CADERNOS EBAP
N9 23
Outubro 1983
PLANEJAMENTO, PESQUISA E APRENDIZAGEH
tLucÁ.aY:.o Zaj d6 zf1aj de.tcJ:
xar;eravam. Os pri~eiros ~"nplificavam s'=us benefícios;, os do lado
oposto, suas inconveni~ncias e impossibilidades. Atualmente, ~
possrvel uma visão ~ais eqrilibrada do planejamento, desde aue
j á estamos de posse de um.a aJT1pla 0:aJn.a de experi~ncias, nos di 'J'el"l
...
.
sos nlvelS de governo e na e~presa nrivada. Pode-se sintetizar
estas experiências ~ afirTTla,ndo que o planej amento é. importante
mas está lon~e de ser a Gnica peca fundamental e gue~ em Re~al,a
sua efetuação se~ a narticivacão dos interessados sujeita-o ao
irrealismo e a fracassos.
o
presente artigo rc:::une e sistematiza alglLllas reflexõesbre o planejamento, buscando abordar o assunto sep,undo três
so
~
an
gulos: a pesquisa, a pr~tica or~anizaciopal e a rrática social.
Enquanto nas suas relaç~es com a ciência em geral, o
planejamen-to val estar ~s·voltas cc~ questões de relev~ncia e de certeza,
no que diz respeito ~ vida or.r-;anizacional e administrativa, o
conhecimento necessário to~a a forma de auto-conhecimento, com
todas as vicissitudes irn.plicadas. Estas C]uestões são o objeto
das tr~s priMeiras partes do artiRo. Nas duas partes seguintes,a
id~ia de planeja~ento
6
enriquecida COM a introdução de dois outros pontos ->de-vista - o exverimento e a aprendi zaRem - vistos
se.~undo um ân8;ulo macrossociéü. Embora estes dois conceitos se~
pre tenham estado implicitamente presentes na idéia de
planeja-mento, talvez jamais tenhaJ11. se nostrado tão clé1_ré'~rnente
importan-tes quanto ao presente. Parece-nos que o exame do planejé'mento ~
luz destes conceitos permite realear melhor suas Dossibilidades
1. As atividades de Pes0uisQ Pura e Aplic~da
Tanto o planejarr,entol como a atividade de é'.dministração o
rientada nlir.l.a perspectiva. estratégia acham-se vinculados
à
pe~quisa. O planeja~ento dela depende, seja porque busca determi~a
dos ~stados futuros que representem a resoluç20 de problemas ou
o resultado de iniciativas. Definir os problemas, determinar
suas causas e encontrar soluções S20 procedimentos típicos da
pesquisa orientada p~r~ o olanejamento, isto
&,
de um tipo depesquisa oue se costuma chamar anlicada. ~ ela chamada
"aplica-da" porc;ue está orient2da espacial e ter.1pOralm2nte, isto
é,
para questões localizadas. ~ preciso, porém, ter consciência de
que es-:a locê'.lização pode ter um sentido genérico. Pode
signifi-c~r um tipo de questão q:le ocorre de modo esp2cié'1 e tef.1poraL'7le~
te 6nico e
6
portanto irrepetível mas que, modificados certosé'.spectos, mostra-se freqUente. Digamos, por exemplo, um alto
grau dê eV2s~0 de alunos do curso de geologi~ de determinada uni
versidade, er.1 um ano deter~inado. Definir o probler.1a da evas20 ,
buscar suas causas e propor soluções é realizar uma pesquisa a
plicada. H? entretanto a frequente ocorrênc:a de problemas de
1. Embor~ o objeto das nossas considerações seja a organizacão,
as idéias expostas sobre planelar.1entc são importantes para ~m
bi to J1'.ais (~J:1.plo~, como conjunt;s de .Jrganizações. /I.s cldades ~
re~iões ou 2 n~ópria sociedade podem ser entendidas como
con-juntos 0~gani~2cionais. Para u~a be~ forrr.ulada tipolo~ia de
planos, classificados se~undo S:l2 natureza, alcance e
repre-sentatividade, veja-se Marcos Cintra Cavalc2nti de Albuquerqu~
"O processo de p12..nejé'nento: UDa cl"ssificaç~o e sua
aplica-ç~o nos naíses subdesenvolvidos'l. Revista d~ Ad~inistracão de
-evasao nao apenas nos cursos de [;eologiri.., como en outros cursos,
em outras universidades e em outros pcrrodos letivos. O
conheci-mento de suas causas e a determinaç~o d~ sua soluç~o constitui o
, . J . h -" -'
que pouerla ser c .ama~o ue fesquisa aplicada genérica. De fato,a
pesquisa aplicada gen~rica e 2. pesqulsa aplicada especifica en
contram-se interligadas. 115 uma esp6cie de estoque de conheciDe~
tos aplicados - isto ~, definiç~o de problemas, causas e
solu-ç5es que sao ao DCSDO tenpo ~t2is porque permitem economizar re
cursos e entre estes, tempo - e nocivos, porque tendem a se lD
por frente aos problemas e quest3es, impedindo Que se os veja
em sua especificidade.
