Departamento de Matemátia - ICEx
Monograa da Espeialização
Pontos Notáveis de Quadriláteros
Carolina Silva Rezende
Orientador: Prof. Mihel Spira
AgradeçoaDeuspelaforçaparapersistirommuitaluznessaaminhada.
Aos meus pais, meu irmão e toda minha família pelo apoio e arinho. Ao
Luiz, peloinentivoe porestar sempreperto nas horas de diuldadese
de-sespero, pelo arinho, ompreensão e por me fazer areditar que sou apaz.
AomeuorientadorMihelSpira,aquemtantodesorientei,pelapaiênia,
de-diação,ensinamentos(portamparalgunsburaosdaminhaformação)epor
metrazerde voltaabelezadaMatemátia. AosprofessoresJussaraMoreira,
PauloAntnio,JorgeSabatui, FranisoDutenhefnerpelasorreções e
su-gestões apresentadas. A todos professores e funionários do departamento
de Matemátia da UFMG, emespeial Bernardo Lima, Fábio Enrique
Bro-hero Martinez,ElianeAndréaBarbosa eElianeKelliGaudênioquesempre
Introdução 4
1 Notação e Resultados Elementares 5
1.1 Pontos Notáveisde Triângulos . . . 7
1.2 Homotetias . . . 10
1.3 Círulode Nove Pontos . . . 13
1.4 Círulode Apolnio. . . 15
2 Quadriláteros 18 3 Quadriláteros Insritíveis 22 3.1 Preliminares . . . 22
3.2 Propriedades dos quadriláteros insritíveis . . . 24
3.3 Antientro . . . 30
3.4 Outras Propriedades . . . 33
Pretendo, om esse trabalho, apresentar algumas propriedades de
qua-driláteros de modoa torná-las mais onheidas e aessíveis a professores de
Geometria dos ensinos médio e superior que tenham passado por um urso
iniialdegeometriaplana. Abelezadessaspropriedadeseofatodeserem
de-monstradas pormétodos elementares tornam seu estudo relevante doponto
de vista ientío, didátio e estétio. Estas propriedades não são omuns
em livrosdidátios de língua portuguesa. Vamos disponibilizartambémum
CD om arquivos em GEOGEBRA que utilizamos nos estudos para a
pro-dução deste texto. Nosso trabalho é baseado no apítulo 4 do livro College
Geometry: An Introdutionto theModern Geometry of the Triangle andthe
Notação e Resultados
Elementares
Dado dois pontos
A
eB
, denotaremos indistintamente porAB
o seg-mento, o omprimento desse segmento, a reta ou a semirreta (de origemA
) determinados por esses pontos; o ontexto tornará laro de qual objetose trata. Os símbolos
≡
e∼
serão usados para denotar, respetivamente,ongruênia e semelhança.
Figura1.1: Notação geral
CD
=
c
eDA
=
d
; e porP
,Q
,R
, eS
os pontos médios destes lados,respetivamente. As diagonais serão denotadas por
AC
=
f
eBD
=
g
, e seus pontos médios porV
eU
, respetivamente; além disso, oloamosUV
=
m
, omo na gura 1.1, que usaremos para xar notação ao longo dotrabalho.
A interseção de
P R
eQS
, denotada porJ
, é dita o entróide (ver apítulo 2) do quadrilátero. Quando o quadrilátero for irunsritível,de-notaremos por
O
o entro do írulo irunsrito. O ponto simétrio aO
om relaçãoaJ
seráhamadodeM
(verseção3.3 )édito oantientro do quadrilátero irunsritível.Figura 1.2: Notaçãopara quadriláteros insritíveis
No quadrilátero
ABCD
, o triânguloABC
é dito oposto ao pontoD
; denotaremosporD
′
seu inentro, eanalogamentedenimos
A
′
,
B
′
e
C
′
.
De-notaremos por
A
∗
o barientrodo triângulo
BCD
; analogamente, denimosB
∗
,
C
∗
e
D
∗
Iniiaremosessa seçãoom osseguintes resultados elementares queserão
usados durante o texto; demonstrações não apresentadas podem ser
enon-tradas na referênia [1℄. Lembramos que, em um triângulo, apareem os
seguintes pontos notáveis:
Inentro: enontrodas três bissetrizes. Oinentroéoentrodoírulo
insrito.
Barientro: enontro das três medianas.
Cirunentro: enontrodas três mediatrizes. Oirunentroéoentro
do íruloirunsrito.
Ortoentro: enontro das três alturas.
Exentros: enontros de duas bissetrizes externas.
Dizemos também que um segmento de reta que liga o vértie de um
triângulo ao lado oposto ou ao seu prolongamento é uma omo eviana do
triângulo.
