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A produção tecnológica e a interface com a enfermagem.

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Academic year: 2017

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PESQU I SA

A PRODUÇÃO TECNOLÓGICA E A INTERFACE COM A ENFERMAGEM

THE TECHNOLOGIC PROOUCTION AN O THE NURSING INTERFACE

LA PROOUCCIÓN TECN OLÓGICA Y LA INTERFAZ CON LA ENFERMERíA

Isabel Amélia Costa Mendes1 Joséte Luzia Leite2 Maria Auxil iadora Trevizan3 Maria Cristin a Soares Figueiredo Trezza4 Regi n a Maria dos Santos5

RES U M O : Estudo descritivo q u e tem como objeto as i nterfaces da prod ução tecnológica com a enfermagem e como objetivos analisar a i nterface da produção tecnológica da enfermagem com a prod ução de tecnologia e discutir esta prod ução nas dimensões instrucional, i n strumental e da i nformática . Para desenvolver o trabalho tomamos como material os resumos dos trabalhos apresentados nos três últi mos Congressos Brasileiros de E nfermagem -1 998, 1 999 e 2000, considerando como limitação a subjetividade implícita em qualquer trabalho de análise de resumos, pois pode não haver correspondência entre o nosso entendimento e a idéia de fato defendida pelo autor. O desenvolvimento do estudo mostrou que a Enfermagem , mesmo que ainda de forma incipiente , vem prod uzindo elementos constitutivos de produção tecnológica, no cotidiano do seu trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem, tecnologia, produção tecnológica

ABSTRACT: This is a d escri ptive study which subject concerns the i nterfaces of tech nolog ical production with nursing. Its objectives is to analyse the i nteface of tech nological prod uction with nursing and to discuss that prod uction on the following d i mensions: i nstructional, i n stru mental and i nformatic. To develop this the summaries of the papers presented during the last three editions of the Congresso Brasileiro de Enfermagem - 1 998, 1 999 and 2000 were used as a sou rce of information. The inherent subjectivity of a study of summaries was considered a limitation, since it is possible that a miscomprehension between our understanding and the real idea of the author occu r. This study showed that N u rs i n g , even i n an i ncipient manner, has been prod ucing constitutive components of the tech nolog ical productio n , on its daily work.

KEYWO RDS: N u rsing , tech nology, tech nolog ical prod uction

RES U M E N : Estudio d escri ptivo , cuya materia son las i nterfaces de la producción tecnológ ica con la enfermeria y tiene como objetivos analizar la i nterfaz de la producción tecnológ ica de la enfermeria con la producción de tecnolog ia y discutir esta producción en los ámbitos i n struccional , instru mental y de la i nformática. Para desarrollar el tra bajo hemos tomado como material los resúmenes de los tra bajos presentados en los tres ú ltimos Congresos Brasilenos de Enfermeria -1 998, 1 999 Y 2000 , considerando como l i m itación la subjetividad impl ícita en cualquier tra bajo d e análisis de resúmenes, ya que puede no haber correspondencia entre n uestra forma de entenderlo y la idea de hecho defendida por el autor. EI desarrollo dei estudio muestra que la E nfermeria , aunque de forma incipiente a ú n , está prod uciendo elementos constitutivos de prod ucción tecnológ ica , e n lo cotidiano d e su trabajo.

PALAB RAS CLAVE: enfermeria, tecnolog ia, prod ucción tecnológica

Recebido em 1 0/06/2002 Aprovado em 20/1 2/2002

1 Doutora em Enfermagem. Professora Titular do Depto. Enf. Fund. EERP/US P. Representante da área de Enfermagem CAlMS/CNPq .

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2 Doutora em Enfermagem. Professora Titular EEAP/U N I RIO. Membro do Nuphebras/EEAN/U FRJ . 3 Doutora e m Enfermagem. Professora Titular d o Depto. Enf. Fundamental d a EERP/US P.

