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Arranjo produtivo de café, redes sociais e qualidade de vida: um estudo com agricultores familiares do Espírito Santo

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Academic year: 2017

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(1)

ALESSANDRA VASCONCELOS ALBERGARIA

ARRANJO PRODUTIVO DE CAFÉ, REDES SOCIAIS E QUALIDADE DE VIDA: UM ESTUDO COM AGRICULTORES

FAMILIARES DO ESPÍRITO SANTO 

 

VIÇOSA

MINAS GERAIS - BRASIL 2012

(2)
(3)
(4)

ii

(5)

iii AGRADECIMENTOS

A Deus, razão da minha existência, que tudo providenciou para o bem;

A minha mãe Maria Auxiliadora, por toda dedicação, ensinamentos e lições que me foram transmitidos, pela confiança e amor eterno. Serei sempre grata e orgulhosa de tudo o que fez!

As minhas irmãs Cristiane e Camila pela amizade e força;

Ao meu esposo Fábio, que com seu amor, carinho e apoio me mostrou o caminho a seguir;

A minha orientadora, Professora Dorinha, pela amizade, confiança, pelo carinho e pelas sábias orientações;

Aos meus co-orientadores Romário e Professor Marcelo por estarem sempre dispostos a contribuir.

A Marta e sua família, por me acolherem durante a coleta de dados em Castelo, de uma forma especial e carinhosa;

Aos meus colegas do Mestrado, que dividiram horas de alegria, preocupação e vitórias;

Aos amigos que construí em Castelo, aos funcionários do Incaper e da Prefeitura em especial;

Aos meus entrevistados, cuja participação proporcionou a realização deste trabalho; Aos membros de minha banca de defesa, Maria Amélia e Júnia, pelas contribuições para qualificar a dissertação;

Aos demais professores do Departamento de Economia Doméstica (DED) da UFV. Ao CNPq, pelo financiamento da bolsa;

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iv BIOGRAFIA

ALESSANDRA VASCONCELOS ALBERGARIA, filha de Marcos Albergaria e Maria Auxiliadora Vasconcelos Albergaria, nascida aos 21 dias do mês de dezembro de 1984, em Ponte Nova, Minas Gerais.

Em 2007 ingressou no curso de Graduação em Economia Doméstica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Durante a graduação foi bolsista por dois anos de iniciação científica, financiada pela Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), tendo concluído o curso em janeiro de 2010.

Em março de 2010 iniciou o Programa de Pós Graduação em Economia Doméstica, tendo como linha de pesquisa Família, Bem-Estar Social e Qualidade de Vida, em nível de Mestrado, na Universidade Federal de Viçosa.

(7)

v SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS... ix

LISTA DE TABELAS... x

LISTA DE FIGURAS... xii

RESUMO... xiii

ABSTRACT... xv

1. A TEMÁTICA DO ESTUDO E SUA ABORDAGEM: UMA APRESENTAÇÃO... 1

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA E SUA JUSTIFICATIVA... 2

3. OBJETIVOS... 6

3. O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA... 7

3.1. Caracterização da Pesquisa... 7

3.2. Local de Estudo... 8

3.3. Composição da Amostra... 9

3.4. Instrumento de Coleta de Dados e Variáveis de Análise... 11

3.5. Procedimento de Análise de Dados... 13

4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA... 14

ARTIGO 1 – UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE A FORMA DE ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CAFÉ NO MUNCÍPIO DE CASTELO-ES... 17

1. RESUMO... 18

2. ABSTRACT……… 18

3. INTRODUÇÃO... 19

4. REVISÃO DE LITERATURA... 19

4.1. O Café no Brasil... 19

4.2. O Café no Espírito Santo... 23

4.3. A imigração Italiana no Sul do Espírito Santo... 25

4.4. A Formação das Colônias de Imigrantes no Espírito Santo... 28

4.5. A Socialização dos Imigrantes... 31

(8)

vi

4.7. Segunda Fase da Produção do Café em Castelo... 34

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 36

8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA... 37

ARTIGO 2. CARACTERIZAÇÃO DO ARRANJO PRODUTIVO CAFEEIRO DO MUNICÍPIO DE CASTELO-ES ... 39

1. RESUMO... 40

2. ABSTRACT……… 40

3. INTRODUÇÃO... 41

4. REVISÃO DE LITERATURA... 41

4.1. O Rural como Espaço de Vida... 41

4.2. O Conceito de Agricultura Familiar... 43

4.3. Arranjo Produtivo Local... 46

5. IMPORTÂNCIA DO CAFÉ NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO... 47

6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS... 48

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 49

7.1. Percepções sobre o uso da terra... 49

7.2. Perfil dos produtores de café e sua família... 52

7.3. Força de Trabalho Ativa na Cultura Cafeeira... 61

7.4. Práticas Tecnológicas e Espaço Relacional... 63

7.5. Produtividade e Tecnologia... 71

7.5.1. Índice Tecnológico dos Produtores de Café... 72

8. CONCLUSÕES ... 76

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 78

ARTIGO 3 . MORFOLOGIA DAS REDES SOCIAIS E SUA CONTRIBUIÇÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR CAFEEIRA DO MUNICÍPIO DE CASTELO-ES... 81

1. RESUMO... 82

2. ABSTRACT... 82

3. INTRODUÇÃO... 83

(9)

vii

4.1. Redes Sociais... 84

4.2. Capital Social... 90

4.3. Relações de Reciprocidade... 92

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS... 93

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES... 94

6.1. Morfologia das Redes na Cafeicultura... 96

6.2. Papel das Redes Institucionais acionadas pelos Agricultores Rurais... 103

7. CONCLUSÕES... 111

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 114

ARTIGO 4- A QUALIDADE DE VIDA E SUAS INTERFACES COM AS REDES SOCIAIS, NO CONTEXTO DO ARRANJO PRODUTIVO CAFEEIRO... 116

1. RESUMO... 117

2. ABSTRACT……… 117

3. INTRODUÇÃO... 118

4. REVISÃO DE LITERATURA... 119

4.1. Qualidade de Vida: Concepções e Significados... 119

4.2. Modelo Teórico de Qualidade de Vida... 123

4.3. Redes Sociais e Arranjos Produtivos... 124

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 130

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES... 131

6.1. A Percepção e o Conceito das Famílias sobre Qualidade de Vida (QV)... 131

6.2. Dimensões Concretas da Qualidade de Vida e Redes Sociais... 130

6.2.1. Condições da habitação... 132

6.2.2. Alimentação... 131

6.2.3. Segurança Financeira... 131

6.2.4. Trabalho... 133

6.2.5. Acesso a Serviços Comunitários... 134

6.2.6. Vida Social e Familiar... 136

(10)

viii

8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA………. 142

CONCLUSÕES GERAIS... APÊNDICES...