Proposição 1.1 (Base Média). Sejam
ABC
um triânguloeM
,N
pontos médios dos ladosAB
eBC
, respetivamente. EntãoMN//AC
eMN
=
1
2
AC
.✷
Proposição1.2 (Medianas). Sejam
ABC
um triângulo,M
opontomédio do ladoAB
eG
seu barientro. EntãoAG
= 2
GM
; analogamente para osoutros lados.
✷
Proposição 1.3. Sejam
ABC
umtriângulo,H
seuortoentro,C
seuírulo irunsrito,O
o entro deC
. Sejam tambémD, A
′
∈
BC
tais que
AD
eOA
′
sejamperpendiulares a
BC
. EntãoOA
′
=
1
Demonstração. Temosque
COA
′
∼
CLB
earazãodesemelhançaéiguala
2
,já que
OC
éraiodairunferêniaeCL
édiâmetro; logoOA
′
=
1
2
LB
. Além disso, oquadriláteroLBHA
é um paralelogramo,poisomoCL
é diâmetro entãoAL
é perpendiular aAC
e, omoBE
é altura relativa ao ladoAC
do triânguloABC
, segue queBE
é perpendiular aAC
. Logo temos queAL//BH
e segue queBL
=
AH
, dondeOA
′
=
1
2
AH
.Apróxima proposição ésimples, mas nem sempreé abordadanos ursos
de geometria plana.
Proposição 1.4. Dado um triângulo retângulo
ABC
, o omprimento da medianarelativaà hipotenusa é iguala metade dahipotenusa.Demonstração. Comootriângulo
ABC
éretângulo,ahipotenusaAB
é tam-bémodiâmetrodoíruloirunsrito.LogoopontomédioD
dahipotenusaé oentrodesseírulo.SeguequeAD
=
BD
=
CD
sãoraiosdesseírulo.Proposição 1.5. (Relação de Stewart) Seja
ABC
um triânguloe onsi-dere a gura 1.5abaixo, entãob
2
f
+
c
2
e
=
a
(
ef
+
d
2
)
.
Figura1.5:
Demonstração. Pela lei dos ossenos, temos
b
2
=
d
2
+
e
2
−
2
de
cos
β
e
c
2
=
d
2
+
f
2
−
2
df
cos
α.
Multipliandoaprimeiraigualdadeporf
,asegundapore
esomando temos
b
2
f
+
c
2
e
−
ad
2
=
aef
,ondelembramosque
cos
α
=
−
cos
β
uma vez queα
+
β
= 180
o
.
Corolário1.1. Sejaotriângulo
ABC
ed
amedianaemrelaçãoaBC.Entãob
2
+
c
2
= 2
d
2
+ 2
a
2
2
.
✷
Denição 1.1. (Aro Capaz) Dados
P, Q
eα
, o aro apaz deP Q
om relação aα
é o lugar geométrio dos pontosX
tais queP XQ
\
=
α
. Esse lugar é um aro de um írulo om extremos emP
eQ
, onforme gura abaixo, ondeO
éo entrodo írulo. Observamos que existem, na verdade, dois desses aros, simétriosom relação a AB.✷
Figura 1.7: aro apaz
1.2 Homotetias
O termo homotetia é devido ao matemátio franês Mihel Chasles, em
1827eéderivadodogregoomoompostodehomo(similar)etetia(posição).
Denição 1.2. Sejam
O
um ponto ek
6
= 0
. Uma homotetia de entroO
e razãok
é a transformação do plano no plano que leva um pontoP
em um pontoP
′
nareta
OP
talqueOP
′
OP
=
k
e 1)Sek >
0
,P
′
pertene à semirreta
OP
2)Sek <
0
,P
′
pertene à semirreta oposta a
OP
Observamos quese
k
= 1
entãoρ
O, k
é a identidade.Para ahar o entro de uma homotetia dada, diferente da identidade,
basta traçar as retas determinadas por dois pontos distintos de uma gura
e os pontos orrespondentes da gura homotétia; o entro será o ponto de
interseção das retas.
Figura1.8:
Teorema 1.1. Sejam
α
eβ
homotetias de entroA
eB
e razõesa
6
= 1
eb
6
= 1
,respetivamenteomA
6
=
B
. Entãoβα
éuma(i)translação,seab
= 1
ou (ii)uma homotetia de razão
ab
,seab
6
= 1
.
