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A construção narrativo-argumentativa da imagem de um presidente na biografia Getúlio Vargas para crianças

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RAQU EL ABREU - AOKI

A const r ução nar r at ivo- ar gum ent at iv a da im agem de

um pr esident e na biogr afia Get úlio Vargas par a

cr ianças

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RAQU EL ABREU - AOKI

A const r u ção nar r at ivo- ar gu m ent at iva da im agem de um

pr esident e na biogr afia Get úlio Var gas par a cr ianças

Disser t ação de m est r ado apr esent ada ao Pr ogr am a de Pós- Graduação em Let ras: Est udos Linguíst icos, da Faculdade de Let r as da Univer sidade Federal de Minas Ger ais, com o r equisit o par cial par a obt enção do t ít ulo de m est r e em Linguíst ica.

Ár ea de concent r ação: Linguíst ica Linha de pesquisa: Análise do Discur so Or ient ador a: Profª Dr ª Em ília Mendes

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Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Letras

Programa de Pós-Graduação em Letras:

Dissert ação defendida por Raquel Abreu- Aoki em 30/ 03/ 12 e aprov ada pela Banca Ex am inadora const it uída pelos professores Dout ores relacionados a seguir:

_______________________________________________ Em ília Mendes – UFMG

Orient adora

_______________________________________________ Mônica Sant os de Souza Melo - UFV

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Cr iança brasileir a!

[ ... ] Vê o t eu grande am igo galgando essa escada grande, car r egando nos br aços um a cr iança.

O que o flagr ant e t e suger e?

Por acaso não vês nele um inst ant âneo do m om ent o excepcional que est á viv endo a Pát r ia?

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AGRAD ECI M EN T OS

Agradeço a t odos que cont ribuíram de algum a form a para que est e t rabalho fosse possív el.

Em prim eiro lugar, ao Et erno de I srael, porque d’Ele, por Ele e para Ele são t odas as coisas.

À m inha orient adora, Professora Dout ora Em ília Mendes, que carinhosam ent e m e acolheu e “ adot ou” . Ex em plo para m im de com pet ência, dedicação e respeit o. Muit o obrigada!

Aos professores do POSLI N, por suas preciosas aulas e ensinam ent os: Professora Dout ora I da Lucia Machado; Professor Dout or Cláudio Hum bert o Lessa; Professora Dout ora Delaine Cafiero; Professora Dout ora Gláucia Muniz Proença Lara; Professora Dout ora Helcira Maria Rodrigues de Lim a; Professor Dout or Rosalv o Gonçalves Pint o; Professor Dout or Wander Em ediat o; Professor Dout or William Menezes; Professor Dout or Melliandro Galinari; Professor Dout or Paulo Henrique Aguiar Mendes; Professor Dout or Hugo Mari; Professora Dout ora Rosângela Borges e, de m aneira especial, ao professor Ant ônio August o Moreira de Faria, com o qual iniciei m inha t raj et ória no m est rado.

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Laura Wagner; Elaine Cast eluber; Bráulio Chav es e Ludm ila Salom ão. Aos funcionários do POSLI N, principalm ent e ao Divino.

Aos am igos do proj et o Taba Elet rônica: Professora Dout ora Júnia Braga; Professora Dout ora Ana Crist ina Frick e Mat t e; Professora Dout ora Vera Lúcia Menezes de Oliv eira e Paiv a; Tereza Abrahão; Sim one Garofalo; Cat erina Blacher; Marcos Racilan; José Euríalo; Maria de Fát im a Franco; Andréa Ribeiro e Ronaldo Gom es.

Aos am igos do Colégio Bat ist a Mineiro, sobret udo Professora Valéria Pais, Professora Bernadet e Foureaux , Professora Karla Mabel, Professora Niliane Maciel, William Quint al, Professora Carol Morais e Lana Sant ’ana.

Aos am igos do Cent ro Univ ersit ário New t on Paiv a, que m esm o sem com preenderem m uit o bem a m inha pesquisa, ouviram curiosam ent e m inhas hist órias com Get úlio. Dent re eles gost aria de dest acar: Luciana Boav ent ura, Gabriela Frois, Ram on, Carla Chiericat t i, Luciano Em erich, Lúcia Maria Bat ist a, Oscar Palm a Lim a, e as queridas com panheiras de área: Crist ia Miranda, Crist ina Olim pio, Maria Eugênia, Maria de Lourdes Ram alho Regina Velasquez e Vanderléia.

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Aos m eus am igos de fé, irm ãos e cam aradas, Luciana Arruda, Hérica e Karina Abreu, Aziz Pedrosa, Cam ila de Paula, Pat rícia Viza, Marcelo Ribeiro, Thiago Rangel, Caet ano Silva que est ando pert o ou longe sem pre m e aj udam na superação das dificuldades e com em oram com igo m inhas vit órias.

A m inha am ada fam ília Lim a, à v ov ó Olívia ( in m em orian) , à t ia I sânia e ao t io I sam ar pelo apoio, carinho, e por com preenderem m inhas t ant as ausências.

Aos m eus queridos sogros Masak o e Kat suy oshi San, cunhados Suzuk a, Ak em i e Kadu, fam ília do m eu coração – arigat ô gozaim assu!

E, acim a de t udo, ao m eu sust ent áculo: m eus pais I zaac e Dalv a; e a m inha irm ã querida, Sabrina. Todá rabá!

Agradeço t am bém à Karina Abreu pela form at ação das grades e flux ogram as, à Renat a Aiala de Mello pela t radução do resum o do port uguês para o francês e ao Jonat as Aparecido Guim arães pela revisão final.

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RESU M O

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RÉSU M É

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LI STA D E I LUSTRAÇÕES

FI GURA 1 – Get úlio Vargas para Crianças...37

FI GURA 2 – Encenação 1 do at o linguageiro da Biografia Get úlio Vargas para crianças ... 38

FI GURA 3 – Diagram a dos papéis act anciais ... 59

FI GURA 4 – Capa e int rodução da biografia Get úlio Vargas para crianças ... 73

FI GURA 5 – Esquem a propost o por Mendes ( 2011) ... 80

FI GURA 6 – I lust ração da biografia Get úlio Vargas para crianças ... 88

FI GURA 7 – Diagram a da propost a de análise ... 96

QUADRO 1 – Modos de organização do discurso ... 51

QUADRO 2 – Correspondências ent re m odo de discurso e gêneros textuais ... 53

QUADRO 3 – Descrição do corpus... 90

QUADRO 4 – Relação das funções desem penhadas por Get úlio Vargas ... 155

GRADE 1 – Procedim ent o linguíst ico para Nom ear ... 97

GRADE 2 – Procedim ent o linguíst ico para Localizar- sit uar ... 98

GRADE 3 – Procedim ent o linguíst ico para Qualificar ... 98

GRADE 4 – Ocorrências de Papéis act anciais do prot agonist a Get úlio Vargas em cada capít ulo de sua biografia ... 99

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GRADE 6 – Localização Tem poral das hist órias analisados ... 100 GRADE 7 – Sínt ese das ocorrências de papéis act anciais pelos principais personagens de cada hist ória... 138 GRADE 8 – Sínt ese da localização espacial da biografia ... 145 GRADE 9 – Sínt ese da localização espacial dos capít ulos analisados. 146

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LI STA D E ABREVI ATURAS

AD – Análise do Discurso

EUc – EUcom unicant e – suj eit o com unicant e EUe – Euenunciador – suj eit o enunciador TUd – TUdest inat ário – suj eit o dest inat ário TUi – TUint erpret ant e – suj eit o int erpret ant e GV – Get úlio Vargas

FGV – Fundação Get úlio Vargas

CPDOC – Cent ro de Pesquisa e Docum ent ação de Hist ória Cont em porânea do Brasil

