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Implicações socioeconômicas e ambientais da pesca artesanal de lagosta em Touros/RN

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA

IMPLICAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E AMBIENTAIS DA

PESCA ARTESANAL DE LAGOSTA EM TOUROS/RN

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR

SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR

SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA

FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA

FRANCKER DUARTE DE CASTRO

2013 Natal – RN

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Francker Duarte de Castro

IMPLICAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E AMBIENTAIS DA

PESCA ARTESANAL DE LAGOSTA EM TOUROS/RN

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR

SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA

FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA

Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof.Dr. Jorge Eduardo Lins Oliveira

Co-Orientadora: Profª. Drª. Francisca de Souza Miller

2013 Natal – RN

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Castro, Francker Duarte de.

Implicações socioeconômicas e ambientais da pesca artesanal de lagosta em Touros/RN / Francker Duarte De Castro. - Natal, 2013. 87 f: il.

Orientador: Prof. Dr. Jorge Eduardo Lins Oliveira. Coorientadora: Profa. Dra. Francisca de Souza Miller.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente/PRODEMA.

1. Lagosta espinhosa Dissertação. 2. Pesca artesanal -Dissertação. 3. Socioeconomia - -Dissertação. I. Oliveira, Jorge Eduardo Lins. II. Miller, Francisca de Souza. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.

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Não foi o homem que teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer a trama, a si próprio fará.

(Cacique Seattle)

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FRANCKER DUARTE DE CASTRO

Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________ Prof. Dr. Jorge Eduardo Lins Oliveira

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)

______________________________________________ Prof. Dr. Edson Vicente da Silva

Universidade Federal do Ceará (PRODEMA/UFC)

_______________________________________________ Prof. Dr. Edmilson Lopes Júnior

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado forças e a sabedoria necessário para realizar a pesquisa.

A CAPES, pelo incentivo financeiro.

Ao Professor Orientador, Dr. Jorge Eduardo Lins Oliveira, pelo incentivo à pesquisa e seu acompanhamento nas horas mais difíceis. Muito obrigado!

À Professora Co-Orientadora, Drª Francisca de Souza Miller, que por meio de seus direcionamentos e tranquilidade contribuíram para meu crescimento humano e acadêmico.

Aos meus pais, Francisco França de Castro e Glécia Maria Duarte de Castro, pelo apoio, força e compreensão que me deram nos momentos mais difíceis da pesquisa.

Agradeço aos meus amigos, Ana Cláudia da Cruz Cândido, Francisca Márcia Fernandes Tavares, Francisco Araújo dos Santos Júnior, Gilnara Karla Nicolau da Silva, Luzimar Pereira da Costa, Maria de Fátima dos Santos e Mariana Câmara do Nascimento, pelas contribuições na pesquisa de campo, bem como no trabalho de gabinete. Para todos vocês, muito Obrigado!

Aos pescadores e presidentes de colônias do município de Touros/RN por terem me acolhido e contribuído por meio de suas experiências e vivências para o desenvolver deste estudo.

Agradeço aos mestrandos do PRODEMA pela companhia e amizade, em especial Mikaelle Kaline Bezerra da Costa, Juliana da Silva Ibiapina, Rafaela Maria de França Bezerra, Neusiene Medeiros da Silva, Bruno Cesar Dias de Albuquerque e Henrique Roque Dantas.

Aos docentes do PRODEMA, Drª Eliza Maria Xavier Freire, Drª Cimone Rosendo de Souza e Dr. Edmilson Lopes Júnior, pelo empenho e dedicação realizados por vocês ao exercerem a docência.

Enfim, agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para o desenvolvimento da pesquisa.

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LISTA DE FIGURAS

INTRODUÇÃO GERAL

Figura 1 – Distribuição dos gêneros de lagosta da família Paniluridae conforme a latitude,

profundidade e temperatura ... 19

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO Figura 2 – Mapa do município de Touros/RN... 22

CAPÍTULO 1 Figura 1 – Mapa do município de Touros/RN e das comunidades pesqueiras em estudo ... 32

Figura 2 – Capturas das espécies de lagosta Panulirus argus (lagosta vermelha) e Panulirus laevicauda (lagosta verde) no Rio Grande do Norte e no município de Touros ... 33

Figura 3 – Embarcações utilizadas na pesca de lagosta na área de estudo: a) barco motorizado; b) Jangadas ... 34

Figura 4 – Faixa etária dos pescadores entrevistados do município de Touros/RN ... 35

Figura 5 – Renda mensal dos pescadores de lagosta do município de Touros ... 37

Figura 6 – Instrumentos e técnicas utilizados na pesca de lagosta no município de Touros .. 39

CAPÍTULO 2 Figura 1 – Localização do município de Touros/RN ... 47

Figura 2 – Causas da redução dos estoques de lagostas das espécies Panulirus argus e Panulirus laevicauda ... 50

Figura 3 – Instrumentos de pesca proibidos pela legislação: a) compressor de ar; b) rede de espera (caçoeira) ... 51

Figura 4 – Problemas ambientais decorrentes do uso dos instrumentos e técnicas de pesca na captura de lagosta ... 53

Figura 5 – Fatores que impulsionam o uso de instrumentos ilegais pelos pescadores na pesca de lagosta ... 57

CAPÍTULO 3 Figura 1 – Localização do município de Touros/RN ... 67

Figura 2 – Desembarque dos pescadores na área de estudo ... 68

Figura 3 – Marambaias prontas para serem lançadas no mar ... 71

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO GERAL ... 10

1.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 15

1.1.1. Pescadores artesanais e territorialidade ... 15

1.1.2. História de vida e o panorama mundial da pesca de lagosta: do global ao local .... 18

2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO ... 21

3. METODOLOGIA GERAL ... 23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 25

CAPÍTULO 1 – ASPECTOS SOCIOECONOMICOS DA PESCA E DOS PESCADORES DE LAGOSTAS DO MUNICÍPIO DE TOUROS/RN ... 29

RESUMO ... 30

ABSTRACT ... 30

INTRODUÇÃO ... 31

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ... 31

MATERIAL E MÉTODOS ... 32

RESULTADO DAS DISCUSSÕES ... 33

CONCLUSÃO ... 39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 40

CAPÍTULO 2 – PESCA PREDATÓRIA DE LAGOSTA: CONFLITOS E CONSEQUÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS ... 433

RESUMO...44

ABSTRACT...44

RESUMEN...44

INTRODUÇÃO GERAL ... 45

METODOLOGIA ... 47

RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 58

(9)