Demonstração. Sem perda de generalidade, onsideraremos
a, b >
0
(apenas para efeito de gura mais bonita).Suponhamos primeiro
ab
= 1
; sem perda de generalidade, suponhamos tambéma >
1
. Consideraremos agora agura 1.9a seguir.Temos
AP
′
AP
=
a
eBP
′′
BP
′
=
b
=
1
a
,ou seja,BP
′
BP
′′
=
a
. LogoAP
′
B
∼
P P
′
P
′′
,
donde
P P
′′
é paralelaa
AB
. Alémdisso,P P
′
AP
′
=
AP
′
−
AP
AP
′
= 1
−
AP
AP
′
= 1
−
1
a
=
a
−
1
Figura1.9: aso
ab
= 1
Logo
−−→
P P
′′
éum vetor paralelo a
AB
de móduloa
−
1
a
|AB
|
,que independe daesolha de
P
; segue queβα
é uma translação.Figura1.10: aso
ab
6
= 1
Suponhamos agora
ab
6
= 1
, oma >
1
,b >
1
e onsideraremos a gura 1.10, ondeP
é ponto qualquer,P
′
=
α
(
P
)
,
P
′′
=
β
(
P
′
) =
βα
(
P
)
,
A
′
=
α
(
A
) =
A
,A
′′
=
β
(
A
′
) =
βα
(
A
)
,
G
=
AB
∩
P P
′′
,
H
=
AB
∩
BP
eR
∈
AB
é talqueHR//GP
′′
razão
ab
. TemosBA
′′
BA
=
BP
′′
BP
′
=
b
ouseja,BA
′′
P
′′
∼
BAP
′
;empartiular,
AP
′
//A
′′
P
′′
e segue que
BH
BP
=
b.
Além disso, temosAP
”
AH
=
AP
′
AP
=
a.
Da semelhança
A
′′
GP
′′
∼
A
′′
RH
temos que
GP
′′
RH
=
A
′′
P
′′
A
′′
H
=
a.
e da semelhançaBGP
∼
BRH
temos queRH
GP
=
BH
BP
=
b.
LogoGP
′′
GP
=
GP
′′
RH
RH
GP
=
ab
eonluímos queβα
é uma homotetia de entroG
erazãoab
.1.3 Círulo de Nove Pontos
Nesta seção vamos estudar um belo objeto da geometria: o írulo de
nove pontos.
Teorema1.2. Seja
ABC
umtriângulo,K, M, N
ospontosmédiosdoslados,P, Q, R
ospésdasalturaseU, V, W
ospontosmédiosdossegmentosqueligamo ortoentro
H
aos vérties. Esses nove pontosestão em um mesmoírulo. O entrodeste íruloéo pontomédiodosegmento queligaoortoentroaoirunentrodotriângulo
ABC
. Alémdisso,oraiodoírulode novepontos valeametade doraiodo íruloirunsrito ao triângulo.Demonstração. Vamos demonstrar primeiro que o írulo que passa pelos
Seja
C
o írulo determinado porK, M, N
. Vamos mostrar que o qua-drilátero éMKP N
é insritível. O triânguloCP B
é retângulo eP N
é a mediana referente a hipotenusa; pela proposição 1.4temos queP N
=
BN
. Por outro lado, temos queMK
é base média do triânguloABC
, entãoMK
=
BN
. AssimMK
=
P N
e nosso quadrilátero é um trapézioisós-eles, que é insritível. Logo o írulo
C
passa porP
; e analogamente, ele passa porQ
eR
.Agora vamos provar que o írulo
C
passa também pelos pontos médiosdos segmentos determinados pelos vértiese pelo ortoentro dotriângulo.
Sejam
U
eV
ospontosdeinterseçãodoíruloC
omAH
eBH
, respe-tivamente. Temos queMN
é base média dotriânguloABC
, logoé paralelo aAB
eMN
=
AB
2
. Temos, também, queV RM
\
= 90
o, logo
MV
é um diâmetro deC
. AnalogamenteUN
édiâmetro. AssimMV
eNU
são iguais e paralelos, isto implia queMUV N
é um retângulo eMN
=
AB
2
. EntãoUV // AB
eUV
=
AB
2
. Comissoonluímos queUV
ébase média△AHB
, em partiularU
eV
são pontos médios,respetivamente deAH
eBH
.O írulo do teorema 1.2 é dito o írulo de nove pontos do triângulo
ABC
.OCírulode novepontos eoíruloirunsritode um mesmotriângulo
estão relaionados de um modosurpreendete, omo vemos aseguir.
