água, crescer em solo rico em nutrientes e ter a luz do sol na medida certa”.

(20)

19

É por isso que não se considerou ao longo do corpo da pesquisa outros teóricos da educação infantil, num primeiro momento (comecemos, a lembrar, pelo primeiro pátio escolar de uma criança) , capazes de serem considerados pertencentes à uma nova História do Paisagismo Escolar (como o batizamos ao longo destas páginas).

Procuramos compreender, de modo interdisciplinar e com igual importância, o estilo arquitetônico da época que contém estes jardins da infância pioneiro. Também considerados obras arquitetônicas educacionais, como o do anexo à Escola Normal Caetano de Campos, com sua Arquitetura Eclética considerada ponto turístico na época!

O Jardim da Infância anexo à Escola Normal Caetano de Campos "emergiu" neste período, com "raízes projetuais" que acreditamos advir tanto do Ecletismo como deste Classicismo. Como mostraremos nas argumentações ao longo dos capítulos. E sua forma octogonal mereceu, na teoria educacional de Froebel, um destaque, quando o mesmo fala em "A Educação do Homem" (Froebel, 2001) sobre "As Formas geométricas" (Capítulo VII) e sobre a própria "Geometria" (Capítulo XVII).

Entender este "pátio invisível', por exemplo, nos faz aos poucos "enxergar" os demais que se interconectam, tanto no tempo, como no espaço. E a própria criação arquitetônica e paisagística como interdisciplinares e capazes de "emanarem" teorias educacionais, como a deste estudo: a de Froebel.

Desde ponto em diante, ao longo do capítulo IV, em especial, já dentro da produção arquitetônica mais específica de Ramos de Azevedo, estudamos duas autoras de referência em estudos sobre este grande arquiteto paulistano (já que inicialmente o Jardim da Infância o é atribuído). A primeira, Silvia Ferreira Santos Wolff, em estudos sobre as escolas na época da República . E a segunda, Maria Cristina Wolff, sobre a produção arquitetônica de Ramos de Azevedo.

Refletindo-se sobre estas possíveis origens projetuais, buscamos o arquivo de "Obras Raras de Ramos de Azevedo", na Biblioteca da Poli, na Cidade Universitária, já que o próprio Ramos de Azevedo e Paula Souza lecionaram por anos nesta escola formadora ainda hoje de engenheiros de referência no Brasil.

Acreditamos que o edifício do Jardim da Infância tende mais ao movimento artístico posterior ao que Gante sofreu no século XIX (de 1800 até 1830, com uma arquitetura neoclassicista em muitos edifícios públicos e privados), reverberando (CARVALHO, 2000, p. 48) convergentemente com exemplares arquitetônicos erguidos entre 1830 até 1990 "quando surgem os sinais do que viria a ser o movimento Art Nouveau", com projetos pioneiros de Victor-Horta.

(21)

20

educacional para a Escola Normal Caetano de Campos, onde o Jardim da Infância faz parte deste todo, como um provável e quase certo produto arquitetônico de todo este repertório apreendido por Ramos de Azevedo junto ao seu professor Adolphe Pauli. E, destoando em material e técnica, o octaedro metálico e de vidro presente no "coração" do projeto desta pré-escola como uma valorização desta arte ditada pelo Art Nouveau ao ser potencializada e valorizada ao extremo pela parceira de um engenheiro hábil de estruturas metálicas, como Paula Souza, junto com Ramos de Azevedo, que deu contornos estéticos a este conjunto resgatando todo um repertório neoclassico advindo de seus mestre, Adolphe Pauli. Deixando alguns suaves traços do neo-gótico em toda a caixilharia de nosso Jardim pioneiro do Estado de São Paulo.

Ao mesmo tempo, parece que só a Art Nouveau seria - para este kindergarten paulista citado- capaz de "trazer" à Natureza tão valorizada na teoria froebeliana. Fato que parece justificar o aparente contraste entre o estilo da edificação da Escola Normal e o da obra arquitetônica primorosa do Jardim da Infância anexo à esta escola.