(11)

ix LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APL - Arranjo Produtivo Local

APROCAVEN – Associação dos Produtores de Café da Estrela do Norte BIRD - Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento CETCAF - Centro de Desenvolvimento Tecnológico do Café

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento DAP – Declaração de Aptidão

EPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais ES - Espírito Santo

FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação IAC – Instituto Agronômico

IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná IBC - Instituto Brasileiro do Café

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDAF - Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal

INCAPER – Instituto Capixaba de Assistência Técnica, pesquisa e Extensão Rural MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MCT - Ministério da Indústria e do Comércio e Turismo MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

OIC - Organização Internacional do Café

PESAGRO - Empresa Agropecuária do Rio de Janeiro

SEAG - Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEMAG – Secretaria de Meio Ambiente e Agricultura SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural QV – Qualidade de Vida

(12)

x LISTA DE TABELAS

Distribuição fundiária das propriedades do município de Castelo/ES... 9

Divisão geográfica do município de Castelo/ES... 9

População da pesquisa... 11

Exportações de café no Brasil no período de 1821 a 1890... 21

Maiores produtores de café do mundo... 23

Local de moradia dos produtores de café, Castelo/ES, 2011... 52

Escolaridade dos produtores de café, Castelo/ES, 2011... 54

Tipo de crédito e número de financiamentos, obtidos nos últimos 3 anos pelos cafeicultores, Castelo/ES, 2011... 56 Problemas e dificuldades versus pontos fortes apontados pelos cafeicultores, Castelo/ES, 2011... 57 Aspectos do perfil familiar dos produtores entrevistados, Castelo/ES, 2011... 58 Condições dos trabalhadores nas propriedades pesquisadas de café conilon, Castelo/ES, 2011... 61 Condições dos trabalhadores nas propriedades pesquisadas de café arábica, Castelo/ES, 2011... 61 Atividades realizadas pelos trabalhadores nas propriedades pesquisadas, Castelo/ES, 2011... 62 Tipo de assistência técnica oferecida aos agricultores familiares de café, Castelo/ES, 2011... 64 Capinas realizada pelos cafeicultores, Castelo/ES, 2011... 66

Concentração da colheita do café, Castelo/ES, 2011... 69

Pesos das práticas tecnológicas para produção máxima rentável, 2011... 72 Redes institucionais acionadas pelos agricultores, Castelo/ES, 2011...

96 Morfologia das principais redes sociais dos produtores de café conilon, Castelo/ES, 2001...

98 Morfologia das principais redes sociais dos produtores de café arábica, Castelo/ES, 2001...

99 Grau de importância e integração dos agricultores familiares do município de Castelo/ES, 2011...

102 Graus de confiança e credibilidade dos agricultores familiares do município de Castelo/ES, 2011...

(13)

xi Atividades desenvolvidas pelas redes institucionais, envolvidas no cultivo do café, Castelo/ES, 2011...

110 Pontos positivos das redes institucionais, envolvidas no cultivo do café, Castelo/ES, 2011...

112 Nível de satisfação atribuído aos componentes da vida pelos agricultores familiares, Castelo/ES, 2011...

137 Nível de importância atribuído aos componentes da vida pelos agricultores familiares, Castelo/ES, 2011...

(14)

xii LISTA DE FIGURAS

Região e município pesquisado no Espírito Santo, 2011... 8

Divisão do município de Castelo/ES em agropolos... 10

Tipos de cafés cultivados no município de Castelo/ES, 2011... 45

Tipificação dos agricultores de café, Castelo/ES, 2011... 49

Estado civil dos produtores de café do município de Castelo/ES, 2011... 52

Práticas tecnológicas utilizadas pelos cafeicultores, Castelo/ES, 2011... 63

Meses em que são realizados o plantio do café no município de Castelo/ES, 2011... 65

Tipos de culturas consorciadas com o café, Castelo/ES, 2011... 65

Tipos de adubação utilizados na cultura do café, Castelo, ES, 2011... 66

Correção do solo e tratos culturais no cultivo do café, Castelo/ES... 67

Tipos de pragas mais comuns no café, Castelo/ES, 2011... 68

Formas de secagem dos cafés, Castelo/ES, 2011... 69

Curso de capacitação, comunidade Pedregulho, município de Castelo, ES, 2011... 111

Palestra sobre agregação do valor ao conilon descascado, realizada na comunidade Estrela do Norte, município de Castelo/ES, 2011... 111 Campanha dia de campo limpo, realizado pelo INCAPER/SEMAG/IDAF no município de Castelo/ES, 2011... 111 Modelo teórico sobre Qualidade de Vida... 122

(15)

xiii RESUMO

ALBERGARIA, Alessandra Vasconcelos, M. Sc., Universidade Federal de Viçosa, março de 2012. Arranjo produtivo de café, redes sociais e qualidade de vida: um estudo com agricultores familiares do Espírito Santo. Orientadora: Maria das Dores Saraiva de Loreto. Coorientadores: Romário Gava Ferrão e Marcelo Miná Dias.

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(17)

xv ABSTRACT

ALBERGARIA, Alessandra Vasconcelos, M. Sc., Universidade Federal de Viçosa, March, 2012. Productive arrangement coffee, social networking and quality of life: a study with family farmers of the Espirito Santo. Adviser: Maria das Dores Saraiva de Loreto. Co-advisers: Romário Gava Ferrão and Marcelo Miná Dias.

(18)
(19)

1 1. A TEMÁTICA DO ESTUDO E SUA ABORDAGEM: UMA APRESENTA-ÇÃO

A opção pela temática “agricultura familiar e suas redes sociais” está relacio-nada, de um lado, aos vínculos de parentesco inerentes a trajetória de vida dos cafei-cultores capixabas, bem como às influências do espaço relacional nos modos de pro-dução e repropro-dução desses sujeitos sociais.

Assim, as relações sociais criadas e reproduzidas nesse cenário, bem como o acesso e o desenvolvimento das redes e organizações da agricultura familiar é a questão central analisada nesse trabalho. Para tanto, foi escolhido o município de Castelo, localizado no Sul do Espírito Santo, para realização de um estudo de caso, que serviu como parâmetro para a compreensão do papel das relações sociais entre os agricultores familiares e as organizações ou instituições na promoção da melhoria da qualidade de vida das famílias e no desenvolvimento local.

Sendo assim, se faz importante compreender esse espaço agrícola, que abriga cerca de um terço da população brasileira, principalmente na agricultura familiar, que, conforme Wanderley (2009) corresponde a certa camada de agricultores capazes de se adaptar as modernas exigências do mercado, além de se configurar como uma forma social de produção e trabalho que se encontra imersa em um ambiente social e econômico onde vigoram relações sociais.

Segundo Censo Agropecuário (IBGE, 2010), 84,4% dos estabelecimentos agropecuários são conduzidos por produtores familiares, que utilizam pelo menos 50% de mão-de-obra da própria família, sendo que a agricultura familiar responde por 38% do valor bruto da produção agropecuária nacional. Especificamente, no Espírito Santo (ES), este tipo de agricultura responde por 77,5% dos 79.650 estabelecimentos rurais, por 30,5% dos 46.098,77 Km2 e por 36% do valor bruto da produção agropecuária.

No setor agrícola, o café é um dos produtos mais importantes, sendo produzido principalmente por agricultores familiares. E, o Espírito Santo, com apenas 0,5% do território brasileiro, é o segundo maior produtor de café do Brasil, com 25% da produção nacional. Assim, o arranjo produtivo cafeeiro constitui a principal atividade na geração de emprego e renda no Estado, sendo que 75% dos cafeicultores são pequenos produtores de base familiar (FERRÃO et. al., 2007b).

(20)

2 conilon, conhecido como robusta, pelo aumento da produtividade (FERRÃO et. al., 2008), ainda persistem sérios problemas e dificuldades nesse setor da agricultura. A existência de muitos gargalos no arranjo produtivo cafeeiro está associado, principalmente, à baixa produtividade média estadual do café arábica, ao pequeno número de produtores de café inseridos na produção de cafés superiores, à escassez de atividades associativistas organizadas, à descapitalização dos cafeicultores, principalmente os de arábica, aliada à gestão deficiente das propriedades rurais (NOVO PEDEAG, 2007).

Nesse cenário, como ressalta Marques (2010), as redes sociais ganham grande importância, pois contribuem para provisão de recursos no processo da produção e reprodução social das unidades familiares. Como destaca Bebbington (1999, apud

BASSO, et al. 2003), as condições de pobreza dificultam a capacidade de reprodução das famílias e certas estratégias de reprodução passam a ter um significado especial, associadas ao conjunto de práticas culturais, possibilitadas (ou restringidas) pelos padrões de co-residência, vizinhança ou proximidade, desfrutados pelo grupo social considerado. Para esse autor, é por meio das relações entre as famílias e os atores que operam em outras esferas da sociedade, que as pessoas e suas organizações buscam reafirmar ou renegociar as regras que determinam o acesso aos recursos ou ativos (capital produzido; natural; humano; social e cultural) na sociedade, visando influenciar as condições que lhes permitam garantir a reprodutibilidade.

