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ARTIGO
ORIGINAL
Child
development
in
primary
care:
a
surveillance
proposal
夽
,
夽夽
Renato
Coelho
∗,
José
Paulo
Ferreira,
Ricardo
Sukiennik
e
Ricardo
Halpern
SantaCasadePortoAlegre,HospitaldaCrianc¸aSantoAntônio(HCSA),AmbulatóriodeDesenvolvimentoInfantil,PortoAlegre, RS,Brasil
Recebidoem25dejunhode2015;aceitoem15dedezembrode2015
KEYWORDS Childdevelopment; Screening;
Riskfactors
Abstract
Objective: Toevaluateachilddevelopmentsurveillancetoolproposaltobeusedinprimary care,withsimultaneoususeoftheDenverIIscale.
Methods: Thiswasacross-sectionalstudyof282infantsagedupto36months,enrolledina publicdaycareinacountrysidecommunityinRioGrandedoSul/Brazil.Childdevelopmentwas assessedusingthesurveillancetoolandtheDenverIIscale.
Results: Theprevalenceofprobabledevelopmentaldelaywas53%;mostofthesecaseswerein thealertgroupand24%hadnormaldevelopment,butwithriskfactors.AttheDenverscale,the prevalenceofsuspecteddevelopmentaldelaywas32%.Whenriskfactorsandsociodemographic variableswereassessed,nosignificantdifferencewasobserved.
Conclusion: Theevaluationofthissurveillancetoolresultedinobjectiveandcomparabledata, whichwereadequateforascreeningtest.Itiseasilyapplicableasascreeningtool,eventhough itwasoriginallydesignedasasurveillancetool.Theinclusionofriskfactorstothescoringsystem isaninnovationthatallowsfortheidentificationofchildrenwithsuspecteddelayinaddition todevelopmentalmilestones,although thedefinitionofparametersandchoiceofindicators shouldbethoroughlystudied.
©2016PublishedbyElsevierEditoraLtda.onbehalfofSociedadeBrasileiradePediatria.Thisis anopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).
DOIserefereaoartigo:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2015.12.006
夽 Comocitaresteartigo:CoelhoR,FerreiraJP,SukiennikR,HalpernR.Childdevelopmentinprimarycare:asurveillanceproposal.J
Pediatr(RioJ).2016;92:505---11.
夽夽EstudodesenvolvidonoProgramadePós-graduac¸ãoemCiênciasdaSaúde,UniversidadeFederaldeCiênciasdaSaúdedePortoAlegre
(UFCSPA);eAmbulatóriodeDesenvolvimentoInfantil,HospitaldaCrianc¸aSantoAntônio(HCSA),SantaCasadePortoAlegre,RS,Brasil. ∗Autorparacorrespondência.
E-mail:rencoel@gmail.com(R.Coelho).
PALAVRAS-CHAVE Desenvolvimento infantil;
Triagem; Fatoresderisco
Desenvolvimentoinfantilematenc¸ãoprimária:umapropostadevigilância
Resumo
Objetivo: Avaliarumapropostadeuminstrumentodevigilânciaemdesenvolvimentoparauso naatenc¸ãoprimáriaeaaplicac¸ãosimultâneadaescaladeDenverII.
Métodos: Estudotransversalcomumaamostrade282crianc¸asaté36mesesdaredepública escolar,numacomunidadedoRS.Foiavaliadoodesenvolvimentoinfantilcomoinstrumento devigilânciapropostoeoDenverII.
Resultados: Aprevalênciadeprovávelatrasonodesenvolvimentofoide53%,amaioriadesses nacondic¸ãodeAlertae24%comdesenvolvimentonormal,mascomfatoresderisco.NoDenver aprevalênciafoide32%comsuspeitaparaoatrasonodesenvolvimento.Osfatoresderiscoe asvariáveissociodemográficasavaliadasnãoapresentaramdiferenc¸assignificativas.
