Christian Wittee Lopes
Síntese de zeólitas tipo ton utilizando um sal de imidazólio como agente
direcionador de estrutura
____________________________________
Dissertação de Mestrado
Natal/RN, maio de 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
INSTITUTO DE QUÍMICA
Christian Wittee Lopes
SÍNTESE DE ZEÓLITAS TIPO TON UTILIZANDO UM SAL DE IMIDAZÓLIO COMO AGENTE DIRECIONADOR DE ESTRUTURA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Química.
Orientadora: Dra. Sibele B. C. Pergher
Co-orientador: Dr. Marcelo L. Mignoni
NATAL, RN
UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede. Catalogação da Publicação na Fonte. Lopes, Christian Wittee.
Síntese de zeólitas tipo ton utilizando um sal de imidazólio como agente direcionador de estrutura. / Christian Wittee Lopes. – Natal, RN,
2014. 104 f.; il.
Orientadora: Profª. Drª. Sibele B. C. Pergher. Co-orientador: Prof. Dr. Marcelo L. Mignoni.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra. Instituto de Química. Programa de Pós-Graduação em Química.
1. Zeólitas - Dissertação. 2. 1-butil-3 metilimidazolio - Dissertação. 3. Síntese - Dissertação. I. Pergher, Sibele B. C. II. Mignoni, Marcelo L. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.
À minha família, a base de tudo.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço à minha família, pelos valores a mim ensinados, pelo
investimento, incentivo, confiança e apoio em todos os momentos. Sem um pouco de cada
uma dessas coisas acredito que não teria chegado aonde cheguei.
À minha esposa, Francine Bertella, por tudo que fez por mim desde o momento em
que nos conhecemos. Se hoje sou o que sou, tanto como pessoa, quanto profissionalmente,
saiba que tens uma parcela muito grande nisso. Muito obrigado.
À minha orientadora e mãe nas horas vagas, Profª. Sibele B. C. Pergher, por ter me
iniciado na pesquisa, pelos ensinamentos e conselhos quase que diários, pelas risadas
compartilhadas, pelas conversas de corredor (que, acredito eu, tenham me ensinado muitas
coisas que possivelmente não teria aprendido em sala de aula) e tudo aquilo que me
proporcionou e tem proporcionado em minha vida.
Ao meu co-orientador Marcelo L. Mignoni, que além da amizade, apoio e incentivo,
me iniciou na síntese de zeólitas, área até então desconhecida pra mim e que hoje me encanta.
Obrigado por sempre manter as portas abertas em todos meus retornos à URI.
À profª Kátia B. Gusmão e ao prof. João Henrique Z. dos Santos pelas análises
realizadas nos laboratórios da UFRGS.
Aos meus colegas de LABPEMOL, pela amizade, pelas trocas de conhecimento, pelas
risadas de todos os dias, pelos “chimarrões” e cafés, jantas, açaís e almoços.
Aos meus companheiros de LAQAM, Anderson Parodia e Pedro H. Finger,
principalmente pela amizade e pelas análises realizadas que contribuíram muito para este
trabalho.
Aos amigos que deixei em Erechim. Cada vez que volto à cidade, me acolhem de
maneira indescritível.
Aos professores Antonio Chica do ITQ – Valencia e Eledir V. Sobrinho pelas sugestões dadas no exame de qualificação.
À banca de defesa por ter aceitado o convite.
Ao Instituto de Química, PPGQ e a UFRN pela oportunidade de realizar o mestrado.
À CAPES e ao CNPq pela(s) bolsa(s) concedida(s).
"Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar
um único dia em sua vida"
RESUMO
Este trabalho relata a síntese de zeólitas de diferentes composições (puramente
silícicas, Si/Ti e Si/Al), via meio básico e fluorídrico, utilizando o cátion
1-butil-3-metilimidazólio como agente direcionador de estrutura. Inicialmente o cátion foi sintetizado e
utilizado na forma de cloreto para as sínteses em meio básico e uma troca aniônica (Cl- para
OH-) foi necessária para as sínteses em meio fluorídrico. Diferentes reagentes foram
empregados para a formação dos géis de síntese, resultando na cristalização das fases MFI e
TON, esta última predominante em muitas composições de gel testadas. O cátion sintetizado e
as zeólitas obtidas foram caracterizados por diferentes técnicas, como RMN, TG/DTG, DRX,
MEV, adsorção e dessorção de N2, DRS e EPMA. Além de caracterizar o cátion e as zeólitas,
a água-mãe das sínteses em meio básico foi caracterizada e foi possível verificar uma
modificação do cátion nas condições de síntese empregadas. Os materiais sintetizados neste
trabalho podem ser aplicados em reações catalíticas e de adsorção
ABSTRACT
This work reports the synthesis of zeolites with different compositions (pure silica,
Si/Ti and Si/Al), via hydroxide and fluoride medium using the cation
1-butyl-3-methylimidazolium as structure directing agent. Initially, the cation was synthesized in
chloride form and used for the synthesis in hydroxide medium. An anion-exchange (Cl- for
OH-) was required for the synthesis in fluoride medium. Different reactants were used for the
formation of gels synthesis, resulting in the crystallization of MFI and TON phases, the latter
predominant in many compositions. The cation and synthesized zeolites obtained were
characterized by different techniques such as NMR, TG/DTG, XRD, SEM, N2 adsorption and
desorption, DRS and EPMA. Besides characterizing the cation and zeolites, the mother liquor
of hydroxide synthesis was characterized and it was possible to observe a modification of the
cation in the synthesis conditions employed. The materials synthesized in this work can be
applied in catalytic reactions and adsorption.
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1: Esquema estrutural da zeólita, onde X representa o cátion de
compensação... 19
Figura 3.2: Unidades secundárias de construção (SBU)... 20
Figura 3.3: Formação de materiais zeolíticos a partir de um tetraedro e sistemas de poros das respectivas zeólitas... 20
Figura 3.4: Síntese hidrotérmica de zeólitas. Transformação de reagentes amorfos em produtos zeolíticos cristalinos... 24
Figura 3.5: Especificidade cátion/cavidade entre a zeólita ZSM-18 e o respectivo template utilizado na síntese... 27
Figura 3.6: Cátions imidazólio utilizados no trabalho de Rojas... 30
Figura 3.7: Cátions imidazólio utilizados no trabalho de Archer... 31
Figura 3.8: Projeção da estrutura da zeólita ZSM-22 ao longo do eixo c... 33
Figura 3.9: Morfologias de diferentes zeólitas TON (ZSM-22, Nu-10, Theta-1 e KZ-2)... 34
Figura 3.10: Estrutura da titanossilicalita (TS-1)... 35
Figura 3.11: Esquema da transformação da estrutura MWW para YNU... 37
Figura 3.12: Tipos de seletividade com peneiras moleculares... 39
Figura 3.13: Transporte com “bomba molecular”: (i) reagentes apolares são adsorvidos por uma zeólita hidrofóbica; (ii) a reação catalítica ocorre no interior das cavidades e, finalmente, (iii) os produtos polares são expelidos da zeólita... 40
Figura 4.1: Obtenção do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio... 43
Figura 4.2: Fluxograma das sínteses realizadas neste trabalho... 54
Figura 5.1: RMN de 1H e 13C do composto sintetizado... 56
Figura 5.3: Difratogramas de raios X das amostras obtidas em meio básico com composição puramente silícica...
