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A educação ambiental em uma escola rural: contribuições para a preservação dos recursos hídricos

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO EM EDUCAÇÃO PARA A CIÊNCIA

Breila Pessoa Dias

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UMA ESCOLA RURAL:

contribuições para a preservação dos recursos hídricos

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação para a Ciência, Área

de Ensino de Ciências, da UNESP – Campus

de Bauru, como requisito a obtenção do grau

de Mestre em Ensino de Ciências.

Orientadora:

Profª. Drª. Jandira Liria

Biscalquini Talamoni.

(2)

DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO UNESP – Campus de Bauru

Dias, Breila Pessoa.

A educação ambiental em uma escola rural: contribuições para a preservação dos recursos hídricos / Breila Pessoa Dias, 2008.

233 f. : il.

Orientadora: Jandira Liria Biscalquini Talamoni.

Dissertação (Mestrado)– Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2008.

1. Ensino fundamental. 2. Ensino por pesquisa. 3. Pesquisa participante. 4. Água. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências. II. Título.

(3)

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UMA ESCOLA RURAL: contribuições

para a preservação dos recursos hídricos.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação para a

Ciência da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de

Mesquita Filho”,

Campus

de Bauru, como requisito para a obtenção do título de

Mestre em Educação para a Ciência.

Banca Examinadora:

Presidente: Profa. Dra. Jandira Liria Biscalquini Talamoni

UNESP-Bauru

Membro Titular: Profa. Dra. Ana Tiyomi Obara

Universidade Estadual de Maringá

Membro Titular: Profa. Dra. Ana Maria de Andrade Caldeira

UNESP-Bauru

Suplentes:

(4)

Dedico este trabalho....

(5)

Dra Ana Maria de Andrade Caldeira e Profª. Dra. Ana Tiyomi Obara, pelas sugestões e apreciações que me permitiram melhorar a apresentação deste trabalho.

Á CAPES-CNPq pelo auxílio concedido através da bolsa de pesquisa.

À Ana Grijo e à Andressa pela paciência, disposição e disponibilidade das inúmeras informações e formalidades que se fizeram necessárias.

Aos meus queridos alunos da escola rural do município de Indaial, por terem aceito participar da pesquisa.

Aos professores, diretora e coordenadora pedagógica da escola rural do município de Indaial, pela abertura e confiança que a mim atribuíram.

Aos meus amigos Rudi e Hans, que nos acompanharam na aula de campo e, também, ao Sergio Feuser e Márcia, pelo apoio nos tempos de vivência em Indaial.

À Prefeitura Municipal de Indaial, pela confiança e disponibilização do ônibus escolar para a realização da aula de campo.

Ao Conselho do Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência da Unesp, campus de Bauru, pela possibilidade de ter realizado esta pesquisa em Indaial.

Aos professores deste Programa de Pós-Graduação, pelas aulas e conhecimentos oferecidos, os quais foram de suma importância para a concretude desta pesquisa.

À minha amiga, irmã, mãe de tantos momentos, meu “princípio ativo”... Zelinda, por ter me apoiado incondicionalmente e ao meu trabalho.

Ao meu amigo e irmão Reinaldo Fiumari Junior, pelo brilho que irradia a cada dia em minha vida.

À minha irmã Dri, pelo carinho, compreensão, cumplicidade, irmandade, amizade, serenidade e credibilidade que dedica a minha pessoa.

Aos meus amigos Karina, Rodrigo, Fausto, Rômulo, Rosi e Wanderlei, Fernanda Brando, Deividi, Mariana, Nadja e Grazi e Gustavo, pelas tantas alegrias e incentivos!

À minha orientadora querida, Janda, ANJO reluzente que me guiou oferecendo-me suporte profissional e afetivo para o êxito desta pesquisa.

Aos meus pais, Paulo e Ilda, pelo amor e pelo apoio incondicional que dão à minha vida e ao meu trabalho.

Aos meus irmãos Luis e Carlos, às minhas cunhadas, Camila e Valquíria e aos meus sobrinhos querido, Felipe e Gabriel, pelo amor e zelo que têm para com a minha vida.

Enfim, a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização desta pesquisa.

(6)

DIAS, Breila Pessoa. A Educação Ambiental em uma escola rural: contribuição para a preservação dos recursos hídricos. 2008. 223f. Dissertação (Mestrado em Educação para a Ciência). Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru, 2008.

RESUMO

Esta pesquisa foi motivada pela possibilidade de oferecer aos alunos de uma sétima série do

ensino fundamental, de uma escola localizada na zona rural do município de Indaial (Santa

Catarina), a ampliação de conhecimentos sobre as questões ambientais, bem como contribuir

para o desenvolvimento, nos mesmos, de um espírito crítico e questionador voltado para os

problemas localmente identificados e relacionados ao tema água. Para tanto, foram utilizados

o ensino por pesquisa e a pesquisa participante como metodologias de ensino e de pesquisa,

respectivamente, para que, com base nos pressupostos da educação ambiental transformadora,

fosse inicialmente diagnosticada a questão ambiental priorizada pela comunidade e,

posteriormente, oferecida aos alunos a oportunidade de construírem coletivamente os

conhecimentos considerados necessários para a compreensão do problema em suas diversas

dimensões - ecológica, social, política, econômica e cultural. A pesquisa foi desenvolvida

durante quinze encontros de aproximadamente uma hora de duração, ocorridos nos horários

das aulas cedidas por alguns professores daquela instituição de ensino, no período de abril a

junho e no mês de agosto do ano de 2007. Durante estes encontros foram discutidos diferentes

aspectos relativos ao tema água e aos problemas a esta associados. Acredita-se que a

contextualização dos conhecimentos teóricos trabalhados e a articulação destes com a prática

possibilitaram àqueles alunos a ampliação de suas visões sobre a questão ambiental apontada

pela comunidade na qual estão inseridos, subsidiando-os para uma participação mais efetiva

na busca futura de possíveis soluções.

(7)

DIAS, Breila Pessoa. The Environment Education in a rural school: contribution for the preservation of water resources. 2008. 175f. Dissertação (Mestrado em Educação para a Ciência). Faculdade de Ciências, UNESP, Bauru, 2008.

ABSTRACT

This research was motivated by the possibility of offering students a seventh grade of

elementary school located in the rural municipality of Indaial (Santa Catarina State, Brazil),

the expansion of knowledge about environmental issues and contribute to the development of

a critical and questioning spirit turned to locally identified problems related to the water. For

both, were used the search for teaching and the participatory research as teaching and research

methodologies, respectively. Based on assumptions of environmental education sector,

initially was diagnosed the environmental issue prioritized by the community. Later we

offered to students the opportunity to build collectively the knowledge necessary for

understanding the various dimensions of the problem - ecological, social, political, economic

and cultural. The survey was developed for fifteen meetings, during the hours of lessons sold

by some teachers, since April 2007 to June and August 2007. During these meetings we were

discussed different aspects of the theme water and various problems associated with this. It is

believed that the context of theoretical knowledge and the articulation of these worked with

the practice allowed those students the expansion of their visions about the problem raised by

the community in which they are inserted, subsidizing them for a more effective actions to

search for solutions.