Dessa forma, pressupõe-se, como afirmam BASSO et al. (2003), que o desenvolvimento e o acesso às redes sociais podem desempenhar um papel importante na melhoria das condições de vida das pessoas, além de serem fundamentais para aumentar a capacidade de as famílias se tornarem agentes de transformação no desenvolvimento local.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA E SUA JUSTIFICATIVA

A agricultura é um setor de natureza estratégica, em especial por sua produção de alimentos e pela elevada capacidade de geração de emprego por unidade de capital aplicado, além de envolver basicamente todos os membros da família, sem distinção de sexo e idade, demandando assim tratamentos diferenciados para os quase quatro milhões de estabelecimentos rurais existentes, segundo IBGE (2010).

(21)

3 abarca uma diversidade de formas de produção organizadas em torno do trabalho da família. A constituição de diferentes tipologias de agricultores familiares, expressa a extraordinária capacidade de adaptação desses sujeitos sociais a contextos socioeconômicos totalmente distintos. E independentemente da tipologia e da formação sócio-espacial em que se desenvolve, a agricultura familiar corresponde a uma forma de organização da produção em que propriedade e trabalho estão estreitamente ligados à família. Isso significa ao mesmo tempo, que a família é proprietária dos meios de produção e também conduz o trabalho realizado no interior da propriedade rural. Essa relação entre esses aspectos da agricultura familiar não pode ser considerado como “um mero detalhe superficial e descritivo [...] [mas que] tem conseqüências fundamentais para a forma como ela age econômica e socialmente” (WANDERLEY, 2001, p. 23).

Para a mesma autora a agricultura familiar é um segmento econômico que gera mais de 80% da ocupação no setor rural e favorece o emprego de práticas produtivas ecologicamente mais equilibradas, como a diversificação de cultivos, o menor uso de insumos industriais e a preservação do patrimônio genético. Assim, o meio rural, sempre visto como fonte de problemas aparece como portador de soluções, vinculadas à melhoria do emprego e da qualidade de vida (WANDERLEY, 2002).

Segundo Schneider (2010), há um consenso entre Veiga (2002) e Abramovay (2003, 2006) em relação à valorização da agricultura familiar e o reconhecimento de seu potencial dinamizador das economias locais. Em maior ou menor medida, sustentam o argumento de que a capacidade de inovação dos agricultores familiares e sua interação com as instituições locais são fundamentais para que possam ampliar a geração e agregação de valor, assim como reduzir custos de transação e estimular economias de escopo. Em geral, consideram os agricultores familiares como “empreendedores”, sendo sua capacidade de inovação uma característica herdada de seu passado camponês.

VEIGA et al. (2001) ressaltam a importância da presença da agricultura familiar no meio rural brasileiro, visto que uma região rural terá um futuro tanto mais dinâmico quanto maior for a capacidade de diversificação da economia local impulsionada pelas características de sua agricultura.

(22)

4 Veiga (2001), dentre outros, ainda persistem bolsões de pobreza e miséria, principalmente no meio rural, como destacado pelo Plano Brasil sem Miséria, que tem como objetivo a inclusão social e produtiva de 16,2 milhões de pessoas, que ainda vivem em situação de extrema pobreza no país, com renda mensal per capita de até R$ 70,00. Esse plano do atual governo tem ações para os agricultores familiares, entre outros atores que vivem no meio rural (MDS, 2011).

Em contexto de pobreza, como destaca Marques (2010) no seu livro “Redes Sociais, Segregação e Pobreza”, diversos tipos de informalidade estão presentes nas trocas mercantis, sendo o grau de impessoalidade, na maioria das vezes menor e de menor intensidade. Nesse caso, prevalece a economia das trocas, sendo intercambiados bens materiais, como dinheiro, mantimentos, ferramentas, entre outros, mas também elementos imateriais, como informações, afeto, solidariedade, apoio emocional etc. Além disso, todas essas trocas também envolvem dimensões marcadamente simbólicas, como reconhecimento e prestígio.

Nas relações sociais, as próprias práticas de reciprocidade e as redes sociais de cooperação são utilizadas como recurso para formas de trabalho e produção caracteristicamente mercantilizadas; ou seja, uma estranha lógica que assegura a reprodução econômica das famílias nos mercados, mas que também resulta na manutenção, certamente diferenciada, de suas relações sociais primárias e da sua sociabilidade local.

Enfim, as relações de proximidade, as trocas e atividades em conjunto entre as famílias e as associações, o interconhecimento relativo às amizades e aos vizinhos, a religião e os lazeres, todos os elementos aglutinadores da vida social local são fundamentais para a reprodução do tecido social. Portanto, conforme mostraram estudos de Bagnasco e Triglia (1993), Sabourien (1999) e outros, as relações sociais de parentesco, amizade e proximidades não desaparecem nem perdem importância durante os processos de mercantilização, embora elas fiquem diferenciadas. É de se esperar, portanto, que os atores sociais passem a re-semantizar as antigas relações sociais e adequá-las ao novo contexto.

(23)

5 desenvolvimento rural, as redes, além de se constituírem em formas de inserção econômica e reprodução social, elas potencializam os vínculos políticos, as associações nas comunidades rurais, as cooperativas e as ações coletivas; ou seja, elas expressam a pluralidade de empreender esforços para o desenvolvimento rural.

Sendo assim, os protagonistas destes processos conjugam princípios usualmente nomeados de “tradicionais”, tais como o reforço dos laços de reciprocidade e proximidade nas comunidades rurais, com relações tipicamente capitalistas nos mercados de trabalho e de produtos. Apesar do evidente fenômeno da mercantilização das práticas econômicas, como a modernização da agricultura, a externalização dos processos produtivos e o crescimento das formas de trabalho assalariadas entre os agricultores familiares, agricultores de muitas regiões têm realizado estratégias de reprodução social fundamentadas em relações não-mercantis, oferecendo um horizonte profícuo acerca de como as lógicas mercantis podem ser contrapostas através de práticas de reciprocidade e relações de proximidade entre as pessoas (RADOMSKY, 2006).

Além disso, a experiência da pesquisadora, por meio dos contatos informais com os agricultores familiares, permitiu apreender a importância das redes sociais, tanto formais e informais (família, amigos, vizinhos, associações, sindicatos, assistência técnica, entre outras) para o desenvolvimento da produção cafeeira e demais produtos agropecuários da Região Serrana e Sul do Estado. Entretanto, não obstante a crescente importância da produção de café no País e, em particular, no Espírito Santo, há poucos estudos científicos retratando as redes sociais estabelecidas na produção cafeeira.

Nesse sentido, a principal questão que esta pesquisa objetiva responder é: De que forma as redes sociais estabelecidas pelos agricultores de café contribuem para o processo de produção e melhoria da qualidade de vida das unidades familiares e portanto, para o desenvolvimento rural?

(24)

6 2.1. OBJETIVOS

Este trabalho teve como principal objetivo analisar a morfologia das redes sociais estabelecidas entre os pequenos agricultores rurais do arranjo produtivo cafeeiro do município de Castelo/ES, no processo de produção e reprodução social das unidades familiares.

Especificamente com essa investigação, pretendeu-se:

• Analisar e compreender a história do cultivo café, hoje predominante no município de Castelo/ES;

• Caracterizar o arranjo produtivo cafeeiro, em termos do perfil pessoal e familiar dos agricultores, principais práticas tecnológicas e espaços relacionais;

• Identificar a morfologia das redes na agricultura familiar cafeeira, a partir do mapeamento das redes de trabalho, bem como a contribuição das redes institucionais para o desenvolvimento do setor cafeeiro.

• Examinar a possível interferência das redes sociais, formais e informais, no processo de reprodução social dos produtores capixabas de café e suas respectivas famílias, por meio de suas implicações na qualidade de vida.

