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UTILIZAÇÃO E MANEJO DOS RECURSOS MADEIREIROS DAS FLORESTAS TROPICAIS ÚMIDAS.

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Academic year: 2017

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UTILIZAÇÃO E MANEJO DOS RECURSOS MADEIREIROS DAS FLORESTAS TROPICAIS ÚMIDAS1

.

Niro HIGUCHI2

RESUMO — Neste trabalho é apresentada uma revisão das atividades de manejo de florestas tropicais úmidas, incluindo conceitos, histórico, aplicações c pesquisas experimentais sobre o tema, em importantes países tropicais da Ásia, África c América, com ênfase na Amazônia Brasileira. É também apresentada uma análise da situação das florestas tropicais úmidas e das perspectivas quanto ao desenvolvimento florestal da região amazônica, depois da Rio-92 e de outros importantes movimentos ambientalistas que ocorreram nos últimos anos. Manejar a floresta sob regime de rendimento sustentado é uma forma inteligente de uso do solo amazônico. É aplicável em muitas sub-regiões da Amazônia, mas não para a região toda. Não há modelo específico de manejo para as distintas indústrias madeireiras c, a tendência atual, é a diversificação de produtos para que a sustentabilidade econômica do manejo seja mais facilmente alcançada.

Palavras-chaves: manejo florestal, sistemas silviculturais.

Utilization and Management of Forest Resources of the Tropical Moist Forests.

ABSTRACT — This paper is a comprehensive review of the utilization and management of tropi-cal moist forests in Asia, Africa and America countries, and, in particular, the Brazilian Ama-zon. The review includes concepts of forest management, history and experimental forest research. Managing the forest on a sustainable yield basis is a wise land use for the Amazonian region which is suitable for almost the entire area. There is no specific model of forest management for different timber industries, but product diversification is recommended as a general strategy to-ward the goal of management sustainability.

Key-words: forest management, silvicultural systems.

MANEJO FLORESTAL

"Manejo Florestal é a parte da ciência florestal que trata do conjunto de princípios, técnicas e normas, que tem por fim O R G A N I Z A R as ações necessárias para ORDENAR os fatores de produção e CONTROLAR a sua produtividade e eficiência para alcançar objetivos definidos."

PRINCÍPIO: Produção contínua e sustentada dos produtos madeireiros por meio do desenvolvimento cognitivo, dinâmico e iterativo. Isto significa admitir que a floresta contém algo mais do que árvores e o seu potencial representa algo

mais do que madeira. Dentro de uma floresta há inúmeros organismos vivos (homens, inclusive) que se interagem e interagem com o ambiente natural e que precisam ser cuidadosamente conside-rados antes de qualquer intervenção.

TÉCNICAS: Sistemas Silvicul-turais. Estes sistemas serão discutidos com mais detalhes na apresentação da evolução histórica do manejo de florestas tropicais úmidas.

NORMAS: Instrução Normativa n" 80 de 24/9/91, do IB AM A e todas as outras regulamentações dos órgãos ambientais estaduais e federal.

1

Financiado pelo CNPc. Bolsa de Pesquisa para o autor.

2

Pesquisador da CPST do INPA.

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"MANEJO FLORESTAL S U S -TENTADO - MFS - que corretamente é o MANEJO FLORESTAL SOB REGIME DE RENDIMENTO SUSTENTADO, é a condução de um povoamento florestal em que se aproveita tão somente o que ele é capaz de produzir, aolongo de um determinado período de tempo, sem comprometer a sua estrutura natural e o seu capital inicial."

O Manejo Florestal Sustentado, às vezes confundido como S I L V I -CULTURA TROPICAL, tem tido esta conotação porque praticamente não há como manejar de forma sustentada sem a aplicação dos clássicos sistemas silviculturais adaptados aos países tropicais. Manejo florestal sustentado é visto, também, como sinônimo de manejo da regeneração natural do p o v o a m e n t o r e m a n e s c e n t e da exploração comercial.