Ao invés de grandes nomes que provavelmente "assinam" o projeto paisagístico (não encontrado até o momento) do referido Jardim de Infância adjacente à Escola Normal Caetano de Campos (porque até estes personagens - talvez arquitetos ou engenheiros ou mesmo paisagistas - ainda estão ocultos na história oficial do objeto de estudo desta tese. Já que temos a intenção de defender nesta tese o "nascimento" de uma micro-história do Paisagismo do referido Jardim de Infância em questão), comecemos com olhar específico desta pesquisa, que incorpora todo um repertório profissional da pesquisadora.

Logo, com esta sutileza, decidimos verificar se quaisquer registros textuais ou iconográficos sobreviveram para nos informar um pouco sobre os trabalhadores que participaram (praticamente no anonimato até então) do plantio e da manutenção do singular jardim desta edificação arquitetônica destinada à educação escolar de crianças de 3 a 6 anos. Ou seja, no primeiro e único Jardim de Infância do Estado de São Paulo, também conhecido como "Jardim de Infância da Escola Normal Caetano de Campos", por terem sido concebidos como um complexo educacional pioneiro no âmbito estadual na época da República.

Assim, não só as edificações escolares merecem uma história. Seus jardins e jardineiros também. Sem dúvida. Já que todos os profissionais que estão envolvidos com a vida escolar, para que a escola funcione do menor detalhe até o mais amplo campo de atuação que a envolve. São responsáveis e contribuem com seu funcionamento. Por vezes, eternizando alguns exemplares.

(22)

21

Aqui são considerados tão importantes quanto os que projetaram tal obra. Tão essenciais para a manutenção dos jardins deste Jardim de Infância ainda hoje tão apreciado nos poucos livros e nas raras fotografias em preto e branco.

Não só como elemento estético, enquanto jardim a ser contemplado, mas também como visivelmente necessário a pedagogia froebeliana. Este "Pátio Invisível", como o denominamos neste estudo, é uma verdadeira sala de aula ao ar livre e/ou laboratório experimental de usufruto das crianças matriculadas nesta instituição em pleno 1896. Ou seja, a 117 anos atrás! Mas não esqueçamos que é "tutorado" pela Escola Americana, tendo Horace Lane (já com seu jardim da infância em funcionamento) em contato direto com Gabriel Prestes!

Dados como estes e inúmeros outros documentos, relatos, entrevistas puderam ser agregadas e interconectadas à luz do "método da teoria fundamentada nos dados", de Glaser e Strauss, capaz de permitir que "o inesperado", que "um dado revelador" inédito possa compor esta pesquisa, tornando-a capaz de contribuir com fontes primárias inéditas e com análise autênticas nascidas no cerne desta pesquisa. Já que "o caminhar" é o objetivo deste tipo de análise. As descobertas e releituras se desenvolvem ao longo do desenvolvimento da pesquisa.

Lembrete: Paisagismo concebido para uma Pedagogia em especial! Um elo nunca antes visto na História da Educação do Estado de São Paulo, segundo levantamentos da pesquisadora neste quase três anos de pesquisa.

Um pátio hoje demolido, no caso do do Caetano de Campos. Um pátio tornado invisível, no ano de 1939, pelo famoso "Plano de Avenidas de Prestes Maia" para a abertura do primeiro trecho do logradouro da hoje Avenida São Luis. Ou como mostramos, antes disto, com o depoimento do Processo Municipal que envolveu D. Saraiva e seus filhos, revelando sua demolição um ano antes da data oficial.

Inicialmente queríamos "nas mãos" o projeto paisagístico do jardim do Jardim da Infância anexo à Escola Normal e o que, depois de muito tempo, conseguimos em Arquivo municipais e estaduais foi ter a postura (em caso de considerá-lo "perdido" até o momento) de buscar este projeto em outras bases de informação.

Aí que, como num estalo, tivemos a ideia de procurar nos mapas antigos da cidade de São Paulo. E só no conhecido "Sara Brasil" parece que este projeto paisagístico acabou - sem querer- sendo preservado e registrado para a posteridade. Assim, aqui foi considerado um raro registro do projeto paisagístico executado em 1896, deleitemos com este mapa da cidade da década de 30 (quase dez anos antes da demolição exigida no "Plano de Avenidas" de Prestes Maia) no Capítulo IV.