A pesqulsa pura pode ser definida como Ur.1a atividélde
volta-da para resolver Guestões e problemas'postos pela própria
ativi-dade de conhecimento. Assim, a pesquisa anlicada tem sem d~vida
uma finalidade fora de si mesma, enquanto a pesquisa pura tem
uma finalidade em si mesma. N~o quer isto dizer, por~m, que a
pesquisa pura n~o possa receber elementos e estImulos d~
pesqui-sa aplicada. Assim, para retornar ao exemplo de evas~o, a pesqu~
sa aplicada pode suscitar certas questões ~ue se tornem
elemen-tos de interrogaç~o para ~ pes~uisa ~ura em sociologia ou
psico-logia. De outra parte, re'sul tados da pesquisa pura - esquemas
te5ricos, m~todos de verificaç~o de hip6teses, ou de
levantamen-to de falevantamen-tos - n~o utilizados como ferra~entas na pesquisa aDlica
d --u..
Deve ser sublinh2.do que até 2aUl nos referimos ao "uso" da
pesquisa e isto tem dU2s i8rilicaçõe~. A primeira ~ que este uso
é
fruto de uma decisão que muitas vezes vai redundar em custoselevados. Uma pesquisa énvolve e~
va tempo a ser realizada. De outra
picas: quando ~ inieiad2, e auando
gereI equlpe e
parte, pOSSUl
-
honestamentee
material, e le
incertezé'.s
ti
de dar resultedos insatisfatórios, assinelando, ~or exemplo, que
explicações não forem encontr2das ou mesmo que informações
foram obtidas na qUentidede e na qu~lidCl.de desejáveis. E
qtientene~te não se p0 de fezer uma pesquisa para determinar
outra pesquise d~rá os resultados espcredos.
f
possIvel-nao
fre-se
obter
alguma segurança, examinando-se o projeto corresD0ndente,
evali-ando a equipe, sua experiência, seu número de sucessos. ~;as 1S
to apenas pode reduzir alguIas incertezas. A segunda inplicação
- e aqui nos estamos referindo ~ pesquisa anlicada em particular
- ~ que a decis~o de realizar ti~a investigaç~o ~ funç~o do
reca-nheci~ento de problemas. H~ problemas que se imp~em, que s~o
....
.
...
-V1S1ve1S e urgentes. Outros, porem, embora irr:.~(')rtantes, te'TI una
existência velada e a sua 1120 solucilo atende a interesses estabe
lecidos. Pcrtanto, a decisão de investi~ar está vinculad0 a
ou-tras decisões, e a un debate rrévio, onde estão eJ'!'l. jof,o, valores,
alternativas e urgências.
2. O P.uto-Conhecimento das Orr;anizaçe,es
Para as organizações, a iniciativa da pesquisa se encontra
intimanente vinculada ao auto-conhecimento. Decidir realizar uma
determinada pesquisa - ou que vem dar no mesmo, embora em termos
de menor alcance inplantar um sistema que gere informaç~es - e~
volve n que se ~ e o que se.~er ser. Sem dúvida realizam-se
muitas in'lestiga~ões sem que tenha havido um questionamento mais
s~rio so1re estes pontos, na medida que nuito do que foi feito en ternos de pesquisa aplicada existe no mercado na fcrma de 'l?a
cotes" - e que parCl a sua im:nlc.-ntação delT.andam J:lui tFlS vezes cus
tos elevéldos~ como o que ocorre com os sistemas de cOf.lputação.
são tais '1paco tes" postos em execução na supos ição de que, "exis
Pela frecuêr:cia deste fenômenn, ve""..le 2. pena eX2.TIllnar melhor
o seu significadn. Basica~ente trata-se de u~ cCD~ortamento em
que
jâ
se começou a aceitar a i~portância do c8nhecimento e d2.pesquisa para a gestãc e n planejamentn de org2nizações, emb2r2
ainda se esteja lon~e de cnmpreender do que se trata. De fato,
tr2nsfere-se rara n ambitn do cnnhecimento, um comportamento t2.m
bêm típico em rel2ç2o 2. outros mei0S or~2nizacicn2.is. Ent~et2nte,
se um im6vel ~ adquirido cu um pr~di0 ~ construído, mesmo que
não sejam 2.dequados ~s finalidades, possuem um valor que pode
corresponder Dais ou menos aos investiment03 realizados. No ter
rene da pesquisa, o fatn não ncorre senão em termos mais
indire-tos. ~ certo que 2lgumas pesqulsas puras que n~o anresentaram re
sultados satisfat6~ios puderam servir para realimentar outras e
condu~ir a investigação a caminho~ bem sucedidos. O mesmos
ocorre com a pesquisa aplicada, que se referindo 2. questões
-nao
....