Conclusão: Aavaliac¸ãodesseinstrumentodevigilânciatrouxedadosobjetivosecomparativos, nosmoldespreconizadosparaumtestedetriagem.Éuminstrumentodefácilaplicabilidade como triagem,originalmente comovigilância. Ainclusão dosfatoresderisconosistemade escoreéumainovac¸ãoquepossibilitaoaumentodaidentificac¸ãodecrianc¸ascomsuspeitade atrasoalémdosmarcosdodesenvolvimento,aindaqueadefinic¸ãodosparâmetrosedaescolha dosindicadoresdevasermelhorconstruída.
©2016PublicadoporElsevierEditoraLtda.emnomedeSociedadeBrasileiradePediatria.Este ´
eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).
Introduc
¸ão
Desenvolvimentoinfantiléumprocessocontínuoedinâmico que promove mudanc¸as nas diversas áreas: física, social, emocionalecognitiva,numacomplexainterac¸ãoentreelas eomeioambientenaqualcadaestágioéconstruídoapartir dasetapasanteriores.1,2Odesenvolvimentodeveser
com-preendido dentro do modelo ecobiodesenvolvimental, no qualseexpandedabiologiaedoambienteparaumconceito maisamplo,queabrangeaepigenéticaeaneurociência.1,3
Váriosestudostêmmostradodiferentesprevalênciasde atrasodeacordocomométododeavaliac¸ãoeafaixaetária estudadaquechegamaaté18%.4---8Nosestudosqueusaram
apenastestesdetriagemaprevalênciafoimaiselevadae comgrandevariac¸ão.4,9,10
Detectar precocemente crianc¸as que possam ter atra-soséumdosobjetivosdasconsultaspediátricasderotina.5
Estáplenamenteestabelecidonaliteraturaqueocustode umaavaliac¸ãoe intervenc¸ão precoceno desenvolvimento infantilchegaa sercemvezesmenordoqueocustopara tratar uma crianc¸a com um diagnóstico tardio.11 Estudos
recentes mostram que investimentos feitos nos primeiros 4 anos de vida têm uma taxa de retorno anual positivo, enquantoalgunsprogramasderecuperac¸ãotardia apresen-tamretornos quesãonulos e muitas vezesnegativos.12---14
Avigilânciaéumprocessocontínuoqueaconteceaolongo dasconsultasepermiteadetecc¸ãoprecocedosproblemas dedesenvolvimento,7aopassoqueatriagemépartedesse
processoe secaracterizapor sercircunstancial,em geral pormeiode uminstrumentopadronizado. Ouso sistemá-ticodevigilânciaetriagemédecisivoparaqueopediatra possaidentificarpotenciaisfatoresderiscoe/ouatrasose promoveraintervenc¸ão.5,7,11,15,16
A Academia Americana de Pediatria recomenda apli-carum instrumento detriagem durante ostrês primeiros anos de vida, mesmo na ausência de fatores de risco,
para aumentara capacidadede identificac¸ãodepossíveis atrasos.11,15,17Pois,naausênciadeumprocessodevigilância
apenas30%dascrianc¸asserãodetectadascomatrasoatéa idadeescolar.11Estudosrecentestêmmostradoumaumento
dousodeinstrumentosparaavaliardesenvolvimento,mas mesmoassimépoucooseuusonosservic¸osdeatendimento pediátrico,tantopúblicosquantoprivados.7,17,18
Existeminstrumentosquesãoquestionários autoaplicá-veis,unsparausodosprofissionaisnabuscadeinformac¸ões dedesenvolvimentoeoutrosqueavaliamasprincipaisáreas dodesenvolvimento.7,11,17 Aslimitac¸õesdostestesde