(23)

22

tempo que ficamos impressionados com a explicita continuidade entre o projeto paisagístico do Jardim da Infância e o da Escola Normal, observação confirmada neste "Sara Brasil" acima exposto. Tendendo-nos a afirmar que foi desenvolvido desta forma, pelo menos na fase de anteprojeto que previa o conjunto arquitetônico como um único complexo educacional. Logo, imersos num único "pavimento ajardinado".

Assim, já nesta fase da tese, podemos afirmar uma de nossas conclusões também inesperadas: a de que o jardim do Jardim da Infância já existia (antes do ajardinamento da Praça da República) e, por isso, poderia ter inspirado o arquiteto Bezzi na sua estética e talvez a própria Praça da República ajardinada fosse um prolongamento do Paisagismo pré-existente nesta pré-escola. Sendo assim, possivelmente, a Praça da Republica arborizada (não um campo apenas parecido com um terreno desprovido de vegetação, mas pós execução do projeto de Paisagismo de Bezzi) pode ter "nascido" do jardim do Jardim da Infância, o qual inclusive já abarcava a própria Escola Normal num único projeto ajardinado.

Inicialmente queríamos apenas comparar o que foi executado no jardim do Jardim da Infância com o que foi executado um ano depois gerando a transformação do Largo dos Curros (onde aconteciam touradas e até exercícios militares) em Praça da República. Mas esta própria se apresentou mais complexa e dados inéditos ou raros de serem divulgados foram selecionados para esta tese. Já que se consideramos "tais heranças projetuais" advindas da prática paisagística na época no jardim do Jardim da Caetano que parece evidente que tais projetos recusados não dialogavam com o jardim existente, nem estilisticamente, nem politicamente.

A consolidação dos estudos nesta tese - arquitetônicos e paisagísticos - amalgamados pelo olhar de uma criança do Jardim da Infância anexo à Caetano de Campos fez "desabrochar" ou "revelar" uma visão que esta tese apresenta agora: a paisagem urbana gerada pelos projetos escolares de Ramos e Paula Souza combinados com o paisagístico de T.G. Bezzi nos remete a entender o espaço verde e construído do Jardim de Gabriel Prestes como um possível tipo de "palacete paulsitano". Por suas dimensões edificação/jardim e por, na voz de D. Jecy, "uma casa onde eu poderia brincar com irmãos que não tive".

Também, em particular, pudemos lançar semelhanças deste projeto pré-escolar anexo à Caetano de Campos comparando-o com edificações residenciais rurais italianas, como a famosa Villa Capra, de Palladio. Não nos aspectos decorativos das fachadas e do interior dos ambientes, mas quanto à planta-baixa e suas regras projetuais tão típicas deste arquiteto de referência para a Arquitetura até hoje.

(24)

23

Parece que estas diretrizes projetuais, inauguradas por Palladio ( em cerca de 1552) para suas "villas" (residências rurais de alto padrão) podem ter sido consideradas por Ramos de Azevedo e Paula Souza, detentores de uma sólida formação em Arquitetura e História da Arquitetura, aliada a uma base sólida de conhecimento sobre as escolas públicas suíças e até mesmo as belgas. Seus programas e diretrizes básicas que parecem encontrar em solo paulistano "discípulos" fiéis.

Tendo estudado alguns aspectos da pedagogia froebeliana que foram registrados por textos, fotos e outras fontes aqui presentes, a ideia do jardim enquanto verdadeiro locus do aprender a própria "Educação do Homem", tal sugestão é viável também enquanto o que batizamos de "jardim da infância-belvedere". Identificado neste estudo como o do anexo à Escola Normal Caetano de Campos e, inclusive, o carioca, anexo ao Colégio Menezes Vieira.

Esboços para uma possível História do Paisagismo Escolar...paulistano, no momento, e direcionado ao primeiríssimo pátio escolar (verde) de uma criança: o da Educação Infantil, o qual historicamente encontramos no exemplar anexo à escola Normal!

