Kelly Cristina Fernandes Rocha
A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA MEDITATIVA SOBRE PARÂMETROS
PSICOFISIOLÓGICOS E TAREFAS DE MEMÓRIA OPERACIONAL EM
INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS
Kelly Cristina Fernandes Rocha
A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA MEDITATIVA SOBRE PARÂMETROS
PSICOFISIOLÓGICOS E TAREFAS DE MEMÓRIA OPERACIONAL EM
INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS
Dissertação apresentada à
Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção do título de mestre em Psicobiologia
Orientadora: Dra. Alessandra Mussi Ribeiro Co-Orientadora: Dra. Regina Helena da Silva
AGRADECIMENTOS
A Deus e a Buda por criarem o mistério da vida. A todos os pesquisadores que buscam entender o tremendo potencial de transformação da mente humana.
Às minhas Orientadoras Profa. Dra. Alessandra Mussi Ribeiro e Profa. Dra. Regina Helena Silva pela confiança, acredito em meu potencial e pela orientação valiosa para o meu amadurecimento como pessoa e pesquisadora.
A Profa. Dra. Andréa Viana Aguiar pela orientação na formação em Yoga, por me conduzir a meditação e pelo valioso auxílio no encaminhamento de voluntários.
À Profa. Dra. Fabíola Albuquerque pela ajuda nesta etapa de minha vida acadêmica, a Profa. Dra. Anusca Irene Alencar, Prof. Dr. Paulo Sérgio Marinho Lúcio e Prof. Dr. Sebastião Carlos Maia por me acompanharem sempre com incentivo.
A todos os professores do Programa de Pós Graduação de Psicobiologia pela oportunidade de estar aprendendo neste processo de mestrado
A Profa. Dra. Martha Traverso – Yepez pela valiosa colaboração em apresentar a Yoga para mim e minha família, contribuindo ainda no enriquecimento do estudo sobre Yoga e colaboração com o Departamento de Fisiologia no intercambio entre a UFRN e a Memorial University em Newfoundland e Labrador no Canadá
Ao Ms. Breno Xavier, Profa. Dra. Tatiana Pereira e Ms. Jomar Morais pelos auxílios e incentivos. Aos voluntários dessa pesquisa pela disponibilidade e desprendimento
Aos meus pais Consuelo Fernandes Rocha e a Manoel Ferreira da Rocha (in memorian) pela vida, pelo amor e apoio incansável.
A Janine Fernandes Rocha, Kliger K. F. Rocha e Lizianne Nunes Ferreira pelo apoio incondicional, pelo carinho. À vocês minha sincera Gratidão e Amor.
À Marilusa Moreira Vasconcellos pelo carinho e apoio constante
Aos colegas do LEME pela convivência agradável e especialmente a Profa. Dra. Alícia, ao Prof. Dr. Geison, Ronaldo, Valéria, Diego e Thieza pelo auxílio.
Tenho quase um alfabeto inteiro de amigos para agradecer pelos gestos e atitudes de pura amizade: Ana Cássia, André Mendes, Andréa Bragança, Alinne Carvalho, Aparecida, Bartira Calado, Breno Xavier, Claúdio Azevedo,Cristiana Barbosa, Cristiane Morais, Cristiane Revoredo, Cristina Cuono,Cristina Nagahama, Denise, Débora Diógenes, Diana Dantas, Diana Lunardi, Erika Pegado, Estela Medeiros, Fátima Verônica, Fernanda Faustino, Francisco Maia, Georgia Freire, Gustavo Lucena, Hani Helen, Hugo Rocha, James Carlos, Joana Dantas , João Cancio, João Rêgo, Joseane Pinheiro, Julio Resende, Katary Dinis, Kleverson Rêgo, Léa Magalhães, Lidiane Torres, Louise Leiros, Lúcia Silva, Ludimila Aloise, Mariana Holschuch, Marlos Bezerra, Mauríco Câmara, Paula Calafange, Paulo Carrilho, Pollyana Capistrano, Ramon Vasconcelos, Rochelle Melo, Rose Mendes, Senise Doriana, Sérgio Araújo, Stanley Rocha Tatiana Pereira, Taulli Lima, Vanusa Paiva, e Vera Urbano.
Sumário
Resumo ... 08
Abstract... 09
1. Introdução ... 10
1.1. Meditação ... 10
1.2. Memória e Meditação ... 14
1.3. Estresse e Meditação ...16
1.4. Justificativa ... 18
2. Objetivos ... 19
2.1. Geral ... 19
2.2. Específicos ... 19
3. Métodos ... 20
3.1. Sujeitos e Aspectos Éticos ... 20
3.2. Instrumentos ... 22
3.2.1. Inventários de qualidade de vida WHOQOL-100 e SF36 ... 22
3.2.2. Indice de qualidade do Sono de Pittsburg ... 23
3.2.3. Inventários de Ansiedade ... 23
3.2.4. Perfil de Estados de Humor ... 24
3.2.5. Inventário de Depressão de Beck ... 24
3.2.6. Inventário de Sintoma de Estresse para Adultos de Lipp ... 25
3.3. Testes Indutores de Estresse ... 25
3.3.1. Testes de Color (Stroop Colour- Word test) ... 26
3.3.2. Teste de Subtração Seriada ... 26
3.4. Testes Cognitivos ... 25
3.4.1. Testes de dígitos ... 26
3.4.2. Teste de Subtração Seriada ... 26
3.5. Delineamento Experimental ... 30
3.6. Análise dos dados ... 31
4. Resultados e Discussão ... 32
4.1. Inventários ... 32
4.1.1. Inventário de qualidade de vida (WHOQOL-100) ... 32
4.1.2. Inventário de qualidade de vida (SF36) ... 33
4.1.3. Indice de Qualidade do Sono de Pittsburg ... 34
4.1.4. Inventários de Ansiedade IDATE-Traço ... 35
4.1.5. Inventários de Ansiedade IDATE-Estado ... 35
4.1.6. Perfil de Estados de Humor ... 36
4.2. Testes Cognitivos ... 40
4.2.1. Testes de Dígitos ... 40
4.2.2. Torre de Hanoi ... 43
5. Conclusão ... 44
6. Referências ... 45
Anexos... 52
Anexo 1 - Carta de aprovação do Comitê de Ética... 53
Anexo 2 - Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) ... 55
Anexo 3 - Questionário sociodemográfico... 56
Anexo 4 – Questionário de qualidade de vida (Whoqol-100)... 57
Anexo 5 – Questionário de qualidade de vida (SF-36)... 62
Anexo 6 – lndice de qualidade do sono de Pittsburg... 64
Anexo7 – Inventário de ansiedade traço (IDATE-Traço)... 65
Anexo 8 – Inventário de Ansiedade Estado (IDATE-Estado)... 66
Anexo 9 – Perfil de estados de humor (POMS – Profile of Mood State)... 67
Anexo10 – Inventário de depressão de Beck ... 69
Resumo
A meditação é um método proposto para ampliação da atenção e promoção da
estabilidade psicológica e emocional, com resultados favoráveis também em relação à
melhora da memória e à adaptação ao estresse. Muitos estudos têm demonstrado que
há diferenças de medidas psicológicas e fisiológicas entre indivíduos que praticam
meditação regularmente (meditadores experientes) e não meditadores. O objetivo
principal deste estudo foi investigar os efeitos da prática regular de meditação sobre a
memória operacional, parâmetros psicológicos e de qualidade de vida de indivíduos
saudáveis. Para tanto, comparamos o desempenho de praticantes e não praticantes de
meditação em testes de memória, inventários de qualidade de vida, ansiedade, humor,
qualidade de sono, depressão e estresse. Nosso estudo demonstrou que meditadores
experientes apresentam diferenças significativas em relação a aspectos como
qualidade de vida, humor, depressão e estresse quando comparados com não