tria-gemsãoinerentesaopróprioinstrumentoeàfaixaetária. Apesardeexistireminúmerosinstrumentosnãoháumque sejauniversalmenteusadoparatodasaspopulac¸ões.8,19
His-toricamente o teste de Denver II foi e ainda tem sido o instrumentodetriagemmaisusadomundialmente,em espe-cial no Brasil, por não existir um instrumento com essa finalidade.Alémdeterfácilaplicabilidadee poucotempo de feitura, a validade desse instrumento foiestabelecida pelaprecisãoobtidanosdiferentespercentisem quecada tarefafoi estabelecidaparacadaidade pesquisada.Assim comoosoutrosinstrumentosdetriagemoDenverIInãotem umconstructodehipótese,comoporexemploumtestede inteligência,eledefineaidadecomqueumacrianc¸acumpre umadeterminadatarefa.Mesmocomtaxasdesensibilidade (S)eespecificidade(E)limítrofes,continuaaserusadoem estudoscomparativos.6,7,9,10
Ousode uminstrumentoparamonitoraro desenvolvi-mento infantilpassou aser implantadopelo Ministérioda Saúde(MS)em2002.20 OprogramadeAtenc¸ãoIntegradaa
Tabela1 PercentualdeatrasosnoAVdeacordocomosfatoresderisco
Fatoresderiscopesquisadosa Marcosdodesenvolvimento
alterados(%)
Marcosdodesenvolvimento normais(%)
Total(%)
Ausênciadopré-natal 1(0,35) 2(0,7) 3(1)
Problemasnagestac¸ão 12(4,2) 20(7) 32(11)
Problemasnoparto 3(1) 9(3,1) 12(4,2)
Prematuridade 7(2,5) 10(3,5) 17(6)
Pesobaixonascimento 5(1,7) 5(1,7) 10(3,5)
Icteríciagraveneonatal 3(1) 11(3,9) 14(4,9)
Hospitalizac¸ãoneonatal 11(3,9) 14(4,9) 25(8,8)
Doenc¸asgraves 7(2,5) 3(1) 10(3,5)
Deficiênciaoudoenc¸amental nafamília
12(4,2) 15(5,3) 27(9,5)
Fatoresderiscoambiental 18(6,3) 29(10,2) 47(16,6)
AV,algoritmodevigilância.
a Parentescoentreospaisfoizero.
na Caderneta de Saúde da Crianc¸a do MS21 na rede de
atenc¸ão primária.Essa proposta agrega, alémdos marcos dodesenvolvimento,algunsfatoresderiscomaisrelevantes associadosaosatrasosnodesenvolvimento.2,22
Oobjetivodesteestudofoiavaliarumanovapropostade ummodelodevigilânciaemdesenvolvimentoinfantil,que podeseraplicadocomotriagememdeterminadospontosdo desenvolvimentodacrianc¸aesimultaneamenteàaplicac¸ão do Denver II, e verificartambém as possíveisassociac¸ões entrevariáveissociodemográficas(renda,escolaridadedos pais,númerodeirmãos)epossíveisatrasosno desenvolvi-mento.
Métodos
Foi feito um estudo transversal de umaamostra de base escolar,quetevecomocritériodeinclusãotodasascrianc¸as de0-36mesesprovenientesdepré-escolasdaredepública deIgrejinha/RS.Ocritériodeexclusãofoitodasascrianc¸as matriculadaspormeiodoprogramadeinclusãoescolarou comalgumdiagnósticodeproblemasdedesenvolvimentode qualquerordem.
Considerandoumaprevalênciaconservadorade10%para atrasosnodesenvolvimentoecompoderde80%,comerro alfa de5%,seria necessárioexaminar 350crianc¸as. Como ototaldecrianc¸as darede públicanaquelemomentoque preenchiamoscritérioserade357,todasforamconvidadas aparticipardoestudo.