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SU M ÁRI O

I NTRODUÇÃO ... 16

1. A TEORI A SEMI OLI NGUÍ STI CA E O ESTUDO DA BI OGRAFI A... 29

1.1 A Teoria Sem iolinguíst ica ... 30

1.1.1 O Quadro Enunciat iv o e os Suj eit os da Com unicação ... 33

1.1.2 O cont rat o de Com unicação ... 44

1.1.3 Princípios de organização do discurso... 45

1.1.3.1 O at o de com unicação ... 45

1.1.3.2 Os com ponent es da Sit uação de com unicação ... 46

1.1.4 Os m odos de organização do discurso ... 49

1.1.5 Tex t o e gênero... 52

1.2 Os Modos de organização narrat iv o e descrit iv o ... 56

1.2.1 O Modo narrat iv o ... 56

1.2.2 O Modo descrit iv o... 62

1.3 A organização discursiv a na biografia ... 64

1.4 Alguns pont os de vist a acerca do conceit o de ident idade ... 67

1.4.1 Os com ponent es da ident idade... 73

1.5 As ident idades social e discursiv a... 75

1.5.1 A ident idade social... 75

1.5.2 A ident idade discursiv a ... 77

1.5.3 Et hos, um a est rat égia do discurso polít ico ... 81

2. PROCEDI MENTOS METODOLÓGI COS... 87

2.1 Colet a e descrição do corpus ... 87

2.2 Procedim ent os e inst rum ent os de análise ... 93

3. CATEGORI AS DO DI SCURSO E I MAGENS DE SI NA BI OGRAFI A GETÚLI O VARGAS PARA CRI ANÇAS ... 104

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3.2 O Modo de Organização Narrat iv o ... 138

3.3 A dim ensão argum ent at iv a... 150

3.4 Os et hé de Get úlio Vargas... 153

3.4.1 Et hé de credibilidade ... 155

3.4.2 Et hé de ident ificação... 162

4. Considerações Finais... 168

REFERÊNCI AS ... 176

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I N TROD U ÇÃO

Não nos enganem os: a im agem que fazem os de out r os povos, e de nós m esm os, est á associada à Hist or ia que nos ensinar am quando ér am os cr ianças. Ela nos m ar ca para o r est o da vida. ( Mar c Fer r o)

Durant e dez anos, m inist rei aulas para crianças da Educação I nfant il e do Ensino Fundam ent al I t ant o em inst it uições públicas quant o em inst it uições part iculares. Nesse período, pude observ ar que os m at eriais didát icos específicos de Hist ória, em sua m aioria, não apenas ensinav am o cont eúdo de Hist ória, propriam ent e dit o, m as, t am bém , im plicit am ent e, procurav am incut ir nas m ent es desse público, v alores e com port am ent os de cidadania desej ados pela sociedade at ual, “ m oldando” as crianças sem ensiná- las a v erdadeiram ent e t er um a posição crít ica e reflexiv a a respeit o dos fat os.

Essa quest ão era m uit o curiosa para m im , pois os cont eúdos que est av am nos liv ros dos alunos não eram condizent es com o discurso dos aut ores nos cursos m inist rados, o que era possív el observ ar nos prefácios e m anuais dest inados aos professores. Exist ia, a m eu v er, um a dissint onia ent re um a coisa e out ra, pois os aut ores sem pre se apresent av am com o crít icos e quest ionadores, m as suas obras, ao cont rário, pareciam - m e conserv adoras e posit ivist as.

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at ent av a para essa quest ão. Muit os recebiam de form a “ inocent e” os dizeres dos aut ores, e não faziam um a cont raposição com o m at erial que era t rabalhado nas aulas de Hist ória, cot idianam ent e. Cont ribuindo com m inha brev e ex periência, as leit uras de Eco e Bonazzi ( 1980. p.15) esclareceram esse fat o:

Fazer o pr ocesso cont r a o livr o de leit ur a im plica num esfor ço de alheam ent o: é pr eciso que leiam os e r eleiam os um a página na qual est ão difundidas ideias que cost um am os considerar “ norm ais” e “ boas” e que nos per gunt em os a nós m esm os: “ Mas será m esm o assim ?” De t al for m a, est am os condicionados pelos nossos ant igos livr os de leit ur a, que ler os novos significa t er a capacidade e a cor agem de dizer : “ o r ei est á nu” .

Após esses anos, fui convidada para lecionar em nív el univ ersit ário e foi nest e período que t om ei conhecim ent o da exist ência da biografia Get úlio Vargas para crianças. Rapidam ent e, com ecei um a busca por t al m at erial, que apenas encont rei no CPDOC/ FGV1 do Rio de Janeiro. Gost aríam os de abrir aqui um parênt ese sobre nossa dificuldade em t rabalhar com m at erial de arquiv o no Brasil. Parece- nos que a Fundação Get úlio Vargas não est aria m uit o dispost a a fornecer o m at erial por nós requisit ado. Para com eçar, não é possível t er acesso ao original, m esm o sendo pesquisador. O m at erial solicit ado, além de ser pago, não t inha qualidade, as páginas est av am encadernadas de form a desordenada e o núm ero de algum as páginas foi cort ado devido a fot ocópias m alfeit as, o que j ulgam os ser um desrespeit o ao pesquisador e t am bém ao consum idor. Além disso, o cust o por um a cópia escaneada é alt o e não

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há garant ia de qualidade. Gost aríam os de deix ar regist rada aqui essa nossa dificuldade, pois acredit am os que a pesquisa sobre docum ent os brasileiros e, por consequência, sobre assunt os nacionais, dev eria ser incent iv ada com acerv o disponív el on- line e liv re acesso para os pesquisadores que v enham a se int eressar, a ex em plo de t ant as out ras fundações e acerv os nacionais encont rados na Europa e países da Am érica do Nort e. Com isso, percebem os a precariedade de pesquisa em acerv os em nosso país e esperam os que nosso t rabalho possa lançar algum a luz para est e problem a no sent ido de m ost rar a im port ância dest e t ipo de pesquisa. Fecham os nosso parênt ese.

Quando t iv e acesso à biografia ( publicada em form a de m at erial escolar) , em um prim eiro m om ent o, ela aparent ou ser apenas um a hist ória de vida, com a visada de fazer- saber a vida de Get úlio Vargas, o President e da época. Ent ret ant o, a part ir de um a leit ura m ais crit eriosa, percebi, m esm o que int uit iv am ent e, que o discurso polít ico- est adonovist a perm eav a o t ext o. A visada era de inst rução, m as a dim ensão parecia ser argum ent at iv a da ordem do fazer- crer e fazer- fazer2. O suport e m at erial escolar parecia ser um pressupost o para sua ent rada nas escolas, e o gênero biográfico um a oport unidade de apologia. Const at ei, ent ão, que est a poderia ser um a pesquisa a ser em preendida e que, ainda, iria ao encont ro de ant igas preocupações m inhas.

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As escolas durant e o Gov erno Vargas foram escolhidas com o espaços vit ais para a ex ecução do proj et o nacionalist a3 por m eio de um m odelo de infância e j uv ent ude que proj et aria, para o fut uro, o t rabalhador e pat riot a dev ot ado desej ado pelo Est ado. Para t ant o, as prov idências form at iv as visaram à reorient ação de t odos os aspect os didát icos e pedagógicos desde a gest ão at é a efet iv ação de um currículo adequado às propost as do Gov erno Get úlio. Com o afirm ou Bom eny ( 2003, p. 139) :

Em sent ido especial, a educação t alvez sej a um a das t r adições m ais fiéis daquilo que o Est ado Novo pr et endeu para o Br asil, form ar um hom em novo par a o Est ado Novo, confor m ar m ent alidades e cr iar o sent im ent o de br asilidade, for t alecer a ident idade do t r abalhador, ou por out r a, forj ar um a ident idade posit iva no t r abalhador br asileir o.

Diant e disso, pareceu- nos que esse m at erial, que circulou nas escolas brasileiras em 1940, era represent at iv o dos v alores est adonovist as, que procurav am form ar cidadãos súdit os, leit ores acrít icos, m em bros da m aioria silenciosa e “ im it adores” de Get úlio Vargas. ( ECO e BONAZZI , 1980) .

A biografia Get úlio Vargas para crianças foi escrit a por um biógrafo cham ado Alfredo Barroso. Ressalt am os que não encont ram os em nossas pesquisas nenhum a out ra m enção feit a ao seu nom e em m at eriais que circularam na m esm a época da biografia. Sendo assim , não sabem os se t al escrit or era um hist oriador ou não. Com o dissem os acim a, t al m at erial parecia servir de m anual para as crianças daquela época, que

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dev eriam , incondicionalm ent e, obedecer ao m odelo de cidadão propost o pelo e para o Est ado Nov o.