Quisá possamos continuar estes estudos e sabe-se lá quantos exemplares brasileiros ainda podem ser inseridos durante "esta longa caminhada".

(25)
(26)

25

Capítulo I:

A Criança e a Natureza: uma simbiose necessária ao aprendizado na

primeira infância

(27)

26

Cores do Vento

(música do filme da Disney: Pocahontas)

(composição de Alan Menken)

Se acha que eu sou selvagem Você viajou bastante, tal vez tenha razão Mas não consigo ver mas selvagem que vai ser Precisa escutar com o coração, coração Se pensa que esta terra lhe pertence Você tem muito ainda o que aprender Pois cada planta, pedra ou criatura Está viva e tem alma, é um ser Se crê que só gente é seu semelhante E que os outros não têm o seu valor Mas se seguir pegadas de um estranho Mil surpresas vai achar ao seu redor Já ouviu o lobo uivando para a lua azul? Será que já viu um lince sorrir? É capaz de ouvir as vozes da montanha? E com as cores do vento colorir... E com as cores do vento colorir... Correndo pelas trilhas da floresta Provando das frutinhas o sabor Rolando em meio a tanta riqueza Nunca vai calcular o seu valor A Lua, o Sol e o Rio são meus parentes A garça e a lontra são iguais a mim Nós somos tão ligados uns aos outros Neste arco, neste círculo sem fim A árvore aonde irá? Se você a cortar, nunca saberá Não vai mais o Lobo uivar para a Lua azul Já não importa mais a nossa cor Vamos cantar com as belas vozes da montanha E com as cores do vento colorir Você só vai conseguir desta terra usufruir Se com as cores do vento colorir...

Esta parte da pesquisa pretende resgatar os “laços” perdidos, ou melhor, “desfeitos” entre o ser humano, o ser humano em sua primeira infância e o meio

(28)

27

Para tanto, seria necessário o leitor compreender a visão adotada neste momento: a de que os pátios escolares podem não se parecerem com os atuais playgrounds de edifícios residenciais; e que a Natureza (espontânea/selvagem/sem intervenções humanas) ou o Paisagismo (natureza domesticada/produto da ação humana/obra artística) possuem todas as qualidades para a pleninute de qualquer estilo de proposta educativa.

A afinidade, a necessidade do encontro entre o ser humano e a natureza pode ser demonstrada em vários registros artísticos, como quadros, tapeçarias, louças, esculturas, entre outras manifestações artísticas (e até mesmo no próprio nome das pessoas, de ruas, bairros ou cidades) e no cerne de muitas religiões e filosofias.

Maria Helena Merege Vieira, arquiteta-professora doutora de Paisagismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, com a qual pudemos ter contato por anos, tanto na graduação em Arquitetura e Urbanismo (disciplina de Paisagismo) quanto na especialização em Desenho Ambiental e Arquitetura da Paisagem, ambas na Universidade Presbiteriana Mackenzie, nos presenteou com seu livro “O Jardim e a Paisagem”1, que nos demonstra como o jardim foi inventado e como os povos em todo o mundo sentiam a necessidade de tê-lo próximo, em palácios, castelos, praças, residências, etc. Preservando inclusive mitos e crenças coletivas e pessoais.

Segundo sua posição, quando a natureza passa a ser destruída, nossa alma também se empobrece. O jardim ou ambientes naturais, segundo sua tese apresentada neste livro, seriam também uma maneira de harmonizar nossas vidas com as realidades, resguardando nossa própria alma, procurando um sentido para a vida: a experiência de estarmos vivos.2

Como é pertinente se projetar, se disponibilizar um local para o bem-estar e aprendizado de crianças pequenas se pensando neste aspecto de lhes proporcionarem a chance de tomar contado com a experiência delas sentirem vivas! De viver! De se sentir a vida!

(29)

28

P. Wesley Schultz pode nos trazer informações que fundamentam esta idéia, no quarto capítulo de seu reconhecido livro Psychology of Sustainable Development3, chamado: Inclusion with Nature: The Psychology of Human-Nature Relations4.