(8)

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS... i

APRESENTAÇÃO... 1

CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA)... 11

Um Breve Histórico... 11

As várias faces da Educação Ambiental... 16

A Educação Ambiental Transformadora, Crítica e Emancipatória... 22

A Educação Ambiental Formal... 30

A Política Nacional de EA (PNEA) e a Apropriação desta pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)... 30

Meio Ambiente: conceitos e práticas ambientais... 32

Carências e Necessidades do Ambiente Escolar na Aplicação de Projetos de EA: uma reflexão sobre a realidade... 37

A Formação de Educadores Ambientais... 42

CAPÍTULO II – EDUCAR PELA PESQUISA... 47

A Pesquisa em Sala de Aula... 49

O Professor Pesquisador... 52

O Aluno Crítico e Questionador... 55

O Encontro com a Educação Ambiental... 58

CAPÍTULO III – A CONDUÇÃO DA PESQUISA... 61

(9)

Instrumentos de Coleta de Dados... 63

A Pesquisa Participante... 68

A Intervenção... 72

CAPITULO IV – RESULTADOS E DISCUSSÃO... 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 162

REFERÊNCIAS... 170

ANEXOS

(10)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Alunos durante a apresentação na Semana do Meio Ambiente... 116

Figura 2 – Aluna representando a quantidade de água no planeta... 117

Figura 3 – Aluna representando % de água salgada e doce do planeta... 117

Figura 4 - Distribuição de água doce no planeta... 119

Figura 5 - Palestra proferida na Semana do Meio Ambiente... 119

Figura 6 – A coleta de lixo na escola – Semana do Meio Ambiente... 121

Figura 7 - Parque Nacional da Serra do Itajaí – SC... 129

Figura 8 - Região do Faxinal do Bepe... 129

Figura 9 - Parque das Nascentes... 133

Figura 10 - Entrada do Faxinal do Bepe... ... 136

Figura 11 - Chegada à nascente do rio Encano... 137

Figura 12 - Visão aproximada da nascente... 138

Figura 13 – Medida da área de preservação da nascente do rio Encano... 139

Figura 14 - Grupo de Campo: nascente do Rio Encano... 141

Figura 15 - Faxinal do Bepe: área de desmatamento... 142

Figura 16 – Estudo do mapa: localização geográfica... 142

Figura 17 - Parada para o almoço... 144

Figura 18 -

Rio Encano: água in natura... 145

Figura 19 - Confecção do Painel... 150

(11)

APRESENTAÇÃO

Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista – UNESP,

Campus de Assis, São Paulo, houve a oportunidade de me envolver com temáticas diversas

das áreas das ciências biológicas, sociais e exatas. Dentre as diferentes disciplinas cursadas,

aquelas que se referiam às questões relacionadas aos ambientes naturais como a ecologia, por

exemplo, eram as que mais despertavam os meus interesses. Talvez isto esteja associado à

minha história de vida, pois passei uma boa parte dos meus períodos de infância e

adolescência inserida no Escotismo e, portanto, participando de diversas atividades

desenvolvidas em ambientes não urbanos.

Durante a minha graduação, e mesmo após o término desta, passei alguns anos

estagiando em um centro de pesquisas localizado na cidade de Indaial, Estado de Santa

Catarina, onde são desenvolvidas atividades voltadas para a preservação de uma espécie de

primata brasileiro, o Alouatta guariba clamitans ou bugio ruivo, além de práticas de Educação

Ambiental (EA) que, assim como outras atividades propostas, também objetivavam

sensibilizar os visitantes para a necessidade de preservação dos ambientes florestais e da

fauna da Mata Atlântica.

Com a disponibilidade de tempo para conviver com as realidades deste centro de

pesquisas e da comunidade local fui observando, ao longo dos anos, os diversos problemas

ambientais que existiam e que ainda existem na região de Indaial; não só aqueles diretamente

relacionados ao bugio ruivo - como a caça esportiva e para a destinação a criadouros

clandestinos – mas a devastação da Mata Atlântica para diversos fins econômicos e outros

problemas de ordem social – culturais, históricos e políticos - vivenciados por aquela

população local. Embora com o olhar ainda muito limitado, restrito mesmo, dos meus

(12)

falta de conhecimento da população sobre as possibilidades de usufruir, de forma consciente e

mais harmoniosa, dos recursos que a natureza lhes oferecia.

O tempo de convivência com aquela realidade e a série de observações que pude

ali fazer sensibilizaram-me muito com relação àquelas questões. Decidi que se havia um

caminho a ser percorrido para contribuir para a melhoria da qualidade de vida daquelas

pessoas, e se este realmente estava associado à necessidade de (re) educação das mesmas, eu

deveria, na medida do possível, oferecer-lhes a oportunidade de ampliarem seus

conhecimentos, de trabalhar os conhecimentos considerados necessários para que pudessem

conviver de maneira mais harmoniosa com o ambiente em que estavam inseridos.

Influenciada pelas convicções de um grande amigo, conheci a EA e o Programa de

Pós-Graduação em Educação para a Ciência, ao qual me vinculei como aluna regular,

passando a dedicar-me à minha formação como educadora.

De início, custou-me muito conseguir relacionar os meus conhecimentos – até

então estritamente ecológicos - com o perfil do Programa, mas acabei encontrando um

caminho que aparentemente me permitiria aproveitar os conhecimentos adquiridos durante o

meu curso de graduação, bem como aqueles acumulados em função das experiências por mim

vivenciadas durante o meu estágio em Indaial para trabalhar na área de Educação.

À medida que cursava as diferentes disciplinas oferecidas no Programa, fui

participando das discussões de assuntos da área educacional e, cada vez mais, compreendendo

a importância do processo educativo para a formação de um cidadão que apresente atitudes

condizentes com o estabelecimento de uma nova e necessária relação com a natureza.

Também houve a oportunidade de participar do Grupo de Pesquisa em Educação

Ambiental (GPEA) e, aos poucos, fui identificando quais eram as minhas reais necessidades

com relação ao futuro desenvolvimento do meu projeto de pesquisa em Educação Ambiental.

(13)

propostas iniciais de pesquisa; fui acrescentando aos objetivos já propostos minha intenção de

ir além de simplesmente “educar o homem para respeitar a natureza”, propondo e

participando ativamente de um processo educativo que permitisse a busca de uma melhor

condição de vida deste.

O fato de ter ficado por algum tempo na região de Santa Catarina resultou em certo

apego da minha parte à região que, somado ao sentimento de respeito pela comunidade e à

observação da urgente necessidade de maior zelo com o ambiente - gerado pelos diversos

problemas ambientais que ali eu havia observado - levou - me a optar por desenvolver o meu

projeto de pesquisa em uma escola rural localizada no município de Indaial. Esta escola foi

selecionada porque eu já bem conhecia alguns dos problemas que aquela comunidade

enfrentava, mais especificamente relacionados com a disponibilidade de água.

Pensei que poderia utilizar os novos aprendizados, proporcionados pelas teorias e

práticas acadêmicas vivenciadas no Programa de Pós-Graduação, para atuar visando a

estimular a comunidade da escola a se envolver e participar do processo de busca das

mudanças que pudessem trazer alguma melhoria para as condições locais. Assim, achei que

seria coerente a realização de um trabalho que envolvesse o ensino - baseado na pesquisa de

assuntos que estivessem relacionados com a realidade na qual aquele ambiente estava inserido

- e a EA, como estratégia para que estes conhecimentos ampliados possibilitassem à

comunidade o enfrentamento dos diversos problemas com relação à água.

Tem sido muito comum falar sobre os problemas associados à água nos dias

atuais. Estamos fartos de saber que num futuro relativamente próximo a água de boa

qualidade e de fácil acesso será uma raridade (e já o é em algumas regiões do nosso planeta) e

que esta será uma realidade imutável, se a demanda por parte da população mundial continuar

crescendo e se as maneiras como este recurso tem sido explorado permanecerem inadequadas.

(14)

sobreviveríamos. No entanto, como este recurso natural é aparentemente abundante, o uso

irracional e a vasta cultura de desperdício deste, parecem ser os principais responsáveis pelo

seu comprometimento.

Apesar de todo o trabalho que tem sido feito nas escolas e pela mídia, ainda são

aparentemente poucos os que sabem - ou que reconhecem - que apenas uma parcela muito

pequena de toda a água existente no nosso planeta pode ser prontamente utilizada para o

consumo humano e considerada de fácil acesso; que esta já se encontra seriamente

comprometida devido à poluição exacerbada causada pelo homem ou que já não está

disponível em algumas regiões, em função dos regimes climáticos destas. Em conseqüência,

também tem sido crescentemente explorada uma segunda parcela da água doce presente na

Terra, aquela equivalente às águas subterrâneas.

