R e v is ta d a S o c ie d a d e B ra s ile ir a d e M e d ic in a T ro p ic a l 2 2 (2 ): 73-79, A b r-J u n , 19 89.
EPIDEMIOLOGIA D A DOENÇA DE CHAGAS
NOS MUNICÍPIOS DE
CASTELO DO PIAUÍ E PEDRO II, ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL
Dalva Neves da Costa Bento, Marise Freitas e
Artur da Silveira Pinto
O Triatom a brasiliensis, Triatom a pseudomaculata e Rhodnius nasutus f o r a m
c a p tu ra d o s e m e c ó to p o s a rtific ia is e n a tu r a is em d e z lo c a lid a d e s s itu a d a s n a á re a ru ra l d o s m u n ic íp io s d e C a ste lo d o P ia u í e P e d ro I I , E s ta d o d o P ia u í, B r a s il. O e stá d io d e n in fa f o i p r e d o m in a n te e a s a v e s fo r a m a p r in c ip a l f o n te a lim e n ta r d o s tria to m ín e o s. O ú n ic o tr ia to m ín e o c a p tu r a d o n o in te r io r d o s d o m ic ílio s in v e s tig a d o s f o i o T. brasiliensis q u e a lb e r g a v a fla g e la d o s m o rfo e b io lo g ic a m e n te in d is tin g u ív e is d o Trypanosom a (Schizotrypanum) cruzi. A so ro lo g ia e sp e c ífic a c o n tr a o T. cruzip o r im u n o flu o re sc ê n c ia in d ire ta ( I F I ) re v e lo u 2 1 ,7 % d e p o s itiv id a d e e n tr e 5 6 6 h a b ita n te s e x a m in a d o s . O s re su lta d o s su g e re m q u e n e s s a s lo c a lid a d e s o co rre a tr a n s m is s ã o a tiv a d a d o e n ç a d e C ha g a s.
Palavras-chaves: D oença de Chagas. Epidemiologia. Triatomíneos. Inquérito Sorológico.
A doença de Chagas permanece como sério problema de saúde pública no Brasil. O conhecimento acumulado e a tecnologia disponível permitem o controle racional e eficaz de sua transmissão?, uma vez que a existência da infecção chagásica humana depende essencialmente da presença de triatomí neos14. N o Estado de São Paulo, Brasil, a desinse- tização dos domicílios e seus anexos levou ao controle
do T r ia to m a in fe s ta n s e a redução da reatividade
sorológica contra o T r y p a n o s o m a c r u z i na população, particularmente, na faixa etária mais jovem l3.
Com o objetivo de trazer subsídios adicionais à epidemiologia, da doença de Chagas, onde eles são escassos, e dessa maneira contribuir para futuras campanhas contra a doença, foi feito um estudo das espécies de triatomíneos em ecótopos artificiais e naturais, sua infecção por flagelados semelhantes ao
T. , c ru zi, a identificação da fonte alimentar, bem
como um inquérito sorológico para o T. c r u z i na
população, em dez localidades situadas na área rural dos municípios de Castelo do Piauí e Pedro II, E stado do Piauí, Brasil.
Departamento de Biologia, CCN, Fundação Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil e Departamento de Micrpbiologia, ICB, Universidade Federal de Minas Gerais, MG, Brasil.
Trabalho financiado pela FINEP e CNPq.
Endereço para correspodênria: Dr. Artur da Silveira Pinto -ICB/UFM G Caixa Postal: 2486 - 31270 Belo Horizonte, MG.
Recebido para publicação em 26/12/88.
M A T E R IA L E M ÉTO D O S
Á re a d e e stu d o
O presente estudo foi realizado entre os anos de 1984 e 1985, nas localidades de Olho d’Agua Grande, Bom Jardim, Poty, Juazeiro, N ova Olinda, Tucuns, Lagoa, Retiro, Sossego e Queimados, situadas na área rural dos municípios de Pedro II e Castelo do Piauí, Estado do Piauí, Brasil (Figura 1).