SlLua
das no te~po e ne espaço, pode-se anresent2.r c~me francamente
in~t{l e ser um total j~sperdício, um2. perda total de recursos.
Como
jâ
se disse, evitar oompletamente a perda de recursosaplicados
â.
pesquisa ~ impossível. Mas se, de um l~jn, deve~-sebuscar garantias e~ termos de equipe, qualidade do frojeto, de
um outro, imp~e-se que as quest~es que se desejam investigar, as
informcções que se Dretenden levantar sejam significativ2s.
A rel~ç5n entre o rnalS e 0 menos significativo se ~~e, no
nresente contexto, e~ func~o de objetivos, metas e prioridades.
Ou seja: em função do que se deseja ser, aonde se pretende
che-gar, e 20 que
é
importante. Estes S20 elementos deautC'-conheci-mente, frutC's do 2uto-conhecimen~0. Pesquisar sem estes
elenen-tC's
é
avançar sem garantia da imDort~ncia dos resultadoseSnera-dos; ~ n20 se precaver contra a principal acusa.çao C}ue rede ser
Deve-se ter muito rresente a interac~o que ocorre entre auto
-conhecimento e pesquis? Se a nesquisa sem a orientac~o do au
to-conhecimento corre o risco de Eer irrelevante, o auto-conheci
mento sem pesquisa corre o risco de ser anenas um devaneio. Em
U:':1a orQ;2niz?.ção, a su-: i::lentidade liga-se
à
qualidade e quantid~de de seus recursos e atividades no presehte e no rassado, e aos
seus obj eti vos e I:1etas no futuro. SeI:'\ conhecê-los, se~undo a
persnectiva correta, a creFniz2c~o n~o se conhece. E eI:'\ termos or
~anizacionais, o sentido das atividades e recursos do ~resente
"
s~ se esclarece de modo si~nificativo e~ funç~o de aonde se quer
chegar e do que se nretende ser.
A nró:;ric=>. peso.ulsa Dode colabol"ar Dara aumentar o grau de
relev~ncia quanto a decis~es relativas a outras pesquisas
subse-quentes. Vê-se, dessa forma, aue estamcs às vnlt2S sernnre ccm
dois temas básicos: a relev2ncia e a certeza. A relev~ncia frece
de, porém, a certeza, ~c'rque certezas irrelevantes sito
evidente-mente inúteis.
A relação entre os conhecimentos e a administracãn
é
uma2. Entendemos per ciência um conjunto de conheci~entcs sistem2ti
cos produzidos scsundo um2 metndologia aceit? por uma r2rcel~
Donder~vel da comunidade cientIfica. A ~elao~o entre ciência,
de UJTl. lado, e 2 administrt'..c,~o c :::lanej amento, de ou trn , to;!',a
diversas fnr~2s. Neste ensaio, concentramos em um ti~o de
re-laç~e que n~o usa a ci~ncia nara justificar polrtica~ e
de relev~ncia e certeza. O ad~inistr2dor necessit~ de infrrmaç~es
sobre quest~es de imror~~ncia: trata-se de algo ~bvic mas que na
rr~tica n~o se ~presenta de modo t~o claro.
A
crp~reens~o cl~ssica da funç~0 de assessoria est~ voltada para a rroduç~o de co~he
ci~entrs que possam g~rantir que determinadas aç~es cnnduzir~o a
resultados desejados. Portanto, nesta ~ers~ectiva, espera-se
ideal~ente que a assessoria anenas nrrduza certezas. No entnnto,
a reéüidade é bem diferente. i\ ativid2de ôe conhecimento pode
dar evidentemente indicaç~es sobre a relev~ncia e é sabido que
nao poucas vezes encontra-se o estafe e~ condições de propor
OU de impor - certas hierarquias de relev~ncias ao administradon
O uso dos conhecimentos - d::l.S "ciências" - rela
adminis-+:ra-ç~r envolve as questões intrincadas da caracidade de cornpreende~
manejar e avaliar os conhecimentos da narte da alta direç~o. S~c
evidentemente vari~veis os graus segundo os quais tais
caDaoida-dos s~n exigidas. Certamente se noderia fazer uma tioologia de
organizações, em que a canacidade de tratar conhecimentos v~ de
um mínimo até nlvelS bem elevados. Sem
..
