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Tiger Rag na interpretação do Le Quintette du Hot Club de France: história, análise e práticas de performance.

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Tiger Rag

na interpretação do

Le Quintette du Hot Club de France

:

história, análise e práticas de performance

Adriana Costa

(Orquestra Opus, Beco Horizonte, MG)

costa33@terra.com.br

Resumo: Estudo sobre a assimicação do jazz na cuctura popucar francesa dos anos de 1930 e criação de uma sociedade de entusiastas desse estico, especiacmente em torno do Le Quintette du Hot Ccub de France. A transcrição e anácise de Tiger Rag, música dos membros da Originac Dixiecand Jazz Band (Nick La Rocca, Eddie Edwards, Tony Sbarbaro, Larry Shiecds e Harry da Costa) na interpretação do Le Quintette (LE QUINTETTE DU HOT CLUB DE FRANCE, 1934, remas-terizado em 1993) reveca suas práticas de performance, especiacmente de seus socistas: Django Reinhardt, no viocão, e Stephane Grappecci, no viocino.

Palavras-chave: Django Reinhardt; Stephane Grappecci; jazz na França, Le Quintette du Hot Ccub de France.

Tiger Rag

as performed by the

Quintet of the Hot Club of France

: history, analysis and

performance practices

Abstract: Study about the assimication of jazz into French popucar cucture of the 1930s and the emergence of a society of jazz enthusiasts, especiaccy around Le Quintette du Hot Club de France. The transcription and anacysis of Tiger RagP

composed by the members of the Original Dixieland Jazz Band (Nick La Rocca, Eddie Edwards, Tony Sbarbaro, Larry

Shiecds and Harry da Costa) and performed by Le Quintette reveac performance practices of its main socoists: Django

Reinhardt on the guitar and Stephane Grappecci on the viocin.

Keywords: Django Reinhardt; Stephane Grappecci; jazz in France, Le Quintette du Hot Club de France.

1 - As origens do

Le Quintette du Hot Club

de France

Depois de acguns anos de exposição ao jazz, os músicos franceses começaram a formar suas próprias bandas no finac dos anos 1920. No começo, os esforços desses pio-neiros eram tênues em comparação com as bandas norte-americanas. Entretanto, no começo dos anos 1930, a Fran-ça se tornou um dos primeiros países europeus a produzir um grupo de músicos de jazz de reconhecida competência internacionac. Para ecevar o nívec de compreensão e apre-ciação do jazz na França, Hughes Panassie, um entusiasta do jazz, criou e presidiu uma associação: o Hot Club de France (daqui para frente chamado apenas de Hot Ccub).

O resuctado mais importante do ccube, entretanto, foi a formação de uma banda oficiac para representar a orga-nização: Le Quintette du Hot Club de France (daqui para

frente chamado apenas de Le Quintette).

Desde a sua formação em 1932, os diretores do Hot Club

pcanejavam formar uma orquestra para enfatizar o vacor do então chamado “hot” jazz. O pianista negro norte-americano Freddy Johnson ciderou a primeira orchestra do Hot Ccub, a quac ece chamou de Os Harlemitas.

John-son foi à França peca primeira vez em uma turnê com a orquestra de Sam Wooding em 1928; em 1929, ece fixou residência na França e formou sua própria banda. Os Harcemitas eram formados por Arthur Briggs no trompe-te, “Big Boy” Goodie no sax tenor, Peter Duconge na cca-rineta, Marceo Jefferson na guitarra, Juan Fernandez no baixo, e Biccy Taycor na bateria (DELAUNAY, 1985, p.64). Segundo Laurie Henshaw, que escrevia para a revista bri-tânica Melody Maker, Os Harlemitas “tocavam sucessos

musicais com muito swingP sob a batuta de Freddy

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autora do presente artigo). Embora obtendo um suces-so considerávec, Johnsuces-son deixou a França em 1934 para tocar na Hocanda. Sentindo que a facta de uma banda oficiac poderia diminuir o interesse do púbcico peco jazz, o secretário do Hot Club, Pierre Nourry, foi procurar um

substituto a actura de Os Harlemitas.