Teorema 1.3. O írulo de nove pontos e o írulo irunsrito de um
tri-ângulo
ABC
são homotétios por uma homotetiaρ
de entroH
e razão 2.1.4 Círulo de Apolnio
Nesta seção vamos estudar um objeto maravilhoso e surpreendente: o
írulo de Apolnio
Lema 1.1. Dado um segmento
AB
e1
=
6
k
≥
0
, existem e são únios os pontosP
,Q
na retaAB
, omP
interno eQ
externo aosegmentoAB
, tais queP A
P B
=
QA
QB
=
k
.Demonstração. Seja
AC//BD
. TemosACQ
∼
BDQ
, logoAC
BD
=
AQ
BQ
=
k
. Por outro lado, o triânguloAEP
∼
BDP
, logoAE
BD
=
AP
BP
=
k
. EntãoAP
BP
=
AQ
QB
=
k
. Observação da gura do lema 1.1: Foi onstruída traçando paralelas a retaAB
porA
eB
,AC
=
AE
=
k
eBD
= 1
, assim enontra-mos os onjugados harmniosP Q
, tais queP
=
AB
T
ED
eQ
=
AB
T
CD
.Deixamos para o leitor a demonstração dauniidade deP
eQ
.No lema anterior, o número
k
é dito a razão emqueP
eQ
que dividem o segmentoAB
. Para uso posterior,observamos que seX
eY
pertenem à retaAB
, entãoY
está à direita deX
se e somente seY A
Y B
>
XA
XB
. OspontosP
eQ
são ditos osonjugados harmniosdeA
eB
om relação ak
.Observamos quepontomédio
M
do segmentoAB
é oúnio ponto queo divide na razãok
= 1
.Teorema 1.4. Se
k >
0
eP
,Q
são os onjugados harmnios deA
eB
om relação ak
então o lugar geométrio dos pontosX
tais queAX
BX
=
k
é a mediatrizdeAB
sek
= 1
e é oírulo de apolnioC
, de diâmetroP Q
sek
6
= 1
.Demonstração. Para
k
= 1
éimediatoqueo lugardesrito pelopontoP
éa mediatrizdosegmentoAB
. Suponhamosagorak
6
= 1
esejaX
talqueAX
BX
=
k
. TemosAP
BP
=
AX
BX
e o pelo teorema da bissetrizque diz:AP
BP
=
AX
BX
=
AQ
BQ
, dondeAP
BP
=
AQ
BQ
=
k
, temos queXP
é bissetriz deAXB
. AnalogamenteXQ
é bissetriz externa logoP XQ
\
= 90
oo que implia que
X
pertene ao íruloC
de diâmetroP Q
. Reiproamente, sejaX
pertenente ao íruloC
, temos então queP XQ
\
= 90
o. Traçamos por
B
paralelas aXP
e sXQ
, que intereptamAX
emD
eE
respetivamente. EntãoAP
BP
=
AX
DX
eAQ
BQ
=
AX
EX
; omoAP
BP
=
AQ
BQ
obtemosXD
=
XE
. Logo,X
é o ponto médio da hipotenusa do triângulo retânguloDBE
e obtemosXD
=
XB
. Assim,AX
BX
=
AX
DX
=
AP
BP
=
k
.O írulo do teorema anterior é onheido omo írulo de Apolnio do
Quadriláteros
Nesteapítulo,tratamosdepropriedadesgeraisdequadriláterosonvexos
e introduzimosum pontoespeial, dito entróidede um quadrilátero.
Proposição 2.1. Os pontos médios dos lados de um quadrilátero (não
ne-essariamenteonvexo)são vérties de um paralelogramo.
Figura2.1:
Corolário 2.1. O perímetrodo quadrilátero
P QRS
é igual ae
+
f
.✷
Agora vamos apresentar oprimeiropontomágio deste trabalho.
Teorema 2.1. Seja
J
=
P R
T
QS
. EntãoJ
é ponto médio deP R, QS
eUV
.Figura 2.2: Centróide do quadrilátero,pontoJ
Demonstração. Como
P QRS
é paralelogramo,J
é ponto médio das diago-naisP R
eQS
. Além disso,P URV
também é paralelogramo, dondeJ
é pontomédio das suas diagonaisP R
eeUV
.Denição 2.1. O ponto
J
doteorema 2.1édito oentróide deABCD.
✷
Paraoutraapresentaçãodoentróideindepedentedaanterior,lembramos
que
A
∗
denota o barientro do triânguloBCD, e analogamente para
B
∗
, C
∗
e
D
∗
Teorema 2.2. As retas
AA
∗
,BB
∗
,CC
∗
eDD
∗
onorrem em
J
.Demonstração. No triângulo
ABD
, o segmentoDP
é mediana eC
∗
é
ba-rientro. Pela proposição 1.2, segue que
P C
∗
P D
=1
3
; analogamente,P D
∗
P C
=1
3
e pelo teorema de Tales segue que
C
∗
D
∗
// CD
e
C
∗
D
∗
CD
=1
3
. O raioínioanálogo paraos segmentos
A
∗
B
∗
,
B
∗
C
∗
e
D
∗
A
∗
mostraque osquadriláteros
ABCD
eA
∗
B
∗
C
∗
D
∗
têm seuslados respetivamenteparaleloseemrazão
1
3
;logo esses quadriláteros são homotétios. Vamos agora determinar o entro
dessa homotetia. Como
QS
é mediana no triânguloAQD
eA
∗
D
∗
// AD
,
QS
passa pelo ponto médioS
′
de
A
∗
D
∗
. Os pontos
S
eS
′
são homotétios
nos dois quadriláteros;segue que areta
SQ
passa peloentrodahomotetia. Analogamente,P R
passa pelo entro da homotetia; omoP R
∩
QS
=
J
, segue queJ
é oentro dessa homotetia ea razão é−
1
3
.Figura2.3: Figura 2.4:
Agoraapresentaremosalgumaspropriedadesalgébriasdosquadriláteros.
