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Revista da Sociedade Br asileir a de Medicina Tr opical 3 7 ( 2 ) :1 5 4 -1 5 7 , mar-abr, 2 0 0 4
Impacto ambiental de modificações ecológicas realizadas
em uma área subtropical
Environmental impact of ecological changes in a subtropical area
Jor ge Gor odner1, José M. Alonso1, Ofelia Zibelman1, Mir ia Galván1, Daniel Mer ino1, Silvia E. Balbachan1 e Olga Mir anda1
RESUMO
No pe río do de 1994 a 2000, du ra n te a c o n stru ç ã o e e n c him e n to da re pre sa Ya c yre tá , fo ra m e stu da da s e m Itu za in gó e Po sa da s va riá ve is in fe c c io sa s ( dia rré ia s e in fe c ç õ e s re spira tó ria s) , c lín ic o - c irú rgic a s ( do e n ç a s c a rdio va sc u la re s e po litra u m a tism o s) e a m b ie n ta is ( plu via is, te m pe ra tu ra e u m ida de ) . As dia rré ia s, e m Itu za in gó , tive ra m u m a u m e n to 6,5%, 78,3% e 13%, re spe ctiva m e nte e m 1995, 1996 e 1997 e no s a no s se guinte s o s va lo re s fo ra m sim ila re s a o s de 1994 e e m Po sa da s m o stra ra m um a te ndê ncia a sce nde nte . As infe cçõ e s re spira tó ria s, e m Ituza ingó e m 1995, a um e nta ra m 143% e no s pe río do s sub se q üe nte s vo lta ra m a o s lim ite s de 1994 e , e m Po sa da s tive ra m va lo re s a sc e nde nte s. No Ho spita l de Ituza ingó , e m 1995, a s do e nça s incre m e nta ra m 97,6%, m o stra ra m de cré scim o e m 1996 e a tingira m 127% e m 2000; o s po litra um a tism o s a um e nta ra m 107% e m 1995, de c lina ra m 38% e m 1996 no s a no s se guinte s a pre se nta ra m te ndê nc ia a sc e nde nte a tingindo 33% e m 2000. O im pa c to da s va riá ve is a m b ie n ta is fo i m a io r e m Itu za in gó do q u e e m Po sa da s. O a u m e n to da s do e n ç a s re la c io n o u - se c o m a te m pe ra tu ra m á xim a , m a s n ã o c o m a u m ida de .
Palavr as-chave s: Vigilâ nc ia a m b ie nta l. Epide m io lo gia . Muda nç a a m b ie nta l. Infe c to lo gia .
ABSTRACT
Infe ctio us, clinica l-surgica l a nd e nviro nm e nta l va ria b le s we re studie d in Ituza ingó a nd Po sa da s ( Arge ntina ) a nd diffe re nce s we re a na lyze d fro m 1994 to 2000, whic h c o rre spo nds to the b uilding o f the b ina tio na l da m Ya c yre tá ( Arge ntina - Pa ra gua y) a n d to the re su ltin g re se rvo ir. The c ho se n in fe c tio u s va ria b le s we re dia rrhe a a n d re spira to ry in fe c tio n s a n d the c lin ic a l-surgic a l va ria b le s we re c a rdio va sc ula r dise a se s a nd po lytra um a s. Enviro nm e nta l va ria b le s we re a lso inve stiga te d. Ta k ing a s a b a se lin e the va lu e s c o rre spo n din g to the ye a r 1994, dia rrhe a in Itu za in gó , in c re a se d 6.5% du rin g 1995 a n d 78.3% in 1996 re turne d to 1994 va lue s. Po sa da s sho we d a rising te nde ncy thro ugho ut the pe rio d inve stiga te d. In Ituza ingó , re spira to ry in fe c tio u s ro se 143% in 1995, a n d la te r re tu rn e d to 1994 va lu e s. In Po sa da s the y in c re a se d e a c h ye a r. Ca rdio va sc u la r dise a se s re a c he d 97.6% in Ituza ingó during 1995; lo we re d slightly in 1996 a nd re a c he d 127% in the ye a r 2000. The im pa c t o f the e nviro nm e nta l va ria b le s wa s highe r in Ituza ingó tha n Po sa da s. The ne ga tive im pa c t o f te m pe ra ture re la te d with the in c re a se d fre q u e n c y o f dise a se in Itu za in gó is m o re re la te d to m a xim u m te m pe ra tu re tha n with c ha n ge s in hu m idity.