B e n t o D N C , F r e i t a s M , P i n t o A S . E p i d e m i o l o g i a d a D o e n ç a d e C h a g a s n o s M u n i c í p i o s d e C a s t e l o d o P i a u í e P e d r o I I , E s t a d o d o P i a u í , B r a s i l R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 2 : 7 3 - 7 9 , A b r - J u n , 1 9 8 9
Quando esse estudo foi executado, as locali dades estudadas não estavam sendo objeto de cam panha governamental de desinsetização contra tria- tomíneos. Contudo, até 1982 havia sido feito perio dicamente o combate ao mosquito transmissor da m alária na região.
A presença de triatomíneos foi investigada em 111 casas selecionadas ao acaso ao longo das vias de acesso (estradas de terra e trilhas) e seus anexos (galinheiros, currais, muros de pedra, cercas e entulhos diversos), duas escolas rurais, uma capela, bem como em área silvestre (locas no solo, ninhos de pássaros e palmeiras). N o laboratório os insetos foram classi ficados quanto à espécie, sexo e estádio evolutivo. Em seguida foram examinados quanto à infecção por flagelados semelhantes ao T . c r u z i pelo exame a fresco
do conteúdo intestinal, usando a técnica da com pressão abdominal e dissecção. O conteúdo intestinal de um a amostragem de triatomíneos foi coletado em papel de filtro (W hatm an, n.° 1), secado à sombra, acondicionado em saco plástico e preservado a 4°C. Posteriormente, o material foi enviado ao Gorgas Laboratory (W H O , Panam á), onde foram realizados os testes de identificação da fonte alimentar pela técnica da precipitina. Grupos de três camundongos jovens foram inoculados intraperitonealmente com flagelados provenientes dos triatomíneos encontrados infectados. Os camundongos foram posteriormente examinados quanto à possível parasitemia, pelo exame a fresco do sangue e xenodiagnóstico, onde
foram usadas ninfas de 3-4° estádio do T r i a t o m a
b r a s i l i e n s i s , R h o d n i u s p r o l i x u s e 1.° estádio do D i p e t a l o g a s t e r m a x i m u s . Cerca de dez insetos foram
alimentados em cada camundongo e 25-30 dias mais tarde suas fezes foram examinadas microscopica mente.
C a p t u r a e e x a m e d e m a m í f e r o s s i l v e s t r e s
Com esta finalidade foram empregadas arma
dilhas confeccionadas pelos habitantes da região e armadas aleatoriamente em áreas silvestres. Os quirópteros foram capturados em grutas usando-se rede de mão. Os animais capturados foram estudados
quanto à infecção por flagelados semelhantes ao T .
c r u z i através do exame a fresco do sangue e pelo
xenodiagnóstico. Os flagelados provenientes dos triatomíneos que apresentaram xenodiagnóstico po sitivo, foram inoculados intraperitonealmente em grupos de três camundongos jovens que, posterior mente foram examinados quanto à possível parasi temia pelo exame a fresco do sangue e xenodiagnós tico.
S o r o l o g i a c o n t r a o T. cruzi n a p o p u l a ç ã o
Finalmente, foram coletadas amostras de san gue em 566 pessoas residentes nas localidades inves tigadas. As amostras de sangue foram coletadas apenas a partir de pessoas que residiam nas 111 casas investigadas quanto à presença de triatomíneos. As amostras foram obtidas em papel de filtro (W hatman n? 1) após punção digital, secadas à sombra, acon dicionadas em sacos plásticos e preservadas a 4°C. O material foi posteriormente enviado ao Instituto René Rachou-FIOCRUZ-Belo Horizonte, M G , onde fo ram realizados testes sorológicos por imunofluores- cència indireta (IF I) contra o T. ( S . ) c r u z i.
R ESU LTA D O S
N o presente estudo foram capturados 2.212 triatomíneos pertencentes às espécies T r i a t o m a b r a s i l i e n s i s (48,7% ), T r i a t o m a p s e u d o m a c u l a t a
(46,8% ) e R h o d n i u s n a s u t u s (4,5% ), predominan
temente no estádio de ninfa (86,6% ). A distribuição das espécies, por local de captura e estádio evolutivo, está m ostrada na Tabela 1. 0 7! b r a s i l i e n s i s e o T .