Est e m at erial foi confeccionado em um a encadernação pequena e possui, além do t ext o escrit o, v árias ilust rações que são dist ribuídas ao longo de t oda a biografia. Est a t em ao t odo 112 páginas dest inadas a cont ar a vida de Get úlio, das pessoas que o influenciaram , seus feit os, com port am ent os e sua t raj et ória at é a chegada ao poder.

O t ex t o biográfico é narrado por Alfredo Barroso, que nos cont a a hist ória em t erceira pessoa, assum indo um a posição de observ ador e oniscient e. É int eressant e o fat o de que a int rodução dest e m at erial ( um parat ex t o) , t am bém dest inado às crianças, inclusiv e pela m arca do v ocat iv o “ crianças! ” , é assinada pelo próprio Get úlio Vargas, passando para nós, leit ores, a im pressão de que ele m esm o escrev eu e de que v alidav a sua biografia. Esse t ex t o escrit o por Get úlio Vargas, um a espécie de bilhet e, concede credibilidade ao escrit o de Alfredo Barroso.

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a biografia foi inserida no suport e paradidát ico e circulou dent ro de escolas brasileiras em 1940, auge do Est ado Nov o; e vi) o discurso da biografia é perm eado por t rês dom ínios, a saber: o hist órico, o educacional e o polít ico.

Out ro fat or relev ant e é a dist ância t em poral que t em os em relação à época em que a biografia circulou, com ponent e que cont ribuiu, acredit am os, para que pudéssem os fazer um a análise m enos “ assuj eit ada” às influências do período. Um out ro det alhe im port ant e, em relação ao dist anciam ent o t em poral, é o da possibilidade de cruzarm os os dados que const am na biografia com os dados hist óricos oriundos de pesquisas at uais. À época em que o m at erial circulou, com o dissem os, havia um a dit adura. Logo, um a grande regulação e cont role da inform ação pelo Est ado era im post a, fazendo com que a versão Est at al fosse a única “ verdade” , o que não significa que isso se desse efet iv am ent e. Ao cont rário, hoj e, viv em os em um a dem ocracia, em que há, com o pressupost o do Est ado Dem ocrát ico de Direit o, o pluralism o de ideias e a liberdade de ex pressão4. Há t am bém liberdade de pesquisa e, com isso, é possív el encont rar nov as v ersões da hist ória v arguist a.

Diant e do que foi colocado, surgiu a seguint e hipót ese: o v erdadeiro obj et iv o da biografia não seria apenas apresent ar a vida do est adist a para as crianças, m as sim os v alores que eram desej ados para o Est ado Nov o. Assim , ao cont ar a hist ória de Get úlio, o seu dia a dia, seus pensam ent os, suas at it udes, seus êxit os, por m eio de um a escolha

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lexical crit eriosa, que ex alt av a Vargas, o biógrafo t ent aria despert ar nas crianças o desej o de serem com o o seu líder e, consequent em ent e, desenv olver um a ident idade est adonovist a5/ nacionalist a. Dessa form a, por m eio de um paradidát ico que visav a, aparent em ent e, inform ar as crianças sobre a vida de seu president e e seus feit os gloriosos, a int enção do Est ado seria m anifest ada im plicit am ent e.

A part ir dessa hipót ese, buscam os responder às seguint es quest ões: i) por que a biografia de Get úlio Vargas para crianças foi inserida em um paradidát ico?; ii) na condição de paradidát ico, qual o possív el efeit o social prov ocado pelo uso da biografia de Get úlio Vargas? iii) a biografia foi colocada em circulação com um a finalidade didát ico- educat iv a ou polít ica?; iv ) qual a int enção da escolha por um gênero biográfico e não aut obiográfico? Considerando est a escolha, quem se “ com unica” com quem por int erm édio desse discurso: o biógrafo com os seus leit ores? Get úlio Vargas com o seu pov o? Os professores com os seus alunos? v) a m aneira com o o discurso foi organizado pelo escrit or cont ribui com a sua int encionalidade?

Para nos aj udar a responder t ais quest ões, est abelecem os alguns obj et iv os específicos:

 Com preender o cont ex t o sócio- hist órico em que a biografia est av a inserida.

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 I dent ificar o suj eit o com unicant e e o suj eit o enunciador e suas int encionalidades.

 Analisar as est rat égias discursiv as do suj eit o com unicant e e do suj eit o enunciador para obt er a adesão de seu dest inat ário.

 Ex plicar a diferença ent re biografia e aut obiografia, e com o esse gênero pode ser “ um oport unist a” .

 Most rar que os m odos de organização do discurso cont ribuem para a const rução dos et hé posit iv os de Vargas, logo, com a finalidade discursiv a do biógrafo.

Esclarecer que apesar de o nosso corpus t er, em um prim eiro m om ent o, um a visada inform at iv a, ele é perm eado por um a dim ensão argum ent at iv a.

A part ir desse pont o, direcionam o- nos para a escolha do nosso quadro t eórico- m et odológico. Para alcançar nosso obj et iv o, será necessário, prim eiram ent e, est abelecer a int erface ent re a Hist ória e a Análise do Discurso. A Hist ória t erá com o função nos aj udar a t ent ar ent ender a ideologia que perpassa o nosso m at erial de análise, sendo que é im port ant e o ent endim ent o do cont ex t o hist órico em que ele circulou, quais eram os seus possív eis leit ores e qual o obj et iv o de sua elaboração. Já a AD apresent a ferram ent as t eórico- m et odológicas que nos aj udarão a analisar as est rat égias usadas no referido corpus.

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( 1985) ; Lenharo ( 1986) , Koshiba e Pereira ( 1996) ; Rose ( 2001) ; Bat ist a, Galv ão e Klinde ( 2002) ; e Capelat o ( 1998) .

Em relação à Análise do Discurso ( AD) , dent re as t eorias oferecidas, darem os ênfase à Sem iolinguíst ica; ao Modo de organização do discurso descrit iv o e narrat iv o – Charaudeau ( 2008) ; à quest ão do est at ut o do gênero narrat iv o ( ficcional e fact ual) – Mendes ( 2004) ; aos est udos sobre a ident idade, seu desdobram ent o sobre a quest ão do et hos propost os por Charaudeau ( 2009) . Proporem os, t am bém , um diálogo acerca da dim ensão argum ent at iv a evidenciada em nosso m at erial de análise, buscando, para t ant o, cont ribuições de Am ossy ( 2006) , Perelm an & Olbrecht s- Ty t eca ( 2005) e Menezes ( 2006) .

Para a Teoria Sem iolinguíst ica de Charaudeau, à qual nos filiam os, a linguagem é com preendida com o algo indissociáv el de seu cont ext o sócio- hist órico. Esse posicionam ent o t eórico será responsáv el por nos aj udar a com preender: as inst âncias de produção do discurso; os parceiros da t roca linguageira e seus est at ut os; a finalidade do at o com unicat iv o; e as circunst âncias m at eriais nas quais se realiza o at o linguageiro.

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o enunciador ut iliza ao apresent ar t erceiros – o que t om arem os com o o et hos de out rem ( GALI NARI , 2009) .

No que diz respeit o à quest ão da ident idade, com preendem os que será necessária a colocação de alguns pont os de vist a acerca desse conceit o. Para est abelecer um diálogo sobre esse t em a escolherem os t eóricos com o Foucault ( 1972) , Gee ( 1990) , Moit a- Lopes ( 1998) , Orlandi ( 2001) , Hall ( 2003) e Charaudeau ( 2009) . Part ilharem os com esses t eóricos da noção de que a ident idade do suj eit o é const ruída por m eio de um a alt eridade6 e, m ais precisam ent e, nos filiarem os às cont ribuições de Charaudeau, pois, para nós, analist as do discurso, o suj eit o é um híbrido de suas ident idades sociais e discursiv as.

Finalm ent e, com o int uit o de encont rarm os os et hé evidenciados na biografia, aplicarem os em nosso corpus as cat egorias relat iv as ao m odo de organização do discurso narrat iv o e descrit iv o, pois são predom inant es em nosso m at erial de análise. Para que t ais result ados sej am m ais operacionais e evident es, farem os o uso de grades de análise.