A partir desses objetivos específicos e do percurso metodológico da pesquisa foram estruturados os artigos da dissertação, assim delimitados:

O primeiro artigo trata de resgatar a história do cultivo do café no município, com destaque para o processo de colonização e migratório. Esse resgate se faz importante, para o entendimento das características e perfil dos agricultores familiares, suas relações com seus familiares, amigos e, sobretudo, para compreender como essa forma de organização da produção se reproduz no presente. Trata-se de um recorte temporal necessário à contextualização da trajetória e do ambiente socioeconômico em que se estruturou e reproduziu a agricultura familiar no Espírito Santo.

O segundo artigo buscou caracterizar o perfil pessoal e familiar dos agricultores familiares em termos do perfil socioeconômico, além de identificar as práticas tecnológicas realizadas pelos mesmos e suas redes de trabalho.

(25)

7 familiar cafeeira, ou seja, a densidade das relações sociais estabelecidas entre esses atores, bem como a contribuição das redes institucionais para o setor cafeeiro.

O quarto artigo examinou as repercussões das redes sociais, formais e informais, no processo de reprodução social dos produtores capixabas de café e suas respectivas famílias, por meio de suas implicações na qualidade de vida.

3. O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

3.1. Caracterização da Pesquisa

Trata-se de um estudo de caso, que possui um caráter exploratório, com uma abordagem quantitativo-qualitativa, uma vez que o objetivo do estudo esteve centrado na análise da morfologia das redes estabelecidas entre os agricultores rurais do arranjo produtivo cafeeiro. Para tanto, foi necessário caracterizar esse arranjo em termo dos perfis pessoal e familiar, além de identificar e analisar a morfologia das redes encontradas. Segundo Andrade (2002), a pesquisa exploratória consiste no aprofundamento de conceitos preliminares sobre determinada temática, além de proporcionar maiores informações sobre o assunto investigado. Por outro lado, o estudo de caso é uma estratégia metodológica de se fazer pesquisa nas ciências sociais e nas ciências da saúde, pois avalia ou descreve situações dinâmicas em que o elemento humano esta presente, buscando apreender a totalidade de uma situação e, criativamente, descrever, compreender e interpretar a complexidade de um caso concreto, mediante um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado.

(26)

8 método é essencial para que seja captado a pluralização da esferas da vida, a complexidade, os significados e diversidade que há no social.

3.2. Local de Estudo

Para o desenvolvimento desse estudo, foi utilizado como local de estudo o município de Castelo - ES (Figura 1). Optou-se por esse município, em função do mesmo apresentar grande representatividade em relação à produção de café arábica e conilon na região Sul do Estado do Espírito Santo.

Figura 1: Região e município pesquisado no Espírito Santo. Fonte: INCAPER (2010).

(27)

9 Tabela 1: Distribuição fundiária das propriedades do município de Castelo/ES.

Propriedades Hectares Proprietários (%) Micro 0 a 2 31 1,2 Pequenas 2 a 10 960 36,7 Pequenas 10 a 50 1365 52,2 Médias 50 a 150 235 9,0 Grandes 150 a 500 20 0,8 Latifúndios Acima de 500 2 0,1 Fonte: INCRA 2011, adaptado pelo INCAPER (2011).

O município apresenta uma área terrestre de 670,89 km2 e uma população de 34.826 mil habitantes, além de 1.473 estabelecimentos agropecuários, sendo este número referente a proprietários individuais (IBGE, 2010). Sua divisão é composta por cinco distritos ou agropolos, além da sede, indicando que o município é essencialmente rural, conforme pode-se observar na Tabela 2.

Tabela 2: Divisão geográfica do município de Castelo/ES, 2011. Área Geográfica (Km2)

Distritos Rural Urbana Total

Sede 216,92 2,97 219,88

Aracuí 77,89 0,73 78,62 Estrela do Norte

Monte Pio

Patrimônio do Ouro Limoeiro

130,72 32,66 68,66 139,66

0,25 130,97 0,09 32,75 0,03 68,71 0,29 139,95 Total 666,53 4,36 670,89 Percentual 99,35 0,65 100,00 Fonte: PMDRS – Plano Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável. CMDRS - 2007-2008. Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente.

Segundo IBGE (2010), o município é cercado de montanhas e cachoeiras, tem clima ameno, que varia entre 23º e 5º no inverno. Sua população é formada, em sua maioria, por descendentes de italianos, possuindo vários distritos, como Aracuí, Estrela do Norte, Limoeiro, Montepio, Patrimônio do Ouro.

3.3. Composição da Amostra

(28)

10 agricultores familiares produtores de café, que são proprietários agropecuários há no mínimo 5 anos e residem no município de Castelo/ES. Baseando-se em Triola (1999), foi delimitado o processo de amostragem para população finita segundo o número de produtores dos dois tipos de cafés cultivados (conilon e arábica), agrupados em 5 Agropolos (Figura 2), com diversas comunidades (Apêndice 1).

Segundo a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente do município (SEMAG), o Projeto dos Agropolos teve início em 2006, quando foi implantado o projeto piloto na comunidade de Patrimônio do Ouro, e hoje já são cinco agropolos. Essa divisão foi baseada na visão administrativa e de acompanhamento sistemático à agricultura do município, com intuito de facilitar as ações programadas e o atendimento aos agricultores e suas famílias. Assim, o município está dividido em cinco áreas geográficas.

Figura 2: Divisão do município de Castelo/ES em agropolos. Fonte: Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente, Castelo/ES, 2011.

(29)

11 Tabela 3: População da pesquisa.

Fonte: SEMAG (2011), com adaptações.

Assim, para o cálculo amostral foi utilizado a fórmula proposta por Triola (1999), com intuito de determinar o tamanho da amostra para uma população finita, como descrito a seguir:

n = N

.

σ

2 .

(Z

α/2)2

(N – 1)

.

E

2

+

σ

2

.

(Z

α/2)2

Onde,

n = Número de indivíduos na amostra N = População

Z

α/2 = Valor crítico que corresponde ao grau de confiança desejado, aqui estabelecido

em 93%

σ

2

= p x q

p= Proporção populacional de indivíduos que pertencem à categoria a ser estudada, aqui estabelecida em 0,5.

q (1 – p) = Proporção populacional de indivíduos que não pertencem à categoria a ser estudada, aqui calculada em 0,5.

Outro público que foi entrevistado foram os líderes daquelas instituições identificadas pelos agricultores como componentes de suas redes institucionais, que foram: Sindicato Rural, Associações, Secretária Municipal de Agricultura, Igreja, Lojas Comerciais, Instituições que prestam Assistência Técnica, entre outras.

AGROPOLOS COMUNIDADES QUESTIONÁRI OS

TIPO DE CAFÉ CULTIVADO

1- Pontões 16 28 Arábica e Conilon

2- Limoeiro 16 28 Arábica (maior

expressão) 3- Patrimônio

do Ouro

16 28 Conilon (maior

expressão) 4- Estrela do

Norte

13 22 Conilon (maior

expressão)

5- Campestre 13 22 Arábica e Conilon

(30)

12 3.4. Instrumento de Coleta de Dados e Variáveis de Análise

No primeiro momento do estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica acerca da forma de organização da produção de café no município, com a intuito de fundamentar teoricamente o objeto de estudo. Segundo Lima et al. (2007), a pesquisa bibliográfica vai além da simples observação de dados contidos nas fontes pesquisadas, pois imprime sobre eles a teoria, a compreensão crítica do significado neles existente, que significa realizar um movimento incansável de apreensão dos objetivos, de observância das etapas, de leitura, de questionamentos e de interlocução crítica com o material bibliográfico.