meditadores. Além disso, houve uma tendência ao melhor desempenho dos praticantes
na manipulação da informação (repetição de dígitos na ordem inversa). Estes achados
corroboram outros estudos que apóiam a idéia de que a prática meditativa regular pode
melhorar a qualidade de vida e afetar positivamente funções comportamentais e
Abstract
Meditation is described as a method for improving attention and promoting
psychological and emotional stability, presenting favourable results on memory and
stress tolerance as well. Studies have shown differences in physiological and
psychological measurements between meditators and non-meditators. The aim of this
study was to investigate the influence of regular meditation practice on working
memory, psychological measurements and quality of life of healthy practitioners. We
carried out a comparative study with meditators and non-meditators. Working memory
tests and standard inventories of life quality, anxiety, mood, sleep quality, depression
and stress were applied. Our study showed that meditators presented better scores in
parameters indicative of life quality, mood, depression and stress when compared with
non-meditators. Moreover, there was a trend in best performance of meditators in
memory tasks (forward digit span task and Hanoi tower). These findings corroborate
other studies showing that regular meditation can provide an improvement in general
quality of life and affecting positively the behavioral and attentional functions in
1. Introdução
1.1. Meditação
A meditação é uma prática espiritual e de cura que tem uma história de mais de
5000 anos, não possuindo uma origem específica em região ou povo, tendo sido
desenvolvida em várias culturas diferentes (Chiesa, 2010). Atualmente, a divulgação
das práticas de meditação no mundo contemporâneo tem recebido uma grande
atenção, em particular devido a suas aplicações na melhora da saúde mental e física
do indivíduo (Chiesa, 2010). Há estudos que mostram que a prática regular da
meditação pode reduzir o estresse e até controlar o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares e respiratórias (Bishop, 2002; Arias et al., 2006; Ospina et al., 2007;
Liu et al., 2007; Irving et al., 2009; Fortney & Taylor, 2010).
A prática meditativa tem sido amplamente conceituada como um estado em que
o indivíduo está consciente e focado na realidade. Alguns autores consideram a
meditação como um estado modificado de consciência, distinto do habitualmente
observado em vigília e mostrando padrões eletroencefalográficos alterados (Cardoso et
al., 2004). Este tipo de procedimento técnico quando bem definido e regularmente
praticado, envolve relaxamento muscular e do raciocínio lógico, sendo considerado
também um estado auto-induzido, aplicado pelo indivíduo em si mesmo, sem
necessitar da presença de um orientador. Esta técnica utiliza o artifício de
auto-focalização (“âncora mental”) para evitar sequências indesejadas de pensamentos,
torpor, sono e estado de transe. O estado meditativo é alcançado quando o praticante
faz contato com conteúdos internos sem análise, sem objetivo precípuo, sem
expectativa e sem participação sensorial (Cardoso et al., 2004).
Neste contexto, a psicologia moderna tem demonstrado interesse em investigar
benefícios advindos da prática meditativa, por encontrar nela um método eficaz de
et al., 1992; Thompson & Varela, 2001; Rubia, 2009). Além disso, este tipo de prática
pode propiciar o desenvolvimento da concentração e atenção, também promovendo a
redução da atividade metabólica do indivíduo (Young & Taylor, 2001; Rubia, 2009).
Assim, a meditação tem se mostrado um recurso eficaz na redução de fatores
estressantes psicológicos ou fisiológicos internos ou externos ao corpo do indivíduo
(Yardi, 2001). O National Center for Complementary and Alternative Medicine
(NCCAM), órgão ligado ao National Institutes of Health (NIH) americano apontou a
meditação transcendental e a meditação de atenção plena como uma das práticas
meditativas mais citadas em pesquisas científicas e utilizadas como coadjuvantes no
tratamento clínico (Ospina et al., 2007). Atualmente há um crescente número de
pesquisas científicas que procuram mapear os efeitos destes tipos de práticas
meditativas (Arias et al., 2006).
A meditação transcendental é derivada de tradições hindus e utiliza uma palavra,
som ou frase repetida silenciosamente, chamado de mantra, com a intenção de
minimizar a distração e maximizar a concentração. Este tipo de prática possui como
objetivo alcançar um estado de consciência relaxado (Ospina et al., 2007). Por outro
lado, na meditação de atenção plena, o praticante dirige sua atenção para os
processos respiratórios de inspiração e expiração, aprendendo a concentrar a sua
atenção no que está sendo experimentado, sem julgar ou reagir a essa experiência
(Ospina et al., 2007).
Um dos primeiros trabalhos de investigação sobre as possíveis alterações
fisiológicas promovidas pela prática meditativa foi realizado na década de 70. Neste
estudo, adolescentes que praticaram meditação por 36 meses demonstravam uma
ampliação das ondas do tipo alfa quando realizados registros eletroencefalográficos,
um menor consumo de oxigênio, uma redução da frequência cardíaca e, ainda, um
comparados com adolescentes que haviam praticado meditação por apenas seis
meses (Wallace, 1970).
Em relação aos efeitos da meditação no sistema cardiovascular, algumas
pesquisas verificaram a redução de alguns parâmetros fisiológicos como pressão
arterial média, pressão diastólica, frequência de pulso, e de alguns parâmetros
respiratórios. Além disso, há relatos de que a meditação pode diminuir também a
hipercolesterolemia, o hábito de fumar e a hipertensão (Sudsuang et al., 1991; Wallace
et al., 1983; Zamarra et al., 1996).
A prática meditativa também apresenta efeitos sobre o sistema imunológico do
indivíduo. Richard Davidson e colaboradores (2003) demonstraram que a meditação
pode atuar sobre a resposta imunológica. Estes pesquisadores injetaram a vacina
contra o vírus influenza, em dois grupos de indivíduos, logo após o término de oito
semanas de treino meditativo. Os resultados demonstraram que o grupo que participou
da prática meditativa apresentou maior quantidade de anticorpos do que o grupo não
praticante. Outro estudo posterior demonstrou que a prática meditativa pode promover
aumento dos níveis de imunoglobulina A (IgA) no organismo (Tang et al., 2007).