Nest e capít ulo int rodut ório procuram os apresent ar, resum idam ent e, os principais aspect os que desenv olverem os nest a dissert ação. Apont am os nossas m ot iv ações e j ust ificat iv as pela escolha do corpus, indicam os nossa hipót ese de pesquisa, os quest ionam ent os que se originaram a part ir dela, e quais são os nossos obj et iv os. Procuram os t am bém

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especificar qual será a nossa fundam ent ação t eórica e a m et odologia ut ilizada para a realização de nossas análises.

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1 . A TEORI A SEM I O LI N GU Í STI CA E O ESTU D O D A BI OGRAFI A

Nenhum sist em a polít ico é m udo. Um poder que não fala pelo décor , pela m ise en scène, pelas m edalhas et c., perder ia a adesão do gr upo.

( Dom inique Pélassy)

Nosso obj et iv o, com o colocado na int rodução dest e t rabalho, é m ost rar com o Get úlio Vargas t ent ou m anipular o im aginário dos cidadãos brasileiros apresent ando- se com o um líder ideal que aj udaria o pov o brasileiro a const ruir um a ident idade nacional frent e ao m undo.

Est a t ent at iv a de m anipulação acont eceu por m eio de m uit as t át icas, ent re elas a superex posição da im agem de Get úlio e a elaboração de m at eriais que ex alt av am o seu gov erno. Conform e Capelat o ( 1998) , dent re est as t át icas est ão as suas fot ografias, que eram obrigat oriam ent e afix adas em t odas as escolas, fábricas, repart ições públicas, bares e rest aurant es, v agões de t rens. Sua efígie est av a nas m oedas, selos, placas com em orat iv as e de inauguração. Canções enalt eciam o seu gov erno, dent re os m úsicos, At aulfo Alv es e Heit or Villa- Lobos7. Seu nom e foi at ribuído a inúm eras ruas e logradouros públicos. A im agem de Get úlio im pregnav a t odos os lugares e am bient es durant e t odo o t em po e de div ersas form as.

Foi durant e a dit adura de Get úlio Vargas que m ais se produziram liv ros com o obj et iv o específico de apoiar o seu gov erno. Garcia ( 1999) ex plica

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que cent enas de obras elogiosas ao regim e e enalt ecedoras da personalidade de Vargas foram escrit as, em linguagem sim ples e acessív el, para que fossem lidas pelo m aior núm ero possív el de pessoas. Dos m at eriais publicados na época do Est ado Nov o, selecionam os, para fins de pesquisa e por um a quest ão m et odológica, um a de suas biografias: Get úlio Vargas para crianças. Nesse t ext o – discurso m at erializado – apont arem os algum as est rat égias de escrit a que obj et iv av am capt ação e adesão do leit or às aspirações polít ico-econôm ico- ideológicas do Est ado Nov o, período que cent ralizou norm as e prát icas e const ruiu t radições em t orno de um ideário nacionalist a, para a form ação do hom em civilizado rum o ao t rabalho pela pát ria.

1 . 1 A Te or ia Se m io lin g u íst ica

A Teoria Sem iolinguíst ica de Charaudeau é apropriada aos obj et ivos dest a pesquisa, por sua com preensão acerca da linguagem . Resum idam ent e, podem os dizer que a linguagem ( obj et o de est udo) , para est a v ert ent e t eórica, é com preendida com o algo indissociável de seu cont ex t o sócio-hist órico, no qual ganha vida para sat isfazer cert as int enções provenient es dos suj eit os em int eração. Esse posicionam ent o t eórico é responsáv el por det ect ar a m aneira pela qual as form as da língua são organizadas de m odo a ent ender det erm inados processos, procedent es das circunst âncias part iculares em que se realizam os discursos.

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pressupost o de que t oda sit uação de com unicação det erm ina um uso est rat égico da língua, apropriado às suas especificidades e gerado pelas int enções com unicat iv as dos suj eit os env olvidos nessa int eração.

Para a Sem iolinguíst ica o at o de com unicação é análogo a um a encenação ( m ise en scène) , com o esclarece Machado ( 2001, p. 51) .

[ ...] assim com o o dir et or de um a peça t eat r al usa os espaços cênicos, a decoração, a luz, os efeit os sonoros, os at or es, um det er m inado t ext o – para pr oduzir efeit os d e sent ido em um público – assim o locut or , quer endo com unicar, sej a pela fala, sej a por escr it o, sej a por gest os, desenhos – usará os com ponent es do disposit ivo de com unicação, em função dos efeit os que v isa pr ovocar em seu int er locut or .

A part ir desses princípios colocados, com preendem os que a Teoria Sem iolinguística apresent a- nos um m odo próprio para o est udo do discurso. Para Charaudeau ( 2001) , o discurso deve ser com preendido com o part e int egrant e de um processo bem am plo, relacionado à encenação do at o de linguagem . Tal encenação com preende um dispositivo que cont ém dois circuit os, a saber: um circuit o ext erno, relat ivo ao lugar do fazer psicossocial ( elem ent o sit uacional) ; e um circuit o int erno, no qual se sit ua o lugar da organização do dizer, sede do discurso.

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Cada at o de linguagem , nessa abordagem , com binará duas inst âncias indissociáv eis: i) discursiv a: lugar de encenação, em que est ão sit uados os “ seres da palav ra” ; ii) sit uacional, do fazer, em que est ão localizados os seres em píricos, psicossociais, ou sej a, os suj eit os da ação, capazes de organizar o m undo real em m undo linguageiro ( PROCÓPI O, 2008) . Charaudeau ( 2001, p. 28- 29) ressalt a ainda, m ais duas caract eríst icas desse fenôm eno:

Todo at o de linguagem cor r esponde a um a dada expect at iva de significação. O at o de linguagem pode ser consider ado com o um a int er ação de int encionalidades cuj o m ot or ser ia o pr incípio do j ogo: “ j ogar um lance na expect at iva de ganhar ” . O que nos leva a afir m ar que a encenação do dizer depende de um a at ividade est r at égica – conj unt o de est rat égias discur sivas – que consider a as det er m inações do quadr o sit uacional.

Todo at o de linguagem é o pr odut o da ação de ser es psicossociais que são t est em unhas, m ais ou m enos conscient es, das pr át icas sociais e das r epr esent ações im aginár ias da com unidade a qual per t encem . I sso nos leva a colocar que o at o de linguagem não é t ot alm ent e conscient e e é subsum ido por um cer t o núm er o de r it uais sócio- linguageir os.

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1 .1 . 1 O Qu a d r o En u n cia t iv o e os Su j e it os d a Com u n ica çã o

Ret om ando o que j á foi dit o, o at o de linguagem não é considerado na perspect iv a sem iolinguíst ica com o um sim ples at o de com unicação. Tal at o não é o result ado sim ét rico ent re o em issor e o recept or, t am pouco o result ado de um a única int enção do em issor. Todo at o de linguagem é um a consequência de um j ogo ent re im plícit o e ex plícit o, logo:

( i) vai nascer de cir cunst âncias de discur so específicas; ii) vai se r ealizar no pont o de encont r o dos pr ocessos de pr odução e de int er pr et ação; iii) ser á encenado por duas ent idades, desdobr adas em suj eit o de fala e suj eit o agent e8 ( CHARAUDEAU, 2009b, p. 52) .

Ou sej a, ele é sit uacional, por esse m ot iv o, precisam os considerar o recort e hist órico, os suj eit os env olvidos na produção da biografia de Get úlio Vargas e os supost os leit ores ( inst ância de recepção) .

O at o linguageiro, de acordo com Charaudeau ( 2009a) , em sua t ot alidade, perfaz dois circuit os de produção: o circuit o ex t erno ( nível sit uacional) em que se encont ram duas inst âncias, a de produção do discurso, represent ada pelo suj eit o com unicant e ( EUc) e a de recepção, represent ada pelo suj eit o int erpret ant e ( TUi) . Esses suj eit os são seres reais, hist oricam ent e det erm inados e recebem o nom e de parceiros. Em virt ude de suas funções e int enções, decorrent es de um a dada sit uação de com unicação, esses parceiros realizam , respect iv am ent e, um proj et o de fala e suscit am um a ex pect at iv a de int erpret ação. O nív el sit uacional não é, port ant o, o discurso propriam ent e dit o, m as será det erm inant e

8

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para a sua configuração. Em out ras palav ras, t rat a- se das condições de produção do discurso ( o fazer) .