O comprometimento da qualidade da água e, portanto, a limitação dos seus usos

múltiplos tem sido conseqüência da utilização inadequada da mesma. Atualmente, pode-se

dizer que muitos já sofrem as conseqüências de uma crise mundial de água, em função da sua

distribuição naturalmente ou socialmente desigual.

O Brasil é considerado um país privilegiado com relação à disponibilidade de

água; o fato desta ser encontrada em abundância em algumas regiões parece ser a principal

causa do equívoco dos brasileiros no sentido de acharem que estarão para sempre “bem

servidos” com relação a este recurso natural. Este é, evidentemente, um olhar diminuto para a

questão, pois, neste contexto, apenas a situação local e a disponibilidade do recurso água são

consideradas, enquanto outros problemas sérios e decorrentes do mau uso desta como, por

exemplo, os que afetam os ecossistemas florestais e os aquáticos, bem como os sociais -

associados à saúde, à qualidade de vida e bem estar humano – que são característicos de cada

(15)

Segundo a WWF (2006), o Brasil conta com quase 14% de toda a água doce

disponível no planeta e abriga a maior área úmida continental do mundo - o Pantanal - e a

mais extensa floresta alagada da Terra - a Várzea Amazônica. Apesar desta privilegiada

situação com respeito à quantidade de água, nossos recursos hídricos têm sido utilizados de

forma incorreta e irresponsável - a super-exploração e despreocupação com os mananciais, a

má distribuição e poluição das águas, o desmatamento e o desperdício comprovam a falta de

cuidado para com este bem valioso e comum a todos - colocando em risco a vida de todos os

seres vivos e afetando diretamente as diversas atividades humanas.

O comprometimento da água também está associado ao processo histórico de

ocupação do ambiente pelo homem, já que esta sempre se iniciava às margens dos rios, pois

garantia o fácil acesso àquele bem indispensável à vida. Conseqüentemente, era quase

inevitável a retirada da mata ribeirinha e a utilização do corpo hídrico como receptor de

dejetos - sem qualquer tratamento prévio – o que certamente resultava em assoreamento do

leito e comprometimento da qualidade da água, ocorrência de enchentes e redução da

biodiversidade. É preciso considerar, no entanto, que as decorrências deste processo histórico

também se devem a um outro fator importante que o tem acompanhado: a falta de

conhecimento por parte do homem com respeito às diferentes possibilidades de utilização

sustentável dos recursos hídricos.

Gradativamente, o homem vem descobrindo que o conhecimento é um dos

princípios básicos e muito importantes para a prevenção de problemas e para a busca de

soluções dos mesmos. Por muito tempo o homem tem se aproveitado dos recursos da natureza

sem ter se preocupado em conhecer a dinâmica e os limites desta, caracterizando, assim, o seu

comportamento utilitarista. Os vários problemas ambientais, hoje tão evidentes, podem

mesmo ser conseqüências da - ou terem sido agravados pela - falta de conhecimento do

(16)

Atualmente, é muito comum ouvirmos frases como: “Se soubéssemos das

conseqüências, não teríamos feito isto”. Mas será que não teríamos feito, mesmo? Parece que

somente a partir do momento em que a água de boa qualidade se tornou um fator limitante nas

nossas vidas, é que os recursos hídricos passaram a ser objeto de estudos mais aprofundados,

mais detalhados e que visavam à compreensão da sua dinâmica e à posterior atuação no

sentido de preservá-los e/ou recuperá-los. Então, foram instituídas Leis e surgiram

organizações e comitês especificamente voltados para a discussão dos assuntos relacionados á

água, no intuito de reverter o quadro alarmante que se apresenta.

Ficaram claras, assim, as necessidades de mudar as atitudes do homem com

relação às formas de uso e exploração da água - inadequada ao quadro de disponibilidade e à

manutenção da qualidade da mesma - e de melhor conhecer os sistemas hídricos para poder

cuidar destes, já que sem o conhecimento é difícil compreendermos as infinitas relações de

interdependência existentes na natureza e as várias dimensões da relação do homem com esta.

A escola, instituição considerada responsável pela educação, pela oferta de

oportunidades para que o conhecimento seja alcançado, tem o professor como o elo que se

estabelece com o aluno durante um processo que possibilitará o aprendizado sobre como

conviver com a natureza de forma sustentável, equilibrada, respeitando os seus limites e

aprendendo sobre como buscar as possíveis soluções para os problemas presentes no ambiente

em que estejam inseridos.

No Brasil, o Ministério da Educação e do Desporto (MEC) publicou em 1997 e em

1998, respectivamente, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para as 1ª a 4ª séries

(BRASIL, 1999b) e 5ª a 8ª séries (BRASIL, 1999c), acrescentando ao currículo escolar os

Temas Transversais. Coube ao conteúdo proposto para a discussão do tema “Meio Ambiente”

a abordagem de assuntos relacionados à ecologia, às ciências naturais, bem como aos

(17)

necessário, possa conviver de forma harmoniosa com a natureza, e ainda, saiba solucionar os

eventuais problemas presentes em sua vida.

Na escola, mesmo sendo o ambiente um tema transversal, a discussão de assuntos

relativos às questões ambientais acabou sendo atribuída aos professores de Ciências,

considerados como os principais (ou únicos) responsáveis pelo desenvolvimento dos já

conhecidos projetos de EA. Assim, uma grande parcela da responsabilidade de se educar o

homem para conviver melhor neste “novo tempo” passou a ser vista como uma atribuição da

EA.

Sem dúvida, esta realmente tem sido reconhecida por diversos teóricos

(LOUREIRO, 2004 a,b,c ; GUIMARÃES, 2004; CARVALHO, 2004; REIGOTA, 1994)

como uma ferramenta indispensável para o cumprimento de uma desafiante missão: a de

mudar atitudes, comportamentos que já não respondem mais aos desafios impostos pelo

mundo em que vivemos. No entanto, é evidente que estas mudanças só acontecerão se houver

a compreensão, o entendimento, o conhecimento da complexidade do todo, ou seja, do

sistema que está sendo particularmente estudado e ainda, se houver ações coletivas e efetivas

no sentido de estabelecer uma nova relação sociedade/natureza.

Para a EA transformadora e crítica, ter entendimento do todo significa também

levar em conta e compreender as outras dimensões da questão ambiental, além da ecológica,

ou seja, as sociais, éticas, políticas, econômicas e históricas. Esta perspectiva mostra a

necessidade de um novo paradigma, que exige que as discussões sejam incorporadas em todas

as disciplinas curriculares e não presentes, apenas, nas ciências naturais.

Esta abordagem interdisciplinar é necessária, pelo fato de que no estudo de uma

questão ambiental devem ser considerados os inúmeros fatores que contribuíram para que

(18)

interdisciplinarmente é fundamental para que sejam alcançadas as reais possibilidades de

mudança.

Uma vez inserida na escola, a EA tem sido realizada por meio do desenvolvimento

de projetos ambientais que, na grande maioria das vezes, são coordenados pelos próprios

professores. Estes, por sua vez, têm se mostrado carentes de uma formação profissional que

lhes permita alcançar o êxito desejado, já que encontram dificuldades para articular os

conhecimentos teóricos disponíveis com a prática necessária para formar indivíduos com uma

nova visão de mundo, críticos e capazes de agir em prol da melhoria da qualidade de suas

vidas, do ambiente em que vivem.

A EA busca munir o ser humano de conhecimentos, sensibilizá-lo para as questões

que comprometem a qualidade de vida da comunidade na qual está inserido e fazer com que

compreenda a necessidade de atuar ativamente, de contribuir, ainda que com pequenas ações,

para melhorar a qualidade ambiental.

Na escola, em função do compromisso desta com o processo educativo, devem ser

oferecidos conhecimentos e promovidas oportunidades que possibilitem ao aluno lidar

ativamente com a realidade do ambiente em que vive, participando das discussões, das

decisões e da busca de possíveis soluções para os problemas eventualmente detectados.