Ainda, algumas pesquisas revelaram a atuação da meditação em respostas
neurofisiológicas. A partir desses estudos, Newberg e Iversey (2003) apresentaram um
modelo hipotético propondo que a meditação se iniciaria com a ativação do córtex
pré-frontal e giro do cíngulo, sendo seguida por uma ativação do tálamo e em sequência
ocorreria uma redução da atividade do córtex parietal posterior. Ao mesmo tempo em
que ocorreria o recrutamento destas áreas encefálicas, haveria um aumento da
atividade no hipocampo e da amígdala. Esta alteração hipocampal, em uma
retroalimentação positiva promoveria reforço da atividade do lobo pré-frontal, via núcleo
acumbens. Esse conjunto de mudanças bloquearia um loop (ciclo) de reentrada, que
que a partir de certo grau de treinamento, a meditação reforçaria a própria atividade
meditativa.
Estudos que envolveram análises do padrão eletroencefalográfico de monges
budistas com longa experiência de prática meditativa (15 a 40 anos) e revelaram que já
no período pré-meditativo ocorre o surgimento de ondas de alta frequencia do tipo
gama (20 a 70 Hz), o que não foi observado em indivíduos não praticantes. Essas
oscilações foram aumentando de intensidade ao longo da prática meditativa e
apresentaram um sincronismo de fase em regiões espacialmente distantes uma das
outras e permanecendo mesmo após o fim da prática meditativa (Lutz et al. 2004).
Estudos anteriores já haviam demonstrado que este tipo de sincronização neural, em
particular de ondas do tipo gama pode estar envolvida em processos mentais como
atenção, memória operacional, aprendizagem e percepção consciente (Miltner et al.,
1999; Fries et al., 2001).
Estudos que utilizaram ressonância magnética funcional mostraram que
meditadores ocidentais com longo tempo de prática meditativa (aproximadamente 9,1
anos) apresentavam uma maior espessura do córtex pré-frontal e insula anterior,
quando comparada com indivíduos não meditadores (Lazar et al., 2005). Por outro
lado, outro estudo demonstrou que mesmo um período de meditação de oito semanas
já foi suficiente para promover mudanças na concentração neuronal na substância
cinzenta em diversas áreas encefálicas (hipocampo esquerdo, córtex cingulado
posterior, junção temporo-parietal e cerebelo) (Hölzel et al., 2010). Estas pesquisas
sugerem que a meditação pode ser capaz de promover modificações estruturais em
áreas encefálicas envolvidas em processos de aprendizagem e memória, regulação
emocional, processamento de auto-referência e tomada de decisão (Lazar et al., 2005;
1.2. Memória e Meditação
A memória é o alicerce da vida mental do indivíduo, o arcabouço que mantém
sua história pessoal e torna possível o crescimento, o amadurecimento e a mudança do
indivíduo (Squire & Kandel, 2003). Esse arcabouço é composto por múltiplos sistemas
que funcionam de forma independente, porém cooperativa (Xavier, 1993, Cowan, 2008)
e que podem ser caracterizados por expressões no comportamento, pelo tempo de
retenção ou manipulação de uma nova informação (Squire, 2004; Cowan et al., 2006).
Alguns pesquisadores propuseram a existência de dois sistemas mnemônicos: a
memória explícita e a implícita também chamadas de memória declarativa e
não-declarativa, respectivamente (Squire & Zola-Morgan, 1991; 1996; Squire, 1992).
Podemos ainda categorizar a memória em operacional, de curto-prazo e de longo
prazo (Figura 1; Xavier, 1993; Cowan 2008):
A memória operacional envolve quatro componentes: a alça fonológica, o
esboço visuo-espacial, o executivo central e o retentor episódico. A alça fonológica e o
esboço visuo-espacial funcionam como dois sistemas de suporte responsáveis pelo
arquivamento temporário e manipulação de informações, um de natureza
visuo-espacial e outro de natureza fonológica. O executivo central mantém contato com as
memórias de longo prazo e coordena o trabalho de processos fonológicos e/ou
visuo-espaciais. O retentor episódico é um sistema de capacidade limitada no qual a
informação evocada da memória de longa duração torna-se consciente (Baddeley,
2000; 2003).
A memória de longo prazo explícita pode ser caracterizada pelo acesso
consciente ao conteúdo da informação (Eichenbaum, 2000), compreende a memória do
tipo episódica, para eventos e fatos experenciados em contexto espacial e temporal
específicos envolvendo informação autobiográfica. A memória do tipo semântica estaria
relacionada a conhecimentos que independem do contexto temporal (Tulving, 2002),
como conhecimentos gerais aritméticos, geográficos e históricos, e o significado de
palavras e conceitos. A consolidação seja episódica ou semântica desses eventos
dependeria de estruturas do lobo temporal medial, ou seja, do hipocampo e dos
córtices adjacentes: entorrinal; perirrinal e parahipocampal (O'reilly & Norman, 2002;
Simons & Spiers, 2003; Eichenbaum, 2004).
Por outro lado, a memória implícita é evocada inconscientemente, sendo
expressa através do desempenho em uma determinada tarefa. Consistem nos nossos
hábitos, habilidades e aprendizagem associativa e não associativa, funcionando
independentemente daquelas mediadas pelo lobo temporal medial, e envolvendo
outras estruturas neurais, como a amígdala, o estriado e o cerebelo (Squire &
Estudos têm correlacionado a meditação à melhora de desempenho de memória
de curto e longo prazo do indivíduo (Carter et al., 2005; Cahn & Polich, 2006; Slagter et
al., 2007). Os resultados são frequentemente discutidos com relação à
neuroplasticidade, mostrando que o treinamento meditativo pode influenciar alterações
funcionais e estruturais do sistema nervoso (Davidson et al., 2003; Lutz et al., 2004;
Lazar et al., 2005; Hölzel et al., 2010). Nesse contexto, a meditação parece ser capaz
de modificar, por exemplo, a atenção e a memória tipo operacional (Wallace et
al.,1971; Canter & Ernst, 2003; Newberg & Iversen, 2003; Cahn & Polisch, 2006; Tang
et al., 2007; Jha et al., 2007, 2010; Zeidan et al., 2010).
1.3. Estresse e Meditação
O termo estresse é adotado para descrever experiências emocionalmente e
fisiologicamente desafiadoras (McEwen, 2007). O fisiologista Hans Seyle foi o primeiro
pesquisador a demonstrar que a exposição de animais a diferentes fatores
estressantes promovia o aparecimento de úlceras pépticas, hipertrofia do córtex das
glândulas adrenais e involução do timo e baço (Seyle, 1936).
Essa resposta fisiológica foi denominada de Síndrome Geral da Adaptação e
pode ser caracterizada em três etapas; na primeira etapa, fase de alarme, o eixo
hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) é ativado para produzir uma resposta
comportamental de luta ou de fuga em relação ao estímulo estressor. A segunda etapa,
fase de resistência, ocorre quando o estímulo estressor continua presente e o
organismo inicia uma tentativa de adaptação. E finalmente, na terceira etapa, fase de
exaustão, a persistência do estressor provoca um elevado consumo energético
contribuindo para o surgimento de patologias (Agarwal & Marshall, 2001). Estudos
entre a resistência e exaustão, a fase de quase-exaustão, onde o estímulo estressor
permanece e supera a fase de resistência (Lipp, 2000).
