R e v is t a d a S o c i e d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic al 2 8 ( 4 ) : 3 2 1 - 3 2 4 , o u t - d e z , 1 9 9 5 .
A RTIG O S
D IFEREN CIA ÇÃ O D E CEPAS D E
CANDIDA ALBICANS
PELO
SISTEM A
KILLER
Regina Celia Cândido, O lga Fischm an, Luiz Z aror e Izabel Yoko Ito
Foi estudado o efeitokiller de 9 cepas padrão de lev eduras so bre 1 4 6 amo stras de
Candida albicans isoladas dos seguintes espécimes clínico s: muco sa bucal, fez es, lav ado brô nquico , escarro , secreção v aginal, urina, lesão de pele, lesão de unha e sangue. Usando este sistema fo i possível diferenciar 2 3 biotipos deC. albicans. Os biotipos 211, 111 e 8 1 1 fo ram os mais freqüent em ent e isolados. A maio ria das amo stras de C.
albicans (98,6% ) fo i sensível a pelo meno s um a o u mais das 9 cepaskiller. Empregando -se este sistema fo i possível demo?zstmr que 2 pacientes albergav am mesmo biotipokiller, respectivamente, 111 e 211, em diferentes espécimes clínicos, e em o utro paciente, o mesmo biotipo (2 1 1 ) fo i isolado de hemo culturas realizadas em o casiões distintas. O uso do sistemakiller p ara diferenciar os tipos entre as espécies de lev eduras pato gênicas, p o de s er um méto do útil p ara estabelecer a ev entual fo nt e de infecção, co nstituindo um a ajuda valiosa p ara o co ntro le e v igilância de infecçõ es no soco miais causadas p o r lev eduras.
Palav ras- chav es: Sistemakiller. Biotipagem.Candida albicans. Epidemio lo gia.
A lgumas leveduras secretam substância c o m ativ id ad e a n tifú n g ic a d e n atu re z a pro teica, letal para microrganismos da mesma esp écie e gênero e de outros gênero s1. Esta substância é co m um ente d enominada co m o fato r kille r , to xina k i l l e r o u pro teínas kille r .
Termos co m o zimo cina ou m ico cina também têm sido em pregad o s1.
Po lo nelli e co ls8, em 1983, preconizaram um m éto d o d e bio tip ag em d e leveduras d eno m inad o de sistema kille r , co d ificad o em 3
dígitos, cujo s resultados são representados pela sensibilidade da cep a em análise, frente a 9 cep as p ad rão k il le r , p ertencentes ao s
gênero s P i c h i a e H a n s e n u l a . Esse sistema
p o d e se r e m p re g ad o em in q u é rito s ep id em io ló gico s para investigar a origem e/ ou caracterização das cep as de leveduras3 6 8 9 e mais recentem ente de N ocardia12.
A p resente p ublicação ap resenta os resultados da caracterização de 146 amostras
Labo rató rio d e M ico lo g ia d a Esco la Paulista d e M ed icina, São Paulo , SE
A uxílio : CN Pq
E n d e r e ç o p a r a c o r r e s p o n d ê n c i a - , D ra. Reg ina C elia Când id o .
D ep t° d e A nálises C línicas, To xico ló g ic as e Bro m ato ló g icas. Fac u ld ad e d e C iên c ias Farm ac êu tic as d e R ib eirão Preto/ USP. Av. d o C afé s/ n. 14040-903 Rib eirão Preto , SP, Brasil. Fax ( 0 1 6 ) 633-1092.
Recebido para publicação em 11/01/95.
de C . a l b i c a n s segundo a bio tipagem pelo
sistema kille r .
MATERIAL E MÉTODOS
A m o s t r a s d e le v e d u r a s . Cento e quarenta e
seis cep as de C . a l b i c a n s iso lad as do s
seguintes espécim es clínico s: muco sa bucal (39), fezes (35), lavado brô nquico (
26
), escarro(12), secreção vaginal (10), urina (8), lesão de p ele (8), lesão de unha (4) e sangue (4), foram id e n tif ic a d a s d e a c o rd o c o m su as características m o rfo ló gicas e bio quím icas co nfo rme Van der Walt e Yarrow 13.
B i o t ip a g e m . As cep as foram bio tipadas
segund o o sistem a k i l l e r p ro p o sto p o r
Po lo nelli e co ls8.