Já no circuit o int erno ( nív el discursiv o) , est ão localizados os dois seres de fala, denom inados de prot agonist as: suj eit o enunciador ( EUe) e o suj eit o dest inat ário ( TUd) . Eles são o result ado da encenação do dizer realizada pelo EUc, que será int erpret ada pelo TUi. Considerando a sit uação de com unicação, o EUc ut ilizará est rat égias discursiv as apropriadas em relação ao que se dev e, se pret ende e se espera dizer. Para ist o, o EUc proj et ará um EUe, responsáv el pela m at erialização linguíst ica de t ais est rat égias.

O EUe é um a im agem de si ( discursiv a) que o indivíduo ( ser real) const rói por m eio da linguagem . Essa im agem de si ( o et hos9) é reconst ruída cont inuam ent e por cada um dos falant es, ela pode v ariar de acordo com as sit uações de com unicação em que eles se encont ram . Com o ex em plo, podem os dizer que um aluno t erá diferent es ident idades10 discursiv as considerando suas visadas, no int erv alo da escola, nas apresent ações de t rabalho em sala da aula, em um a conv ersa form al com a coordenação de um curso et c. Para cada sit uação, é necessário o uso de um a “ m áscara” linguíst ica, apropriada para aquele

9

Et hos, t er m o em pr est ado da ret órica ant iga, em gr ego ήθος, per sonagem , designa a im agem de si que o locut or const r ói em seu discurso par a ex ercer influência sobre o seu alocut ário. Est a noção foi r et om ada em ciências da linguagem e, pr incipalm ent e, em análise do discur so, em que se refer e às m odalidades v er bais da apr esent ação de si na int er ação v er bal. Discor rer em os sobr e est e t em a em um t ópico à part e.

10

Há um a difer ença ent re et hos e ident idade: et hos é efêm er o e ident idade possui algum a per m anência, que pode ser por m aior ou m enor t em po. A ident idade m ulher é m ais const ant e ( e pode sofrer v ariações) , a ident idade adolescent e j á é m ais efêm er a. Par a est a quest ão v er :

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m om ent o. Em sínt ese, o est at ut o dos prot agonist as pode se t ransform ar de um caso para out ro.

Com base na descrição do quadro com unicacional, feit a por Charaudeau, apresent arem os agora os suj eit os do discurso present es em nosso corpus, a biografia Get úlio Vargas para crianças. É relev ant e dizer que analisarem os m uit os fragm ent os desse corpus durant e o desenv olvim ent o da pesquisa, porém ele pode ser visualizado na ínt egra no anex o ao final dest a dissert ação.

O narrador , em nosso caso um biógrafo, é um elem ent o present e em t oda a narrat iv a, pois é ele quem cont a a hist ória, lançando pist as de sent ido para o leit or. O narrador do nosso corpus é um observ ador que t udo v ê – ou quase t udo – e narra em t erceira pessoa, com o se t iv esse dizendo apenas aquilo que sabe e deix ando o leit or ir const ruindo o seu próprio ent endim ent o. Essa form a narrat iv a, na m aioria dos casos, é um a t endência que se orient a para um a descrição m ais obj et iv a pelo dist anciam ent o que a form a enunciat iv a em t erceira pessoa const rói. Porém , com o observ am os em nosso m at erial de análise, apesar do uso da t erceira pessoa passar a ilusão de obj et ividade, m ant endo a v erossim ilhança da obra, out ras m arcas enunciat iv as ut ilizadas, com o os qualificadores, apont am para a subj et ividade do aut or.

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brasileiro que v os fala” . O uso do t erm o “ nós” é t am bém um a form a de engaj ar o out ro na sua narrat iv a.

A biografia de Get úlio Vargas escrit a por Alfredo Barroso é narrat ivizada por est e biógrafo do início ao fim . I st o significa que é por m eio do que ele “ diz” que os leit ores conhecerão, discursiv am ent e, as personagens da hist ória, principalm ent e, a vida de Get úlio. O escrit or const rói o seu proj et o de escrit a seguindo um a am pla est rut ura que perpassa t odo o t ex t o, desenv olv endo o seu enredo. Ele part e da apresent ação das personagens, sit uando- as no t em po e no espaço, qualificando- as ( por m eio de descrições) para, em seguida, inseri- las num a sequência lógica de ações e env olv ê- las em um plano.

É im port ante observar, com o verem os na análise do corpus, que a escolha de cada personagem , lugar, data, atit ude et c. foi feit a com a int enção de criar um a im agem positiva para Getúlio. Esses fat ores junt os com põem um a rede de influência sobre a vida de GV desde a sua infância at é a chegada ao Poder. Nesse lapso tem poral, obst áculos surgem , confront os são revelados, alianças são feitas e, junt os, t odos cam inham para o desfecho, que naturalm ent e propõe um a m oral para a hist ória – geralm ent e dent ro de um a est rutura arquetípica relacionando o bem e o m al.

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o que será ex post o na biografia, ou sej a, é um argum ent o de aut oridade que vem endossar o que est á ex post o pelo biógrafo. Além disso, o uso da m odalidade alocut iv a ( o v ocat iv o, o uso de " v ós" ) produz um efeit o de aproxim ação ent re Get úlio e as crianças leit oras. A int rodução da biografia pode ser vist a a seguir:

FI GURA 1 – Get úlio Vargas para crianças

Font e: BARROSO, 1942, int r odução da biogr afia – prefácio.

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FI GURA 2 – Encenação 1 do at o linguageiro da Biografia Get úlio Vargas para crianças

Font e: P. Char audeau, 2009b, p. 52. Adapt ado.

No espaço ex t erno, t em os um a inst ância com pósit a: o suj eit o com unicant e ( EUc) , o escrit or Alfredo Barroso, ser social, represent ant e do Est ado e chancelado pelo DI P11, aut or e organizador da obra. Tem os t am bém a figura do Est ado e o próprio DI P, agent e regulador.

Já no espaço int erno, t erem os, est rat egicam ent e, os dizeres do próprio president e, dando assim credibilidade a sua biografia. Nesse m om ent o,

11

Depar t am ent o de I m pr ensa e Pr opaganda ( DI P) – par a gar ant ir o funcionam ent o do nov o r egim e, for am cr iados v ár ios inst r um ent os de cont r ole e r epr essão, dent re eles, o DI P, encar r egado do cont r ole ideológico. Par a t ant o, ex er cia a censur a t ot al dos m eios de com unicação – im pr ensa, r ádio, cinem a e educação – at r av és dos quais, inoculando na sociedade o m edo do “ per igo com unist a” , sust ent av a o clim a de insegur ança que j ust ificav a o nov o r egim e. Além disso, t r abalhav a na pr opaganda do pr esident e, for m ando dele um a im agem sem pr e fav or ável. Com esse fim foi inst it uída a Hor a do Br asil, em issão r adiofônica obr igat ór ia. Nat ur alm ent e, a int oler ância pela div er sificação da inform ação er a a base do nov o r egim e. E qualquer oposição ideológica er a dur am ent e r eprim ida, a ex em plo do confisco do j or nal O Est ado de São Paulo, fundado EUc:

O Est a do/ GV D I P Alf re do Ba rroso

( SER SOCI AL)

TUi/ Interpretante:

seres sociais de existência real (que podem ou não coincidir

com o TUd)

EUe – narrador-observador

(SER DE FALA)

TUd /Destinatário: Crianças Professores Pais Espaço Interno Dizer

Situação de Comunicação

Espaço Externo (Finalidade/ Projeto de Fala)

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há a t ent at iv a de associar sua im agem à de um conselheiro que apont a com port am ent os que as crianças dev em t er para que o Brasil se desenv olv a. Assim sendo, o EUe/ GV, ser da palav ra, será um am igo que fala para as crianças. Essa est rat égia de desdobram ent o é colocada em cena com a finalidade de criar um a im agem de dest inat ário ( TUd) leit or-ideal para o EUc e, indiret am ent e, às suas fam ílias, professores e out ros suj eit os, que, porv ent ura, t iv erem cont at o com t al t ex t o.