Schultz é professor da California State University , Ph.D. em Psicologia, mestre em Artes em Psicologia e bacharelado em Artes em Psicologia. E possue quarenta e cinco publicações revisadas em jornais, como o Connecting with nature5

(Schultz, 2009), e o The Moral Call of the Wild6, publicado na revista Scientific

American7, pertinente a este estudo. E, ainda presente em sete livros reconhecidos mundialmente.8

Enfatizando a idéia de fazer as crianças se sentirem vivas, sentirem a dimensão do verde, em espaços escolares ou não, seguem palavras de Schultz em The Moral Call of the Wild:

People around the world seek out natural experiences. Even when confined to built spaces, we add pets, plants, pictures, and moments from nature. It is part of who we are, and these experiences in nature help us reflect on what is important in life.9

The benefits of spending time in nature have been well-documented. Psychological research has shown that natural experiences help to reduce stress, improve mood, and promote an overall increase in physical and psychological well-being. There is even evidence that

3 SCHMUCK & SCHULTZ. Inclusion with nature. In: Psychology of Sustainable Development.. Massachusetts:

Kluwer Academic Publishers, 2002. Analisado pela pesquisadora no formato virtual, disponível no seguinte atalho:

http://books.google.com.br/books?id=LnXtkivuvigC&printsec=frontcover&hl=pt

BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false , acessado em julho de 2012.

4 SCHULTZ (2002, p.61). Tradução livre da pesquisadora: Inclusão com a Natureza: a Psicologia das relações

entre homem-natureza.

5 Tradução livre da pesquisadora: Conectando com a Natureza.

6 Tradução livre da pesquisadora: O Apelo Moral do Selvagem Publicado nesta revista em 01 de Dezembro de

2009.

7 Disponível em: http://scientificamerican.com/article.cfm?id=moral-call-of-the-wild, acessado em setembro de

2012.

8 Para os interessados em seu currículo Lattes, com o detalhamento de suas produções bibliográficas, segue o

seguinte link: http://public.csusm.edu/schultz/vita/schultzvita.pdf , último acesso em 03 setembro de 2012.

9 Tradução livre da pesquisadora: Pessoas de todo o mundo procuram experiências naturais. Mesmo quando

(30)

29

hospital patients with a view of nature recover faster than do hospital patients without such a view.10

Vemos claramente a urgência em se articular Medicina/Arquitetura/Natureza, não para fins de puro embelezamento da edificação. Mas em simbiose com o tratamento dos pacientes na sua coneção simultânea com o espaço construído e, neste caso, a simples visualização de um projeto paisagístico.

Aproveitemos para pensarmos na seguinte pergunta: O que nossos alunos ou os alunos que usufruirão do meu projeto conseguem ver pelas janelas da escola? E porque estas janelas estão sendo feitas cada vez mais no alto?, perguntou uma professora. Porém outras com quem convivi comentaram que uma parede de vidro ou janelas grandes fazem as crianças não prestarem atenção nas atividades dentro das salas de aula...

Mas será que a tal aula envolvia os alunos? Ou seria apenas o instinto dos pequenos em querer naturalmente aprender com o corpo em espaços mais desafiadores do que as quatro paredes?

Schultz ainda chama a atenção dos leitores para a necessária presença da natureza no dia-a-dia do ser humano, com benefícios que vão além da sua recuperação física:

But a recent article by researchers at the University of Rochester shows that experiences with nature can affect more than our mood. In a series of studies, Netta Weinstein, Andrew Przybylski, and Richard Ryan, University of Rochester, show that exposure to nature can affect our priorities and alter what we think is important in life. In short, we become less self-focused and more other-focused. Our value priorities shift from personal gain, to a broader focus on community and connection with others.11

10 Tradução livre da pesquisadora: Os benefícios de passar algum tempo na natureza têm sido bem

documentados. Pesquisas em Psicologia têm demonstrado que experiências naturais ajudam a reduzir o estresse e melhorar o humor, e a promover um aumento global de bem-estar físico e psicológico. Há ainda evidências de que os pacientes de hospitais com uma vista da natureza se recuperam mais rapidamente do que os pacientes os de hospitais sem tal visão.