58
Figura 5.4: Microscopia eletrônica de varredura da amostra PS3Ac... 59
Figura 5.5: Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na razão Si/Ti = 25. (a) Diferentes tempos de cristalização, em modo agitação e
estático. (b) Presença da reflexão relativa à anatase... 60
Figura 5.6: Cristalinidades relativas das zeólitas obtidas na razão Si/Ti =
25... 61
Figura 5.7: Espectros de refletância difusa na região do UV-vis das zeólitas
obtidas na razão Si/Ti igual a 25... 62
Figura 5.8: Imagem de microscopia eletrônica de varredura (acima) e mapeamento químico dos elementos O, Si e Ti (abaixo) da
amostra 25ST1Ac... 63
Figura 5.9 Espectros de 13C RMN da amostra 25ST3A (acima) e do
[C4MI]Cl (abaixo)... 64
Figura 5.10: Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na razão Si/Ti =
50... 65
Figura 5.11: Cristalinidades relativas das zeólitas obtidas na razão Si/Ti =
50... 66
Figura 5.12: Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na razão Si/Ti =
50 em 4, 8 e 16 h... 67
Figura 5.13: Espectros de refletância difusa na região do UV-vis das zeólitas
obtidas na razão Si/Ti igual a 50... 67
Figura 5.14: Microscopia eletrônica de varredura das amostras: (a) 50ST3Ac
(b) 50ST3Ec (c) 50ST7Ac (d) 50ST7Ec... 68
Figura 5.15: Isoterma de adsorção e dessorção de N2 da amostra 50ST1Ac.... 69
Figura 5.17: Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas na razão Si/Ti =
100... 72
Figura 5.18: Cristalinidades relativas das zeólitas obtidas na razão Si/Ti =
100... 73
Figura 5.19: Espectros de refletância difusa na região do UV-vis das zeólitas
obtidas na razão Si/Ti igual a 100... 73
Figura 5.20: Microscopia eletrônica de varredura das amostras: (a)
100ST1Ec (b) 100ST3Ec (c) 100ST3Ac (d) 100ST7Ec... 74
Figura 5.21: Curvas termogravimétricas (acima) e derivadas (abaixo) do líquido iônico utilizado nas sínteses e do composto gerado
pós-síntese... 77
Figura 5.22: Espectros de RMN de 13C do composto obtido da água-mãe
(abaixo) e do [C4MI]Cl (acima)... 78
Figura 5.23: Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas utilizando o
1,8-diaminoctano como agente direcionador de estrutura... 79
Figura 5.24: Análise termogravimétrica da amostra TIZA3A... 80
Figura 5.25: Difratogramas de raios X das zeólitas obtidas utilizando o
[C4MI]Cl como agente direcionador de estrutura... 81
Figura 5.26: Cristalinidades relativas das zeólitas obtidas pelo método
comparativo... 82
Figura 5.27: Espectros de 13C RMN da amostra TLI3A (acima) e do
[C4MI]Cl (abaixo)... 82
Figura 5.28: Análise termogravimétrica da amostra TLI3A... 83
Figura 5.29: Microscopia eletrônica de varredura das amostras TIZA3Ac (acima) e TLI3Ac (abaixo): (a) 1000x, (b) 5000x, (c) 5000x, (d)
Figura 5.30: Difratogramas de raios X das amostras obtidas na razão Si/Al =
50... 85
Figura 5.31: Cristalinidades relativas das amostras obtidas no método
comparativo... 86
Figura 5.32: Microscopia eletrônica de varredura das amostras: (a)
50SA3Ac (5000x) e (b) 50SA3Ec (1000x)... 87
Figura 5.33: Difratogramas de raios X das zeólitas puramente silícicas obtidas em meio fluorídrico utilizando o [C4MI]Cl como agente
direcionador de estrutura... 89
Figura 5.34: Microscopia eletrônica de varredura da amostra FPS13E: (a)
1000x (b) 3000x... 90
Figura 5.35: Difratograma de raios X da amostra obtida no experimento 4... 91
Figura 5.36: Microscopia eletrônica de varredura da amostra obtida em 18
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1: Classificação de materiais quanto ao tamanho de poro... 21
Tabela 3.2: Moléculas orgânicas utilizadas na síntese de zeólitas... 29
Tabela 3.3: Características estruturais de zeólitas de topologia TON... 32
Tabela 3.4: Técnicas de caracterização empregadas na identificação de titânio em peneiras moleculares... 38
Tabela 3.5: Quantidade (%) de contaminante adsorvido em testes de laboratório com a zeólita Y, ZSM-5, a mistura das duas e em sucessão... 41
Tabela 3.6: Alguns processos comerciais que empregam zeólitas como catalisadores... 41
Tabela 4.1 Condições empregadas para cristalização de zeólitas Ti-TON... 51
Tabela 5.1: Valores de área específica das amostras calcinadas da série Si/Ti = 25...
64
Tabela 5.2: Valores de área específica das amostras calcinadas da série Si/Ti = 50...
70
Tabela 5.3: Valores de área específica das amostras calcinadas da série Si/Ti = 100...
75
Tabela 5.4: Valores em porcentagem de cristalinidade relativa das amostras sintetizadas com o 1,8-diaminoctano... 80
LISTA DE SIGLAS
[C4MI]Cl Cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio
AlPO’s Aluminofosfatos
BET Brunauer-Emmet-Teller
DAO 1,8 – diaminoctano
DR Dubinin-Radushkevich
DRS UV-Vis Espectroscopia de refletância difusa na região do ultravioleta-visível
DRX Difração de raios X
DTG Termogravimetria derivada
EPMA Electron Probe Microanalyzer
EPR Espectroscopia de ressonância paramagnética electrônica
EXAFS Extended X-Ray Absorption Fine Structure
FT-IR Espectroscopia na região do infravermelho com transformada de Fourier
IZA Associação internacional de zeólitas
M41S Família de materiais mesoporosos sintetizados pela Mobil
RMN Ressonância magnética nuclear
SAPO’s Silicoaluminofosfatos
TEOS Tetraetilortosilicato
TEOT Tetraetilortotitanato
TG Análise termogravimétrica
TMA Tetrametilamônio
XANES X-ray Absorption Near Edge Structure
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO... 16
2 – OBJETIVOS... 17
2.1.1 – Objetivos Específicos... 17
3 – REFERENCIAL TEÓRICO... 18
3.1 – Zeólitas... 18
3.1.1 – Definição... 18
3.1.2 – Estrutura e classificação das zeólitas... 18
3.2 – Síntese de zeólitas... 22
3.2.1 – Histórico... 22
3.2.2 – Aspectos sobre síntese de zeólitas... 23
3.2.3 – Razão Si/Al... 24
3.2.4 – Água... 25
3.2.5 – Tempo e temperatura de cristalização... 25
3.2.6 – Agitação do sistema... 26
3.2.7 – Concentração de OH... 26
3.2.8 – Moléculas orgânicas na síntese de zeólitas... 26
3.3 – Cátions imidazólio como direcionadores de estrutura... 29
3.4 – Zeólitas de topologia TON... 32
3.5 – Catalisadores contendo titânio... 35
3.6 – Aplicações das zeólitas... 39
4 – MATERIAIS E MÉTODOS... 43
4.1 - Síntese do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio [C4MI]Cl... 43
4.2 - Síntese em meio básico das zeólitas puramente silícicas... 43
4.3 - Síntese em meio básico das zeólitas contendo Ti... 44
4.4 - Síntese em meio básico das zeólitas contendo Al – Método IZA... 46
4.5 - Síntese em meio básico das zeólitas contendo Al – Método comparativo... 47
4.6 - Obtenção do hidróxido de 1-butil-3-metilimidazólio para as sínteses em meio fluorídrico... 48
4.7 - Síntese em meio fluorídrico das zeólitas puramente silícicas... 49
4.8 - Sínteses em meio fluorídrico das zeólitas contendo Ti... 50
4.9 - Parâmetros de calcinação dos materiais sintetizados... 51
4.10 - Caracterizações do cátion e das zeólitas obtidas... 51
5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO... 55
5.1 - Obtenção do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio... 55
5.2 - Síntese das zeólitas de composição puramente silícica em meio básico... 57
5.3 - Síntese das zeólitas de composição Si/Ti em meio básico... 59
5.3.1 - Zeólitas de composição Si/Ti = 25... 59
5.3.2 - Zeólitas de composição Si/Ti = 50... 65
5.3.3 - Zeólitas de composição Si/Ti = 100... 71
5.3.4 - Considerações gerais sobre a síntese... 75
5.3.5 - Estado do cátion pós-síntese (água-mãe)... 76
5.5 - Síntese das zeólitas de composição Si/Al em meio básico – Método
comparativo... 84
5.6 - Comparação das cristalinidades relativas das zeólitas obtidas em todas as composições de meio básico... 87
5.7 - Síntese em meio fluorídrico das zeólitas puramente silícicas... 89
5.8 - Síntese em meio fluorídrico das zeólitas de composição Si/Ti... 90
6 – CONCLUSÕES... 93
16
Christian Wittee Lopes
1-INTRODUÇÃO
As zeólitas fazem parte de uma família de materiais porosos inorgânicos com
poros/canais na faixa dos microporos (≤ 2 nm) que podem ser de origem natural ou sintética. A estrutura zeolítica em si é baseada em unidades TO4, onde T (Si, Al, Ti, Ge,
etc) está coordenado a quatro oxigênios em geometria tetraédrica. Além da propriedade
de peneiramento molecular conhecida das zeólitas, a presença de distintos metais na
estrutura zeolítica pode conferir diferentes propriedades às zeólitas, tais como, acidez,
troca iônica, propriedades redox, entre outras.