4 Doutora em Enfermagem. Professora Adjunto IV Depto Enf/U FAL. Membro do N upegepen/EEAN/U FRJ . 5 Doutora em Enfermagem. Professora Adjunto IV Dep. Enf/U FAL. Membro do N uphebras/EEAN/U FRJ .

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MENDES, I . A. C.; LEITE, J . L.; TREVIZAN , M . A.; TREZZA, M. C. S. . ; SANTOS, R. M . dos

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Este trabalho tem como objeto as i nterfaces da prod ução tecnológica com a e nfermagem e seus objetivos são a n a l i s a r a i n te rfa ce da p rod u ç ã o tecn o l ó g ica d a enfermagem com a produção d e tecnologia bem como discutir a prod ução tecnológica da e nfermagem nas d i mensões instrucion a l , instru mental e de i nformática .

Procuramos visual izar este objeto na perspectiva do trabalho da enfermagem enquanto uma prática social, tal como con s i d e ra S a n tos6, " u m tra b a l h o d e d i ferentes organizações a depender dos d iferentes espaços sociais (i nstitucionais) onde se desenvolve" (SANTOS; TREZZA; DOM I N GOS et aI . , 200 1 , p . 1 1 ) . Consideramos a perti nência do objeto ao entender a E nfermagem como uma d isci plina no campo da ciência da saúde e como tal possuidora de um corpo próprio de conhecimento , em continua construção, a l i mentado p e l a pesq u i s a , rep rod u z i d o p e l o e n s i n o e oxigenado pela criatividade das enfermei ras, auxi liares e técnicos de enfermagem.

Acred itamos q ue a a bo rdagem desta temática , i nstigante por natureza , possibil it� visualizar o fato de que a enfermagem vem prod uzi ndo tecnologicamente, tanto em d i reção a atender às n ecessidades dos clientes como a faci l itar o trabalho da equipe de enfermagem ou até mesmo a red uzir seus custos para as i n stitu ições. Dai porq ue nos detivemos a analisar as i nterfaces da enfermagem com a tecn olog i a sob d o i s aspecto s : o p ri m e i ro q u a n d o nos colocamos como prod utores d e tecnolog i a e o seg undo quando somos consumidores d e tecnolog i a .

P o r outro l a d o , este trabalho foi tomado como mais uma oportu n idade para desmistificar a expressão "produção tecnológica", propondo entendê-Ia como "o trabalho que se traduz como uma ação i ntencional sobre a rea l idade a fi m de produzir bens/produtos que podem consistir em materiais pal páveis, mas ta mbém em bens e produtos simbólicos" (MERHY citado por TRENTI N I ; G O N ÇALVES, 1 996, p . 92 ) . Tal consideração permite entender a dimensão da produção tecnológica da enfermagem e encontrar atifícios tecnológicos no d i a a d i a do seu tra b a l h o , t a n to e m s u a n atu reza assistencial como na educativa e mesmo na administrativa . Por fim , este trabalho pode ser compreendido como uma oportu nidade de tecer algumas considerações sobre a prod u ção tec n o l ó g i ca d a enferm a g e m n a perspectiva ide ntificada por Leite e M e n d e s (200 1 , p . 8 1 ) , q u a n d o d i scutiram " a s temáticas dos p rojetos d a e nfe rmagem encamin hadas a uma agência de fomento", como uma área onde a enfermagem tem m uito a real izar.

Não obstante, nesta a n á l ise, nos encam i n h a mos para uma visão ampliada do que seja tecnologia, no sentido proposto por Merhy (citado por T R E N TI N I ; G O N ÇALVES, 2000, p.63), considerando a idéia de não confundir tecnologia com equi pamento tecnológico, pois, para os autores,

este ú l t i m o se confi g u ra como e x p re s s ã o d e u m a tecnologia a qual s e caracteriza como o saber q u e levou à construção do tal equipamento. ( . . . ) No entanto, na área da s a ú d e , o tra b a l h o n ã o p o d e t e r u n i c a m e nte a

i ntencional idade d e prod ução de equi pamentos e de saberes estruturados, pois a dimensão humana requer tecnologias de relações subjetivas que mu itas vezes fogem dos saberes tecnológicos estruturados, sendo n esta área onde su pomos existi r, como em outras á reas, m uito d a produção tecnológica da enfermagem.

