RESUMO
A infecção de camundongos com Leishmania spp. que causam leishmaniose cutânea
tem provido conhecimentos dos vários eventos imunológicos envolvidos nos
mecanismos de resistência do hospedeiro usados para restringir o crescimento do
parasito. Muitos estudos têm demonstrado que a resposta do hospedeiro é determinada
tanto pela espécie de parasito quanto pela genética do hospedeiro. Uma vez que
camundongos C57BL/6 infectados com L. major desenvolvem uma resposta Th1 que
leva à resolução espontânea das lesões e tendo conhecimento de que a susceptibilidade
destes camundongos à infecção por L. amazonensis é conseqüência da inabilidade de
montar uma resposta Th1 eficiente, foi testada a hipótese de que a indução prévia de
uma resposta induzida por L. major poderia modificar a infecção com L. amazonensis.
Para testar esta hipótese, camundongos C57BL/6, IL-10-/-e 2M-/-, os quais tinham sido
previamente infectados com 104 promastigotes de L. major na pata direita, foram
infectados com 104 promastigotes de L. amazonensis na pata contralateral e o curso da
infecção seguido durante 10 semanas. Foi demonstrado que camundongos C57BL/6
previamente infectados com L. major controlaram a resposta patogênica causada pela
infecção com L. amazonensis. Este processo estava relacionado em parte com uma
resistência parcial a qual foi independente de IL-10 como evidenciado pela redução
moderada do número de parasitos nas lesões de camundongos selvagens e IL-10-/-
pré-infectados. Adicionalmente, foi encontrada uma alta produção de IFN-γ por
esplenócitos de camundongos pré-infectados, mas a produção de IFN-γpelas células do
linfonodo drenante não foi diferente daquela em camundongos infectados apenas com L.
amazonensis. Em contraste, camundongos pré-infectados mostraram uma alta expressão
de mRNA de iNOS e TNF-αno local da infecção. Camundongos depletados de células
T CD8+ no início da infecção com L. amazonensis, mas não os geneticamente
deficientes para células T CD8+ ( 2M-/-) controlaram a imunopatologia. Para entender
como os camundongos pré-infectados controlam a progressão da lesão por L.
amazonensis sem marcada redução do número de parasitos, foram examinados a
produção de quimiocinas no local da infecção, a freqüência e o fenótipo de células T
em linfonodos drenantes por citometria de fluxo. O recrutamento reduzido de monócitos
e linfócitos nas lesões causadas por L. amazonensis, a produção diferencial de
CCL3/MIP-1α e CCL5/RANTES e a freqüência aumentada de células Tsup CD8+ e
Treg CD4+nos linfonodos que drenam o local da infecção é consistente com a hipótese
de que o controle da progressão da lesão por L. amazonensis em camundongos
pré-infectados é associado com recrutamento alterado do infiltrado celular no local e
indução precoce de células T com fenótipo regulador.
ABSTRACT
Experimental murine infections with Leishmania spp. that cause cutaneous
leishmaniasis has led to an understanding of many immunological events that are
required for a successful host response towards these protozoan parasites. Many studies
have demonstrated that the host response is determined by the species or strains of
Leishmania and also that this response may vary in the same mouse strain. Since
C57BL/6 mice infected with L. major develop a Th1 response that leads to spontaneous
resolution of lesions and knowing that the susceptibility of these mice to L. amazonensis
results from an inability to mount these responses, we tested the hypothesis that the
previous induction of a response elicited by L. major would modify the outcome of
infection with L. amazonensis. To address this issue, C57BL/6, IL-10-/-and 2M-/-mice,
which had been previously inoculated into the left hind footpad with 1 x 104 metacyclic
promastigotes of L. major, were infected with 104 metacyclic promastigotes of L.
amazonensisin the contralateral footpad and the course of infection was followed for 10
weeks. We have demonstrated that C57BL/6 mice previously -infected with L. major
restrain pathogenic responses induced by L. amazonensis infection. This process is
related in part with a partial resistance, which is independent of IL-10, as evidenced by
moderate reduction in parasite number within L. amazonensis lesions from pre-infected
wild-type and IL-10-/-mice. We found a higher production of IFN-γ by spleen cells from
pre-infected mice at weeks 6 and 10 after L. amazonensis-infection, but IFN-γ
-production by draining lymph node cells was not different between pre-infected mice
and their control counterpart. In contrast, pre-infected mice showed high TNF-α and
iNOS mRNA expression at the site of infection. In addition, mice depleted of T CD8+
cells controlled immunopathology, on the contrary, mice genetically deficient in CD8+
T cells ( 2M-/-) did not. To understand how pre-infected mice controlled progression L.
amazonensis lesions without marked reduction of number parasites, we examined
chemokines production at the site of infection and frequency and phenotypes of T cells
in the draining lymph nodes at various time points using flow cytometry. Our findings
show reduced recruitment of monocytes and lymphocytes in L. amazonensis lesions,
differential production of CCL3/MIP-1α and CCL5/RANTES and a increased
frequency of CD8+ Tsup and CD4+ Treg cells at the draining lymph nodes, which is
consistent with our hypothesis that the restrained lesion progression in pre-infected mice
is markedly associated with a altered cell recruitment to the site of infection and early
induction of T cells bearing the regulatory phenotype.