Oinstrumentoadaptado,aquidenominadodealgoritmo devigilância(AV),foiderivadodoinstrumentodevigilância dodesenvolvimentoquevemsendousadopeloMSnarede primária,publicadonaCadernetadeSaúdedaCrianc¸aeno manualpublicadoporFigueiras.2Amodificac¸ãopropostafoi
nocritériodeavaliac¸ãododesenvolvimentoparaoprovável atraso,noqualfoiusadaaausênciademarcosparaafaixa etária,enãoaanterior.Osmarcosavaliadoscorrespondem àshabilidadesque90/100crianc¸astêmnessafaixaetária. Deacordocomomanual,ascrianc¸asde0a36mesesforam divididasemsubgruposetáriosemmeses.Foram pesquisa-dosfatoresderiscoesinaisfenotípicosdedoenc¸asgenéticas que estão descritos na tabela 1 e figura 1, bem como
perímetro cefálico (PC) e os marcos correspondentes as áreasmotorasamplaefina,pessoal-socialelinguagem.
Oescoredesseinstrumentoclassificadaseguinteforma: desenvolvimento normal, alerta (com 2 subgrupos: nor-mal com fatores de risco e com ausência de 1 ou mais marcosparaafaixaetária)eprovávelatrasoparao desen-volvimentoinfantil(queengloba PCalteradoe alterac¸ões fenotípicase ausênciadeumoumaismarcosparaafaixa etária).(figura1)
Asvariáveissociodemográficassexo,idadeenúmerode irmãos foram analisadas com medidas de tendência cen-traledispersão.Aescolaridadedospaisearendafamiliar foramestratificadasporgruposeapresentadaspormeiode frequênciaabsolutae relativa.Osfatoresderisco e o PC foramanalisadosdeformadicotômica,naqualoPCé alte-radoquandoestá maiordoqueopercentil90emenordo queo10,comousodascurvasdesenvolvidaspeloNational CenterforHealthStatisticsdoCentersforDiseaseControl (CDC),USA,2000.
ODenverII éuminstrumentodetriagemem desenvol-vimentoinfantilqueavaliade0a6anos,contémitensdas áreasmotorasamplaefina-adaptativa,pessoal-sociale lin-guagem.Oresultadofinalpoderásernormal(aausênciade falhasou com apenas umacautela), suspeito para atraso (2 cautelas ou mais, ou 1 falha ou mais) e não testável (recusaemfazeratestagem).23,24
Foramenviadascartas-conviteaospaise,deacordocom aceiteinicial, foi apresentado o termo de consentimento livreeesclarecido.
Foiaplicadoemtodasascrianc¸asoAVeposteriormente otestedeDenverII.Todasascrianc¸asprematurastiveram suaidadecorrigidaaté2anos,paraaplicac¸ãodeambosos testes,conformeoscritériosdomanualdoDenverII, consi-derandoagestac¸ãoatermocom38oumaissemanas.Abaixo de38acorrec¸ãousaas40semanasparaocálculo.23
Instrumento de Vigilância do Desenvolvimento
Verificar o desenvolvimento da criança de 12 a 36 meses de idade
Perguntar se há fatores de risco, tais como: Observar:
0 a 1 mês
1 a 2 meses
2 a 4 meses
4 a 6 meses
6 a 9 meses
9 a 12 meses
12 a 15 meses
15 a 18 meses
18 a 24 meses
24 a 30 meses
30 a 36 meses
Lembre-se:
Observe se há alterações físicas:
Classificar o Desenvolvimento
• Ausência ou pré-natal incompleto.
• Problemas na gestação, parto ou nascimento da criança. • Prematuridade.
• Peso abaixo de 2.500g • Icterícia grave.
• Hospitalização no período neonatal.
• Doenças graves como meningite, traumatismo craniano ou convulsões. • Parentesco entre os pais.
• Casos de deficiência ou doença mental na família.
• Fatores de risco ambientais como violência doméstica, depressão materna, drogas ou alcoolismo entre os moradores da casa, suspeita de abuso sexual, etc.
