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Letramento. Unidade 4

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Academic year: 2021

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Unidade 4

Letramento

Letramento é o estado ou condição de quem não só sabe ler e escrever, mas exerce as práti-cas sociais de leitura e de escrita que circulam na sociedade em que vive, conjugando-as com as práticas sociais de interação oral. (SOARES, 1998, p. 3)

Nos dias de hoje, tão importante quanto conhecer o funciona-mento do sistema de escrita, as estatísticas sobre a alfabetização no país e as estratégias para alfabetizar crianças é ter conhecimento sobre o termo “letramento”.

Como você acompanhou nas unidades anteriores, surgiu, no Brasil, a partir da década de 1980, a necessidade da diminuição do analfabe-tismo (que ganhou força nas décadas seguintes), inclusive do chamado

analfabetismo funcional.

Analfabetismo funcional – Estado ou condição da pessoa que, mesmo sabendo ler e

escrever, não compreende o que lê.

Hor

ton Group/Stock.X

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Alfabetização ou letramento?

No intuito de reverter índices de não alfabetização que, muitas vezes, retrataram o fracasso escolar, alterou-se a forma de conceber a alfabeti-zação. Primeiro, porque se trata de um direito das pessoas; afinal, saber ler e escrever é fundamental. E, em segundo lugar, em consonância com os países desenvolvidos, por se considerar que ser alfabetizado é uma condição para a sobrevivência e a conquista da cidadania.

Dessa forma, como elemento de cidadania, o conceito de “alfa-betização” foi ampliado, carregando agora a necessidade de que as pessoas soubessem ler e escrever, mas também interpretar (SOARES, 1998, p. 32). Com a mudança da concepção de alfabetização, passa a ter força nos meios educacionais o conceito de “letramento”. Utilizado no Brasil a partir de 1986 (KATO, 1997, p. 11-12), este significa estado ou condição de quem sabe ler e escrever e também exerce as práticas sociais que usam a escrita (SOARES, 1998, p. 3).

Observe que não estamos sugerindo que a palavra “alfabetização” seja simplesmente substituída por “letramento”, mas sim que a alfabeti-zação seja revista e ampliada por meio das práticas de letramento. Em outras palavras, não basta que aquele que pretende ler e escrever conheça as letras, os sons, as junções, e possa formar frases ou pequenos textos, prá-tica difundida pelo uso de métodos, como se constata na citação a seguir.

Toda esta tradição estava vinculada a uma concepção de alfabetização segundo a qual a apren-dizagem inicial da leitura e da escrita tinha como foco fazer o aluno chegar ao reconhecimento das palavras garantindo-lhe o domínio das correspondências fonográficas. (...) Mas, de uma maneira geral, tratava-se de uma visão comportamental da aprendizagem que era conside-rada de natureza cumulativa, baseada na cópia, na repetição e no reforço. (REGO, 2006, p. 1)

Nos tempos atuais, espera-se encontrar na alfabetização (como prá-tica de letramento) uma oportunidade para melhorar a vida das pessoas: para escrever listas de supermercado, comparar preços de alimentos, pre-encher fichas de emprego, escrever cartas ou e-mails aos representantes legais do município solicitando melhorias e outros tantos exemplos de cidadania que podem ser efetivados com a prática da leitura e da escrita.

Esperamos que você compreenda a necessidade das práticas de letramento no processo de alfabetização para que ler e escrever possa ser considerado menos como decodificar sons e letras e mais como um desempenho de papéis associados ao uso prático, a uma aquisição do poder político e econômico, bem como à apreciação de elementos estéticos contidos nos livros. (NASPOLINI, 1996, p. 32)

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Também já deixamos claro que não há necessidade de você subs-tituir a palavra “alfabetização” por “letramento” (e os referentes con-ceitos). O próprio Ministério da Educação posiciona-se a respeito do uso desses termos como conceitos distintos, como fizeram alguns pesquisadores:

Com o surgimento dos termos letramento (...) muitos pesquisadores passaram a preferir dis-tinguir alfabetização e letramento. Passaram a utilizar o termo alfabetização em seu sentido restrito, para designar o aprendizado inicial da leitura e da escrita, da natureza e do fun-cionamento do sistema de escrita. Passaram, correspondentemente, a reservar os termos

letramento (...) para designar os usos (e as competências de uso) da língua escrita. Outros

pesquisadores tendem a preferir utilizar apenas o termo alfabetização para significar tanto o domínio do sistema de escrita quanto os usos da língua escrita em práticas sociais. (BRASIL, 2008, p. 11)

O Ministério da Educação ainda conceitua “alfabetização” e “letramento” fazendo distinção entre os conceitos:

Alfabetização é o processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita,

a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilita ao aluno ler e escrever com autonomia. Entende-se por letramento o processo de inserção e participação na cultura escrita. (BRASIL, 2008 p. 12)

Para Magda Soares (2004), importante pesquisadora da alfabetiza-ção e do letramento no Brasil, os conceitos “letramento” e “alfabeti-zação” não são sinônimos, e sim processos distintos, intrinsecamente ligados e complementares. Segundo a autora, não há como dissociar letramento de alfabetização, sob pena de repetirmos erros do passado, quando as crianças sabiam decodificar (ler os sons), mas nem sempre entendiam o sentido das palavras nem podiam usar suas aprendiza-gens em prol de uma vida melhor:

Alfabetizar letrando ou letrar alfabetizando pela integração e pela articulação das várias facetas do processo de aprendizagem inicial da língua escrita é sem dúvida o caminho para a superação dos problemas que vimos enfrentando nesta etapa da escolarização; descami-nhos serão alternativas de voltar a privilegiar esta ou aquela faceta como se fez no passado, como se faz hoje, sempre resultando no reiterado fracasso da escola brasileira em dar às crianças acesso efetivo ao mundo da escrita. (SOARES, 2004, p. 22)

Inserir o letramento nas práticas cotidianas das escolas brasileiras não é uma tarefa fácil, em parte pela dimensão continental de nosso país e pelas raízes profundas que o trabalho de anos de uso de méto-dos de alfabetização deixou como legado. Há, porém, uma importante consideração a se fazer com relação ao uso de métodos. Não estamos

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defendendo aqui a ausência total de métodos na educação de crian-ças, entendendo método como algo que demanda organização. O que destacamos é que as propostas metodológicas que fizeram parte da história da alfabetização de nosso país e são comumente conhecidas como “métodos de alfabetização”, em sua maioria, preocupavam-se com o ensinamento das “regras” sem a utilização dos resultados em atividades práticas do cotidiano dos aprendentes. Assim, no momento em que a escola preocupou-se em desenvolver regras para ensinar somente a decodificação em detrimento do contexto, ignorou o pre-ceito do letramento.

A escola precisa rever seus conceitos e abraçar o desafio de letrar, além de alfabetizar. Segundo Soares (2004, p. 20), “passamos a enfrentar esta nova realidade social em que não basta apenas saber ler e escrever, é preciso também fazer uso do ler e do escrever, saber responder às exigências da leitura e da escrita que a sociedade faz continuamente”.

Com relação a isso, o Ministério da Educação (BRASIL, 2008, p. 7) destaca que o desafio consiste em integrar as práticas de alfabetização e letramento em busca de um resultado melhor. Não se trata de escolher entre alfabetizar ou letrar; trata-se de alfabetizar letrando sem pensar nos dois processos como uma sequência (como se a criança devesse primeiro aprender as letras e os sons e depois o sentido das palavras). O MEC destaca que alfabetização não é preparação para o letramento.

Leia uma entrevista com Magda Soares em que essa pesquisadora fala sobre alfa-betização e letramento em <http://tvbrasil.org.br/saltoparaofuturo/entrevista. asp?cod_Entrevista=57>.