11 Tradução livre da pesquisadora: Mas um artigo recente, de pesquisadores da Universidade de Rochester,

(31)

30

Este último enfoque é ainda mais surpreendente, pois confirma que além da estética (do belo) e das funções reparadores do meio natural, este é capaz de abrir nossas mentes para uma consciência planetária, nos re-conectando à comunidade e com os outros.

Não seria desejável que nossas crianças da Educação Infantil (desde a terna idade até seus cinco anos) saíssem de seu foco pessoal (por vezes valorizado em ambiente familiar) e, pela sua imersão com a natureza, pudessem se sentir vivas de modo coletivo, fazendo-as se sentirem parte de uma comunidade e de um planeta em comum, no qual temos que conviver com outras espécies?

Em outras pesquisas, como no citado Inclusion with Nature, no capítulo quatro do livro citado acima, Schultz afirma e demonstra idéias que, nesta pesquisa, são consideradas a base para se justificar a anterior defesa da necessária experiência de nossas crianças, mesmo em contexto escolar, de se sentirem vivas com sua interação com a natureza, seja advinda de um projeto paisagístico ou da mãe-natureza. Vejamos suas conhecidas palavras:

We are all a part of nature. We are born in nature; our bodies are formed of nature; we live by the rules of nature. As individuals, we are citizens of the natural world; as societies, we are bound by the resources of our environment; as a species, our survival depends on an ecological balance with nature.12

Neste caso é impossível se negar a origem natural de nossos corpos, de nosso alimento, de nosso meio de vida. E ao afirma veemente que somos todos

vida. Em suma, tornar-se menos focada em auto e mais outro-centrada. As nossas prioridades de valor passam de ganho pessoal, para um foco mais amplo na comunidade e conexão com os outros.

12

(32)

31

parte da natureza, para esta tese, já é prova suficiente do tripé natureza/criança/escola.

Resgataremos, nesta fase da discussão, a figura singular do professor Jun Okamoto, com o qual a pesquisadora também pôde aprender durante o bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, no final da década de 90 (1997-1998) em suas aulas sobre Percepção Ambiental, pioneiras na época.

Para tanto, a descoberta do livro Sabores, Cores, Sons, Aromas: a organização dos espaços na educação infantil13, de Maria da Graça Souza Horn,

pedagoga e doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio grande do Sul, deu um novo tom a esta discussão, ampliando ainda mais esta pesquisa em mais um vetor de pesquisa. Onde o próprio título do livro já se contrapõe a exclusão citada por Jun e Capra dos sentidos humanos.

Horn comenta que ela construiu este olhar sobre o espaço escolar dedicado às crianças de 0 a 6 anos nos seus 30 anos de carreira na Educação Infantil. E que pode ser entendido da seguinte forma:

Situar-se em um espaço que tem marcas muito significativas dos cheiros, dos objetos que se transformam, das cores que dão nuances sempre foi fundamental para mim... Como educadora, esse sentimento me acompanhava.14

Referente ao papel das sensações que podem ser oferecidas nas atuais salas de aula para crianças pequenas e sobre o impacto da cor, do som e dos sabores nos espaços arquitetônicos destinados à Educação Infantil, a educadora cita Vecchi, a partir de suas ideias que permeiam o livro Grazia e cura come educacione15:

13 HORN, Maria da Graça Souza. Sabores, Cores, Sons, Aromas: a organização dos espaços na educação

infantil.Porto Alegre: Artmed, 2004.

14 HORN (2204, p.39)

(33)

32

A respeito do aconchego e da preocupação estética, Vecchi (1988), consultora pedagógica de Reggio Emilia, diz que a dimensão estética pertence naturalmente à criança e que o belo atraiu desde sempre os homens.

(...)