Ke y-words: Enviro nm e nta l surve illa nce . Epide m io lo gy. Enviro nm e nta l cha nge . Infe cto lo gy.
*… A sa ú de e a do e n ç a do ho m e m , n ã o só e stã o e m re la ç ã o c o m o se u o rga n i sm o , se n ã o ta m b é m c o m o m e i o a m b i e n te , e spe c i a lm e n te c o m o s f e n ô m e n o s a tm o sf é ri c o s”… Hi pó c ra te s ( 460 a .C.)
1 . Instituto de Me dic ina Re gio nal de la Unive r sidad Nac io nal de l No r de ste , Re siste nc ia, Ar ge ntina.
Par te de e ste pr o ye c to fue financ iado po r la Age nc ia Nac io nal de Pr o mo c ió n Cie ntífic a y Te c no ló gic a ( FONCYT)
En dereco para correspon dên cia: Prof. Jorge Gorodner. Instituto de Medic ina Regional. Universidad Nac ional del Nordeste. Av. Las Heras 7 2 7 – 3 5 0 0 Resistenc ia, Argentina. e -mail: j go r o dne r @ b ib . unne . e du. ar
Re c e b ido par a pub lic aç ão e m 2 5 /1 0 /2 0 0 2 Ac e ito e m 1 9 /1 /2 0 0 4
O meio ambiente* é o conjunto de fatores físicos, naturais, estéticos, culturais, sociais e econômicos que interagem com o homem
e sua comunidade. Forma parte da vida do homem, sua organização e progresso como um ente holístico, cujas interrelações originam
processos de mudanças em todos os seus componentes, quando se produz um impacto em algum deles. Deveria ser entendido como
uma totalidade indivisível, onde os fatores se interrelac ionam, produzindo efeitos uns sobre os outros4 1 31 5.
As inte r r e la ç õ e s q ue s e pr o duzir e m e m a lgum a s da s variáveis sempre terão reperc ussão nas demais, pelo que, frente à exec uç ão de grandes obras de engenharia que modifiquem os
e c o siste mas, se r ia ade quado imple me ntar uma avaliaç ão de
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Go r o dne r J e t a l
i m p a c t o a m b i e n t a l a n t e s d e e m p r e e n d e r a s a ç õ e s
de fin itiva s1.
Em 1 9 8 2 , a Organizaç ão Mundial da Saúde rec onhec eu que
muitos projetos de desenvolvimento podem ser perigosos para o ambiente e, em conseqüência, causar riscos sanitários importantes.
Entre eles, menciona-se o desenvolvimento dos recursos hídricos,
requisito indispensável para uma gama de atividades humanas,
mas que produz um forte impac to sobre o meio ambiente, em
partic ular, nas regiões tropic ais e subtropic ais5.
Sem dúvida, o aproveitamento dos rec ursos fluviais c onstitui um meio importante de obtenç ão de energia e, por mais que seja
proveniente de um rec urso renovável, a alteraç ão do ec ossistema
pode oc asionar elevaç ão da prevalênc ia e inc idênc ia de algumas patologias, além da presenç a de outras, exótic as e/ou novas5.