Observe que estamos propositalmente destacando os conceitos de “alfabetização” e de “letramento” juntos, pois acreditamos que as prá-ticas de letramento (que incluem atividades contextualizadas, como escrever um bilhete, preparar uma receita, refletir sobre a letra de uma música ou um poema) serão efetivadas somente se a decodificação e a sistematização das letras forem feitas a contento. Dessa forma, a escola precisa mostrar a importância das práticas socioculturais da leitura e da apropriação da língua escrita enquanto forma eficaz de comunica-ção, mas também não pode deixar de lado a ideia de que é preciso que o aprendente1 esteja em processo de conhecimento da decifração, ou

seja, do som das letras e suas junções. (REGO, 2006, p. 3)

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Do ponto de vista pedagógico, são quatro os aspectos fundamen-tais para o desenvolvimento do processo de alfabetização e letramento (SANTOS, 1991, p. 212):

• a compreensão do significado do ato de ler e escrever;

• o desejo de ler e escrever;

• a oportunidade de a criança rea-lizar experimentos no campo da escrita;

• a possibilidade de contato per-manente com a língua escrita. Agora, vamos analisar cada um desses quatro aspectos.

Primeiro, para que as crianças compreendam para que a leitura e a escrita servem, é preciso que tenham contato com diversos mate-riais escritos e façam uso da escrita em muitas oportunidades na sala de aula. Mesmo que ainda não saibam escrever alfabeticamente, elas devem experimentar escrever.

O segundo ponto diz respeito ao desejo de ler e escrever, que quase sempre é impulsionado por uma necessidade de escrita. Entretanto, a criança só vai querer escrever quando souber o que é a escrita e qual é sua função. Não estamos sugerindo aqui que se explique aos alunos o que é a escrita, mas sim o uso de escritas diversas em sala de aula para que eles possam conhecê-la de forma bem contextualizada.

Como terceiro item, temos a oportunidade de a criança realizar experimentos no campo da escrita, e isso vem ao encontro do que sugerimos anteriormente: o educando deve tentar escrever, do seu jeito, mesmo que esse “jeito” ainda esteja distante da forma convencional.

O último ponto citado e não menos importante é o contato perma-nente da criança com a língua escrita. Você sabia que, até a década de 1980 e início da de 1990, as salas de aula das crianças que ainda não sabiam ler (Educação Infantil) eram amplamente decoradas com bichi-nhos, flores e elementos do mundo infantil, mas continham poucas letras e palavras? Pois essa era a concepção da época. Hoje em dia, os professo-res são orientados a colocar as crianças em contato com as letras tão logo estas vão para a escola, não só formalmente, mas até mesmo na informa-lidade da decoração da sala (ou seja, a sala de aula deve contar com obje-tos que tenham escrita e função social, como quadro de aniversariantes, quadro do tempo, calendário, lista de nomes de alunos, crachás).

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Faça uma analogia: como uma pessoa aprende a andar de bicicleta? Ora, andando! Caindo, é verdade, mas ela precisa de uma bicicleta para aprender. Com a escrita também funciona assim: como a criança (ou até mesmo um adulto na EJA) aprende a ler e escrever? Lendo e escrevendo, tendo contato com formas de escrita, arriscando-se.

A tarefa da escola é intensificada com relação aos quatro pon-tos citados anteriormente, uma vez que nem sempre o meio familiar da criança propicia experiências e descobertas acerca do mundo da escrita. Assim, a instituição de ensino deve criar o maior número pos-sível de situações que gerem desejo de aprender a ler e escrever.

De certa maneira, a ação da escola vai ao encontro das exigências do meio, das necessidades dos educandos e do caráter social da lin-guagem, devendo oferecer estímulos para que os aprendentes busquem o sucesso na alfabetização com práticas de letramento.

Referências

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