Algumas zeólitas necessitam de moléculas orgânicas (agentes direcionadores de
estrutura) para tornar sua cristalização termodinamicamente favorável e diversos grupos
de moléculas têm sido estudadas ao longo dos anos. Dependendo das características
destas moléculas (tamanho, flexibilidade, hidrofobicidade), zeólitas com características
estruturais distintas podem ser obtidas. Os cátions do tipo imidazólio têm ganhado
atenção nos últimos anos devido a sua estrutura ser semelhante à estrutura dos agentes
direcionadores de estrutura comumente utilizados e devido à possibilidade de
modificação destes cátions.
As zeólitas de topologia TON, as quais geralmente necessitam o uso de uma
molécula direcionadora de estrutura, são zeólitas de poro médio (5,5 x 4,5Å), ricas em
silício, caracterizadas por um sistema de canais unidimensionais.
Neste trabalho, foi unido o interesse em sintetizar zeólitas de topologia TON de
diferentes composições (puramente silícicas, aluminosilicatos e titanosilicatos) com o
interesse em aprofundar os conhecimentos em torno dos efeitos direcionadores de
17
Christian Wittee Lopes
2-OBJETIVOS
O objetivo geral da presente dissertação foi sintetizar zeólitas de estrutura TON
com diferentes composições utilizando o cátion 1-butil-3-metilimidazólio como agente
direcionador de estrutura.
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Os objetivos específicos da dissertação foram:
- Estudar diferentes composições das zeólitas de estrutura TON (Si/Ti, Si/Al e
puramente silícicas);
- Estudar o meio de síntese (meio básico e meio fluorídrico) na síntese de zeólitas de
estrutura TON;
- Estudar o comportamento do cátion 1-butil-3-metilimidazólio durante a síntese das
18
Christian Wittee Lopes
3-REFERENCIALTEÓRICO
3.1 ZEÓLITAS
A origem do termo zeólita se deu em 1756 quando Alex F. Cronsted, um
mineralogista sueco, reparou que ao aquecer um mineral (estilbita) vapores eram
liberados. Cronsted nomeou esta família de minerais como zeólitas, do grego, pedra que
ferve (onde zeo significa “que ferve” e lithos significa “pedra”)1.
3.1.1 Definição
A mais apropriada definição para o termo zeólita é tema de debate, porém a IZA
(Associação Internacional de Zeólitas), entidade máxima na área de materiais zeolíticos,
diz que qualquer estrutura de rede tridimensional composta de átomos tetraedricamente
coordenados, unidos entre si por átomos de oxigênio e com uma densidade estrutural
menor que 21 átomos coordenados tetraedricamente (átomos-T) por 1000Å3 podem ser
considerados materiais zeolíticos2. Essa definição foi expandida, ao fato que, materiais
estruturalmente semelhantes, mas com outros elementos além de Si e Al fossem
classificados. Assim, silicatos, aluminofosfatos, silicoaluminofosfatos e aluminofosfatos
contendo metais, além de outros sistemas similares são considerados zeólitas3.
3.1.2 Estrutura e classificação das zeólitas
Estruturalmente as zeólitas são compostas por tetraedros de TO4 (T = Si, Al,
entre outros), unidos entre si pelo átomo de oxigênio, ou seja, cada átomo de oxigênio é
compartilhado por dois tetraedros. Em uma estrutura composta apenas por tetraedros de
silício, a combinação das unidades de TO4 (T = Si) leva à formação de uma sílica (SiO2)
neutra, por exemplo, o quartzo. Entretanto, a substituição de um átomo de Si+4 da
estrutura da sílica por átomos de Al+3, cria um desequilíbrio eletrônico, deixando a
estrutura carregada negativamente. Para preservar a neutralidade eletrônica da estrutura
é necessária a presença de cátions compensadores de carga. Para cada átomo de Al
substituído estará sendo criada uma carga negativa que será neutralizada pela carga
19
Christian Wittee Lopes
eletrostaticamente preso à estrutura da zeólita, conforme a Figura 3.1. É graças a este
desequilíbrio eletrônico que as zeólitas, têm propriedades de troca catiônica.
Figura 3.1. Esquema estrutural da zeólita, onde X representa o cátion de compensação4.
De forma genérica, a fórmula estrutural das zeólitas e a composição da malha
elementar são:
M
x/n[(AlO
2)
x(SiO
2)
y]
mH
2O
Onde: M = cátion de valência n
n = valência do cátion M
m = número de moléculas de água
x + y = número total de tetraedros por malha elementar
y/x = razão atômica Si/Al, que pode variar de 1 até infinito (regra de Loewenstein)
Segundo a regra de Loewenstein não existem ligações Al-O-Al na rede
cristalina, portanto apenas 50 % dos átomos de Si da estrutura cristalina podem ser
substituídos por átomos de Al5. Isto é reflexo da repulsão entre as cargas negativas
geradas. Porém existem algumas exceções, tais como zeólitas obtidas por métodos de
alta temperatura e também o mineral bicchulita, com estrutura do tipo sodalita, que
contém mais Al que Si6.
Em suma, o processo de crescimento estrutural das zeólitas parte de apenas um
tetraedro TO4 (unidade primária de construção) até a estrutura final. A união de um
pequeno número de tetraedros gera as unidades secundárias de construção (Figura
20
Christian Wittee Lopes
Figura 3.2. Unidades secundárias de construção (SBU)7.
A união dessas unidades secundárias de construção entre si podem gerar
unidades poliédricas. Um exemplo é a cavidade sodalita que quando unida de forma
repetitiva, porém de diferentes maneiras, originará diversas estruturas, tais como a da
Sodalita (SOD), a zeólita A (LTA) e a Faujasita (FAU). Exemplos de formação de
zeólitas a partir de unidades secundárias de construção e poliedros estão ilustrados na
Figura 3.3, onde também se observa o sistema dos poros formados.
21
Christian Wittee Lopes
Na classificação dos materiais zeolíticos o trabalho da comissão de estrutura da
Associação Internacional de Zeólitas (IZA) é valioso. Composta por cristalógrafos
experientes, uma comissão examina regularmente propostas de novas estruturas
zeolíticas. Uma vez que a estrutura tenha sido reconhecida como inédita pela comissão,
à estrutura é atribuído um código de três letras (FAU de faujasita para as zeólitas X e Y;
MTW para a zeólita ZSM-12; MFI para a zeólita ZSM-5 e silicalita-1; TON para
zeólitas Theta-1 e ZSM-22)8. No último comunicado da IZA, em Outubro de 2012,
existiam 206 diferentes códigos referentes a topologias de zeólitas9. Na Tabela 3.1,
encontra-se um resumo da classificação de alguns materiais (zeólitas, mesoporosos e
macroporosos).
Tabela 3.1. Classificação de materiais quanto ao tamanho de poro10,11.
