Universidade Federal do Rio Grande do Norte
DISSERTAC¸ ˜AO DE MESTRADO
Termodinˆ
amica de um G´
as de F´
otons no Contexto
de Eletrodinˆ
amicas N˜
ao-Lineares
Pierre Niau Akmansoy
Orientador
Prof. Dr. L´eo Gouvˆea Medeiros
Agradecimentos
Aos meus pais por me terem dado o apoio e a oportunidade de estudar, entre muitas outras coisas.
`
A Helena pela sua paciˆencia, companheirismo e presen¸ca em todos os momentos que precisei.
Ao pessoal da Lidia pelo seu companheirismo.
Ao meu orientador Prof. L´eo Medeiros pela sua excelente orienta¸c˜ao. Aos professores Gandhi e Jafelice pelo seu tempo, disposi¸c˜ao e ajuda. Ao pessoal da sala Jayme Tiomno e ao das outras salas.
`
A CAPES, pelo apoio financeiro.
Resumo
Esta disserta¸c˜ao tem como objetivo obter um formalismo geral para a an´alise das propriedades de um g´as de f´otons no contexto de teorias eletrodinˆamicas n˜ao-lineares (NLED). Para isto obtemos, atrav´es da an´alise sistem´atica das propriedades do eletromagnetismo de Maxwell (EM), a dependˆencia geral de uma Lagrangiana que descreve este tipo de teorias. A partir desta Lagrangiana deduzimos, no con-texto da teoria cl´assica de campos, a rela¸c˜ao de dispers˜ao que os f´otons devem seguir em termos do campo eletromagn´etico de fundo e das propriedades que ca-raterizam uma NLED. ´E importante ressaltar que, para a obten¸c˜ao da rela¸c˜ao de dispers˜ao, ´e adotada uma aproxima¸c˜ao de tal maneira a permitir a separa¸c˜ao do campo eletromagn´etico total em um campo de fundo forte e uma perturba¸c˜ao. Uma vez que a rela¸c˜ao de dispers˜ao ´e obtida, ´e seguido o procedimento estat´ıstico de Bose-Einstein padr˜ao levando `as rela¸c˜oes para a densidade de energia e press˜ao. ´E verificado que a equa¸c˜ao de estado padr˜ao de um g´as de f´otons no contexto do EM continua v´alida. Em seguida, s˜ao realizados dois exemplos onde s˜ao calculadas as propriedades termodinˆamicas no contexto de duas NLED, a de Born-Infeld e uma aproxima¸c˜ao quadr´atica. A primeira sendo escolhida devido `a vasta literatura exis-tente ao seu respeito e, a segunda, devido a ser uma aproxima¸c˜ao de primeira ordem de uma grande classe de NLED. Ademais, ambas s˜ao escolhidas por sua simplici-dade. Finalmente, os resultados obtidos a partir dos exemplos s˜ao comparados com o EM e interpretados, sugerindo possibilidades de testes de consistˆencia interna das NLED e motivando o desenvolvimento da vers˜ao quˆantica do formalismo.
Abstract
Introdu¸c˜ao 1
1 Eletrodinˆamica N˜ao-Linear 6
1.1 Eletromagnetismo de Maxwell . . . 6
1.1.1 Equa¸c˜oes de Maxwell . . . 6
1.1.2 Deriva¸c˜oes em nota¸c˜ao vetorial . . . 7
1.1.3 Deriva¸c˜oes em nota¸c˜ao covariante . . . 11
1.1.4 Lagrangiana do eletromagnetismo de Maxwell . . . 15
1.2 Extens˜oes da eletrodinˆamica de Maxwell . . . 18
1.2.1 Lagrangiana geral para as NLED . . . 19
1.2.2 Equa¸c˜ao de movimento para uma NLED . . . 20
1.2.3 Rela¸c˜ao de dispers˜ao geral para o f´oton . . . 21
2 Procedimento Estat´ıstico 24 2.1 Ensemble macrocanˆonico . . . 24
2.2 Estat´ıstica de Bose-Einstein . . . 27
3 Resultados e Discuss˜ao 31 3.1 Propriedades termodinˆamicas para o g´as de f´otons em uma NLED arbitr´aria . . . 32
3.2 Lagrangiana de Born-Infeld e Lagrangiana quadr´atica . . . 34
3.2.1 Lagrangiana de Born-Infeld . . . 34
3.2.2 Lagrangiana quadr´atica . . . 36
3.2.3 Interpreta¸c˜ao dos resultados . . . 39
4 Conclus˜ao 42
A Deriva¸c˜ao da Rela¸c˜ao de Dispers˜ao 44
B Base Linearmente Independente 52
C Rela¸c˜ao de Dispers˜ao Expl´ıcita 55
D Potencial Macrocanˆonico Incluindo Birrefringˆencia 58
E Obten¸c˜ao do Potencial Macrocanˆonico 60
F Grandezas Termodinˆamicas das NLED 65
3.1 Gr´afico dos coeficientes K+ e K− do caso eletrost´atico do modelo
quadr´atico . . . 38 3.2 Gr´afico da densidade de energia para caso eletrost´atico . . . 39 3.3 Gr´afico da densidade de energia para caso magnetost´atico . . . 41
O eletromagnetismo de Maxwell (EM) ´e uma das teorias mais bem sucedidas da hist´oria da f´ısica. Classicamente, ´e capaz de descrever todos os fenˆomenos eletro-magn´eticos conhecidos, incluindo a cria¸c˜ao e propaga¸c˜ao de ondas eletromagn´eticas. Sua vers˜ao quˆantica, a QED, se revelou igualmente bem sucedida, obtendo resulta-dos com precis˜ao de at´e dez partes em um bilh˜ao [1]. Este modelo serviu como base para as atuais teorias que descrevem as intera¸c˜oes fortes e fracas do modelo padr˜ao. Mesmo assim, desde sua cria¸c˜ao na metade do s´eculo XIX, uma s´erie de extens˜oes e formula¸c˜oes alternativas come¸caram a surgir com motiva¸c˜oes diversas, dentre os quais podemos citar: problema de divergˆencia cl´assica para o potencial Coulombiano [2, 3, 4, 5], v´ınculos experimentais sobre a massa do f´oton [6, 7, 8, 9], estudo cl´assico de efeitos de polariza¸c˜ao do v´acuo [10] e altera¸c˜oes da eletrodinˆamica no contexto de branas [11]. Al´em disto, o pr´oprio estudo de extens˜oes da eletrodinˆamica nos ajuda a entender melhor o EM.
Do ponto de vista de teorias de calibre [12], o EM surge ao impor quatro condi¸c˜oes `a sua Lagrangiana: (i) a Lagrangiana deve ser invariante por transforma¸c˜oes de Lorentz; (ii) deve ser invariante por transforma¸c˜oes de calibre associadas ao grupo U(1); (iii) deve depender apenas do campo Aµ e da sua primeira derivada ∂νAµ;
e (iv) estes termos apenas podem aparecer de forma quadr´atica. As extens˜oes do EM geralmente surgem ao quebrar pelo menos uma das condi¸c˜oes citadas acima. Violando a primeira destas condi¸c˜oes aparecem termos tensoriais criando dire¸c˜oes preferenciais e efeitos dependentes dos boosts [13, 14, 15, 16]. Por outro lado, a segunda condi¸c˜ao ´e quebrada se introduzimos um termo de massa para o f´oton, como ´e o caso da eletrodinˆamica de Proca [17]. No caso da terceira condi¸c˜ao ser quebrada surge uma extens˜ao do EM conhecida como eletrodinˆamica de Podolsky [18, 19, 20]. Finalmente, ao quebrar a quarta condi¸c˜ao, surge uma fam´ılia de extens˜oes chamadas de eletrodinamicas n˜ao-lineares (NLED) [21]. Estas s˜ao obtidas a partir de Lagrangianas do tipo L = L(F, G) onde F = −1
4F
µνF
µν e G = −14F˜µνFµν.
Exemplos de NLED s˜ao as eletrodinˆamicas de Born-Infeld [4, 5] e a eletrodinˆamica de Heisenberg-Euler [22].
Modelos de NLED aparecem em diferentes ´areas da f´ısica. A partir da d´ecada
de 30, ´e sabido que pares virtuais de el´etron-p´ositron induzem a auto-intera¸c˜ao do campo eletromagn´etico. De maneira geral esta auto-intera¸c˜ao ´e complexa, por´em para campos eletromagn´eticos que variam lentamente, este efeito foi calculado e da sua interpreta¸c˜ao cl´assica surgem as NLED [10, 22]. Outra ´area na qual surge este tipo de teoria ´e no contexto da teoria das cordas. Usando as propriedades da du-alidade T podemos mostrar que a eletrodinˆamica nas D-branas ´e descrita por uma generaliza¸c˜ao do modelo de Born-Infeld [23, 24, 25, 26]. Como terceiro exemplo, po-demos citar a descri¸c˜ao da propaga¸c˜ao de radia¸c˜ao dentro de materiais. Neste caso, a abordagem n˜ao ´e feita pela formula¸c˜ao Lagrangiana, mas os efeitos n˜ao-lineares surgem atrav´es de rela¸c˜oes constitutivas n˜ao-constantes [27, 28, 29, 30]. Recente-mente, no contexto da double special relativity (DSR), alguns artigos tˆem estudado as consequˆencias termodinˆamicas da modifica¸c˜ao da rela¸c˜ao de dispers˜ao relativ´ıstica [31, 32, 33, 34]. Estes trabalhos s˜ao geralmente motivados pela possibilidade de que-bra da simetria de Lorentz na escala de Planck [35, 36]. Uma das caracter´ısticas mais interessantes das NLED ´e o surgimento de rela¸c˜oes de dispers˜ao modificadas devido `a intera¸c˜ao da radia¸c˜ao com um campo eletromagn´etico de fundo. Este efeito foi primeiramente obtido em [37] e [38] e mais recentemente por [39].
