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Coisas Velhas: um percurso de investigação sobre cultura escolar (1928-1958)

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Academic year: 2017

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EDUCAÇÃO: Teoria e Prática - vol. 8, nº 14, jan.-jun.-2000 e nº 15, jul.-dez.-2000, p. 54-55 O livro Coisas velhas: um percurso de investigação

sobre cultura escolar (1928-1958).S.P.: Editora da

UNESP, 2000; de Marilena A. Jorge Guedes de Camargo; é um percurso de uma profissional que enfrentou, como tese de outorado, o desafio de mergulhar em um passado que se cruzava afetivamente com sua própria história de vida, história de profissional da educação e história de pesquisadora.

Marilena reuniu coisas velhas que se apresentavam como registros das práticas escolares do Instituto “Joaquim Ribeiro”, nas décadas de 1930, 1940 e 1950. Os álbuns de memória, os velhos jornais escolares, os livros, os termos de visita, os cadernos, as fotografias, os bordados, os desenhos e as pinturas; foram recuperados como suportes de sua pesquisa de doutorado.

As coisas velhas serviram também como fragmentos impregnados de sua própria história de vida como aluna do curso Normal no Instituto de Educação “Joaquim Ribeiro”, nos anos de 1953 a 1956.

Depois de formada, fez em 1957 o curso de Aperfeiçoamento ainda no Instituto de Educação Joaquim Ribeiro e foi trabalhar como professora em escolas rurais, classes emergentes, classes multisseriadas, na Fazenda em Cordeirópolis, Rinópolis, Garça, Ajapi, Rio Claro...

Assumiu classes de vários formatos, em vários municípios, no campo e na cidade, até chegar a acumular pontos para ingressar num Grupo Escolar, com classes formadas, séries definidas, localização central.

Como professora comissionada do Estado cursou Pedagogia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro, durante os anos de 1960 a 1963.

Em 1971 assume aulas no curso de Formação para o Magistério do Colégio “Puríssimo” e no Seminário “Claret” de Rio Claro.

De 1974 a 1984, aulas na Instituto Salesino “D. Bosco”, em Americana, na Faculdade de Serviço Social e na Universidade Metodista de Piracicaba.

Em 1989 ingressa como professora do Departamento

de Educação do Instituto de Biociências da UNESP de Rio Claro.

O trabalho zeloso de Marilena com as coisas velhas trouxe de volta o movimento das práticas pedagógicas do Instituto “Joaquim Ribeiro”, nas décadas de 1930,1940 e 1950 e reuniu o disperso num acervo particular: livros, revistas, fotografias, diários, jornais, cadernos, registros institucionais.

As coisas velhas da escola trouxeram de volta o exercício da docência, as práticas pedagógicas, a aluna, a estagiária, a professora, a pesquisadora, a cidadã que se encontrava aprisionada, guardada, adormecida nos retalhos, nos fragmentos, nas lembranças que reconstroem a história.

O projeto de pesquisa de doutorado na Universidade de São Paulo (USP) foi o pretexto que mobilizou Marilena a buscar o disperso, o fragmentado e o híbrido como suporte de descrição análise e interpretação da realidade, resgatando a trajetória de vida de uma educadora, atenta para o olhar peculiar que a história das práticas culturais possibilita enquanto argamassa que junta, reuni, re-significa, através de pedaços, vestígios, indícios.

O esquecimento definitivo que assombra as coisas velhas dispersas nas gavetas, nas prateleiras, nos gestos que constituíram lugares-memória de histórias pessoais, trajetória de uma educadora, ganham novas cores no tratamento que Marilena confere a essas coisas, quase ícones mas mãos da autora.

Ela diz: “fiquei especialmente atraída pelas coisas velhas... pois nelas também a minha história pessoal estava, de alguma forma inscrita” (11).

Marilena investe no campo da história cultural das práticas escolares, transita pelo espaço da memória dela e de todos que foram dela cúmplices, esquadrinhando os dispositivos escolares de transmissão de saberes e de moldagem dos afetos e das inteligências.

É possível trabalhar com livros, revistas, fotografias, diários, jornais, cadernos, registros institucionais e pessoais como dispositivos exteriores, impessoais. Marilena

olhou-Resenha: Coisas Velhas: um percurso de investigação

sobre cultura escolar (1928-1958)

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EDUCAÇÃO: Teoria e Prática - vol. 8, nº 14, jan.-jun.-2000 e nº 15, jul.-dez.-2000, p. 54-55 55 os como suportes mas os re-significou lendo neles resíduos

de itinerários múltiplos, individuais e coletivos.

Viu nas coisas velhas eles: alunos, professores, práticas escolares. Viu nas coisas velhas ela própria: aluna, professora, pesquisadora.

Todos produzindo sensibilidades, disciplinando maneiras, aguçando e embaçando inteligências. Um refinado trabalho de reconstrução da história cultural de práticas escolares.

A Marilena, professora do departamento de educação, é muito parecida com o trabalho por ela tecido nesse livro. Ela é um concentrado de experiências, histórias, memória, trabalho, que se projeta num espaço cultural desenhado pela cidade de Rio Claro, pela escola pública, pela família, pela igreja, pelo partido político, pela universidade ... articulando resíduos, juntando pedaços, definindo vínculos concretos de relacionamento e simbólicos de sentimentos.

As práticas culturais e escolares tomadas como suportes possibilitaram a expressão singular de sujeitos e instituições. Essa é uma leitura possível do livro de Marilena.

Débora Mazza é professora doutora, da Área de Sociologia, do Departamento de Educação do Instituto de Biociências, da UNESP - Campus de Rio Claro.

Correspondência: Instituto de Biociências Departamento de Educação

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