Tamanho do
poro (Å) Definição Material Código
Átomos na
abertura do
poro
Diâmetro do
poro (Å)
>500 Macroporos Pedra-pomes - -
20-500 Mesoporos MCM-41 M41S 15-100
<20 Microporos
Poro
extralargo Cloverita -CLO 20 13,2 x 4,0
VPI-5 VFI 18 12,1
AlPO4-8 AET 14 7,9 x 8,7
Poro largo X e Y FAU 12 7,4
AlPO4-5 AFI 12 7,3
BEA 12 ~6 x ~7
Poro médio ZSM-5 MFI 10 5,3 x 5,6
ZSM-22 TON 10 4,5 x 5,5
MCM-22 MWW 10 5,5 x 4,0
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3.2 SÍNTESE DE ZEÓLITAS
3.2.1 Histórico
A síntese de zeólitas é um tema estabelecido há muito tempo dentro do meio
científico, sendo que, a primeira zeólita sintetizada em laboratório data de 1862, sendo
chamada de Levynita, sintetizada por Claire Deville12. Tempos depois, em 1948, o
professor Richard M. Barrer sintetizou a zeólita mordenita utilizando aluminato de
sódio, ácido silícico e carbonato de sódio13. Já na década de 50, Donald Breck e os
pesquisadores da Union Carbide Company sintetizaram zeólitas a partir de géis
preparados de soluções de aluminato de sódio e silicato de sódio. Isto levou a
descoberta de duas importantes zeólitas sintéticas, a zeólita A14 e a zeólita X15, obtidas
em razões Si/Al diferentes. Mais tarde, a zeólita Y, importante catalisador de
craqueamento, foi sintetizada16. A zeólita A foi enquadrada na classe LTA e as zeólitas
X e Y foram enquadradas na classe FAU, e a descoberta destas zeólitas causou um
grande impacto industrial devido as suas propriedades, levando os pesquisadores a
realizarem mais estudos na área de síntese de zeólitas8.
Até o momento citado acima, a síntese de zeólitas pelos pesquisadores era
realizada utilizando géis compostos inteiramente por reagentes inorgânicos. Em 1961, o
professor Barrer substituiu parcialmente os cátions de metais alcalinos e alcalinos
terrosos da síntese da zeólita A por cátions TMA+ e conseguiu obter a zeólita com uma
razão Si/Al igual a 1,217. Em 1967, químicos da Mobil Oil Company iniciaram o
primeiro grupo de pesquisa visando à síntese de novas zeólitas utilizando moléculas
orgânicas. Duas novas zeólitas foram então obtidas, as zeólitas beta e ZSM-5, as
primeiras zeólitas sintéticas com razão Si/Al maior que 5. Esta nova abordagem levou
os pesquisadores da Mobil e outros grupos a sintetizarem diversas novas zeólitas8.
O emprego de íons F- na síntese de zeólitas, como agente mineralizante, foi
primeiramente utilizado em 1978 por Flanigen e pesquisadores, na síntese da zeólita
MFI puramente silícica (silicalita)18 e se mostrou uma alternativa mais viável ao
hidróxido comumente utilizado12. Na década de 90, Camblor e colaboradores
descobriram uma série de novas zeólitas, como, ITE19, IFR20, ISV21, ITW22, ITH23 e
BEC24 e também foram capazes de obter pela primeira vez algumas zeólitas já
23
Christian Wittee Lopes
A substituição do Si e Al por outros elementos levou a descoberta de outros
tipos de zeólitas, ou zeotipos, como por exemplo, os AlPO’s (Aluminofosfatos), onde um elemento trivalente (Al) e um elemento pentavalente (P), se ligam em uma estrutura
de tetraedros TO4, em uma razão Al/Pigual a 129. A introdução de silício nos AlPO’s gerou os silicoaluminofosfatos (SAPO’s)30
, onde a combinação de tetraedros de Si, Al e
P é tal que a razão Al/P é maior que 1 e portanto, a estrutura apresenta cargas negativas,
as quais são contrabalanceadas por cátions de compensação, ao contrário dos AlPO’s que tem a rede zeolítica neutra7.
A síntese de zeotipos adicionando metais (Co, Fe, Ga, Mn, Zn, B, etc) aos
AlPO’s e SAPO’s gerou novos materiais com propriedades catalíticas interessantes7
,
como por exemplo, propriedades redox.
3.2.2 Aspectos sobre síntese de zeólitas
A síntese de zeólitas pode ocorrer normalmente por três métodos, o método
hidrotérmico (utiliza água como solvente), o método solvotérmico (utiliza geralmente
um orgânico como solvente) e método ionotérmico (utiliza um líquido iônico como
direcionador de estrutura e solvente). Os reagentes comumente usados são uma fonte de
sílica, uma fonte de alumínio (ou fonte de heteroátomo), um agente mineralizante (OH
ou F-) e um agente direcionador de estrutura, que pode ser uma molécula orgânica para
zeólitas com alta razão Si/Al ou a molécula de Na+, por exemplo,para algumas zeólitas
com baixa razão Si/Al. Cátions inorgânicos, como Na+ e K+, oriundos do agente
mineralizante ou inseridos na síntese tem a função de compensar a deficiência de carga
da rede zeolítica gerada pela introdução do alumínio na rede. No trabalho de revisão de
Cundy12, é mostrado como pode ser resumida uma síntese hidrotérmica de zeólitas,
exemplificado na Figura 3.4 e descrito abaixo:
1. Fontes amorfas de Si e Al são misturadas com a fonte de um cátion, em geral a
pH’s elevados (meio básico).
2. A mistura aquosa é aquecida, geralmente a temperaturas maiores que 100 oC em
uma autoclave selada.
3. Durante algum tempo, após elevar a temperatura de síntese, os reagentes
24
Christian Wittee Lopes
4. Após o tempo de indução (tempo entre o início da reação e o ponto onde o
produto cristalino é observado pela primeira vez), produtos zeolíticos já podem
ser detectados.
5. Ao final do processo, a massa de material amorfo inicial é transformada em uma
massa aproximadamente igual de produto zeolítico (o qual é recolhido por
filtração, lavagem e secagem).
Figura 3.4. Síntese hidrotérmica de zeólitas. Transformação de reagentes amorfos em produtos zeolíticos cristalinos12.
Como a síntese de zeólitas e zeotipos é um processo complexo, existem alguns
fatores que influenciam nesta etapa. O modo de preparo, a natureza dos reagentes
químicos empregados (fontes de silício, fonte de alumínio e etc) e outros fatores
influenciam na síntese de zeólitas, porém é difícil dizer quais os fatores que influenciam
mais ou menos na síntese, então somente alguns serão abordados. Estes fatores serão
comentados abaixo.
3.2.3 Razão Si/Al
A razão Si/Al é um parâmetro que determina uma sequência de fatores, como,
25
Christian Wittee Lopes
muito estreita de razão Si/Al), estabilidade química e térmica, propriedades de adsorção
e catalíticas. Antes de uma síntese de zeólita, a razão Si/Al é calculada, porém nem
sempre esta razão é alcançada no produto final. O aumento da razão Si/Al gera zeólitas
mais estáveis termicamente e resistentes a ácidos, propriedades necessárias na catálise.
Em contrapartida, a diminuição dessa razão faz com que mais alumínio esteja presente e
consequentemente, mais cátions trocáveis presentes, tornando o material passível a uma
aplicação como trocador iônico. O aumento/diminuição do teor de alumínio nas zeólitas
influi fortemente na acidez do produto final7.
Como dito anteriormente, algumas zeólitas são sintetizadas em uma faixa
estreita de composição de silício e alumínio, mas outras nem tanto. É o caso da zeólita
ZSM-5, a qual pode ser sintetizada em uma faixa de Si/Al entre 20 e infinito7.