M A N E J O F L O R E S T A L EM R E G I M E DE R E N D I M E N T O SUSTENTADO é, enfim, a aplicação de sistemas silviculturais em florestas destinadas à produção madeireira e a condução da regeneração natural do povoamento remanescente, de modo a g a r a n t i r a c o n t í n u a o p e r a ç ã o da capacidade instalada para o desdobro do produto da floresta. O Engenheiro F l o r e s t a l , no e x e r c í c i o de sua profissão, objetiva por meio do MFS a c o n v e r s ã o de uma floresta heterogênea, complexa e irregular, a uma mais h o m o g ê n e a , menos complexa - sem colocar em risco a biodiversidade - e que tenha uma q u a n t i d a d e m a i o r de e s p é c i e s come re i a 1 men te desej á ve i s.

Há dois tipos de MFS: m o n o -cíclico (uniforme) e poli-cíclico (cortes s u c e s s i v o s ) . M F S m o n o c í c l i c o , praticamente extinto, pressupõe a colheita em um único corte e o retorno após cumprido o período de rotação da floresta. O Sistema Uniforme Malaio é o exemplo de MFS monocíclico. MFS policíclico, geralmente bicíclico, p r e s s u p õ e cortes s u c e s s i v o s com retorno de acordo com o ciclo de corte arbitrado.

Histórico do MFS

Os s i s t e m a s s i l v i c u l t u r a i s utilizados para o MFS nos países com florestas tropicais são, na realidade, adaptações dos modelos clássicos (principalmente europeus) d e s e n -volvidos para as florestas temperadas. As p r i m e i r a s e x p e r i ê n c i a s s i l v i -culturais voltadas ao MFS foram executadas na índia e Birmânia, em meados do século XIX.

Segundo LAMPRECHT ( 1990), a história do MFS nos trópicos só começou a ser contada depois do s u r g i m e n t o dos reinos c o l o n i a i s europeus. O botânico alemão Dietrich Brandis escreveu em 1860, na índia, o primeiro plano de ordenamento para a Teca {Tectona gnmdis) da Birmânia. Desenvolveu o método de "taungya" e fundou o serviço florestal indiano. A revista "The Indian Forester" começou a ser publicada em 1875. O primeiro manual de silvicultura tropical foi publicado na índia, em 1888.

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do e x t r a t i v i s m o m a d e i r e i r o , a manutenção de reservas florestais, a legislação e administração, não tendo praticamente nada de manejo florestal.

Na Malásia Peninsular, entre 1910 e 1922, uma série de tratamentos silviculturais, conhecidos como Cortes d e M e l h o r a m e n t o , foram implementados para favorecer uma única espécie, Palaquium guita. O látex desta e s p é c i e tinha uma participação significativa na economia do país. As árvores eram derrubadas para fazer a extração. Já naquela época foi observado que em vez de plantios, a condução da regeneração natural p r é - e x i s t e n t e era m u i t o mais conveniente.

Este sistema foi o precursor do Sistema Uniforme Malaio (SUM), que se consolidou em 1948, depois de deixar de ser usado o Sistema de Corte de Melhoramento da Regeneração. Isto aconteceu durante o período de reaquecimento da economia mundial e, em p a r t i c u l a r , com a alta da demanda de produtos madeireiros de florestas tropicais.

O desenvolvimento do SUM se deu f o r t u i t a m e n t e , q u a n d o foi verificada a regeneraçãoabundante de espécies desejáveis, depois de um longo período de ocupação militar dos japoneses e conseqüente destruição de florestas naturais, por meio de cortes rasos ou aberturas de grandes clareiras. Foi então concluído que as espécies desejáveis necessitavam de grandes aberturas para o desenvolvimento da regeneração natural (RN). A primeira versão do SMU preconizava o corte de

todas as árvores com DAP > 45 cm e a eliminação, posterior, de todas as indesejáveis que competiam com a r e g e n e r a ç ã o natural (RN) das desejáveis.

N a s florestas de D i p t e r o c a r p a c e a e , o SUM foi, inicialmente, executado com êxito na M a l á s i a P e n i n s u l a r . Até 1976, aproximadamente 300.000 hectares tinham sido manejados pelo SUM. Em florestas a l t a s , onde e s p é c i e s da família Dipterocarpaceae não são abundantes, o SUM fracassou. Em função disso, várias alternativas foram introduzidas para o manejo dessas florestas.