A tal pensamento conj ugamos as idéias de Nietsche e Leopardi que afirmam não entender tecnologia de uma forma simpl ista, mas incluindo nesta concepção "os processos concretiza dos a part i r d a experiência coti d i a n a para o desenvolvimento de um conju nto de atividades produzidas e controladas pelos seres humanos" ( N I ETSC H E ; LEOPARDI 2000, p . 1 29 )

Ass i m é q u e i ntentamos traçar comentários sobre a produção tecnológ i ca da enfermagem, de forma a tornar vis ível o que é con hecido como produção da enfermagem bem como discuti r as condições que levam os trabalhadores da enfermagem a propor artifícios que lhes permitam melhor executar suas atividades, quer sejam artifícios instrumentais, instruci onais ou d e informática .

Para desenvolver essas idéias, optamos por u m trabalho descritivo, tomando como material o s resumos dos tra b a l h o s a p re s e n t a d o s nos três ú l timos C o n g ressos B ra s i l e i ro s de E n fe r m a g e m ( C B E n ) rea l i za d o s respectivamente e m Sa lvador/BA ( 1 998), Florianópolis/SC ( 1 999) e Recife/PE (2000). Alguns autores internos e eternos à categoria e m p resta ra m suas idéias para suste ntar a discussão que nos propusemos a desenvolver. Não deixamos de tomar como l i m itação a subjetividade impl ícita em todo p rocesso de a n á l i s e de resumos, pois pode não haver correspon dência e ntre as nossas percepções e aquilo que de fato foi a proposta do autor.

A PRODUÇÃO TECNOLÓGICA DA ENFERMAGEM

P a ra a b o rd a r a q u e s t ã o p ro p osta , s e n t i m o s necessidade d e compreender e m q u e circunstâncias a equipe de e nfermagem em preende esforços de criatividade e para a l c a n ç a r e st a c o m p re e n s ã o n o s o r i e n t a m o s p e l o entendimento d e que a produção d e tecnologia implica n u m em preendimento q u e t e m c o m o alicerce a necessidade, (enquanto u m problema a resolver) o conhecimento, (o saber que orienta nova a lternativa para resolver esse problema) e a criatividade (a ca pacidade de encontrar a lternativas para resolver u m problema existente).

Não obstante , é preciso ter em mente que o ato d e criar pressupõe dois momentos. O primeiro s e dá ao n ível d o pensa mento e nvolve n d o o desejo, a motivação e a i ntencion a l i d a d e . O seg u n d o momento se traduz pela vontade, pela realização, ou seja, momento em que se coloca em prática o objeto pensado. N este sentido, recon hecemos que se pode criar por u ma satisfação pessoal, pela novidade ou p a ra s o l u c i o n a r p ro b l e m a e d efe n d e m o s q u e a e n fe r m a g e m p ro d u z tecn o l o g i a q u a n d o e m p rega s u a capacidade cri ativa para resolver problemas rel ativos à su peração d e dificuldades sentidas no cotidiano do seu processo de trabalho. Daí porque a enfermagem é vista além

6 Santos et aI. (220 1 ) propõem entender a Enfermagem como uma prática social ao considerá-Ia como "um trabalho

necessário e de interesse da sociedade, inserido no processo de trabalho que produz serviço em saúde, exercido por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e cujo produto final é o cuidado de enfermagem à pessoa no seu processo saúde-doença".

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A prod ução tecnológica . . .

d e ciência como uma arte , a arte d e cuidar.