Maingueneau12 ( 1987 apud LESSA, 2009, p. 138) nos faz com preender bem essa t át ica, ao dizer que a cit ação é com o um sim ulacro, um a “ t eat ralização de um a enunciação ant erior” . Já Aut hier- Revuz13 ( 1998 apud LESSA, 2009, p. 138) ex plica que, nessa t eat ralização, um det erm inado Locut or14, em um t em po e em um espaço, reconst rói um a out ra cena enunciat iv a, real ou im aginária; est a se t orna present e som ent e at rav és da descrição que o Locut or faz dela na m ensagem que profere. Ainda de acordo com Lessa ( 2009) algum as consequências deriv am desse processo de descrição:

i) a reconst rução que o Locut or faz da out ra cena enunciat iv a será sem pre parcial, subj et iv a, nenhum discurso cit ado pode ser considerado um a rest it uição com plet a e fiel de um out ro at o de enunciação; m esm o quando ocorre repet ição lit eral de um a m ensagem , pois é im port ant e observ ar que é o Locut or quem

12 MAI NGUENEAU, D. Nov as t endências em análise do discurso. Tr ad. Fr eda I ndur sk y. Cam pinas: Pont es, 1987.

13 AUTHI ER- REVUZ, Jacqueline. Palav r as incert as: as não- coincidências do dizer . Tr ad. Cláudia Cast ellanos R. Pfeiffer et al. Cam pinas: Ed. UNI CAMP, 1998.

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escolhe a m aneira de descrever os elem ent os da sit uação ant erior;

ii) nesse processo de recont ext ualização de um a out ra cena enunciat iv a, dev e- se prest ar at enção no sint agm a int rodut or – com ponent e sent encial que abrange as escolhas lexicais dos v erbos de dizer ( dicendi) , a nom eação dos indivíduos ( int erlocut ores da out ra cena) , bem com o a escolha dos elem ent os adv erbiais; ou sej a, esses elem ent os recebem um a axiologização ( posit iv a ou negat iv a) de acordo com a com pet ência ideológica, e os int eresses ret óricos do Locut or.

Com o dissem os, no espaço int erno t erem os o EUe1, Get úlio Vargas, o am igo das crianças. Além dele, t erem os o EUe2, o narrador- observ ador da biografia, indivíduo onipresent e e oniscient e durant e t odo o desenrolar da hist ória. Esse EUe2 é a proj eção do EUc Alfredo Barroso, ser social, dono do proj et o de escrit a.

Escolhem os esse t recho do nosso m at erial de análise para descrev er o funcionam ent o dest e j ogo enunciat iv o:

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Essa narrat iv a escrit a de form a biográfica pelo EUc ( Alfredo Barroso) é narrada em t erceira pessoa, porém é assum ida por um EUe ( narrador-observ ador) . O desdobram ent o pode ser visualizado de form a m ais clara a seguir.

Um EUc: escrit or/ biógrafo – Alfredo Barroso – ser social, é quem colet a os dados para elaborar t al t ex t o, possui um cert o proj et o de escrit a e que, para ex ecut á- lo, organiza o seu at o de linguagem com a finalidade de t ransform á- lo em at o de escrit ura biográfica e dirige- se a um leit or que pressupõe t er conhecim ent o de um dado “ cont rat o” 15. Para com preenderm os esse cont rat o, precisam os considerar a época hist órica ( Est ado Nov o) , o am bient e ( escolar) e quem apresent av a o t ext o para as crianças ( professora, legit im ada pela inst it uição escolar, det ent ora de um saber e de um a função de educar e fazer- saber) et c. “ É esse EUc- escrit or que elabora um j ogo lúdico ent re os cont rat os de ‘confidência’ e de ‘real’ [ ...] , com os quais adorna sua narrat iv a” ( CHARAUDEAU, 2009b, p. 56) .

 Um EUe16: narrador- observ ador – ser de fala, é quem narra a hist ória, apresent a a personagem Get úlio, “ nasceu o m enino Get úlio” ( BARROSO, 1942, p. 8) , filho de um brav o gaúcho-soldado ( BARROSO, 1942, p. 8) . Define acont ecim ent os, “ Get úlio Vargas nasceu, assim , num a t erra de gent e dest em ida e fort e” ( BARROSO, 1942, p. 10) . Descreve lugares, “ nesse m unicípio de belas paisagens e gent e robust a” ( BARROSO, 1942, p. 7) . Enfim ,

15

Esse t erm o é usado pelos analist as do discur so par a m ost r ar com o o at o de linguagem se t or na v álido do pont o de vist a do sent ido. Ele ser á a condição par a que os par ceir os do at o linguageir o se com pr eendam e possam int er agir .

16

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apresent a os elem ent os da narrat iva que t ecem a hist ória biográfica.

É necessário observ ar que os parceiros do at o com unicat iv o, na perspect iv a da sem iolinguíst ica, devem possuir as com pet ências necessárias que aquele ex ercício social de com unicação exigirá deles. Quant o m elhor for o dom ínio do suj eit o sobre essas norm as, est rat égias e com port am ent os, m elhor será realizada a t roca v erbal ent re os suj eit os.

A const rução da biografia é est rut urada a part ir do efeit o produzido por alguns cont rat os, dent re eles o de confidência. Para isso, algum as est rat égias são ut ilizadas, com o ex em plo: nom e da obra Get úlio Vargas para crianças, que apont a para um a aprox im ação ent re o est adist a e as crianças; o bilhet e de abert ura ( um parat ex t o) do paradidát ico ev ocando as crianças, e assinado pelo próprio Vargas e a apresent ação da personagem Get úlio. Tal apresent ação é feit a iniciando- se pela infância do est adist a, buscando criar, um a afinidade e ident ificação com o público infant il dest e m at erial17.

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real e do vivido prov oca um efeit o de real. Ainda sobre est a t em át ica, Charaudeau (1992, p. 760) elucida que:

- L’effet de r éalit é r esult e d’un e conver gence d’indices qu i t endent à const r uir e une vision obj ect ive du m onde, laquelle doit fair e l’obj et d’un consensus social. Cet effet peut êt r e m ar qué par des indices qui r év èlent le t angible de l’un iver s ( ce qui peut se per cevoir ) , l’expér ience ( le par t age du vécu) , le savoir dont le n ar rat eur donne l’illusion qu’il peut êt r e vér ifié ( m onde de la r at ionalit é) , et c. - L’effet de fict ion r épond au désir de se voir vivr e dans une hist oir e qui a un début et un e fin , aut r em ent dit de se voir vivr e dans une unit é du m oi [ ...] . D’où la r aison d’êt r e du hér os qui par t icipe, par définit ion, de cet un iver s fict ionnel. Cet un iver s ne dem ande pas à êt r e nécessair em ent vér ifié par une r at ionalit é sociale. Aussi voit - on pr olifér er les indices qui r envoient soit à un m onde ir r at ionnel de m yst èr e, de m agie, de hasar d, soit à un m onde int ellig ible à l’int ér ieur de cer t ains codes de vr aisem blance qui ne r épr esent ent pas nécessair em ent la r éalit é ( genr e policier , r om anesque, fant ast ique,...)18.

Diant e disso, est rat egicam ent e, o EUe se configura com o um a v oz que poderia ser um am igo próxim o de GV, seria assim , um a t est em unha diret a e viv a de um a realidade pessoal. Tem os aqui um a est rat égia de credibilidade sendo const ruída, " podem acredit ar em m im , sou t est em unho dest a hist ória" .

18

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No próx im o t ópico, ex plicarem os o cont rat o com unicacional que é feit o ent re os suj eit os inseridos no nível sit uacional.

1 .1 . 2 O con t r a t o d e Com u n ica çã o

O cont rat o de com unicação est á relacionado ao nível sit uacional do quadro enunciat iv o. De acordo com Charaudeau ( 1994, p. 9) ,

t oda sit uação de com unicação pr essupõe um conj unt o de dados fixos, os quais det er m inam , ao m esm o t em po, um quadr o de r est r ições discur sivas e um espaço de est r at égias para os par ceir os envolvidos.

Sendo assim , as circunst âncias que det erm inam o cont rat o de com unicação são da ordem sit uacional.

Nesse quadro cont rat ual ( das rest rições discursiv as) , a t roca linguageira é rest ringida por quat ro t ipos de inform ações relacionadas: i) à finalidade do at o com unicat iv o ( o suj eit o com unicant e se posiciona para fazer e dizer o quê?) ; ii) às ident idades dos suj eit os ( quem com unica com quem , quais papéis desem penham , quais est at ut os possuem ?) ; iii) às circunst âncias m at eriais nas quais se realiza o at o linguageiro ( qual o am bient e, os recursos, qual canal de t ransm issão?) e iv ) o propósit o ( v er dicionário de AD) . O quadro cont rat ual, com o pode ser vist o, rest ringirá a liberdade dos suj eit os falant es em relação aos seus discursos.