A Cu e n c a de l Pla ta ( B ac ia do Plata) na Amé r ic a do Sul
sofre, há 5 0 anos, impac tos ambientais, suc essivos e c resc entes,
tanto em suas c abec eiras, quanto nos princ ipais eixos c oletores:
o s rio sPa ra gu a y, Pa ra n a hyb a - Pa ra n á , Uru gu a y e rio de la
Pla ta. Esta r egião o c upa 1 7 % da super fíc ie da Amér ic a do Sul c om territórios da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguay e Uruguay
e tem uma superfic ie aproximada de 3 0 0 .0 0 0 Km2, onde habitam
apro ximadamente 3 2 milhõ es de pesso as7.
Ate nde ndo a c ir c unstânc ia de q ue a b ac ia to da supo r ta
um a pr e ssão e m gr ande e sc ala c o m e mpr e e ndime nto s de de sflo r e stam e nto , e xte nsão das fr o nte ir as agr o pe c uár ias,
instalaç ão de bueiros para esgotos ( também industriais) , c anais
de rego, c onstruç ão de mais de c em grandes represas, c entrais
nuc le ar e s e mo vime nto s po pulac io nais impo r tante s, e ntr e o utr as c ausas, dec idiu-se efetuar um estudo par a c ar ac ter izar
e q ua n tific a r a s va r ia ç õ e s n a o c o r r ê n c ia de pa to lo gia s
indic adoras infec c iosas e c línic o-c irúrgic as, vinc ulando-as c om
as modific aç ões ambientais introduzidas em uma área da B ac ia, a fim de o b te r info r maç ão par a o de se nho de um mo de lo
pr e ditivo que pe r mita pr e ve nir a apar iç ão e /o u o inc r e me nto
de pato lo gias em c ada um do s per ío do s de impac to ambiental
o c asio nado s po r e ste tipo de e mpr e e ndime nto4 6. Otr ab alho
c o nsistiu e m e studar um c o nj unto de var iáve is se le c io nadas,
analisar seus valo res desde o iníc io das o bras de engenharia e
dur ante um pe r ío do de se te ano s e r e lac io ná- las c o m as
mudanç as nas variáveis ambientais.
MATERIAL E MÉTODOS
O e studo fo i fe ito e m ár e a de influê nc ia dir e ta da r e pr e sa
hidro elétric a de Yac yretá, situada a 2 7 º 1 5 ’ LS – 5 7 º1 5 ’ LO, ao
NE da Argentina. A zona apresenta um c lima subtropic al úmido,
c o m temperatura anual média de 2 5 ºC no s meses quentes e de
1 4 ºC, no s fr io s; seus valo r es extr emo s estão em 4 2 ºC e -4 ºC. A
maio r fr eqüênc ia de geadas apr esentase no s meses de maio
-agosto, as c huvas têm uma média anual de 1 .7 0 0 mm, a umidade
r e lativa do ar é supe r io r a 7 0 % e a pr e ssão atmo sfé r ic a é ao
r edo r de 1 .0 0 0 milib ar es.
A Represa Yac yretá está situada ao sul da Cue nca de l Pla ta,
sobre o rio Paraná à altura da c idade de Ituzaingó ( Provínc ia de
Corrientes) e a 8 0 km ao sudoeste de Posadas ( Provínc ia de
Misiones) . Seu açude principal, quando estiver completo, terá um
volume de 2 1 .0 0 0 Hm3, com uma superfície de1 .7 2 0 km2, estendida
até 2 5 0 km de águas acima da represa. A profundidade máxima será
de 3 5 m e a superfíc ie de água se situará a 8 3 msnm. A frente da
represa tem 6 7 km de largura, c om uma altura máxima de 3 0 m.