Captura A* N** x*** A N T A N T A N T %
Ecótopos artificiais
Intradomiciliar 32 15 47 32 15 47 2,1
Peridomiciliar
Galinheiros 107 567 674 104 876 980 4 4 211 1447 1658 75,0
Currais 5 55 60 7 7 14 - - - 12 62 74 3,3
Pombais - 3 3 _ - - - - _ - 3 3 0,1
Muros de pedra - 260 260 - - - 260 260 11,8
M ontes de telhas - 3 3 14 8 22 - - - 14 11 25 1,1
Escolas rurais 3 6 9 1 6 7 - - - 4 12 16 0,7
B e n to D N C , F r e ita s M , P in to A S . E p id e m io lo g ia d a D o e n ç a d e C h a g a s n o s M u n ic íp io s d e C a ste lo d o P ia u í e P e d ro II, E s ta d o do P ia uí, B ra s iL R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a sile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 22: 73-79, A b r-J u n , 1 9 8 9
Tabela 1 - (continuação)
Local
Captura Triatomíneos capturados
T. bra siliensis T. p se u d o m a c u la ta R nasutus Total
A* N ** T*** A N T A N T A N T %
Ecótopos naturais
Loca no solo 4 4 4 4 0,2
Ninhos de pássaros - - - 2 10 12 - 12 12 2 22 24 1,1
Palmeiras Babaçu (Orbygnia
martiana) 9 53 62 9 53 62 2,8
Buriti (M a uric ia
vinifera) _ _ _ 3 14 17 3 14 17 0,8
Tucum (Astrocaryum
sp.) - - - - - 2 2 4 2 2 4 0,2
Total 150 928 1078 128 907 1035 14 85 99 292 1920 2212 100%
♦Adultos ••Ninfas •••T otais
p s e u d o m a c u la ta foram coletados predominante
mente em galinheiros, onde também foram encon trados exemplares de R n a s u tu s no estádio de ninfa. O
T. b ra silie n sis foi a única espécie encontrada no
interior dos domicílios investigados. Já oi?, n a su tu s,
capturado em maior número em palmeiras localizadas em área silvestre, foi também encontrado em ninhos de
pássaros. N este último ecótopo foi também coletado o T. p s e u d o m a c u la ta . Quatro ninfas do T. b ra silie n sis foram capturadas em loca no solo.
Os dados sobre os índices de infecção dos
triatomíneos por flagelados semelhantes ao T. cru zi,
por espécie e local de captura, estão mostrados na Tabela 2. D e um total de 1.806 exemplares
exami-Tabela 2 - Infecção por flagelados semelhantes ao T. ( S .) c r u z i em triatomíneos coletados em 10 localidades dos
municípios de Castelo do Piauí e Pedro II, Estado do Piaui, Brasil (1984-1985).
Espécie
Local de captura
Domicilio Peridomicílio Silvestre Total
E* p»* % E P % E P % E P %
T ria to m a brasiliensis 40 3 7,5 841 3 0,4 1 - - 882 6 0.7
T riatom a pse u do m a c ulata - - - 833 - - 11 - - 844 -
-R ho d n iu s nasutus - - - 2 - - 78 1 1.3 80 1 1.3
Total 40 3 7,5 1676 3 0.2 90 1 1.1 1806 7 0.4
•Exam inados ••Positivos
nados, oito (0,4% ) estavam infectados, assim distri buídos: 7,5% dos T. b r a silie n sis coletados no interior dos domicílios, 0,4% dos T. b r a s ilie n s is coletados nos peridomicilios e 1,3% dos R n a s u tu s coletados em
áreas silvestres. Os flagelados provenientes dos T.
b ra silie n sis coletados no interior dos domicílios e do
R n a s u tu s originário de palmeira foram capazes de
produzir parasitemia detectável nos camundongos jovens inoculados, o que não ocorreu com os flage
lados provenientes dos T. b ra silie n sis capturados nos
peridomicilios.