Segundo FAO (1989), na África, as e x p e r i ê n c i a s silviculturais são registradas desde o início do século XX. As primeiras pesquisas foram implantadas em Togo e Camarões, colônias alemãs, em 1908. Entre 1920 e 1930, na África Ocidental Britânica, os ingleses instalaram os primeiros experimentos florestais na região. Os franceses atuaram mais na Costa do Marfim, em 1930. O Sistema Tropical Shelterwood (STS) consolidou-se em 1944, na N i g é r i a , i n s p i r a d o em sistemas que favoreciam a RN de espécies desejáveis, sob as árvores matrizes, por meio de corte de cipós e eliminação de espécies indesejáveis. A primeira versão d o S T S era uma adaptação do SUM.

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limpezas para controlar a infestação de cipós e ervas daninhas, com o objetivo de p r o m o v e r a s o b r e v i v ê n c i a e o c r e s c i m e n t o da RN de e s p é c i e s desejáveis.

D e p o i s de m a n e j a r a p r o x i -m a d a -m e n t e 2 0 0 . 0 0 0 hectares de florestas primárias nigerianas com S T S , este sistema foi abandonado porque este tipo de aproveitamento não competia com outras formas de uso d o s o l o . O n d e havia a l g u m a preocupação com o uso múltiplo da floresta, o S T S c o n s e g u i u se consolidar.

Os sistemas seletivos vieram depois e hoje são os que predominam no M F S . Uma rara e x c e ç ã o é o S i s t e m a de F a i x a s de C o l h e i t a , utilizado experimentalmente no Vale do Rio Palcazu - no Peru - mais recentemente.

A evolução histórica do MFS é apresentada na Figura 1. Os Quadros 1, 2 e 3 apresentam, respectivamente, resumos das operações do SUM, do STS e de um sistema seletivo.

No c o n t i n e n t e a m e r i c a n o , o e x e m p l o vem das e x p e r i ê n c i a s silviculturais primeiramente instaladas em Trinidade, entre 1890 e 1900, pelos florestais ingleses. Entretanto, segundo BUDOWSKI (1976), não há um só exemplo de floresta tropical úmida da América que esteja sendo manejada sob regime de rendimento sustentado, se comparado com as condições do sudeste asiático e do oeste africano. Nos países amazônicos, no início da década de 80, foram planejadas várias áreas de demonstração de manejo

florestal, totalizando aproximadamente um milhão de hectares, que até hoje não foram implementadas.

No Brasil, o conceito de manejo florestal em regime de rendimento sustentado foi inicialmente introduzido com a r e a l i z a ç ã o dos p r i m e i r o s inventários florestais, executados por peritos da FAO, em fins da década de 50. O p r i m e i r o e único p l a n o de manejo registrado foi feito para a FLONA de Tapajós, em 1978, para uma área de 130.000 ha, mas que ainda não foi implementado. A principal razão foi a falta de c o m p e -titividade com outras formas de uso do solo. Provavelmente há algum plano de manejo em regime de rendimento s u s t e n t a d o s e n d o e x e c u t a d o na Amazônia, porém sem registros.

MFS no Mundo Tropical

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Figura 1. Evolução histórica do Manejo Florestal sob regime de Rendimento Sustentado, de forma esquemática

EXPERIÊNCIAS SILVICULTURAIS DA ÍNDIA E BIRMÂNIA

MALÁSIA

(Cortes de Melhoramento, 1910

,

s]

s

ILHAS ANDANAN

(Bosques Abrigados, 1930's]

(Seletivo, 1933;

SRI LANKA

MALÁSIA

(Cortes de Melhoramento da RN, 1927]

TRINIDADE

(STS, 1939]

NIGERIA

l o . STS, 1944]

MALÁSIA

[SUM, 1950)

FILIPINAS

(Seletivo, 1953]

NIGÉRIA

;20. STS, 1953]

INDONÉSIA

(Seletivo, 1972)

BORNEO DO NORTE

(SUM, 1955)

GANA

(STS, 1945]

NIGÉRIA

(3o. STS, 1961)

SABAH/SARAWAK

[SUM modificado, 1968]

GANA

(SELETIVO)

SABAH/SARAWAK

(Bi-CÍclico, 1980)

PORTO RICO

(Seletivo, 1948]

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Tabela 1. Seqüência de operações do Sistema Uni forme Malaio (SUM), versão original.