Neste trabalho, usamos o procedimento seguido em [40] para encontrar as rela¸c˜oes de dispers˜ao para o f´oton. Assim, o campo eletromagn´etico fµν ´e separado em um
campo eletromagn´etico forte de fundoFµν e uma perturba¸c˜ao fraca ϕµν que se
pro-paga neste meio, ou sejafµν =Fµν+ϕµν. A partir deste procedimento chegamos a
uma rela¸c˜ao de dispers˜ao para a radia¸c˜ao que depende do campo eletromagn´etico de fundo e das propriedades que caracterizam as NLED. Neste contexto, ainda existe a possibilidade, dependendo da forma da Lagrangiana, de surgirem duas rela¸c˜oes de dispers˜ao que est˜ao associadas `a polariza¸c˜ao da radia¸c˜ao. Este fenˆomeno ´e co-nhecido como birrefringˆencia [46] e ir´a alterar as propriedades termodinˆamicas da radia¸c˜ao.
Encontrada a rela¸c˜ao de dispers˜ao (ou rela¸c˜oes de dispers˜ao) entramos no pro-cesso estat´ıstico que permite determinar as propriedades do g´as de f´oton. Por se tratar de f´otons, usamos a estat´ıstica de Bose-Einstein para calcular a fun¸c˜ao de parti¸c˜ao da radia¸c˜ao no contexto de uma NLED. Como mencionado acima, o efeito de birrefringˆencia deve ser levado em conta neste c´alculo. As propriedades termo-dinˆamicas encontradas (press˜aope densidade de energia ρ) dependem do campo de fundo e da forma da Lagrangiana, por´em a equa¸c˜ao de estado da radia¸c˜ao (ρ = 3p) n˜ao se altera. Finalmente, aplicamos o procedimento `as NLED de Born-Infeld e a uma aproxima¸c˜ao quadr´atica e comparamos os resultados com a EM. Todos estes resultados podem ser encontrados em [42].
Eletrodinˆ
amica N˜
ao-Linear
Neste cap´ıtulo analizamos os principais resultados do eletromagnetismo de Maxwell (EM) em nota¸c˜ao vetorial para depois obtˆe-los novamente em uma nota¸c˜ao explicita-mente covariante. Este procedimento, al´em de permitir apreciar a simplicidade desta nova nota¸c˜ao, leva naturalmente a uma formula¸c˜ao de mais alto n´ıvel, a formula¸c˜ao Lagrangiana do eletromagnetismo. Historicamente, o eletromagnetismo originou-se a partir de observa¸c˜oes, levando `a constru¸c˜ao de leis de forma fenomenol´ogica, como ´e o caso das leis de Coulomb e de Biot-Savart. Gra¸cas a cientistas como Oersted, Fa-raday, Amp`ere e Maxwell, entre muitos outros, os fenˆomenos el´etricos e magn´eticos foram melhor entendidos, entrela¸cando-os e levando a uma nova descri¸c˜ao, a de cam-pos (em ocam-posi¸c˜ao `a de a¸c˜ao a distˆancia). Com a previs˜ao das ondas eletromagn´eticas, sua descoberta por Hertz e posteriormente o advento da relatividade restrita, houve um novo entendimento do espa¸co em que vivemos. Este deixou de ser euclidiano para dar lugar ao espa¸co minkowskiano (n˜ao levando em conta a curvatura devido a distribui¸c˜oes de massa-energia).
Uma vez feita a an´alise do EM e a compara¸c˜ao das duas nota¸c˜oes, ser´a proposta uma Lagrangiana a partir da qual veremos que os resultados do EM s˜ao obtidos em conjunto com a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange obtida da Teoria de Campos. Em seguida, ´e obtida a forma funcional das Lagrangianas que permitem descrever teorias n˜ao-lineares de eletrodinˆamica. Com isto, e baseados nos procedimentos de [38], estaremos aptos a obter uma rela¸c˜ao de dispers˜ao geral para o f´oton. Neste cap´ıtulo as unidades naturais n˜ao s˜ao usadas.
1.1
Eletromagnetismo de Maxwell
1.1.1 Equa¸c˜oes de Maxwell
O eletromagnetismo de Maxwell ´e uma teoria de campo cl´assico (naturalmente rela-tiv´ıstico) pois explica como distribui¸c˜oes de cargas interagem atrav´es de campos, os
campos el´etricos e de indu¸c˜ao magn´etica. Estes s˜ao definidos pela for¸ca de Lorentz como a for¸ca por unidade de carga que um corpo carregado sente, pois esta indica como cargas em movimento interagem com os campos. A teoria ´e sintetizada nas chamadas equa¸c˜oes de Maxwell (em unidades Gaussianas)†,
⃗
∇ ·E⃗ (⃗r, t) = 4πρ(⃗r, t), (1.1) ⃗
∇ ×E⃗(⃗r, t) + 1 c
∂ ⃗B(⃗r, t)
∂t = 0, (1.2)
⃗
∇ ·B⃗ (⃗r, t) = 0, (1.3) ⃗
∇ ×B⃗(⃗r, t)− 1 c
∂ ⃗E(⃗r, t) ∂t =
4π
c ⃗j(⃗r, t), (1.4) onde E⃗ e B⃗ s˜ao, respectivamente, os campos el´etrico e de indu¸c˜ao magn´etica e, ρ e ⃗j as densidades de carga e de corrente que geram os campos. A partir destas conseguimos explicar todos os fenˆomenos de origem eletromagn´etica. Sua vers˜ao quˆantica, a eletrodinˆamica quˆantica, desenvolvida por Dirac et al., explica com ex-trema precis˜ao fenˆomenos quˆanticos como o desvio Lamb do hidrogˆenio e o momento magn´etico anˆomalo do el´etron. Estes fatos fazem do eletromagnetismo um bom mo-delo padr˜ao para o desenvolvimento de outras teorias de campo‡.
1.1.2 Deriva¸c˜oes em nota¸c˜ao vetorial
A primeira vista, em regi˜oes sem fontes, as equa¸c˜oes de Maxwell possuem simetria dual, ou seja, a transforma¸c˜ao dualE⃗ →B⃗ eB⃗ → −E⃗ mantˆem o grupo de equa¸c˜oes inalteradas. A falta de simetria em regi˜oes com fonte ´e devido a n˜ao existˆencia de monopolos magn´eticos.
No caso eletrodinˆamico, a equa¸c˜ao (1.3) permite a defini¸c˜ao de um vetor potencial magn´etico,
⃗
B =∇ ×⃗ A .⃗ (1.5)
Ao substituir esta rela¸c˜ao na equa¸c˜ao (1.2) obtemos,
⃗
∇ ×
(
⃗ E+ 1
c ∂ ⃗A
∂t
)
= 0.
Esta equa¸c˜ao ´e sempre verdadeira se a grandeza entre parˆenteses for igual ao gra-diente de uma fun¸c˜ao escalar. Por analogia com a eletrost´atica, identificamos este
†O poder das unidades Gaussianas vem do fato das unidades dos campos (e, consequentemente,
dos potenciais) serem as mesmas. A vantagem disto ´e a simetria com a qual as equa¸c˜oes s˜ao escritas.
campo escalar com o potencial el´etrico. Com isto, o campo el´etrico pode ser escrito em rela¸c˜ao ao vetor potencial magn´etico e potencial el´etrico,
⃗
E =−∇⃗ϕ− 1 c
∂ ⃗A
∂t. (1.6)
A vantagem imediata da defini¸c˜ao dos potenciais ´e a redu¸c˜ao da dependˆencia de 6 componentes dos campos para apenas 4 componentes independentes. H´a, por´em, uma ambiguidade na defini¸c˜ao dos potenciais pois, como ´e poss´ıvel ver pelas equa¸c˜oes (1.5) e (1.6), o vetor A⃗ e o potencial el´etrico ϕ n˜ao s˜ao definidos de maneira ´unica. Vemos que pela sua defini¸c˜ao o potencial vetor pode ser definido a menos de um gra-diente de uma fun¸c˜ao arbitr´aria bem comportada, implicando que a transforma¸c˜ao,
⃗
A(⃗r, t)→A⃗′(⃗r, t) =A⃗(⃗r, t) +∇⃗λ(⃗r, t),
n˜ao altera o campo de indu¸c˜ao magn´etica. Para o campo el´etrico n˜ao ser alterado pela transforma¸c˜ao do potencial vetor, o potencial el´etrico deve tamb´em sofrer uma transforma¸c˜ao,
ϕ(⃗r, t)→ϕ′(⃗r, t) =ϕ(⃗r, t) +V (⃗r, t),
onde V (⃗r, t), como veremos, est´a relacionado com λ(⃗r, t). A equa¸c˜ao (1.6), ap´os as transforma¸c˜oes, gera o seguinte v´ınculo entre as novas fun¸c˜oes,
⃗
∇
(
V (⃗r, t) + 1 c
∂λ(⃗r, t) ∂t
)
= 0,
que nos diz que o termo entre parˆenteses n˜ao depende do espa¸co, ou
V (⃗r, t) + 1 c
∂λ(⃗r, t)
∂t =k(t) ⇒ V (⃗r, t) =− 1 c
∂λ(⃗r, t) ∂t ,
onde a fun¸c˜ao k(t) foi embutida na fun¸c˜ao V (⃗r, t). Assim, obtemos a rela¸c˜ao exis-tente entre as fun¸c˜oesV e λ, e as transforma¸c˜oes se tornam
ϕ′(⃗r, t) =ϕ(⃗r, t)−1 c
∂λ(⃗r, t)
∂t , (1.7)
⃗
A′(⃗r, t) =A⃗(⃗r, t) +∇⃗λ(⃗r, t).
fun¸c˜aoλ de tal maneira que algumas rela¸c˜oes se simplifiquem. Como exemplo disto, se reescrevemos a equa¸c˜ao (1.4) em termos dos potenciais e obtemos
A⃗′−∇⃗
(
⃗
∇ ·A⃗′+ 1 c
∂ϕ′
∂t
)
=−4π
c ⃗j, (1.8)
onde ´e o operador d’Alembertiano. Se fizermos uso das transforma¸c˜oes (1.7) obtemos
(A⃗+∇⃗λ)−∇⃗
(
⃗
∇ ·A⃗+1 c
∂ϕ ∂t +λ
)
=−4π c ⃗j,
n˜ao alterando a descri¸c˜ao do sistema, por´em ganhando um grau de liberdade. Po-demos escolher o parˆametro λ de tal maneira que
⃗
∇ ·A⃗+1 c
∂ϕ
∂t +λ= 0.