B e n to D N C , F r e ita s M , P in to A S . E p id e m io lo g ia d a D o e n ç a d e C h a g a s n o s M u n ic íp io s d e C a ste lo d o P ia u í e P e d ro II, E s ta d o do P ia u í, B r a s i l R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a sile ir a d e M e d ic in a T ro p ic a l 22: 73-79, A b r-J u n , 1 9 8 9
Tabela 3 - Fonte alimentar de triatomfneos, coletados em localidades dos municípios de Castelo do Piauí e Pedro II, Estado do Piauí, Brasil, identificada pela reação de precipitina
(1984-1985)-F onte alimentar
Mamíferos Aves Outras
Espécie e
Locais de J ^
* 1
Captura ^
C a n id a e
í Su
id a e B o vi d a e C a vi d a e D es m o d iã a e L e p o ri d a e M a m m a li a P h a si a n id a e A v ia A rd id a e P a ss er if o rm es P si tt a ci d a e C o lu m b id a e A n a ti d a e A m p h ib ia 1
T. brasilíensis
Intradomicílio 1 6 2 - - - - 6 - - - 15
Peridomicílio 1 — - 49 32 - 1 1 - 398 39 - 2 1 1 - 1 526
Á rea silvestre - - 1 1
T. pse u d om a c u la ta
Peridomicílio - - 1 - - 1 594 38 1 - 1 - 1 1 638
R. nasutus
Á rea silvestre - - - - - - - 2 - - - 2
Total 2 6 2 49 33 1 1 1 1 998 79 1 2 2 1 1 2 1182
N as áreas silvestres das localidades estudadas marsupial ( D id e lp h is a lb iv e n tr is), oito quirópteros
foram capturados 63 mamíferos, pertencentes a 18 ( P h y llo s to m u s h a s ta tu s e P h y llo s to m u s d isc o lo r) e
espécies. D esses animais, 11 estavam infectados por um roedor ( B o lo m y s la s iu r u s ). Os flagelados oriundos
flagelados morfologicamentes semelhantes ao T. c r u z i dos quirópteros não produziram parasitemia detec
(Tabela 4): um edentado ( E u p h a c tu s se x c in tu s), um tável nos camundongos jovens inoculados.
Tabela 4 - M amíferos capturados em áreas silvestres em. 10 localidades dos municípios de Castelo do Piauí e
Pedro II, Estado do Piauí, sua infecção por tripanossomas semelhantes ao T r y p a n o s o m a ( S c h iz o
-tr y p a n u m ) c r u z i e sua capacidade de produzir parasitem ia detectável em camundongos jovens
(1984-1985).
N? Parasitem ia
Espécie captu detectável em
rados camundogos jovens
Carnivoros
C erd o c y o n th o u s 1 _ —
F e lis y a g u a r o u n d i 1
__
__
Edentado
D a s y p u s n o v e m c in c tu s 1 -
-E u p h a c tu s s e x c in c tu s 2 1 1
T a m a n d u a te tra d a c ty la 3 -
-Marsupiais
C o n e p a tu s s e m is tr ia tu s 3 -
-D id e lp h is a lb iv e n tris 2 1 1
M a r m o s a sp. 1 — _
Quirópteros
M ic ro n y c te ris m in tu a 10 -
-P h y llo s to m u s h a s ta tu s 1 1
P h y llo s to m u s d is c o lo r 10 7
Roedores
B o lo m y s la s iu r u s 2 1 1
C a lo m y s la u c h a 3 — _
D a s y p r o c ta sp. 1 _ _
G a la e s p ix ii 12 -
-K e re d o n ru p re stis 1 - - ■
T r ic h o m y s a p o re o id e s 2 _ _
W e id o m y s p y r r h o r h y n u s 4
B e n to D N C , F r e ita s M , P in to A S . E p id e m io lo g ia d a D o e n ç a d e C h a g a s n o s M u n ic íp io s d e C a ste lo d o P ia u í e P e d ro II, E s ta d o d o P ia u í, B r a s i l R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a sile ira d e M e d ic in a T r o p ic a l 22: 73-79, A b r -J u n , 1 9 8 9
A sorologia específica para o T. c r n z i por imunofluorescència indireta (IF I), em 566 habitantes das 111 casas investigadas, mostrou uma reatividade global de 21,7% . N a Tabela 5 está assinalada a distribuição das freqüências de reatividade em relação a idade e sexo.
