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Púrpura em paciente com estrongiloidíase disseminada.

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Academic year: 2017

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Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 3 8 ( 3 ) :2 5 5 -2 5 7 , mai-jun, 2 0 0 5

RELATO DE CASO/CASE REPORT

Púrpura em paciente com estrongiloidíase disseminada

Purpura in patient with disseminated strongiloidiasis

Luciano C. Ribeiro

1,2

, Edson N.A. Rodrigues Junior

2

, Margareth D. Silva

2

,

Arley Takiuchi

2

e Cor Jesus F. Fontes

1,2

RESUMO

A i n f e c ç ã o p e lo Strongyloides sterc oralis e m a sso c i a ç ã o c o m i m u n o su p re ssã o p o d e m a n i f e sta r- se c o m le sõ e s e m m ú lti p lo s ó rgã o s e si ste m a s, c a ra c te ri za n d o a f o rm a d i sse m i n a d a d a d o e n ç a . Le sõ e s c u tâ n e a s n ã o sã o f re q ü e n te m e n te re la ta d a s e , se p re se n te s, m a n i f e sta m - se c o m o rash e p e té q u i a s. Pú rp u ra s b e m d e f i n i d a s sã o p o u c o d e sc ri ta s. No p re se n te tra b a lh o é de sc ri to u m c a so de e stro n gi lo i dí a se di sse m i n a da , c o m a c o m e ti m e n to c u tâ n e o e m f o rm a de pú rpu ra , q u e se de se n vo lve u e m u m p a c i e n te ti m e c to m i za d o e u su á ri o c rô n i c o d e c o rti c o ste ró i d e d e vi d o à miastenia gravis.

Pal avr as-chave s: Estro n gi lo i d í a se d i sse m i n a d a . Pú rp u ra .

ABSTRACT

Th e a sso c i a ti o n o f syste m i c c o rti c o ste ro i d th e ra p y a n d d i sse m i n a ti o n o f Strongyloides sterc oralis h a s b e e n i n c re a si n gly do c u m e n te d in the lite ra tu re . Sk in in vo lve m e n t in disse m in a te d stro n gylo idia sis ha s b e e n re po rte d a n d the m o st c o m m o n ly d e sc ri b e d c u ta n e o u s m a n i f e sta ti o n s a re ra sh a n d p e te c h i a l e ru p ti o n s. We p re se n t a c a se o f a n i m m u n o su p p re sse d m a n th a t d e ve lo p e d d i sse m i n a te d stro n gylo i d i a si s wi th e x te n si ve p u rp u ra .

Ke y-words: Di sse m i n a te d stro n gylo i d i a si s. Pu rp u ra .

1 . Núc leo de Estudo s de Do enç as Infec c io sas e Tro pic ais de Mato Gro sso , Cuiabá, MT. 2 . Departamento de Clínic a Médic a da Fac uldade de Ciênc ias Médic as da Universidade Federal de Mato Gro sso , Cuiabá, MT.

En de r e ço par a cor r e spon dê n ci a: Dr. Luc iano Co rrêa Ribeiro . Rua C no 6 3 , Jardim Ubatan, 7 8 0 1 0 -6 7 0 Cuiabá, MT.

e-mail: luc o rrea@ terra.c o m.br Rec ebido em 1 3 /9 /2 0 0 4 Ac eito em 2 /3 /2 0 0 5

A estrongiloidíase é uma helmintose predominantemente intestinal, causada pelo Stro ngylo ides sterco ra lis, sendo o homem seu principal reservatório, e a principal fonte de infecção.O risco de infecção é diretamente proporcional às condições de higiene do indivíduo. Apresenta ampla distribuição mundial, porém, com maior prevalência nas regiões tropicais e subtropicais. No Brasil, os dados variam de acordo com a região, com prevalência variando de 15 a 82%, mantendo uma média de 20%9.

