REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologiawww.sba.com.br
ARTIGO
CIENTÍFICO
Mudanc
¸as
da
distância
entre
a
carina
e
o
tubo
orotraqueal
durante
cirurgia
bariátrica
aberta
ou
laparoscópica
Giovani
de
Figueiredo
Locks
a,∗,
Maria
Cristina
Simões
de
Almeida
a,
Maurício
Sperotto
Ceccon
be
Karen
Adriana
Campos
Pastório
aaUniversidadeFederaldeSantaCatarina(UFSC),Florianópolis,SC,Brasil
bUltralithoCentroMédico,Florianópolis,SC,Brasil
Recebidoem14dedezembrode2012;aceitoem1demarçode2013 DisponívelnaInternetem14demarzode2014
PALAVRAS-CHAVE
Intubac¸ão
intratraqueal/Complicac¸ões; Obesidade;
Cirurgiabariátrica; Pneumoperitônio; Laparotomia
Resumo
Objetivo: Analisarsehámudanc¸asnadistânciaentreotuboorotraqueal(TOT)eacarina(CA)
induzidaspeloafastadorortostáticooupelopneumoperitônioempacientesobesossubmetidos
agastroplastia.
Métodos: Foramestudados60 pacientessubmetidos àcirurgiabariátricapor duastécnicas:
aberta(G1)ouvideolaparoscópica(G2).Apósaintubac¸ãoorotraqueal,aventilac¸ãoadequada
de ambos os hemitóraxfoi confirmada por meioda ausculta pulmonar.A distância TOT-CA
foi estimadacomo usode um fibrobroncoscópioantese apósainstalac¸ãodos afastadores
ortostáticosnoG1ouanteseapósainsuflac¸ãodopneumoperitônionospacientesnoG2.
Resultados: IntegraramoG122pacientese38oG2.Nãohouvecasosdeintubac¸ão
endobrôn-quicaemnenhumdosgrupos.Amédiadevariac¸ãodadistânciaTOT-CAfoi---0,03cm(95%IC0,06
a---0,13)nogrupodospacientessubmetidosàgastroplastiaabertae---0,42 cm(95%IC---0,56
a---1,4)nogrupodospacientessubmetidosàgastroplastiavideolaparoscópica.Osextremosde
variac¸ãoemcadagrupoforam:0,5cma---1,6cmnodospacientessubmetidosàcirurgiaaberta
e0,1 cma---2,2 cmnodospacientessubmetidosàcirurgiavideolaparoscópica.
Conclusões: Nãohouvealterac¸ãosignificativanadistânciaTOT-CAapósinstalac¸ãodos
afasta-doresortostáticosnospacientessubmetidosàgastroplastiaaberta.Houvereduc¸ãonadistância
TOT-CAapósainsuflac¸ãodopneumoperitônionospacientessubmetidosàgastroplastia
videola-paroscópica.Sugerimosatenc¸ãoàauscultapulmonareaossinaisdemonitorac¸ãodaventilac¸ão
ereavaliac¸ãodoposicionamentodoTOTapósinsuflac¸ãoperitoneal.
©2014SociedadeBrasileira deAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos
direitosreservados.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:giovanilocks@gmail.com(G.deFigueiredoLocks).
0034-7094/$–seefrontmatter©2014SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todososdireitosreservados.
KEYWORDS
Endotracheal intuba-tion/complications; Obesity;
Bariatricsurgery; Pneumoperitoneum; Laparotomy
Changesinthedistancebetweencarinaandorotrachealtubeduringopenor videolaparoscopicbariatricsurgery
Abstract
Objective:Toexamine whethertherearechanges inthedistancebetween theorotracheal
tubeandcarinainducedbyorthostaticretractorplacementorbypneumoperitoneum
insuffla-tioninobesepatientsundergoinggastroplasty.
Methods:60patients undergoingbariatricsurgerybytwotechniques: open(G1)or
videola--paroscopic(G2)gastroplastywerestudied.Aftertrachealintubation,adequateventilationof
bothhemitoraxeswas confirmedbylungauscultation. Thedistanceorotrachealtube-carina
wasestimatedwiththeuseofafiberbronchoscopebeforeandafterinstallationoforthostatic
retractorsinG1orbeforeandafterinsufflationofpneumoperitoneuminpatientsinG2.