Assim, foi com base nos pressupostos da EA transformadora e crítica que esta

pesquisa objetivou avaliar se o ensino por pesquisa, associado a um processo participativo -

que envolveu uma série de discussões, reflexões, decisões e ações relacionadas a uma questão

ambiental importante e presente na realidade de um grupo de alunos de sétima série do ensino

fundamental de uma escola rural do município de Indaial (SC) - contribuiria não só para a

ampliação de conhecimentos específicos, mas para o desenvolvimento de um espírito critico e

questionador especialmente voltado para as questões relativas à água, bem como a

(19)

Neste sentido, foi necessário inicialmente investigar qual era a questão ambiental

que, aparentemente, se mostrava mais importante no contexto em que estava inserida a escola.

Depois, foi necessário investigar quais eram os conhecimentos prévios dos alunos sobre os

assuntos que seriam abordados para que, partindo dos conhecimentos de senso comum,

pudéssemos trabalhar no sentido de proporcionar oportunidades para a apreensão dos

conhecimentos científicos. Também foi importante fazer a divulgação - na escola e na

comunidade, durante as festividades que ocorreram por ocasião das datas comemorativas -

dos assuntos que foram discutidos com os alunos e, também, promover a aula de campo que

lhes oportunizaria conhecer e analisar as reais condições em que se encontrava a nascente do

rio que percorre a região onde está localizada a escola.

Durante todo o processo, foi mantida a abertura suficiente para que fossem

discutidas e acatadas as eventuais propostas de mudança e as sugestões que contribuíssem

para o enriquecimento da pesquisa que teve, sempre, o propósito de ser coletiva, participativa

e voltada para os interesses diagnosticados. Com isso, algumas atividades que não haviam

sido anteriormente planejadas foram incorporadas ao trabalho, procurando atender as

propostas apresentadas pelos alunos ou por outros membros da comunidade escolar que

também se envolveram mais efetivamente no processo.

Para mostrar as fundamentações teóricas que embasaram esta pesquisa e os

resultados nela obtidos, este trabalho será apresentado em quatro capítulos. O Capitulo I

aborda o histórico da EA, as faces ou alteridades da mesma e uma discussão mais

aprofundada sobre a EA transformadora, que orientou esta pesquisa. Também discute

aspectos relativos à EA no ambiente formal, ao conceito de meio ambiente e às praticas

ambientais que vêm sendo desenvolvidas nos projetos de EA; além de uma reflexão sobre as

(20)

associadas à formação dos professores que, não tendo sido devidamente preparados para

trabalhar com a EA, raramente obtêm resultados considerados significativos.

No Capitulo II é apresentado o método do Ensino por Pesquisa, utilizado durante a

intervenção realizada na escola, com base nas propostas de Pedro Demo, Roque Moraes,

Maria do Carmo Galiazzi, entre outros. Neste contexto, também são discutidas as

características do professor pesquisador e da sua relação com os alunos, bem como o perfil

dos cidadãos que se deseja formar, ou seja, indivíduos críticos, questionadores e

participativos, que saibam utilizar o conhecimento adquirido nos seus processos de (re)

construção permanente. O capitulo é finalizado com a discussão das consonâncias existentes

entre o ensino por pesquisa e as propostas da EA transformadora, que permitiram a

articulação de ambos durante a realização desta pesquisa.

O Capitulo III apresenta a metodologia de pesquisa, com uma discussão sobre os

aspectos da pesquisa qualitativa e dos métodos de coletas de dados, com enfoque na Pesquisa

Participante que, segundo Carlos Rodrigues Brandão e Pedro Demo, se concretiza pela

necessidade de participação ativa de todos os envolvidos na pesquisa - o pesquisador e os

demais membros do grupo - e pelo estímulo constante para que haja uma participação

coletiva. Neste capítulo também são caracterizadas a escola, a comunidade, a região e é

apresentada uma descrição da intervenção que foi feita no ambiente escolar.

No Capitulo IV estão dispostos os resultados obtidos nesta pesquisa e a discussão

dos mesmos. Finalizando o texto, estão presentes as Considerações Finais e nos anexos e

apêndices estão apresentados os materiais que foram utilizados ou produzidos durante todo o

(21)

CAPÍTULO I -

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

UM BREVE HISTÓRICO

As décadas de 60, 70 e 80 foram marcadas por fortes impactos nas relações do homem com a natureza. Esse período fica conhecido como o momento da alienação do homem com o próprio homem e deste com a natureza. Milhares de hectares de florestas são derrubadas, bilhões investidos em armamentos, produtos tóxicos sendo usados indiscriminadamente, erosão do solo crescente em todos os países, a poluição do ar provocando doenças, mortes e comprometendo a temperatura e o clima do planeta; nos países pobres o índice de mortalidade cresce a cada dia, esgotos correm a céu aberto, a quantidade de lixo produzido é assustadora, os mananciais hídricos em estado de degradação, a fauna ameaçada e indústrias pesadas e poluidoras continuam se consolidando em escala crescente(LEÃO e SILVA, 1999 p. 23).

Se fecharmos os nossos olhos, poderemos ver nos dias de hoje, nitidamente, o

cenário apresentado acima pelos autores, pois esta é uma realidade em nossas vidas.

Este caos se iniciou nas décadas de 1950 e 1960, quando situações críticas foram

vivenciadas pelos moradores das cidades de Londres, na Inglaterra, em virtude da

contaminação do ar e de Minamata e Niigata, no Japão, quando ocorreram casos fatais de

intoxicação por mercúrio, além dos efeitos da bomba atômica (em Hiroshima) e a morte de

aves provocada pelos efeitos secundários, imprevistos, do DDT e de outros pesticidas. Todas

estas situações foram frutos de um modelo de mercado neoliberal, regido pela norma de

obtenção do maior lucro possível no menor espaço de tempo (MEDINA, 2007), numa época

em que o mercado mundial já se apresentava em ritmo acelerado de crescimento. Em vista dos

processos de industrialização, a atenção voltada para a natureza era apenas com relação à

abundância e à disponibilidade de recursos que poderiam ser explorados. A alienação do

homem, neste período da história, trouxe para o mundo catástrofes ambientais irreversíveis -

(22)

Diante de tais fatos, grupos de pessoas que se mostravam preocupadas com o

futuro do planeta e da sociedade se organizaram em manifestos contra as grandes potências

econômicas da época e contra o modo como estas se relacionavam com a natureza e

exploravam os seus recursos. Assim iniciaram-se os movimentos conservacionista, naturalista

e, também, os movimentos sociais que buscavam chamar a atenção do mundo para a crise já

instalada.

Esta era, e ainda é uma luta travada com a intenção de modificar tudo o que se

mostra nocivo com relação ao aspecto ambiental (incluindo os aspectos sociais e políticos).

Estes movimentos começaram a acontecer por todo o mundo, inclusive no Brasil, em meados

de 1968; neste último, mais fortemente a partir das décadas de 1970-1980. As preocupações

relativas ao cuidado com a natureza, ao respeito à diversidade biológica e à utilização

sustentável dos recursos naturais foram mobilizando, gradativamente, organizações

governamentais e não governamentais que se mostravam insatisfeitas com a situação criada

pelo modelo econômico mundial vigente. Estes grupos começaram a promover encontros,

discussões, com intuito de chamar a atenção do mundo para as desgraças que haveriam de

ocorrer, caso não fossem tomadas atitudes urgentes com relação ao modo de exploração da

natureza.

O primeiro grande grupo ambientalista que ficou conhecido mundialmente surgiu

em 1960, o Greenpeace. Segundo Leão e Silva (1999), este grupo foi e ainda é uma bandeira

da luta contra o capitalismo selvagem, contra a exploração irracional dos recursos naturais e o

desrespeito às diversas formas de vida. Estes e outros ambientalistas, conservacionistas e

naturalistas foram os grandes precursores das ações voltadas para a atenção - necessária e

urgente – com respeito à degradação do ambiente, ao futuro do planeta e à necessidade de

mudança de atitude do homem frente à crise ambiental. Estes movimentos pregavam a

(23)

A partir da década de 1970 surgiu, então, a primeira definição internacional de EA, adotada

pela International Union for the Conservation of Nature (IUCN), dando ênfase maior aos

aspectos ecológicos da Conservação da Biodiversidade e dos sistemas de vida (SATO, 2002).