Para obtenção dos dados referentes ao arranjo produtivo cafeeiro foi realizada uma abordagem quantitativa, com aplicação de um questionário semi estruturado, a fim de identificar o perfil pessoal e familiar dos agricultores, nos quais foram analisadas as seguintes variáveis: idade, sexo, estado civil, escolaridade, condição ocupacional, número de filhos. Na caracterização do arranjo também foram identificadas as práticas em relação ao cultivo cafeeiro, além das principais redes para a realização das mesmas.

A coleta de dados referentes à caracterização das redes e seu papel para o desenvolvimento local também foi realizado por meio de entrevistas. Para tanto, foi aplicado um questionário, a partir de um enfoque sobre as redes de trabalho estabelecidas pelos produtores de café, em cada etapa da cultura do café, sendo elas: análise e preparo do solo, plantio, consorciamento, adubação, tratos culturais, manejo de pragas e doenças, irrigação, colheita, beneficiamento, secagem, armazenamento e comercialização do café produzido.

Nesta etapa foi possível coletar informações que podem ser indicadores de reciprocidade, proximidade, trabalhos em família, com vizinhos ou com instituições, que constituem as redes de trabalho, produção e acumulação de capital. Além disso, buscou-se dimensionar a qualidade de vida, conhecendo-se a percepção dos agricultores sobre o significado de qualidade de vida, as condições concretas de acesso aos diferentes domínios de vida, citados por Metzen et al. (1980); a importância e o grau de satisfação com esses domínios; além de verificar como as redes sociais interferem nessa satisfação, isto é, como elas contribuem para a qualidade de vida dessas famílias.

(31)

13 através da técnica de entrevista, na qual foi fundamentada em um roteiro semi-estruturado, no sentido de buscar compreender a percepção dos líderes de sindicatos, associações, cooperativas, etc., ou seja, os líderes institucionais locais, citados nas redes dos agricultores, em relação ao papel que desempenham no desenvolvimento do setor cafeeiro na região. Além disso, foi feito uso da técnica de observação não participante, onde o investigador não interage de forma alguma com o objeto de estudo no momento em que realiza a observação. Este tipo de técnica reduz substancialmente a interferência do observador no observado e permite o uso de instrumentos de registro sem influenciar o objeto de estudo (BOGDAN, et. al. 1994). Essas observações foram feitas no momento das visitas às comunidades rurais, quando a pesquisadora teve a oportunidade de participar como ouvinte, de várias reuniões, palestras, eventos e cursos de capacitação oferecidos pelas instituições locais. Este momento foi de extrema importância e enriquecedor para a compreensão das relações estabelecidas por esses atores sociais.

3.5. Procedimento de Análise de Dados

Para análise dos dados qualitativos foi feito uso da análise de conteúdo. Segundo Bauer e Gaskell (2002), a análise de conteúdo é uma construção social, que possui um discurso elaborado sobre qualidade, sendo suas preocupações-chave a fidedignidade e a validade. As vantagens da análise de conteúdo são que ela é sistemática e pública; faz uso principalmente de dados brutos que ocorrem naturalmente; pode lidar com grande quantidade de dados, presta-se para informações históricas e oferece um conjunto de procedimentos maduros e bem documentados.

(32)

14 4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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(36)

18 1. RESUMO

Com a finalidade de entender as características e o perfil dos agricultores familiares de café e suas redes sociais, este trabalho objetivou por meio de pesquisa bibliográfica, examinar historicamente a forma de organização da produção de café, no município de Castelo/ES. Na segunda metade do século XIX, emerge de um lado, a cafeicultura como a principal atividade econômica e de outro, foram criadas as condições para a constituição da pequena propriedade rural, por meio da introdução do imigrante europeu no Espírito Santo. Utilizado como propaganda para atrair imigrantes europeus, que substituiriam o trabalho escravo nas fazendas cafeicultoras do país, o Espírito Santo possibilitou aos migrantes que se dirigiram para seu território, o acesso à propriedade da terra. A estratégia política em questão desencadeou a constituição e a difusão da pequena propriedade rural com tamanha expressividade, consistindo a estrutura produtiva cafeeira fundada na pequena propriedade e no trabalho familiar. O imigrante impulsionado pelo desejo de ser proprietário, pelo trabalho, família e religião foi um agente modernizador e transformador da sociedade e da economia capixaba. Conclui-se que a forma de organização da produção de café em Castelo/ES deriva-se do histórico de ocupação das terras, dos valores culturais, conteúdo e normas das redes sociais.

Palavras Chave: Café, imigração, pequena propriedade. 2. ABSTRACT

In order to understand the characteristics and profile of coffee farmers and their social networks, this study aimed, by means of literature, to examine historically the form of organization of production of coffee in the town of Castelo, ES. In the second half of the nineteenth century, emerges from one side, the coffee as the main economic activity and on the other, the conditions were created for the establishment of small farms, through the introduction of European immigrants in the Holy Spirit. Used as propaganda to attract European immigrants to replace slave labor in the coffee-growing farms in the country, the Holy Spirit enabled the migrants, who arrived in their territory, access to land ownership. The political strategy in question triggered the formation and spread of small rural property with such expressiveness, consisting of coffee production structure based on small farms and in family work. The immigrant driven by the desire to own, work, family and religion was an agent of modernizing and transforming society and the economy ES. It is concluded that the organization of the production of coffee in Castle / ES derives from the history of land occupation, cultural values, content

and standards of social networks.

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19 3. INTRODUÇÃO

Buscando uma melhor compreensão a respeito do tema a ser abordado na presente pesquisa. Considerou-se importante uma aproximação com o local de estudo, o município de Castelo, localizado ao Sul do Espírito Santo. Para tanto, foi realizado uma pesquisa bibliográfica sobre sua história, que se confunde com a história da cultura do café do Estado, cultura esta, que desempenha função vital para o desenvolvimento social e econômico do Estado.

Esse resgate se faz importante, para uma melhor compreensão sobre as características e o perfil dos agricultores familiares, suas relações com seus familiares e amigos e, sobretudo, para entender como essa forma de organização da produção se reproduz no presente.

Sendo assim, no primeiro momento, há um breve comentário sobre o cultivo do café no Brasil e no Espírito Santo; com destaque para o modo de exploração e organização da produção cafeeira.

No segundo momento, trata-se da imigração no sul do ES, principalmente no município de Castelo, situando se no contexto do processo migratório do século XIX e realçando algumas características peculiares deste fenômeno na região. A partir da idéia de que o principal objetivo do imigrante no sul capixaba era tornar-se proprietário de terras, além da disposição ao trabalho, a valorização da família e da religião.

Esses dados foram baseados em historiadores, livros e artigos sobre a cultura do café, a formação econômica do Espírito Santo e do Brasil.

4. REVISÃO DE LITERATURA 4.1. O Café no Brasil

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20 É importante ressaltar que o Brasil passou por problemas econômicos, com a Balança Comercial constantemente deficitária, em função da ausência de um produto que viesse sustentar nossa economia. Foram crises, como a do açúcar, em queda constante no mercado europeu, desde os fins dos Séc. XVII, e a do ouro, em processo de esgotamento desde o final do Séc. XVIII. Fazia-se, então, urgente achar um novo produto que pudesse reerguer a economia brasileira, e é dentro desse contexto que começa a se vislumbrar a comercialização, em primeiro momento em pequena escala, mas que, caminhando o séc. XIX a fora, se torna o pilar de sustentação da economia brasileira. Cada vez mais, o mercado americano e europeu se expandia. Tanto assim, que em meados, já deste Séc., a pauta de exportação registrava que 60% das exportações brasileiras se baseavam na comercialização do café (BITTENCOURT, 1987).

A empresa cafeeira foi estruturada no mesmo modelo da empresa açucareira, isto é, no “Sistema Plantation”, monocultura, mão de obra escrava e grandes latifúndios. Começou sua produção em larga escala no Rio de Janeiro, depois avançou para o oeste paulista, para Minas Gerais e para o Espírito Santo e mais precisamente, na Região Sul do Estado, o café chegou nos primórdios do século XIX, provavelmente com expansão das áreas de cultivo do Nordeste fluminense (CASAGRANDE, 2002) .