Results:G1was composedof22andG2of38patients.Nocasesofendobronchial
intubati-onweredetected ineither group.The meanorotrachealtube-carina distancevariationwas
estimated in −0.03 cm (95% CI 0.06 to −0.13) in the group of patients undergoing open
gastroplastyandin−0.42cm(95%CI−0.56to−1.4)inthegroupofpatientsundergoing
vide-olaparoscopicgastroplasty.Theextremesofvariationineachgroupwere:0.5cmto−1.6cm
inpatientsunder-goingopensurgeryand0.1cmto−2.2cminpatientsundergoing
videolapa-roscopicsurgery.
Conclusions:Therewasnosignificantchangeinorotrachealtube-CAdistanceafterplacementof
orthostatic retractorsinpatients undergoing opengastroplasty. There was areduction
ino-rotracheal tube-CAdistanceafter insufflation ofpneumoperitoneum inpatients undergoing
videolaparoscopicgastroplasty.Werecommendattention tolungauscultationandtosignals
of ventilationmonitoring and reevaluation of orotracheal tube placement after peritoneal
insufflation.
©2014SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublishedbyElsevier EditoraLtda.Allrights
reserved.
Introduc
¸ão
Após a intubac¸ão, o avanc¸o do tubo orotraqueal (TOT) além da carina resulta em ventilac¸ão de apenas um dos pulmões.Essa condic¸ão, conhecidacomo intubac¸ão endo-brônquica ouintubac¸ão seletiva, pode causar hipoxemia, hipercapnia ou pressão intrapulmonar excessiva e poten-cialmente causar danossecundários, como lesão cerebral ouruptura traqueobrônquica, especialmente na presenc¸a deoutras comorbidades, taiscomo pneumotórax, choque outrauma.1,2 A intubac¸ão endobrônquica é a causa mais
comumdedessaturac¸ãoarterial.3Aauscultadecinco
pon-tosnotóraxtemsidoométodotradicionaldeconfirmac¸ão doposicionamentodoTOT.4
Ummétododesenvolvidoparaestudodaárvore
traqueo-brônquicaéafibrobroncoscopia.Éconsideradoummétodo
diagnósticoseguro,rápidoedecustoefetivo.5Comométodo
confirmatório da posic¸ão do TOT, o procedimento é feito
atravésdoTOTeavisualizac¸ãodiretadacarinapode detec-taroposicionamentoincorretodotubo.6
Oobjetivodesteestudofoianalisarsehámudanc¸asna
distânciaentre o TOT e a carina (TOT-CA)induzidas pelo
afastadorortostáticooupelopneumoperitônioempacientes obesossubmetidosàgastroplastiaabertaou
videolaparoscó-pica,respectivamente.
Método
Após a aprovac¸ão do protocolo pela Comissão de Ética e
Pesquisas em Seres Humanos (00232.1208-11) e obtenc¸ão
daassinaturadotermodeconsentimentoinformado,foram
incluídospacientesdeambosossexos,entre18e60anos, estadofísicoI,IIouIIIeÍndicedeMassaCorporalsuperior a35kg.m---2,queforamsubmetidosàcirurgiabariátricasob
anestesia geral. Aamostraconstoude pacientes
submeti-dos à gastroplastia aberta em umhospital universitárioe
depacientessubmetidosagastroplastiavideolaparoscópica emumainstituic¸ãoprivada,conformeastécnicascirúrgicas derotina nasrespectivasinstituic¸ões. Foramexcluídosdo
estudogestantesoumulheresemperíododealeitamento,
portadores de deformidade traqueobrônquica, pacientes
comauscultapulmonarpré-operatóriaprejudicadae
paci-entescomrelatodehipersensibilidadeàsdrogasprevistas noprotocolo.
Ospacientesnãoreceberammedicac¸ãopré-anestésica.
Todos foram posicionados com travesseiros no tórax, no
pescoc¸oenacabec¸a,deformaaalinharafúrculaesternale omeatoauditivoexterno.7Foiusadaamonitorac¸ãocom
oxi-metriadepulso,pressãoarterialnãoinvasiva,capnografiae
cardioscopia.Todosreceberamoxigênioa100%pormáscara
facialportrêsminutos.Ainduc¸ãodaanestesiaconstoude infusão deremifentanil0,3g.kg---1.min---1 (segundo opeso
ideal) e propofol2mg.kg---1 (segundoo peso real). Após a
perdadaconsciênciaadministrou-sesuccinilcolinanadose de1mg.kg---1(segundoopesoreal).