Teorema 2.3. Seja
ABCD
um quadrilátero. Entãoa
2
+
b
2
+
c
2
+
d
2
=
f
2
+
g
2
+ 4
m
2
.
Demonstração. No triângulo
ABD
,V
é o ponto médio deBD
=
g
. Pela relação de Stewart (proposição1.5), temos2
AV
2
=
a
2
+
d
2
−
1
2
g
2
.
Analoga-mente, notriângulo
BCV
, temos2
CV
2
=
b
2
+
c
2
−
1
2
g
2
enotriângulo
ACV
temos2
m
2
=
AV
2
+
CV
2
−
1
2
f
2
. Logo,
2
AV
2
+ 2
CV
2
=
a
2
+
d
2
+
b
2
+
c
2
−
g
2
e, substituindo,temos
a
2
+
b
2
+
c
2
+
d
2
=
f
2
+
g
2
+ 4
m
2
.
Lema 2.1. A soma do quadrados dos lados de um paralelogramo qualquer
P QRS
é igual àsoma dos quadrados de suas diagonais,istoé,2(
p
2
+
q
2
) =
P R
2
+
QS
2
Demonstração. Apliandoaleidosossenosemadaumdostriângulos
P QR
eP QS
,temos:QS
2
=
p
2
+
q
2
−
2
pq
cos
α
eP R
2
=
p
2
+
q
2
−
2
pq
cos
β
,somandoambas, e observando que
α
eβ
são suplementares, segue que:2(
p
2
+
q
2
) =
P R
2
+
QS
2
Corolário 2.2. A soma dos quadrados das diagonais de um quadrilátero é
igual aodobrodasomadoquadradodos doissegmentosqueligamospontos
médios dos lados opostos aos lados doquadrilátero, istoé:
g
2
+
f
2
= 2(
P R
2
+
QS
2
)
Quadriláteros Insritíveis
Nesse apítulo estudaremos propriedades espeiais de quadriláteros
ins-ritíveis. Observamos que essas propriedades deorrem da rigidez imposta
ao quadrilátero pelaondição da soma dos ângulos opostos ser igual a
180
◦
.
3.1 Preliminares
Denição 3.1. O quadrilátero quepossui seus vértiessobre uma
irunfe-rênia é hamadode quadrilátero insritível ouílio.
Teorema 3.1. As seguintes ondiçõessão equivalentes:
(a) O quadrilátero
ABCD
é insritível;(b) Os ângulosopostos são suplementares;
() O ânguloentre um lado e umadiagonal éigual ao ânguloentre o lado
oposto e a outra diagonal.
Demonstração. (a)
⇒
(b). Como o ânguloA
ˆ
éinsrito, temos queA
ˆ
=
BCD
2
.Como o ângulo
C
ˆ
é insrito,temosC
ˆ
=
DAB
2
. Assim, segue que,ˆ
A
+ ˆ
C
=
BCD
2
+
DAB
2
= 180
o
Analogamente,
B
ˆ
+ ˆ
D
= 180
o.
(b)
⇒
(a). SejaABCD
um quadrilátero talqueA
ˆ
+ ˆ
C
= ˆ
B
+ ˆ
D
= 180
o.
Suponha, porabsurdo, que
ABCD
não seja insritível. SejaE
a interseção da irunferênia irunsrita ao triânguloABD
om o ladoBC
. No qua-driláteroABED
, temos, por hipótese, queA
ˆ
+ ˆ
E
= 180
o
. Absurdo pela
propriedade doângulo externo. Logo, oquadrilátero
ABCD
é insritível. (a)⇒
(). Os ângulosD
AC
ˆ
eD
BC
ˆ
enxergam o mesmo aro, logo, são iguais.()
⇒
(a). SejaABCD
quadrilátero tal queA
DB
ˆ
=
A
CB
ˆ
. Suponha, por absurdo, queABCD
não é insritível. SejaE
a interseção da irunferên-ia irunsrita ao triânguloABD
e o ladoBC
. No quadriláteroABED
temos, por hipótese,A
EB
ˆ
=
A
DB
ˆ
e,om isso, teremosA
EB
ˆ
=
A
CB
ˆ
, on-tradizendo novamente a propriedade doângulo externo. PortantoABCD
é insritível.Figura3.1:
Lembramos que
ABCD
é um quadrilátero,A
′
o inentro do triângulo
BCD
; e analogamente, paraB
′
,
C
′
e
D
′
, omo naseção de notação.