O Stro n gylo i d e s ste rc o ra li s possui dois tipos de c ic lo evolutivo: o direto ou homogônico e o indireto ou heterogônico, sendo que no homem ocorre ainda a auto-infecção, que pode ser de forma interna ou externa. Em situações especiais, o ciclo de auto-infecção pode acelerar-se, levando à rápida elevação do número de vermes nos órgãos normalmente envolvidos no ciclo biológic o, fenômeno c onhec ido c omo hiperinfec ç ão. Pode evoluir para estrongiloidíase disseminada, que se estabelece quando oc orre uma ac eleraç ão do c urso normal do c ic lo biológico do parasita e invasão, pelas larvas filariformes, de órgãos como pele, sistema nervoso central, rins, fígado, com alta m o r talidade6. Esta c o m plic aç ão o c o r r e c o m m aio r

freqüência em indivíduos com depressão da imunidade celular por neoplasias ( linfomas, leucemias) , transplantados renais, alcoólatras e infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida humana ( HIV)1 0.

No presente trabalho, é descrito um caso de estrongiloidíase disseminada, com acometimento cutâneo em forma de púrpura, que se desenvolveu em um paciente timectomizado e usuário crônico de corticosteróide devido à m ia ste nia gra vis.

RELATO DE CASO

JJ, masc ulino , 3 6 ano s, po r tado r de m i a ste n i a gra vi s

(2)

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Ribeir o LC e t al

com expectoração esbranquiçada, astenia e emagrecimento de cerca de 5 kg no período.

Ao exame físic o, apresentou-se em regular estado geral, apátic o , hipo c o r ado , desidr atado , emagr ec ido , eupnéic o , anictérico, afebril, com diminuição difusa e moderada da força muscular. Os exames complementares revelaram hiponatremia ( 114meq/L) , leve granulocitose ( 8.200 células/mm3) , ausência de

eosinófilos, anemia normocrômica e normocítica ( Hb 11,2g/dL) , plaquetas de 2 1 6 .0 0 0 /mm3, hematúria importante e raio-X de

tó r ax no r mal. Pe sq uisa de antic o r po s anti- HIV r e sulto u negativa.

Dois dias após a internação o paciente apresentou febre baixa ( 3 8oC) , dispnéia e hemoptise. Surgiram-lhe lesões cutâneas

pápulo-eritematosas e purpúric as em membros superiores, região proximal dos membros inferiores e abdome ( Figura 1 ) . Evoluiu c om sinais de irritaç ão peritoneal e surgimento de infiltrado pulmonar retículo-nodular difuso bilateral ao raio-X. Os exames laboratoriais desse dia revelaram queda dos níveis da hemoglobina ( 7,2g/dl) e da contagem de plaquetas ( 174.000/mm3) ,

com aumento dos granulócitos ( 1 0 .2 0 0 células/mm3) .

Observou-se baixa atividade de protrombina ( 3 2 ,9 %) e hipofibrinogenemia ( 1 2 0 mg/dL) , além de hiperbilirrubinemia indireta ( 1 ,3 6 mg/dL) e níveis de LDH de 8 0 8 u/L.

por 1 0 dias, com melhora progressiva do quadro. Recebeu alta hospitalar no 8 º dia de internaç ão, prosseguindo o tratamento em nível ambulatorial, sem interc orrênc ia.

DISCUSSÃO

A doenç a c ausada pelo S. ste rc o ra li s no homem pode manifestar-se em três formas c línic as: aguda, c rônic a ( não c omplic ada ou c omplic ada) e disseminada. A forma c línic a inicial da infecção aguda é pouco relatada na literatura e pouco notific ada pelo médic o. Na forma c rônic a não c omplic ada os sintomas gastrintestinais são os mais relevantes, enquanto que na forma complicada o paciente geralmente apresenta sintomas respiratórios c omo bronc oespasmo e síndrome de angústia respirató ria do adulto , po dendo asso c iar-se à pneumo nia bacteriana secundária5 1 2. Em associação com imunosupressão,

o espec tro c línic o tende a se agravar, oc orrendo manifestaç ões de lesões em múltiplos órgãos e sistemas, c arac terizando a forma disseminada da infec ç ão1.