Quando relacionamos a produção tecnológica com a enfermagem , estamos nos aproximando das a lternativas criativas que a equipe de enfermagem lança mão para superar suas d i fi c u l d a d e s , atre l a d a s na m a i o r i a d a s vezes a ci rcunstâncias de precariedade das condições de trabalho, qualquer que seja o espaço i n stitucional aonde venha se desenvolvendo, ou a situações de determinados clientes que e x i g e m m a i s d o que a s t é c n i ca s c o n ve n c i o n a i s d e enfermagem oferecem como a lternativas d e solução. I sso acontece porque entendemos a enfermagem como u m trabalho de natureza human ística, cujo objeto é o ser humano em sua realidade de vida, requerendo, potanto, uma atenção i n d ividual izada, capaz de atender as suas necessidades, quaisquer que sejam elas.

Esta particularidade que caracteriza o trabalho d a enfermagem n o s remete a comentar a diferença que exi ste entre aq uilo que percebemos como fruto da capacidade criativa da enfermagem n a superação de d ificu ldades na execução do cuidado ou do ensino de enfermagem e o que se reveste de i n te r e s s e i n d u st r i a l ou e m p r e s a ri a l . V i s u a l i z a m o s c o m o re s u l t a d o s d a c r i a t i v i d a d e d a enfermagem as estratég ias e a rtefatos q u e a equipe lança mão no seu dia a dia, mas que a i n d a não passaram por u m processo de estruturação, sistematização que l h e caracterize como uma prod ução tecnológica.

Por outro lado, podemos verificar que outros produtos desta criatividade mostraram-se i nteressantes para o setor empresarial, transformando-se em atifícios industrial izados, comercial izados mas nem sempre referidos como originados das soluções criativas da enfermagem . Estes passaram pelo p rocesso de s i ste m a t i z a ç ã o q u e está e m b u t i d o n a denominação "produção tecnológica" sendo que alguns deles foram testados pela própria enfermagem, transformando-se em artigos como tantos que vemos nas "feiras tecnológicas" como a que presenciamos no 53° C B E n , em Curitiba/PR e também em outros eventos d esta ou de outras categorias.

Os resu mos dos três últimos C B En(s) podem ser um meio interessante para visualizar como a enfermagem vem produzindo tecnolog icamente . De 1 998 a 2000 os 50°, 5 1 ° e 52° CBEn recebera m u m total de 5 . 875 resumos de trabalhos. Destes, somente 1 6 foram considerados por nós, como possui ndo ca racterísticas d e produção tecnológica , quais sejam: um trabalho que traduzisse uma ação intencional sobre a real idade; a prod ução d e um bem palpável ou s i m b ó l i co que ten h a sido a p l i ca d o , testa d o , ava l i a d o , conformado ou sistematizado.

Nesses poucos trabal hos pudemos perceber que 08 eram inventos ou artifícios categorizados como tecnologia i n struci o n a l , o u sej a , a q u e l es q u e p ro p u n h a m n ovas estratégias de ensino aprend izagem, voltadas para educação de g ru pos ou de c l i e nte l a s e s p e c ífi ca s ; N este g ru p o

verificamos a proposição de cartilhas, manuais, catálogos e folderes; Encontramos a i n d a 06 trabalhos categorizados como de tecnolog i a i n stru menta l , compreendidos como aqueles que propuseram i nventos, artefatos ou artificios para facilitar o cuidado, favorecer o confoto ou resolver problemas da prática. Por fi m encontramos 02 trabalhos categorizados como tecnologia de i nformática que foram aqueles que apresentaram proposições de soware .