No referencial com linha, a escolha do parˆametro faz com que o termo entre parˆenteses da equa¸c˜ao (1.8) se anule,
⃗
∇ ·A⃗′+1 c
∂ϕ′
∂t = 0, (1.9)
tornando-se
A⃗′ =−4π
c ⃗j.
Esta escolha de calibre ´e chamada de calibre de Lorenz e permite deixar as equa¸c˜oes mais sim´etricas e simples, dado que equa¸c˜ao a an´aloga para o potencial el´etrico ´e
ϕ′ =−4πρ.
Esta escolha tamb´em permite obter uma das componentes do vetor potencial em termos das outras duas e, com isto, diminui o n´umero de componentes independentes para 3. Por´em, a condi¸c˜ao (1.9) n˜ao define por completo o conjunto de potenciais
(
ϕ′, ⃗A′), pois podemos novamente fazer uma transforma¸c˜ao de gauge do tipo
ϕ′′(⃗r, t) =ϕ′(⃗r, t)− 1 c
∂λ′(⃗r, t)
∂t , (1.10)
⃗
A′′(⃗r, t) =A⃗′(⃗r, t) +∇⃗λ′(⃗r, t), (1.11) e obter a rela¸c˜ao an´aloga `a anterior a partir da equa¸c˜ao (1.11),
⃗
∇ ·A⃗′′+1 c
∂ϕ′′
∂t =λ
′,
conseguimos obter um grau de liberdade a mais. De fato, escolhendo λ′ na equa¸c˜ao
(1.10) de tal forma que
ϕ′(⃗r, t)− 1 c
∂λ′(⃗r, t)
∂t = 0, resulta em
ϕ′′ = 0,
⃗
∇ ·A⃗′′ = 0.
Isto mostra que a aparente dependˆencia inicial de 6 componentes (3 do campo el´etrico e 3 do campo de indu¸c˜ao magn´etica) se reduz a apenas 2 componentes independentes (2 componentes do potencial vetor magn´etico)! Este tratamento n˜ao ´e independente do referencial mas as fun¸c˜oes λ e λ′ sempre podem ser escolhidas
para obter estes resultados.
Uma rela¸c˜ao importante ´e a conserva¸c˜ao da carga el´etrica. Ela ´e obtida mate-maticamente a partir das equa¸c˜oes de Maxwell aplicando o divergente em (1.4) e substituindo o resultado em (1.1), ou seja,
∂ρ
∂t +∇ ·⃗ ⃗j = 0.
Foi poss´ıvel obter esta equa¸c˜ao somente ap´os a introdu¸c˜aoad hoc do termo 1
c ∂ ⃗E
∂t por
Maxwell na equa¸c˜ao (1.4) que ao mesmo tempo permitiu que as equa¸c˜oes fossem invariantes por transforma¸c˜oes de gauge. Como veremos mais `a frente, o fato das equa¸c˜oes serem invariantes por transforma¸c˜oes de gauge implica na conserva¸c˜ao local da carga.
Analizamos agora como os campos se transformam pela mudan¸ca de referencial. Se em um dado referencial S um observador mede os campos E⃗ = (Ex, Ey, Ez) e
⃗
B = (Bx, By, Bz), ent˜ao um observador no referencial S′, que est´a em movimento
com velocidade v na dire¸c˜ao positiva do eixo x do referencialS medir´a os campos Ex′ =Ex, Bx′ =Bx,
Ey′ =γ(Ey−
v cBz
)
, By′ =γ(By+
v cEz
)
,
Ez′ =γ
(
Ez+
v cBy
)
, Bz′ =γ
(
Bz−
v cEy
)
.
1.1.3 Deriva¸c˜oes em nota¸c˜ao covariante
As equa¸c˜oes de Maxwell s˜ao covariantes pelas transforma¸c˜oes de Lorentz mesmo na presen¸ca de fontes, como demostrado por Einstein e Poincar´e. Este ´ultimo demos-trou (antes que Minkowski) que as transforma¸c˜oes de Lorentz s˜ao nada mais que rota¸c˜oes em um espa¸co quadridimensional unificando, assim, o espa¸co e o tempo.
´
E conveniente expressar as equa¸c˜oes de Maxwell em uma nota¸c˜ao que explicite a covariˆancia e que permita observar propriedades com mais facilidades. Este processo trabalhoso tem o intuito de demostrar o poder e a elegˆancia da nota¸c˜ao covariante. As equa¸c˜oes (1.5) e (1.6) em nota¸c˜ao indicial†‡ s˜ao escritas como
Bi =ϵijk∂ jAk,
e
Ei =−∂0Ai−∂iA0,
onde ϵijk ´e o s´ımbolo de Levi-Civita e A0 =ϕ(x) ´e o potencial el´etrico. Estes dois
resultados podem ser condensados na seguinte express˜ao§
Fµν =∂µAν
−∂νAµ, (1.12)
onde Aµ = (ϕ(x), ⃗A(x)) ´e o quadripotencial e ∂ µ =
(
∂ ∂(ct), ⃗∇
)
´e o divergente quadridimensional.
O quadripotencial ´e dito contravariante pois, sob transforma¸c˜oes de Lorentz Λµ ν,
se transforma de maneira an´aloga `as componentes xµ do vetor posi¸c˜ao,
x′µ = Λµνx ν
,
A′µ = Λµ νAν,
onde
Λµ ν =
γ −γv c 0 0
−γv
c γ 0 0
0 0 1 0
0 0 0 1
,
†Os ´ındices gregos s˜ao usados para definir componentes de quadrivetores e variam de 0 a 3. Os
´ındices latinos indicam a parte espacial dos quadrivetores e variam de 1 a 3.
‡As grandezas que variam (contravariam) da mesma forma que o vetor de posi¸c˜ao s˜ao indicados
com ´ındice superior e as entidades que variam (covariam) de maneira semelhante ao operador nabla s˜ao representados com ´ındice inferior. Tecnicamente o campo de indu¸c˜ao magn´etica ´e um pseudovetor mas como n˜ao iremos considerar transforma¸c˜oes de paridade este, para todos os efeitos, se comporta como um vetor.
§No espa¸co-tempo de Minkowski o espa¸co e o tempo est˜ao no mesmo n´ıvel hier´arquico. Por
representa um boost na dire¸c˜ao do eixox. O divergente quadridimensional se trans-forma de maneira an´aloga `as 1-trans-formas,
x′µ = ¯Λ ν
µxν,
∂µ′ = ¯Λνµ∂ν,
de tal maneira que
¯ Λα
µΛ µ
β =δ α
β.
A rela¸c˜ao entre as componentes do vetor e as componentes da sua 1-forma corres-pondente ´e dado por meio da m´etrica†,
xµ =ηµνxν.
Pelas rela¸c˜oes
Ei =F0i e Bi = 1 2ϵ
i jkF
jk
,
identificamos as componentes do tensor campo eletromagn´etico,
Fµν =
0 E1 E2 E3
−E1 0 B3 −B2
−E2 −B3 0 B1
−E3 B2 −B1 0
. (1.13)
Este tensor ´e a unifica¸c˜ao dos antigos campos el´etrico e indu¸c˜ao magn´etica em ape-nas uma grandeza chamada de campo eletromagn´etico. Existe um tensor an´alogo que contˆem as mesmas propriedades denominado de tensor dual do campo eletro-magn´etico e ´e obtido atrav´es da transforma¸c˜ao dual, definida por
˜
Fµν ≡ 1 2ϵ
µν αβF
αβ
⇒F˜µν =
0 B1 B2 B3
−B1 0 −E3 E2
−B2 E3 0 −E1
−B3 −E2 E1 0
. (1.14)
Nesta nota¸c˜ao, o fato do EM ser invariante por transforma¸c˜ao de gauge ´e expl´ıcito, pois dada a transforma¸c˜ao
A′µ(x) =Aµ(x) +∂µλ(x),
onde λ(x) ´e uma fun¸c˜ao arbitr´aria, e da defini¸c˜ao deFµν dada pela equa¸c˜ao (1.12),
temos: †
F′µν =∂µA′ν
−∂νA′µ,
F′µν =∂µ(Aν +∂νλ)−∂ν(Aµ+∂µλ), F′µν =∂µAν
−∂νAµ+∂µ∂νλ
−∂ν∂µλ,
F′µν =∂µAν −∂νAµ, F′µν =Fµν.
Al´em disso, mostrar que o campo eletromagn´etico depende apenas de duas compo-nentes ´e direto. Dada, novamente, a transforma¸c˜ao de gauge aplicamos o divergente quadridimensional,
∂µA′µ(x) =∂µAµ(x) +λ(x),
e escolhendo λ(x) convenientemente,
∂µA′µ(x) = 0.
Fazendo novamente uma transforma¸c˜ao de gauge,
A′′µ(x) = A′µ(x) +∂µλ′(x), ∂µA′′µ(x) = λ′(x),
e escolhendo λ′(x) de tal maneira queλ′(x) = 0 e∂0λ′(x) = −A′0(x) obtemos as condi¸c˜oes equivalentes,
A′′0(x) = 0 e ∂iA′′i(x) = 0.