• Postura: barriga para cima, pernas e braços fletidos, cabeça lateralizada
• Observa um rosto • Reage ao som • Eleva a cabeça
• Sorriso social – quando estimulado • Abre as mãos
• Emite sons
• Movimenta ativamente os membros
• Resposta ativa ao contato visual • Segura objetos
• Ri alto (gargalhada)
• De bruço levanta a cabeça apoiando-se nos antebraços
• Busca ativa de objetos • Leva objetos a boca • Localiza o som
• Muda de posição ativamente (rola)
• Brinca de esconde-achou
• Transfere objetos de uma mão para outra • Duplica sílabas
• Senta-se sem apoio
• Imita gestos (ex: bater palmas) • Segura pequenos objetos com a ponta dos dedos em forma de pinça
• Produz jargão • Anda com apoio
• Mostra o que quer • Coloca blocos na caneca • Diz uma palavra • Anda sem apoio
• Usa colher ou garfo • Constrói torre de dois cubos • Fala três palavras • Anda para trás
• Tira roupa
• Constrói torre de três cubos • Aponta 2 figua
• Chuta bola
• Veste-se com supervisão • Constrói torre de seis cubos • Forma frases com duas palavras • Pula com ambos os pés
• Brinca com outras crianças • Imita linha vertical • Reconhece duas ações • Aremessa a bola • Fenda palpebral oblíqua
• Olhos afastados
• Implantação baixa de orelhas • Lábio leporino
• Fenda palatina • Pescoço curto e/ou largo • Prega palmar única
• 5°. Dedo da mão curto e recurvado
Se a mãe disse que seu filho tem algum problema no desenvolvimento,fique mais atento na avaliação desta crianaça.
Perímetro cefálico < P10 ou > P90 Presença de alterações fenotípicas:
(sempre que não houver uma clasificação grave que necessite referir ao hospital)
Perimetro cefálico < 10 ou > 90 e presença de 3 ou mais alterações fenotípicas e Ausência de um ou mais marcos para a faixa etária
Ausência de um ou mais marcos para a sua faixa etária
Todos os marcos para a sua faixa etária estáo presentes mas existem um ou mais fatores de risco
Todos os marcos para a sua faixa etária estão presentes
Provável atraso no desenvolvimento
Alerta para o desenvolvimento
Orientar a mãe sobre a estimulação de seu filho Marcar consulta de retorno em 30 dias Informar a mãe sobre os sinais de alerta para retornar antes de 30 dias
Elogiar a mãe
Orientar a mãe para que continue estimulando seu filho
Retornar para acompanhamento conforme a rotina do serviço de saúde
Informar a mãe sobre os sinais de alerta para retornar antes Desenvolvimento
normal com fatores de risco
Desenvolvimento normal
Referir para avaliação neuropsicomotora
Figura1 Algoritmodevigilância.
Afasedetreinamentofoifeitacomosdois instrumen-tos,comorecursodefilmagemparaoaperfeic¸oamentoea padronizac¸ãodemedidadoPC(fitamétricapassandopelo frontaleprotuberânciaoccipital)paraosquatro examina-dores.Umestudo piloto foifeitocom crianc¸as damesma faixaetáriaequenãofizerampartedaamostra, apresen-tou no fim uma concordância entre os examinadores de 90%.
Pormeiodesorteio,5%dasentrevistasforamrepetidas pelocoordenador,paragarantirafidelidadedasinformac¸ões coletadas.
Foifeitaadupladigitac¸ãodobancodedadospara veri-ficarpossíveisdiscrepânciasdosdadosdigitados.
Tabela2 Característicadaamostra
n %
Idade(meses)
0---18meses 31 11
18,1---24meses 59 21
24,1---30meses 56 20
30,1---36meses 136 48
Sexo
Masculino 158 56
Feminino 124 44
Rendafamiliar(R$)
Até1200 73 26
1201---2500 150 27
2501---3000 28 26
Acimade3000 31 21
Totaldaamostra 282 100
Médiadeidade=28meses.
Na avaliac¸ão comparativa o Denver II foi usado como referênciaparaumaestimativadesensibilidade, especifici-dade,valorpreditivopositivoenegativoeaacurácia.Para verificarapossívelassociac¸ãoentreasvariáveis sociodemo-gráficasfoiusadootestedequi-quadradoparaadiferenc¸a deproporc¸õescomníveldesignificânciade5%.