D ISC U SSÃ O
As espécies de triatomíneos capturadas no presente trabalho são as mesmas encontradas por Deane & Deane6, em região geograficamente seme lhante, no noroeste do Ceará. O T. b r a silie n sis, a única espécie capturada no interior dos domidlios, é
considerado principal transmissor da doença de
Chagas no Piauí, onde coexiste com o T. p s e u d o m a
-c u la ta na mesma unidade domiciliar, predominando,
contudo, no interior dos domicílios4. É importante assinalar que os exemplares do T. b r a silie n sis cap turados intradomiciliarmente apresentam 7,5% de
infecção por tripanossomas semelhantes ao T. cru zi,
contra 0,4% daqueles capturados nos peridomicílios, justificando assim a alta prevalência de sorologias positivas observadas nos grupos etários mais jovens e
confirmando a importância do T. b r a silie n sis como o
principal transmissor da doença de Chagas na região.
E provável que o baixo grau de domiciliação do T.
b r a silie n sis encontrado seja devido à ação residual do
Tabela 5 - Reatividade para o T r y p a n o s o m a c r u z i por imunofluorescència indireta (IF I) de acordo com a faixa
etária e sexo em 566 pessoas de 10 localidades dos municípios de Castelo do Piauí e Pedro II, Estado do Piauí, Brasil (1884-1885).
Faixa etária
Sexo masculino Sexo feminino Total
NP de
testes N.° de
reativos
% N.° de testes
reativos %
N .° d e
testes reativos %
0-10 110 15 22,7 89 19 21,3 199 34 22,1
11-20 81 10 12,3 81 15 18,5 162 25 15,4
21-30 16 2 12,8 41 12 29,2 57 14 24,5
31-40 18 6 33,3 34 9 26,4 52 15 28,8
41-50 16 3 18,7 26 9 34,6 42 12 28,5
51-60 6 2 33,3 11 8 27,2 17 10 29,4
61-70 9 3 33,3 14 5 37,7 23 8 34,7
71-80 5 3 60,0 7 2 28,5 12 5 41,6
81-90 - - - 2 - - 2 -
-Total 261 44 16,9 305 79 25,9 566 123 21,7
inseticida empregado periodicamente até 1982 no combate preventivo ao mosquito transmissor da ma lária. É importante assinalar que o T. in fe s ia n s foi detectado em anos recentes nos municípios de Cara col, Avelino Lopes, Curimatá e Anísio de Abreu no sul do Piauí e que este triatomlneo prevalece na competição com o T. b r a s ilie n s is deslocando-o dos domicílios15.
É provável que o cão esteja envolvido na
manutenção do ciclo doméstico do T. c riizi nas
localidades estudadas, uma vez que foi identificado como fonte alimentar do T. b r a s ilie n s is intradomici- liário. O envolvimento de animais domésticos, na
transmissão doméstica do T. cru zi, tem sido ampla
mente constatada na América Latina1^.
Estudos posteriores são necessários para se avaliar os mecanismos de transmissão da infecção chagásica nestas áreas.
N o presente estudo, o T. b r a s ilie n s is e o T.
v s e u d o m a c u la ta foram capturados predominante
mente nos peridomicílios, no estádio de ninfa, indi cando a colonização ativa desses locais. Por outro lado, a alimentação em aves pode explicar o baixo índice de infecção dos triatomíneos por flagelados semelhantes ao T. c r u z i nesses locais.
D e m aneira análoga à verificada por W isni- vesky-Colli e colaboradores1^, na zona rural da província de Santiago dei Estero, Argentina, os ani mais silvestres peridomiciliários aparentemente não estão envolvidos na manutenção do ciclo doméstico do
T. c r u z i nessas localidades, pois não foram identi
ficados como fonte alimentar de triatomíneos nas unidades domiciliares investigadas.