A área de influênc ia direta da represa é a franja geográfic a compreendida entre as localidades de Ituzaingó ( Argentina) e Ayolas
( Paraguay) , c om água abaixo da represa e, até a loc alidade de
Eldorado ( Argentina) e Otaño ( Paraguay) , c om água ac ima. Por
isso, tanto as rodovias (ruta na cio na l nº 12) da Argentina, c omo a nº 6 do Pa ra gua y c orrem ao lado de ambas c ostas e são
c onsideradas uma margem antrópic a. A empresa c onstrutora da
obra se instalou na c idade de Ituzaingó, o que signific ou um
importante c resc imento na populaç ão estável da loc alidade, c om constantes movimentos pela chegada ou partida dos trabalhadores12.
Var iáveis sanitár ias. Co letar am-se dado s de fr eqüênc ia das pato lo gias c o nside r adas c o mo indic ado r as, me diante a
análise de 4 0 .0 0 0 altas de ingr esso s ho spitalar es e de mo tivo s
de c o nsultas e xte r nas no Ho spita l Dr. Ric a rdo Billin ghu rst de Ituzaingó e na Dire cció n de Epide m io lo gía de l Ministe rio de Sa lud da Pr o vínc ia de Misio nes. Esc o lheu-se as diar r éias e as infe c ç õ e s r e spir ató r ias, c o mo pato lo gias infe c c io sas e as
c ar dio patias e po litr aumatismo s, c o mo indic ado r e s c línic o -c ir úr gi-c o s. As últimas só se avaliar am e m Ituzaingó , po r se
entender que o maio r impac to da o b r a, so b r e a po pulaç ão , se
pr o duziu ne ssa lo c alidade , j á que fo i o nde se instalo u a o b r a
pr inc ipal da empr esa c o nstr uto r a1 0.
Va r i á ve i s a m b i e n t a i s . Co l e to u - s e o s va l o r e s d e prec ipitaç ão média anual, temperatura média, máxima e mínima
anual e umidade r e lativa do ar, me dido s e m Ituzaingó pe la o fic ina me te r e o ló gic a da Entidade B inac io nal Yac yr e tá e se
relac ionou c om a inc idênc ia das patologias antes assinaladas2.
Os r e sultado s se e xpr e ssam c o mo var iaç ão na fr e qüê nc ia absoluta de c asos ou de taxas, atendendo ao universo estudado e m c a da lo c a lida de . Ca lc ulo u- se a c o r r e la ç ã o e sta tístic a
utilizando o teste de qui-quadrado e o Coefic iente de Correlaç ão, mediante o s pr o gr amas de Epi-Info ver são 6 .0 4 e Stadis 1 .0 5 .
RESULTADOS
Var iáveis sanitár ias. Dia rré ia s: no Hospital de Ituzaingó, foram atendidos durante o período de estudo, uma média anual
de 7 .4 0 0 menores de 5 anos, c om diversas patologias. Os c asos de diarréia, inc lusive os internados, apresentam-se distribuídos po r ano e número na Tabela 1 .
Tomando c omo base de análise o ano de 1 9 9 4 , as diarréias tiveram um aumento de 6 ,5 % em 1 9 9 5 , de 7 8 ,3 % ( OR= 1 ,8 8 -p< 0 ,0 5 ) em 1 9 9 6 e de 1 3 % em 1 9 9 7 , r egr edindo ao s valo r es
anteriores em 1 9 9 8 , e permanec endo em níveis inferiores até o ano 2 0 0 0 . Os c aso s de diar r é ia e ntr e c r ianç as de igual faixa etária, da c idade de Posadas, apresentam-se em número e taxas
po r 1 . 0 0 0 . As diar r é ias o c o r r idas no pe r ío do 1 9 9 5 /1 9 9 6 sofreram um aumento na sua taxa de 2 2 %; 1 9 9 5 -1 9 9 8 de 3 5 ,8 %;
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Infecçõ es respira tó ria s a guda s: as infec ç ões respiratórias agudas oc orridas em c rianç as e adultos e que requisitaram
internação no Hospital de Ituzaingó, atingiram uma média anual de
1 .1 0 0 pac ientes. Na Tabela 2 , apresentou-se os dados, por ano,
correspondentes a esta localidade e à cidade de Posadas. Segundo o que se pode observar, em Ituzaingó, constatou-se um incremento
de c asos de 1 4 3 % em 1 9 9 5 , para voltar em 1 9 9 6 e anos seguintes
às c ifras de 1 9 9 4 . Quanto a Posadas, c onstata-se um inc remento de 3 6 ,5 % entre as taxas de 1 9 9 5 e 1 9 9 6 e de 9 1 % entre as de 1 9 9 5
e 1 9 9 7 , para regressar em 1 9 9 9 e anos seguintes, às taxas de 1 9 9 5 ,
com tendência decrescente.