AsanálisesestatísticasforamfeitascomoprogramaSPSS (SPSSparaWindows,versão10.0,EUA).25
Resultados
Das357crianc¸asde0a36mesesmatriculadasnapré-escola daredepúblicanaqueleperíodo,o estudofoipossívelem 282.Em48casosnãohouveoretornodoconvitepara parti-cipardapesquisa,16crianc¸assaíramdapré-escolanaquele períodoe11recusasemretornarpararetestagem.Aidade médiadaamostrafoide28meses,com136(48%)entre30 e36meses,com56%demeninos(tabela2).
Vinteesetecrianc¸asincluídasnapesquisacompletaram 36 mesesdurante o estudo.Uma análise em separado foi feitacomessascrianc¸asenãomostroudiferenc¸as estatisti-camentesignificativasnaspropriedadesdoinstrumento.Por isso,elaspermaneceramnoestudo.
Naavaliac¸ãodoAVumpoucomaisdametadeapresentou resultadodeprovávelatraso,amaioriadessesnacondic¸ão dealerta,e68casos(24%)nacondic¸ãodedesenvolvimento normalcomfatoresderisco(tabela3).Emrelac¸ãoaoteste
deDenver,91casos(32%)mostraramsuspeitaparaoatraso nodesenvolvimento.
Explorando as possibilidades de comparac¸ão entre os 2 instrumentos na sensibilidade (S), o AV apresentou dis-tintos resultados conforme as três categorias propostas: provávelatraso(70%),alertaparaodesenvolvimento(57%) eparadesenvolvimentonormalcomfatoresderisco(21%)
(tabela3).Aespecificidade(E)foide56%,70%e74%,
res-pectivamente.
Ovalorpreditivopositivo(VPP)foide42%eonegativo (VPN)de79%paraoprovávelatrasoeVPP=47%eVPN=77%, quandoanalisadooalertaparaodesenvolvimento.
Quando avaliados os fatores de riscos, não apresenta-ramdiferenc¸asestatísticassignificativasquandoassociados àausênciadosmarcosdodesenvolvimento(tabela1).
Emrelac¸ãoàsalterac¸õesfenotípicasavaliadasnoAV,as frequênciasencontradasforammuito baixasou inexisten-tes.Ecomrelac¸ãoaoPCalterado,quasequeatotalidade doscasosmostrouPCacimadopercentil90.
Discussão
Naamostraestudada, aprevalênciadesuspeita deatraso noAVfoide53%paraoprovávelatrasoe39%paraoalerta, diferenc¸asignificativadevidoàpresenc¸adoPCalteradono grupodoprovávelatraso.
Originalmente,oinstrumentodevigilânciausacomo cri-tériodeescoredoprovávelatrasoosmarcosdafaixaetária anteriore noescorealerta usaosmarcosdafaixaetária. Nesteestudo, optou-se por fazer comos marcosdafaixa etáriaesperada paraambos, pois,usando o daanteriore considerandooquejáfoidiscutidosobreopontodecorte, oatrasojáestariaevidente.7,18
No Denver II a prevalência foi de 32% de suspeita deatraso, concordante com outros estudos, embora com variac¸ões nas prevalências devido ao método de escore usadoeàsdiferenc¸asculturais.4,9,10
Apresenc¸adasalterac¸õesfísicas edosfatoresderisco noscritériosdeescoredesseinstrumentodevigilânciaéuma peculiaridadeem relac¸ãoaosdemais instrumentos encon-tradosnaliteratura,7,11,14,17,18 masalgunsdelesdevemser
revisados,mesmoquenestaamostranãotenhasemostrado significativa.