Após umminuto, procedeu-se à intubac¸ão orotraqueal
comtubo7,5mmnaspacientesdosexofemininoe8,5mm
nos pacientes do sexo masculino. Para confirmac¸ão da
intubac¸ão traqueal foi usada a capnografia. O paciente
positiva controlada por volume e pressão positiva no fim
da expirac¸ão de 5cm H2O para manter EtCO2 entre
30-35mmHg. Nessemomento, foiusada a ausculta pulmonar
emambos oshemitórax anteriores.Casoomurmúrio
vesi-cularestivessediminuídoouabolidoemumdoslados,seria suposto o diagnóstico de intubac¸ão seletiva. O tubo seria
reposicionado,senecessário,atéqueaauscultapulmonar
estivessenormalemambososhemitórax.Posteriormentefoi
efetuadaafibrobroncoscopiacomfibrobroncoscópio
pediá-tricode3,6mmflexível(Storz,Alemanha)lubrificadocom cloridratodelidocaínagel2%poranestesiologistacommais
dedoisanosdeexperiênciacomoprocedimento.Foiusado
umconectorvalvularquepermitiuqueafibrobroncoscopia
fossefeitaseminterromperaventilac¸ãodopaciente.
Aposic¸ãocorretadotuboeraconfirmadaquandofosse
possível a visualizac¸ão dacarina traqueal e a introduc¸ão
dofibrobroncoscópioem ambososbrônquios-fonte.O
ori-fíciodobrônquio lobar superior dopulmão direito após a
bifurcac¸ãodacarinatraquealfoiusadocomoreparo anatô-micoprincipal.Foiestimadaadistânciadaextremidadedo
tubo orotraqueal à carina traqueal da seguinte maneira:
ofibrobroncoscópiofoiposicionadona carina(fig. 1)e foi
marcado com uma fita de esparadrapo na porc¸ão
proxi-mal,juntoà extremidadeproximaldoTOT.Emseguida,o
fibrobroncoscópiofoi tracionado atéque fosse visualizada
a extremidade distal do TOT e o fibroscópio foi marcado
pelomesmométodo(fig.2).AdistânciaTOT-CAfoiestimada comoadistânciaentreasduasfitas(fig.3).
AauscultapulmonareaestimativadadistânciaTOT-CA
foramrepetidasapósainstalac¸ãodosafastadores
ortostá-ticos nos pacientesdoG1 ouapós opneumoperitônio nos
pacientesdoG2.
Figura 1 Broncofibroscópio posicionado junto àcarina tra-queal.
Figura 2 Vista endoscópica daextremidade distal do tubo orotraquealnatraqueia.
Figura 3 Distância estimada entre o tubo orotraqueale a carina.
O tamanhoda amostrafoi estimado em no mínimo22
pacientespara cada grupo,o número necessáriopara um
erroalfa de5% e umerro beta de 20%,considerando um
estudoanteriorqueencontrouumamovimentac¸ãodoTOT
de0,7±1,4cmapósinsuflac¸ãodopneumoperitônioecom
oobjetivo dedetectar umareduc¸ão de1cmna distância
TOT-carina.8 Os dados foram armazenados em um banco
dedadosnoprogramaMicrosoftOfficeExcelv.7.0 (Micro-soft,Seattle).Posteriormente,asanálisesforamfeitascom ousodoprogramaIBMSPSSStatisticsv17.0.Foiadmitida significânciaestatísticaquandop<0,05.
Osdadosestãodescritoscomomédia(desvio-padrão)ou
frequênciaabsoluta(frequênciarelativaouporcentagem).
Paraverificarassociac¸ãoentreasvariáveisqualitativasentre
os grupos foi usado o teste de Fischer. Para análise das
diferenc¸as das variáveis quantitativas segundo grupos foi usadootestetdeStudent.Paraestudodadiferenc¸aentreas medidasdadistânciaTOT-CAanteseapósafastadores ortos-táticosoupneumoperitôniofoiusadootestetparamedidas
pareadaseanálisedeBland-Altman.