CAPÍTULO 3 – ADAPTABILIDADE HUMANA DE PESCADORES ARTESANAIS

DE LAGOSTA DE TOUROS/RN ... 64

RESUMO ... 65

ABSTRACT ... 65

RESUMEN ... 65

INTRODUÇÃO ... 66

PESCA ARTESANAL DE LAGOSTA: GÊNERO DE VIDA, TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E AMBIENTAIS ... 67

ECOLOGIA HUMANA DOS PESCADORES ARTESANAIS DE LAGOSTA E ADAPTAÇÕES ... 70

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 73

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 76

ANEXO 1 – NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DA REVISTA SOCIEDADE & NATUREZA...78

8 ANEXO 2 – NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DA REVISTA AMBIENTE & SOCIEDADE ... 80

ANEXO 3 – NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DA REVISTA MERCATOR ... 83

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RESUMO

As sociedades humanas sempre se utilizaram dos recursos naturais marinhos como aporte seguro para diversas finalidades, dentre elas, a aquisição de alimentos e a geração de renda para garantir sua sobrevivência e reprodução social. Na conjuntura atual, a pesca artesanal de lagostas espinhosas das espécies Panulirus argus (lagosta-vermelha) e Panulirus laevicauda (lagosta-verde) representa uma das principais atividades econômicas do estado Rio Grande do Norte, constituindo-se na principal fonte de renda de muitas comunidades pesqueiras. No estado, o município de Touros desponta como o segundo maior produtor do crustáceo. Contudo, a introdução de instrumentos e de técnicas predatórias de pesca, aliada a adoção da mentalidade capitalista, veem causando transformações que se repercutem diretamente na socioeconomia e no meio ambiente dessas comunidades, a exemplo da sobrepesca dos estoques pesqueiros. Assim, o presente estudo possui como objetivo principal analisar a pesca artesanal de lagosta no município de Touros/RN, considerando os efeitos e as transformações decorrentes do uso das técnicas de captura sobre a socioeconomia e o meio ambiente. Como objetivos específicos buscaram-se: caracterizar socioeconomicamente a pesca e os pescadores artesanais de lagosta da área em estudo; identificar as práticas e técnicas mais utilizadas para a pesca de lagosta correlacionando-as com a sobrepesca e as transformações socioeconômicas; determinar os fatores ou mecanismos que vem impulsionando os pescadores artesanais a utilizarem técnicas predatórias na pesca de lagosta, bem como seus efeitos sobre o meio ambiente; identificar as formas de adaptação dos pescadores artesanais quanto às novas condições ambientais e socioeconômicas. Para tanto, fez-se uso da pesquisa bibliográfica, da observação de campo, do registro fotográfico, da aplicação de 86 entrevistas estruturadas e da análise de conteúdo. Os resultados apontam que os pescadores de lagostas são homens de idade avançada, casados, com baixo grau de escolaridade e de rendimento financeiro, bem como demonstram o caráter instável e predatório dessa modalidade de pesca. Verificou-se também que a marginalização social dos pescadores, aliada às dificuldades de sobrevivência impostas pelo capitalismo e a ineficiente fiscalização governamental, constituem os fatores preponderantes para o uso das técnicas ilegais apontadas. Além disso, os resultados mostram que as adaptações às novas condições ambientais podem ser positivas no que tange ao aumento da renda e negativas no que se refere ao meio ambiente. Logo, para mitigar os problemas sociais e ambientais é necessário que o Estado priorize o desenvolvimento de políticas direcionadas aos pescadores e a pesca que abarquem tanto as dimensões de assistência financeira e profissional, quanto uma maior rigidez no que concerne ao sistema de fiscalização e gerenciamento.

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ABSTRACT

Human societies have always utilized marine natural resources as a safe reserve for various purposes, among them, obtaining food and generating income to ensure their survival and social reproduction. Currently, the fishing of spiny lobsters of the species Panulirus argus (red-lobster) and Panulirus laevicauda (green-lobster) represents one of the main economic activities of the state of Rio Grande do Norte, constituting the main source of income for many fishing communities. The town of Touros is emerging as the second largest crustacean producer in the state. However, the introduction of tools and predatory fishing techniques, coupled with adoption of the capitalist mentality, have been causing changes which impact directly on the socioeconomics and the environment of these communities, such as the overfishing of fish stocks. Thus, the present study aims to analyze artisanal lobster fishing in the town of Touros / RN, considering the effects and transformations resulting from the use of capture techniques on the socioeconomics and the environment. As its specific objectives, it seeks to: characterize socioeconomically the fishing and lobster fishermen in the study area; identify the practices and techniques most used for lobster fishing, correlating them with overfishing and socioeconomic transformations; determine the factors or mechanisms that have been driving the fishermen to use predatory techniques in lobster fishing, as well as their effects on the environment; identify the artisanal fishermen's methods of adapting to new environmental and socioeconomic conditions. For this, use has been made of bibliographic research, field observation, photographic records, and the application of 86 tools of structured interviews and content analysis. The results indicate that lobster fishermen are men of advanced age, married, with low educational level and financial returns, as well as demonstrating the predatory and unstable character of this type of fishing. It was also found that the social marginalization of fishermen, combined with the difficulties of survival imposed by capitalism and inefficient government enforcement, are the most important factors in the use of the illegal techniques pointed out. Moreover, the results show that the adaptations to the new environmental conditions can be positive with respect to increased income and negative with regard to the environment. Therefore, to mitigate social and environmental problems it is necessary for the State to prioritize the development of policies aimed at fishermen and fishing that cover the aspects of financial and professional assistance, as well as greater rigidity in the system of enforcement and management.

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1. INTRODUÇÃO GERAL

A pesca é uma das atividades mais antigas da humanidade. O homem sempre viu o mar como aporte seguro de alimentos e renda para sua existência através da exploração de seus recursos naturais. No entanto, a importância da atividade pesqueira não se resume somente à economia de uma dada sociedade, pois permeia outros aspectos do âmbito social como os culturais e os simbólicos (DIEGUES, 2004). No processo de formação e organização espacial do território brasileiro, muitas comunidades se estabeleceram ao longo do litoral, encontrando na pesca e na agricultura de subsistência os principais meios para sua sobrevivência e para o provimento de bens materiais básicos necessários ao cotidiano.

A costa do Rio Grande do Norte possui aproximadamente 410 km de extensão pontuada por 98 comunidades litorâneas distribuídas em 25 municípios costeiros. Esse fato torna a atividade pesqueira extrativa marinha uma de suas principais economias, rendendo ao estado cerca de 84 milhões de reais através da captura de quase 20 mil toneladas de pescado (BRASIL, 2012). No estado, cerca de 20 mil pessoas estão diretamente empregadas na condição de pescador profissional e ao considerar seus familiares e dependentes, bem como outros indivíduos que participam indiretamente dessa atividade, esse número pode se elevar para mais de 65 mil pessoas ligadas ao setor, demonstrando assim grande relevância econômica para uma parcela expressiva de sua população (BRASIL, 2012; IBAMA, 2010).