CRONOLOGIA OPERAÇÕES

7 ou 2 a n o s a n t e s E (n-7 Anelamento e E n v e n e n a m e n t o d e Indesejáveis c o m c o p a s ou n-2) d e n s a s d o s d o s s é i s inferior e médio (indesejáveis d o

d o s s e l superior, s e n e c e s s á r i o ) . Corte d e cipós.

n-1.5 Avaliação d a RN (plântulas e m u d a s e s t a b e l e c i d a s , m é t o d o d e Milliacre, LSM, q u a d r a d o s d e 2 χ 2 m.

n-0.5 IF d a s árvores g r a n d e s .

Ε η Exploração florestal (a concluir em m e n o s d e dois a n o s .

Logo a p ó s E A n e l a m e n t o e E n v e n e n a m e n t o d e árvores Indesejáveis e Corte d e cipós.

n+2 até n + 3 Limpeza d o s u b - b o s q u e para favorecer RN d e d e s e j á v e i s e Corte d e cipós.

n+4 até n + 5 Inventário d a s v a r a s u s a n d o LS 1/4, q u a d r a d o s d e 5 χ 5 m.

T r a t a m e n t o s silviculturais incluindo a n e l a m e n t o e Logo a p ó s LS 1/4 e n v e n e n a m e n t o d e indesejáveis, corte d e cipós e s e m e a r

desejáveis, s e n e c e s s á r i o .

n + 1 0 Inventário d a s arvoretas, LS 1/2, q u a d r a d o s d e 10 χ 10 m.

Logo a p ó s LS 1/2 T r a t a m e n t o s silviculturais, s e n e c e s s á r i o s . Considerar r e g e n e r a d o s e o IE > 6 0 % .

n+20 D e s b a s t e . A ser e x e c u t a d o d e p o i s em intervalos d e 10 a 15 a n o s , a t é a rotação final.

LS = Linear Sampling; IE = índice d e E s t o q u e ; E = Exploração; IF = Inventário Florestal; RN = R e g e n e r a ç ã o Natural.

O b s . : A r o t a ç ã o inicial era d e 70 a n o s .

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CRONOLOGIA OPERAÇÕES

E-5 M a r c a ç ã o d a área. Corte d e lianas e d e indesejáveis, a r b u s t o s e h e r b á c e a s d o estrato inferior.

S e g u n d o corte d e lianas e t c . E n v e n e n a m e n t o d o e s t r a t o E-4 intermediário ( e s t a ç ã o s e c a ) . Primeira C o n t a g e m d a RN

( e s t a ç ã o c h u v o s a ) .

E-3 S e g u n d a abertura d o d o s s e l ( e s t a ç ã o s e c a ) . Primeira e S e g u n d a Limpezas ( e s t a ç ã o c h u v o s a ) .

E-2 Terceira Limpeza. S e g u n d a C o n t a g e m d a RN. Quarta Limpeza.

E-1 Quinta Limpeza ( e s t a ç ã o c h u v o s a ) .

E Exploração florestal. Primeira Limpeza pós-exploração.

E+9 S e g u n d a Limpeza p ó s - e x p l o r a ç ã o .

E+10 R e m o ç ã o d a s á r v o r e s q u e serviram d e abrigo p a r a a RN d e d e s e j á v e i s . Quarta c o n t a g e m d a RN.

E + 1 4 Terceira Limpeza p ó s - e x p l o r a ç ã o .

E + 1 9 Q u a r t a Limpeza p ó s - e x p l o r a ç ã o .

e t c Nova exploração florestal 100 a n o s depois.

Fonte: LOWE, R.G. (1978)

Tabela 3. Seqüência de Operações dc um Sistema Seletivo.

CRONOLOGIA OPERAÇÕES

Inventário Florestal pré-exploratório u s a n d o a m o s t r a g e m E-1 a E-2 sistemática. D e t e r m i n a ç ã o d o s ciclos d e corte.

Corte d e cipós p a r a reduzir d a n o s d u r a n t e a e x p l o r a ç ã o E a E-1 florestal. M a r c a ç ã o d a s á r v o r e s q u e s e r ã o d e r r u b a d a s d e

a c o r d o c o m d i r e ç ã o d e q u e d a .

Corte d e t o d a s a s á r v o r e s m a r c a d a s conforme o p a n o d e corte.

E+2 a E + 5

Inventário Florestal pós-exploratório u s a n d o a m o s t r a g e m sistemática para avaliar o e s t o q u e residual e para prescrever o s t r a t a m e n t o s silviculturais.

Fonte: LESLIE, A.J. (1986).