Em 1800, deu-se a primeira exportação brasileira, de 13 sacas de café. Porém, somente nos idos de 1811/12, é que foi relatada a produção inicial de café nas lavouras do Rio Doce na província capixaba, para envio ao Rio de Janeiro.

Sendo assim, o café reintegrou a economia brasileira ao mercado internacional e contribuiu decisivamente para as mudanças das relações assalariadas de produção, possibilitando o acúmulo de capital, que disponível, foi sendo aplicado em sua própria expansão e em alguns setores urbanos, como a indústria, contribuindo para a inversão de nossa balança Comercial, que fecha o século XIX apresentando superávit (HOLANDA, 1960). Sendo assim, verifica-se o crescimento do produto em relação aos demais, como pode ser observado na Tabela 1.

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21 Tabela 1: Exportações de Café no Brasil no período de 1821 a 1890.

PORCENTAGEM SOBRE O VALOR DA EXPORTAÇÃO

Produtos 1821/30 1831/40 1841/50 1851/60 1861/70 1871/80 1811/90 Café

Açúcar

Couros e peles Borracha Algodão Fumo Cacau

18,4 43,8 41,4 48,8 45,5 56,6 61,5 30,1 24,0 26,7 21,2 12,3 11,8 9,9 13,6 7,9 8,5 7,2 6,0 5,6 3,2 - - - 2,3 3,1 5,5 8,0 20,6 10,8 7,5 6,2 18,3 9,5 4,2 - - 1,8 2,6 3,0 3,4 2,7 - - 1,0 1,0 0,9 1,2 1,6 Fonte: HOLANDA, S B. “História Geral da Civilização”. São Paulo, Difel, 1960.

No entanto, no início do século XX a super produção de café gerou uma forte crise no Brasil. Assim, segundo Alcoforado (2003), o Estado se comprometeu a comprar toda a produção de café e utilizar o estoque como meio de equalizar o mercado contra as variações no preço; esta foi a primeira forte intervenção do governo na cafeicultura. Após a grande crise que assolou o mercado do mundo cafeeiro, o segmento enfrentou mais uma vez um forte problema de origem econômica, envolvendo as economias como um todo: a quebra na bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929, acarretando na contenção da demanda de café por vários países compradores do produto, gerando mais um forte e agravante problema para a cadeia cafeeira.

Segundo o autor, para amenizar a crise, algumas políticas foram adotadas, como a compra de café pelo governo e a queima para tentar regular a oferta do produto no mercado, mas a crise era forte e prolongou-se por um período que os produtores não puderam resistir.

Neste período, iniciou-se um novo ciclo para a cafeicultura e foi criado o Instituto Brasileiro do Café - IBC em 1952, contribuindo com o desenvolvimento de pesquisas e financiamento à produção cafeeira.

Após a extinção do IBC em 1990, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) juntamente como o Ministério da Indústria e do Comércio e Turismo (MCT) criaram o Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Café, cujo objetivo era o desenvolvimento de um trabalho em conjunto entre as diversas instituições envolvidas em pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologias para o Agronegócio Café Brasileiro (EMBRAPA CAFÉ, 2004).

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22 iniciativa de dez tradicionais instituições brasileiras de pesquisas cafeeiras (IAC, IAPAR, INCAPER, UFV, UFLA, PESAGRO, EMBRAPA, MAPA e EPAMIG).

Com a abertura das economias e a demanda voltando a crescer, a cafeicultura se sustentou de forma a conquistar novas fronteiras, como Bahia, Rondônia, Goiás e Minas Gerais. Nesta época, o estado do Paraná e São Paulo juntos correspondiam com quase 70% da produção. Paralelamente, novas instituições começaram a trabalhar com o café, principalmente após o aparecimento da Ferrugem Brasileira, por volta de 1970, com a UFU, EPAMIG, INCAPER, entre outras (EMBRAPA CAFÉ, 2004).

Na década de 2000, nos primeiros anos, o café torna a entrar em mais uma crise, preços baixos decorrentes da superprodução interna e devido à grande produção de outros países, com uma demanda estimada em torno de 35 a 40 milhões de sacas. Neste período houve a necessidade de uma nova estruturação no seguimento por parte dos produtores, pois os custos de produção saltaram vertiginosamente, desestimulando a produção em alguns locais onde a produção requeria maior investimento, tais como, mão-de-obra e solos poucos produtivos. Atualmente, os bons preços praticados no mercado (por conta da queda na oferta do produto em outros países produtores) projetam um cenário com novas perspectivas à cadeia produtiva do café.

Assim, no cenário atual, a produção de café no Brasil se encontra em patamares sustentáveis com produção de 2.440.056 toneladas de café, em 2009, segundo o IBGE, sendo 83% deste volume da Região Sudeste. No mapeamento por Estados realizado pelo Instituto, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo são os três maiores produtores de café do país (IBGE, 2009). As tecnologias desenvolvidas vêm colaborando com os altos níveis de produtividade, deixando o país com grande vantagem em relação aos outros países produtores e se mantendo como maior produtor mundial.

De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), a produção mundial do ano (safra 2010/2011) chegou a aproximadamente 133,3 milhões de sacas, representando um crescimento de 8,2% em relação ao ano anterior, sendo que a OIC estima uma produção inicial de 130 milhões de sacas para a próxima safra.

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23 toneladas em 2009. No ranking dos cinco maiores produtores aparecem também Vietnã, Colômbia, Indonésia e Etiópia, como podemos observar na Tabela 2.

Tabela 2: Maiores produtores de café do mundo.

Posição País Produção (t)

1º Brasil 2.440.056 2º Vietnã 1.760.000 3º Colômbia 887.661

4º Indonésia 700.000

5º Etiópia 260.339 Fonte: Fastat/FAO – Elaborado por Sebrae/PE, 2011.

O café é responsável por aproximadamente 7,5 milhões de empregos diretos e indiretos na cadeia produtiva chamada agronegócio-café, exportando sua produção para mais de 130 países, sendo fonte de renda para uma grande parcela de proprietários rurais, sendo sua tradição deixada de geração a geração (RUFINO, et. al., 2009).

4.2. O Café no Espírito Santo

O Espírito Santo, desde a sua colonização, com Vasco Fernandes Coutinho, desenvolveu uma economia baseada na agricultura, em especial a cana de açúcar e de outros produtos baseados na subsistência da população. Apesar de várias buscas por metal, a capitania se mantinha com agricultura (CASAGRANDE, 2002).

Segundo o referido autor, até meados do Séc. XIX era o açúcar, apesar da pouca produção, o produto que sustentava a economia capixaba. O ouro, apesar das tentativas, era encontrado em pequena escala e foi ofuscado pelo ouro em grandes quantidades em Minas Gerais, o que colaborou para praticamente o fechamento de nossa capitania, que também contribuiu para que o desenvolvimento no Estado não acontecesse, levando a um atraso de 300 anos. Assim sendo, a capitania vivia à míngua, pouco povoada, sem algo que lhe desse novos ânimos para seu crescimento econômico.

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24 de imediato algumas providências para que se alcançasse tal objetivo. Uma delas, e importantíssima, foram à assinatura dos Autos de 1800, ficando definitivamente demarcados os limites entre Minas Gerais e a capitania do Espírito Santo, o que acabou preservando o território capixaba, já que os mineiros se expandiam em direção ao mar. A assinatura deste ato vai também contribuir para o incentivo à comunicação entre as duas regiões, favorecendo o transporte pelo, até então, fechado Rio Doce, levando o povoamento e colonização daquela região, contando com a presença de mão de obra mineira, já que o ouro se encontrava em decadência.