3.2.4 Água
A água é um constituinte essencial na síntese hidrotérmica (como o próprio
nome já diz). Além de solubilizar a maioria dos reagentes, a mesma produz um aumento
na reatividade do meio e proporciona uma diminuição na viscosidade do gel,
aumentando a mobilidade/transporte das espécies presentes no mesmo. A água preenche
os canais e cavidades contribuindo através de interações com os cátions e elementos
estruturais para a construção da estrutura zeolítica7.
Existe uma regra chamada de Regra de Villaescusa, para sínteses de zeólitas
puramente silícicas em meio fluorídrico, que relata o papel da água na síntese de
zeólitas. Como a água altera a concentração do gel, diferentes estruturas podem ser
obtidas somente pelo aumento ou diminuição da concentração do gel, onde fases mais
densas são obtidas a concentrações baixas e fases menos densas são obtidas a
concentrações altas6.
3.2.5 Tempo e temperatura de cristalização
O tempo e a temperatura de cristalização são fenômenos que interferem
diretamente na síntese de zeólitas e os dois fatores podem estar relacionados. Por
exemplo, aumentando a temperatura, uma fase zeolítica pode ser obtida em menor
tempo. No trabalho de Rojas28, a zeólita HPM-1 é obtida em menor tempo aumentando
26
Christian Wittee Lopes
das zeólitas serem fases metaestáveis e com o aumento do tempo podem sofrer
modificações, via regra das transformações sucessivas de Ostwald, onde o produto final
seria a fase termodinamicamente estável31.
3.2.6 Agitação do sistema
A agitação é importante para manter a temperatura homogênea no sistema,
porém em nem todos os casos é interessante utilizá-la. Existem algumas fases zeolíticas
obtidas em modo estático9. A agitação pode acarretar num aumento na cinética de
cristalização, ajudando no transporte de massa dos reagentes, auxiliando então num
processo de cristalização mais rápido7.
3.2.7 Concentração de OH-
Para ocorrer à solubilização das espécies de silício e alumínio é necessária à
presença de um agente mineralizante, o mesmo pode ser o ânion OH- ou o ânion F-. O
OH- é considerado um bom complexante, e aumenta significativamente o caráter
mineralizador da água dissolvendo as espécies de alumínio e sílica, formando ânions
aluminatos e silicatos7.
3.2.8 Moléculas orgânicas na síntese de zeólitas
A síntese de zeólitas pode ser considerada uma arte, e as moléculas orgânicas,
fazem parte disto. Sem a presença destas moléculas, algumas estruturas zeolíticas não
são sintetizadas. Ainda não é conhecido com exatidão o real mecanismo de atuação de
tais compostos, mas sabe-se que na maioria das vezes preenchem os poros/cavidades.
Normalmente utilizam-se moléculas orgânicas na síntese de zeólitas com baixo teor de
alumínio (High-Silica Zeolites), porém, a ZSM-5, é uma zeólita que pode ser sintetizada
sem o uso de moléculas orgânicas em uma faixa muito estreita de concentrações de Na+
e alumínio32.
É necessário deixar claro que o termo template e o termo agente direcionador de
estrutura não são equivalentes. A noção que se tinha de template era que essas
27
Christian Wittee Lopes
cavidade supondo que o tamanho e forma da molécula correspondiam ao tamanho dos
canais/poros da zeólita. Hoje em dia, se reserva a terminologia template a casos onde
existe uma grande especificidade no efeito direcionador de estrutura, com uma forte
interação do cátion com a estrutura e uma alta correspondência cátion-cavidade28. No
geral, os agentes direcionadores de estrutura estabilizam a zeólita, tendo como forças
predominantes as de van der Waals33.
Um exemplo clássico de template é a utilização de tensoativos na síntese do
material mesoporoso MCM-41, onde ocorre a formação de micelas e a sílica é
construída em torno destas micelas34,35. No caso das zeólitas, um caso muito particular é
o da zeólita ZSM-18 (Figura 3.5), onde se utiliza um cátion orgânico quaternário com
carga +3 e apesar de ser difícil de ser sintetizado, o tamanho e forma do cátion se
enquadram perfeitamente aos canais da zeólita36,37.
Figura 3.5. Especificidade cátion/cavidade entre a zeólita ZSM-18 e o respectivo
template utilizado na síntese12.
Na revisão sobre síntese de zeólitas e peneiras moleculares, Davis e Lobo38
28
Christian Wittee Lopes
síntese das zeólitas ZSM-5 e ZSM-48, respectivamente, e classificaram moléculas
orgânicas em três tipos: True Templates (verdadeiros templates), Structure Directing
Agents (agente direcionadores de estrutura) e Space-Filling Species (Espécies de
preenchimento). Segundo os autores, os verdadeiros templates são os que a estrutura
zeolítica adota as configurações geométricas e eletrônicas da molécula, os agentes
direcionadores de estrutura levam a somente uma determinada estrutura sem adotar as
configurações geométricas/eletrônicas da molécula e as espécies de preenchimento
podem levar a diferentes estruturas com uma mesma molécula.
Apesar destas abordagens sobre a dúvida entre o real papel das moléculas
orgânicas, se atuam como template, agente direcionador ou simplesmente como
preenchedor de poro/cavidade, existem algumas estruturas zeolíticas que podem
cristalizar de uma maneira inespecífica. Quando as condições são adequadas para a
cristalização de uma zeólita, porém os efeitos diretores de estrutura são pouco
específicos, se obtém as estruturas por defeito ou default structures28,39. Nestes casos a
molécula simplesmente ocupa o poro sem proporcionar uma grande interação e se forma
uma zeólita que é muito estável28.
Existem alguns fatores que podem influenciar no efeito de direcionador de
algumas moléculas orgânicas, como: Tamanho e forma do agente direcionador de
estrutura e a temperatura33, flexibilidade da molécula40-42, hidrofobicidade da molécula28
e também as cargas28.
Um fato, é que em muitas vezes a molécula orgânica é utilizada na síntese de
zeólitas na forma de hidróxido. Em sínteses em meio fluorídrico, é necessário evitar a
presença de cátions alcalinos ou alcalinos terrosos nos quais os fluoretos e
hexafluorsilicatos apresentam baixa solubilidade. A baixa solubilidade pode levar a uma
possível precipitação e consequentemente uma diminuição da quantidade de F
-disponível para mineralização das espécies de sílica. A basicidade é compensada ao
adicionar o ácido fluorídrico (fonte de F-) em proporções equimolares para que a síntese
ocorra em pH’s próximos a 7, evitando uma possível competição entre o OH- e o F- 28. Em muitos casos, a molécula na forma de hidróxido é utilizada como direcionador de
29
Christian Wittee Lopes
A Tabela 3.2 apresenta algumas moléculas orgânicas utilizadas na síntese de
zeólitas (dados retirados da sessão de síntese da IZA9).
Tabela 3.2. Moléculas orgânicas utilizadas na síntese de zeólitas.
Molécula Zeólita obtida Topologia
Hidróxido de Tetraetilamônio BEA
Etilenodiamina ZSM-35 FER
Hidróxido de Tetrapropilamônio ZSM-5 MFI
Pirrolidina ZSM-23 MTT
Brometo de Metiltrietilamônio ZSM-12 MTW
Hexametilenoimina MCM-22 MWW
Diaminooctano ZSM-22 TON
Quinuclidina Levyne LEV
3.3 CÁTIONS IMIDAZÓLIO COMO DIRECIONADORES DE ESTRUTURA
Quando se trata do termo cátions imidazólio, é fácil remeter tais compostos aos
líquidos iônicos e consequentemente, falando de síntese de zeólitas, a síntese
ionotérmica, onde um líquido iônico atua como agente direcionador de estrutura e
solvente ao mesmo tempo. Porém, nos últimos anos, os cátions imidazólio estão sendo
utilizados para síntese de zeólitas via método hidrotermal (atuando somente como
direcionadores de estrutura ou templates), pois a síntese de aluminosilicatos com
estrutura zeolítica via rota ionotérmica fica dificultada pela baixa solubilidade das
espécies de silicato nos líquidos iônicos43.