Falava-se, inicialmente, de uma EA que objetivava o cuidado com a natureza, sob

uma perspectiva naturalista e conservacionista; da necessidade de reeducar o homem para que

este viesse a conviver de forma harmoniosa com a natureza, não comprometendo a

disponibilidade de recursos naturais às gerações futuras. O foco era conhecer o ambiente e a

forma como o homem estava se relacionando com este para, então, buscar a conservação da

natureza.

O reconhecimento internacional da EA como uma estratégia para se construir

sociedades sustentáveis data de 1975. Na primeira grande reunião mundial que ocorreu em

1972, em Estocolmo, já se incluía a EA na agenda internacional onde foi criado o Programa

Internacional de Educação Ambiental (PIEA). Num segundo encontro, em 1977, em Tbilisi,

foram estabelecidos os objetivos, princípios e estratégias para a promoção da EA (BRASIL,

2005).

A partir daí, muitos outros encontros importantes aconteceram e diversos

documentos oficiais (Carta da Terra, Relatório de Brundtland, Agenda 21, Protocolo de

Kyoto, etc) foram criados, para a implementação da EA a nível mundial e cumprimento de

leis e normas que contribuiriam para o abrandamento da crise ambiental. Durante a Rio-92 ou

ECO-92 - estabelecida em 1992, na conferência da ONU – foi produzido um documento

muito importante relativo à EA: o “Tratado de Educação Ambiental para Sociedades

Sustentáveis e Responsabilidade Global”. Este documento teve sua relevância por ter sido

criado por atores de diversas áreas do conhecimento, num evento que ocorreu paralelamente

ao da ONU, o Fórum Global ou a Conferência da Sociedade Civil. Foi neste momento que a

(24)

internalizada por outros atores da sociedade civil (CARVALHO, 1998) e que a EA passou a

assumir e incorporar características não só ecológicas, mas sociais e políticas, sendo assim

reconhecida como um processo dinâmico, em permanente construção, que objetiva a

transformação social (BRASIL, 2005).

No Brasil a EA teve seu marco na institucionalização a partir da criação da Política

Nacional de Meio Ambiente (PNMA), no ano de 1981, que destacou a necessidade da

inclusão da EA em todos os níveis de ensino e comunidades, visando a capacitar os indivíduos

para a participação ativa em defesa do meio ambiente. Mais adiante, em 1994, a Presidência

da República criou o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), que proveu a

capacitação de gestores e educadores, o desenvolvimento de ações educativas e o

desenvolvimento de instrumentos e metodologias que contemplavam as diversas linhas de

ação da EA no nível nacional. No ano de 2002 surgiu a Política Nacional de Educação

Ambiental (PNEA), que regulamentava a EA no Brasil e buscava gerir os trabalhos

desenvolvidos em prol de uma sociedade sustentável (BRASIL, 2005). Podemos dizer que

estas foram e são concretudes conquistadas pelos ativistas, ambientalistas e pela sociedade

civil, mediante a necessidade de mudar a crise ambiental em que vivíamos e ainda vivemos.

O histórico da EA é extenso e complexo e o processo evolutivo desta foi

transformando a sua face, em função das necessidades impostas ao modo de vida humana.

Dando maior ênfase à EA brasileira, pode-se verificar que esta foi assumindo características

advindas não só dos movimentos ambientalistas, ecológicos, mas também dos movimentos

sociais, pois, no início era vista apenas como uma ferramenta indispensável para a

preservação dos ambientes naturais, da biodiversidade e dos sistemas de vida (SATO, 2002).

O olhar era voltado para o ambiente, para a natureza, para a degradação ambiental e a EA era

vista como um recurso de contemplação e veneração da natureza. Mas, as conferências de

(25)

(...) um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A EA também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida(SATO, 2002. p 23).

Assim, já não cabia mais à EA apenas o cuidado com a natureza, mas era

necessário também, além de reeducar o homem para a exploração sustentável dos recursos

naturais e possibilitar-lhe uma formação competente para resolver problemas comuns,

estimulá-lo a trabalhar coletivamente para alcançar seus ideais. Havia a necessidade de

trabalhar o social, o humano, o subjetivo; havia a necessidade de trabalhar a valorização do

indivíduo como um ser que possui deveres, sim, mas também direitos; direitos à educação de

qualidade e acesso ao conhecimento que lhe possibilite conquistar sua emancipação. Segundo

Loureiro (2004a), emancipação se conquista através da educação compreendida como

elemento chave para a transformação social, inspirada no diálogo, no exercício da cidadania,

no fortalecimento dos sujeitos, na compreensão do mundo conexo e integrado e na superação

das formas de domínio do capital.

Diante disto, assumindo o seu lado social, a EA passou a ter características éticas e

políticas, além das ecológicas e, a partir da década de 1980, assumiu o seu papel político na

sociedade, buscando nas teorias as responsabilidades relativas à transformação social, à

emancipação dos seres humanos.

Na área social, a EA se fortaleceu principalmente no campo pedagógico, tendo

suas raízes na educação crítica e na educação popular, defendida por Paulo Freire e outros, e

que idealiza uma prática voltada para a socialização do saber, para a formação de um sujeito

capaz de construir sua própria história de vida, que seja crítico, questionador da realidade e do

(26)

que têm sido normalmente impostas pelo sistema; alguém que não se deixe levar por mazelas

e hipocrisias do poder.

Além da preservação ambiental e da resolução de problemas afins a EA busca,

assim, a emancipação dos sujeitos, a formação de indivíduos questionadores e munidos de

conhecimentos que lhes permitam participar realmente, ativamente, expressando suas

opiniões, decidindo, buscando mudanças das características desta sociedade dominadora e

injusta que está posta, enfim, a transformação social.

Hoje, a EA assume o papel fundamental de contribuir para a melhoria da qualidade

de vida das pessoas, do mundo. Vários grupos, que compartilham os mesmos ideais no

sentido de se ter sociedades justas, trabalham para que no futuro haja qualidade de vida para

todos e mais harmonia nas relações entre o homem e a natureza. A EA é, hoje, uma realidade

que vem sendo concretizada pela luta incansável destes grupos, considerada como uma

necessidade para a transformação das atitudes de desrespeito, de alienação, de ganância e

egoísmo que têm sido praticadas em todos os espaços e contra as diferentes formas de vida

existentes no nosso planeta.

AS VÁRIAS FACES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL (EA)

Responder à questão “O que é Educação Ambiental?” nos dias de hoje, é um tanto

desafiador. Para Layrargues (2004) a “EA é o nome que historicamente se convencionou dar

às práticas educativas relacionadas à questão ambiental” (p. 9). Segundo Reigota (1994):

(27)

De acordo com o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e

Responsabilidade Global:

A EA é um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida, afirmando valores que contribuam para a transformação humana e social e para a preservação ecológica, estimulando a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservam entre si a relação de interdependência e diversidade com responsabilidade individual e coletiva em níveis, local, nacional e planetário (BRASIL, 2005 p. 57).

Durante o seu processo histórico, a EA foi assumindo formas, definições e

conceitos repletos de particularidades, portanto, possui várias faces, visto que pessoas

diversas, das várias áreas do conhecimento, assumiram-na como ferramenta indispensável

para atingirem seus objetivos, sejam eles em prol de um futuro melhor ou como forma

manipulativa de poder.

Segundo Layrargues (2004), o Brasil tem desempenhado um papel importante

nesse debate e abriga uma rica discussão sobre as especificidades da educação na construção

da sustentabilidade. Enfatizando a EA no nível nacional, o autor se manifesta sobre a

existência de duas vertentes que podem ser destacadas: a primeira delas, que se consolidou no

Brasil em meados da década de 1980 e ainda está muito presente na atualidade, definiu-se

como uma “Educação Ambiental Conservadora” (EAC).