Pa to lo gia s clinica s e cirúrgica s: no Hospital de Ituzaingó, a s pa to lo gia s c a r dio va s c ula r e s a s s is tida s dur a n te 1 9 9 5
mostraram um inc remento de 9 7 ,6 % em relaç ão ao ano anterior, descendo no ano seguinte mas retomando, depois, uma tendência
c r esc ente até alc anç ar, no ano 2 0 0 0 , um valo r de 8 ,5 % , o que
signific a um aum e nto de 1 2 7 % c o m r e spe ito a 1 9 9 4 . Os
Var iáveis ambientais. Pre c ipita ç õ e s pluvia is: ante s da c onstruç ão da Represa ( 1 9 8 8 -1 9 9 3 ) , a prec ipitaç ão média anual fo i de 1 .6 8 8 ,5 mm/ano ; dur ante o e nc hime nto do aç ude ( ano
1 9 9 4 ) , a chuva alcançou 2 .0 6 2 mm/ano e depois do açude ( 1 9 9 5 /
2 0 0 0 ) foi de 1 .7 2 8 ,5 /ano. Em média, o aumento das c huvas no
período de 1 9 9 3 -2 0 0 0 foi de 8 8 mm/ano, com uma diferença entre 1 9 9 5 -1 9 9 7 com respeito a 1 9 9 8 , de 3 7 1 mm/ano ( Tabela 4 ) .
Ta b e la 1 - Ca so s de dia rré ia o c o rrido s n a s c ida de s de Itu za in gó e Po sa d a s.
Ituzaingó Posadas
Ano Caso s % c aso s taxas/0 0 0
1 9 9 4 4 6 0 6 ,0 -
-1 9 9 5 4 9 0 6 ,6 4 .7 3 9 1 8 8
1 9 9 6 8 2 0 1 1 ,0 5 .8 0 4 2 1 5
1 9 9 7 5 2 0 7 ,0 4 .0 6 6 1 5 0
1 9 9 8 4 1 0 5 ,5 6 .4 3 8 2 3 4
1 9 9 9 3 4 4 5 ,0 7 .3 3 2 2 5 8
2 0 0 0 4 5 0 6 ,0 7 .3 5 4 2 5 0
Ta b e la 2 - Ca so s de infe cçõ e s re spira tó ria s o co rrida s na s cida de s de Ituza ingó e Po sa da s.
Ituzaingó Posadas
Ano c aso s % c aso s taxas/0 0 0
1 9 9 4 7 6 7 ,0 -
-1 9 9 5 1 8 5 1 7 ,0 1 .2 7 1 5
1 9 9 6 7 5 7 ,0 1 .7 3 5 7
1 9 9 7 7 9 8 ,0 2 .4 3 0 9
1 9 9 8 7 7 7 ,0 1 .6 0 0 6
1 9 9 9 7 0 6 ,0 1 .0 2 2 4
2 0 0 0 6 3 6 ,0 1 .0 0 6 3
politraumatismos apresentaram uma tendênc ia semelhante, c om
um aumento de 1 0 7 % entre 1 9 9 4 e 1 9 9 5 , seguido de um dec línio de 3 8 % em 1 9 9 6 e uma tendênc ia asc endente alc anç ando , no
ano 2 0 0 0 , um incremento de 3 3 %, o que significa um incremento
de 7 2 % c o m respeito a 1 9 9 4 ( Tabela 3 ) .