Resultados
Dos60pacientesincluídosnoestudo,38foramsubmetidosà gastroplastiaabertae22àgastroplastiavideolaparoscópica. Nenhumdospacientesfoiexcluídodaanáliseporfalhasna
IOT ou na fibrobroncoscopia. As características
demográ-ficasda amostraestão expostas na tabela 1. Observou-se
diferenc¸aentreosgruposnasvariáveisIMCegênero.Ogrupo dospacientessubmetidosàcirurgiaabertaapresentoumaior médiadeIMCemaiorproporc¸ãodemulheresemrelac¸ãoao
grupodospacientessubmetidosàcirurgia
videolaparoscó-pica,comtendênciaaseremmaisvelhos.
Nãoforamobservados,nesteestudo,alterac¸õesna
aus-cultapulmonaroucasosdeintubac¸ão seletivaemnenhum
Tabela1 Característicasdemográficasdospacientesemambososgrupos
Cirurgiaaberta
(n=38)
Cirurgiavideolaparoscópica(n=22) p
Idade(anos) 35±9,8 31,41±5,9 0,12
Gênero(M/Fa) 6(16%)/32(84%) 8(36%)/14(64%) 0,001
IMCb(kg.m---1) 46,9±6,1 38,7±4,7 <0,0001
aM/F,masculino/feminino. b IMC,ÍndicedeMassaCorporal.
Tabela2 Distânciaentreotuboorotraquealeacarinanosdoisgruposlogoapósintubac¸ãoeapósafastadoresortostáticosou pneumoperitônio
Apósintubac¸ão Apósafastador/pneumoperitôneo p
Cirurgiaaberta(n=38) 3,3±1,3 3,2±1,3 0,37
Cirugiavideolaparoscópica(n=22) 2,8±0,7 2,4±0,6 <0,001
A tabela 2 mostra os dados referentes às medidas da distânciaTOT-CAlogoapósaIOTeapósosafastadores
ortos-táticosouopneumoperitônio.
Amédiadevariac¸ãofoi---0,03(95%ICdamédia0,06a ---0,13)no grupo dos pacientessubmetidos à gastroplastia abertae ---0,42 (95% IC da média ---0,56 a ---1,4) nogrupo
dos pacientes submetidos à gastroplastia
videolaparoscó-pica.Osextremosdevariac¸ãoemcadagrupoforam0,5cma ---1,6cmnogrupodospacientessubmetidosàcirurgiaaberta
e 0,1cm a ---2,2cm no grupo dos pacientes submetidos à
cirurgiavideolaparoscópica.Nafigura4estãodispostas,na análisedeBland-Altman,asvariac¸õesdadistânciaTOT-CA apósacolocac¸ãodeafastadoresortostáticoseainsuflac¸ão
peritoneal,respectivamente.
Discussão
Neste estudo, o dado que mais chama a atenc¸ão é a
reduc¸ão significativamente maior da distância entre a
extremidade do TOT e a carina após a instalac¸ão do
pneumoperitônio em gastroplastias videolaparoscópicas
quando comparadas às gastroplastias abertas. Como uma
consequência,pode-seespecularqueháumriscomaiorde
intubac¸ão endobrônquica no transoperatório em cirurgias
videolaparoscópicas em relac¸ãoaos pacientes submetidos
àcirurgiaaberta.