.
d~vida, as universid2des,que t~m no conhecimento o seu ele~ento principal,
encontrar-se-l~~ no topo desta hierarquia.
Os çnnheci~entos ~ue dizem respeito
à
edrinistração n;1,.O-
devem ser confundidos com aqueles aue est~o vinculedrs diretamente
2.0S proces sos b~s ic~)s da nrf,ani zaç2o, mui t0 emb ora 2lr;urrcé'ls de
cis6~s fundamentais possam lhes dizer resreitr.
A
diretoria deuma f~brica de biscoitos tom2r~ evidentemente decis~es muito po
bres em algumas ~re2s - por exemplo, investimentos em equi~a~en
to - se seus conhecimentos acerC2 de certos aspectrs da
tecnolo-gia de 21imentos .scjam IEuito parcos. De outra I'é'.rte, um reitor de uma universidade que desconheça elementos de processo de ensi
de crnheciDentos científicos nade .estar condenado a desvirtuar a
sua instituiç~r. N~o ~ possrvel esnecificar o qU2nto de
profun-didade e de dotal!1e será suficiente. Parece, entretanto, haver
um mrnimo, ?.SU~:-1 do qU"'l.1 a or~anizac2o C0rre sérios riscrs. A
presença de um estafe altamente qualificado n~o substitui o
atingimento deste mínimo.
Um outro tiro necess~rir de conhecimentos diz resneito
-
aadministraç~o nropriamente dita. S~o conhecimentos
crganlzaclc-nais, dos processos de administrac~o e, ressalte-se, entre es
tes, os de tratamento dcs recursos. Certamente ainda naa se aban
danou, entre n~s 2 id~ia de q~e, a esse respeito, os
conhecimen-tos n~o formulad0s da pr~tica S~0 de longe mais irr.nortantes do
que os sistemáticos.
o
que ~ pr2tica faculta, e ela ~ realmente insubstituível,e um cnnheciment0 dos obstáculos e imrerfeiç~es da realidade, ao
lade; de ur. senso dos ri tmrs e dos rrlrmentos. :t:ste
é
o lado de "arte" da adT:'.inistraç.~o, cnde vigora de fato ~ a intuicã0, e onde a
sucessão de experiências permite que se façc'l um "ma:"a" de
deter-minadas pessoas, determinad0s departaT!1entcs e deterr:tinadas
orga-nizações. Conhecem-se os interesses das pessc~s, as formas c·jmo
d~o ou recebem ordens, a forma como atendem 3 sugestões ou se
desemnenham em negociações. Conhecem-se as :crças e fraquezas de
certos setores, suas disnonibilidades e as suas boas ou m2s he
ranças, a ima.sem qê.lC deles tem seus mernl'ros e os demais seteres
da organizaç~n. E outros tanto~ ccnhc~imentos dizendo resocito ~
globalidade de or~anizaç~es. Sem este cnnjunto de conhecimentcs
- sobre pessoas, setores organizacionais e organizaç~es - os rl~
nos cu projetos encnntram grandes dificuldades de ser im~lementa
dos, e as decis~es de pOlítica podem se tornar muito irrealistas
A gest~o dos recursos envolve uma s~rie de consideraç~es
que c-ertanente o c:lnhecilIlento sistem2:tico mais que favorece. To Y.'.c.mes os r€cursos hUr:i:"'lncs. Apresenta;n U!na deterrinada
utiliza-ção no momento, na forr.t2. de execuc20 de ta.refas fé'.ra os quais foram d2signados. Será en-tretanto a I'1elhor f0rma de utilização?
A rcsrosta a esta Dergunta exige evidentemente ~esquisa das ca
pacidades ef2tivas e dos T),:,ten8iais nãr: utilizadns plenamente.
E isto sup~e que as tarcf~s tenham sido adequadamente definidas.