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S u r i n a m e , M e l h o r a m e n t o da População Natural da Guiana Francesa e Faixas de Colheita do Peru.

Depois d e q u a s e m e i o século d e experincia, nenhum desses sistemas foi bem sucedido.

Em r e u n i ã o o c o r r i d a na Universidade de Yale, Estados Unidos, os especialistas em Manejo Florestal dão uma visão de como está a situação das atividades florestais em vários países do sudeste asiático e do oeste africano. Observa-se, entretanto, que p r a t i c a m e n t e não há registros d e insucessos creditados aos aspectos

técnicos na aplicação desses sistemas

no M F S , c o n t u d o nenhum d e l e s aponta um caso confirmado de sucesso da prática de m a n e j o florestal (MERGEN & VINCENT, 1987). As razões são as mais v a r i a d a s possíveis, como invasões pelos sem-terra, mudança de política de uso do solo, catástrofes naturais ou artificiais (guerras e guerrilhas), golpes de estado (militares ou não), falta de pessoal treinado, falta de financiamentos etc. E n t r e t a n t o , p r a t i c a m e n t e não há registros de insucesso creditado aos aspectos técnicos na aplicação desses sistemas no MFS.

Do ponto de vista financeiro, a atividade florestal representa para os países produtores do sudeste asiático e do oeste africano, aproximadamente

10% do PIB daqueles países. Na Amazônia Brasileira, as indústrias exportadoras de madeira faturaram, em

1990, US$ 170 milhões, do qual o Estado do Pará sozinho contribuiu com 80% (segundo AIMEX, Associação das

Indústrias Exportadoras de Madeira do Estado do Pará e Território Federal do Amapá). Apesar de representar menos de 10% das exportações da Asia e África, este montante representa quase o dobro das exportações de produtos eletro-eletrônicos da Zona Franca de M a n a u s , no m e s m o p e r í o d o . No Estado do Amazonas, praticamente 100% d a s e x p o r t a ç õ e s s ã o de laminado e compensado.

Enquanto isso, verifica-se uma diminuição constante dos estoques de madeira tropical, concomitante a um a u m e n t o p r e o c u p a n t e d e áreas degradadas em todo o mundo tropical. O Quadro 4 dá uma idéia de como está o estoque de florestas tropicais, até 1985, nos principais países produtores de madeira. O Quadro 5 apresenta a s i t u a ç ã o do d e s m a t a m e n t o na Amazônia Legal, até 1989.

A situação nos países do sudeste asiático e oeste africano deve ter-se agravado nos últimos 6 anos, porque a demanda por produtos madeireiros

tropicais não diminuiu durante este

período, ao contrário, vem a u m e n -tando exponencialmente.

No Brasil, na região amazônica, a situação também é agravante, apesar do t a m a n h o de n o s s a s r e s e r v a s florestais. Segundo FEARNSIDE et al.(l990), até 1989, o desmatamento na A m a z ô n i a a t i n g i a a p r o x i m a -damente 40 milhões de hectares.

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Tabela 4. Áreas de florestas produtivas dos principais países produtores de madeira tropica; (em milhões de hectares), até 1985.

PAÍS ÁREA TOTAL EXPLORADA % REMANESCENTE

Brasil 2 9 5 , 5 13,5 95,4

M a l á s i a 14,4 5,7 60,4

I n d o n é s i a 6 7 , 5 3 4 , 5 4 8 , 9

F i l i p i n a s 6 , 3 3,7 4 1 , 3

B i r m â n i a 2 1 , 8 5,5 7 4 , 8

Vietnã 3,5 2 , 3 3 4 , 3

T a i l â n d i a 2,9 2,9 0

L a o s 2,4 2,4 0

índia 3 7 , 8 3,9 8 9 , 2

Sri Lanka 1,0 1.0 0

Zaire 7 9 , 2 0,4 9 9 , 5

G a b ã o 19,8 9,9 5 0 , 0

C o n g o 13,6 3,4 7 5 , 0

M a d a g a s c a r 6,0 4 , 6 2 3 , 3

R e p . Afr. Central 3,4 0,4 8 8 , 2

Costa d o Marfim 1,8 1,3 0

Nigéria 1,6 1,5 6 , 3

C a m a r õ e s 16,6 10,6 36,1

P e r u 4 2 , 8 6,4 8 5 , 0

C o l ô m b i a 36,0 0,8 9 7 , 8

V e n e z u e l a 18,8 11,4 3 9 , 4

G u i a n a 13,5 1,4 89,6

S u r i n a m e 11,4 0 , 5 95,6

E q u a d o r 9,7 0,1 9 9 , 0

Bolívia 17,0 2 8 8 , 2

G u i a n a F r a n c e s a 7,6 0,2 97,4

Fonte: SCHMIDT, R.C. (1991).