Para os partidários desta vertente da EA, falar em ambiente era pensar na

preservação do patrimônio natural e na resolução de problemas ambientais que impediam o

desenvolvimento do país. Esta EAC tinha, assim, uma forte visão comportamentalista,

tecnicista, voltada para o ensino de ecologia e para a resolução de problemas de ordem física

do ambiente(LOUREIRO, 2004a).

Neste momento da sua história, a EA assumia uma face antropocêntrica e

(28)

marcado pelo regime militar da década de 1970, quando as discussões relativas ao meio

ambiente eram regidas de forma arbitrária, levando em conta os problemas de ordem técnica e

assumindo, assim, um caráter conservador, dominador e desvinculado do todo. Era o

bem-estar do homem sobre a égide da natureza.

Ainda de acordo com este autor, no seu fazer pedagógico esta EAC passava uma

visão de mundo fragmentada, desconexa, privilegiando o ser humano sobre tudo o que está

presente na natureza. Guimarães (2004) aponta a sua definição sobre a EAC, ainda muito

freqüente nos dias de hoje:

A Educação Ambiental que denomino conservadora se alicerça nessa visão de mundo que fragmenta a realidade, simplificando e reduzindo-a, perdendo a riqueza e a diversidade da relação. Centrada na parte vela a totalidade em suas complexas relações, como na máquina fotográfica que ao focarmos em uma parte desfocamos a paisagem. Isso produz uma prática pedagógica objetivada no indivíduo (na parte) e na transformação de seu comportamento (educação individualista e comportamentalista). Essa perspectiva foca a realização da ação educativa na terminalidade da ação, compreendendo ser essa terminalidade o conhecimento retido (“educação bancária” de Paulo Freire) e o indivíduo transformado (GUIMARÃES, 2004. p 26).

Em sua prática educativa, no seu fazer pedagógico, esta vertente mostrava uma

visão ecológica, conservacionista, que tinha a preocupação de produzir práticas ambientais

que instruíssem os indivíduos para resolverem apenas problemas de cunho ecológico,

dissociando sociedade/natureza (LOUREIRO, 2004b). Não eram incluídas outras dimensões,

tais como o caráter social, político e cultural; não se objetivava a valorização do indivíduo

como um ser participativo das decisões políticas; não se englobava outros problemas de

ordem social que contribuíam para a crise ambiental. Segundo Lima (2004), este

determinismo ecológico tende a reduzir as questões ambientais a um problema estritamente

ecológico, sem incorporar as demais dimensões sociais, políticas, culturais e éticas que

(29)

Essa visão estritamente ecológica da EAC tem suas razões de ser nos

acontecimentos de ordem histórica e político institucional. Quando implantada no Brasil, a

EA foi inserida na estrutura administrativa dos órgãos públicos de meio ambiente e já trazia

consigo, da hegemonia do modelo econômico militar, uma marca ditatorial impositiva e

tecnicista. A EA foi inserida nestes departamentos porque, segundo a visão individualista

dirigida pela lógica do capital, os problemas estavam relacionados apenas à área ambiental e,

portanto, era urgente a necessidade de saná-los para garantir o desenvolvimento do mercado.

Assim, era óbvia a inserção da EA nas instituições governamentais responsáveis pelo

“cuidado” e pela gestão dos recursos naturais. Esta tomada de decisão mostra claramente a

visão antropocêntrica e uma política centralizada no poder do capital, pois, a crise ambiental

não era vista como um problema educacional, social e político, mas apenas como um

problema de ordem técnica. Neste sentido, Loureiro (2004a) afirma que:

Essa falta de percepção da EA como processo educativo, da não inclusão, desde seu reconhecimento, nas instituições educativas do governo, foi o principal problema da EA ter assumido uma face tecnicista, conservadora, descontextualizada e fragmentada (LOUREIRO, 2004a p. 81).

Neste mesmo período em que a EA era incorporada aos órgãos institucionais

nacionais de meio ambiente, paralelamente aos ambientalistas partidários da EAC, grupos de

militantes, socialistas e intelectuais das diversas áreas do conhecimento, principalmente da

área social, já promoviam encontros e debates a favor de uma EA de caráter emancipatório e

crítico. Estes encontros foram os precursores da segunda vertente da EA, que só ganhou força

a partir da década de 1990, com a criação do PRONEA. Foi então que a EA assumiu a sua

face educacional, pois este programa contava com a participação de dois ministérios, o da

Educação e o do Meio Ambiente, e alguns documentos e ações importantes foram produzidas.

Dentre as decisões tomadas então, Loureiro (op. cit.) cita a inclusão da EA no ensino formal e

(30)

ambiental como um tema transversal, articulada a todas as disciplinas educacionais de ensino

formal, bem como a Lei 9.795 de 27 de abril de 1999 - que instituiu a PNEA (Política

Nacional de Educação Ambiental) – como fatores que enfatizaram a necessidade de inclusão

da Educação na temática ambiental e do Ambiental na temática educacional.

Esta segunda vertente da EA assumiu a face que faltava na EAC, ou seja, aquela

que considera, além dos aspectos ecológicos, os sociais e políticos. Diante disso, várias

denominações foram atribuídas a este fazer educativo: Educação Ambiental Crítica;

Transformadora; Emancipatória; Ecopedagogia; Educação Popular, entre outras. Cada qual

possui suas especificidades, mas todas confluem ao acrescentarem às dimensões ecológicas,

as dimensões sociais, culturais, éticas e políticas das questões ambientais.

Layargues (2004) afirma que hoje se reconhece que para a EA ser efetiva é preciso

valorizar o substantivo presente no seu vocábulo, ou seja, a Educação (grifo meu), que antes

não era ambiental. Educar o homem para que este compreenda o mundo complexo e dinâmico

em que está inserido, onde tudo está interligado direta ou indiretamente. Para o autor, fazer da

educação uma EA, significa incluir todas as outras dimensões antes não valorizadas pela

EAC.

Tomando como exemplo a Educação Ambiental Transformadora (EAT), pode-se

considerar que esta vertente, além de tratar dos conhecimentos relativos à dinâmica dos

sistemas naturais - pois estes são fundamentais para que haja a compreensão e seja possível a

busca de solução para as alterações presentes no ambiente - transcende esta proposta e

trabalha também para que o homem esteja apto a mudar sua postura, de mero objeto do poder

para um ser emancipado, munido de conhecimento e esclarecido dos seus direitos; um homem

que saiba se relacionar com o ambiente de forma harmoniosa, respeitando os limites impostos

pela natureza, sim, mas que ao mesmo tempo seja um cidadão político, crítico, participativo,

(31)

busca “tirar a venda dos olhos” das pessoas, para que estas possam reconhecer a

complexidade presente nas questões do mundo em que vivem e o quanto o conhecimento e a

reflexão crítica são importantes para que sejam efetivadas ações no sentido de que as

mudanças, necessárias para que se construa uma sociedade justa e ecologicamente

equilibrada, possam ocorrer.

Deve ficar claro, porém, que a construção de uma sociedade ecologicamente

equilibrada também depende da valorização que é atribuída aos conteúdos das ciências

naturais, da Biologia e da Ecologia, visto que a contribuição destes é essencial para a

compreensão das alterações ambientais. Não se pode almejar uma sociedade ecologicamente

equilibrada se não houver uma atenção especial voltada para a compreensão das causas e

conseqüências dos problemas ecológicos, o que exige conhecimentos com respeito à dinâmica

e aos processos que ocorrem nos ambientes naturais para que possam ser identificadas as

formas de ação consideradas sustentáveis.

No entanto, acreditamos que os conhecimentos biológicos, por si só, não são

suficientes para garantir a compreensão do todo - que é extremamente complexo – e que,

considerando que a EA almeja que todo e qualquer ser humano seja capaz de entender e

resolver um problema e que este normalmente está imerso ou é decorrente de uma infinidade

de outras causas - cuja compreensão necessita de abordagens que envolvem outras esferas do

saber - é preciso ir além das discussões de âmbito ecológico. Para o entendimento dos efeitos

ou conseqüências de um problema é preciso conhecer suas causas e estas, muitas vezes,

provêm de um fator biológico, sim, mas biológico-social e, portanto, para entendê-las é

necessário conhecer as outras dimensões envolvidas, ou seja, as causas de ordem cultural e

política, entre outras.