Apesar de todos os esforços, a capitania ainda carecia de uma nova dinâmica na economia. Era preciso que se encontrassem caminhos que levassem ao real crescimento econômico capixaba. Mas o que o Estado tinha para isso? Terras poucos povoadas, mata quase que recobrindo a extensão territorial, terras virgens e devolutas. Portanto, a saída era pela via agrícola, devido às possibilidades naturais. Paralelo, a isso, o Vale do Paraíba (abrange terras do Rio de Janeiro e São Paulo), em grande escala, vinha produzindo um produto, que apesar de ter entrado no Brasil no início do Séc. XVIII, só no início do século seguinte, Séc. XIX começava a ter expressão na economia do país, seguido por Minas Gerais e São Paulo. Os fluminenses começavam a expandir sua produção, fazendo das terras sul capixabas quase que uma extensão de suas terras, seguidos pelos mineiros, depois pelos paulistas (CASAGRANDE, 2002).

Sendo assim, o café chegou ao Espírito Santo nos primórdios do século XIX em decorrência das áreas de cultivo do Vale do Paraíba, e a monocultura do café, já no final do século, era a atividade predominante na agricultura do Estado (FERRÃO et. al. 2007).

O café se estabeleceu nas terras do Espírito Santo, apesar do território não apresentar as condições adequadas para o seu plantio. Como no oeste paulista, outros elementos foram fundamentais para sua produção, como as terras virgens para serem desbravadas e o estímulo do mercado externo, onde o preço e a procura pelo produto aumentavam ano após ano; o menor custo de implantação do produto se comparado ao da cana, o que contribuiu para que os lavradores capixabas abandonassem a sua produção, substituindo-a pela do café, surgindo assim “uma verdadeira febre de plantar café” (BITTENCOURT, 1987).

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25 Rubim, foram exportadas as primeiras arrobas de café. Em 1852, o café já era produto de maior valor dentro das exportações capixabas, levando a Balança Comercial a apresentar seus primeiros saldos positivos, o que fortificou as relações comerciais e a sociedade capixaba.

Começando pelas regiões do sul: Mimoso do Sul, Cachoeiro do Itapemirim, Apiacá, Itarana, Muqui, Castelo, indo em direção ao norte, o café foi trazendo grandes transformações para a província. Aquela província pobre e isolada, já não era mais realidade, pois o grande contingente de imigrantes italianos, alemães, suíços, poloneses, tiroleses e austríacos, além de portugueses, que vieram a se estabelecer em territórios capixabas, aumentou consideravelmente o número de habitantes do Estado, que, em 1824, era de 35.000, passando, em 1900, a 209.783. (BITTENCOURT, 1987).

O desenvolvimento do setor de transportes, tanto rodoviário quanto fluvial (Porto Fluvial de Cachoerio de Itapemirim), incrementou a desobstrução de rios; a construção e ampliação do Porto de Vitória, que passou a receber a presença constante de navios europeus; a rede ferroviária, que chega à Província Capixaba, no final do Império, que de Cachoeiro de Itapemirim ligava-se às regiões do interior, como Castelo e Alegre; além da criação de inúmeras benfeitorias, como o Correio Geral (1884), a iluminação a gás, o telégrafo elétrico; enfim, áreas de crescimento e desenvolvimento (CAMPOS JR, 1996).

No entanto, a partir de 1955 inicia-se uma nova crise nos preços do café, cujos resultados expressam-se através de transformações espaciais ainda não experimentadas pela agricultura capixaba, no contexto das outras crises ocorridas, como, por exemplo, a diversificação de algumas atividades produtivas. A partir desse período a exploração madeireira e a pecuária passam a apresentar elevadas taxas de crescimento. Assim, na década de 1960 temos a crise do café, que levou a erradicação de grande parte da lavoura cafeeira estadual, principalmente as localizadas na região Norte. A partir dessa década e mais fortemente, em 1971, com o plano de renovação e revigoramento da lavoura cafeeira, observam-se os primeiros plantios comerciais de café robustas (conilon), no município de São Gabriel da Palha, que se expandiram para toda região e, posteriormente, para o Sul do Estado (SILVA et al., 2009).

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26 comercial capixaba, não permitiram que fossem realizadas obras de infra-estrutura, como a construção de estradas e nem a dinamização da produção de café, conforme ocorrera em São Paulo. Esse cenário, conseqüentemente, interferiu de forma negativa no processo de desenvolvimento econômico do Espírito Santo. Essa estrutura produtiva fundada na pequena propriedade, no trabalho familiar e na ausência de recursos técnicos, consolidada com a introdução do imigrante europeu e a abolição da escravidão, proporcionou a ocupação do Espírito Santo no sentido do sul para o norte, reproduzindo-se de forma predominante, até a década de 1960, quando encerrou a zona pioneira para o café (CASAGRANDE, 2002)

4.3. A imigração Italiana no Sul do Espírito Santo

A segunda metade do século XIX, sobretudo, caracterizou-se, sob o aspecto demográfico e social, como um período de migrações massivas. Milhões de seres humanos deixaram neste período a Europa, principalmente a Itália, e foram para a América, continente que tornou-se uma terra de promissão, de expectativa, de enriquecimento fácil e de possibilidades de ascensão social e econômica (CASAGRANDE, 2002).

A elevação de impostos, endividamento e desemprego dos pequenos proprietários forram fatores relevantes e que levaram milhões de italianos a abandonar sua terra. Estima-se que, entre 1861 e 1940, aproximadamente 20 milhões de italianos emigraram, sendo 17 milhões somente entre 1861 e 1920. A maioria destes, era do norte da Itália, que concentrava mais indústrias e foi o palco das maiores transformações políticas e econômicas (DERENZI, 1974).

Celso Furtado (2007) afirma que as medidas do Governo Imperial para incentivar a imigração e atrair imigrantes só obtiveram sucesso devido às transformações ocorridas na Europa, assim a solução migratória surgiu como uma verdadeira válvula de escape.

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27 Foram inúmeros fatores, sobretudo os políticos e econômicos, que levaram milhões de pessoas a se mobilizarem da Itália e de outros países, para o Brasil e, especificamente, para o Espírito Santo. Contudo, diante das leituras realizadas acerca do tema, foi possível indicar quatro elementos constantes que motivaram esse processo imigratório, são eles: a propriedade, ou seja, o desejo de tornar-se proprietário da terra; o trabalho, tão exaltado na memória dos imigrantes e seus descendentes, capaz de sujeitarem-se as mais precárias condições de trabalho para conseguir seus objetivos e ambições; família, freqüentemente numerosa, catalisador de vínculos comunitários e fraternos; e a religião, suporte ideológico, de identidade cultural e de valores morais.

Segundo Petrone (1982), as migrações produzem freqüentemente importantes transformações na estrutura demográfica, social, econômica e cultural das regiões interligada pelo movimento. O século XIX, sobretudo na segunda metade, caracterizou-se por uma transferência de grandes contingentes populacionais entre regiões, cujos contextos apresentavam muitas diferenças, quanto ao estágio de desenvolvimento e à evolução demográfica. Assim, de um lado, a Europa passava por uma fase de excedente de mão de obra, de novas relações sobre a utilização da terra, dos serviços e ofertas de emprego, principalmente daqueles pouco especializados. Por outro lado, o continente americano buscava atrair recursos humanos para povoar os imensos vazios demográficos e produzir riquezas.

Não há números exatos da quantidade de imigrantes italianos no Brasil e no Espírito Santo. Segundo Petrone (1982), estima-se 1.485.000; para De Boni (1998), entre 1836 e 1947, aproximadamente 1.513.523 italianos ingressaram no Brasil e, no Espírito Santo, estima-se em aproximadamente 35 mil.

Somente no ano de 1895, ingressaram no Espírito Santo 4.575 imigrantes. Neste mesmo ano, a imigração italiana para o Estado fora proibida, pois os imigrantes enfrentavam vários problemas, tais como: deficiência dos meios de transporte entre a capital e os núcleos coloniais; condições precárias de alojamento nos barracões existentes nas sede dos núcleos; demora na obtenção do lote e imprecisão nas demarcações; deficiência na assistência médica, escolar e religiosa; demora dos pagamentos e substituição do dinheiro por bônus (NAGAR, 1995).