Acredita que a pedagogia e a didática revelam sua atenção ao cuidado com o ambiente naquilo que permitem, naquilo que negam, naquilo que comunicam. Os móveis e os objetos devem privilegiar e favorecer, com uma especial atenção, a sensibilidade e a relação do homem com o ambiente. Eles retratam um ambiente de vida, onde se respira uma atmosfera culta e atenta às inteligências e às sensibilidades que pertencem aos indivíduos desde que nascem... onde as crianças... discutem, ouvem, comem, dormem, vivem o hoje com cuidado...16

Durante toda a narrativa do livro, Maria da Graça acompanhou –

pessoalmente – os diálogos, reflexões, reuniões pedagógicas, as professoras dentro de sala de aula e a atuação da coordenadora que tinham como meta fazer as educadoras de uma certa escola de Educação Infantil à se questionarem sobre o papel (positivo e negativo) do espaço escolar que as mesmas organizavam para seus alunos e, finalmente, observaram como as crianças passaram a se interessar mais sobre os conteúdos previstos no currículo e a melhoria significativa da relação professor-aluno, conquistados pela este questionamento, que gerou a reorganização dos espaços no interior da sala de aula e uma relação mais aberta com outros ambientes adjacentes. Antes espaços, agora ambientes.

Veja o posicionamento de Horn sobre estes dois conceitos:

É no espaço físico que a criança consegue estabelecer relações entre o mundo e as pessoas, transformando-o em um pano de fundo no qual se inserem emoções. Esta qualificação do espaço físico é que o transforma em um ambiente.17

16 HORN (2004, p. 88-89)

(34)

33

A educadora tem como uma de suas bases teóricas os pesquisadores espanhóis, Zabalza e Fornero (1998)18, já que eles distinguem entre espaço e ambiente, mesmo que um dê suporte ao outro

A seguir, a passagem transcrita revela este posicionamento destes dois pesquisadores que nos levam a pensar mais sobre as consequências profundas da exclusão – intencional – dos aspectos sensoriais e subjetivos em ambientes de aprendizagens na Educação Infantil. Como a seguir:

O termo “espaço” se refere aos locais onde as atividades são realizadas, caracterizados por objetos, móveis, materiais didáticos, decoração. O termo “ambiente” diz respeito ao conjunto desse espaço físico e às relações que nele se estabelecem, as quais envolvem os afetos e as relações interpessoais do processo, os adultos e as crianças; ou seja, em relação ao espaço, temos as coisas postas em termos mais objetivos; em relação ao ambiente, as mais subjetivas... Este é um todo indissociável de objetos, de odores, de formas, de cores, de sons e de pessoas que habitam e relacionam-se dentro de uma estrutura física determinada que contenha tudo e que, ao mesmo tempo, é formada por esses elementos que pulsam dentro dela como

se tivessem vida...Por isso, dizemos que o “ambiente “fala”, transmite

-nos sensações, evoca recordações... mas nunca -nos deia indiferentes” (Forneiro, 1998, p. 233).19

A educadora Dr.a Maria da Graça conclui este pensamento afirmando que, apartir deste olhar, o espaço possui diferentes dimensões a serem consideradas: o físico, o funcional, o temporal e o relacional, tornando-o definitivamente um elemento curricular. Assim, ele nunca poderá ser neutro, sendo desafiador ou limitante de aprendizagens dados pela configuração espacial oferecida como base para a atuação docente. E influenciando a conduta das crianças pequenas, incitando ao movimento ou ao repouso.

18 FORNEIRO, L. I. A organização dos espaços na educação infantil, In: ZABALZA, M. A. Qualidade em

educação infantil. Porto Alegre: Artemed, 1998

(35)

34

Não nos esquecendo das áreas externas, raras de serem comentadas ainda atualmente, Horn nos passa outros dois teóricos, os quais afirmam que este espaço externo deve existir complementando as áreas internas, em foco, as salas de aula:

Marcano (1989)20, interpretando Bronfenbrenner21, afirma que é necessário abrir o ambiente escolar às influências do exterior em uma interação enriquecedora, de modo que a sala de aula seja um contexto natural de aprendizagem, não podendo estar isolado da realidade. Assim, um espaço que atenda às necessidades da criança de brincar, de jogar, de desenhar, ou seja, contexto naturalmente desafiador, é fundamental para seu desenvolvimento, para além do ambiente de sala de aula.22