Cerca de 75,5% das capturas realizadas no estado são procedentes da pesca exercida de forma artesanal, pois 98% da frota pesqueira se enquadra nos tamanhos de médio a pequeno porte, ou seja, menor que 12 metros de comprimento (IBAMA, 2010). Sendo assim, a pesca potiguar possui caráter predominantemente artesanal, realizando-se nos moldes da pequena produção mercantil, com o uso de tecnologia relativamente modesta de pouca capacidade predatória, regime de trabalho autônomo, baixa capacidade de acumulação financeira, dependência de intermediários, propriedade dos meios de produção (instrumentos de pesca) e o domínio do saber pescar ancorado na experiência e no conhecimento profundo sobre o mar e as espécies marinhas (DIEGUES, 2004).

No cenário nacional, o Rio Grande do Norte vem despontando, ao longo dos anos, como o segundo maior produtor de lagosta do Brasil produzindo 743,2 toneladas em 2009, sendo superado apenas pelo estado do Ceará. Cabe ressaltar que, dentre os municípios produtores de lagosta, Touros ocupou o segundo lugar no ranking estadual ao produzir 83 toneladas do crustáceo no ano de 2009 (IBAMA, 2010). Com efeito, os pescadores artesanais desse município estão voltados, em sua maioria, para a pesca da lagosta vermelha (Panulirus

argus) e da lagosta verde (Panulirus laevicauda) em virtude de seu alto valor econômico no

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famílias, sobrevive dessa economia, distribuindo-se em duas colônias de pescadores, uma na cidade de Touros (Z-02) e outra no distrito de Cajueiro (Z-36).

Todavia, já a partir da década de 1970, esse recurso pesqueiro vem sofrendo com a sobrepesca resultante da introdução de barcos motorizados e de técnicas proibidas de pesca como a rede-de-espera, a caçoeira e o mergulho com auxílio de compressor de ar, tornando a atividade pesqueira nesses moldes predatória e insustentável (MUNIZ, 2005). Esse cenário tem se desenvolvido desde o estabelecimento da indústria pesqueira de base empresarial, uma vez que os pescadores artesanais entraram na lógica da produção capitalista desvinculando-se de seu caráter coletivo e, ávidos por lucros, passando a explorar os recursos pesqueiros de lagosta1 o máximo que podem no menor intervalo de tempo, não respeitando o tempo de recuperação da natureza (DIEGUES, 1983). Diante disso, o mercado passa a exercer forte pressão sobre o pescador artesanal requerendo aumento na produtividade e levando-os a adotar técnicas predatórias de pesca, bem como os conduzindo à individualização do trabalho e a ambição pelo dinheiro (PROST, 2007; WOORTMANN, 1991). Como consequência, os recursos pesqueiros encontram-se comprometidos em decorrência da adoção de um modelo de desenvolvimento que quebrou a harmonia entre os sistemas naturais e as formações sociais (LEFF, 2009).

O aumento descontrolado dos esforços de pesca estão se refletindo na sobrepesca dos recursos pesqueiros marinhos em escala global; sendo os próprios pescadores os primeiros a sentirem as mudanças ambientais em função do abrupto declínio das espécies comerciais outrora abundantes (FAO, 2012; DIAS NETO, 2003). Se antes os recursos naturais do mar eram considerados inesgotáveis, repentinamente, no decorrer do século XX, essa imagem passou a ser invertida, pois o mar apresentou traços de fragilidade e vulnerabilidade face às ações humanas (BOLSTER, 2006). Com relação a essa realidade, em particular à captura de lagosta, Phillips e Merville-Smith (2006) afirmam que todas as pescarias de lagosta existentes no mundo estão sobre-exploradas em razão de sua natureza agressiva.

A pesca, antes considerada coletiva, assume agora uma postura capitalista agregando o individualismo, a competitividade, o lucro excessivo e o uso de tecnologias e de técnicas agressivas ao meio ambiente e ao processo de produção pesqueira. Os pescadores artesanais de lagosta passaram a desrespeitar a legislação, uma vez que introduziram a captura de lagostas em processo de reprodução, em tamanhos inferiores ao permitido pela legislação que corresponde a 13 cm de cauda para a lagosta vermelha (Panulirus argus) e 11 cm de cauda para a lagosta verde (Panulirus laevicauda) e, em períodos destinados ao defeso que,

1 A legislação brasileira, através da Lei n° 11.959, De 29 de Junho de 2009, classifica como recursos pesqueiros

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atualmente, compreende os meses de dezembro a maio. No período de defeso a pesca desse crustáceo é terminantemente proibida, pois corresponde ao período de reprodução da espécie.

Como consequência desse processo de adoção de práticas predatórias, as comunidades pesqueiras do município de Touros estão sofrendo os efeitos dessa relação de conflito entre o homem e a natureza. De fato, em contato com os pescadores locais verifica-se em seus discursos o descontentamento em relação à pesca, haja vista o número e a qualidade dos estoques pesqueiros, em especial de lagosta, estar diminuindo, pois a quantidade de pescado capturado não corresponde aos tempos de outrora, refletindo, desse modo, na diminuição de sua renda e no aumento dos esforços para assegurar a sobrevivência de suas famílias. Com base nessas informações, pode-se inferir que as mudanças não foram somente de ordem socioeconômica, pois a lógica capitalista de mercado aliada a introdução de novas técnicas de pesca alterou o comportamento dos pescadores e da comunidade para com o meio ambiente e seus recursos naturais haja vista a técnica ser a principal forma de relação entre o homem e o meio (SANTOS, 2006).

Diante da realidade vigente no município de Touros/RN surgem alguns questionamentos norteadores da discussão tecida nessa pesquisa: de que modo o uso de técnicas predatória na pesca de lagosta vem modificado a relação dos pescadores artesanais com o meio ambiente? Quais os fatores ou mecanismos que impulsionam os pescadores artesanais a utilizarem técnicas predatórias na pesca de lagosta? Como os pescadores artesanais se adaptam as novas condições ambientais e socioeconômicas decorrentes dessa forma de apropriação dos estoques pesqueiros naturais de lagosta?

Nesse contexto, acredita-se, a priori, que a escassez dos estoques pesqueiros de lagosta seja uma resposta natural do meio ambiente diante do emprego das novas técnicas e práticas adotadas pelos pescadores artesanais no exercício do seu ofício. Antes da modernização, as ferramentas e os aparatos técnicos eram artesanais e rudimentares, porém respondiam as necessidades dos pescadores e de suas famílias, pois estavam assentados na economia de subsistência. Entretanto, por possuírem características predatórias, as novas ferramentas de trabalho aliada as novas técnicas de pesca, puderam, nos primeiros anos de sua introdução, provocar um aumento nas capturas, porém ao longo do tempo a quantidade dos estoques pesqueiros diminui e exige dos pescadores artesanais maior tempo de permanência no mar (maior esforço para pesca) e adaptações às novas condições pesqueiras.