Cultivos recentes de C. a l b i c a n s foram
semead o s em tubo s co ntend o 10ml de cald o Yeast Extract Pep to ne D extro se (YEPD ), mantidos em agitador, a 120rpm, durante 18 horas, a 25°C. A pós este p erío d o , lm l dos cultivos diluído em 10ml de cald o YEPD e l,0m l d essa su sp ensão ad icio nad o em 20m l d e ág ar YEPD fu nd id o e resfriad o à ap ro xim ad am en te 50°C. A p ó s ag itaç ão vigorosa, o m eio ino culad o fo i vertido em placas de Petri e d eixad o solidificar. Cultivos recentes das 9 cep as padrão pro dutoras de toxinas k i l l e r { K l a 9; Tabela 1) foram, então ,
semeado s, aplicand o uma gota de suspensão das amostras, em cald o YEPD, substituindo a semeadura em estrias de Po lo nelli e co ls8. As placas foram incubad as a 25°C, p o r 72 ho ras.
Cândido RC, Fischman O, Z aro r L, Ito IY. Diferenciaçao de cepas de Candida albicans pelo sistema killer. Revista da Sociedade Brasileira de M edicina Tropical 28:321- 324, out- dez, 1995.
Fo ram co nsid erad as sensíveis (+), as cepas que produziram um halo inco lo r e/ ou zona de crescim ento co m co lô nias azuis, ao redor do p o nto de ino culação das cep as padrão.
Para co d ificar, fo i utilizad o o sistema m neum ô nico pro po sto p o r Po lo nelli e co ls8, co m p o sto de 3 dígitos, representando cada um, a co m binação dos resultados obtidos no co njunto de 3 cep as padrão co m o apresentado na Tabela 2.
RESULTA D O S
A sensibilid ad e das amostras d e C. albicans às cep as padrão pro dutoras de toxinas killer ( k l a 9) vario u entre 26,7 a 95,2% (Tabela 3). Os m o d elo s 211 (47,3% ), 111 (22,6% ) e 811 (10,3% ) representaram 80,2% dos 23 bio tipo s identificados entre as 146 amostras de C. albicans analisadas (Tabela 4).
A plicando o sistema killer a 15 amostras de
C. albicans iso lad as de 6 p acientes em
diferentes o casiõ es e/ ou diferentes espécim es clínico s na mesma o casião , foram obtidos mesmo s bio tip o s killer em 3 pacientes (Tabela 5).
C â n d i d o RC , F is c h m a n O , Z a r o r L, It o IY . D if e r e n c i a ç ã o d e c e p a s d e Candida albicans p e l o s is t e m a killer. R e v is t a d a S o c i e d a d e B r as ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic al 2 8 : 3 2 1 - 3 2 4 , o u t - d e z , 1 9 9 5 .
DISCUSSÃO
A pós a d escrição do fenô m eno k i l l e r em S a c c h a r o m y c e s c e r e v i s i a e , p o r Bev an &
M ako ver em 19632, várias pesquisas têm sido realizad as para v erificar a incid ência de leved uras pro d uto ras de to xinas k ille r ' ,
sensibilidade a to xinas kille r * 11 u , mecanismo
de ação dessas to xinas5, suas propriedades fisiológicas e químicas710 e, mais recentemente, o seu uso co m o marcador epid emio ló gico 8
A bio tip agem de 146 cep as de C. a l b i c a n s
ev id encio u 23 d iferentes m o d elo s k ille r .
Po lo nelli e co ls8, Caprilli e co ls5, Margaró e c o ls6 e Z aro r e c o ls 14, reg istraram , respectivam ente, 25, 7, 3 e 48 diferentes tipos, utilizando o m esmo elenco de cepas padrão
kille r . O ito dos 23 m o d elo s k i l l e r também
foram registrad o s em outros países; 6 na Itália3 8, 5 na A rgentina6 e 6 no Chile14, o que sugere a sua distribuição co smo po lita.
A quase totalidade das cepas (98,6% ) foi sensív el a uma o u mais to xinas k ille r ,
co nfirm and o a v erificação de o utro s pesquisadores3 6 8 H.
O m o d elo 211 foi prevalente em 47,3% de no ssas amostras, send o o 2 ° em freqüência nas
investigaçõ es de Caprilli e co ls3 na Itália, mas muito p o uco co m um nas p esquisas de Po lo nelli e co ls8 no m esm o país e Z aror e co ls14 no Chile. O bio tip o 111, id entificado em 22,6% do no sso material (Tabela 4) fo i o tipo prevalente na Itália38 e na Argentina6.
Não fo i evidenciada co rrelação entre os tipo s k i l l e r e a origem do material bio ló gico de
p ro ced ência das amostras, o que co nco rd a co m outros pesquisad o res8. No entanto em dois pacientes (p ac. 1 e 6) foram o bservados m esm o bio tip o em d iferentes esp écim es clínico s, enquanto que, no paciente 5 o m o d elo 211 foi o btid o do m esmo material clínico em diferentes o casiõ es. Esses dados demonstram o valor dessa m eto d o lo gia na investigação epidemio lógica.