Veremos a partir de agora uma série de resultados inesperados que
Teorema 3.2. Seja
ABCD
um quadrilátero. EntãoA
′
B
′
C
′
D
′
éum
quadri-látero insritível.
Figura3.2:
Demonstração. No triângulo
AA
′
D
temos
AA
\
′
D
=
180
o−
A
ˆ
+ ˆ
D
2
.Analoga-mente, para os triângulos
DB
′
C
,
BC
′
C
e
AD
′
B
. Como
A
ˆ
′
e
C
ˆ
′
são ângulos
opostos, logo
A
ˆ
′
+ ˆ
C
′
= 180
o.
AA
\
′
D
= 180
−
A
ˆ
+ ˆ
D
2
. Analogamente paraˆ
B
′
+ ˆ
D
′
= 180
o3.2 Propriedades dos quadriláteros insritíveis
Teorema 3.3.
EG
eF H
são perpendiulares.Demonstração. Seja
S
a interseção deBD
eF H
. TemosALD
[
=
AD
+
BC
2
.Como
HD
=
AD
2
eBF
=
BC
2
, temos\
HSD
=
HD
+
BF
2
=
\
ALD
2
. LogoHF
é paralelo à bissetriz de
ALD
[
; analogamente,EG
é paralelo à bissetriz de[
ALB
esegue queHF
eEG
são perpendiulares.Figura3.3:
Uma nota história para ontextualizar nosso próximo resultado.
Sabe-mosdegrandesmatemátiosdopassadoedesuasvariadasontribuiçõespara
os amposda álgebra, trigonometria,geometria e demais áreas da
matemá-tia, omo Pitágoras, Arquimedes, Pasal, Heron de Alexandria e outros.
ClaudiusPtolomeutambém foium desses grandesmatemátios,além de
as-trnomo e geógrafo. Ptolomeu naseu por volta do ano de 85 no Egito e
morreu,aproximadamente, noanode 165 emAlexandria,tambémnoEgito.
FoiPtolomeuquempropsateoriadogeoentrismo, queperdurouporera
eniouamatemátia (empartiular,a trigonometria)propondoum teorema
que leva seu nome: Teoremade Ptolomeu. Vejamoso que dizesse teorema.
Teorema 3.4. Emum quadrilátero insritíveltemos
ac
+
bd
=
f g
.Figura3.4:
Demonstração. Sejam
r
areexãodasemirretaAD
omrelaçãoàbissetrizdeB
AC
ˆ
eZ
=
r
∩
BC
; notamosqueB
AZ
ˆ
=
C
AD
ˆ
. ComoABCD
éinsritível,temos
A
BZ
ˆ
=
A
DC
ˆ
e segue queA
ZB
ˆ
=
A
CD
ˆ
; segue imediatamente que os triângulosAZB
eACD
são semelhantes, dondeZB
c
=
a
d
. Da semelhançados triângulos
AZC
eABD
segue queZC
g
=
f
d
. Logof
d
=
ZC
g
=
ZB
g
=
ac
d
+
b
g
=
ac
+
bd
dg
donde
ac
+
bd
=
f g
.desigualdade triangular,
ZC < ZB
+
BC
e omo no aso anterior, temos que o triânguloAZB
é semelhante ao triânguloACD
, o que implia queAZ
AC
=
ZB
CD
=
AB
AD
−→
ZB
=
ac
d
,ZC
=
ac
d
+
b
=
⇒
ZC < ac
+
bd
.Comoapliaçãodoteoremade Ptolomeu, vamos mostraromo onstruir
um quadrilátero
ABCD
insritível, dados os ladosa
,b
,c
ed
, nessa ordem, sendob
o maior lado. A ondição para essa onstrução éb < a
+
c
+
d
, que é laramenteneessária, sendo verdadeira para qualquer quadrilátero.Suponhamos agora
b < a
+
c
+
d
. SejaZ
tal queBZ
=
ac
d
, omB
entreZ
eC
,A
=
C
(
B, a
)
∩ A
(
ZC,
a
d
)
.Figura3.5:
Finalmente, hamamos de
D
a interseção do írulo irsunsrito ao tri-ânguloABC
eA
(
AC,
d
c
)
.Devemos mostrar que as interseções aima, ou seja, os pontos
A
eD
, existem. Começamos omC
(
B, a
)
∪ A
(
ZC,
a
d
)
. SejaP
=
ZC
∩ A
(
ZC,
a
d
)
.Para mostrar que
P
está à direita de ou oinide omB
, basta mostrar queP Z
P C
≥
BZ
BC
. ComoP
∈ A
(
ZC,
a
d
)
, isto é o mesmo quea
d
≥
ac
d
b
, ou seja,b
≥
c
, o queé verdadepoissupomos queb
éo maior lado doquadrilátero.Vamos agora mostrar que
BP < a
. Para isso, sejaQ
∈
BC
tal queBQ
=