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pressões ambientais para que possa dar a melhor resposta adaptativa diante das novas condições ambientais (MORAN, 1990).

Sabe-se que estudar as relações do homem com o meio que o circunda não se constitui numa tarefa fácil, pois os estudos ambientais são por natureza complexos e interdisciplinares requerendo dos pesquisadores, muitas vezes, uma postura que tente observar os fenômenos como um todo, recorrendo, dessa maneira, aos mais diversos ramos do conhecimento científico. Ademais, essas relações não se estabelecem por meio da neutralidade, haja vista a ação antrópica estar impregnada de intencionalidade, ou seja, imbuídas de racionalidades, valores culturais, anseios e desejos que são características do gênero humano.

Logo, obedecendo às exigências inerentes aos estudos ambientais, de modo a garantir uma melhor compreensão da interação dinâmica entre o homem e a natureza faz-se necessária a articulação entre as ciências naturais e as ciências sociais. Assim sendo, o presente estudo versa sua construção ancorado na antropologia, na geografia e na ecologia humana. Para Begossi (2004), estudos na área de ecologia humana são propícios para a análise da relação entre as populações humanas e os seus recursos naturais, uma vez que essa área de estudo constitui-se numa forma interdisciplinar de entender o comportamento e a dependência do homem com relação a esses recursos.

Diante do exposto, verifica-se a necessidade de estudos que busquem entender os problemas que permeiam a pesca artesanal da lagosta na atualidade. Embora, muitas vezes, os pescadores artesanais sejam esquecidos pelos programas governamentais em função de sua frágil organização política e de seu reduzido número quando comparado com outras categorias de profissionais, mais da metade do pescado que chega à mesa dos brasileiros advêm dessa modalidade de pesca.

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litoral sul, enfatizando sua organização social e a relação da comunidade com o seu ambiente. Por sua vez, a segunda, direcionou sua análise nos modos de vida e de pesca de uma comunidade do litoral norte.

Assim, diante do exposto, o objetivo principal dessa pesquisa é analisar a pesca artesanal de lagosta no município de Touros/RN, considerando os efeitos e as transformações decorrentes do uso das técnicas de captura sobre a socioeconomia e o meio ambiente. Para tanto, tendo vista encontrar respostas para os questionamentos já elencados e alcançar o propósito do objetivo geral, traçou-se como objetivos específicos: caracterizar socioeconomicamente a pesca e os pescadores artesanais de lagosta da área em estudo; identificar as práticas e técnicas mais utilizadas para a pesca de lagosta correlacionando-as com a sobrepesca e as transformações socioeconômicas; determinar os fatores ou mecanismos que vem impulsionando os pescadores artesanais a utilizarem técnicas predatórias na pesca de lagosta, bem como seus efeitos sobre o meio ambiente; identificar as formas de adaptação dos pescadores artesanais quanto às novas condições ambientais e socioeconômicas.

Esta dissertação obedece à seguinte estrutura: introdução (apresentando a temática discutida e sua relevância, assim como a exposição da problemática que direcionou a pesquisa); fundamentação teórica (bases conceituais em que se encontra assentada a construção do estudo); procedimentos metodológicos; três capítulos constituídos de artigos científicos e as considerações finais da pesquisa.

No primeiro capítulo é apresentado o artigo intitulado Aspectos socioeconômicos da

Pesca e dos pescadores de lagostas do município de Touros/RN. Esse artigo foi submetido à

revista Sociedade & Natureza, possuindo como objetivo caracterizar socioeconomicamente a pesca e os pescadores artesanais de lagosta do referido município; identificar as práticas e técnicas mais utilizadas na pesca de lagosta e as transformações socioeconômicas decorrentes dessa atividade.

O segundo capítulo é composto pelo artigo Pesca predatória de lagosta: conflitos e

consequências socioambientais. Tal artigo vem a ser submetido á revista Ambiente &

Sociedade e possui como objetivo determinar os fatores que vêm impulsionando os pescadores artesanais do município de Touros/RN a utilizarem técnicas predatórias na pesca de lagosta e seus efeitos sobre o meio ambiente.

No terceiro capítulo, por sua vez, é apresentado o artigo denominado Adaptabilidade

humana de pescadores artesanais de lagosta do município de Touros/RN, a ser submetido à

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os pescadores se adaptam às modificações ambientais decorrentes da introdução de novos instrumentos de pesca.

1.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1.1 Pescadores artesanais e territorialidade

Metade dos recursos pesqueiros capturados no mundo são provenientes da pesca artesanal, essa modalidade de pesca é responsável pelo emprego de aproximadamente 51 milhões de indivíduos, isto é, 99% dos pescadores existentes (FAO, 2012; SHESTER; MICHELI, 2011). No Brasil, desde o período colonial, a pesca assegurou seu papel para o desenvolvimento do país ao servir enquanto fonte alimentar segura para os engenhos e fazendas atrelados à monocultura da cana de açúcar e para a alimentação das comunidades, povoados e cidades do litoral (DIEGUES, 2004). De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura do Brasil, os pescadores artesanais são responsáveis por 60% do pescado produzido no Brasil, resultante de uma produção anual de mais de 500 mil toneladas (BRASIL, 2011). Ainda segundo o referido ministério, mais de 600 mil brasileiros sustentam suas famílias e geram renda para o país trabalhando nessa atividade desde a captura dos peixes e frutos do mar ao ato de comercialização. Assim, a pesca artesanal vem se destacando por sua resistência, existindo como uma arte e uma atividade socioeconômica de grande importância (SILVA, 2010).

A legislação brasileira, por meio da Lei n°11.959, de 29 de junho de 2009, define a pesca artesanal como sendo toda atividade pesqueira quando praticada diretamente por pescador profissional, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de produção próprios ou mediante contrato de parceria, desembarcado, podendo utilizar embarcações de pequeno porte (BRASIL, 2009). Tal definição da pesca artesanal é considerada reducionista pelo fato de não considerar a contextualização histórica, social e cultural em que se dá o desenvolvimento dessa modalidade de pesca. A pesca artesanal vai além da constituição de uma atividade econômica ao se configurar em um gênero de vida. Para Claval (1999), o gênero de vida corresponde às formas de sequências da vida social que obedecem a um padrão comportamental verificado nas sociedades tradicionais, a exemplo das comunidades de pescadores em que calendários e horários de trabalho são os mesmos para todos os homens; basta analisar uma família para se ter uma base sobre a vida de todos.