O estresse muitas vezes promove efeitos deletérios no organismo, contudo
estas respostas não seriam necessariamente nocivas. Sistemas de controle do
organismo variam seus pontos de ajuste em função de variações cíclicas do ambiente
externo ou interno, e são capazes de lidar com as oscilações naturais dos sistemas
biológicos (por exemplo: ciclo sono vigília, ciclo cardíaco e respiratório, variações das
secreções hormonais e ambientais sazonais, entre outras). Os desequilíbrios só
provocam alterações nocivas ao organismo caso ultrapassem limites em termos de
intensidade e duração (McEwen, 2007).
Neste contexto, diversos trabalhos apontam a meditação como recurso eficaz
em diferentes situações clínicas que envolvem o estresse (Kabat-Zinn et al., 1985;
Shapiro et al., 2005 e 2007; Ospina et al., 2007; Chielsa & Seretti, 2009). Porém há
carência de investigações controladas que estabeleçam efeitos específicos do
programa meditativo (Chielsa, 2009; Rubia, 2009). Uma meta-análise investigando a
eficácia do programa de meditação de atenção plena em pessoas saudáveis constatou
que apenas 10 trabalhos foram devidamente controlados dos 150 artigos publicados
desde 1979 (ano da criação do programa de meditação para o sistema de saúde) até
setembro de 2008 (Chielsa & Serretti, 2009).
Apesar disso, a meditação vem sendo utilizada como recurso eficaz no combate
ao estresse (Bishop, 2002; Proulx, 2003; Carmody & Baer, 2007; Chielsa, 2009).
Pesquisas têm demonstrado que indivíduos saudáveis com um ano ou mais de prática
meditativa apresentam alterações nos níveis diários de ACTH (hormônio
adrenocorticotrófico), cortisol e de beta-endorfina além de apresentarem um ciclo de
estar relacionada à sensação de bem estar propiciada pela meditação (Newber &
Iversen, 2003; Deshmukh, 2006).
A meditação também promove modificações comportamentais que auxiliam no
gerenciamento do estresse. Jain e colaboradores (2007) aplicaram o programa de
meditação de atenção plena (MBSR) por quatro semanas em estudantes e
compararam os efeitos da meditação com o relaxamento. Estes pesquisadores
constataram que a meditação foi capaz de influenciar a redução de pensamentos e
comportamentos repetitivos, em virtude provavelmente da auto-observação dos
processos mentais (focalização no momento presente e orientação para os conteúdos
internos sem análise, sem objetivo precípuo, sem expectativa e sem participação
sensorial) (Bishop et al., 2004; Grossman et al., 2004; Ivanovski & Malhi, 2007; Jain et
al., 2007). Essa auto-observação é capaz de promover uma alteração dos próprios
pensamentos do indivíduo reduzindo o estresse por meio, por exemplo, do controle
emocional (Bishop, 2002; Kabat-Zinn, 1982, 2003; Ivanovski & Malhi, 2007).
1.4. Justificativa
Atualmente, a meditação e outras técnicas estão sendo utilizadas como
medicina complementar no Sistema Público de Saúde de vários países. Dentre os
países que utilizam a técnica temos Nova Zelândia (Duke, 2005), Canadá (Andrewsa &
Boonb, 2005), Austrália (McCabe, 2005), Reino Unido (Ernst et al., 2005) e Estados
Unidos (Spiegel et al., 1998).
Uma pesquisa realizada em hospitais dos Estados Unidos que utilizava a prática
meditativa como recurso terapêutico demonstrou que os pacientes reduziam suas
visitas aos médicos durante os seis meses posteriores ao início do programa de
meditação. Além da melhora na saúde, a economia estimada foi de cerca de 200
No Brasil, o Ministério da Saúde, através da Portaria nº 971 de 03 de maio de
2006, com base em um documento da Organização Mundial da Saúde, aprova a
utilização de práticas complementares, como acupuntura, homeopatia e meditação.
Entretanto, ainda são escassos os estudos científicos que investigam a influência da
prática meditativa, relacionando com prevenção e/ou melhoras cognitivas e fisiológicas
adicionais aos tratamentos tradicionais conhecidos (Tloczynski et al., 2000; Canter &
Ernest, 2003; Tang et al., 2007; Reavley & Pallant, 2009).
2. Objetivos
2.1. Geral
Avaliar os efeitos da prática regular de meditação sobre aspectos
comportamentais de indivíduos saudáveis e seus desempenhos em tarefas de memória
do tipo operacional.
2.2. Específicos
Avaliar parâmetros relacionados à qualidade de vida, ansiedade, humor, qualidade
do sono, depressão e estresse em meditadores experientes e não meditadores.
Avaliar o desempenho de meditadores experientes e não meditadores antes e após
3. Métodos
3.1. Sujeitos e Aspectos Éticos
Neste estudo foram avaliados 44 adultos. 20 indivíduos experientes na prática
meditativa (Grupo meditadores) e 24 indivíduos que não praticavam atividade
meditativa (Grupo não meditadores). Consideramos meditadores experientes
voluntários que praticavam meditação por no mínimo um ano com regularidade (no
mínimo cinco vezes por semana).
Os grupos foram homogeneamente distribuídos em relação ao sexo, idade,
escolaridade e renda salarial. Os critérios de inclusão foram baseados na seleção de
indivíduos saudáveis, sem limitações físicas em uma faixa etária de 25 a 60 anos. Os
critérios de exclusão durante o processo de triagem descartaram indivíduos que
utilizavam substâncias químicas com ação no sistema nervoso ou hormonal e/ou que
estivessem em tratamento psicológico ou psiquiátrico.
O recrutamento dos voluntários do grupo de meditadores foi realizado em
centros de práticas contemplativas do município de Natal (Núcleo de Yoga da UFRN,
Grupo de Budismo Tibetano de Natal e o Centro de Estudos Filosóficos e
Autoconhecimento). Os participantes não-meditadores foram selecionados na UFRN de
acordo com o sexo, a idade, escolaridade e nível social dos respectivos meditadores.
Na amostra populacional houve a preocupação de que houvesse uma
distribuição equivalente entre os sexos tanto para o grupo de não meditadores (50,0%
mulheres e 50,0% homens) quanto para o de medidatores experientes (45,0%
mulheres e 55,0% homens). A média de idade para ambos os grupos foi
aproximadamente de 42 anos, além da maioria dos voluntários apresentar uma renda
mensal individual acima de um salário mínimo. Em relação a realização profissional
tanto os não meditadores (83,3%) quanto os meditadores (85,0%) declararam estar
escolaridade, 58,3 % dos não meditadores e 45% dos meditadores apresentaram
pós-graduação completa (Tabela 1).
Tabela 1. Aspectos sociodemográficos dos grupos estudados.
Não Meditadores Meditadores Sexo Masculino Feminino 12 (50,0%) 12 (50,0%) 11 (55,0%) 9 (45,0%)
Idade (Média ± DP) 42,2 ± 9,6 42,9 ± 8,5
Renda
Até 1 salário mínimo 1 a 3 salários
3 a 5 salários Acima de 5 salários
As normas éticas e metodológicas, incluindo o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido de acordo com as diretrizes da Resolução 196/96 e complementares do
Conselho Nacional de Saúde (Prot. 322/09) foram observadas e aceitas pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da UFRN (Processo nº 204/09 – CEP/UFRN) (Anexo 1).
