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CAPÍTULO II EDUCAR PELA PESQUISA

O ALUNO CRÍTICO E QUESTIONADOR

Olhar o aluno como sujeito, como alguém capaz de questionar, de argumentar com conhecimento, de inovar e (re) construir é o cerne da educação pela pesquisa, do ponto de vista educativo e científico. Fazer deste ideal uma realidade, é bastante desafiador para quem se propõe trabalhar sob a perspectiva do ensino por pesquisa, pois o professor deverá estar preparado para encarar, em sala de aula, alunos apáticos, desestimulados, alienados, “domesticados”, em função de um ensino tradicional e ultrapassado.

Tempo, paciência, disposição e competência para mudar este perfil são atributos que o professor deverá ter diante das necessidades e fraquezas encontradas nos sujeitos da sua prática pedagógica. Assim, lhe é necessária à competência formal de um professor realmente preocupado com o crescimento intelectual, moral e ético de seus alunos; um profissional sempre preocupado em melhorar sua prática docente e com a formação de cidadãos críticos e criativos, e que possui, portanto, o ideal de não apenas “passar conteúdos”, mas de transformar os indivíduos para que sejam capazes de atuar com competência formal e política.

Segundo Demo (2003), neste universo da pesquisa o aluno não vai mais à escola só para assistir às aulas, mas para pesquisar e ser parceiro de trabalho do professor e dos seus

colegas e isto deverá ficar claro para todos. “Transformar a sala de aula em local de trabalho conjunto significa não privilegiar o professor, mas sim o aluno, que poderá se movimentar, comunicar-se, organizar seu trabalho, buscar formas diferentes de participação” (DEMO, 2003 p.17).

Em sua prática docente o professor deverá não só ensinar seu aluno a pensar, mediante a construção do conhecimento, mas ensiná-lo a saber fazer deste conhecimento um instrumento valorativo para a sua emancipação. Este processo de construção mediante a pesquisa se inicia com o questionamento (re) construtivo que implica em estimular no aluno a curiosidade de buscar informações, de torná-lo insatisfeito com o já conhecido.

O questionamento (re)construtivo começa, pois, com o saber procurar e questionar (pesquisa). O aluno será motivado a tomar iniciativa, apreciar leitura, biblioteca, buscar dados e encontrar fontes, manejar conhecimento disponível e mesmo o senso comum. Exercitar sobre todo este material o questionamento sistemático, cultivando sempre o mais vivo espírito crítico. Aprende a duvidar, a perguntar, a querer saber sempre mais e melhor (DEMO, 2003 p.28).

O professor, no momento inicial da pesquisa, lança mão de perguntas relacionadas ou não ao conteúdo abordado, objetivando que o aluno pense (MORAES e GALIAZZI, 2002), provocando-lhe a curiosidade pelas respostas às perguntas, desencadeando naturalmente a prática da pesquisa.

Assim, como parceiros de trabalho, aluno e professor iniciam a busca de materiais em bibliotecas (livros, revistas, jornais, documentos, videotecas, institutos de pesquisa, Internet), para a obtenção de novas informações. Este buscar é o princípio da pesquisa e trás consigo a primeira impressão no aluno critico e questionador; o hábito pela leitura. Segundo Demo (op. cit.), esta procura por materiais é algo estimulante para o aluno e essa prática da pesquisa o habitua a ter iniciativas de sempre buscar o novo.

Esta prática da pesquisa, geralmente, encontra dificuldades quando realizada no ambiente escolar, em função da precariedade das escolas públicas com relação à

disponibilidade destes materiais de apoio. Assim, sempre que o professor se deparar com uma escola que apresenta estas carências, deverá usar de sua criatividade como pesquisador e disponibilizar para seus alunos tais ferramentas para que a pesquisa aconteça. De preferência, é de muita valia que o próprio professor construa materiais de pesquisa que estimulem a imaginação do aluno, que o faça manipular, pensar, (re) construir. “O professor criativo induz o aluno a criar também, ao montar materiais que permitam ao aluno manipular, experimentar, ver de perto, e principalmente refazer” (DEMO, 2003 p.22). O aluno poderá, ainda, fazer a pesquisa em casa e levar para a aula materiais que contribuam com a construção do conhecimento individual e coletivo.

Esta constante busca supera um hábito, próprio mesmo do professor, mas conseqüente do modelo de ensino tradicional, que é o de levar os materiais já prontos, acabados. “A busca por materiais promove tanto a participação individual como coletiva, se tornando um trabalho conjunto, no qual todos são atores que colaboram para um fim comum” (op.cit).

Mas o processo de formação do aluno através da pesquisa não pára por aí. Em seguida é preciso fazer com que as informações obtidas resultem num texto próprio, elaborado, reconstruído com certa autonomia. É fundamental que os alunos escrevam, redijam, discutam o que pensam sobre o assunto em pauta e que alcancem a capacidade de formular. Isso faz do aluno um sujeito pensante e que tem poder argumentativo, crítico, participativo, capaz de propor e contrapropor, deixando de lado aquela passividade a que tudo suporta calado.

A conduta passiva precisa ser superada em nome de outra, crítica e, sobretudo, elaborada. Interpretar pode significar exatamente esta pretensão de interpor no processo transmissivo um sujeito que se recusa ser um mero instrumento de passagem. O que por ele passa, toma tom próprio, tem marca pessoal (DEMO, 2003 p.23).

O autor acrescenta que “ler não é apenas entender, mas, especificamente, compreender” e, portanto, quando o aluno compreende um texto e consegue refazê-lo com suas próprias palavras, é porque entendeu o significado do mesmo, e ainda, que esta sua produção seja incipiente, o sujeito passa de mero leitor para autor, porque obteve a competência necessária para sua elaboração própria, ou seja, soube pensar, aprendeu a aprender. Assim, valorizou-se como sujeito deixando para trás a condição de objeto. Esta incumbência advinda da pesquisa, quando praticada pelo aluno, pode significar um avanço no processo da construção do conhecimento e na formação de sua competência.

O professor e a escola têm que ter em mente que, nos tempos de hoje, o aluno vai à escola para obter o conhecimento e aprender a utilizá-lo no seu cotidiano a fim de melhorar sua qualidade de vida. Na esfera educativa, o conhecimento é usado para a prática da cidadania, para a emancipação do sujeito.

[...] o conhecimento a ser trabalhado em sala de aula não tem um fim em si mesmo. O conhecimento tem sentido quando possibilita o compreender, o usufruir ou o transformar a realidade”, ainda “... o conhecimento tem que ser válido não só no sentido pragmático, mas também no sentido de compreender o mundo em que se vive, entender o sentido da vida” (VASCONCELLOS, 2002 p.40).