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assim por diante. De fato, o universo da pesca artesanal não é homogêneo e suas diferenças podem ser encontradas na diversidade cultural presente nas comunidades de pescadores do litoral brasileiro. Apesar de suas semelhanças culturais, cada comunidade se relaciona de forma particular no que se remete aos recursos naturais existentes (ADAMS, 2000). Os principais fatores responsáveis pela diversidade cultural das sociedades marítimas são: a valorização positiva ou negativa do mar; a forma de organização social e econômica; o grau de importância da atividade pesqueira para a economia e as relações simbólicas e místicas desenvolvidas a partir da vivência no meio marítimo (DIEGUES, 1999).

No entanto, para fins de pesquisa, considera-se nesse estudo o conceito de pesca artesanal anteriormente apresentado e desenvolvido por Diegues (2004), cujas características principais são a autonomia, o caráter familiar e o conhecimento profundo sobre o mar e as espécies marinhas, alicerçado em suas experiências e vivências diárias. Sendo esse último atributo, o conhecimento empírico do meio, o fator essencial para a consolidação de sua autonomia no exercício de sua profissão.

Os pescadores artesanais encontram-se organizados de forma simples, geralmente agrupados em colônias, e em total dependência da dinâmica do ecossistema marinho (ZECCHIN, 2008). Por habitarem em áreas situadas na porção costeira e, em alguns casos, entrecortadas por rios, é no mar e nos rios que o pescador artesanal define seu gênero de vida e constrói a sua identidade. As águas permeiam o domínio do imaginário e do simbólico, levando o pescador artesanal a imprimir-lhes significados (DIEGUES, 1999; CUNHA, 2000). É das águas que surgem os mitos e os fenômenos sobrenaturais usados para explicar a realidade nas comunidades tradicionais de pescadores. Nesse âmbito, o espaço das águas se constitui num geossímbolo. Para Bonnemaison (2002), o geossímbolo corresponde a um lugar, um itinerário que por razões de ordem políticas, religiosas ou culturais, alguns grupos sociais lhe atribuem uma nuance simbólica que lhes fortalece a identidade.

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relações e recursos, por meio da delimitação e defesa de uma determinada área geográfica. A territorialidade impõem-se assim como uma estratégia de poder social que vislumbra estabelecer para os indivíduos diferentes graus de acesso aos elementos do território (SACK, 1986). Em outras palavras, a territorialidade está estreitamente relacionada ao modo como as pessoas usam o espaço, como nele se organizam e lhe atribuem significados e regras sociais.

Obviamente, por ser fruto de uma construção social, as condições de territorialidade não são imutáveis haja vista mudarem em resposta as transformações sociais inerentes ao transcorrer do tempo. Dessa forma, cada construção territorial e sua respectiva territorialidade correspondem ao contexto histórico e social de uma dada sociedade em um determinado momento.

Seguindo as premissas de Sack (1986), no que tange a territorialidade, essa pode ser expressa na pesca artesanal no processo de demarcação de pontos de pesca denominados de pesqueiros. Os pesqueiros, geralmente, são áreas de afloramentos rochosos submersos que favorecem a uma acentuada densidade populacional de espécies de crustáceos e peixes que permanecem nas imediações das formações rochosas com a finalidade de se proteger em meio às fendas da ameaça de possíveis predadores (BEGOSSI, 2004). No mar, ao lançar as redes ou ao ancorar as embarcações em um pesqueiro, de imediato, aquele espaço adquire conotação territorial e passa a ser território da embarcação que ali exerce suas funções. No mesmo enlace, as normas da territorialidade também passam a atuar impedindo que outras navegações se aproximem do território de exploração e se apropriem dos recursos pesqueiros encontrados. Por conseguinte, qualquer desrespeito aos preceitos e normas socialmente construídas pode originar conflitos que variam de xingamentos verbais até atitudes mais drásticas como agressões físicas e morte (CORDELL, 2001).

O mar, espaço de vida dos pescadores marítimos, é matizado também pela locomoção das águas e dos recursos marinhos, pela instabilidade das condições meteorológicas e oceanográficas, pela variação no padrão de reprodução e migração das espécies e pela imprevisibilidade pesqueira dentre outras inconstâncias naturais (DIEGUES, 1999). Vale salientar que, o imaginário social e a realidade de mercado dos pescadores se fazem presente manifestando-se por meio dos seus medos e temores, pelas contínuas mudanças no preço e pelo elevado índice de perecibilidade do pescado capturado que intima o pescador a vender rapidamente seu produto, muitas vezes, por um preço desfavorável quando comparado ao esforço despendido para capturá-lo.

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muito pouco pelo produto. Essa relação é desigual e muito lucrativa para os atravessadores, pois compram o pescado por baixos preços e revende-o nos núcleos urbanos por um valor bem maior. Enquanto isso, o pescador é explorado e recebe uma parte ínfima na comercialização de seu produto (CASTRO; LINS-OLIVEIRA, 2011).

Essa situação de exploração só é possível em virtude da precariedade dos meios de produção da pesca artesanal. O caráter ainda rudimentar da infraetrutura técnica, a exemplo de uma câmara de refrigeração para conservação do pescado, e a ausência de subsídios governamentais que apoiem a atividade condiciona-os a se sujeitarem às mais variadas formas de exploração do mercado. Como preconizam Rodrigues e Maia (2007), a ineficiência das infraestruturas de armazenamento, processamento e comercialização do produto diminuem as perspectivas de renda dos pescadores ao mesmo passo em que os coage a repassar o pescado num reduzido intervalo de tempo aos atravessadores que, por conseguinte, pagam um valor irrisório pelo produto obtido.

Nessa interface Santos (1998, p. 20) afirma: “A técnica é a grande banalidade e o grande enigma, e é como enigma que ela comanda nossa vida, nos impõem relações, modela nosso entorno, administra nossas relações com o entorno”. Em linhas gerais, o que o referido autor quer dizer é que antes a técnica era submetida pelo homem para realizar suas ações no meio, porém, hoje, é ela quem submete o homem retirando sua liberdade própria e o enclausurando nas amarras do capital conforme seus ditames e imperativos.

Apesar de sua importância a nível mundial poucas pesquisas são direcionadas ao estudo da pesca artesanal. E, como resultado disso, essa modalidade de pesca se reproduz socialmente de forma silenciosa e quase imperceptível nos bastidores do desenvolvimento socioeconômico dos países enquanto é explorada pelos esteios do sistema econômico hegemônico.