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Tabela 5. Desmatamento na Amazônia Legal, até 1989 (em milhões de hectares) - considerando a florestal densa.

ESTADO AREA TOTAL DESMATADA % REMANESCENTE

Acre 1 5 , 2 6

A m a p á 9,95

A m a z o n a s 1 5 6 , 2 5

M a r a n h ã o 1 3 , 9 2

Mato G r o s s o 5 7 , 2 7

P a r á 1 1 8 , 0 0

R o n d ô n i a 2 1 , 5 3

R o r a i m a 1 7 , 3 3

T o c a n t i n s 1 0 , 0 6

Fonte: FEARNSIDE et al. (1990)

uma participação significativa para o crescimento de áreas degradadas da região. A exploração florestal deixou, definitivamente, de ser sub-produto de projetos de desenvolvimento. No sul do Pará, por exemplo, a exploração, vem servindo como subsídio para a implantação de pastagens e projetos agrícolas. Mesmo onde há exploração seletiva, praticamente não há nenhuma indicação que está sendo praticado o manejo florestal em regime de rendimento sustentado.

Na Amazônia brasileira, a pressão internacional sobre a região provocou uma indecisão política quanto aos subsídios para projetos de d e s e n -volvimento e, o agravamento da crise financeira brasileira, nos últimos dois anos, fizeram com que a produção madeireira diminuisse neste período. Da mesma maneira, o desmatamento reduziu-se significativamente nos últimos anos. Resultados do INPE

0,88 94,2

0 , 1 0 9 9 , 0

2 , 1 6 9 8 , 6

8,87 3 6 , 3

7 , 9 5 86,1

14 8 8

3,15 8 5 , 4

0 , 3 6 9 7 , 9

2 , 2 3 7 7 , 8

(1992), apresentados durante a Rio-92, indicam as seguintes taxas de desmatamento:

- período 1978 a 1988: 21.130 knr/ano

- período 1988 a 1989: 17.860 km2

/ano

- período 1989 a 1990: 13.810 km2

/ano

- período 1990 a 1991: 11.130 kmVano

Pesquisas com MFS

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Especificamente sobre sistemas silviculturais, as pesquisas iniciaram-se em fins dos anos 70 e começo dos anos 80. As principais experiências estão sendo executadas nas seguintes regiões: FLONA de Tapajós (CPATU-EMBRAPA), Curuá-Una (SUDAM/ FCAP), Projeto Jari (SARI/ CPATU-EMBRAPA), Buriticupu e Marabá (CVRD), Manaus (INPA), Abufari (CAROLINA) e Antimari (FUNTAC).

Há várias revisões sobre este a s s u n t o , p u b l i c a d a s em r e v i s t a s científicas e anais de encontros e congressos florestais. Uma das mais r e c e n t e s é de H I G U C H I ( 1 9 9 1 ) , publicada nos anais do Seminário "O Desafio das Floresta Neotropicais," pela Universidade Federal do Paraná. Outras revisões importantes estão disponíveis em PANDOLFO (1979), CARVALHO (1987), YARED et al. (1988), SYNNOTT (1989), SOUZA ( 1 9 8 9 ) , S I Q U E I R A ( 1 9 8 9 ) e BARROS (1990).

Essas experiências inspiraram dois sistemas silviculturais para a Amazônia Brasileira, um sugerido por SILVA & W H I T M O R E (1990) e, outro, o sistema SEL (Seleção de Espécies Listadas), desenvolvido pelo INPA (HIGUCHI et ai., 1991a). Estes dois sistemas são do tipo policíclico e de uso múltiplo e têm em comum os princípios dos sistemas precursores, Malaio e Shelterwood Tropical, que se utilizam da regeneração natural para garantir ciclos de corte subseqüentes.