Esses achados confirmam os resultados mostrados por Leite e Mendes onde, entre os trabalhos que demandaram uma determinada agência de fomento à pesquisa, dentre as suas prioridades, não foi encontrado um n úmero expressivo de trabalhos na á rea tecnológica, no recorte temporal estudado. Essas a utoras verificaram que ainda existe uma "zona escura"? nesse campo de estudo, "representada pela i nsuficiência d e trabalhos que avaliem o impacto dessas propostas" ( L E I T E ; M E N D E S ; SANTOS et aI. , 200 1 , p.96). O utros a u to res t a m b é m j á c h e g a ra m a s e m e l h a ntes constatações , como foi o caso de G utierrez, Leite, Erdmann e outros que, em 526 produções científicas , entre teses e d i ssertações , defe n d i d a s n o período de 1 998 a 2000, encontraram também poucos trabalhos dedicados à produção tecnológica ( G U T I E RREZ; L E I T E ; E R D MAN N et a I . , 200 1 , p . 4-8 ).

Também N i etsche e Leopardi (2000, p. 1 29- 1 52) se defrontaram com semelhantes achados, ao analisar 1 533 trabal hos constantes nos anais do SEN PE8; publicações da REBEn9 e catálogos do CEPEn'o, no período de 1 986 a 1 995, classifica n d o 1 360 c o m o " n ã o tecn o l o g i a " , 1 1 2 como "tecnologia" e 61 como "presumivelmente tecnologia". Nesse caso, outras questões foram reveladas como o fato de alguns não terem sido declarados como prod uções tecnológicas p e l os pes q u i sa d o re s , n e m todos conterem todos os e l e m e n t o s c o n s t i t u t i v o s de u m a n ov a tec n o l o g i a pri ncipal mente trabalhos d e testagem o u aval i ação d o seu funcionamento.

Portanto, podemos compreender que a enfermagem vem, ainda que de forma incipiente, produzindo ao longo dos anos, elementos constitutivos de p rodução tecnológica, mesmo que essa produção não venha sendo majoritariamente composta por artefatos e i nventos, mas incluam estratégias para controlar o processo d e trabalho ou estruturação de materia l didático pedagóg ico para diferentes clientes. Ao assim considerar, concordamos com Figueiroa (2000, p. 24) quando esclarece que

para a enfermagem as novas tecnologias passam a constitu i r u m conj u nto d e fe rra mentas capazes de oferecer por si mesmo múltiplas alternativas. Como tais pod e m s e r i n t e g r a d a s e a p l i c a d a s em d i versas atividades e propósitos profissionais, respondendo a

particulares req uerimentos tanto profissionais, acadê­

micos como de investigação. Na atenção em saúde, os

7 Esses autores considera ram como "zonas escuras" aquelas que, relativamente às áreas de prioridades declaradas pelo CNPq para fomento à pesquisa, no conjunto dos projetos enviados à agência de fomento, não foram abordadas por nenhum trabalho, entre as quais .destacaram trabalhos de avaliação de i m pacto das tecnologias pro postas por pesqu isadores da enfermagem e avaliação de resultados de estratégias propostas para resolução de problemas ou estratégias educativas para educação em saúde de grupos h umanos.

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8 Seminário Nacional de Pesqu isa em Enfermagem.

9 Revista Brasileira de Enfermagem.

1 0 Centro de Pesq uisadores e Pesquisas em Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem.

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MENDES, I . A. C . ; LEITE, J . L.; TREVIZAN, M . A.; TREZZA, M. C . S. .; SANTOS, R. M . dos

aportes da tecnologia são significativos no sentido de conduzir e otimizar os cu idados de enfermagem dando respostas e enriquecendo a prática .

COMO U MA O N DA . . . O UTRAS R E F LEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO TECNOLÓG I CA DA E N F ERMAGEM

Até o momento, dentro do tema proposto, abordamos a inteface da produção da tecnologia com a enfermagem do ponto de vista do q ue ela p roduz ou é chamada a prod uzir como tecnolog i a . Percebemos, poré m , a necessidade de trazer à discussão o muito que o setor industrial tem produzido para uso da equipe de enfe rmagem , onde detectamos uma outra interface da tecnologia com a enfermagem, muito voltada para facil ita r o desempenho técn i co da eq uipe.