Urie Bronfenbrenner, recentemente com seus estudos e teorias focados nos campos da infância e da família, é reconhecido internacionalmente. Sendo considerado um dos expoentes teóricos sobre Psicologia do Desenvolvimento Humano, com foco na criança e na interdisciplinaridade, propondo a Ecologia do Desenvolvimento Humano, que nos traz uma concepção diferenciada de ambiente como um sistema de estruturas entrelaçadas, estendendo do microssistema (contexto imediato de relações face a face) mediado pelo mesossistema e pelo exossitema, atingindo uma escala ampla, no macrossistema. Tal como o próprio Urie define com mais detalhismo:

Um microssistema é um padrão de atividades, papéis e relações interpessoais experienciadas pela pessoa em desenvolvimento nos contextos nos quais estabelece relações face a face com suas características físicas e materiais.23

20 MARCANO, B.T. Talleres integrals en educação infantile: una propuesta de organización Del escenario

escolar. Madrid: Ed. De La Torre, 1989.

21 BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 1999. 22 HORN (2004, p. 98)

(36)

35

O macrossistema consiste na união das características micro, meso e exossistemas existentes em uma cultura, subcultura ou outra extensão da estrutura social, com particular referência aos sistemas mentalmente instigadores como sistemas de crenças, recursos, riscos, estilos de vida, oportunidades estruturais, opções de rumos de vida e padrões de intercâmbio social que estão encaixados nesses sistemas globais.24

Nesta ótica, a ideia da necessária presença de áreas verdes com intuito de viabilizar processos e práticas pedagógicas, na forma dos pátios eco-educativos, toma força. Já que entendemos nesta pesquisa que o pátio escolar faz parte do que Urie chama de mesossistema, entre o microssistema (como as salas de aulas) e o exossistemas (o bairro que contém a instituição escolar). Sistemas estes definidos por Urie de uma forma muito singular:

O mesossistema compreende as ligações e os processos que ocorrem entre dois ou mais ambientes, os quais contêm a pessoa em desenvolvimento... Em outras palavras, o mesossistema é um sistema formado por vários microssistemas.25

Com Bronfenbrenner, deveríamos enxergar o projeto arquitetônico escolar de modo que o mesmo valorize e detalhe a fundo não somente os ambientes internos, em detrimento do mesossistema configurado na forma de relações entre salas de aulas e pátio escolar. Então, assim como muitos profissionais e pesquisadores já estão a favor desta conexão com o meio externo, teríamos lugares de aprendizagens interligados e contidos num contexto escolar que abrangeria a unidade inteira da instituição, com reflexos destas atividades no bairro, inclusive. Ou propostas educativas que considerem a simultaneidade destas três dimensões espaciais.

Quando as interações são capazes de influenciar o bairro em que o pátio e as salas estão inseridos, visualizamos segundo este pesquisador o exossistema:

Imagem

Foto de um dos dois coretos de estrutura metálica do Jardim da Infância   anexo à Escola Normal Caetano de Campos ainda em construção!

Referências

Documentos relacionados

- Método gráfico: correção de exercícios Casos especiais em Programação Linear - Resolução de problemas de Programação Linear através do algoritmo SIMPLEX

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

As principais características deste agente são: avaliação do diálogo sobre as emoções, representação do modelo de personalidade Big-Five e impacto dos valores

O candidato e seu responsável legalmente investido (no caso de candidato menor de 18 (dezoito) anos não emancipado), são os ÚNICOS responsáveis pelo correto

A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se baseia no fato de que uma

Em um estudo de acompanhamento por 12 meses no tratamento de constipação e encoprese com macrogol em crianças acima de 4 anos de idade, Loening-Baucke (2002) observou a manutenção

Para isso, Gee (2005) através de análise de jogos, constatou que bons jogos para o ensino possuem princípios de aprendizagens, isto é, elementos presentes

Essa informação somada ao fato de que a maioria dos anúncios categorizados como canis tinham Curitiba como origem pode sugerir que independentemente se os animais