O anel imidazólio é um sistema aromático, plano e rígido do ponto de vista
conformacional e em diversos trabalhos na literatura, são introduzidos diferentes
substituintes para variar seu tamanho, forma e flexibilidade28. Abaixo, será relatada uma
série de trabalhos em que foram utilizados cátions imidazólio como direcionadores de
estrutura, via rota hidrotermal, na síntese de peneiras moleculares.
Rojas e colaboradores, em uma série de trabalhos, sintetizaram diferentes fases
zeolíticas empregando diferentes cátions imidazólio em meio fluorídrico e variando a
razão H2O/SiO2. As fases obtidas foram TON44, MFI44, MTW45,46, ITW45,46, MTF47.
30
Christian Wittee Lopes
STW), que apresenta um poro helicoidal de dimensões moleculares e excelentes
estabilidades química, térmica e hidrotérmica. Tal zeólita abre a possibilidade de
futuramente realizar no interior de seus poros processos enantiosseletivos de adsorção
(para a separação de enantiômeros) ou de catálise enantiosseletiva (para favorecer
produtos de somente um enantiômero). Devido as características próprias da zeólita
HPM-1 (alto teor de SiO2 e a presença de anéis duplos de 4 tetraedros SiO4/2) as sínteses
realizam-se por meio fluorídrico49 e utiliza-se em princípio, o cátion
2-etil-1,3,4-trimetilimidazólio como agente direcionador de estrutura. Este cátion é o único
conhecido capaz de produzir este tipo de estrutura zeolítica na ausência de germânio50,
enquanto que o ânion fluoreto é necessário para produzir anéis duplos de 4 membros.
Na Figura 3.6 estão apresentados os cátions imidazólio utilizados na tese de doutorado
de Rojas28.
Figura 3.6. Cátions imidazólio utilizados no trabalho de Rojas28.
No trabalho realizado por Archer51, 11 estruturas zeolíticas conhecidas foram
31
Christian Wittee Lopes
composições (puro silício, borosilicatos e aluminosilicatos) utilizando OH- e F- como
agentes mineralizantes. Além da zeólita SSZ-70, a qual era o foco do trabalho, as fases
TON, MFI, MTT, MTW, BEA*, MOR, CFI, EUO, AFX, e STF também foram
sintetizadas.
Figura 3.7. Cátions imidazólio utilizados no trabalho de Archer51.
As zeólitas e ZSM-5 foram sintetizadas utilizando o cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio (mesmo sal utilizado no presente trabalho), variando a composição do
gel de síntese precursor, temperatura e em modo agitação. Na razão Si/Al igual a 20, a
150 oC, a fase é obtida e na razão Si/Al igual a 50, a 180 oC, a fase ZSM-5 é obtida. A
zeólita obtida neste trabalho, devido ao diâmetro de poro superior ao da zeólita ZSM -5, foi utilizada como suporte de complexos Ni-diimina e aplicada em reações de
oligomerização de eteno, resultando numa maior atividade e seletividade aos compostos
de interesse do que o complexo em meio homogêneo52.
No trabalho realizado por Blanes53, utilizando um sal de imidazólio semelhante,
32
Christian Wittee Lopes
metanosulfonato, as zeólitas ZSM-5 e também foram obtidas. Os autores verificaram a influência da fonte de silício, da natureza do contra-íon do sal de imidazólio e
estudaram o efeito do sal na obtenção das fases zeolíticas. Para a síntese da zeólita
ZSM-5, foi utilizado TEOS como fonte de sílicio, e para a síntese da zeólita foi utilizado sílica aerosil. Todas as razões molares foram iguais para as sínteses com as
duas fontes de silício, porém os autores relataram que a liberação do etanol referente ao
TEOS, causa uma interação etanol-água-sal de imidazólio gerando um empacotamento
entre essas moléculas, responsável pela formação de uma zeólita de poro menor
(ZSM-5). No caso da zeólita , como não existe etanol no meio, esse empacotamento acaba não existindo e uma zeólita de poro maior é gerada. Além disso, os autores verificaram
que alterando o contra-íon do sal de imidazólio para cloreto, as mesmas fases zeolíticas
eram obtidas. Na ausência do sal de imidazólio, nas mesmas condições de síntese, não
foi possível sintetizar as fases ZSM-5 e .
3.4 ZEÓLITAS DE TOPOLOGIA TON
O termo TON, deriva da primeira zeólita sintetizada dentro desta classe, a
zeólita Theta-1 (Theta One)9. As zeólitas deste grupo (Theta-154, ZSM-2255, ISI-1,
KZ-256 e Nu-1057) são zeólitas de poro médio (5,5 x 4,5Å), ricas em silício (alta razão
Si/Al), caracterizadas por um sistema de canais unidimensionais. Sua estrutura
apresenta anéis de 5, 6 e 10 membros, porém apenas os 10 de membros dão origem ao
sistema de poros, já que canais pequenos não permitem o acesso e a difusão de
moléculas, portanto, não sendo considerados poros58. A Tabela 3.3 apresenta as
características referentes à topologia TON.
Tabela 3.3. Características estruturais de zeólitas de topologia TON9.
Célula Unitária Ortorrômbica
Parâmetros de rede a = 14,105Å α = 90 º b = 17,842Å = 90 º c = 5,256Å = 90 º
Densidade de rede 19,7 T/1000 Å3
33
Christian Wittee Lopes
A Figura 3.8 apresenta a estrutura de uma das zeólitas de topologia TON
(ZSM-22) ao longo do eixo c.
Figura 3.8. Projeção da estrutura da zeólita ZSM-22 ao longo do eixo c58.
Como são zeólitas de sistema de poros unidimensionais, normalmente a
morfologia destes materiais é bem característica e o cristal cresce em uma direção, em
forma de agulhas, bastonetes e etc. Na Figura 3.9 estão apresentados exemplos de
34
Christian Wittee Lopes
Figura 3.9. Morfologias de diferentes zeólitas TON (ZSM-22, Nu-10, Theta-1 e KZ-2)59.
.
Na literatura, as zeólitas de topologia TON são aplicadas em diversas reações,
como, por exemplo, Metanol-to-Olefins60, hidrogenação61, separação de isômeros em
fase líquida62, decomposição de nitrogenados63, oligomerização de olefinas64, porém a
reação onde estas zeólitas são mais aplicadas é a reação de isomerização, onde
encontram-se inúmeros trabalhos na literatura65-67.
Geralmente a síntese de zeólitas desta classe emprega moléculas orgânicas como
direcionadores de estrutura. Wang e colaboradores sintetizaram uma zeólita de
topologia TON, a qual deram o nome de ZJM-4, utilizando sementes de ZSM-22 e sem
a adição de uma molécula orgânica como direcionador de estrutura. Apesar de a
primeira síntese ter sido realizada com um direcionador de estrutura, foi possível
sintetizar tal zeólita empregando sementes e em temperaturas de 140 ºC, 20 ºC a menos
35
Christian Wittee Lopes
3.5 CATALISADORES CONTENDO TITÂNIO
Pela teoria da ligação química de Pauling69, a substituição de um átomo metálico
circundado por quatro átomos de oxigênio no retículo zeolítico só é passível de
acontecer se a razão entre o raio do cátion metálico e o raio do ânion for maior que
0,225 e menor que 0,414, na teoria. Porém na prática, a incorporação destes cátions
metálicos pode ocorrer mesmo se essa razão exceder esse limite, como acontece no caso
do titânio, no qual a razão cátion/ânion é de 0,41570.
A Figura 3.10 mostra um exemplo, da titanossilicalita, a primeira peneira
molecular com propriedades redox contendo átomos de titânio isomórficamente
substituídos na rede cristalina11.
Figura 3.10. Estrutura da titanossilicalita (TS-1)9.