De outra part,e, cs recursos hur~a::1es,.:1a c~d:i_da e1:1 Clue ao ser hu
mano ~ facultada a capacidade de aprender, pede ter um caminho
de desenvolvimento. E ao responder esta questão, coloca-se
tan-to a questão do potencial quantan-to outras referentes aos Dossíveis vias e objetivos de desenvolvimento.
lJovamente, aqui temns a necessidade da pesquisa. Para reali
zá-la fazem necessários os conceitos e metodnlcgias
desenvolvi-d as pe a 1 DSlco~ogla, . l ' re a cconomla, pe a seClO ogla. 1 . 1 ' 1 '
Cutro tanto pede SEI' afirmado :10 que resneita aos recursos materiais e financeiros. O cemteúdo c.J'"([)lo daquilo que se
encon-tra contido no título "recursos materiais" - prédios,
equira-mcr.tcs, matérias nrimas etc - faz-nos ver ir'.ediat2.r:lente o
qUém-to de conhecimenqUém-tos são necessários ~ sua gestão. Desde aqueles
voltados para 2. sua I:"ielhor utilização ou SU2. censervaç2.O, no c~
so de já se encontrarem em uso. Ou então, no referente
à
deci-são de sua ampliação ou alienacão.
[·íui tos destes conhec iment0s j
á
se encor.tram disroní veis ,constituindo t~cnicas, resultados de pesquisas pr~ticas, metoda
-logias, etc. Em certas areas, o grau de certeza que rGde ser
pecialnente aquelas que fazem uso das ci~ncias sociais e humanas,
n20 somente os graus de certeza disponíveis são relativamente
baixos, como ta~b~m h~ virias conflitos quanto ~s verdadeiras
questões c;ue se er.contr2ffi em jogo, quanto ao que serü:m os esque
mas cnnceitu~is ou a metodologias convenientes.
Talvez este último fato a~ontado nossa muitas vezes
condu-zir os administradores a um ceticismo Quanto ~ necessidade e nos
sibilidade de pesquisa. Tal comnortamento Dcde tanto
racional-mente basear-se no fato j~ mencionado de uma possibilidade de
desperdício, quanto em puro precon6eito. Entretanto, ror mais
critic~veis que sejam em ternos de resultados conoretos a ~artir
dos quais se possam instrumentar as decis~es administrativas, a
contribuiç~o positiva da ~esQuisa ~ ineg~vel. Enca~adas na
ners-pectiva de reduç~o da ignor~ncia - que introduz um radr~o de com
paraçã o sem dúvida mais animador do Que Ilaumento do ccnhecimentc",
que tende a estabelecer ~adr~es ideais inatingíveis ou
inatingi-dos - a pesquisa pode auxiliar a melhor formular os problemas, a
melhor distinguir as variáveis relevantes e a reduzir 2
probabi-lidade de aue as decis~es sejam tomadas por uma ouestão de go~
b n · f1 - ...
to ou na ase de um achlsmo , como e 2S vezes comum.
Ressalta-se, ainda, ~ sua indispensabilidade no caso das
R:randes Clrganizações, Ilcrganizac;nes complexas" cC'mo são chanadas.
Constituem estas verdadeiros sistemas SOCl2lS, com seus recursos
e atividades espalhadas por pontas do esnaço distantes entre si,
e contando com um vC'lume de membros, clientes e comnetidores.
f,
de fate, impossível adninistr~-la sem a disponibilid~de de uma
vasta nassa de conhecimentr:s, aue só a pesquisa sistem~tica. P2.
4. Pl~nejamento e Experimentação
Vivemos sem dúvida uma época em que começam a apontar
Sl-nais de maturidade em relação ao planej amento. Por mui to ter.:_po
encontrou ele frotes resistências e, mais tarde, pode mostrar
inúmeras de suas vanta~ens e desvantagens. Hoje em dia, governos
e grandes organizaç~es realizam um processo de planejamento, te~
do em vistá prazos longos. A natureza dos planos tem, entretant~
te~dido a mudar, no sentido de que se verificaram desvantagens
no excesso de planejamento. Entre este excesso e nenhum
planeja-mento, busca-se um meio-termo que evidentemente não pede ser es
pecificado sem conhecimento das condições concretas de cada
si-tuação.
Ao 1 on~o de todo o debate sobre o pla_!1ejê'.merrt0 terrrBe â:;Jr€Sentado um
ccnfrontc fJ:""--4uente entre planejadores e executores. 3 Possivel
mente, trata-se de uma situação insuperável para o planejamento
quando este envolve um número tão grande ~e atividades que dema~
da a sua separação da execução. A especialização no planejamento
imp6e a formação de uma equipe d~ caracterfsticBs mais
preponde-rantemente intelectuais e te6rica~, o que sem dúvida-serve para
distanciá-los do pessoal da execução.
f
óbvio, também que opla-nejamento envolve um elemento de poder, que se m~nifesta na for
3. Sobre as relações entre planejamento e execução, veja-se o
excelente livro do antigo editor da Havard Business Review.
D.
w.