a
; queremos mostrar queP
está à esquerda deQ
, o que é o mesmoque
P Z
P C
<
QZ
QC
,ouseja,a
d
<
a
+
ac
d
b
−
a
. Esta desigualdadeequivaleab < a
+
c
+
d
, queéaondição dada. Observamosagoraque,omoA
(
ZC,
a
d
)
,temosAZ
AC
=
Figura3.6:
a
d
, e segue a razão de semelhança dos triângulosABZ
eADC
éa
d
. LogoAD
=
d
a
AB
=
d
a
a
=
d
eCD
=
d
a
BZ
=
d
a
ac
d
=
c
.Observação 2. Na onstrução aima supomos que
d
era o lado oposto ab
. Sea
ouc
são os lados opostos deb
, obteremos possivelmente dois outrosquadriláteros insritos de lados
a, b, c
ed
.Apliando o teorema 3.4 aos quadriláteros
ABCD, ABCD
′
e
A
′
BCD
temos:
yz
=
ab
=
cd
e obtemos
x
y
=
ad
+
bc
ab
+
cd
,xy
=
ac
+
bd,
o que nos permite determinar asdiagonais doquadrilátero. Vemos também
que todos os quadriláteros insritos de lados
a, b, c
ed
têm apenas três me-didas possíveispara asdiagonais. A gura 3.7é uma das três possibilidadesNestaseçãovamosestudarumpontointeressantehamadode antientro,
o segundo pontomágio.
Teorema3.5. Emumquadrilátero
ABCD
insritível,ossegmentosderetas perpendiulares aos lados quepassam pelo pontomédio do lado oposto têmum pontoem omum.
Figura3.8:
Demonstração. Sejam
O
o entro do írulo irunsrito ao quadrilátero,J
seu entróide,S
′
o pé da perpendiular traçada por
S
ao ladoBC
. A retaOJ
intereptaSS
′
em um ponto
M
. Observamos que a retaOQ
é paralela a retaSS
′
Denição 3.2. O ponto
M
do teorema anterior, ou seja, o simétrio deO
om respeito aJ
, será hamado de antientro doquadriláteroABCD
.Teorema 3.6. Sejam
ABCD
um quadrilátero eHa
,Hb
,Hc
eHd
os orto-entros dostriângulosBCD
,ACD
,ABD
,ABC
, respetivamente. Entãoas retasAHa
,BHb
,CHc
eDHd
são onorrentes e seu ponto de enontro é o antientrodeABCD
.Figura3.9:
Demonstração. Pelolema 1.3, temos
AHd
= 2
OQ
=
DHa
; além disso,AHd
eDHa
são ambas perpendiulares aBC
, dondeAHdDHa
é um paralelo-gramo. SejaX
=
AHa
∩
DHd
; entãoX
é oantientro. De fato a retaSX
é paralela à retaAHd
e, portanto,SX
é perpendiular aBC
. LogoX
∈
SS
′
e, analogamente,
X
∈
P P
′
Observação 3. a demonstração mostraque
M
é tambémopontomédio deAHa, BHb, CHc
eDHd
.Corolário 3.1. Seja
ABCD
insritível. Então ospontosHa, Hb
, Hc, Hd
for-mam um quadrilátero homotétio aABCD
, por uma homotetia de entroM
e razão−
1
.Demonstração. Bastanotarque
AHaDHd
éumparalelogramoeM
éoponto de enontro das diagonais, ou seja, é o ponto médio das diagonaisAHd
eDHa
. Logo ahomotetia de entroM
e razão−
1
levaA
emHa
eD
emHd
;analogamentepara
B
eC
.Figura3.10:
Teorema 3.7. Os írulos de nove pontos dos quatro triângulos
determi-nados pelos vérties de um quadrilátero ílio se intereptam noantientro
M
.Demonstração. Seja
Hd
o ortoentro do triânguloABC
. Pelo teorema 3.6,1
2
leva o írulo irunsrito do triânguloABC
no írulo de nove pontos do triânguloABC
. Segue então queM
pertene ao írulo de nove pontos do triânguloABC
e analogamente para os outros triângulos. LogoM
é interseção dos quatro írulos de nove pontos.Figura 3.11: Figura3.12:
3.4 Outras Propriedades
Denimos agora um objeto importantepara a sequênia de nosso
traba-lho.