De fato, vemos s u rg i r nos seviços, artefatos que parecem responder a n ecessidades imediatas da eq uipe, como foi o caso da bomba de infusão, garantia do gotejamento contínuo da i nfusão venosa, com a vantagem de "avisar" qualquer intercorrência no p rocesso . Outros exem plos são os mon itores que reg i stram exata mente os sinais vitais dos pacientes a i nteva los absolutamente exatos, avi sando também através dos "bi ps" e d e a l a rmes sonoros quando "algo não está bem" . Não podemos esq uecer os "kits" de material para a realização das técnicas de enfermagem como kits de curativo, banho no l eito, cateterismo vesical e outros que vieram facil itar sobremaneira a rea l ização das técn icas de enfermagem ao tempo em que econom izam para a contabilidade da instituição.

I sso nos demonstra q u e nossa p rática está em evi dência para o setor e m p resari a l ou i n d u stri a l , cujos produtos/equipamentos podem ser vistos como adequados para red uzir o gasto de materi a l , reduzir o tempo gasto na prestação do cuidado e até mesmo como capaz de red uzir o número de trabalhadores nos seviços, impl icando em grande economia para as i n stitu ições . Da mesma forma nos vemos às vezes de frente a recursos tecnológ icos como máquinas e equipamentos postos a serviço da humanidade, no esta b e l e c i m e n t o p re c o c e de d i a g n ó s t i c o ou e m trata mentos d e ú ltima geração, à s vezes sem uma visão prospectiva de suas conseqüências, seus desdobramentos ou suas repercussões futuras .

Esta i nterface , a i n d a nebulosa, nos leva a d iscutir as (des )va ntagens que esses i nstru me ntos nos trazem em função da prestação do cuidado de enfermagem humanizado, ou seja, aquele que leva em conta a individual idade de cada um dos clientes , sua n ecessidade de sentir afeto e calor humano e a possibil idade de cada um dos trabal hadores. Levantamos este aspecto ao nos reportarmos à nossa própria experiência de cuidar, percebendo a solidão dos pacientes nos leitos de U T I , suas angústias nas sessões de rad io ou quim ioterapia, seus medos nas salas de cirurg i a , a ntes da anestesia, nas salas d e p ré-parto , nas enfermarias ou nos corredores dos ambulatórios. Essa nossa preocupação ainda é reforçada quando encontramos tra balhos que descortinam a angústia de pacientes nas salas de exames sofisticados e sofrem com a com u n i cação d eficiente dos membros da equipe de saúde ou de enfermagem e concluem que "o avanço tecnológico na área da saúde é uma grande conquista mas seria melhor associar esta tecnologia à comunicação com vistas a obter resu ltados mais satisfatórios em relação ao

bem-estar do cliente" (LOPES; BARBOSA;TEIXE I RA et aI . , 1 998, p . 6 1 )

S e estamos a fu ndamentar a n ossa p rática n a concepção d a e nfe rm a g e m c o m o u m a ciência e u m a d isci p l i n a h u ma n ística, ou como u m a prática soci a l , não podemos perder de vista q ue a tecnologia deve estar ao nosso d ispor como um meio para faci litar nossas ações e nu nca "como u m instru mento de manipu lação do homem para que a bandone o outro homem" ( F I G U E I ROA, 2000 , p.20). Esta autora enfatiza que "el contacto h u mano es vita l , dado que facil ita la i nteracció n , con d u ce y d a sentido a los cuidados de Enfermería por med io de una entrega armónica y cálida." ( F I G U E I ROA, 2000, p.22).

N a busca por u m cuidado de enfermagem assim humanizado, há u m acervo de inventos desenvolvidos por e n fe rm e i ra s . Na d é c a d a de 60 a O ra . Y. Ka m y i a m a apresentou e d ivulgou a "panela de pressão como autoclave", cuja pri ncipal fi nalidade seria uti l izar o prod uto em domicílio e postos de saúde, onde não dispunham de autoclave. A fim de facilitar as atividades de educação em saúde em pequenos g rupos, ou para faci l itar o auto cuidado em domicílio, Leite , em 1 960 i d e a l izou o q u e chamou de "Orientação para ca ndidatos a cirurg i a ca rd íaca", onde consta a orientação no pré , trans e pós-operatório para paciente e família.