O R . n a su tu s, um a espécie restrita ao Nordeste
árido do Brasil9, parece ter nas palmeiras seu ecótopo
preferencial no PiauP Adicionalmente, esse
triatomíneo parece desempenhar um papel importante na manutenção do ciclo silvestre do T. c r u z i nessa região, uma vez que palmeiras tais como o babaçufO.
(4s-B e n to D N C , F r e ita s M , P in to A S . E p id e m io lo g ia d a D o e n ç a d e C h a g a s n o s M u n ic íp io s d e C a ste lo d o P ia u í e P e d ro II , E s ta d o d o P ia u í, B r a s i l R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T ro p ic a l 22: 73-79, A b r-J u n , 1 9 8 9
tr o c a ry u m sp.) são de larga distribuição nesse Estado.
Por outro lado, como verificado no presente estudo, Deane & Deane6 já haviam chamado a atenção para a
presença do R . n a s u tu s em galinheiros no noroeste do
Ceará, aliado ao fato do R h o d n iu s neg lectus, um triatomíneo de comportamento semelhante, foi en contrado colonizando dom idlios em Goiás8. Para D ias e colaboradores?, espécies de triatomíneos que não apresentam importância epidemiológica, mas que
in v a d e m esporadicamente as unidades domiciliares,
devem merecer alguma vigilância, uma vez que drás ticas mudanças ambientais podem levar ao risco da colonização.
Os mamíferos silvestres encontrados infectados
por tripanossomas semelhantes ao T. cruz, no presente
estudo, já foram descritos como reservatórios do T.
c r u z i em outras regiões^. N o Piauí, os morcegos são
freqüentemente encontrados infectados por tripa-
nosomas semelhantes ao T. cru zi, porém não infec-
tivos para animais de laboratório11. A posição siste m ática desses tripanosomas permanece em discussão, porém, devem ser considerados potencialmente in- fectivos para o homem5.
A prevalência da reatividade sorológica para
o T. c r u z i na população das localidades estudadas foi
compatível com as encontradas em áreas onde ocorria ou ocorre a transmissão ativa da doença de Chagas17. Chama a atenção a alta reatividade detectada na população jovem, uma vez que a redução do número de testes positivos nos grupos jovens é um in dicador da eficácia das medidas profiláticas apli cadas 13.
N o presente estudo verificou-se que ocorre a transmissão ativa da doença de Chagas nas locali dades estudadas o que confirma que esta doença permanece como sério problema de saúde pública no Brasil, particularmente no Piauí.
SUM M ARY
Triatoma brasiliensis, Triatom a pseudoma- culata a n d Rhodnius nasutus w ere c a p tu re d in a r ti f i c i a l a n d n a tu r a l ec o to pe s in ten lo c a litie s s iu a te d in r u ra l a re a s o f C a ste lo d o P ia u í a n d P e d ro I I , S ta te o f P ia u i, B ra zil.
N y m p h a l in sta rs p r e d o m in a te d a n d b ird s w ere th e m a in b lo o d m e a l so u rc e f o r tr ia to m in e s. T. brasiliensis w a s th e o n ly tr ia to m in e c a p tu re d in sid e th e h o u se s search ed, h a rb o u rin g fla g e lla te s m o rd -p h o lo g ic a lly a n d b io lo g ic a lly in d is tin g u is h a b le f r o m
Trypanosoma (Schizotrypanum) cruzi. S p e c ific se
rolog y a g a in st T. cruzi b y in d ire c t im m u n o flu o re sc e n c e ( I F I ) te st s h o w e d 2 1 .7 % p o s itiv e re a c tio n s a m o n g 5 6 6 in h a b ita n ts e x a m in e d . T h e re su lts su g g e st th a t in th e se lo c a litie s th e a c tiv e tr a n s m is s io n o f C h a g a s ’ d ise a se occurs.
K e y -w o rd s: C h a g a s ’ disea se. E p id e m io lo g y . T ria to m in e s. S ero lo g y.
A G R A D E C IM E N T O S
Os autores são gratos a Dra. Liléia Diotaiuti pelas sugestões durante a realização deste trabalho e pela revisão do texto.
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