Ewin~, the Human ~ide of Planning. Num ~mbito maisam-plo, dos g~andes projetos nos paises subdesenvolvidos,
mulaç20 de objetivos, alocac20 de meios, que
é
frequente~ente considerado pelos executores uma intromiss~o ind~bita, porque estes,
entre outras cois2s, foram os respons~veis pela obtenç20 dos re
cursos e pela pr6pria manutenç20 daequlpe de planejamento. A
tentê'.tiva de envolver os executores na forf!'.ulação de plélno te~
sido tentada, mas rião h~ ainda sinais de grande sucesso.
H~ inG~eros obst5culos pRra os executores admitir o
planeja-mento, além dos aspectos relativos 20 poder. Com freqtiência, o
executor teQ internalizado u~ prOGr2~a, uma rotina, que lhe parece
6bvia e ccr.'.o que es}""ontâneLl.: os pc_ssos a dar se sucedem naturalmen
te e qualquer pro~r~:aç~o antecifada pode mais confundir do que
contribuir. A15~ disso, os planos tende~ a ser formulados sem ner
mitir abertur2s para aç6es alternativas, para soluç~es ad hoc,que
consti t'-lem sem d{ívidê'_ a vantageí:l compé'.rativa dos executores.
A soluç20 para estas dificuldades seria a troca freqUente
de posiç2:0 entre planej2dores e executores, permitindo que os pri
-meiros passem algum te;-,ipo na execuçao e os outros, algum tempo
no planejélmento. Urna solução muito difícil na pr2tica, dado o
apego a cargos e posiç~cs. Seria somente possível a partir de uma
mudança profunda em inúmeros dos valores aceitos entre nós.
o
difícil relacionamento entre planejadores e executoresê
malS frecjuenter.ente enc:arado em termos da o1'os iC'ão q',.le os ;,rimei
ros encontram da parte dos segundos. O planejador tem sido
pou-pado, ressalvando-se entretanto a SUe tendência ao irrealismo.In
clusive, certas compreens~es correntes acerC2 do pl2nej3me~to pa
recem atribuir-lhe um2 i~rortância m~ior que a própria execuç20,
des. Neste sentido, tanto faz falar CD tcr~8S de eXDe~i~ento GU~~
to de intervenç~0, sendo rl'p dssta auase necessaria~ente ce crlgl
Lsta e A :3. ri'Ju(?za
lado, co~nartilhR cem 2 exn2riDent2~~n cient!fica a ~ossibilidade
pr~d~tcr de novo, obter conflr~2çao
.
-o ~12~ej2ment0 ~ U~ ~cio de nrc~u3ir
conheci-I;
mente da realidade A • ~
e tamtem arrendlzagem.
d2.cue
1 ..1' • - 1 - ~ n ..l t"
~e que ulZ res~eltn 2 rrOGUç20 ~e novo. ~2uCS os asre~tos car'12~
tes da realidade sacia]. - e ta~b~m das or~2niz2o~es - qualçuer in
tervenç~o n~o rotineira tem fr~ndG chance de ~roduzir resultados incsrerados" De cu tra ;-êH'te, 1.1.-::'_'::' interver.ç2o f é'rí12.1mcnte n0va
. + :l -- d
2. l.n ~r(,Quçac e U1:1 neve' cu 11:r:lêl. neva
de -;:,rcdutc)s inj'lstriêlÍs - fc'c1e n~.(' dar nenhur:l resul t2CtO ines-:;cr2-
cer-tcs otst~culcs ~ inovaç~o" De fato, o novo n~o se r~oduz nem se
planeja. Ele oc~rre.
A
quest~o rrincinn.l est~ em noSSUlr a rccertiLf " . . . "'. c:e-'-+-;~c # ... 1~ ... L.:.-' rryrn"'M _' __ 'J.i.11...AIt~ ,4::l .. ~c~ ~(1;:::t __ -,,-~~..J...( ~'.' _ _ [ _ -'V=ll~':l""':::() ,,:~ ... - , - ( - .. \.~C ; ... (~1---"íJ~(l '-._1...-._, crrr. ,_ .... o
P
- eV"_;_:~(~_-;--'.+-LC:l - ~ -'--a SU(~ ne2pssico.de. Os .--'J-;c:;t2cl!1C's ~rQ"A.niZ2Cicn_2is e i~3ti
tucic-n ' •• 2.lS a - C' wlla ."..,-,,,,1" ~\.:., .. _lZC!Oc,O ~:: SC.\ . . :;~, ~.~ ~nL.r~,-,.n +- :"+'l t', c r:',~_,-o ,1';+ :', __ """""'ndl'-c . l _ ' - ' . De . , r,,'-;-r'" ~_ ' . '
~arte, h~ rccrnheclc.as dificuldades Detcdr16gic2s na efetuac5c
2e avali2ç3es que os referidos cbst~culcs S~0, em r~rte,
c:~--nc:!' ,,:; ~ c;~' =>~. c ''''tr .,-" - ' - ' = eCT'pc; -,l.-r,0n+ p t~r"'nc;s
f'rce,.o.l..VÇ~!:i" ,-,urre \. i'1.uS1..., 'o), veJ,. ~e Ü i _ _ _ C.~l1._ '_~, •. CC ~,
Nos dois casos em consideraç~o, pode-se realizar a anrendiza
8e~, 2 qual ~, per definiç~r, o acr~scimo de crnheci~entos,
habi-lidades, ce'm',,')rt2Y:.cr,-tos e ',lal,")rcs noves. Sc,;:;urélJ'lente, o j:leio de
rroriciar esta 2~rendizagem ~, em termos do planej2~entr, o ~ro
cesso di'.:! avaliaçãr. E él. cada U"!,, dos cases ccrrcs'"'cnde U;",,'1 fCl"ma
deste rrocess n .