O sigilo sobre as informações pessoais dos participantes envolvidos foram
garantidos, e os registros permanecerão arquivados por pelo menos cinco anos. Os
dados coletados relativos aos testes foram analisados a partir de um código
representativo de cada sujeito, sem a possibilidade de identificá-lo.
3.2. Instrumentos
Todos os voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Anexo 2) e também responderam a um questionário sociodemográfico adaptado de
Levenstein e colaboradores (1993) (Anexo 3).
Os outros instrumentos utilizados para a coleta de dados são descritos a seguir.
3.2.1. Inventários de qualidade de vida: WHOQOL-100 e SF 36
O World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-100) é um instrumento
de avaliação da qualidade de vida geral composto por 100 questões, analisando os
domínios: físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambiente e
crenças pessoais (Anexo 4). O instrumento apresenta boa confiabilidade e validade
(Fleck et al., 1999) e permite caracterizar os voluntários por um índice que varia de 4 a
20 pontos.
O instrumento Qualidade de vida Health Survey Short Form (SF-36) (Anexo 5) é
um instrumento psicometricamente confiável e largamente utilizado na área de saúde
(Smith et al., 2007; Campolina & Ciconelli, 2008) e validado no Brasil (Ciconelli et al.,
funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais,
aspectos emocionais e saúde mental. Esses domínios são agrupados em dois escores:
o componente de saúde física (CSF) e o componente de saúde mental (CSM) (Reibel
et al., 2001; Smith et al., 2007). Os escores variam de 0 a 100.
3.2.2. Indice de qualidade do sono de Pittsburgh
O índice de qualidade de sono de Pittsburg (IQSP) avalia a qualidade subjetiva
do sono do indivíduo referente aos dias e noites do mês anterior (Buysse et al., 1989)
(Anexo 6). Este questionário é composto por 19 itens, agrupados em sete
componentes, cada um pontuado em uma escala de 0 a 3; (1) a qualidade subjetiva do
sono; (2) a latência do sono; (3) a duração do sono; (4) a eficiência habitual do sono;
(5) as alterações do sono; (6) o uso de medicações para o sono; e (7) a disfunção
diurna. Os escores dos sete componentes são somados para constituir uma pontuação
global do IQSP variando de 0 a 21. Pontuações de 0 a 5 indicam boa qualidade do
sono, acima de 5 qualidade ruim. Neste estudo, foi utilizada a versão validada deste
instrumento em português (Ceolim & Menna-Barreto, 2000; Xavier et al., 2001).
3.2.3. Inventários de ansiedade
O Inventário IDATE Traço e Estado (Spilberger et al. 1970) foi traduzido e
validado por Biaggio e Natalício (1979). É composto de duas escalas distintas de
ansiedade: Traço de ansiedade Traço) e o estado de Ansiedade
(IDATE-Estado) (Anexos 7 e 8, respectivamente).
O IDATE-Traço avalia como o indivíduo geralmente se sente, e avalia a
tendência para reagir à pressão psicológica em diferentes graus de intensidade. O
IDATE-Estado avalia como o indivíduo está se sentindo durante a aplicação do
teste (Biagio & Natalício, 1979). Os escores variam de 20 a 80 quanto maior o escore
mais elevado é a ansiedade traço ou estado. A maioria das amostras estudadas para a
validação do IDATE considera o escore de 40 como ansiedade traço média (Kozasa,
2002). Cabe salientar que esses testes não são aprovados para uso em diagnósticos,
contudo são ainda amplamente utilizados em pesquisas.
3.2.4. Perfil de Estados de Humor
O Perfil de Estados de Humor (POMS) tem sido um dos instrumentos mais
utilizados em psicologia para avaliar os estados emocionais e de humor (Viana et al.,
2001). O POMS contém 42 adjetivos, e avalia as variações de humor em seis escalas
diferentes: tensão, depressão, hostilidade, fadiga, confusão mental e vigor. A avaliação
de uma escala é a soma da pontuação de intensidade de cada adjetivo (Anexo 9).
Neste instrumento, pede-se ao voluntário para quantificar a intensidade do adjetivo em
quatro alternativas: nada (pontuação 0), um pouco (1), mais ou menos (2), bastante (3)
e extremamente (4). Calculamos a perturbação total de humor pela subtração dos
escores das escalas negativas (tensão, depressão, hostilidade, fadiga e confusão
mental) pela escala positiva (vigor).
3.2.5. Inventário de depressão de Beck
Para avaliar o estado de depressão utilizamos o Inventário de Depressão de
Beck (Cunha, 2001), traduzido e validado por Gorestein e Andrade (1996). Este
inventário que avalia sintomas e atitudes depressivas é, provavelmente, a medida de
auto-avaliação de depressão mais amplamente utilizada tanto em pesquisa como para
diagnósticos (Dunn et al., 1993). É constituído de 21 itens (Anexo 10) que avaliam
sintomas e atitudes depressivas. A soma da pontuação dos itens do inventário avalia o
depressão mínima (escores de 0 a 11); depressão leve (12 a 19), depressão moderada
(20 a 35) e depressão grave (36 a 63).
3.2.6. Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp
O Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) identifica o nível
de estresse e sua sintomatologia, avaliando se a pessoa possui sintomas de estresse,
a natureza dos mesmos (psicológicos ou somáticos) e a fase de estresse em que se
encontra (Lipp, 2000). Constituído de uma lista de sintomas físicos e psicológicos,
avalia alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão, desde o último mês até as
últimas 24 horas (Anexo 11). Para cada fase de estresse existe um ponto de corte, que
é verificado somando-se os itens assinalados pelo sujeito entrevistado, então
classificado em uma das quatro fases do estresse.
3.3. Testes indutores de estresse
Para induzir o estresse utilizamos um teste de solução de problemas (Teste de
Subtração Serial) e um teste de processamento da informação (Teste de cores Stroop
Color-Word). Esses testes tem sido apontados na literatura como estimuladores do eixo
HPA (Hipotálamo-hipófise adrenal) (MacLeod & MacDonald, 2000; Lien & Proctor,
2002; Siska, 2002; Kunz-Ebrecht et al., 2003; Dedovic et al., 2005; Perhvilivanoglu et
al., 2005). Estes dois testes de estresse psicológico são considerados de nível leve
(Wang et al., 2005; Dedovic et al., 2009).
3.3.1. Testes de Cores (Stroop Color-Word Test)
O teste de cores (Stroop Color-Word Clássica) faz o voluntário ler a cor da letra
da palavra grafada em voz alta de cada cartela apresentada no menor tempo possível
o indivíduo apenas lê a cartela com palavras grafadas em preto com fundo branco
(Figura 2A), na segunda condição é apresentado um novo cartão contendo palavras
coloridas (Figura 2B) e novamente o indivíduo deve dizer o nome das cores o mais
rápido que conseguir. Na última etapa, é apresentado ao indivíduo um novo cartão com
nomes de cores, cada qual colorida com uma cor incongruente (Figura 2C). Assim,
como nas etapas anteriores, o indivíduo deve dizer qual a cor com a qual a palavra foi
impressa, inibindo a tendência de ler o nome da cor.