Aintubac¸ão endobrônquica é umimportante problema
emanestesiologiaeestáintimamenteassociadaaaumentos
de morbidade.1---3 Essa condic¸ão representa o quarto
inci-dente maiscomum daanestesia geral e o incidente mais
comumqueenvolveoTOT.3 Dentreasconsequênciasmais
graves estão a hipoxemia, a atelectasia do pulmão não
ventiladoeahiperinsuflac¸ãodopulmãoventiladocom
pos-sibilidade de pneumotórax;3 rupturas traqueobrônquicas,
edemapulmonarunilateralecasosdealterac¸ões
hemodinâ-micasseguidosdedanocerebralemortetambémjáforam
descritos.1,2
Embora a ausculta pulmonar seja o principal critério
clínico para o diagnóstico de intubac¸ão endobrônquica,
estudos vêm sugerindo certa inacurácia do método.6,8---11
DeslocamentosdoTOTsemalterac¸õesnopadrãodaausculta
pulmonarforamobservadosempacientescujaextremidade
dotuboultrapassavaacarinaematé3,2cm.9Quando
com-paradaaoutrométododiagnóstico,aauscultabilateraldo tóraxfoicapazdedetectarapenasdoiscasosdeintubac¸ão
seletiva em pacientes submetidos à colecistectomia
Cirurgia aberta Cirurgia videolaparoscópica
1,0
0,0
−1,0
−2,0 1,0
0,57 0,59
−0,43
−1,45 −0,03
−0,63
0,0
−1,0
−2,0
V
a
ri
ação na distância
T
O
T-car
ina (cm)
V
a
ri
ação na distância
T
O
T-car
ina (cm)
videolaparoscópica dos oito casos confirmados por radio-grafia do tórax.11 A baixa sensibilidade daausculta pode
serexplicadapelatransmissãotorácicados sons
pulmona-resaosetornaremmaisbrônquicosemqualidadedurante
aventilac¸ãomecânica---situac¸ãoquepodeseragravadana
presenc¸adealterac¸õesanatômicasdotórax,comomamas
grandes,obesidadeetóraxemsino.3
Os sinais de intubac¸ão seletiva incluem mudanc¸as
no pico de pressão inspiratória, dessaturac¸ão arterial e
variac¸ões das concentrac¸ões de dióxido de carbono na
capnografia.3,6,12Essasalterac¸ões,noentanto,são
conside-radas inespecíficas e suas primeirasmanifestac¸ões podem
ser sutis e nãocausar alarme.3,13 Apenas11,5% dos casos
deintubac¸ãoseletivaapresentaramalterac¸ões
capnográfi-cas,semregistroconcomitantedemudanc¸asnapressãode
pico inspiratória.Aincertezadasimetriadaausculta
pul-monar,apresunc¸ão dapossibilidadedealgumartefatoou
defalhadeinstrumentose odesejodenãointerrompera
cirurgia,bemcomoadificuldadedeacessoàregiãotorácica notransoperatório,contribuemparaodiagnósticotardioda complicac¸ão.3
No transoperatório, a migrac¸ão do TOT pode ocorrer
após o seu correto posicionamento noinício daanestesia
e resultar de alterac¸ões na inclinac¸ão da mesa cirúrgica, dainsuflac¸ãoperitoneal,daflexãodacabec¸aedopescoc¸o dopacienteoudeseureposicionamentoemgeral.Cirurgias neurológicas,ginecológicasevideolaparoscópicas
apresen-tamos maiores índicesde intubac¸ão endobrônquica, com
umterc¸o dos casos associado a cirurgias que envolvemo
segmentodacabec¸aedopescoc¸o.3
A alta incidência de intubac¸ão seletiva em
neuroci-rurgias está relacionada principalmente à posic¸ão prona
e/ou à movimentac¸ão da cabec¸a e do pescoc¸o do
paci-entepelocirurgiãonotransoperatório.Porsuavez,cirurgias videolaparoscópicas ginecológicasapresentamsignificativa
associac¸ãocomintubac¸ãoendobrônquicaemconsequência
dainstalac¸ãodopneumoperitônioemposic¸ãode cefalode-clive.Nessascirurgias,foireportadaumareduc¸ãomédiade
1,6cmdadistânciaentreaextremidadedoTOTeacarina
apósainstalac¸ãodopneumoperitônio(de2,1±0,8cmpara 0,54±1,4cm),comoitocasosdeintubac¸ãoseletivaemuma amostrade30pacientessubmetidasàcirurgiaginecológica
videolaparoscópica.14Similarmente,emestudoque
exami-nouradiografiasdetóraxanteseapósinsuflac¸ãoperitoneal
de 10mmHg,foram encontradasmovimentac¸ões cefálicas
doTOTde1,1±0,4cmcomoconsequênciadoaumentoda
pressãointra-abdominal.15
Em nosso estudo, a instalac¸ão do pneumoperitônio
em pacientes obesos submetidos à gastroplastia
video-laparoscópica foi responsável por uma movimentac¸ão de