1.1.2 História de vida e o panorama mundial da pesca de lagosta: do global ao local

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As lagostas, crustáceos decápodes, biologicamente, estão divididas em quatro famílias somando um total de 163 espécies: Nephropidae (lagosta de pinças), Palinuridae (lagostas espinhosas), Synaxidae e a Scyllaridae (IBAMA, 2008). A família Palinuridae, a mais abundante no Brasil, é formada 49 espécies distribuídas no mundo entre as latitudes de 45° N a 45° S. Sua maior densidade biológica e importância econômica se dão na América do Norte, América do Sul, África, Mediterrâneo, India, Austrália, Nova Zelândia e em ilhas do Oceano Pacífico (KANCIRUK, 1980). Essas espécies estão distribuídas nos gêneros Projasus,

Palinurus e Jasus (altas latitudes); Puerulus, Palinustus, Justitia e Linuparus (águas

equatoriais profundas); e, no gênero Panulirus (águas rasas das plataformas equatoriais). Vale salientar que, a diversidade das espécies é considerada alta nos trópicos, porém baixa com relação à densidade populacional. Enquanto isso, nas altas latitudes, a situação se inverte, pois a diversidade agora é considerada baixa e a densidade populacional bastante elevada (KANCIRUK, 1980). Para uma melhor compreensão de sua distribuição observe a figura 1.

Fonte: LIPCIUS; EGGLESTON, 2000.

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Ecologicamente, as lagostas são importantes para a teia alimentar marinha desde o oceano profundo (3000 metros de profundidade) até os habitats rasos da plataforma continental. São animais de hábitos noturnos e caráter alimentar onívoro, englobando em sua dieta alimentos essenciais como gastrópodes e outros crustáceos, bem como alimentos secundários como equinodermos, algas, esponjas, cnidários e briozoário (FONTELES-FILHO, 2007). Na zona costeira da plataforma são os maiores predadores de várias espécies benticas, principalmente presas sedentárias ou de movimentos lentos, e importantes presas para grandes predadores como os tubarões (LIPCIUS; EGGLESTON, 2000).

De acordo com Fonteles-Filho (2007), por serem animais bentônicos, o hábitat natural das lagostas espinhosas é formado por um assoalho coberto por algas calcárias da família das Rhodophiceae (algas vermelhas) e das Clorophyceae (algas verdes). Tais algas essenciais para o desenvolvimento da lagosta por fornecerem carbonato de cálcio para o meio ambiente, sendo fundamentais para a constituição do exoesqueleto (carapaça) nos processos de ecdise a que terá que se submeter durante sua história de vida.

A história de vida das lagostas espinhosas é complexa e longa. Existem cinco grandes fases em seu ciclo de vida: ovo, filosoma (estágio larval), puerulus (estágio pós-larval), juvenil e adulto (LIPCIUS; EGGLESTON, 2000). O acasalamento pode ocorrer durante o ano todo em águas tropicais, podendo a fêmea carregar, em seu abdômen, de 300.000 a 400.000 ovos por um período de 2 ou 4 semanas até a eclosão (IGARASHI, 2010). Ainda conforme o autor, com a eclosão, as larvas são libertas e mesmo com a capacidade de locomoção ficam a deriva das correntes oceânicas, permanecendo nesse estágio de 6 meses até dois anos. No decorrer desse período, menos de 10% permanecem vivos em função da predação por peixes, invertebrados marinho, ou morrer devido a condições ecossistêmicas desfavoráveis como alta ou baixa temperatura das águas e inadequações no teor de salinidade.

Após essa fase, a larva filosoma sofre metamorfose e entra na fase pós-larva tornando-se uma puerulus. A partir destornando-se instante, a pós-larva, uma vez em águas profundas, procura nadar em direção ao litoral em busca de locais rasos que lhes garantam abrigo e proteção como os recifes (ACOSTA, 1999; IGARASHI, 2010). Por volta de 2 ou 4 semanas depois, a pós-larva sofre uma outra metamorfose e se torna uma lagosta juvenil, com habitat bentônico, semelhante as espécimes em estágio adulto, no entanto medindo de 6 a 7 milímetros de carapaça (LIPCIUS; EGGLESTON, 2000; IGARASHI, 2010). Depois de 2 anos nessa fase, a lagosta ingressa na fase adulta e migra para águas mais profundas da plataforma continental.

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desse recurso pesqueiro são, em ordem decrescente, Austrália, Brasil e Cuba (PHILLIPS; BROWN, 1989; PHILLIPS; MERVILLE-SMITH, 2006). O Brasil, como visto, é o segundo maior produtor de lagosta espinhosa do mundo sustentando tal posição por meio da captura das espécies Panulirus argus (lagosta vermelha) e Panulirus laevicauda (lagosta verde) da qual é o maior produtor mundial, haja vista essa espécie ser encontrada quase que exclusivamente na costa brasileira (FONTELES-FILHO, 2007).

No ano de 2010, o Brasil exportou 6.866 toneladas de lagostas representando 12% das exportações de crustáceos (BRASIL, 2012). No país, as lagostas são exploradas para fins comerciais desde o estado do Amapá até o estado do Espírito Santo, porém o elevado potencial da produtividade brasileira centra-se no Nordeste brasileiro. Com efeito, a plataforma continental dessa região é caracterizada por altas temperaturas, salinidade elevada e pela presença de recifes de algas calcárias. Tais condições são ideais para a fixação e desenvolvimento biológico das lagostas tropicais do gênero Panulirus (FONTELES-FILHO, 2000).

No que compete as características geológicas e geomorfológicas da margem continental nordestina, Vital et al (2005) afirmam que existe um estreitamento da plataforma continental da região (63 km de largura em média) em virtude da sedimentação terrígena ser desprezível e rasa (40 m), pois de acordo com Barretto e Summerhayes (1972) quase não há transporte de detritos da costa Nordeste do Brasil para a plataforma continental por meios de correntes superficiais, o que existe são deposições de algas ricas em carbonato de cálcio. De fato, os principais rios que compõem a rede hidrográfica nacional deságuam quase que em sua totalidade nas extremidades norte e sul do país (MUEHE; GARCEZ, 2005). Assim sendo, poucos sedimentos são transportados para a plataforma continental nordestina de forma a impedir sua alimentação e consequente alargamento.

2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

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Figura 2 – Mapa do município de Touros/RN.

7.910 residem na zona urbana e 23.166 na zona rural (IBGE, 2012). O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Touros corresponde a 0,594 alcançando a posição 95° no

ranking estadual (IDEMA, 2008).

No que concerne as suas características naturais, o município encontra-se assentado, geologicamente, sob a Bacia Potiguar apresentando alguns afloramentos cálcicos da Formação Jandaíra na porção sudoeste do seu território. Nas proximidades da faixa litorânea existe o predomínio de dunas fixas e móveis. O relevo do município não ultrapassa a altitude de 100 metros, demonstrando ser desprovido de bruscos acidentes geográficos uma vez que a geomorfologia local é dominada por feições de deposição sedimentar recente como Planície Costeira, Tabuleiros Costeiros e a Chapada da Serra Verde. Vale acrescentar que essa última possui o relevo mais elevado e situa-se em uma área de transição geológica entre os domínios cristalinos e sedimentares (IDEMA, 2008). Quanto ao clima, esse é classificado como tropical chuvoso com verão seco e com temperaturas médias anuais de 26, 5 °C. A vegetação municipal é composta por espécies representantes da caatinga hipoxerófila, do cerrado, do campo de várzea (áreas úmidas susceptíveis à alagamentos e inundações) e vegetação litorânea (IDEMA, 2008).