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28 Piemonte. As cidades mais citadas são Trento, Verona, Treviso, Mântua e Veneza. O número de imigrantes que ingressou no Espírito Santo pode parecer inexpressivo em relação à quantidade presente em outros estados, como Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. O ES, no entanto, é o Estado que apresenta a maior concentração de descendência italiana no Brasil, estimando-se entre 60% a 70% da população migratória.

4.4. A Formação das Colônias de Imigrantes no Espírito Santo

A colonização do Espírito Santo foi difícil desde a chegada dos portugueses e a divisão das novas terras em capitanias hereditárias. Vasco Fernandes Coutinho, primeiro donatário da Capitania na qual estava, o que hoje compreende o Espírito Santo, após várias tentativas de levantar engenhos de açúcar, fracassou em seu empreendimento, devido, sobretudo, aos assaltos dos índios, que reagiram e resistiram à caça de braços para a atividade agro-industrial. Este donatário dirigiu-se a Portugal e conseguiu apoio de D. João III, mas, ao retornar à capitania, fora expulso pelos próprios subordinados e depois de renunciar seus direitos de donatário, terminou sua vida pobre e desvalido na Bahia, à sombra do Governo Geral que o tolerava (HOLANDA, 1960).

Durante o século XVIII, a coroa portuguesa proibiu a construção de estradas em direção a Minas Gerais e também a navegação fluvial, para que o Espírito Santo se tornasse algo como uma cerca verde e assim proteger a região das minas piratas e do contrabando (CASAGRANDE, 2002).

Mediante a situação encontrada no Brasil, o governo italiano também impediu a vinda de seus colonos, como mostra-nos o historiador Gabriel Bittencourt:

“A introdução e fixação do imigrante europeu não-português no Espírito Santo não se fez sem choques e conflitos. No processo de acomodação do novo elemento introduzido, os imigrantes tiveram de enfrentar o isolamento e a ausência de vias de comunicação nos primeiros tempos e de mercado consumidor. Doenças desconhecidas, quebras contratuais, falsas expectativas criadas pelos aliciadores na Europa, e conflitos com a própria administração pública, mataram ou levaram de volta muitos colonos que não puderam resistir à epopéia da imigração. Daí a medida adotada pelo governo da Itália que, em 20 de julho de 1895, proíbe o embarque de italianos para o Espírito Santo” (BITTENCOURT, 1987, p 73).

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29 A estrada chamada São Pedro Alcântara, que ligava Vitória às jazidas auríferas, foi aberta entre 1814 e 1816. E, entre 1816 e 1830, as explorações de ouro nas antigas minas de Castelo, no sul do Estado, foram reiniciadas (CASAGRANDE, 2002). Nesta época, o café começava a ser exportado e, em 1815, as primeiras arrobas de café foram exportadas e o café já era o produto de maior valor nas exportações. No entanto, a falta de mão de obra; a escassa população concentrada na região litorânea; constituía um dos sérios obstáculos ao desenvolvimento da cafeicultura capixaba.

A solução pensada mediante os problemas foram à formação de colônias de povoamento e o incentivo à imigração. O que Celso Furtado diz genericamente em “Formação Econômica do Brasil”, a respeito das colônias de imigrantes no Brasil aplica-se validamente para as colônias do Espírito Santo:

“As colônias criadas em distintas partes do Brasil pelo Governo Imperial careciam totalmente de fundamento econômico; tinham como razão de ser a crença na superioridade inata do trabalhador europeu, particularmente daqueles cuja raça era distintamente subsidiada. Pagavam-se transporte e gastos de instalação e promoviam-se obras públicas artificiais para dar trabalho aos colonos, obras que se prolongavam algumas vezes de forma absurda. E quase sempre, quando após vultuosos gastos, se deixava a colônia entregue a suas próprias forças, ela tendia a definhar, evoluindo em simples economia de subsistência” (FURTADO, 2007, p. 183).

As primeiras colônias oficiais criadas no Espírito Santo foram as de Santa Isabel, em 1847, e Santa Leopoldina, em 1856, para imigrantes alemães e suíços, sob especial proteção do imperador, que as visitou em 1860 (DERENZI, 1974). Para a demarcação das terras surgiram muitos obstáculos, sobretudo com sesmeiros e posseiros da região. Muitos foram os fazendeiros que manifestaram seus protestos, insatisfações e denúncias contra a realização do núcleo colonial.

Para os imigrantes que se dirigiam ao Espírito Santo, o governo se comprometia com a derrubada de mil braças quadradas para a primeira lavoura, rancho provisório, ferramentas, sementes diversas para a primeira plantação, casal de porcos, duas galinhas, um galo, alimentação para seis meses e diárias, que provocaram problemas e queixas devidos aos atrasos constantes (DE BONI, 1998).

Além de trabalhar em sua terra, os imigrantes eram recrutados e remunerados para aberturas de estradas e outros serviços. Nos núcleos coloniais, principalmente o de Castelo, ainda criavam gado em pequena quantidade, que servia para o consumo da família e para o abastecimento de um incipiente mercado local (CASAGRANDE, 2002).

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30 houve muita dificuldade, pois os imigrantes não tinham ferramentas apropriadas. E a fertilidade das terras recebidas no núcleo colonial Castelo não era das melhores, ela era denominada pelos imigrantes de “La terra magra”. A lavoura de café leva algum tempo para produzir e, na época, a demora chegava há cinco anos, e neste período, os italianos trabalhavam nas grandes fazendas de café da região, em substituição aos escravos, fazendo assim uma jornada dupla de trabalho.

No Espírito Santo, a grande extensão de terras devolutas dificultava a implantação do sistema de parceria entre os grandes fazendeiros e os imigrantes, pois estes abandonavam a fazenda para se estabelecer em um lote próprio e outros trabalharam como meeiros pra conseguir suas próprias terras. Entre os latifundiários capixabas, sobretudo no sul do Estado, muitos tiveram que retalhar sua propriedade em pequenos lotes a serem vendidos a preços módicos e a longo prazo aos colonos italianos. Em contrapartida, o colono deveria vender sua produção à firma de comercialização. Esta prática era freqüente em outros lugares do Brasil, nesse mesmo período (COLBARI, 1998).

Dessa forma, segundo o autor citado acima, os imigrantes tiveram contato com as terras das fazendas do município de Castelo, onde já haviam compatriotas trabalhando como meeiros para os fazendeiros. Assim, mesmo sendo um trabalho temporário, os italianos conseguiram juntar algum dinheiro, fosse ele no trabalho de meeiro ou nos núcleos coloniais, e assim, eles abandonavam o trabalho na fazenda para adquirir sua propriedade.

A intenção dos italianos ao deixarem sua terra era a de serem proprietários e, após receberem o dinheiro da venda das primeiras colheitas, muitos dos imigrantes do núcleo colonial de Castelo passam a adquirir propriedades e a se transferirem para a região do futuro município de Castelo. E, como os fazendeiros do sul do Estado não se preparam para a mudança da mão de obra escrava para a mão de obra livre, as grandes fazendas de café se desmembraram entre os herdeiros que, enfraquecidos, as

retalhavam em pequenos lotes e as vendia aos italianos (COLBARI, 1998). Segundo Busatto (1998), faz-se necessário distinguir as diferenças no uso dos

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Figura 2: Estado civil dos produtores de café do município de Castelo/ES, 2011.         Fonte: Dados da Pesquisa, 2011
Tabela 5: Aspectos do perfil familiar dos produtores entrevistados, Castelo/ES, 2011.
Tabela 6: Condições dos trabalhadores nas propriedades pesquisadas de café conilon,  Castelo/ES, 2011
Tabela 9: Tipo de assistência técnica oferecida aos agricultores familiares de  café, Castelo/ES, 2011
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Referências

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