Sabe-se que as ações antrópicas vêm produzindo efeitos que se refletem

(32)

indiretamente, na qualidade da vida humana e de outros seres vivos. Portanto, a articulação

dos conhecimentos biológicos, ecológicos, com os conhecimentos das ciências humanas e

sociais é que permite que um determinado problema ambiental seja realmente compreendido e

que sejam buscadas soluções para o mesmo. A EAC, sem dúvida, exerce contribuição

fundamental para a formação dos indivíduos ao disponibilizar-lhes os conhecimentos

ecológicos necessários para a compreensão das causas das alterações que ocorrem no

ambiente físico, mas deixa a desejar se não se preocupa em articulá-los com os conhecimentos

das demais áreas do saber, o que propicia ao individuo a compreensão do ambiente como um

todo.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL TRANSFORMADORA, CRÍTICA E EMANCIPATÓRIA.

A EA tem por princípio a transformação social para que se possa pensar, viver e sustentar um mundo melhor (GALIAZZI, 2007 p.7).

Este é um dos objetivos que a EAT se propõe a alcançar, a transformação social.

Para muitos este objetivo é um tanto utópico, mas para aqueles que acreditam na possibilidade

e almejam tais mudanças, trata-se de fazer das idéias, da teoria, uma prática responsável,

valorizando todos os aspectos que contextualizam a relação sociedade/natureza.

Como já foram comentadas, muitas atribuições têm sido designadas à EA e,

portanto, os seus diferentes adeptos trazem “achismos”, pensamentos e definições diversas

que acabam utilizando na prática de “suas educações ambientais”. Este trabalho foi embasado

na concepção da Educação Ambiental Transformadora, Crítica e Emancipatória. Esta será

doravante referenciada apenas como EAT, já que estas três qualidades representam o mesmo

ideal e que a proposta advém de teóricos que partiram de um referencial comum e seguem

(33)

No Brasil, esta vertente da EAT começou a se configurar nos anos de 1980,

embora só tenha se imposto em 1990, quando “ocorreu uma maior aproximação dos

educadores - principalmente os envolvidos com a educação popular - e das instituições

públicas de educação com os militantes dos movimentos sociais e ambientalistas, que

enfocavam a transformação societária e o questionamento radical aos padrões industriais e de

consumo consolidados no capitalismo” (LOUREIRO, 2004b p. 66).

Transformar o indivíduo e, conseqüentemente, a sociedade implica dizer que a

EAT aqui defendida deve buscar a mudança de postura dos sujeitos, considerada necessária

para que uma nova sociedade seja construída, através de uma educação que os prepare para

transcender o caráter restrito das discussões que comumente se faz sobre a degradação

ambiental. “Educar é emancipar e a emancipação é a base da transformação social”

(LOUREIRO, 2004a p. 89).

No fazer educativo a EAT, aplicada com responsabilidade e visando ao seu

objetivo, credencia votos significativos aos conhecimentos biológicos, mas incorpora em si,

além da preocupação com a gestão sustentável dos recursos naturais, a formação de sujeitos

emancipados e conscientes de seus direitos e deveres para com o ambiente em que vivem,

incluindo, é claro, o sistema econômico e político no qual estão inseridos.

Formar estes sujeitos emancipados ou (re) formá-los (grifo meu) representa um

desafio pujante. Mudança de atitudes, mudarem de vida, sair da inércia para tornar-se um

sujeito capaz de agir e de reagir, tornar-se esclarecido, crítico, político, participativo e

disposto a transformar uma realidade de vida que lhe foi imposta, é como nadar contra a

correnteza, se levarmos em conta o sistema capitalista no qual o homem está inserido. No

entanto, acredita-se que uma mudança coletiva pode permitir que o fluxo de um rio,

extremamente poluído de ganância, egoísmo e hipocrisia sejam modificados. Estes

(34)

Costumo utilizar em minhas aulas a metáfora do rio, em que o rio representa a sociedade; a sua correnteza, o paradigma dominante; o curso do rio, o processo histórico. Para mudarmos o rio (sociedade), precisamos interferir na correnteza (paradigmas) do seu curso (processo histórico). Como fazer se não quero ser carregado pela correnteza? Começar a nadar contra a correnteza ou nadar até a margem para ficar ali me segurando? Nestas duas tentativas individualizadas o esforço de resistir sozinho é muito penoso e com o cansaço, a tendência é me acomodar e me deixar levar pela correnteza. Uma terceira alternativa seria criando uma contra a correnteza, como um movimento coletivo, conjunto, de resistência e que isso poderá resultar em toda uma alteração na dinâmica hidrológica desse rio, alterando a velocidade e força do rio, transformando sua capacidade erosiva, de transporte de sedimentos, entre outros. Isso terá como conseqüência, partindo dessa nova dinâmica, a construção de um novo curso (por um processo erosivo e de sedimentação diferenciado – prática social diferenciada), transformando-o num rio diferente. Isso significa que precisamos, mergulhado nessa correnteza paradigmática, construir esse movimento coletivo conjunto, que tenha sinergia para resistir e que, nessa contraposição (luta hegemônica), busquemos alargar as brechas e contradições da estrutura dominante, fragilizando-a para, assim, interferirmos na construção de uma nova realidade (totalidade dialética)

(GUIMARÃES, 2004 p.31).

Este é um dos propósitos da EAT, ou seja, preparar o indivíduo para pensar e agir

individualmente e coletivamente, visando à “mudança do curso do rio”; e isto só será possível

através de uma educação pautada nos interesses libertários, de liberdade de escolha e de

construção própria de vida.

A EAT nada mais faz do que educar. No entanto, de um modo geral, a EA que

tem sido realizada ainda se distancia muito desta proposta, pois tem sido uma prática pautada

nas perspectivas de uma educação tradicional, tecnicista e comportamentalista. Para a vertente

transformadora, a educação deve ser pautada na construção dos conhecimentos científicos e

dos conhecimentos sociais, éticos e políticos visando à uma prática cidadã, acompanhada de

ética, de respeito à diversidade biológica, de princípios morais, de justiça social e eqüidade de

bens e valores.

Esta proposta está ancorada, dentre as perspectivas que também assumem a

(35)

também na dialética de Marx, que toma o contraditório como fonte de questionamento e

renovação, bem como na compreensão da complexidade do mundo, teorizada por Edgar

Morim e Enrique Leff. Autores como Carlos Frederico B. Loureiro, Marcos Reigota, Mauro

Guimarães, Isabel Cristina de Moura Carvalho, entre outros, também não poderiam deixar de

ser aqui citados, visto que são considerados os pilares da EAT e emancipatória no Brasil.

Estes são teóricos que propõem uma prática educativa voltada para a ideologia libertadora de

Freire; que focam, além da formação científica, a formação ética e política do sujeito, o que

faltava na EAC. Estes e outros teóricos assumiram uma educação com responsabilidade social

e política, além da ecológica, propondo um processo que valoriza o ser humano e que não

aceita a educação como um aparelho ideológico do Estado, como diz Saviani (1999) em sua

obra “Escola e Democracia”.

Neste trabalho a EA parte de referenciais teóricos que se contrapõem aos sentidos

e objetivos da EAC, seguindo pressupostos como os de Guimarães (2004), que teoriza e

idealiza a EA Crítica. Esta busca realizar uma leitura de mundo mais complexa e

instrumentalizada, para que a intervenção, como por exemplo, no ambiente escolar, se dê a

partir da compreensão que se tem do mundo complexo, dinâmico e interativo, com intuito de

transformar, mudar atitudes.