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3. METODOLOGIA GERAL

A presente pesquisa fundamenta-se numa abordagem descritiva-reflexiva, utilizando-se da análiutilizando-se de natureza quantitativa e qualitativa, pois essas abordagens não são excludentes ou contrárias, mas complementam-se uma à outra no processo de compreensão da realidade e construção do conhecimento (FLICK, 2009; CHIZZOTTI, 2010).

Para o entendimento dos fenômenos e construção do conhecimento, ora apresentado, fizeram-se uso da pesquisa bibliográfica, consultando teóricos relacionados com a temática discutida, visando a construção da fundamentação teórica; consultas aos sites de órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA) e do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), procurando coletar sobre a área em questão e da população que nessa reside, bem como dados referentes a produção de lagostas.

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socioeconômicas e medidas de ordem política a serem tomadas com o objetivo de regularizar a pesca de lagosta.

Conforme Vergara (2009), a entrevista é uma interação verbal, um diálogo, uma troca de significados, uma forma de se produzir o conhecimento. O objetivo de uma entrevista é compreender minuciosamente as crenças, os valores, as atitudes e as motivações relacionadas aos comportamentos dos atores sociais envolvidos em determinados contextos (GASKELL, 2004). A utilidade das entrevistas consiste em desvelar o que foi dito e o não dito, os significados, a realidade vivida pelo sujeito entrevistado, em suma, a subjetividade particular de todo ser humano. Por meio das entrevistas é possível obter informações de pessoas não alfabetizadas, pois não lhe requer escrita. Nesse contexto, essa técnica de pesquisa mostra-se adequada para a obtenção de dados junto aos pescadores artesanais, pois grande parte desses não é alfabetizada.

A seleção dos 86 entrevistados, como preconiza Duarte (2011), se deu por conveniência, ou seja, o pesquisador seleciona os informantes por proximidade ou disponibilidade. Nessas condições, os informantes dessa pesquisa foram abordados na praia enquanto realizavam suas atividades cotidianas ou teciam diálogos entre si. Porém, muitos se negaram a participar das entrevistas por medo de possíveis comprometimentos com órgãos ambientais como o IBAMA. Assim, tal fato dificultou a realização das entrevistas.

Após a coleta dos dados, os de caráter quantitativo foram tabulados e sistematizados para a geração de gráficos e tabelas para posteriores interpretações. Enquanto isso, os dados qualitativos presentes nas entrevistas (os discursos) foram estudados por meio da análise de conteúdo. Conforme Bardin (2010, p. 33), a análise de conteúdo consiste num “conjunto de técnicas de análise das comunicações”. Ainda segundo Bardin (2010), a análise de conteúdo busca conhecer o significado encontrado para além das palavras constituintes dos textos. Fonseca Júnior (2011, p.284) também partilha dessa visão ao afirmar que “na análise de conteúdo, a inferência é considerada uma operação lógica destinada a extrair conhecimentos sobre os aspectos latentes da mensagem analisada”. Em relação a essas assertivas, Moraes (2003), assegura que a construção de teorias e afirmações a cerca do não dito ou do implícito é tarefa do pesquisador que deve se esforçar para encontrar as respostas nas entrelinhas dos discursos.

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CAPÍTULO 1

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ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DA PESCA E DOS PESCADORES

DE LAGOSTAS DO MUNICÍPIO DE TOUROS/RN

SOCIOECONOMIC ASPECTS OF LOBTERS FISHING AND

FISHERMEN OF THE MUNICIPALITY OF TOUROS/RN

RESUMO

A pesca artesanal de lagostas representa uma das principais atividades econômicas do Rio Grande do Norte, constituindo-se na principal fonte de renda de muitas comunidades pesqueiras. No estado, o município de Touros desponta como o segundo maior produtor do crustáceo. Contudo, a introdução de instrumentos e de técnicas predatórias de pesca, aliada a adoção da mentalidade capitalista, veem causando transformações que se repercutem diretamente na socioeconomia e no meio ambiente dessas comunidades. Assim, esse artigo possui como objetivo caracterizar socioeconomicamente a pesca e os pescadores artesanais de lagosta do referido município; identificar as práticas e técnicas mais utilizadas na pesca de lagosta e as transformações socioeconômicas decorrentes dessa economia. Para tanto, fez-se uso da pesquisa bibliográfica, da observação de campo, do registro fotográfico, da aplicação de instrumentos de entrevistas e da análise de conteúdo. Os resultados apontam que os pescadores de lagostas são homens de idade avançada, casados, com baixo grau de escolaridade e rendimento financeiro, bem como demonstram o caráter instável e predatório dessa modalidade de pesca.

Palavras-chave: Pesca artesanal. Lagosta. Socioeconomia. Meio ambiente. Touros/RN.

ABSTRACT

The small-scale lobster fishing represents one of the main economic activities of Rio Grande do Norte, becoming the main source of income for many fishing communities. In the state, the municipality of Touros emerged as the second largest producer of the crustacean. However, the introduction of instruments and predatory fishing techniques, coupled with the adoption of the capitalist mentality, see causing transformations that directly affected the socio-economy and environment of these communities. Thus, this paper aims to characterize socioeconomic fishing and lobster fishermen of that municipality, identify the practices and techniques used in lobster fishing and the socioeconomic changes resulting from this economy. To this end, use has been made of the literature review, field observation, the photographic record, the application of instruments of interviews and content analysis. The results indicate that lobster fishermen are men of advanced age, married, with low educational level and financial performance, as well as demonstrate the unstable character of this type of predatory fish.

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INTRODUÇÃO

A pesca artesanal de lagostas espinhosas das espécies Panulirus argus (lagosta vermelha) e Panulirus laevicauda (lagosta verde) representa, na atualidade, uma das principais atividades econômicas do Nordeste brasileiro (OLIVEIRA; VASCONCELOS; REY, 1993; IBAMA, 2008). O Rio Grande do Norte vem despontando, ao longo dos anos, como o segundo maior produtor de lagosta do Brasil produzindo 743,2 toneladas em 2009, sendo superado apenas pelo estado do Ceará. Dentre os municípios potiguares produtores de lagosta, Touros ocupou o segundo lugar no ranking estadual ao produzir 83 toneladas do crustáceo no ano de 2009 (IBAMA, 2010). Com efeito, os pescadores artesanais desse município estão voltados, em sua maioria, para a pesca desse crustáceo em virtude de seu alto valor econômico no mercado internacional. No município, de acordo com o IDEMA (2004), cerca de 1700 famílias, sobrevive dessa economia, distribuindo-se em duas colônias de pescadores, uma na cidade de Touros (Z-02) e outra no distrito de Cajueiro (Z-36).