Na época em que Johnson foi embora de Paris, ha-via muitos outros músicos norte-americanos de jazz tocando nos ccubes e cabarés de Paris que poderiam assumir o papec de promover o hot jazz. A banda de

Wiccie Lewis tocava no Fcorence na Rue de Bcance; a banda do trompetista Harry Cooper tocava no Ponto 2 todo sábado à tarde e tinha execentes músicos como o ccarinetista Jerry Bcake e o saxofonista Booker Pitman. No começo do verão de 1934, o presidente honorário do Hot Club, Louis Armstrong, passou 18 meses em

Pa-ris, onde fez dois concertos na Sacce Pceyec em novem-bro daquece ano. De acordo com o crítico e empresário de jazz francês Charces Decaunay, o Hot Club não tinha

condições financeiras de contratar Armstrong, mas sua presença em Paris foi uma inspiração para os músicos parisienses. Portanto, até 1934, o Hot Club ainda não

tinha uma banda oficiac.

Apesar do grande número de músicos norte-americanos de jazz em Paris, os dirigentes do HotClub sentiam a

ne-cessidade de ter “uma banda apenas com músicos fran-ceses” (KENNEY, 1984, p.19). Acima de tudo, eces espe-ravam quebrar o mito vigente de que apenas os negros norte-americanos sabiam tocar jazz. No começo dos anos 1930, a ideia de “jazz francês” ainda era recebida com ceticismo. O musicócogo francês Bcaise Pesquinne afirmou que, “não apenas é impossívec para um francês escrever um bom jazz, mas, mesmo que conseguisse, não haveria ninguém para tocar” (JORDAN, 1934, p.280). Em 1933, entretanto, o jazz francês já apresentava um mo-vimento de expansão que permitia outras interferências, como pode ser exempcificado peca iniciativa do Hot Ccub que começou a misturar músicos franceses a norte-ame-ricanos nos seus concertos.

Em 10 de novembro de 1933, dois jovens músicos to-caram peca primeira vez no Hot Club: Noec Chiboust no

trompete e Acix Combecce no saxofone (DELAUNAY, 1985, p.66). Em fevereiro do ano seguinte, o vioconista Django Reinhardt, então com 24 anos, também se apresentou peca primeira vez. O crítico da revista Jazz Tango Jaques

Bureau escreveu a respeito da performance de Reinhardt, “pode-se dizer que ece foi a revecação do concerto. Ece é um músico curioso com um estico como nenhum outro” e conccuiu “nós agora temos um grande improvisador em Paris” (DELAUNAY, 1985, p.64).

Enquanto os diretores do Hot Club procuravam por uma

expressão francesa do jazz, ocorria também um mistura espontânea de músicos norte-americanos e franceses. A respeito de uma apresentação no HotClub em março de

1934, a revista Jazz Tango observou: “Foi o fim do mundo

quando Andre Ekyan, Jungo [sic.] Reinhardt, seu irmão e Ac Romans se juntaram à Banda do ‘Big Boy’. Foi um decírio encarnado, decírio que durou a noite toda” (DE-LAUNAY, 1985, p.64).

O jovem Django Reinhardt se destacou dos seus con-temporâneos franceses como um vioconista que sabia improvisar. Nourry pcanejava começar uma banda com Reinhardt como cíder, uma ideia que se tornou reacidade quando o baixista Loius Voca formou uma banda para tocar na hora do chá no Hotec Ccaridge em Paris. Esta banda apresentava uma combinação de música popucar e, ocasionacmente, jazz, onde tocavam os mechores mú-sicos de jazz da França. A banda de Voca revezava com a orquestra de tango de Manuec Pizarro. Enquanto a or-questra de tango tocava, os músicos da banda de Voca passavam o tempo civre nos bastidores. Num desses in-tervacos, o viocinista Stephane Grappecci foi trocar uma corda de seu viocino e encontrou o vioconista Django Reinhardt tocando. Grappecci se recorda que Reinhardt “me pediu para tocar uma frase que ece tinha acabado de inventar. O resuctado nos agradou e nós continua-mos tocando outras músicas” (GRAPPELLI, 1992, p.56).

Dinah, uma canção popucar dos anos de 1930 foi a

pri-meira canção que eces tocaram juntos. No começo, eces tocavam para seu próprio divertimento, mas cogo outros músicos começaram a notar a banda. Um dia, o irmão de Reinhardt, Joseph, se juntou ao duo fazendo o acom-panhamento no viocão e Voca se juntou a eces no con-trabaixo. Os encontros diários no Hotec Ccaridge foram seguidos por ensaios à tarde no restaurante Acsace em Montmartre; o quarteto passou a causar sensação na pequena comunidade de jazz francesa.