Ta b e la 3 - Ca so s de pa to lo gia s ca rdio va scula re s e po litra um a tism o s o co rrida s no Ho spita l de Ituza ingó .
Enfermedades c ardiovasc ulares Politraumatismos
Ano c aso s % c aso s %
1 9 9 4 4 1 4 ,2 9 0 8 ,0
1 9 9 5 8 1 7 ,1 1 8 6 1 6 ,6
1 9 9 6 5 0 5 ,0 1 1 5 9 ,5
1 9 9 7 8 4 7 ,0 1 2 1 1 0 ,1
1 9 9 8 8 0 7 ,6 1 0 8 1 0 ,3
1 9 9 9 9 0 8 ,1 1 1 8 1 0 6
2 0 0 0 9 3 8 ,5 1 2 0 1 1 0
Ta b e la 4 - Va lo re s Anua is Mé dio s de Va riá ve is Am b ie nta is na Áre a de Ya cyre tá , dura nte o s a no s 1988/2000.
1 9 8 8 /1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 /2 0 0 0
( antes de finalizada a obra) ( enc himento da represa) ( Represa c heia)
Ariável % variaç ão % variaç ão
Prec ipitaç ão pluvial( em mm) 1 .6 8 8 ,5 2 .0 6 2 + 3 7 3 , 5 1 .7 6 5 + 7 6 ,5
Temperatura média máxima 3 2 , 9 1 ºC 3 3 , 5 ºC + 0 , 6 3 4 , 2 ºC + 1 , 3
Temperatura média mínima 9 ,1 ºC 1 0 , 1 ºC + 1 9 ,7 ºC + 0 , 6
Umidade relativa do ar máxima 9 8 ,4 % 9 6 ,5 % -1 ,9 9 7 ,4 % -1
Umidade relativa do armínima 2 5 ,3 % 4 0 ,1 % + 1 4 ,8 3 8 ,5 % + 1 3 ,2
Te m pe ra tu ra : a te mpe r atur a mé dia máxima, ante s da c o nstr uç ão da Re pr e sa, te ve um valo r de 3 2 ,9 ºC; dur ante o
enc himento do aç ude, a média máxima foi de 3 3 ,5 ºC e, ao final
do pe r ío do de e nc hime nto , alc anç o u um valo r de 3 4 ,2 ºC. A
dife r e nç a e ntr e a mé dia máxima de 1 9 8 8 /1 9 9 3 e 1 9 9 5 /2 0 0 0 ,
signific o u um aumento de 1 ,3 ºC.
A temperatura, antes da c onstruç ão da Represa, apresentou
uma média mínima de 9 ,1 ºC; no momento do enc himento foi de
1 0 ,1 ºC e c om o aç ude já estabelec ido, a média mínima foi de
9 ,7 ºC. A diferenç a de valores em média mínima, entre 1 9 8 8 /1 9 9 3
e o ano 2 0 0 0 , c orrespondeu a aumento de 0 ,6 ºC ( Tabela 4 ) .
Um ida de rela tiva do a m biente: no período de 1 9 8 8 a 1 9 9 3 , o máximo absoluto foi de 9 8 ,4 % e o mínimo absoluto de 2 5 ,3 % .
Em 1 9 9 4 , o máximo absoluto foi de 9 6 ,5 % e o mínimo absoluto
4 0 ,1 % . No período de 1 9 9 5 a 2 0 0 0 , o máximo absoluto foi de
9 7 ,4 % e o mínimo absoluto de 3 8 ,5 % . Estes valores assinalam
uma tendênc ia asc endente los valores mínimos ( Tabela 4 ) .