O tensor campo eletromagn´etico tem existˆencia independente da an´alise tem´atica, ´e um ente f´ısico. Por isto, suas componentes se transformam de tal ma-neira que independa do sistema de referˆencia. ´E poss´ıvel, atrav´es da equa¸c˜ao (1.12), mostrar que o campo eletromagn´etico ´e realmente um tensor,
F′µν =∂′µA′ν
−∂′νA′µ,
F′µν = (Λµα∂ α
)(
ΛνβA β)
−(
Λνβ∂ β)
(ΛµαA α
), F′µν = Λµ
αΛ ν
β
(
∂αAβ
−∂βAα)
,
F′µν = ΛµαΛ ν
βF αβ
.
†A transforma¸c˜ao de gauge ´e feita apenas no potencial Aµ, o operador de deriva¸c˜ao n˜ao ´e
Notamos que este desenvolvimento s´o ´e poss´ıvel em termos de derivadas ordin´arias pelo fato do espa¸co ser plano†. Os tensores de transforma¸c˜ao Λµ
αpodem representar
rota¸c˜oes ou boosts. Fazendo um boost ao longo do eixo x, para comparar com as rela¸c˜oes anteriores, obtemos, para as componentes F′01 eF′02,
F′01= Λ0αΛ1βFαβ,
Ex′ =Ex,
e
F′02 = Λ0αΛ2βF αβ
,
Ey′ =γ
(
Ey−
v cBz
)
.
onde a matriz de transforma¸c˜ao para um boost na dire¸c˜ao de x´e dada por
Λµα=
γ −γβ 0 0
−γβ γ 0 0
0 0 1 0
0 0 0 1
,
com β = v
c eγ = (1−β
2)−12.
Nesta nota¸c˜ao podemos reescrever as equa¸c˜oes de Maxwell em uma nota¸c˜ao simplificada e explicitamente covariante. As equa¸c˜oes (1.1) e (1.4) s˜ao obtidas a partir da rela¸c˜ao
∂νFµν =
4π c j
µ, (1.15)
onde jµ ´e a quadricorrente definida como
jµ=(cρ,⃗j).
As outras duas equa¸c˜oes se originam da propriedade antissim´etrica do tensor campo eletromagn´etico e s˜ao dadas a partir da rela¸c˜ao,
∂αFβγ +∂βFγα+∂γFαβ = 0,
chamada de identidade de Bianchi. Esta rela¸c˜ao pode ser reescrita em termos do tensor dual ˜Fµν, deixando o conjunto de equa¸c˜oes mais sim´etrico,
∂νF˜µν = 0. (1.16)
A conserva¸c˜ao da carga nesta nota¸c˜ao ´e obtida contraindo a equa¸c˜ao (1.15) com o divergente quadridimensional que, devido `a antissimetria de Fµν, resulta em
∂µjµ= 0.
†No caso de espa¸cos curvos as derivadas ordin´arias devem ser substituidas por derivadas
1.1.4 Lagrangiana do eletromagnetismo de Maxwell
As equa¸c˜oes de Maxwell foram obtidas partindo de resultados mais fundamentais (resultados experimentais) e reformuladas atrav´es das ferramentas matem´aticas que surgiram ao longo da hist´oria, obtiveram-se novas formula¸c˜oes que permitiram uma melhor visualiza¸c˜ao das propriedades do eletromagnetismo. Foi mostrado o poder, elegˆancia e simplicidade da nota¸c˜ao covariante. Estas equa¸c˜oes, por´em, podem ser obtidas fazendo uma liga¸c˜ao com uma generaliza¸c˜ao da formula¸c˜ao Lagrangiana para a mecˆanica.
A formula¸c˜ao Lagrangiana tem v´arias vantagens sobre a formula¸c˜ao Newtoniana como tratar com grandezas escalares ao inv´es de tratar com grandezas vetoriais, ser independente do sistema de coordenadas utilizadas e abordar com simplicidade as simetrias e invariˆancias de uma teoria. Al´em disso, a Lagrangiana ´e definida a menos do divergente quadridimensional de uma fun¸c˜ao escalar arbitr´aria, e o funcional a¸c˜ao cont´em todas as caracter´ısticas do sistema incluindo as condi¸c˜oes de contorno.
O pr´oximo passo ´e obter a equa¸c˜ao que, a partir de uma Lagrangiana, resulta nas equa¸c˜oes de movimento da teoria. Dado a a¸c˜ao, definida como,
A =
∫
Ldx4,
o princ´ıpio de Hamilton diz que, para uma varia¸c˜ao arbitr´aria dos graus de liberdade do sistema, a a¸c˜ao se mantˆem fixa, ou seja
δA= 0. (1.17)
A fun¸c˜aoL, chamada de densidade Lagrangiana, ou simplesmente Lagrangiana, ´e, de maneira geral, fun¸c˜ao do pontox, do campoϕν(x) e da primeira derivada do campo
∂µϕν(x) (a extens˜ao para segundas derivadas (e ordens maiores) ´e simples (mas n˜ao
muito comum na f´ısica) e, no caso do eletromagnetismo, leva `a teorias como a de Podolsky. Ao calcular a varia¸c˜ao da a¸c˜ao (mantendo os extremos estacion´arios) e impondo (1.17) obtemos as equa¸c˜oes de movimento de Euler-Lagrange para campos cont´ınuos,
∂µ
∂L ∂(∂µϕν)
= ∂L ∂ϕν
. (1.18)
Esta ´e a equa¸c˜ao que minimiza a a¸c˜ao e, com isto, gera as equa¸c˜oes de movimento certas.
as propriedades necess´arias para restringir as poss´ıveis formas que a Lagrangiana pode ter. As propriedades ´obvias das equa¸c˜oes de Maxwell s˜ao sua covariancia pe-las transforma¸c˜oes de Poincar´e e por transforma¸c˜oes de gauge do quadripotencial. Por este ´ultimo fato ´e melhor expressar a equa¸c˜ao (1.15) em termos do quadripo-tencial,
∂ν∂νAµ−∂µ∂νAν =−
4π c j
µ
, (1.19)
e tratar este como o campo fundamental do eletromagnetismo ao inv´es de Fµν.
Po-demos ver diretamente que esta equa¸c˜ao ´e linear nos potenciais e somente aparecem segundas derivadas dos potenciais e um termo de fonte. A Lagrangiana pode ser separada em um termo cin´etico, que descrever´a a dinˆamica dos campos, e um termo de fonte. Para obter uma equa¸c˜ao deste tipo a partir de (1.18) o termo cin´etico da Lagrangiana deve
1. apenas depender dos potenciais e da sua primeira derivada, para gerar termos de at´e segunda ordem,
2. o campo e sua primeira derivada podem aparecer apenas de forma quadr´atica, pois as equa¸c˜oes de campo s˜ao lineares.
Da primeira condi¸c˜ao temos que a dependˆencia da Lagrangiana ´e da forma L =
L(A, ∂A). J´a o fato das equa¸c˜oes de Maxwell serem invariantes por transforma¸c˜oes de gauge implica que a Lagrangiana deve ser invariante ao fazer o campo ir de Aµ
para Aµ+∂µλ, i.e. δAµ=A′µ
−Aµ=∂µλ,
δL= ∂L ∂AµδA
µ+ ∂L
∂(∂νAµ)
δ(∂νAµ) = 0.
O divergente quadridimensional e a varia¸c˜ao do campo comutam pelo fato deste ´
ultimo atuar no mesmo ponto do espa¸co-tempo, com isto obtemos ∂L
∂Aµ∂ µ
λ+ ∂L ∂(∂νAµ)
∂ν∂µλ= 0.
A segunda derivada parcial ´e um tensor de segunda ordem e pode ser expresso em termos da sua parte sim´etrica e antissim´etrica, para com isto aproveitar a simetria das derivadas deλ para eliminar o termo antissim´etrico,
∂L ∂Aµ∂
µ
λ+1 2
[(
∂L ∂(∂νAµ)
+ ∂L ∂(∂µAν)
)
+
(
∂L ∂(∂νAµ)−
∂L ∂(∂µAν)
)]
∂ν∂µλ= 0,
∂L ∂Aµ∂
µλ+1
2
(
∂L ∂(∂νAµ)
+ ∂L ∂(∂µAν)
)
Devido `a arbitrariedade da fun¸c˜ao λ, os dois termos devem anular-se de maneira independente. Com isto obtemos as seguintes restri¸c˜oes,
∂L
∂Aµ = 0 e
∂L ∂(∂νAµ)
=− ∂L ∂(∂µAν)
.
A primeira condi¸c˜ao implica que o termo cin´etico da Lagrangiana n˜ao pode depender explicitamente dos campos Aµ, a segunda diz que a dependˆencia das primeiras
deri-vadas deve ser do tipo antissim´etrico. Conhecemos um objeto antissim´etrico criado a partir das primeiras derivadas dos potenciais, o tensor campo eletromagn´etico, logo este ´e um candidato para a cria¸c˜ao da Lagrangiana. Por´em, esta deve ser invariante por transforma¸c˜oes de Lorentz para gerar equa¸c˜oes de movimento covariantes, isto implica que todos os ´ındices devem ser contra´ıdos. E, junto com a segunda condi¸c˜ao, uma poss´ıvel Lagrangiana para descrever o EM no v´acuo ´e
LM =−
1 4F
µνF µν.