Ao
caso da cnnfirMaçã('/desconfirm2ç~o crrresrcndeuma forma de avcüiação que chamarí2.m0s de interna. Ccmf\aram-se ob
jetivcs e metas com resultados. Ao caso da nrodução dn novo,
bus-cam-se ve~ificar os efeitoc dos resultades da i8~lementac~o do
~lano que n~c est~vam nrevistes ~cr este.
A
crnoenç~o do ~lano como ex~erimentr social pode encontrar-- . . . . - - . b' .
S2rlas reslstc~clas. M~ltas vezes e necessarlO o Ter a~OlO rara a
sua arroV2ç~o e imrlementaç~o, e este anoio n~o seria facilmente
conseguido se:-::}o quando se afin:12sse ('~ue o ,-,lano est~ assentado
em certezas e t~D ~snectos real~ente infalíveis. Obri~2ria, nor
sua vez, que o nrccesso de rlan0jamento não fosse realizado en um
meio arenas t~cnicn, Das que envolvesse a obtepç~o de c~nsensc da
narte dns executores e, at&, em certcs casos, daqueles que 8eriam
atinsidos ncr seus resultados. IJ0te-se que e;-:ü:;nra esta idéia de
flanej2~entn C2m consenso nossa desrertar simnatias, arresenta se
-rios rroble~as na definig~o do peso a atribuir aq~eles que teri~m
direito de participar de sua discussâo e dn f\eso a atribuir a t5c
- - . .. . - 5
nlCOS e nao-tecDlcos, tanto no debate quanto na declsan.
5. Esse intricado tcm2 f~i i~diretamente examinado, de medc
8U-peT'ficial a nnsso ver, ;-,0:;:-' C:uy ?<:~nveDiste, C!?l The Felític nf
Ex-
.,.-.,6,...-1-1• C',n ~.,,--.., 1 ~. C' ~."" t~t',11 ~ ...:1_ - - - - ... ,"t, 1- -;---';---1--'--- ....
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5. O Planejamento e a ~ealimcntac~o da Pesquisa
p.,o se conceber c: planeja!I'.ento c"mo um experimento, fica
6bvio que seus resultados constituem inform2ç~es. S~o sucessos ou
insucessos ao lado de novos fatos que se tem de tomar em
conside
-rê'..çao.
A c0nsciência deste vinculo do ~lanejamento
ã
resquisa, obriga o rrirneiro a estabelecer f0rmas de absGrç~o de informaç3es
e conheci~entos rara a efetivao~0 de novos DRSSOS e novas etapas.
O elemento de conheci~ento necess~rio ao nrocesso de planejamento
é
a pesqulsa de avaliação, que determina define o seu suceSS0. Umplanejamento realmente com~leto deve determinar as condições de
avaliação dos resultados.
A necessidade de avaliação ~ requerida norque um nr0cesSo de
planejarento
é
um processo de aprendizagem. Existe uma ~rande di~tância entre os rrincí;Jios formais do rlanej amen-to e sua rrêÍtica.
Aqueles podem se tornar quase imediatamente é,bvios, mas, sua a~li.
cação, o trato de problemas C0ncretos
ã
luz dos nrincípios do nlanejamento, demanda longas s~ries de ensaios e êrros.