Os países vizinhos, politicamente incluídos na região amazônica, têm também feito grandes investimentos

em pesquisas florestais. Os sistemas investigados no Suriname (CELOS) e na Guiana Francesa (Melhoramento da P o p u l a ç ã o N a t u r a l ) d e v e m ser considerados em qualquer tomada de decisão quanto à escolha de sistemas silviculturais para o manejo da floresta amazônica. Outros países como Peru, C o s t a R i c a e H o n d u r a s , t a m b é m investiram em pesquisas com manejo florestal nos últimos anos.

Na Amazônia Brasileira, além das pesquisas silviculturais e de manejo florestal, muitos estudos básicos tem sido realizados na região, principalmente em áreas de conhecimento como ecofisiologia, fenologia, sistemas de reprodução, estrutura natural da floresta, balanços de água e nutrientes e fitossociologia - das principais espécies arbóreas a m a z ô n i c a s . Depois do Congresso Florestal Mundial da IUFRO, em 1990 no Canadá, a área de sociologia florestal está também se integrando ao conceito de manejo florestal na Amazônia.

CONCLUSÃO

A p e s a r da q u a n t i d a d e de sistemas silviculturais desenvolvidos com base nos princípios do manejo florestal sob regime de rendimento sustentado, os resultados práticos são desanimadores. Isto é um contra-senso se consideradas todas as pesquisas desenvolvidas e o papel que a floresta d e s e m p e n h a na m a n u t e n ç ã o da qualidade de vida do planeta terra.

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submetidas à exploração florestal sob qualquer tipo de sistema silvicultural, estão hoje degradadas. A cada dia que passa aumenta a produção e diminui o ciclo de corte. O mesmo ocorre no oeste africano. Nessas duas regiões há grandes densidades demográficas, que têm contribuído significativamente para o insucesso do manejo florestal, ao contrário da Amazônia brasileira, que possui baixa densidade demográfica.

No Brasil, nunca se falou que e s t a v a u t i l i z a n d o este ou a q u e l e sistema para o manejo florestal, até 1989. Mesmo assim, temos hoje cerca de 40 milhões de hectares de floresta a m a z ô n i c a , se não t o t a l m e n t e degradados, pelo menos seriamente comprometidos em termos de sucessão florestal. Só a partir de 1989, com a exigência do plano de manejo (OS n" 001/89-DIREN de 7/8/89) e outras instruções por parte do I B A M A , m i l h a r e s de h e c t a r e s de floresta amazônica já foram explorados sob artifício de algum sistema silvicultural clássico.

A floresta a m a z ô n i c a r e m a -nescente é ainda muito grande, mas seria muita irresponsabilidade dos florestais e madeireiros considerarem que este fato seja suficiente para acomodação. Por outro lado, apesar de t o d o s os " d e f e i t o s " i m p o s t o s às espécies da floresta amazônica, como cor da madeira, peso específico e má distribuição espacial, a procura por madeira tropical será intensa nessa região, ainda no segundo milênio. Usando com inteligência as áreas vocacionadas para produção madeireira,

a floresta amazônica será conservada. As pesquisas indicam que as injúrias causadas pelas exploração florestal são rapidamente cicatrizadas, as clareiras são colonizadas de acordo com orientações técnicas, a floresta residual responde positivamente aos tratamentos silviculturais e que o manejo florestal, enfim, pode fazer bem a floresta natu-ral.

Outro aspecto alvissareiro é a conscientização ecológica e, conseqüente pressão dos consumidores de madeira tropical do mundo todo e também do Brasil. Muito em breve, o consumo se restringirá ao produto oriundo de áreas manejadas sob regime de rendimento sustentado. Quando isto acontecer, apenas aqueles que trabalharem com base no conhecimento, sobreviverão. Os empresários florestais devem ter em mente, no exercício de suas atividades, não só as exigências do IBAMA, mas também o bem-estar das futuras gerações. Definitivamente, apenas por meio do conhecimento se chegará a tão almejada sustentabilidade dos projetos de manejo florestal.

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Figura 1. Evolução histórica do Manejo Florestal sob regime de Rendimento Sustentado, de forma  esquemática
Tabela 1. Seqüência de operações do Sistema Uni forme Malaio (SUM), versão original.
Tabela 3. Seqüência de Operações dc um Sistema Seletivo.
Tabela  4. Áreas de florestas produtivas dos principais países produtores de madeira tropica; (em
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