Efetivamente, se submetermos esta Lagrangiana `a equa¸c˜ao (1.18) obtemos a equa¸c˜ao (1.19) sem o termo de fonte. Para obter este termo ´ultimo, adicionamos um termo `a Lagrangiana,
LM =−
1 4F
µνF µν +
4π c jµA
µ. (1.20)
´
E interessante ver que a Lagrangiana com o termo de fonte continua mantendo as equa¸c˜oes de movimento invariantes por transforma¸c˜ao de gauge,
δLM =jµ∂µλ,
δLM =∂µ(jµλ)−λ(∂µjµ),
se e somente se o segundo termo do lado direito ´e identicamente nulo†. Como λ ´e
arbitr´ario temos a condi¸c˜ao,
∂µj µ= 0,
que nada mais ´e do que a equa¸c˜ao da continuidade para a carga el´etrica. Esta equa¸c˜ao implica na conserva¸c˜ao local da carga el´etrica e foi obtida naturalmente impondo que a a¸c˜ao de Maxwell seja invariante por transforma¸c˜ao de gauge.
Em diversos casos ´e poss´ıvel obter a forma expl´ıcita da corrente: no caso de uma Lagrangiana de campo de mat´eria espinorial (e.g. QED), na qual foi imposto
†O primeiro termo n˜ao influencia na a¸c˜ao pois esta ´e extremizada com os pontos iniciais e finais
invariˆancia local de gauge, aplicamos o teorema de Noether e encontramos que esta corrente ´e dada por
jµ =
e cψγ¯ µψ, onde ψ ´e um campo de spin-1
2, e ´e a carga e γµ s˜ao as matrizes gama de Dirac. Vale enfatizar que (1.20) gera somente a rela¸c˜ao (1.15). As equa¸c˜oes (1.16) s˜ao naturalmente satisfeitas devido `a forma antissim´etrica de (1.12).
Rela¸c˜ao de dispers˜ao para o f´oton na eletrodinˆamica de Maxwell
Sabemos que a partir das equa¸c˜oes de Maxwell podemos obter uma equa¸c˜ao de onda que prevˆe e descreve a propaga¸c˜ao de ondas eletromagn´eticas. A partir das equa¸c˜oes (1.15) e (1.16) no v´acuo obtemos a rela¸c˜ao,
ηαβ∂α∂βFµν = 0. (1.21)
Sabemos, tamb´em, que na teoria cl´assica de Maxwell n˜ao h´a termos de auto-intera¸c˜ao, uma onda eletromagn´etica n˜ao vai ter sua energia alterada por um campo de fundo. Propomos ent˜ao uma onda eletromagn´etica plana ϕµν se propagando na dire¸c˜ao de
⃗k e com amplitude constante εµν,
ϕµν =εµνe−ikαxα.
O resultado que a equa¸c˜ao de onda (1.21) gera quando aplicada a ϕµν ´e:
ηµνkµkν = 0, (1.22)
que ´e a rela¸c˜ao cl´assica de dispers˜ao para o f´oton. Esta rela¸c˜ao define o cone de luz que separa os eventos entre causal e n˜ao causal.
1.2
Extens˜
oes da eletrodinˆ
amica de Maxwell
Existem v´arios contextos nos quais aparecem extens˜oes da eletrodinˆamica de Maxwell, por´em a grande maioria surge ao violar ao menos uma destas quatro condi¸c˜oes,
1. Invariˆancia pelo grupo de Poincar´e, 2. Invariˆania de gauge,
3. Dependˆencia apenas do campo e da sua primeira derivada, e
Exemplos de extens˜oes s˜ao as eletrodinˆamicas de Proca e de Podolsky que apa-recem quando a segunda e a terceira condi¸c˜oes s˜ao quebradas respectivamente. Quando quebramos apenas a quarta condi¸c˜ao, surge uma familia de extens˜oes cha-madas de eletrodinˆamicas n˜ao-lineares (NLED). Exemplos de NLED s˜ao as eletro-dinˆamicas de Born-Infeld [3, 4] e de Heisenberg-Euler [22].
1.2.1 Lagrangiana geral para as NLED
Para obter uma Lagrangiana que descreva de forma geral as NLED devemos primeiro obter os objetos com os quais podemos constru´ı-la. Esta Lagrangiana ainda deve satisfazer as outras trˆes condi¸c˜oes, por isso o caminho ´e semelhante `a dedu¸c˜ao da Lagrangiana de Maxwell. ´E importante ressaltar que na deriva¸c˜ao de (1.20) n˜ao levamos em conta todos os poss´ıveis objetos que podem entrar na constru¸c˜ao de uma Lagrangiana para o eletromagnetismo, deduzimos a mais simples e, por compara¸c˜ao com os resultados pr´evios, a rela¸c˜ao se mostrou correta. Como o eletromagnetismo depende apenas do campo Aµe as trˆes primeiras condi¸c˜oes ainda s˜ao obedecidas, os
objetos dispon´ıveis para a constru¸c˜ao da Lagrangiana s˜ao Fµν
→tensor campo eletromagn´etico ηµν →m´etrica de Minkowski
εαβγσ →tensor de Levi-Civita
Os dois primeiros s˜ao tensores verdadeiros e o ´ultimo ´e uma densidade tensorial de peso −1 pois sua transforma¸c˜ao geral de coordenadas ´e dada por
εαβγσ =
∂x ∂x′
∂x′α
∂xµ
∂x′β
∂xν
∂x′γ
∂xδ
∂x′σ
∂xλε µνδλ.
Com isto, os objetos relevantes para a constru¸c˜ao da Lagrangiana s˜ao o tensor Fµν
e a densidade tensorial ˜Fµν definida em (1.14)†. Com estes, os ´unicos escalares
invariantes por transforma¸c˜oes de Poincar´e e de gauge s˜ao F =−1
4F
µνF µν =
1 2
(
E2−B2)
, (1.23)
e
G=−1 4F
µν˜
Fµν =E⃗ ·B.⃗ (1.24)
Quaisquer outras contra¸c˜oes resultam em combina¸c˜oes dos escalares F e G ou em resultados nulos. ´E importante ressaltar que G ´e, devido ao tensor de Levi-Civita, uma densidade escalar e n˜ao se transforma “corretamente”quando a transforma¸c˜ao
´e de paridade (o que pode ser visto explicitamente quando expresso em termos de ⃗
B),
G→ −G.
Uma poss´ıvel solu¸c˜ao ´e restringir a dependˆencia da Lagrangiana aG2, por´em existem casos de sistemas f´ısicos nos quais h´a viola¸c˜ao de paridade como ´e o caso da teoria que rege intera¸c˜ao fraca no modelo padr˜ao.
Devido a estes fatos, a Lagrangiana que descreve NLED no v´acuo mais geral compat´ıvel com as teorias cl´assicas de campos ´e da forma
L=L(F, G). (1.25)
No caso em que h´a fontes esta Lagrangiana se torna
LF =L(F, G) +
4π c jµA
µ
.
1.2.2 Equa¸c˜ao de movimento para uma NLED
O pr´oximo passo ´e encontrar a equa¸c˜ao de movimento para um sistema cuja La-grangiana ´e da forma (1.25), para isto usamos a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange (1.18),
∂µ
∂L ∂(∂µAν)
= ∂L ∂Aν
.
Como (1.25) n˜ao tem termos de fonte e n˜ao depende explicitamente do campo Aν,
o lado direito desta equa¸c˜ao ´e zero. A equa¸c˜ao de movimento se torna, ∂µ
(
∂L ∂F
∂F ∂(∂µAν)
+ ∂L ∂G
∂G ∂(∂µAν)
)
= 0,
onde a regra da cadeia foi usada. As derivadas de F e G podem ser explicitamente obtidas a partir de suas defini¸c˜oes,
∂F ∂(∂µAν)
= 4Fνµ e ∂G ∂(∂µAν)
= 4 ˜Fνµ, obtendo
∂µhµν = 0, (1.26)
com
hµν = ∂L
∂FF
µν+ ∂L
∂GF˜
µν. (1.27)
Como os tensores Fµν e ˜Fµν s˜ao antissim´etricos o tensorhµν tamb´em o ´e e, por
este fato, satisfaz a identidade de Bianchi,
que tamb´em pode ser expressa como
∂µh˜µν = 0,
onde ˜hµν = 1 2ϵ
µν αβhαβ.
Nesta nota¸c˜ao, este par de equa¸c˜oes tˆem a mesma forma que o par de equa¸c˜oes de Maxwell para o v´acuo e, consequentemente, as mesmas t´ecnicas usadas para encontrar Fµν podem ser usadas para encontrar hµν escrito como,
hµν =
0 E1 E2 E3
−E1 0 B3 −B2
−E2 −B3 0 B1
−E3 B2 −B1 0
,
onde a fonte estilizada foi utilizada para diferenciar os campos de hµν eFµν, por´em
explicitar a analogia. As componentes deste tensor s˜ao dados por (1.27).
1.2.3 Rela¸c˜ao de dispers˜ao geral para o f´oton
At´e agora estudamos as propriedades do campo eletromagn´etico, esta subse¸c˜ao tem como objetivo estudar a propaga¸c˜ao destes campos no contexto das NLED. As NLED se caracterizam por terem equa¸c˜oes n˜ao-lineares nos campos o que torna a equa¸c˜ao de onda igualmente n˜ao-linear. Por isso, consideramos o caso simplificado (por´em bastante geral) em que uma perturba¸c˜ao fraca se propaga em um meio em que existe um campo eletromagn´etico forte de fundo cuja varia¸c˜ao ´e muito me-nor do que a da perturba¸c˜ao. Com esta aproxima¸c˜ao a equa¸c˜ao de onda se torna linear mas os coeficientes continuam dependendo do campo de fundo. Estas con-sidera¸c˜oes s˜ao baseadas em [38] e os procedimentos s˜ao desenvolvidos no apˆendice A. Neste obtemos a rela¸c˜ao de dispers˜ao em fun¸c˜ao dos m´odulos dos quadrivetores kµ e aµ
≡Fνµk
ν e das derivadas da Lagrangiana em termos dos invariantes F e G
dada por
k2 = −LF (LGG+LF F) + 2F (LF FLGG−L 2
F G)±
√
δ 2 [2LF(LGGF −LF GG) +G2(LF FLGG−L2F G)−L2F]
a2, (1.28)
onde
δ=[
2F (
LF FLGG−L2F G
)
+LF (LGG−LF F)
]2
+[
2G(
LF FLGG−L2F G
)
−2LFLF G
]2
e
LF =
∂L
∂F, LG= ∂L
∂G, LF F = ∂2L ∂F2, LGG=
∂2L
∂G2, LF G= ∂2L ∂F ∂G.