Figura 2. Esquema das cartelas do Teste de Cores Stroop Color-Word: (A) Cartela controle, (B) Cartela congruente e (C) Cartela incongruente.
3.3.2. Teste de Subtração Seriada
O Teste de Subtração Serial requer do indivíduo cálculo mental e a verbalização
do resultado obtido o mais rápido possível, realizadas de forma sequenciada em dois
blocos, com duração de quatro minutos. A cada operação mental errada o indivíduo
deve reiniciar a subtração do número base inicial.
No primeiro bloco deve-se subtrair 7, de forma sequenciada, durante quatro
minutos. Assim inicialmente o voluntário deve realizar o cálculo mental (1687 - 7= 1680,
por exemplo) e em seguida verbalizar o resultado da operação 1680. Posteriormente
segue com cálculo mental (1680 - 7 = 1673). Cada vez que o indivíduo fornece um
número diferente do esperado é convidado a reiniciar o cálculo.
Nas mesmas condições do primeiro, no segundo bloco o indivíduo é convidado a
subtrair 13 do número sugerido. Fornecendo o resultado correto, o indivíduo deve
subtrair 13, e assim sucessivamente. Caso não forneça o número desejado é
convidado a reiniciar o cálculo.
3.4. Testes Cognitivos
3.4.1. Teste de Dígitos
O teste de dígitos consiste em um teste de avaliação de memória operacional. O
indivíduo recebe oralmente uma série de dígitos, e deve repetir os números na mesma
ordem em que são ouvidos (ordem direta) e na ordem contrária também (ordem
inversa). Tanto na ordem direta quanto na inversa, a aplicação é suspensa após o
fracasso de duas tentativas sucessivas de reproduzir oralmente a série de números
(Figura 3).
Cada sequência de números reproduzida corretamente é anotada no quadro
direito, e os pontos finais são somados. A pontuação máxima da ordem direta é de 16
pontos e na ordem inversa de 14 pontos. O desempenho total é obtido pela soma dos
pontos na ordem direta e inversa, que tem como pontuação máxima 30 pontos. A
classificação do desempenho é da seguinte forma:
• Capacidade de armazenamento de informação de memória operacional é
avaliada através da pontuação obtida pela ordem direta;
• Capacidade de manipulação da informação da memória operacional é
quantificada pela pontuação da ordem inversa;
• Desempenho da memória operacional é avaliado pela soma da pontuação na
ordem direta mais a pontuação da ordem inversa.
3.4.2. Torre de Hanoi
O jogo Torre de Hanoi possibilitou a investigação da memória operacional, do
planejamento de ações e da capacidade de solução de problemas (Goel & Grafman,
1995; Numminen et al., 2001; Xu & Corkin, 2001; Bull et al., 2004). Para a realização
do teste foi utilizado um computador com o aplicativo do jogo (Figura 4). O teste
consiste em mudar todos os discos do pino central para outro pino qualquer, com o
auxílio do mouse, usando um dos pinos como auxiliar. Essa tarefa deve ser realizada
de modo que um disco menor sempre fique acima de outro maior. O aplicativo induz o
planejamento de uma estratégia para finalizar o jogo, pois impede a sobreposição de
Figura 4. Tela do Jogo Torre de Hanoi, mostrando o número de movimentos de blocos e o tempo do jogo. O programa aplicativo Torres de Hanoi encontra-se disponível em site de domínio público: http://www.baixaki.com.br/download/torres-de-hannoi.htm
3.5. Delineamento Experimental
A coleta de dados de cada voluntário (grupo de meditadores e de não
meditadores) foi realizada no Laboratório de Estudos de Memória em Humanos do
Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(DFS-UFRN) mediante agendamento prévio.
Foram explicados os procedimentos detalhadamente para o voluntário e em
seguida foi assinado o TCLE.
Ao final de uma sessão de 10 minutos de relaxamento os voluntários
preenchiam o questionário sociodemográfico e realizava o teste de dígitos. Finalizado o
teste os voluntários preencheram questionários de qualidade de vida geral
sono de Pitsburg), humor (Perfil de Estado de Humor), Ansiedade (IDATE – Traço e
IDATE- Estado), depressão (Inventário de depressão de Beck). Ao final do
preenchimento dos questionários foi realizada a tarefa de memória Torre de Hanoi
(Figura 5).
Após 30 dias os voluntários voltaram para uma segunda coleta somente de
testes de memória (Figura 5). Nessa coleta o estresse foi induzido por meio do teste
Stroop Color-Word e teste de subtração seriada. O intervalo de tempo entre as coletas
foi dado para reduzir o efeito do aprendizado uma vez que o traço de memória é
influenciado pela manipulação do tempo (Perger & Stein, 2003; Izquierdo et al., 2006;
Burgess & Hitch, 1999 e 2006)
Figura 5. Esquema do delineamento experimental
DELINEAMENTO
EXPERIMENTAL
1º Coleta 2º Coleta
TCLE
Questionário Sociodemográfico
Teste de Dígitos
Inventários de Qualidade de Vida (WHOQOL-100 e SF-36) Perfil de Estados de Humor
Índice de Qualidade do Sono de Pittsburg Inventário de Depressão de Beck Inventário de Sintomas de Estresses Inventário de Ansiedade IDATE Traço e Estado
Torre de Hanoi
Indução do Estresse
StroopColor-Word
Subtração Seriada
Teste de Dígitos
3.6. Análise dos dados
A análise estatística foi realizada com o auxílio do programa estatístico SPSS®,
versão 17. A normalidade dos dados foi observada pelo teste de Komogorov-Smirnov.
A diferença dos dados obtidos dos inventários (não paramétricos) para os dois grupos
foram analisados através dos testes de Mann-Whitney. Os dados obtidos dos testes de
memória (paramétrico) foram analisados pela ANOVA de duas vias para medidas
repetidas. Os resultados receberam tratamento estatístico com nível de significância
estabelecido em p < 0,05. Sendo considerado também valor com tendência de p entre
4. Resultados e Discussão
4.1. Inventários
4.1.1. Inventário de Qualidade de Vida (WHOQOL-100)
A análise dos resultados quanto à qualidade de vida dos voluntários, de acordo
com o Inventário WHOQOL-100, mostrou que tanto os meditadores quanto os não
meditadores apresentaram níveis considerados como bons para qualidade de vida
(mediana acima de 12 pontos) (Pedroso et al., 2009) (Figura 6).
A análise entre grupos mostrou uma diferença significativa na qualidade de vida
dos meditadores em relação aos não meditadores (U = 155,0, z = -2,0, p = 0,04). Esses
resultados são semelhantes a de outros estudos que também avaliaram a qualidade de
vida de voluntários após programas de meditação e consciência corporal
(Landsman-Dijkstra et al., 2004, 2006; Rippentrop et al., 2005; Fernros et al., 2008).