O projeto político-pedagógico de uma Educação Ambiental Crítica seria o de contribuir para uma mudança de valores e atitudes, contribuindo para a formação de um sujeito ecológico. Ou seja, um tipo de subjetividade orientada por sensibilidades solidárias com o meio social e ambiental, modelo para a formação de indivíduos e grupos sociais capazes de identificar, problematizar e agir em relação às questões socioambientais, tendo como horizonte uma ética preocupada com a justiça ambiental (CARVALHO, 2004 p.18).

A EAT idealiza a emancipação do ser no sentido de conquistar espaço próprio de

vida, justiça social e qualidade de vida. Paulo Freire, uma das referências do pensamento

(36)

como formação de sujeitos sociais emancipados, isto é, autores de sua própria história. Este

pensamento foi incorporado por todos aqueles que acreditam na possibilidade de mudança,

numa transformação que visa a um mundo justo para todos. Trabalhar com esta vertente

significa romper com a educação tecnicista, transmissora de conhecimento, na qual o aluno é

visto como objeto de trabalho para um mercado que não necessita de conhecimento, mas

apenas de treinamento.

Saviani (1999) fala da Educação tecnicista, caracterizada por um processo

educativo que é objetivo, racional, operacional e produtivo, que procura moldar o aluno ao

processo de trabalho, ao ‘jogo mercadológico’, ou seja, um processo que visa à formação de

um sujeito que, quanto mais técnico - para atender as demandas desta sociedade elitista - mais

competente e socialmente realizado será. Não cabe a esta educação formar cidadãos

esclarecidos dos seus direitos, mas apenas dos seus deveres que devem ser cumpridos sob

pena de serem rigorosamente punidos por uma “Lei” que só funciona, justamente e

brutalmente, para aqueles que não receberam uma formação acadêmica e intelectual, ou seja,

o pobre, o marginalizado, o analfabeto, o “mente vazia”, o excluído, o técnico.

A EAC traz em si certo perfil desta educação; tem belos discursos naturalistas,

mas completamente descolados de uma prática política, promovendo uma educação racional,

objetiva, fragmentada; impõe, por exemplo, que se deve jogar o lixo no lixeira, sem se

preocupar com o devido aprofundamento das discussões a respeito da questão, deixando

lacunas com relação às conseqüências da prática inadequada para a vida do cidadão; inclui,

assim, práticas descontextualizadas, pontuais, sem esclarecimentos sobre os diversos fatores

que realmente estão envolvidos num determinado problema.

Trata-se, portanto, de uma educação superficial. É como um muro sujo que recebe

uma camada de cal e que, quando vem a chuva, é lavado e mostra sua verdadeira face,

(37)

comum à EA e que condiz com a colocação feita acima sobre a camada de cal, é a velha e

conhecida prática, escolar ou não, de recolher todo o lixo do chão durante a Semana do Meio

Ambiente, período no qual, anualmente, são efetivadas diversas práticas de EA. Estas, de

certa forma, são consideradas como “um incômodo” para muitos professores e uma maravilha

para todos os alunos, pois, os professores estão fartos de ouvir e falar em EA, muitas vezes

não sabem como atingir os objetivos desta e, portanto, fazem “qualquer coisa” e “de qualquer

jeito”. Os alunos, por sua vez, acham tudo maravilhoso porque poderão sair da sala de aula.

É evidente que é bom que seja feita a coleta do lixo na escola e que esta ação surte

efeitos imediatos, mas o que ocorre é que os alunos agem assim apenas momentaneamente,

pois como não foram devidamente preparados para entender toda a problemática associada ao

lixo e, portanto, não atribuem significado algum a esta prática, espontaneamente abandonam

aquela ação considerada adequada. Só voltarão a pensar no assunto no próximo ano, na

próxima Semana do Meio Ambiente, quando novamente a comunidade escolar se envolverá

nesta mesma prática – como se tal comportamento devesse ocorrer apenas pontualmente,

como uma “homenagem” ao meio ambiente. Percebe-se, assim, que se trata apenas de uma

ação repetitiva.

Ora, se houvesse uma formação educacional que visasse ao conhecimento

necessário para que a comunidade escolar entendesse porque não se deve jogar o lixo no chão,

visto que este pode comprometer direta ou indiretamente a qualidade de vida das pessoas, esta

prática pontual deixaria de acontecer para se tornar natural e constante. Este é um dos pontos

fracos desta EAC que não explica, mas apenas promove a ação; se não há a compreensão do

problema por parte daqueles que, em maior ou menor intensidade, são responsáveis pelo

mesmo, não haverá o envolvimento destes na busca de soluções e, conseqüentemente, as

(38)

A EAT vem trazer este entendimento sobre os diversos problemas que, local e

globalmente, enfrentamos no nosso dia a dia; além da preocupação com o conhecimento,

busca preparar o indivíduo para agir, individual e coletivamente, na resolução dos problemas.

Para tanto, é necessário um trabalho educativo contextualizado. As questões ambientais já não

são mais somente “ambientais” no sentido ecológico, mas são sociais, já que são

conseqüências das ações dos sujeitos na construção de sua história e de uma sociedade

pautada na lógica do capital, responsável pela exploração destrutiva do ambiente. O homem

pratica ações alienantes, desrespeitosas, egocêntricas, mas o faz, muitas vezes, não só por

falta de conhecimento sobre a dinâmica ambiental complexa na qual está inserido, mas por

não se questionar a respeito do seu verdadeiro papel neste contexto. Acreditamos que havendo

reflexão crítica, conhecimento técnico-científico e político, entendimento e sensibilização, a

vontade de agir e o envolvimento poderão surgir de forma responsável e natural que

possibilitará as transformações necessárias.

A EA que incorpora a dimensão social em seu fazer pedagógico valoriza o

contexto, esclarecendo os problemas estruturais de nossa sociedade, os verdadeiros porquês

do atual comprometimento da qualidade de vida e dos recursos naturais, antes vistos apenas

como mercadoria, como algo externo a nós (LOUREIRO, 2004a). Assim, a EAT se propõe a

disponibilizar aos indivíduos todo e qualquer conhecimento necessário para o entendimento

dos diversos aspectos associados aos diferentes problemas ambientais, locais e/ou globais,

para que possam atuar na conquista de uma melhor qualidade de vida, associada a uma

relação harmoniosa com o ambiente.

Trabalhar sob a perspectiva transformadora, crítica e emancipatória exige a

inserção na práxis educativa de alguns conceitos até então não incorporados: coletividade,

participação, dialética e complexidade. A coletividade e a participação estão intimamente

(39)

Guimarães (2004). Individualmente não podemos mudar o paradigma dominante, mas

coletivamente isso é possível e aqui a EAT valoriza em sua práxis esta participação, esta

coletividade mediatizada pela compreensão da complexidade ambiental.

Para entender a complexidade é preciso trabalhar dialeticamente, ou seja, preparar

um indivíduo questionador, que contra-argumenta para avançar no seu conhecimento a

respeito de uma questão que está posta. Segundo Foulquié (1978), esta palavra envolve

discurso e razão, ou seja, a discussão dialogada e racional que objetiva alcançar a

compreensão de algo. Para Loureiro (2004a), “O principio da dialética é a contradição, não no

sentido pejorativo, mas de acordo com Marx, seria o de contradizer para mudar, eliminar uma

determinada situação para surgir uma outra condição” (p.113). Este autor complementa

esclarecendo que esta condição deve ser algo que venha a beneficiar um todo comum, de

transformar para melhorar um modo de vida impositivo e alcançar a igualdade social e a

equidades de bens. A dialética é fundamental para articular a teoria e a prática através da

crítica e da autocrítica, do questionamento das verdades que foram colocadas e finalizadas

como certas. A EAT parte deste princípio dialético e busca entender, especular, agir para

transformar, com base em argumentos que permitam a superação e renovação deste sistema

em que tudo e todos são considerados como objetos, como coisas.

O indivíduo contraditório, permanentemente insatisfeito com a realidade em que

está inserido, está sempre buscando a renovação e, portanto, as contradições, as críticas

podem ser usadas para que sejam buscados benefícios comuns e para a construção de novos

paradigmas que visem ao bem da humanidade.

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