O m éto d o k i l l e r é prático , eco nô m ico , não
requer equip am ento so fisticad o , de fácil interpretação , e sua aplicação co m o marcador ep id em io ló gico tem sido preco nizada, em caso s p resuntiv o s de infecçõ es -fúngicas no so co miais9. Concordamos co m Provost e co ls12, quanto a reco m end ação do sistema
k i l l e r para a id entificação rápida e precisa das
cepas isoladas em laboratórios de p equeno porte.
SUMMARY
The autho rs studied the killer effect o f nine standard strains o f y easts o n 1 4 6 samples o fCandida albicans iso lated fro m the fo llo w ing clinical specimens: o ral mucosa, feces, bro nchial w ash, sputum, v aginal secretion, urine, skin lesion, nail lesion and blood. Using this sy stem it w as po ssible to differentiate 2 3 bioty pes o f Candida albicans. The biotypes 211, 111 and 81 1 w ere most frequent ly isolated. M ost o f the samples o fC . albicans (98.6% ) w ere sensitive to at least o ne o r m o re o f the nine killer strains. Using the killer sy stem it w as po ssible to show that two patients harbo red the same killer biotypes, 111 and 211, respectively , in different clinical specimens a nd ano ther patient harbo red the sam e bioty pe (2 1 1 ) in blo o dcultures effected in different ocasions. The utilization o f the killer sy stem to differentiate ty pes am o ng species o f patho genic y easts can be a useful metho d to stablish the ev entual so urce o f infectio n, and it is a v aluable tool to co ntro l a nd w atch fo r no so co mial infectio ns caused by y easts.
Key - w ords: Killer sy stem. Bio ty ping. Candida albicans. Epidemiology .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA S
1. Bendová O. The killer phenom enon in yeasts. Folia M icrobiologica 31.'422-43,1986.
2. Bevan EA, M akower M .The physiological basis of the killer characterin yeast. In: G eerts SJ (ed) G enetics today. XI^ 1 International Congress on G enetics 1:202-203,1963.
3. Caprilli F, Prignano G, Latella C, Tavarozzi S. A mplification of the killer system for differentiation of C andida albicans strains. M ikosen 28:569- 573,1985.
4. Castilho GJC, Sato HH, Pastore GM, Park YK. D etecção de leveduras produtoras de fator killer presentes nas bebidas “chica” e “m asato”. Revista de M icrobiologia 211:171- 173,1990.
5. Kagan BL. M ode of action of yeast killer toxins: channel formation in lipid bilayer membranes. N ature 302:709- 711,1983.
6. M agaró HM, Biasoli MS, Bracalenti BJC. Sistema “killef' en cepas de Candida albicans. parte II. Boletim M icologia 4:73- 76,1989.
7. Palfree RG, Bussey H. Yeast killer toxin: purification and characterization of the protein toxin from Saccharo my ces cerevisiae. European Journal Biochemistry
93:487-493,1979-8. Polonelli L,A rchibusacci C, Sestito M, M orace G. Killer system: a simple m ethod for differentiating
C â n d i d o RC , F is c h m a n O, Z a r o r L, It o IY . D i f e r e n c i a ç ã o d e c e p a s d e Candida albicans p e l o s is t e m a killer. R e v is t a d a S o c i e d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic m a T r o p ic al 2 8 : 3 2 1 - 3 2 4 , o u t - d e z , 1 9 9 5 .
C andida albicans strains. Journal Clinical M icrobiology 91:175- 179,1983.
9. Polonelli L, Castagnola M, Rossetti D Y M orace G. Use o f killer toxins for co m p uter - aided differentiation of C andida albicans strains. M ycopathologia 91.175- 179,1985.
10. Polonelli L, M orace G. Production and characterization of yeast killer toxin monoclonal antibodies. Journal Clinical M icrobiology 25:460-4 6 2 ,1 9 8 7 .
11. Poirier P, A uger I! Joly J, Steben M. Interest of biotyping C andida albicans in ch ro nic vulvovaginitis. M ycoses 33:24-28,1990.
12. Provost F, Polonelli L, Conti S, Fisicaro P G erloni M, Boiron P Use of yeast killer system to identify species of the No cardia asteroides com plex. Journal Clinical M icrobiology 33:8-10,1995. 13. Van der W alt JP, Yarrow D. M ethods for the
isolation, m aintenance, classification and identification of yeasts. In: Kreger-V an Rij N JW (ed) The yeasts: a taxonom ic study. A msterdam, Elsevier, p. 45- 104,1984.
14. Z aror L, G allardo A, V aldebenito M, Fischman O. Tipification de C andida albicans p or los m etodos del resistotipo y de las toxinas killer. In. Resumos do V Congresso Chileno de Tecnologia M édica,Valdivia p.9 1 ,1 9 9 0 .