A equa¸c˜ao (1.28) pode ser reescrita juntando todas as caracter´ısticas referentes `a NLED no termo z±,
k2 =z±a2. (1.29)
Nesta express˜ao fica evidente que existe a possibilidade de haver duas rela¸c˜oes de dispers˜oes, fenˆomeno chamado de birrefringˆencia. Isto sempre acontece quando δ ̸= 0. Foi mostrado por G. Boillat [37] e independentemente por Plebanski [21] que os ´unicos casos† em que n˜ao ocorre este fenˆomeno s˜ao os das eletrodinˆamicas de
Maxwell‡ e de Born-Infeld.
Abrindo a equa¸c˜ao (1.29) em componentes obtemos gµνk
µkν = 0, (1.30)
com
gµν
≡ηµν+z
±FµβFβν, (1.31)
ondegµν pode ser interpretado como uma m´etrica efetiva que substitui a m´etrica de
Minkowski e altera a estrutura de cone de luz. Um poss´ıvel uso desta equa¸c˜ao seria para testar se ocorre desvio no percurso de um feixe de luz que passa por um campo eletromagn´etico forte de fundo Fµν. Multiplicando a equa¸c˜ao (1.30) por um fator
~2 para obter os vetores de quadrimomentos a partir dos quadrivetores de n´umero
de onda, podemos reexpressar explicitamente esta em termos do campo externo e da energia e momento do f´oton,§
pµηµνpν =z±pµFβµFβν, (1.32)
ε±=
z±⃗p·Sc⃗ 2+
√
δ 1 +z±E2c2
, (1.33)
com
δ =(z±⃗p·Sc⃗ 2
)2
−(
1 +z±E2c2
) {
z±
[ (
⃗p×B⃗)2+(⃗p·E⃗)2
]
c2−p2c2
}
,
†Tamb´em n˜ao h´a occorencia de birrefringˆencia no caso considerado n˜ao-f´ısico da Lagrangiana
L= F
G.
onde S⃗ = E⃗ × B. Esta ´e a equa¸c˜ao que d´a a energia do f´oton em termos das⃗ propriedades da NLED em quest˜aoz± e do campo de fundo. ´E importante ressaltar
que o campo de fundo pode depender do ponto do espa¸co-tempo, o que faz com que a energia do f´oton tamb´em dependa do evento. Al´em disso, podemos ver que nos casos em quez± = 0 ou o campo de fundo ´e nulo recuperamos a rela¸c˜ao de dispers˜ao
Procedimento Estat´ıstico
Por se tratar de um g´as de f´otons ´e natural recorrer `a f´ısica estat´ıstica para obter valores m´edios e, consequentemente, as propriedades do g´as como um todo. Uma te-oria de eletrodinˆamica n˜ao-linear ir´a apenas mudar a maneira com que os potenciais se comportam, ou seja, no contexto dos f´otons, a sua energia e como estes interagem com os campos de fundo. A natureza da part´ıcula continua sendo quˆantica ou seja, por ter spin inteiro (m´ultiplo de ~) a fun¸c˜ao de onda que descreve o sistema deve
ser sim´etrica (o que implica na indistinguibilidade das part´ıculas ou, de maneira equivalente, na relevˆancia do princ´ıpio da incerteza) e, com isto, os procedimentos a serem seguidos continuam sendo os da estat´ıstica de Bose-Einstein.
´
E importante destacar que a escolha do sistema de referˆencia n˜ao ´e arbitr´ario. Isto pode ser visto claramente na dependˆencia da energiaε± dos f´otons com o campo
eletromagn´etico de fundo. Como queremos que a distribui¸c˜ao energ´etica dos f´otons seja isotr´opica escolhemos o referencial com´ovel ao material que gera os f´otons.
´
E interessante ressaltar que, no caso relativ´ıstico, por mais que o volume dx3 e o intervalo de momentodp3do espa¸co de fase n˜ao sejam invariantes por transforma¸c˜oes de Lorentz o produto dx3dp3 o ´e [43]. No final deste cap´ıtulo, as unidades naturais s˜ao usadas.
2.1
Ensemble macrocanˆ
onico
Queremos estudar um sistema caracterizado pelas grandezas: volume V, tempera-tura T e potencial qu´ımicoµ, sem energia nem n´umero de part´ıculas fixas. A teoria de ensemble consiste em imaginar um n´umero† ℵ de c´opias idˆenticas deste sistema
†O n´umero de sistemas que comp˜oe o ensemble pode ser interpretado como o espa¸co amostral
do qual vamos tirar as informa¸c˜oes. Nele encontraremos todas as poss´ıveis distribui¸c˜oes de con-figura¸c˜oes, at´e as que parecem mais absurdas. Como todo espa¸co amostral, quanto maior este ´e, mais fieis os dados obtidos. Este ser´a o papel do limite termodinˆamico.
que podem ser encontradas com qualquer n´umero de part´ıculas e em qualquer auto-valor de energia acess´ıvel aos sistemas. Juntos compartilham a energia totalℵE¯ e o n´umero de part´ıculasℵN¯, onde ¯Ee ¯N s˜ao a energia e o n´umero de part´ıculas m´edias que est˜ao diretamente relacionados com a temperatura e o potencial qu´ımico, res-pectivamente. Podemos ent˜ao definir nr,s como o n´umero de sistemas com energia
Er e n´umero de part´ıculas Ns, com r, s = 0,1, ..., estes sistemas compartilham as
restri¸c˜oes
∑
r,s
nr,s=ℵ,
∑
r,s
nr,sNs =ℵN ,¯ (2.1)
∑
r,s
nr,sEr =ℵE.¯
Com isto, o conjunto {nr,s}† indica um modo de distribui¸c˜ao que satisfaz (2.1).
Este, por´em, n˜ao ´e o ´unico pois poderiamos distribuir os sistemas de tal maneira a compor um conjunto diferente {nr,s}que continue satisfazendo (2.1). ´E interessante
encontrar o modo de distribui¸c˜ao mais prov´avel, isto ´e, o evento que melhor descreve o espa¸co amostral, pois este nos permitir´a obter previs˜oes fieis (dentro de uma certa margem de erro ligada ao tamanho do espa¸co amostral) das medi¸c˜oes que podem ser feitas do sistema.
Para encontrar este modo de distribui¸c˜ao dito mais prov´avel come¸camos por adotar o postulado da equiprobabilidade a priori (o mais simples e que obtˆem resul-tados coerentes com as experiˆencias). Este nos diz que o sistema estudado acessa com igual probabilidade todas as configura¸c˜oes acess´ıveis a ele. Umaconfigura¸c˜ao
´e um modo de distribui¸c˜ao no qual os sistemas est˜ao distribuidos de maneira es-pec´ıfica. Se permutamos dois sistemas que est˜ao em estados diferentes (um que est´a no estado (E1, N9) com outro que est´a no estado (E3, N2), por exemplo), em um dado modo de distribui¸c˜ao, obtemos duas configura¸c˜oes diferentes. De maneira geral, dado um modo de distribui¸c˜ao{nr,s}, este possui
W{nr,s}= ℵ
!
∏
r,s
nr,s!
,
configura¸c˜oes diferentes. Devido ao fato de todas as configura¸c˜oes serem igualmente acess´ıveis, ´e razo´avel supor que o modo de distribui¸c˜ao que proporciona o maior n´umero de configura¸c˜oes ´e o mais prov´avel. Formalmente, a obten¸c˜ao do modo mais prov´avel de distribui¸c˜ao (ou moda), que denotaremos por {
n∗
r,s
}
, ´e dada pela
maximiza¸c˜ao de W{nr,s} que ´e feita atrav´es do m´etodo de Lagrange levando em
conta as restri¸c˜oes (2.1)†. Com isto obtemos
n∗
r,s
ℵ =
e−αNs−βEr
∑
r,se−αNs−βEr
. (2.2)
A raz˜aon∗
r,s/ℵindica a parcela dos ℵ sistemas que se encontram no estado (Er, Ns)
no modo de distribui¸c˜ao mais prov´avel. No limite, dito termodinˆamico, em queℵ →
∞‡ (onde o n´umero de part´ıculas total e a energia total tamb´em tendem ao infinito
mas as suas m´edias permanecem constantes) a probabilidade pr,s de encontrar um
sistema no estado (Er, Ns), dado por ⟨nr,s⟩/ℵ, ´e idˆentico `a quantidade n∗r,s/ℵ pois,
devido a este limite, a flutua¸c˜ao estat´ıstica se torna nula§. Com isto, podemos definir
pr,s=
e−αNs−βEr
∑
r,se−αNs−βEr
, (2.3)
como a probabilidade de encontrar um sistema no estado (Er, Ns).
A partir da equa¸c˜ao (2.3) conseguimos obter a energia m´edia e o n´umero m´edio de part´ıculas do sistema,
¯ N =
∑
r,sNse−
αNs−βEr
∑
r,se−αNs−βEr
≡ − ∂
∂αln
(
∑
r,s
e−αNs−βEr
)
,
¯ E =
∑
r,sEre−αNs−βEr
∑
r,se−αNs−βEr
≡ −∂β∂ ln
(
∑
r,s
e−αNs−βEr
)
.
Este resultado nos permite perceber a importˆancia do denominador (coeficiente de normaliza¸c˜ao) da densidade de probabilidade (2.3), este ´e chamado de fun¸c˜ao de parti¸c˜ao macrocanˆonica, que denotaremos por Ξ, e contˆem todas as informa¸c˜oes do sistema.