---0,42 ± 0,5cm do TOT em relac¸ão à carina e chegou
ao extremo de reduc¸ão de mais de 2cm. Além do risco
deintubac¸ão seletiva, o pneumoperitônioacarreta outras
consequências importantes sobre a func¸ão pulmonar. A
migrac¸ão cefálica do diafragma está associada tanto à
diminuic¸ão da capacidade residual funcional quanto ao
aumento do volume de fechamento das pequenas vias
aéreas, o que leva a um distúrbio ventilac¸ão/perfusão
e a um aumento do shunt intrapulmonar. Além disso,
mecanismos de ventilac¸ão são alterados em vista da
diminuic¸ão da complacência pulmonar, com consequente
aumento da resistência nas vias aéreas.16,17 Pacientes
obesos durante a anestesia constituem um grupo de
risco, uma vez que já apresentam reduc¸ão da
capaci-dade residual funcional, com fechamento de vias aéreas
e distúrbio ventilac¸ão/perfusão sob ventilac¸ão corrente
normal.7,18,19Essasituac¸ãoseagravaaindamaisnavigência
decomorbidadesassociadasa baixasreservas pulmonares
oucardiopatias.18
EstudosrelatamqueaextremidadedoTOTseaproxima
dacarinaapós ainstalac¸ãodopneumoperitôniocomrisco
significativo de causar intubac¸ões endobrônquicas.8,14,20-22
Nossos resultadosestão deacordo com outrosestudos ao
encontrar maior movimentac¸ão da extremidade do TOT
após a insuflac¸ão do pneumoperitônio quando comparada
a pacientes submetidos a cirurgia aberta. Assim, parece
que o aumento da pressão intra-abdominal constitui um
risco importante para intubac¸ão endobrônquica acidental
também em pacientes obesos submetidos à gastroplastia
videolaparoscópica.
Em nosso estudo, o uso de afastadores ortostáticos
em gastroplastia aberta não foi associado a mudanc¸as
significativas na distância entre a extremidade do TOT
e a carina. Contudo, nossos resultados devem ser
ava-liados com cautela, pois a cirurgia videolaparoscópica
tem sido associada a diversos benefícios no período
pós--operatório,taiscomo menor necessidadedeanalgésicos,
melhor func¸ãopulmonar, melhores resultados estéticos,23
menortaxadecomplicac¸õesperioperatórias,24menortaxa
decomplicac¸õesde paredeabdominale menor tempode
internac¸ão hospitalar.25 Efeitos adversos advindos do uso
deafastadoresortostáticossãolesãodenervoperiférico,26
lesãodocólon,27lesãodofígado28edorcrônica.29
Em resumo,em pacientes obesos submetidosà
gastro-plastia,ainsuflac¸ãodopneumoperitônioemprocedimentos videolaparoscópicosproporcionamaiorreduc¸ãodadistância
entreaextremidadedoTOTeacarinaquandocomparada
com a colocac¸ão dos afastadores ortostáticos em
gastro-plastiasabertas.Osresultadosapontamparaanecessidade
de atenc¸ão especial à ausculta pulmonar e aos sinais de
monitorac¸ãodaventilac¸ão,assimcomoreavaliac¸ãodo posi-cionamentodoTOTapósainsuflac¸ãoperitoneal.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
1.GoodmanBT,RichardsonMG.Casereport:unilateralnegative pressurepulmonaryedema---Acomplicationofendobronchial intubation.CanJAnaesth.2008;55(10):691---5.
2.EngorenM,deStVictorP.Tensionpneumothoraxand contra-lateralpresumedpneumothoraxfromendobronchialintubation viacricothyroidotomy.Chest.2000;118(6):1833---5.
3.McCoyEP,RussellWJ,WebbRK.Accidentalbronchial intuba-tion. AnanalysisofAIMSincidentreports from1988 to1994 inclusive.Anaesthesia.1997;52(1):24---31.
4.DronenS,ChadwickO,NowakR.Endotrachealtippositionin thearrestedpatient.AnnEmergMed.1982;11(2):116---7.
6.Rudraraju P, Eisen LA. Confirmation of endotracheal tube position: a narrative review. J Intensive Care Med. 2009;24(5):283---92.
7.Ebert TJ, Shankar H, Haake RM. Perioperative considera-tions for patients with morbid obesity. Anesthesiol Clin. 2006;24(3):621---36.
8.LobatoEB,PaigeGB,BrownMM,etal.Pneumoperitoneumas ariskfactorfor endobronchialintubationduringlaparoscopic gynecologicsurgery.AnesthAnalg.1998;86(2):301---3.