O paciente ora relatado fazia uso de corticosteróide, sendo este o provável fator desencadeante da disseminação do S.ste rc o ra li s.

Figu r a 1 - Le sõe s pu r pú r icas abdom in ais apr e se n tadas pe lo pacie n te n o se gu n do di a de i n te r n ação.

Pela alta pro babilidade de etio lo gia infec c io sa para o quadro, iniciou-se antibioticoterapia de largo espectro, com cefalosporina de quarta geração e imidazólico, após coleta de material biológic o para exames, sendo c onstatada grande quantidade de larvas de S. ste rco ra lis no exame direto de escarro e fezes. O exame histopatológico das lesões purpúricas da pele revelou discreto infiltrado linfocitário perivascular superficial com presença de fragmento de larva do helminto em meio às fibras do c olágeno dérmic o ( Figura 2 ) . A investigaç ão de bactérias e fungos no escarro, fezes, urina e sangue foi negativa. Iniciada terapêutica com tiabendazol na dose de 2 5 mg/kg/dia,

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De fato, em casos graves de estrongiloidíase, é consenso que o principal fator predisponente para a apresentação sistêmica da parasito se é a imuno ssupressão , sendo o uso c rô nic o de corticosteróide imputado, quase que em unanimidade, como o mais importante fator de risco7.

A manifestação cutânea mais comum na estrongiloidíase é a

la rva curre ns, isto é, lesão urticariforme, linear, pruriginosa, normalmente única e ocasionalmente múltipla, decorrente da penetração ativa da larva na pele da borda anal do indivíduo8.

As lesões de pele na forma disseminada resultam da disseminação hematogênic a do parasita, c onforme já desc rito em lesões do parênquima c erebral, c o m c arac terístic as isquêmic as, conseqüentes à embolização do nematódeo6. Outra explicação

ser ia a migr aç ão das lar vas atr avés da par ede do s vaso s sangüíneos na derme papilar, causando hemorragia petequial. Além disso, as larvas podem também migrar a partir da cavidade peritoneal, após terem invadido os vasos da parede do intestino delgado4 ,2. Independente do mecanismo, lesões cutâneas não

são freqüentemente relatadas e, se presentes, manifestam-se como ra sh e petéquias. Púrpuras bem definidas, tal como as apresentadas pelo paciente, são pouco descritas8 1 1.

A eosinofilia comumente encontrada em algumas parasitoses intestinais, inclusive na estrongiloidíase, mostra tendência a ser menos ( 2 0 %) freqüente na forma disseminada da doença, à medida que a infecção se agrava. Embora esta redução possa ser efeito da corticoterapia sobre os eosinófilos, a ausência de eosinofilia também foi relatada em indivíduos com outras causas de imunossupressão que não o uso de c ortic osteróides, ao de se nvo lve r e m infe c ç ão disse minada4. De mo do ge r al, a

eosinopenia implica mau prognóstico, o que se confirmou na apr e se ntaç ão da gr avidade inic ial do pac ie nte , q ue não apresentava eosinófilos no sangue periférico3.

Um grande complicador da estrongiloidíase disseminada consiste na infecção secundária, como pneumonia, meningite, e ndo c ar dite e se pse , so b r e tudo po r e nte r o b ac té r ias o u eventualmente fungos, podendo mascarar a infecção pelo S. ste rco ra lis. Isto ocorre devido à ruptura da barreira intestinal pela penetração do parasita, associada à diminuição da motilidade do trato digestivo, que ocorre associada à hiperinfecção4. No caso

aqui referido, o início precoce da antibioticoterapia de largo

espectro, na vigência da suspeita inicial de processo infeccioso inespecífico grave, possibilitou melhor prognóstico do paciente, evitando a evolução para as complicações acima citadas.

É bem provável que o tratamento empírico periódico desta parasitose seja benéfico em pacientes de alto risco, sobretudo os usuários crônicos de corticóides sistêmicos.

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