Não
é
fácil, porem~-
estabelecer este ele realirnentad0r dapesquisa a nartir dos resultados do "lanejamente. Há dificuldc.de
em manter equipes rermanentes por lengos neríodcs de tempo, muitas
vezes necessários a que 08 resultados do nlanejamcnto
frutifi-quem. Variaç3es ocorrid~s na realidade ou n0S grunos dirigentes
das organizações demandam que se dê nrioridade a outras investig~
ç3es, ve,l tadas ~ara novc-'s objetivos. E ~ara comrlicar,
mcdifica-ç~es nas condiç~es de execução, bem diversas das rrevistas Dele:
nar 2 validade d~ processo de avaliaç~n.
Estas dificuldades n~o devem im~edir, e~~ret2nto, que as
e-to es te j 2r:1 d is "ens 2.CnS
de aç~es planejadas j~ ~0de sugerir in(Mer~s temas de i~vestiga
ção. [,s equif'es c.e TJouca e:ceriência têm dificuldê'.des em
fcr;r:u-la1' Ur", ::-rC'r:;rar!lél de Tlesquisa e S2.0 conduzidas a um est1J~o de
:-,ro-.
'~p.Y'(~:=- S as ",}"e Z2S ~ouco relevantes ~ara R sua crganizaç~o.
exasc do que se fez ou se te:-,tou fazer, semrre na ~ers~ec~iv3
de sua rclev~ncia ~ara o rresente e
°
futuro, pode se constituirE2
q'G.e se r;-,snClonar ainda outro eleI:',ento irr.r't:'rtc,nte rara ainvestiga~;0 ras alie a~resenta in~mer~s dificuldades c.e o~eracio
~~~~7~~~C) ~~~t~_CQ (1~ ~~ccn~n~i~Dntn dn novo q'ue foi rGslilt~do
J.l'---... .L. ... ~C-l~_'- ... _ . .'- __ c ... ,_ ... J ... "-1..1., .. e , ... ..l.J.!"_'-_J:..1Ç... '-. _ , - . _
-- inesperado -- do~ processos de execuç~o dos rlanos. Em ~eral,2s
e... l ... ""':~ec I...L.::' u ..-le Li. ~ --'sou~s~ t:~ 1 .1.. ~ +0'" " : ' - L i "',,'ucn r'" " a~"'sC'n \-C;~, j CJ. ~ l·nf~Y'r"l,:oc;:::"'C' 1 1.. .... _.1._, __ : ; ' - ... .:.J ;; '- ... se',1
reS'21-d· . . . . ~ ~
to, lS~DnlvelS pore~, ~ara executores. L estes, ror seu t""rno,
. .., . . . 6
~OC,2;', na~ ccnsldcra-lo3 lT.t:l,tn relevt!_ntes.
Par2 fin21izar este ccnjunt0 de reflex~es, importaria
assi-n2.1ar cue n20 fon-=tm feitas ccnsideracões esrecífic2s sC'bre
re2.a-ç6es de ~oder, t~o imnortant~s nara vi2bilizar o rlanej2mento. E
o. :Sst-J. c "'-' -:L C i_dr--::::'ie de ~,erceber o no':o, e, cor;:o anteri,'rmentc f oi referidn , toclcê! <'- re12c;2" c'ntl'e 7"laneja:nento EC _ o c"'é',rec..LJ:",entc
r1c, r~"'1' '::) D /, .""t~ =:l , - +,., ... t'" n-t -'::::'l n o • .... 1
videntemente, n~o as subestimamos. Apenas consideramos que o
exa-me das relaçoes entre rlanejanLento e poder ficarão exa-me.is amplaexa-men-
amplamen-te esclarecidas se tratadas
à
luz dos aspectos que foramaborda-dos.
Consideramos que 0S estudos e as pesqulsas sobre o
planeja-mentCl }Joderão dispor de ume persrectiva renovada, caso melhor se
apreenda a natureza e os problemas da ciência contemporânea. Ao
longo de sua hist6ria, a ci~ncia n~o anen2S modificou seus m~to
dos mas tamb~rn foi encarada de modo diverso pela sociedade. Pa
rece-nos haver ~oucas dGvidas de que alteraç~es no [anel da
ciên-cia afetam substanciên-cialmente o planejamento. Outro tanto pode ser
dito em relação
à
educação. Há hoje em dia acumulados muitos estudos sobre a aprendizagem, mas apenas no que se refere a
indiví-duos e requenos gru~os. O aprendizado realizado por grandes
gru-pos e por sociedades inteiras re}Jresenta um assunto em relação ao
qual a carência de cGnheci~ento ~ quase total, se n50 o confundi~
mos com a propaganda ou com a psicologia social. O avanço de co
nhecimentos neste particular poderá ter no futuro efeitos
inespe-rados sobre o nlanejamento.
N.Cham. P/EBAP CE 23
Autor: Zajdsznajder, Luciano.
Título: Planejamento, pesquisa e aprendizagem.
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