Analisando a grandeza
q= ln Ξ,
e fazendo a correspondˆencia com a primeira lei da termodinˆamica, conseguimos obter
†Ver [44] pp. 54 – 55.
‡O limite termodinˆamico ´e aquele no qual o espa¸co amostral abrange cada vez mais elementos
da popula¸c˜ao at´e, no limite, abrangˆe-la completamente. ´E esperado que neste limite o espa¸co amostral caracterize perfeitamente a popula¸c˜ao.
as seguintes interpreta¸c˜oes para q,α eβ†,
α=− µ kT,
β = 1 kT,
q= pV
kT. (2.4)
Estes resultados nos fornecem a conex˜ao entre a estat´ıstica e a termodinˆamica. ´E interessante perceber que a terceira express˜ao implica no fato de q ser extensivo.
Como at´e agora n˜ao foi falado sobre as caracter´ısticas do sistema, este desenvol-vimento serve tanto para sistemas ditos cl´assicos quanto os quˆanticos.
2.2
Estat´ıstica de Bose-Einstein
O sistema estudado ´e quˆantico portanto o ensemble ser´a caracterizado pelo Hamil-toniano ˆH. Cada sistema do ensemble ser´a descrito pela fun¸c˜ao de onda Ψk(⃗r
i, t)
de tal maneira que
ˆ
HΨk(⃗ri, t) =i~Ψ˙k(⃗ri, t),
descreve a cinem´atica e dinˆamica do k-´esimo sistema. Esta fun¸c˜ao de onda pode ser decomposta em termos dos autovetores do Hamiltoniano. Estes abrangem o espa¸co de Hilbert e diagonalizam os operadores ˆH e ˆn (cujos autovalores indicam as energias accessveis e o n´umero de part´ıculas do sistema). Com isto,
Ψk(⃗r i, t) =
∑
r,s
ak
r,s(t)φr,s(⃗ri),
onde
ak r,s(t) =
∫
V
φ∗r,s(⃗ri) Ψk(⃗ri, t)dV,
nos d´a, por meio do seu m´odulo quadrado, a probabilidade de encontrar o k-´esimo sistema no estado (Er, Ns). Um observ´avel ˆG caracteriza, na forma de operador,
uma grandeza mensur´avel cuja m´edia no k-´esimo sistema ´e dado por
⟨
ˆ G⟩k=
∫
Ψk∗GΨˆ kdV. (2.5)
Esta m´edia ´e apenas espacial, ou seja, ´e uma m´edia instantˆanea da grandeza. Ex-pandindo (2.5) em termos dos autovetores obtemos
⟨
ˆ
G⟩k= ∑
l,m,r,s
akl,m∗ a k
r,sGl,m,r,s,
onde
Gl,m,r,s =
∫
φ∗l,mGφˆ r,sdV.
Poderiamos tomar a m´edia temporal de ⟨Gˆ⟩k feita em um per´ıodo suficiente-mente longo para que ok-´esimo sistema passe por todos os estados acess´ıveis e assim obter a m´edia deste observ´avel que caracterize o sistema estudado; este seria o pro-cedimento experimental. Como o sistema ´e composto por um grande n´umero de part´ıculas (da ordem de 1023), levar em conta a dinˆamica e cinem´atica de cada um dos constituintes ´e trabalhoso e, at´e, imposs´ıvel. Por isso, conseguimos a m´edia inde-pendente do tempo, que caracteriza o sistema estudado em seu estado de equil´ıbrio, por meio da m´edia feita no ensemble macrocanˆonico [44]. Esta m´edia deve ser feita sobre todos os estados acess´ıveis ao sistema dentro das restri¸c˜oes (2.1),
⟨
ˆ G⟩= 1
ℵ
ℵ
∑
k=1
⟨
ˆ
G⟩k. (2.6)
Reescrevendo esta m´edia obtemos
⟨
ˆ
G⟩= tr(ˆρG),ˆ
onde ˆρ´e chamado de operador densidade de probabilidade definido como
ρl,m,r,s =
1
ℵ
ℵ
∑
k=1 akl,m∗ a
k r,s.
Este operador tem as mesmas informa¸c˜oes que (2.3) por isso fazemos a rela¸c˜ao ρr,s =
eµβNs−βEr
∑
r,seµβNs−βEr
,
onde ˆρ, na sua forma diagonalizada, ´e dado por
ρr,s=
1
ℵ
ℵ
∑
k=1 ak∗
r,sa k r,s.
Feita esta rela¸c˜ao, a conex˜ao entre a estat´ıstica e a termodinˆamica ´e dada pela rela¸c˜ao (2.4), como visto na se¸c˜ao anterior, atrav´es da qual podemos encontrar, entre outros, a press˜ao e a densidade de energia do sistema,
p(µ, V, T) = kT
V q e ρ(µ, V, T) =− 1 V
∂q
∂β. (2.7)
A fun¸c˜ao de parti¸c˜ao macrocanˆonica, Ξ =∑
r,s
pode ser desenvolvida levando em conta as intera¸c˜oes e as caracter´ısticas quˆanticas das part´ıculas. Primeiro notamos que a somat´oria em s, pela qual obtemos todos os poss´ıveis estados de n´umero de part´ıculas, pode ser reescrita como uma somat´oria do n´umero de part´ıculas total do sistema (que pode ter qualquer valor inteiro entre 0 e∞). Ainda mais, se levamos em conta que as part´ıculas n˜ao interagem entre si, e reescrevendo o n´umero total de part´ıculasNsem termos do n´umeroni de part´ıculas
por estado de energia εi, podemos reescrever a energia total do estado Er como
Ns =
∞
∑
i=0
ni e Er=
∞
∑
i=0
niεi, (2.8)
obtendo
Ξ =
∞
∑
Ns=0
∑
{ni}r
˜ W{ni}r
∞
∏
i=0
(
ze−βεi)ni, (2.9)
onde z = eµβ ´e chamado de fugacidade e a somat´oria sobre todos os estados r foi
trocada pela somat´oria sobre o conjunto{ni}r que caracteriza o estador e que est´a
sujeito `a primeira restri¸c˜ao de (2.8). Para que a mudan¸ca na somat´oria esteja correta ´e necess´ario adicionar o termo ˜W{ni}r que indica o n´umero de configura¸c˜oes do
modo de distribui¸c˜ao{ni}r.† A avalia¸c˜ao deste coeficiente depende da natureza das
part´ıculas. Na mecˆancia quˆantica, ao contr´ario da mecˆanica cl´assica, as part´ıculas s˜ao indistingu´ıveis‡ e podem se classificadas em dois grupos, f´ermions e b´osons.
Cada grupo tem suas pr´oprias caracter´ısticas e a part´ıcula ´e classificada de acordo com seu spin (caso seja m´ultiplo inteiro de ~ ´e chamado b´oson, caso contr´ario ´e
dito f´ermion). O f´oton por ter spin inteiro ´e de natureza bosˆonica e, ao contr´ario dos f´ermions, n˜ao segue o princ´ıpio de exclus˜ao de Pauli, que implica que n˜ao h´a restri¸c˜ao do n´umero de part´ıculas por estado. Num sistema bosˆonico (e fermiˆonico) o conjunto de n´umeros{ni}r define por completo um estado do sistema. Isto ´e devido
ao fato da permuta¸c˜ao entre duas part´ıculas em estados diferentes n˜ao gerarem uma nova configura¸c˜ao (caso que no sistema cl´assico n˜ao ´e verdade). Este fato faz com que cada conjunto {ni}r tenha o mesmo peso, por isso fazemos ˜W{ni}= 1.
A dupla somat´oria, uma sobre todos os conjuntos {ni}e sobre o n´umero total de
part´ıculas, ´e an´aloga `a somar sobre cada ni independentemente. Com isto obtemos
Ξ =
∞
∏
i=0
[ ∞ ∑
ni=0
(
ze−βεi)ni
]g
,
†Seguimos a mesma linha de racioc´ınio da se¸c˜ao 2.1, contamos quantas part´ıculas est˜ao em cada
autovalor de energiaεi e caracterizamos o sistema pelo conjunto{ni}.
‡Uma excess˜ao ´e o caso de um s´olido no qual as part´ıculas est˜ao em posi¸c˜oes fixas pois estas
onde g leva em conta os graus internos de liberdade das part´ıculas. Na estat´ıstica de Bose-Einstein, a somat´oria pode ser avaliada caso µ < εi obtendo
Ξ =
∞
∏
i=0
[
1 1−ze−βεi
]g
.
Finalmente, obtemos a fun¸c˜ao de parti¸c˜ao macrocanˆonica
q =−g
∞
∑
i=0 ln(
1−ze−βεi).
O potencial qu´ımico de um g´as de f´otons ´e nulo pois o n´umero de f´otons num volume arbitr´ario ´e indefinido. Isto pode ser visto melhor lembrando que o multi-plicador de Lagrange α em (2.2) surge da segunda restri¸c˜ao (2.1) que nos diz que o n´umero total de part´ıculas ´e conservado. Como este n˜ao ´e o caso para um g´as de f´otons, esta restri¸c˜ao n˜ao ´e mais pertinente
.