*
4.1.2. Inventário de Qualidade de Vida (SF-36)
De acordo com os escores de qualidade de vida física e mental tanto o grupo de
meditadores quanto o grupo de não meditadores apresentaram uma boa qualidade de
vida na saúde (mediana acima de 40 para os dois grupos) (Ciconelli et al.,1999; Reibel
et al., 2001; Smith et al., 2007).
A análise estatística dos escores de saúde mental indicou que meditadores
tendem a ter melhor qualidade de saúde mental quando comparados aos não
meditadores (U = 162,5, z = -1,82, ^p = 0,06). Porém, não houve diferença significativa
entre os grupos em relação a saúde física (U = 232,5, z = -0,17, p = 0,86). (Figura 7).
Estudos anteriores demonstraram que indivíduos que praticam meditação
apresentam níveis mais elevados de qualidade de vida do que indivíduos não
praticantes (Reibel et al., 2001; Grossman et al., 2004; Gross et al., 2004; Rippentrop et
al., 2005; Morone et al., 2008; Nidich et al., 2009). A aparente contradição entre os
nossos achados e os dos estudos anteriores pode ser explicada pelo fato dos não
meditadores já apresentarem uma boa qualidade de vida física e mental.
^
4.1.3. Índice de Qualidade do Sono de Pittsburg (IQSP)
A análise do índice de qualidade do sono de Pittsburg mostrou que a mediana
de ambos os grupos apresentava situada entre 0 e 5 indicando que tanto meditadores
quanto não meditadores apresentavam boa qualidade do sono (Ceolim & Menna
Barreto, 2000) (Figura 8).
A análise entre os grupos demonstrou que não houve diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos (U = 216,0, z = -0,57, p = 0,56) (Figura
8). Essa é uma aparente contradição entre os nossos achados e outros estudos que
correlacionam a prática meditativa à melhora significativa na qualidade do sono (Gross
et al., 2004; Ospina et al., 2007; Caldwell et al., 2010). Essa aparente contradição pode
ser justificada pelo fato do grupo estudado já apresentarem boa qualidade do sono.
4.1.4. Inventário de Ansiedade IDATE-Traço
A análise dos escores do IDATE-Traço mostra que tanto o grupo de meditadores
quanto o grupo de não meditadores apresentaram ansiedade abaixo da média
considerada por outros pesquisadores (Kozasa, 2002; Onnis et al., 2011).
Os grupos não diferiram em relação ao traço de ansiedade (U = 177,5, z = -1,47,
p = 0,14) (Figura 9).
Figura 9. Escore de ansiedade do inventário IDATE-Traço nos grupos de meditadores e não meditadores. Teste Mann-Whitney para amostras independentes. Medianas (não meditadores = 35,5 e meditadores = 33,5)
4.1.5. Inventário de Ansiedade IDATE-Estado
A ansiedade, no momento da segunda coleta foi avaliada pelo IDATE-Estado
que mostrou escores abaixo de 40 para ambos grupos, esse escore reflete um baixo
nível de ansiedade (Kozasa, 2002; Onnis et al., 2011). O baixo escore da
ansiedade-estado estar situado abaixo dos escores obtidos pelo IDATE-traço para os voluntários
Observamos uma diferença entre o estado de ansiedade entre os dois grupos.
Os meditadores na primeira coleta se apresentavam mais ansiosos que os não
meditadores (U = 134,5, z = -2,49, p = 0,01), (Figura 10). A mediana dos meditadores
não só está baixa como também está abaixo do traço. Isso nos leva a propor que esse
seria o ponto ótimo de ansiedade (estado de ansiedade benéfico para o enfrentamento
de situações estressantes) (Teigen, 1994). A diferença de nível de ansiedade
observada reflete que meditadores interpretam de forma diferente a coleta. Essa
diferença de resposta entre meditadores e não meditadores foi observada em outros
trabalhos (Caldera &Tacon,2004; Landsman-Dijkstra et al.,2004;Gross et al.,2004;
Cahn & Polich,2006; Lee et al. 2007; Kohls et al. 2009; Goldin & Gross,2010).
*
Figura 10. Escore da ansiedade estado nos grupos de meditadores e não meditadores. *p < 0,05 teste Mann-Whitney para amostras independentes. Medianas (não meditadores = 28,0 e meditadores = 32,5 )
4.1.6. Perfil de Estados de Humor
A perturbação de humor dos grupos de meditadores e não meditadores foi
constatada diferenças para o fator Hostilidade-Ira (U = 117, z = -2,92, p = 0,004)
(Figura 11A) e para o fator Fadiga-Inércia (U = 159,5, z = -1,91, p = 0,05) (Figura 11B).
Houve uma tendência de menor nível para o grupo de meditadores no fator
Tensão-Ansiedade (U = 165, z = -1,78, p = 0,07) (Figura 11C)
F
*
B
*
^
D
Os meditadores apresentaram uma perturbação total de humor
significativamente menor que os não meditadores (U = 146 z = -2,21 p = 0,02) (Figura
12), corroborando outros estudos que demonstram a eficácia da meditação na melhora
do estado de humor de indivíduos (Speca et al., 2000; Carlson et al., 2001; Ospina et
al., 2007; Tang et al., 2007; Pace et al., 2009; Zeidan et al., 2010).
*
Figura 12. Escore da Perturbação Total de Humor nos grupos de meditadores e não meditadores, ao longo dos dois dias de coleta de dados. *p < 0,05 teste Mann-Whitney para amostras independentes. Medianas (Não meditadores = 22,5 e Meditadores = 6,0)
4.1.7. Inventário de Depressão de Beck
A análise da presença de depressão de acordo com o Inventário de Depressão
de Beck demonstrou que houve predominância do nível mínimo de depressão entre os
indivíduos tanto para o grupo não meditadores (66,7% e 75,0%) quanto para o grupo
de meditadores (95,0% nas duas coletas) (Tabela 2). Podemos observar que os
meditadores apresentaram níveis diferentes dos não meditadores (U =141,0, z = -2,35,
indivíduos que praticam meditação e/ou yoga também apresentam escores de
depressão significativamente reduzidos (Kabat-Zin et al.,1992; Lee et al., 2007; Kozasa
et al., 2008; Kim et al., 2009; Goldin & Gross, 2010).
O nível mínimo e a redução dos escores de depressão para o grupo de
meditadores corrobora estudos que demonstram o desenvolvimento de características
psicológicas positivas por meio da redução de pensamentos repetitivos e reforço das
características positivas com o decorrer da prática meditativa (Lustin, 2004; Lutz et al.,
2004; Jain et al., 2007; Sanders, 2010).
Tabela 2. Avaliação entre meditadores e não meditadores em relação aos níveis de depressão de acordo com o Inventário de Depressão de Beck.