Ainda na década d e 60 Carvalho e Leite referem a preocupação das enfermeiras do H ospital dos Sevidores do Estado - I PASE/RJ - com as tecnologias para determinados p roced imentos a fi m d e facil itar e h u man izar o trabalho (CARVAL H O ; LEITE, 1 996, p . 66-68 ). Equipos de soro que precisavam de microgotas eram feitos com seringas de 50ml , l átex e gaze; o s coletores d e urina também eram feitos com Jidros de solução para diálise peritonial, presevativos e látex, b e m como os " a p a re l h os de exercícios res p i ratórios" compostos por vidros de solução para diálise peritonial , latex e "ca n u d i n hos" . Vimos aí a criatividade das enfermeiras empregando recursos d ispon íveis. Vale dizer que "a despeito da produção em caráter p rovisório, elas estavam no l i mite do req u isito técn ico e d a garantia ética do bem estar de m u itos clientes" ( D IAS , 1 996, p.92). Mais recentemente a Ora. Maria Aparecida de Luca inventou uma tala imobilizadoa dos membros su periores de crianças e adu ltos , sendo que este inve nto j á está e m p rocesso de patenteamento.

N a década d e 90, os pesq uisadores da área, além dos trabalhos a p resentados nos espaços dos eventos de E n fe rm a g e m têm s e e sfo rça d o p a ra acom p a n h a r o desenvolvimento tecnológico que caracteriza o sécu lo atual , não tanto prod uzi ndo i n d ividualmente, mas já se tem notícia de i n i ci ativas coletivas como o trabalho desenvolvido pelo Grupo G IATE da U n iversidade Federal de Santa Catari n a , coordenado por D IAS e defi n i d o como sendo um "grupo d e estudos sobre i nventos e adaptações tecnológicas, resu ltado de uma pesquisa a fim de localizar i nventores de enfemagem e seus inventos" ( D IAS , 1 996, p .94) .

Este grupo fundamenta s u a existência na "aspiração de d i m i n u i r riscos ocu pacionais, melhor i nstrumental izar o trabalho, economizar tempo e movimento e proporcionar seg u rança ao trabalhador d e e nfermagem", a exemplo d a "tá bua dobrável para uso sobre o estrado d a s camas", o " m a m i l ô m etro" q u e a u x i l i a n o p rocesso d i a g n óstico e terapêutico de enfermagem na á rea de cuidados à mulher, o "defemic" e o "vulperino" com funções da "comadre", a "cadeira

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A produção tecnológica . . .

domiciliar de rodas", o sutiã preventivo d e traumatismo mamilar para puérperas e nutrizes, e ntre o utros ta ntos .

Outro grupo de i n i ci ativa coletiva desenvolvendo trabalhos criativos é a "Fabrica de Cuidados", criada em 1 997, com apoio do CNPq, no espaço institucional do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de E nfermagem Alfredo Pinto da Universidade do Rio de Janeiro, definida por Nébia M. A. Figueiredo, sua criadora , como "um espaço multidisciplinar para criar modelos e tecnologias em saúde". U m outro g rupo que vem apresentando saídas criativas para solucionar problemas é o que reúne as equipes do modelo "Saúde da Família", prog rama assistencial do Ministério da Saúde que, no desenvolvimento de suas ações nas comu n idades, la nçam mão de recursos desde os mais s i m p l ificados, propostos e a p l icados numa perspectiva mu ltidisciplinar para tarefas d e educação em saúde ou para contornar problemas l igados à própri a sobrevivência como estudos de cardápios alternativos complementares, melhoria dos espaços domésticos , destin ação de dejetos, reciclagem de lixo, tratamento da água e ad oção de terapêuticas alternativas, dentre outros.