9.SugiyamaK,YokoyamaK,SatohK,etal.DoestheMurphyeye reducethereliabilityofchestauscultationindetecting endo-bronchialintubation?AnesthAnalg.1999;88(6):1380---3.
10.Sitzwohl C,Langheinrich A, Schober A, et al. Endobronchial intubationdetectedbyinsertiondepthofendotrachealtube, bilateralauscultation,orobservationofchestmovements: ran-domisedtrial.BMJ.2010;341:c5943.
11.EzriT,KhazinV,SzmukP,etal.UseoftheRapiscopevschest auscultationfordetectionofaccidentalbronchialintubationin non-obesepatientsundergoinglaparoscopiccholecystectomy.J ClinAnesth.2006;18(2):118---23.
12.BrunelW,ColemanDL,SchwartzDE,etal.Assessmentof rou-tine chestroentgenograms and the physical examination to confirmendotrachealtubeposition.Chest.1989;96(5):1043---5.
13.Kato H, Suzuki A, Nakajima Y, et al. A visual stethoscope to detect the position of the tracheal tube. Anesth Analg. 2009;109(6):1836---42.
14.Kim JH, Hong DM, OhAY, et al. Tracheal shortening during laparoscopic gynecologic surgery. Acta Anaesthesiol Scand. 2007;51(2):235---8.
15.Morimura N,InoueK, MiwaT. Chestroentgenogram demons-tratescephalad movement ofthe carinaduringlaparoscopic cholecystectomy.Anesthesiology.1994;81(5):1301---2.
16.JorisJ,CigariniI,LegrandM,etal.Metabolicandrespiratory changesafter cholecystectomyperformed via laparotomyor laparoscopy.BrJAnaesth.1992;69(4):341---5.
17.Cunningham AJ. Anesthetic implications oflaparoscopic sur-gery.YaleJBiolMed.1998;71(6):551---78.
18.LorentzMN,AlbergariaVF,LimaFA.Anesthesiaformorbid obe-sity.RevBrasAnestesiol.2007;57(2):199---213.
19.EichenbergerA,ProiettiS,WickyS,etal.Morbidobesityand postoperativepulmonaryatelectasis:anunderestimated pro-blem.AnesthAnalg.2002;95(6):1788---92.
20.Mendonca C,BaguleyI, Kuipers AJ, et al. Movementof the endotrachealtubeduringlaparoscopicherniarepair.Acta Ana-esthesiolScand.2000;44(5):517---9.
21.Bottcher-HaberzethS,DullenkopfA,GitzelmannCA,etal. Tra-cheal tube tip displacementduring laparoscopy in children. Anaesthesia.2007;62(2):131---4.
22.HwangJY,RheeKY,KimJH,etal.Methodsofendotrachealtube placementinpatientsundergoingpelviscopicsurgery.Anaesth IntensiveCare.2007;35(6):953---6.
23.Davila-CervantesA,BorundaD,Dominguez-CheritG,etal.Open versuslaparoscopicverticalbandedgastroplasty:arandomized controlleddoubleblindtrial.ObesSurg.2002;12(6):812---8.
24.HutterMM,RandallS,KhuriSF,etal.Laparoscopicversusopen gastricbypassformorbidobesity:amulticenter,prospective, risk-adjustedanalysisfromtheNationalSurgicalQuality Impro-vementProgram.AnnSurg.2006;243(5):657---62.
25.LujanJA, Frutos MD, Hernandez Q, etal. Laparoscopic ver-susopengastricbypassinthetreatmentofmorbidobesity:a randomizedprospectivestudy.AnnSurg.2004;239(4):433---7.
26.CelebrezzeJrJP,PidalaMJ,PorterJA,etal.Femoral neuro-pathy: an infrequently reported postoperativecomplication. ReportoffourcasesDisColonRectum.2000;43(3):419---22.
27.Noldus J, Graefen M, Huland H. Major postoperative complicationssecondarytouseoftheBookwalterself-retaining retractor.Urology.2002;60(6):964---7.
28.Saranita J, Soto RG, PaoliD. Elevated liver enzymes as an operativecomplication of gastricbypass surgery. ObesSurg. 2003;13(2):314---6.