A presença de titânio em zeólitas recebeu considerável atenção na academia nas
últimas décadas. Isso se deve ao potencial de aplicação tanto em reações de fotocatálise
quanto em reações de oxidação em fase líquida ou gasosa. O interesse em catalisadores
36
Christian Wittee Lopes
agressivos e de difícil recuperação como também encontrar catalisadores mais
seletivos71. Quando se fala em reações de fotocatálise empregando catalisadores de
titânio, é necessário citar a difícil recuperação do óxido de titânio comumente utilizado
pelo fato do mesmo possuir partículas nanométricas72.
Após o descobrimento da TS-173, zeólita de topologia MFI com excelentes
propriedades catalíticas, muitos estudos iniciaram para encontrar outros materiais com
propriedades semelhantes ou melhoradas. Um dos desafios era realizar a oxidação de
moléculas que não difundiam nos poros da TS-1, uma zeólita de poro médio. A partir
disso muitas zeólitas, de tamanhos de poros variados, foram sintetizadas, são elas: TS-2
(MEL)74, Ti- 75, Ti-ZSM-4876, Ti-MWW77, Ti-ZSM-1278, Ti-MOR79, Ti-ITQ-780,
Ti-ITQ-1781, entre outras. Para superar a dificuldade de oxidar moléculas maiores, foram
estudadas as peneiras moleculares mesoporosas Ti-MCM-4182, Ti-MCM-4883,
Ti-SBA-1584, entre outras.
Nos últimos anos, os materiais com dois tipos de sistema de poros viraram opção
para as reações de oxidação e se mostravam promissores, podendo resultar em
atividades e seletividades únicas, devido ao seu sistema de poro85. A zeólita
Ti-ITQ-3986, zeólita com dois tipos de tamanhos de poros (médio e grande), se apresentou
muito ativa e com seletividades intermediárias aos materiais TS-1 e Ti- em reações de oxidação. A zeólita Ti-MCM-6887 é uma peneira molecular com poros
multidimensionais formados através de um canal constituído de anéis de 12 membros
interligado a dois canais de anéis de 10 membros. Uma vez que essa zeólita só é
sintetizada em uma faixa muito estreita de composições, é difícil sintetizá-la com titânio
por métodos diretos, é necessário um tratamento pós-síntese de desaluminação e
posterior tratamento em fase gasosa para inserção do titânio. Esse material apresentou
atividade muito superior a TS-1 e aos outros catalisadores Ti- e Ti-MWW, e uma seletividade a compostos para-substituídos devido ao seu sistema diferenciado de poros
e ausência de grandes cavidades. A zeólita SSZ-33 é um borossilicato com poros
multidimensionais formados pela intersecção de canais de anéis de 10 membros e 12
membros. A obtenção da Ti-SSZ-3388 é realizada utilizando um tratamento pós-síntese
para remoção de B e inserção dos átomos de Ti. Este material apresentou atividades
catalíticas intermediárias aos materiais TS-1 e Ti- .
Corma e colaboradores utilizaram uma classe interessante de materiais, que são
as zeólitas deslaminadas, para sintetizar as zeólitas ITQ-6 e ITQ-2. A zeólita
37
Christian Wittee Lopes
zeólita Ti-ITQ-290, apresentou elevadas atividades em reações de epoxidação de
olefinas utilizando hidroperóxidos. Em contrapartida, em meio aquoso, a atividade
catalítica diminui, isso provavelmente devido aos numerosos grupos silanóis
hidrofílicos criados após o processo de deslaminação. Wu e colaboradores91,
deslaminaram a zeólita Ti-MWW e aplicaram na epoxidação de alcenos, e obtiveram
resultados muito interessantes, com atividades muito superiores aos titanossilicatos
TS-1, Ti- e Ti-MCM-41.
Fan e colaboradores92 sintetizaram um titanossilicato análogo à estrutura MWW,
porém expandido, e denominaram Ti-YNU-1. Esse novo material apresentou atividade
superior a outros catalisadores de titânio (TS-1, Ti- , Ti-MOR e Ti-MWW). Ruan e colaboradores93 realizaram uma série de caracterizações para tentar elucidar este novo
material e chegaram à conclusão que a zeólita Ti-YNU-1 tinha uma estrutura
tridimensional expandida e que o titânio poderia estar conectando as laminas formando
uma abertura de poro maior, ficando muito mais disponível para a reação do que o
titânio na estrutura da Ti-MWW, tendo aí uma possível explicação pra o aumento na
atividade catalítica. A Figura 3.11 apresenta um esquema relativo à transformação da
estrutura MWW a estrutura YNU.
Figura 3.11. Esquema da transformação da estrutura MWW para YNU93.
A Tabela 3.4 apresenta algumas técnicas para caracterizar a inserção e a
geometria do titânio em zeólitas, porém a maioria das referencias na literatura se
38
Christian Wittee Lopes
Tabela 3.4. Técnicas de caracterização empregadas na identificação de titânio em peneiras moleculares.
Técnica Informação Referência
Difração de raios X Quantificação de titânio na rede e extra-rede (TiO2)
[94]
FT-IR Coordenação do titânio na rede zeolítica [95]
Raman Detecção de titânio extra-rede (TiO2) [95]
DRS UV-Vis Quantificação de titânio extra-rede (TiO2)
e coordenação do titânio [95]
EXAFS/XANES Coordenação do titânio [95]
EPR Coordenação do titânio [95]
XPS
Composição elementar, estado de oxidação e em casos favoráveis, dispersão
de uma fase em outra
[71]
Na síntese de titanossilicatos, deve-se ter um cuidado em relação aos compostos
que são utilizados como fonte de titânio. Em meio básico, a condensação das espécies
de titânio hidrolisadas é muito rápida, levando facilmente a formação de fases de TiO2
muito estáveis que não são incorporadas na rede de tetraedros da zeólita. Então, em
virtude disso, a hidrólise e condensação dos alcóxidos comumente utilizados como
fonte de titânio, devem ser controladas com muito cuidado. A ausência total de cátions
de metais alcalinos deve ser garantida96. Um meio de controlar a formação de TiO2 é
adicionando peróxido de hidrogênio a fonte de titânio, o que leva a formação de
peroxo-complexos mais estáveis, que ajudam a evitar a formação de fases de TiO296.
O óxido de titânio (TiO2) é um sólido branco, quimicamente e biologicamente
inerte4, apresenta baixo custo comercial e é o fotocatalisador mais utilizado para estudo
na academia97,98. É estável ao ar e insolúvel em água. Quando digerido por HF
concentrado, dá lugar ao ácido hexafluortitânico (H2TiF6). Os três polimorfos do óxido
de titânio mais importantes são a anatase, a brookita e o rutilo. Em titanossilicatos, a
fase anatase surge geralmente como material extra-rede, podendo obstruir os poros dos
catalisadores, e consequentemente, diminuir sua atividade catalítica, ou ainda atuar
como um agente decompositor do peróxido de hidrogênio quando presente livre em
catalisadores para oxidação71.
Um fator determinante é que as zeólitas não absorvem luz na região do UV e
39
Christian Wittee Lopes
que torna interessante estudar tais materiais como suporte pra fases ativas em
fotocatálise.
3.6 APLICAÇÕES DAS ZEÓLITAS
Quando o tema aplicação de zeólitas vem à tona, é conveniente retomar alguns
fatores referentes às zeólitas. Para cada aplicação é necessária uma característica
específica como, área específica compatível com a reação, propriedades de adsorção
que variam de hidrofílicas a hidrofóbicas, tamanho de canais e cavidades com dimensão
apropriada, sítios ativos (cuja força e concentração possam ser controladas de acordo
com a aplicação) e uma rede complexa de canais que confere diferentes tipos de
seletividade geométrica, como mostrado na Figura 3.12.
40
Christian Wittee Lopes
O fenômeno da seletividade nas zeólitas pode ser usado para conduzir uma
reação catalítica na direção do produto desejado, evitando reações paralelas indesejadas.