A alterac¸ão física PC isoladamente, na forma como o instrumentofoi originalmente proposto, já determina um provável atraso no AV e o PC acima do percentil 90 foi prevalente(93%)entreaquelescomPCalterado. Provavel-mentedevidoaumfatorgenéticodemacrocraniaeestatura elevadasempatologiacraneanaassociada,quecausouum aumento da sensibilidade e diminuiu o VPP.26 Pode estar
Tabela3 Propriedadesdotestedeacordocomascategoriaspropostas-%
P S E VPP VPN A
Provávelatraso(Marcosausentes+PCalterado+Alterac¸õesfenotípicas) 53 70 56 42 79 60 Alertaparaodesenvolvimento(Marcosausentessomente) 39 57 70 47 77 66 Desenvolvimentonormalcomfatoresderisco(Marcospresentescomfatoresderisco) 24 --- --- --- --- ---Alertaagrupado(Agrupandofatoresderisco+Marcosausentes) 63 78 45 40 80 55
relacionadocomascaracterísticasétnicasdessapopulac¸ão ealémdissopoderiaserexplicadoporumaflutuac¸ão amos-tral.Daymont26concluiuqueoPCtembaixasensibilidadee
baixovalorpreditivopositivoparaodiagnósticodepatologia associadaàmacrocrania.
O peso baixo ao nascimento, frequentemente associ-adocomosatrasosnodesenvolvimento,2,6,9,27,28 foipouco
prevalentee nãomostrou associac¸ãoestatísticana amos-tra estudada. Uma possível explicac¸ão está no ponto de cortede2.500gusadonoAV,quereduzaespecificidadeao acrescentarprematurostardioscompesoadequadoàidade gestacional.9,28Talvezumamudanc¸anocritériopesoe
pro-porcionalidadedo recém-nascidopudesseser maisútil na definic¸ãodefatorderisco.28
Noqueserefereàprematuridade,hádiferenc¸asquando abaixode32semanasem comparac¸ãocomostardiose os moderadamenteprematuros,29mesmocomacorrec¸ãopara
a idade gestacional. Talvez fosse melhor avaliaro estado nutricionaleaproporcionalidadepeso/comprimentoao nas-cer, que podem oferecer parâmetrosmais discriminativos em relac¸ão aos atrasos do desenvolvimento.9 O uso da
informac¸ãosobreicterícianoperíodoneonatalémuitovago e dedifícil interpretac¸ão, pois está baseado somente em informac¸õessubjetivas.
Emrelac¸ãoàdepressãomaterna,éumfatorderiscobem determinadona literatura30 e potencialmentemodificável
quandofeita umaintervenc¸ão precoce. O uso deum ins-trumentoestandardizado parasua detecc¸ãoé necessário, alémda informac¸ãosobre tratamento psicoterápicoe/ou medicamentoso.15
A aplicac¸ão simultânea da escala de Denver possibili-touumacomparac¸ãoinevitávelentreosdoisinstrumentos, mesmocomaslimitac¸õesàausênciadeumpadrãoouro.O exercícioepidemiológicocomuminstrumentodetriagemjá bemestabelecidomundialmenteecomumdevigilânciatraz medidas objetivas. A sensibilidade obtida noinstrumento testadoemcomparac¸ãocomoDenverIIfoide70%nogrupo deprovávelatrasoede57%nogrupodealertaea especi-ficidadefoide56%e 70%,respectivamente.Considerando essaspropriedades,asensibilidadeparaogrupode prová-vel atraso é aceitável. Em relac¸ão ao grupo dealerta os resultadosforaminversos.
Umapossívelexplicac¸ãoparaessesresultadospodeestar relacionadacomoscritériosusadosparaaclassificac¸ãodos grupos, que, apesar de não representar patologia associ-adaao PCacimadopercentil90, foiusadacomo fatorde risco.7,18
Damesmaformanogrupodealerta,asensibilidadepode estar relacionadacom a distribuic¸ãodas faixasetárias. O fatodealgumascrianc¸asestaremnaidadeinicialdogrupo e a exigência deum pontode corte propostode percen-til 90 pode causar um erro de classificac¸ão diferencial e colocar crianc¸as com desenvolvimentotípico como tendo atraso.