DISCUSSÃO
Todas as transformações produzidas sobre o meio ambiente e
as formas de vida evolutivas produzem c rise nos organismos que
não podem se adequar às mudanças às quais se encontram expostas
1 5 7 ac resc entam os problemas de saúde oc asionados naturalmente
pelos fatores ambientais, já que criam ambientes propícios para a
aparição e disseminação de certas enfermidades9.
Um dos maiores problemas ao demarc ar um loc al para represa, em zonas subtropic ais, é que obras desse tipo provoc am
modific aç ões ambientais altamente sensíveis, c omo o aumento
da temperatura, do regime de c huvas e da umidade relativa do
ambiente, c om graves c onseqüênc ias para a saúde humana. Esse tipo de fator condicionante para a multiplicação de agentes vetores
de patologias infecciosas já tem sido assinalado em outros estudos
realizados na área, em relaç ão ao dengue e ao paludismo7 8 1 1.
Canter e c o ls sustentam que o impac to so b r e a mo r b idade
das pato lo gias não só se manife sta na ár e a ime diatame nte e nvo lvida, c o mo tamb é m pr o duz uma alte r aç ão nas ár e as
vizinhas, sem que se po ssa pr ec isar um limite nas águas tanto
ac ima, c omo abaixo delas1.
Observa-se, com freqüência, que, ao alterar as condições naturais
de uma área, alteram-se também as de outras, ainda que estejam distantes da primeira, com o qual os efeitos diferidos tanto em tempo
como em espaço demonstram, de maneira clara, uma estreita
vinculação entre todos os ecossistemas presentes em uma região15.
Nesse sentido, estudos efetuados pela nossa equipe de trabalho numa área próxima à do presente trabalho, demonstraram a emergência
da leishmaniose tegumentar cutâneo-mucosa ( inédito) .
Tanto na cidade de Ituzaingó como na de Posadas, os casos de
diarréia incrementaram-se notoriamente em 1 9 9 6 , ano em que se
efetuou o enchimento do açude da represa com um significativo aumento das napas freátic as. Além disso, esse fenômeno foi
acompanhado por um importante aumento no volume de chuvas, o
que provocou grandes dificuldades para a adequada eliminação dos
excretos7 1 4. No entanto, enquanto na primeira localidade as cifras
logo baixaram até alc anç ar os valores históric os, em Posadas
continuaram elevadas.
As infecções respiratórias mostraram uma tendência similar, em
ambas localidades, comum aumento da incidência primeiro, e
posterior declínio o que nos induz a pensar que depois de ocorrido o impacto, transcorre algum tempo antes de alcançar um novo
equilíbrio.
A diferenç a das patologias infec c iosas antes assinaladas, as
do e nç as c ar dio vasc ular e s e o s po litr aumatismo s tive r am um
c omportamento algo diferentes, mostrando um aumento a partir
de 1 9 9 4 e depo is um dec línio , mas permanec endo em valo res superiores ao do c itado ano c om uma tendênc ia ao c resc imento.
De tudo o que foi exposto, pode-se afirmar que, ante um
determinado impacto ambiental, existe uma resposta biológica de
magnitude variada, que é imediata no epic entro do impac to e que
depois tende a diminuir para situar-se em um novo nível, e que as
mudanças climáticas sempre têm seu correlativo patogênico.
Considera-se importante assinalar que, se bem as grandes obras de infra-estrutura sejam inevitáveis para o desenvolvimento dos países, antes de empreender a sua c onstruç ão, dever-se-ia planejar adequadamente seus impactos sobre a saúde e qualidade de vida humanos, a fim de oc asionar o menor dano possível.
AGRADECIMENTOS
Os auto r es expr essam seu r ec o nhec imento à Dir eç ão e ao pessoal dos hospitais de Ituzaingó e de Posadas, ao Ministe rio
de Sa lud Púb lica de la Pro vincia de Misio ne s e ao Engenheiro Ar mando Co r nazzani do Ente Bina c io na l Ya c yre tá.
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