Denição 3.3. Seja
ABC
um triângulo,C
seu írulo irunsrito,D
′
seu
inentroe
Da
seu exentroopostoaA
. DenotaremosporCBD
′
C
oíruloque passa porB
,D
′
Lema 3.1. O entro de
CBD
′
C
é o ponto médioF
do aroBC
oposto aA
no íruloC
. Além disso,D
′
Da
é um diâmetro.
Demonstração. Vamos provar que
F
é o entro deCBD
′
C
. ComoAD
′
é
bissetriz de
BAC
, ela passa porF
, que é ponto médio do aroBC
. Basta agora mostrarque o triânguloD
′
F C
éisóseles.
Figura3.13:
Temosque
\
F CB
=
BAF
[
=
α
,ambosessesângulosenxergamosegmentoBF
eACD
′
=
BCD
′
=
β
pois a reta
D
′
C
é bissetriz. Então, pelo teorema
doângulo externo,temos que
CD
\
′
F
=
α
+
β
e, omo
F CD
\
′
=
α
+
β,
temos
que o triângulo
D
′
F C
Agora vamos provarque
D
′
Da
édiâmetro. Como asbissetrizes internae
externa de umângulode um triângulosão perpendiulares,segue que
B
eC
enxergamD
′
Da
por um ângulo reto. Logo
B
,C
,D
′
e
Da
pertenem a um írulo de diâmetroD
′
Da
.
Lema 3.2. Sejam
ABCD
um quadrilátero insritível,E
,F
,G
eH
pontos médios dos arosAB
,BC
,CD
,DA
, respetivamente. EntãoF H
é perpen-diular aEG
.Demonstração. Observando a gura 3.14, temos que
GKF
\
=
GKH
\
pois subentendem aros de mesma medida; além disso,GKF
\
+
GKF
\
= 180
o
;
omo
GKF
\
=
GKF
\
onluímos queF H
éperpendiular aEG
.Figura3.14:
Teorema 3.8. Osinentrosdos quatro triângulosdeterminadospelos
vérti-es de um quadrilátero ílio são vérties de um retângulo.
Demonstração. Pelo lema anterior, temos que
A
′
D
′
e
B
′
C
′
são
perpendi-ulares a
HF
, logoA
′
D
′
e
B
′
C
′
são paralelos; analogamente,
A
′
B
′
C
′
D
′
um paralelogramo. Como
HF
eEG
são perpendiulares, onluímos queA
′
B
′
C
′
D
′
é um retângulo.
No quadrilátero insritível
ABCD
, denotaremos porDa
o exentro do triânguloABC
oposto aovértieA
. Analogamente, deniremosDa, Db
eDc
os exentros do triânguloABC
oposto, respetivamente, aos vértiesA, B
eque feha esse trabalho, uja demonstração iniiamosom o lema aseguir.
Figura 3.17: 16 pontos, 4 a 4alinhadose perpendiulares
Lema 3.3. Sejam
Ba
,Ca
eDa
osexentros opostosaovértieA
dos triângu-losCDA
,DAB
eABC
,respetivamente. EntãoA
′
D
′
AdDa
éum retângulo.
Demonstração. Peloteorema
3
.
8
,A
′
B
′
C
′
D
′
éum retângulo. Temos
CBD
′
C
=
CBA
′
C
; pelo lema 3.1, os pontosA
′
e
Ad
são diametralmente opostos, bem omoD
′
e
Da
. LogoA
′
D
′
AdDa
é um retângulo e
Ad, D
′
, C
′
e
Bc
estão alinhados.Com raioínio análogo, temos as quadrúplas de pontosalinhados omo
Teorema 3.9. Os dezesseis exentros dos quatro triângulos formados pelos
vérties de um quadrilátero ilío formam dois grupos distintos de retas
organizadas quatro a quatro, perpendiulares ouparalelas.
Figura3.19:
Demonstração. Tendo em vista os teoremas 3.8 e o lema 3.3, basta
mos-trar queoquadrilátero
C
′
AdCaAb
Figura3.20:
Para isso, basta mostrar que o írulo
CBC
′
D
passa porAd
. Observamos queA
\
′
AdB
=
A
\
′
CB
:=
α
, pois ambos enxergam a orda
A
′
B
em
C
(
BCD
)
. ComoCA
′
[1℄ Altshiler-Court, Nathan: College Geometry: An Introdution to the
Modern Geometryof the Triangleand the Cirle. Dover, 2007.
[2℄Elert, Glenn: Ptolemy'sTable ofChords: TrigonometryintheSeond
Century http://hypertextbook.om/eworld/hords.shtml.