Porém, nem sempre a pesca de lagosta obteve uma posição de destaque, pois a lagosta era utilizada como isca para capturar peixes como a cavala (Scomberomorus cavalla) e a biquara (Haemulon plumiere) não possuindo assim valor comercial (FONTENELE, 2005; MUNIZ, 2005). Conforme Fonteles-Filho (1994) e Muniz (2005), a pesca de lagosta é uma atividade recente e teve início no Ceará no ano de 1955, sob a influência do estadunidense Davis Morgan. Morgan incentivou os pescadores dos municípios cearenses de Cascavel e Beberibe a pescarem lagosta se utilizando de covos e jereres (apetrechos pesqueiros), passando a comprar o produto e a abastecer os barcos com gelo para a sua conservação. Dessa forma, a atividade se tornou atrativa para os pescadores locais em decorrência do alto lucro obtido com a captura e a venda do crustáceo. Assim, a pesca artesanal da lagosta foi se espalhando pela costa e hoje permeia todo o litoral nordestino, com ênfase para os estados do Ceará e do Rio Grande do Norte que são os maiores produtores.

No presente artigo, entende-se por pesca artesanal aquela que se realiza nos moldes da pequena produção mercantil, com o uso de tecnologia de pouca capacidade predatória, regime de trabalho autônomo, baixa capacidade de acumulação financeira, dependência de intermediários, propriedade dos meios de produção (instrumentos de pesca) e mediante o domínio do saber pescar ancorado na experiência e no conhecimento profundo sobre o mar e as espécies marinhas (DIEGUES, 2004).

Todavia, já a partir da década de 1970, o recurso pesqueiro vem sofrendo com a sobrepesca resultante da introdução de barcos motorizados e de técnicas proibidas como a rede-de-espera, a caçoeira e o mergulho com auxílio de compressor de ar, tornando a atividade pesqueira nesses moldes predatória e insustentável (MUNIZ, 2005). Os reflexos desse processo se repercutem nos mais diversos recônditos da sociedade, pois a adoção de novos instrumentos e técnicas de pesca ocasionou mudanças nas relações sociais e dos pescadores com o meio ambiente.

Dessa forma, tendo em vista uma melhor compreensão da pesca de lagosta no município de Touros, este artigo objetiva caracterizar socioeconomicamente a pesca e os pescadores artesanais de lagosta do referido município; identificar as práticas e técnicas mais utilizadas na pesca de lagosta e as transformações socioeconômicas decorrentes dessa atividade.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

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35° 27’ 39” de longitude Oeste, distando 87 quilômetros ao Norte da capital Natal. Sua área territorial equivale a 839, 35 km² correspondendo a 1,54% da superfície estadual. Os limites territoriais são estabelecidos ao Norte com o Oceano Atlântico e São Miguel do Gostoso; ao Sul com João Câmara, Pureza e Rio do Fogo; ao Leste com Oceano Atlântico e Rio do Fogo; e, ao Oeste com João Câmara, Parazinho e São Miguel do Gostoso. O clima é tropical chuvoso com verão seco e com temperaturas médias anuais de 26, 5 °C (IDEMA, 2008). A população municipal é composta por 31.076 habitantes, dos quais 7.910 residem na zona urbana e 23.166 na zona rural (IBGE, 2012).

MATERIAL E MÉTODOS

A presente pesquisa foi realizada nas comunidades pesqueiras de Touros (sede municipal) e nos distritos de Cajueiro, Carnaubinha e Lagoa do Sal em decorrência de sua elevada produção pesqueira e do maior número de pescadores quando comparadas com as demais comunidades litorâneas municipais. Para tanto, recorreu-se a pesquisa bibliográfica, à observação de campo, ao registro fotográfico, a aplicação de 86 entrevistas estruturadas compostos por questões abertas e fechadas com os pescadores artesanais e a análise de conteúdo.

Segundo Vergara (2009), a utilidade das entrevistas consiste em desvelar o que foi dito e o não dito, os significados, a realidade vivida pelo sujeito entrevistado, em suma, a subjetividade particular de todo ser humano. Ademais, por meio das entrevistas é possível obter informações de pessoas não alfabetizadas.

Figura 1 - Mapa do município de Touros e das comunidades pesqueiras em estudo.

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No tocante a análise dos dados obtidos, foi realizada sua tabulação e sistematização e posterior interpretação tendo por base a análise de conteúdo (BARDIN, 2010). Assim sendo, a abordagem do presente estudo ancora-se numa análise de natureza qualitativa e quantitativa, uma vez que essas abordagens não são excludentes ou contrárias, mas complementam-se uma à outra no processo de compreensão da realidade e construção do conhecimento (FLICK, 2009).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas últimas décadas, a produção de lagostas no estado do Rio Grande do Norte e no município de Touros vem se mostrando instável e com comportamento semelhante em relação à quantidade produzida do crustáceo e o ano de captura (Figura 2). Observa-se que a partir do ano 2001 a produção de lagosta obteve um crescimento significativo ao nível estadual e ao nível municipal esse crescimento ocorreu em menor intensidade. Todavia, em 2003, a produção de ambas as esferas, estadual e municipal, sofre uma intensa queda, voltando a elevar-se no ano seguinte onde conseguem alcançar suas maiores produções da década, 1336 (t) e 249,2 (t), respectivamente. Desde o patamar da maior produção registrada em 2004 até a atualidade, a captura de lagostas tem apresentado um abrupto declínio passando a marcar em 2009 sua menor produção. A produção do estado nesse ano correspondeu a 743,3 (t) e do município de Touros a apenas 83 (t).

Com base nessas informações, pode-se inferir que a pesca de lagosta é realizada em meio à imprevisibilidade pesqueira e caracterizada pela decorrente instabilidade da produção. Todo esse contexto provoca nos pescadores contínuos sentimentos de incerteza e aflição, já que seus rendimentos não estão assegurados e fixados, mensalmente, em um determinado valor, mas variam diretamente em razão da quantidade de pescado capturado durante as Figura 2 - Capturas das espécies de lagosta Panulirus argus (lagosta vermelha) e Panulirus laevicauda (lagosta verde) no Rio Grande do Norte e no município de Touros.

Imagem

Figura 1  - Distribuição dos gêneros de lagosta da família Paniluridae conforme a  latitude, profundidade e temperatura
Figura 2  – Mapa do município de Touros/RN.
Figura 1 - Mapa do município de Touros e das comunidades pesqueiras em estudo .
Figura  2  -  Capturas  das  espécies  de  lagosta  Panulirus  argus  (lagosta  vermelha)  e  Panulirus
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Referências

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