O n´umero de graus de liberdade internos do f´oton ´e g = 2 devido `as duas poss´ıveis polariza¸c˜oes. Como a energia do f´oton ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua do momento linear, fazemos a transi¸c˜ao da soma discreta para a integral atrav´es da prescri¸c˜ao
∑
ε →
1
h3
∫
d3xd3p,
q=− 2 (2π)3
∫
ln(
1−e−βε)
d3xd3p,
Resultados e Discuss˜
ao
Obtivemos, nos dois cap´ıtulos anteriores, a rela¸c˜ao de dispers˜ao geral de um f´oton e o potencial macrocanˆonico para um g´as de f´otons. Foi visto tamb´em que dependendo da NLED o f´oton pode ter duas rela¸c˜oes de dispers˜ao que est˜ao associadas `as dire¸c˜oes de polariza¸c˜ao dos f´otons. Este fato requer que o potencial macrocanˆonico seja reescrito de forma adequada para a levar em conta os casos em que h´a duas poss´ıveis rela¸c˜oes de dispers˜ao. Vimos que a forma do potencial para um g´as de f´otons ´e†
q=− 2 (2π)3
∫
ln(
1−e−βε)
d3xd3p,
e lembramos que o fator 2, que foi propositalmente deixado expl´ıcito, provˆem do fato do f´oton ter dois graus de liberdade internos, as duas poss´ıveis dire¸c˜oes de po-lariza¸c˜ao. Pelo fato das ondas eletromagn´eticas poderem ser decompostas em eixos arbitr´arios no plano, podemos interpretar o sistema como a superposi¸c˜ao de dois sis-temas, cada um contendo ondas polarizadas apenas em uma dire¸c˜ao. Isto ´e poss´ıvel pois, na aproxima¸c˜ao usada para derivar a rela¸c˜ao de dispers˜ao [38], a equa¸c˜ao de onda ´e linear e a perturba¸c˜ao s´o interage com o campo externo. Foi observado que o potencial macrocanˆonico ´e extensivo, logo o potencial da superposi¸c˜ao dos sistemas ´e a soma do potencial de cada um. Mas, como foi feita a decomposi¸c˜ao, agora h´a apenas 1 grau de liberdade interno. Com isto temos que o potencial macrocanˆonico total ´e
qT =q++q−,
onde
q± =−
1 (2π)3
∫
ln(
1−e−βε±)
d3xd3p. (3.1) Este resultado tamb´em pode ser obtido modificando a equa¸c˜ao (2.9) para levar em conta duas part´ıculas com carcater´ısticas diferentes e depois reconhˆe-las como
†Neste cap´ıtulo s˜ao usadas as unidades naturais.
sendo f´otons com polariza¸c˜oes diferentes†. A partir desta esqua¸c˜ao, pode ser visto
claramente que no caso em queε+=ε− a express˜ao para o potencial macrocanˆonico
recai na sua forma original.
Como a forma do potencial ´e a mesma para as duas poss´ıveis rela¸c˜oes de dis-pers˜ao basta apenas resolver uma delas. A rela¸c˜ao de disdis-pers˜ao obtida anteriormente independe do tempo, por´em depende do ponto do espa¸co atrav´es do campo eletro-magn´etico de fundo.
Neste cap´ıtulo ser´a obtido o potencial macrocanˆonico para o g´as de f´otons ape-nas no caso em que o campo eletromagn´etico de fundo ´e uniforme. Em seguida, estudaremos as propriedades termodinˆamicas press˜ao e densidades de energia. Uma vez que estas express˜oes devem valer para qualquer NLED, ser˜ao feitos exemplos espec´ıficos usando duas Lagrangianas, a de Born-Infeld, e uma aproxima¸c˜ao de se-gunda ordem de Lagrangianas que s´o dependem do invariante F. Por fim, ser´a feita uma discuss˜ao dos casos eletrost´aticos e magnetost´aticos dos dois exemplos comparando-os com os resultados cl´assicos da EM.
3.1
Propriedades termodinˆ
amicas para o g´
as de f´
otons em
uma NLED arbitr´
aria
Como o campo de fundo ´e uniforme podemos escolher um sistema de coordenadas cartesianas de tal maneira que seu eixoxcoincida com a dire¸c˜ao e sentido do campo el´etrico e o campo magn´etico esteja no plano xy, ou seja,
⃗
E =E1ˆı, ⃗
B =B1ˆı+B2ȷ.ˆ
Neste sistema de coordenadas, podemos reescrever a rela¸c˜ao de dispers˜ao (1.33) deixando-a em uma forma mais simples,
ε±=
y±p3+
√
a±p21+b±p22+c±p23 +e±p1p2
x±
, (3.2)
onde os coeficientes s˜ao dados por
x±= 1 +z±E12, a±=
(
1 +z±E12−z±B22
)
x±,
b±=
(
1−z±B12
)
x±,
c±=x±−x±z±B12−z±B22, e±= 2z±B1B2x±,
y±=z±E1B2.
(3.3)
O fato do campo de fundo ser uniforme tamb´em simplifica a forma de (3.1), pois a rela¸c˜ao de dispers˜ao n˜ao depende mais dos pontos do espa¸co tornando a integral em d3xtrivial. Com isto, juntando (3.1) e (3.2) obtemos,
q± =−
V (2π)3
∫
ln
(
1−e−β
y±p3 +√a±p21+b±p22+c±p23+e±p1p2
x±
)
d3p. (3.4) A resolu¸c˜ao detalhada desta integral ´e feita no apˆendice E, sendo sua solu¸c˜ao dada por
q±=K±V (kT)3, (3.5)
onde
K±=
π2 90
|c±|
(
1−z±B⃗2
)2. (3.6)
Observe que durante o processo de integra¸c˜ao surgem os seguintes v´ınculos ne-cess´arios para que a integral n˜ao divirja,
x± >0 e |y±|<√c±. (3.7)
Com a forma expl´ıcita do potencial podemos encontrar as rela¸c˜oes expl´ıcitas para a press˜ao e densidade de energia do sistema atrav´es das rela¸c˜oes do cap´ıtulo anterior (2.7),
p= (K++K−) (kT)4 e ρ= 3 (K++K−) (kT)4.
Um resultado importante ´e, mesmo que as express˜oes para a press˜ao e a densidade de energia tenham mudado (pois agora dependem da NLED e do campo de fundo), a equa¸c˜ao de estado,
p= ρ 3, ´e independente da NLED e permanece inalterada.
Como foi visto, no caso do EM z± = 0 implicando em K+ = K− = 12π
2
45. Com isto temos que a densidade de energia ´e independente do campo de fundo e dada por
ρEM =
π2 15(kT)
3.2
Lagrangiana de Born-Infeld e Lagrangiana quadr´
atica
Nesta se¸c˜ao ´e feita a aplica¸c˜ao do formalismo geral desenvolvido para o caso de duas Lagrangianas. Por quest˜ao de simplicidade, apenas os caso eletrost´aticos e magnetost´aticos s˜ao resolvidos. Logo em seguida uma compara¸c˜ao dos resultados ´e feita com os do EM.
3.2.1 Lagrangiana de Born-Infeld
A partir da descoberta do el´etron por J. J. Thomson em 1899, v´arios cientistas ten-taram desenvolver modelos que evitassem divergˆencias do campo a curtas distˆancias da part´ıcula. Uma poss´ıvel solu¸c˜ao ´e o uso de uma teoria n˜ao-linear que, em analogia com as transforma¸c˜oes de Lorentz, impusesse um limite superior para a intensidade do campo quando⃗r→0 e que obtivesse os resultados cl´assicos a distˆancias maiores. Uma formula¸c˜ao feita por G. Mie [41] precedeu a formula¸c˜ao de Born e Infeld, por´em esta n˜ao era invariante por transforma¸c˜oes de Lorentz nem por transforma¸c˜oes de calibre como ´e esperado que o eletromagnetismo seja.
A Lagrangiana de Born-Infeld [4] ´e†
LBI =b2
[
1−
√
1− 2F b2 −
G2 b4
]
, (3.8)
onde b‡ ´e o valor m´aximo que o m´odulo do campo el´etrico pode atingir.
As informa¸c˜oes das NLED, como visto anteriormente, est˜ao condensadas no co-eficiente z± que, para esta Lagrangiana, ´e dado por§
zBI =−
1
E2−B2−b2. (3.9)
Como esperado, h´a apenas uma rela¸c˜ao parazpois na eletrodinˆamica de Born-Infeld n˜ao h´a ocorrˆencia de birrefringˆencia.
Caso Eletrost´atico
No caso eletrost´atico os coeficientes (3.3) s˜ao dados por c=x e x= 1 +zBIE12,
†A forma da Lagrangiana varia na literatura pois depende da defini¸c˜ao dos invariantesF eG. ‡Este parˆametro n˜ao est´a associado ao coeficienteb em (3.3).
onde zBI ´e dado por (3.9) com B2 = 0. Com isto, (3.6) ´e dado por
K = 1 2
π2 45
1 +zBIE12
,
K = 1 2
π2 45
(
1 1−E21
b2
)
,
e, consequentemente, a densidade de energia ´e dada por
ρBI(E1, T) =
π2 15
(
1 1− E12
b2
)
(kT)4. (3.10)
Analisando as restri¸c˜oes (3.7) encontramos que E1 < b,
ou seja, a intensidade do campo deve ser sempre menor que o parˆametro b da Lagrangiana (3.8), este resultado concorda com a fun¸c˜ao quebexerce na formula¸c˜ao.
Caso Magnetost´atico
No caso magnetost´atico os coeficientes (3.3) s˜ao dados por†
c= 1−zBIB12. Com isto, (3.6) ´e dado por
K = 1 2
π2 45
|1−zBIB12| (1−zBIB21) 2,
K = 1 2
π2 45
(
B2 1 b2 + 1
)
,
e a densidade de energia ´e dada por ρBI(B1, T) =
π2 15
(
B2 1 b2 + 1
)
(kT)4. (3.11)
Novamente analisamos (3.7) e notamos desta vez que as restri¸c˜oes s˜ao naturalmente satisfeitas, ou seja o campo magn´etico pode assumir qualquer valor.
Devido ao fato da constante b n˜ao ser definida numericamente, analisaremos, posteriormente, o caso de Born-Infeld em termos dos parˆametros adimensionaisE/b e B/b para os casos eletrost´aticos e magnetost´aticos, respectivamente.
†Note que podemos alinhar o campo magn´etico com o eixox, o que equivale a anular a