N esse ú l t i m o a s p e cto é q u e g o sta r í a m o s d e ta ngenciar u m a tercei ra i nterface da e nfermagem com a tecnologia. Estamos nos referindo aos autores que remetem a discussão da produção tecnológ ica da enfermagem para o campo da tecnologia apropriada, aquela que "descreve uma ampla variedade de tecnologias j á defi nidas ou novas , que se caracterizam pelo custo red uzido, pela capacidade de satisfazer necessidades básicas dos mais care ntes, pelo uso ra ci o n a l dos rec u rsos e por u m e l evado g ra u d e adaptação a o ambiente loca l , cu ltural e social" ( PAI M , 1 98 1 ). Essa autora diz ainda que "qualquer tecnologia pode ser apropriada , desde que melhor se adapte à situação em que vai ser usada".

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como pôde ser visto d u ra nte o desenvolvi mento deste trabalho, discutir a produção tecnológica e sua i nteface com a enfermagem foi uma tarefa que se revestiu de grande complexidade. As dificuldades de aborda-Ia passaram desde o entendimento de como a expressão "tecnologia" vem sendo considerada no âmbito de nossa profissão até o descortinar das contradições que abriga , do ponto de vista de "para que" e "para quem" se desti na, "a seviço de quem" a enfermagem a está prod uzi ndo ou uti lizando.

Pudemos constatar a d iversidade de conceitos que a e x p ressão "te c n o l o g i a " p o s s u i , no m o d o como as enfermeiras vêm tratando esta q uestão em suas produções científicas, no próprio d iscu rso do cotidiano. Fala-se de tecnologia desde a considera-Ia como um s i m ples ato de improvisação e de criatividade no cotidiano da enfermagem até no seu aspecto relacionado à p rodução de inventos , t e c n o l o g i a s a p ro p r i a d a s e d e u m c o n h e c i m e n t o sistematizado, controlado e apl icáve l .

No que diz respeito às contradições que su scita , queremos deixar claro que não nos eximimos de reconhecer

as i m p l i cações p o l í t i c a s q u e e s s a q u estão e n c e rra . Aceitamos o pensamento de D IAS quando diz que "é sabido que a escolha e a adoção de tecnologias não é algo isolado, tem a ver com a ordem pol ítica , econômica e social e na solei ra de um novo sécu l o , essa escolha e adoção tem indícios de mutação, fazendo brotar uma renovação de valores humanos fundamentais" ( D IAS , 1 996, p. 1 1 0).

Por outro lado, é n ecessário reconhecer que a tecnologia tem servido, de certa forma , como uma faca de dois g u m e s 1 1 p a ra o s p rofi s s i o n a i s , p o i s , "o u s o de e q u i p a mentos d e tecn o l o g i a d e ponta tem facil itado o trabalho, provocando menos desgaste da força de trabalho mas pode haver, também, conseq üências nefastas para a saúde dos mesmos, como , por exemplo, as conseq üências dos ru ídos dos equipamentos nas u n i dades de terapia i ntensiva" (PIRES, 2000, p.26 1 ).

O que nos parece certo é que a tecnologia perpassa pela enfermagem em todas as suas d i mensões, vez que a natureza do seu trabalho l h e coloca face a face com a produção da tecnologia na sua expressão mais simples até o seu contato com a tecnologia de ponta . Os trabal hos a p re s e n t a d o s n o s v á r i o s e v e n t o s da e n fe rm a g e m d e m o n straram q u e j á p o s s u í m o s m u itos e l e m e ntos constitutivos de tecnologia e m u itos "motivos" para gerar tecnologi a . O próxi m o passo será desenvolver um trabalho de fu ndamentação, proposição, sistematização testagem e avaliação das muitas saídas criativas que a enfermagem está continuamente produzindo.

REFERÊNCIAS

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11 Expressão que empregamos para apontar os benefícios e os malefícios advindos do uso de tecnologia pelo pessoal

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