Níveis de Depressão Não-Meditadores
N (%) Meditadores N (%)
Mínimo 16 (66,7) 19 (95,0)
Leve 6 (25,0) 1 (5,0)
Moderado 2 (8,3) 0
Grave 0 0
*
4.1.8. Inventário de Sintomas de Estresse para Adulto de Lipp
Em relação a presença e a fase de estresse de acordo com o Inventário de
Sintomas de Estresse de Lipp observamos 27,5% dos não meditadores e apenas 10%
dos meditadores apresentaram estresse, as fases de estresse presentes foram de
alerta e resistência (Tabela 3). A análise dos escores revelou diferença
estatisticamente significativa entre os grupos (U = 175,5, z = -2,0 p = 0,04). Estes
resultados sugerem que há diferenças psicológicas e fisiológicas entre meditadores e
não meditadores em relação ao estresse, sendo que meditadores experientes
apresentam níveis mínimos de estresse. Nossos dados corroboram outros estudos que
já demonstraram que a prática meditativa é eficiente em reduzir significativamente os
sintomas do estresse em indivíduos (Grossman et al., 2004; Barnes et al., 2004;
Caldera & Tacon, 2004; Gross et al., 2004; Ospina et al., 2007).
Tabela 3. Freqüências e fases de estresse entre indivíduos não meditadores e meditadores de acordo com o Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp.
FASE DE ESTRESSE Não-Meditadores
N (%)
Meditadores
N (%)
Fase 1 - Alerta 3 (12,5)
6 (25,0) 0 0 15 (62,5)
1 (5,0) 1 (5,0)
0 0 18 (90,0) Fase 2 - Resistência
Fase 3 – Quase-Exaustão Fase 4 - Exaustão
Ausente
4.2. Testes Cognitivos
4.2.1 Teste de dígitos
Na tarefa de dígito spam, quando avaliado o desempenho do indivíduo na ordem
temporária baseada na fala relacionando com o funcionamento da alça fonológica. Por
outro lado a tarefa, quando realizada na ordem inversa, apresenta maior complexidade
na sua execução portanto relacionada com o executivo central (Ramsey & Reynolds,
1995; Reynolds, 1997; Bankey,1985; Hale et al., 2002; Badley, 2003; Rosenthal et al.,
2006).
A análise do índice de dígitos na forma direta por meio da ANOVA de duas vias
para medidas repetidas mostrou que houve interação significativa entre coleta e grupo
[F(1,42) = 5,84, p = 0,02], e aumento significativo do desempenho na pela coleta
[F(1,42) = 12,37, p = 0,001] e há apenas uma tendência de melhor performance dos
meditadores [F (1,42) = 3,09, p = 0,08]. Estes resultados demonstram que há um efeito
de aprendizado quando o estresse é induzido (2ª coleta) e os voluntários dos dois
grupos processaram a informação de modo semelhante (Figura 14).
A avaliação para a pontuação no teste de digitos na ordem inversa mostra que
não há interação entre a coleta e grupo [F(1,42) = 2,71, p = 0,1]. Os meditadores
apresentam melhor performance independente da coleta [F(1,42)= 7,49, p = 0,009]
(Figura 15). Estes resultados corroboram os estudos que demonstram que a meditação
pode promover alterações significativas na memória operacional (Davidson et al., 2003;
Cahn & Polich, 2006; Slagter et al., 2007, Leeuwen, 2009; Newberg et al., 2010).
O efeito do aprendizado quando o estresse é induzido também é evidenciado na
análise do desempenho geral no teste de dígitos. A análise de ANOVA de medidas
repetidas demonstrou interação entre coleta e grupo [F(1,42) = 31,20, p = 0,007] e
aumento significativo de desempenho durante as coletas [F(1,42) = 26,12, p < 0,001].
Os grupos diferem na atenção e memória operacional [F(1,42)= 6,24, p = 0,01] (Figura
16). Neste contexto vários estudos indicam que a meditação melhora a memória como
já mencionado (Brown & Ryan, 2003; Davidson et al., 2003; Bishop et al., 2004;
susceptibilidade ao estresse observadas nos grupos sugere que os modelos de
indução de estresse utilizados neste trabalho (Testes Stroop Colour e Subtração
Seriada) talvez não promovam alterações psicólogicas suficientes para produzir
alterações significativas no desempenho dos indivíduos.
0 4 8 12 16
1ª coleta 2ª coleta
Ín di ce D íg it o s -O rde m D ir e ta
Atenção e Armazenamento de Informação
na Memória Operacional
Não-Meditadores Meditadores
^
Figura 14. Índice médio (± EPM) da capacidade de armazenamento da informação (teste de dígitos na ordem direta) nos grupos de meditadores e não meditadores. *p < 0,05 e ^p entre 0,05 e 0,08 para ANOVA de duas vias de medidas repetidas
0 4 8 12 16
1ª coleta 2ª coleta
Índ ic e D íg it o s -O rde m Inv e rsa
Concentração e Manipulação de Informação
na Memória Operacional
Não-Meditadores Meditadores
0 5 10 15 20 25 30
1ª coleta 2ª coleta
Ín
d
ic
e
g
e
ra
l d
e
D
íg
it
o
s
Desempenho Geral de Memória Operacional
Não-Meditadores Meditadores
Figura 16. Índice médio (± EPM) de desempenho geral de memória operacional nos grupos de não meditadores e meditadores. *p < 0,05 para ANOVA de duas vias de medidas repetidas.
4.2.2. Torre de Hanoi
A investigação da memória operacional e planejamento de ações foi avaliada
através da quantificação do número de movimentos necessários para resolver a tarefa
da Torre de Hanoi. A análise por ANOVA de medidas repetidas demonstrou que há um
efeito do aprendizado quando o estresse é induzido (2ª coleta) pois há interação entre
a coleta x grupo [F(1,42) = 7,19, p = 0,01] e mostrou melhor desempenho em relação a
2ª coleta [F(1,42) = 12,24, p = 0,001]. A análise por ANOVA de medidas repetidas não
demonstrou diferença entre grupos em relação ao número de tentativas para executar
a tarefa [F(1,42) = 3,01, p = 0,09), entretanto, análise de teste t pareado demonstrou
que os meditadores realizaram um menor número de tentativas para executar a tarefa
0 50 100 150 200 250 300
1ª coleta 2ª coleta
N
ú
mer
o
de
Ten
ta
ti
va
s
Memória Operacional e Planejamento de
Ações
Não Meditadores Meditadores
Figura 17. Índice médio (± EPM) de desempenho de memória operacional e capacidade de planejamento nos grupos de meditadores e não meditadores. *p < 0,05 para test t pareado.
5. Conclusão
Neste estudo mostramos que meditadores quando comparados com indivíduos
que nunca praticaram meditação apresentam (1) melhor nível de qualidade de vida; (2)
baixos índices de depressão e de perturbação de humor; (3) níveis baixos de estresse;
(4) melhor desempenho em tarefa de memória operacional; contudo, (5) não foram
encontradas diferenças significativas em relação a qualidade do sono e a ansiedade; e
(6) a indução de estresse através das tarefas de dígito span e stroop color-word não foi
suficiente para influenciar o desempenho dos voluntários praticantes ou não de
meditação.
Neste contexto, parece que a pratica regular de meditação influencia
positivamente aspectos comportamentais e atencionais/mnemônicos em indivíduos
saudáveis.
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