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1 . 1 . 3 Pr in cíp ios d e or g a n iz a çã o d o d iscu r so

1 .1 .3 .1 O a t o de com u n ica çã o

Com o vim os ant eriorm ent e, o at o de com unicação é um disposit iv o que t em em seu cent ro o suj eit o falant e EU ( produção) int eragindo com o seu parceiro TU ( recepção) . Os out ros com ponent es desse disposit iv o, de acordo com Charaudeau ( 2009b) são:

a Sit uação de com unicação19: espaço ex t erno ao at o de linguagem , o am bient e físico e social, no qual est ão inseridos os parceiros da t roca linguageira. Esses parceiros são det ent ores de um a ident idade ( psicossocial) e são conect ados por um cont rat o de com unicação;

os Modos de organização do discur so ( MOD) : princípios de organização da m at éria linguíst ica – feix e de regularidades – que dependem da finalidade, da int enção com unicat iv a do suj eit o falant e: enunciar, descrev er, cont ar e/ ou argum ent ar. “ São as condições de const rução do discurso que o suj eit o falant e disporia para organizar sua int enção discursiv a, e não com o esquem at ização do t ex t o” ( CHARAUDEAU, 2004, p. 17) ;

o Tex t o, sej a ele escrit o ou falado: definido com o a m at erialização do at o de com unicação, ele result a de escolhas conscient es ou não, do suj eit o falant e. Est e suj eit o faz suas escolhas dent re os Modos

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de organização do discurso, as cat egorias da Língua, em função das rest rições est abelecidas pela Sit uação de com unicação;

a Língua: m at erial v erbal est rut urado em cat egorias linguíst icas, que possui, concom it ant em ent e, um a form a e sent ido.

Diant e disso, percebem os que a com unicação é um acont ecim ent o com plex o e não consist e sim plesm ent e em t ransm it ir um a m era inform ação. “ Os processos de concepção e de com preensão est ão int rinsecam ent e ligados aos processos de produção da linguagem ” . ( CHARAUDEAU, 2009b, p. 68) . A com unicação é com o um a m ise en scène, assim com o um produt or de t eat ro faz com sua peça. Para que o público capt e os efeit os de sent ido necessários para a com preensão do t ex t o cênico, ele escolherá as m elhores est rat égias possív eis com o o espaço do palco, a luz, o som , os cenários, o discurso, os at ores et c.

1 .1 .3 .2 Os com pon e n t e s da Sit u a çã o de com u n ica çã o

A sit uação de com unicação const it ui um espaço de t roca no qual t odo suj eit o falant e ocupa o seu cent ro e se coloca em relação a um parceiro. Essa relação se definirá de acordo com as seguint es caract eríst icas propost as por Charaudeau ( 2009b) que serão ilust radas com base em nosso corpus:

a) Caract eríst icas físicas: * Os parceiros

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- São m uit os e t êm um papel fundam ent al para o funcionam ent o e obj et iv o do t ext o.

* O canal de t ransm issão:

- Nosso corpus é um canal gráfico, im presso.

- Pode ser considerado um canal indiret o, pois ele é t ransm it ido por m eio da escola, de um professor et c.

- O código sem iológico ut ilizado são as ilust rações que aj udam as crianças a com preender a hist ória e as est im ulam a t er int eresse por ela.

b) caract eríst icas ident it árias dos parceiros: - sociais: idade, sex o, raça, classe et c.

Os dois EUc: Get úlio Vargas e Alfredo Barroso são hom ens, adult os e pert encent es a classe dom inant e/ elit e, por ex em plo. Os dest inat ários diret os: t odas as crianças, que de algum a m aneira aj udariam na m anut enção da ident idade nacional. I ndiret am ent e, t em os os pais das crianças, os professores et c., que, inevit av elm ent e, t eriam cont at o com a biografia, pois os t ut ores das crianças, de um m odo geral, fiscalizam o que elas leem .

- socioprofissionais: Get úlio Vargas: president e; Alfredo Barroso: escrit or; as crianças, possív eis est udant es.

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cont er os agit adores, em nom e do bem - est ar da nação. Falarem os acerca deles post eriorm ent e.

- relacionais: em relação ao EUc GV, podem os dizer que o TUd o reconhece, pois ele é o president e do Brasil; no que t ange à figura de Alfredo Barroso, não há indício de reconhecim ent o pelo TUd, m as podem os inferir que ele possui credibilidade, pois foi escolhido e chancelado pelo DI P para escrever a biografia de Get úlio.

c) caract eríst icas cont rat uais:

- t roca/ não t roca: o cont rat o est abelecido por nosso m at erial de análise não perm it e um a t roca dialogal ( com o em um a ex posição de um conferencist a) , pois nem GV nem AB est ão present es no at o da enunciação, ou sej a, no m om ent o em que os leit ores leem o t ex t o. - os rit uais de abordagem : const it uem as rest rições, obrigações ou sim plesm ent e condições de est abelecim ent o de cont at o com o int erlocut or. Com o ex em plo, em um bat e- papo em que as pessoas se saúdam , as m anifest ações de polidez et c. Em nosso corpus pode- se v erificar em algum as part es, com o na int rodução, por ex em plo, em que Get úlio escrev e um a cart a às crianças ev ocando- as de m aneira calorosa e despedindo- se.

- os papéis com unicat iv os: são os papéis que os parceiros linguíst icos dev em assum ir de acordo com o cont rat o que os une.

(49)

um a dada sit uação, porém eles podem ou não ser ex ecut ados pelos suj eit os.

Com o vim os, em um a t roca linguageira o est at ut o dos parceiros é fundam ent al. Além disso, precisam os considerar t am bém , o m odo com o o discurso proferido pelo enunciador será organizado a fim de at ingir o seu obj et iv o com unicat iv o. Dessa m aneira, t al discurso poderá ser enunciat iv o, descrit iv o, narrat iv o ou argum ent at iv o, conform e v erem os no próx im o t ópico.

1 . 1 .4 Os m od o s d e or g a n iz a çã o d o d iscu r so

Para Charaudeau ( 2009b, p. 68) ,

os m odos de or ganização do discurso const it uem os pr incípios de organização da m at ér ia linguíst ica, pr incípios que dependem da finalidade com unicat iva do suj eit o falant e: enunciar , descr ever , narr ar e ar gum ent ar .

Esses m odos são escolhidos na t ent at iv a de sat isfazer as condições de sucesso im post as pela sit uação com unicat iv a. Para t ant o, o suj eit o dev e considerar as lim it ações que lhe são apresent adas pelo quadro físico e m ent al no qual se encont ra, dent re elas: a ident idade dos parceiros, as condições m at eriais em t orno das quais a sit uação se est rut ura, o propósit o t em át ico e a finalidade de t roca.

(50)

dependendo do espaço de m anobras que possui dent ro da t roca. Na v erdade, cada um desses m odos propõe, à sua m aneira, a sua organização do m undo referencial, de form a que um a m ise en scène original dê lugar a um a m ise en descript ion, m ise en narrat ion ou, ainda, a um a m ise en argum ent at ion. Para com preenderm os esses quat ro m odos, precisam os prim eiram ent e analisar a função de base que cada um desem penha.

Ainda de acordo com Charaudeau ( 2009b) , o m odo de organização será enunciat iv o se a relação ent re os int erlocut ores est iv er em foco. Será descrit iv o se t iv er com o obj et iv o a qualificação e ident ificação de um part icipant e do processo de com unicação. Será narrat iv o se o processo t em poral for o dest aque e, por fim , argum ent at iv o quando as relações de causa e efeit o forem ressalt adas. É necessário dizer ainda que o m odo de organização enunciat iv o perpassa t odos os out ros m odos, ou sej a, pode- se dizer que narrar, descrev er e argum ent ar são est rut urados pelo m odo enunciat iv o.