Com relac¸ãoao VPP obtidonoAV, osresultados foram de 42% e 47% para o provável atraso e o alerta, res-pectivamente.Issosignificaqueaproximadamentemetade dos casos de suspeita de atraso não se confirmará em avaliac¸ões posteriores. Deforma inversa,o VPN com 79% e77%,paraoprovávelatrasoeoalerta,respectivamente, torna o instrumento mais eficaz quando o resultado é negativo.
Durantea análise,para explorar aspotencialidadesdo AV, foram agrupados os sujeitos do grupo de alerta com associac¸ãodosfatoresderisco.Dessaforma,essanova cate-goria aumentou a sensibilidade para quase 80%, o que é desejávelemuminstrumentodetriagem(tabela3).
Esteestudoapresentalimitac¸õesnaamostra,quetemas característicasdeumacidadedosuldopaís,nãotraduzo perfilepidemiológicodapopulac¸ãobrasileira.Apesardeter sido examinadatoda apopulac¸ãoinfantilmatriculada nas pré-escolasdacidade,aseventuaisperdastambémpodem tercomprometidoosresultadosencontrados.
Avaliardesenvolvimentoinfantiléumatarefacomplexa que exige uma vigilância continuada nos primeiros anos de vida e conhecimento de normalidade do desenvolvi-mentoinfantil.Apesar dehaverinúmerosinstrumentosde triagem,nãoexisteumquetenhaumaabrangência univer-sal.Alémdisso,osmelhoresaindaapresentamumnúmero significativo de falsos positivos em torno de 25% e não selecionamaquelascrianc¸asqueficamentre1e2 desvios--padrão, ainda assim de risco para possíveis atrasos.7,8
Em virtude das limitac¸ões de escolha de um padrão de comparac¸ão,devidoàinexistênciadeuminstrumentocom padrões brasileiros, optou-se por usar o teste de tria-gem deDenverII,que apresentaadaptac¸ões,jáfoiusado em diversos outros estudos nacionais sobre o desenvolvi-mento infantil e ainda é muito usado em outros países também.6,9,10,28
É evidente que a identificac¸ão incorreta de um atraso pode acarretar um consequente aumento de cus-tos em avaliac¸ões especializadas e exames subsidiários, além de apreensão familiar. No entanto, na situac¸ão inversa, perde-se o momento de intervenc¸ão e os custos multiplicam-se, poisserãotratamentosmaislongose, tal-vez,permanentes.12,13
Estudo recente traz esse questionamento e reforc¸a a necessidadedavigilânciasistemática,avaliac¸ãodosfatores de risco e da percepc¸ão parental para suspeita de possí-veisproblemasdedesenvolvimentoecomportamento,como suficienteparaconduzi-lasdiretamenteparaumatestagem diagnóstica.8
OAVé defácil aplicabilidadee capacitac¸ãoe permite queasequipesdesaúdeefamíliatomemumaposic¸ãoativa navigilânciadascrianc¸as.Apresenc¸adosfatoresderiscono sistemadeescoreéumainovac¸ãoquepossibilitaoaumento dasensibilidadedoinstrumento,aindaqueadefinic¸ãodos parâmetroseaescolhadosindicadoresdevamsermaisbem construídas.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Agradecimentos
Referências
1.HalpernR.Manualdepediatriadodesenvolvimentoe compor-tamento.1aed.SãoPaulo:Manole;2015.
2.Figueiras AC, Souza IC, Rios VG, Benguigui Y. Manual para vigilância do desenvolvimento infantil no contexto daAIDPI; 2015. Disponível em: http://www.bvsde.paho.org/ bvsacd/cd61/vigilancia.pdf[citadoem25dejunhode2015]. 3.BronfenbrennerU,MorrisPA.Thebioecologicalmodelofhuman
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