A seletividade ao reagente ocorre quando somente uma parte das moléculas de uma
mistura são suficientemente pequenas para difundir através dos poros da zeólita. A
seletividade ao produto, se produz quando alguns dos produtos que se formam dentro
dos poros são muito volumosos para que difundam, obtendo-se somente o produto que
difunda no poro. A seletividade ao estado de transição se produz quando o volume de
certos produtos intermediários situados dentro do canal da zeólita é tal, que somente
alguns dos possíveis estados de transição podem formar-se, o que determina a
seletividade global da reação28.
A Figura 3.13 apresenta o esquema de “bomba molecular”, onde, por exemplo, a zeólita TS-1, cujos poros são hidrofóbicos, é apropriada para oxidação de substratos
apolares como o cicloexano, usando peróxido de hidrogênio como oxidante101. Nesse
caso, tanto o substrato apolar (C6H6) quanto o oxidante pouco polar (H2O2) são
seletivamente adsorvidos pelos canais hidrofóbicos da TS-1, onde se transformam nos
produtos água, cetona e álcool. Tais produtos, por sua vez, são expulsos dos canais
porque são compostos polares, dessa forma, a interação entre a polaridade da zeólita e
dos reagentes e produtos funciona como uma bomba molecular, sugando moléculas de
substrato para os sítios ativos no interior da zeólita, e expelindo os produtos11.
Figura 3.13. Transporte com “bomba molecular”: (i) reagentes apolares são adsorvidos por uma zeólita hidrofóbica; (ii) a reação catalítica ocorre no interior das cavidades e,
41
Christian Wittee Lopes
As zeólitas também podem ser aplicadas na remoção de contaminantes, como
benzeno, tolueno e xileno. O uso de zeólitas com diferentes características se mostrou
eficiente, levando a uma remoção quase que total dos contaminantes. Para isso foi
utilizada uma combinação de duas zeólitas em sucessão, uma com poro grande com alta
capacidade de adsorção (zeólita Y, utilizada para remover os contaminantes até um
nível de concentração médio) e outra zeólita de poro médio (ZSM-5). Na Tabela 3.5
estão expostos alguns resultados de porcentagem de remoção de contaminantes em
zeólitas Y e ZSM-5 individualmente, em uma mistura das duas zeólitas e em sucessão.
Tabela 3.5. Quantidade (%) de contaminante adsorvido em testes de laboratório com a zeólita Y, ZSM-5, a mistura das duas e em sucessão102.
Contaminante (ppm) Y ZSM-5 Mistura Sucessão
Benzeno (70) 70 15 20 98
Tolueno (60) 62 20 30 99
m-Xileno (40) 86 72 75 99,95
Clorobenzeno (40) 96 77 83 99,98
Tricloroetileno (40) 92 80 82 99,5
Tetracloroetileno (80) 94 90 92 99,94
Apesar de uma gama de possíveis aplicações para as zeólitas, é na aplicação em
processos de refino, petroquímica e manufatura de produtos químicos que as zeólitas
sempre tiveram mais impacto e muitas pesquisas voltadas a essas áreas foram
realizadas. A Tabela 3.6 apresenta algumas reações na área petroquímica e refino em
que as zeólitas são empregadas.
Tabela 3.6. Alguns processos comerciais que empregam zeólitas como catalisadores103.
Processo Tipo de zeólita Área
FCC FAU/ZSM-5 Refino/Petroquímica
Hidrocraqueamento FAU
Dewaxing ZSM-5
Oligomerização de olefinas MWW/MFI
Isomerização de olefinas FER
Isomerização de xileno MFI
Desproporcionamento de tolueno MOR/MFI
Aromatização de nafta LTL
Acilação FAU/BEA Manufatura de produtos
químicos
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Christian Wittee Lopes
Como visto no referencial teórico, os materiais zeolíticos podem ser sintetizados
com diferentes composições, empregando diversas moléculas orgânicas para auxiliar na
cristalização zeolítica, entre outras condições de síntese. No nosso trabalho, nos
propusemos a estudar a cristalização de zeólitas TON de diferentes composições e com
diferentes condições de síntese, empregando o cátion 1-butil-3-metilimidazólio e a
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Christian Wittee Lopes
4-MATERIAISEMÉTODOS
A seguir serão apresentadas as rotas sintéticas utilizadas para a obtenção do
agente direcionador de estrutura utilizado posteriormente em diferentes sínteses da
zeólita TON. Adicionalmente serão apresentadas as técnicas utilizadas para
identificação e caracterização dos materiais obtidos.
4.1 SÍNTESE DO CLORETO DE 1-BUTIL-3-METILIMIDAZÓLIO [C4MI]Cl
O líquido iônico [C4MI]Cl utilizado nas sínteses das zeólitas foi preparado por
um método tradicional de síntese104. Numa reação típica, 1-metilimidazol
(Sigma-Aldrich) e 1-clorobutano (Sigma-(Sigma-Aldrich) em uma razão molar 1:1,1 foram dissolvidos
em acetonitrila (P.A., Vetec) e submetidos a agitação por 48 h a 80 ºC sob refluxo. A
cristalização do líquido iônico foi realizada adicionando a solução que contém o
[C4MI]Cl em um balão contendo acetato de etila (P.A., Vetec), o qual posteriormente
foi colocado no freezer por 24 h. A secagem do sólido foi realizada sob pressão
reduzida por dois dias, para garantir a retirada dos solventes (acetato de etila e
acetonitrila), ou até massa constante. O líquido iônico foi cristalizado para facilitar o
manuseio. O rendimento médio obtido é de 75%. A Figura 4.1 abaixo exemplifica a
síntese do composto acima descrito.
Figura 4.1. Obtenção do cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio.
4.2 SÍNTESE EM MEIO BÁSICO DAS ZEÓLITAS PURAMENTE SILÍCICAS
O gel de síntese foi obtido utilizando sílica (SiO2, Aerosil 200, Degussa) como
fonte de silício, hidróxido de sódio (NaOH, ≥99% Vetec) como agente mineralizante, e o líquido iônico cloreto de 1-butil-3-metilimidazólio, [C4MI]Cl, como agente
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Christian Wittee Lopes
O preparo do gel de síntese foi realizado da seguinte maneira: i) Inicialmente,
2,44 g de NaOH foram solubilizados em 100 mL de água e adicionados a 18 g de SiO2
cuidadosamente. Tal mistura foi submetida à agitação mecânica por 30 min, obtendo-se
a mistura A; ii) Decorrido este tempo, adicionou-se na mistura A 8,16 g de agente
direcionador de estrutura previamente solubilizado em 130 mL de água, obtendo-se a
mistura B; iii) Posteriormente a mistura foi mantida sob agitação por mais 30 min para
total homogeneização dos reagentes. Após o término deste tempo, o gel formado foi
dividido e transferido para autoclaves de aço inox (revestidas internamente com teflon
de 60 mL de capacidade) e mantido em estufa a 160 ºC, com e sem agitação mecânica.
Os tempos de cristalização para esta síntese foram de 1 e 3 dias em agitação e 1,
3 e 7 dias em estático.
Após o período de cristalização, os sólidos foram filtrados, lavados
abundantemente com água e 30 mL de acetona e foram secos por 24 h a 100 ºC.
A composição final dos géis de síntese é a seguinte:
SiO2 : 0,15 SDA : 0,2 NaOH : 24 H2O
As amostras desta síntese foram nomeadas da seguinte maneira:
PSYZc
Onde:
PS = Puramente silícicas
Y = tempo em dias (1, 3 ou 7)
Z = agitação (A) ou estático (E)
c = amostra calcinada a 600 ºC
Exemplo: PS1Ac - material sintetizado em composição puramente silícica em 1 dia de
cristalização sob agitação e calcinado.
4.3 SÍNTESE EM MEIO BÁSICO DAS ZEÓLITAS CONTENDO Ti
O gel de síntese foi obtido utilizando sílica (SiO2, Aerosil 200, Degussa) como
fonte de silício, hidróxido de sódio (NaOH) como agente mineralizante, óxido de titânio
(TiO2, P25, Degussa) como fonte de titânio, o cátion 1-butil-3-metilimidazólio