(51)

Quadro 1 – Modos de organização do discurso

MODOS DE ORGANI ZAÇÃO FUNÇÃO DE BASE PRI NCÍ PI O DE ORGANI ZAÇÃO

ENUNCI ATI VO Re la ção de in f lu ên cia

( EU > TU)

Pon t o de vist a do su j e it o

( EU > ELE)

Re t om a da do que f oi dit o

( ELE)

 Posiçã o em r elação ao int erlocut or

 Posiçã o em r elação ao m undo

 Posiçã o em r elação a

ou t r os discu rsos

DESCRI TI VO I de n t if icar e qu a lif icar

Ser es da m aneir a Obj et iv a/ subj et iv a

 Or ga n iz açã o da

con st r uçã o de scr it iva

( nom ear – localizar – qualificar )

 En ce n açã o de scr it iva

NARRATI VO Con st r u ir a su ce ssão da s a ções de um a hist ória

no t em po, com a finalidade de fazer um relat o.

 Or ga n iz açã o da

lógica n a r r a t iva

( act ant es e pr ocessos)  En ce n açã o n ar r a t iva

ARGUMENTATI VO Ex por e prova r

ca su a lida de s num a

v isada r acionalizant e par a influenciar o int erlocut or .

 Or ga n iz açã o da

lógica a r gu m e n t a t iva

 En ce n açã o

a r gu m e n t a t iva

Font e: CHARAUDEAU, 2009b, p. 75.

Em sínt ese, o discurso pode ser organizado de m odo enunciat iv o, descrit iv o, narrat iv o e argum ent at iv o, com o m ost ram os ant eriorm ent e. Os gêneros t ext uais t ant o podem ser perpassados/ com post os por um dos m odos de discurso que const it ui sua organização dom inant e ou result ar da com binação de v ários desses m odos.

(52)

1 . 1 . 5 Te x t o e g ê n e r o

O t ex t o é a m at erialização, sej a v erbal e/ ou sem iót ica: oral, gráfica, gest ual, icônica et c., da encenação de um at o de com unicação, em um a dada sit uação, para at ender a um proj et o de fala de um det erm inado locut or. Koch e Trav aglia ( 1990) ex plicam que o t ex t o é com preendido com o um a unidade linguíst ica concret a, que é ut ilizada pelos suj eit os da língua, em um a sit uação de int eração com unicacional específica, com o um a unidade de sent ido e com o preenchendo um a função com unicat iv a reconhecív el e reconhecida, independent em ent e da sua ext ensão. É im port ant e dest acar que, com o ex plica Charaudeau ( 2009b, p. 159) , “ um t ex t o é o result ado de um a com binação de m últ iplos fat ores de nat urezas div ersas que se sit uam além dos sist em as da língua” . Dessa form a, precisam os considerar a sit uação de com unicação em que t al discurso est á inserido, os parceiros de t al t roca discursiv a, a finalidades env olvidas, et c.

Ainda conform e Charaudeau ( 2009, p. 77) ,“ com o as finalidades das sit uações de com unicação e dos proj et os de fala são com piláv eis, os Tex t os que lhes correspondem apresent am regularidades que perm it em classificá- las em Gêneros de discurso” . Est es gêneros discursiv os são sit uacionais e podem t er um a organização sej a predom inant em ent e narrat iv a, descrit iv a ou argum ent at iv a, sej a m ist a, com o é frequent e no caso do descrit iv o e do narrat iv o.

(53)

principalm ent e, por sua finalidade pedagógica. Seus m odos de discurso dom inant es são os narrat iv os e os descrit iv os, correspondendo ao que é ex post o adiant e ( Quadro 2) .

Quadro 2 – Correspondências ent re m odo de discurso e gêneros t ex t uais GÊN EROS M OD OS D E DI SCURSO

D OM I N AN TES

OUTROS M ODOS DE D I SCURSO Pu blicit á r io  En un cia t ivo

( Sim ulado de diálogo)  Var iáv el; De scr it ivo no

slogan

N a r ra t ivo

( quando se const a um a hist ória) e Ar gu m e n t a t ivo nas revist as especializadas

I m pr e n sa - “ Fait - div ers”

- Edit oriais - Repor t agens - Com ent ários

 N a r ra t ivo e D escr it ivo  D e scr it ivo e

Ar gu m en t a t ivo

 D e scr it ivo e N ar r a t ivo  Ar gu m en t a t ivo

En un cia t ivo

Pode hav er apagam ent o ou int erv enção do j or nalist a

Pa n f le t os polít icos  En un cia t ivo ( apelo) D e scr it ivo

( List a de reiv indicações)

N a r ra t ivo

( ação e r ealizar )

M a n ua is e scola r es  Var iáv el segundo as

disciplinas, m as com a onipr esença do

D e scr it ivo e do N a r ra t ivo

En un cia t ivo ( nos

com andos das t ar efas) Mais Ar gu m en t a t ivo em algum as disciplinas ( m at em át ica, física et c.)

D e in f or m a ção

- r eceit as

- infor m ações t écnicas - r egr as de j ogos

 D e scr it ivo

 D e scr it ivo e N ar r a t ivo ( fazer )

 D e scr it ivo e N ar r a t ivo

Re la t os

- r om ances - nov elas, cont os - de im prensa

 N a r ra t ivo e D escr it ivo En un cia t ivo

I nt er venção v ariáv el do aut or - nar r ador segundo o gêner o ( aut obiogr afia, depoim ent o, not ícia et c.) Font e: CHARAUDEAU, 2009b.

(54)

Os gêneros são escolhidos de acordo com a sit uação de com unicação, lev ando em cont a os parceiros discursivos e o cont rat o ent re eles. Out ro fat or im port ant e são as visadas, ou sej a, a finalidade que se desej a alcançar.

Nest e m om ent o fazem - se necessários alguns esclarecim ent os sobre t ais visadas, de m odo a ex plicarm os algum as cat egorias desenv olvidas por Charaudeau ( 2004) ligadas à finalidade do at o de linguagem . Tais cat egorias est ão ligadas às visadas ou “ int encionalidade psico- sócio-discursiv a que det erm ina a ex pect at iv a do at o de linguagem ” ( CHARAUDEAU, 2004, p. 23) . O aut or sugere set e visadas, ou sej a, set e int encionalidades, que são:

Visada de prescrição: o EU desej a “ m andar fazer” ( fazer- fazer) , e t em aut oridade para ist o, o TU se encont ra em um a posição de “ dev er fazer” .

Visada de solicit ação: o EU quer “ saber” , e o TU se encont ra na posição de “ dev er- responder” .

Visada de incit ação: o EU quer “ m andar fazer” , m as não t em aut oridade suficient e, ent ão prim eiro o EU dev e fazer com que o TU acredit e que será beneficiado por seus at os ( fazer- crer) , dest a form a, o TU, por sua v ez, precisa acredit ar.

Visada de inform ação: o EU quer “ fazer saber” , e o TU se encont ra na posição de “ dev er- saber” .

(55)

relação, em um a posição de “ dev er- saber- fazer” , segundo o m odelo que é propost o pelo EU.

Visada de dem onst ração: o EU quer est abelecer a verdade e para isso lança m ão de prov as, baseando- se em um a cert a posição de aut oridade de saber, um ex pert . O TU precisa av aliar essa v erdade que se pret ende est abelecer.

Cada sit uação de com unicação pode ut ilizar um a ou m ais visadas para garant ir que sua finalidade sej a alcançada. A sit uação de com unicação educacional, por ex em plo, pode convocar as visadas de prescrição ( fazer) , de inform ação ( saber) e de dem onst ração ( fazer-crer) . Porém , ela as faz por m eio da visada dom inant e da inst rução ( fazer- saber- fazer) , ou sej a, daquela que det erm ina a ex pect at iv a do cont rat o com unicacional que os rege.

Ressalt am os t al fat o, assim com o Charaudeau ( 2004, p. 25) , o qual ex plica que

a finalidade, logo, a visada que ela selecion a, não é o t odo da sit uação de com unicação. Mas ela é um de seus elem ent os essenciais que se com bina com out r as caract er íst icas dos out r os com ponent es: a ident idade dos par t icipant es; o propósit o e sua est r ut ur ação t em át ica e as cir cunst âncias que pr ecisam as condições m at er iais da com unicação.

Imagem

Figura 3 – Diagram a dos papéis act anciais
Figura 4:  Capa e int rodução da biografia Get úlio Vargas para crianças
Figura 5 – Esquem a propost o por Mendes ( 2011)
Gráfico Set orial 1

Referências

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