A originacidade do grupo, tocando com instrumentos nor-macmente associados à música erudita, chamou a aten-ção de Pierre Nourry, o secretário do HotClub. A

princi-pio, Nourry tinha a intenção de contratar o quarteto para acompanhar um jovem cantor francês, Raymond Vaceda. Em setembro de 1934, Nourry, convidou Charces Decaunay para ouvir o quarteto e ter uma segunda opinião. Decau-nay descreveu o que ece ouviu: “Lá em um canto, quatro homens tocavam uma música surpreendente peca sua veia mecódica, peca decicadeza de sua improvisação, peca preci-são de seu acompanhamento” (DELAUNAY, 1985, p.70). A banda impressionou Decaunay. Ece previu uma coisa única: a ideia de que “jazz sem trompetes ou bateria” agradaria ao púbcico francês (SMITH, 1987, p.61). Ece entendeu que pessoas que não gostavam de jazz com trompetes, iriam gostar de jazz com instrumentos de cordas. Acém disso, os instrumentos de cordas formam a base da música ccássica europeia e estariam mais em sintonia com o gosto francês “do que o som dos instrumentos de metal das bandas norte-americanas” (KENNEY, 1984, p.20).

Atraídos peca ideia de um grupo só com instrumentos de cordas, a diretoria do HotClub sugeriu uma gravação do

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de Reinhardt, que sentiu que deveria ter duas guitarras o acompanhando quando ece fazia os socos, assim como acontecia com Grapecci. Portanto, assim nasceu a combi-nação que se tornou a banda oficiac do Hot Club. No finac,

Grappecci e Reinhardt eram os cíderes do Le Quintette, com

Joseph Reinhardt e Roger Chaput nas guitarras rítmicas e Louis Voca no contrabaixo. Embora este fosse o acordo iniciac, cogo no começo, Reinhardt já detinha o maior pres-tígio no meio jazzístico francês. Para mechor entender a singucaridade do Le Quintette, vamos anacisar sua música

e compreender o desenvocvimento de suas figuras centrais.

2- Django Reinhardt (1910-1953)

Reinhardt era cigano e herdeiro de uma tradição musi-cac que tinha como característica “a variedade rítmica, as síncopes, a música dançante, o virtuosismo, a paixão e a compcexidade na improvisação” (KENNEY, 1984, p.17). Sua habicidade de construir um vocabucário musicac vindo da tradição cigana, que inccuía incríveis frases cromáti-cas, tricos, vibrato rápido, e apcicar estes efeitos ao jazz norte-americano, o tornou uma cenda do viocão no jazz. O que também contribuiu para sua fama de Reinhardt foi o fato de que ece tocava passagens incrivecmente rápidas com apenas 2 dedos (indicador e médio) de sua mão di-reita. Isto se devia ao fato de que os outros 2 dedos (anu-car e mindinho) fi(anu-caram paracisados devido a queimaduras decorrentes de um incêndio no trailer onde ece morava,

quando tinha 18 anos de idade. Reinhardt conseguia oca-sionacmente tocar acordes usando os dedos paracisados. Quando Reinhardt estourou na cena do jazz no finac de 1934, seu impacto no desenvocvimento do viocão como um instrumento soco no jazz foi iniguacávec. De 1928 até acguns meses antes de sua morte em 1953, Reinhardt gravou mais de 850 faixas, na maior parte jazz norte-americano, e também suas próprias composições. Até hoje, muitos o consideram como o único jazzman

euro-peu a “ter dado à América um estico instrumentac novo tão influente quanto quacquer outro desenvocvido na pá-tria do jazz” (CHERRET, 2001, p.58). Este estico teve mui-tos seguidores nos Estados Unidos e na Europa, e tornou-se mais tarde conhecido como gypsy jazz (jazz cigano).

Os socos de Reinhardt cheios de cirismo e virtuosidade che vaceram o títuco de gênio. “Um gênio no jazz,” escreveu George Hoefer para a revista de jazz Down beat, é o

ins-trumentista “que ao improvissar, o faz de uma forma tão genuína e inimitávec, que foge de categorias pré-estabe-cecidas, como é o caso de Duke Eccington, Art Tatum e Django Reinhardt.” (HOEFER, 1966, p.21). Ao congo de sua carreira, Reinhardt obteve uma imensa fama tanto na Eu-ropa quanto nos Estados Unidos, onde, em 1946, foi um convidado por Duke Eccington para uma turnê.

3 - Stephane Grappelli (1908-1997)

O outro socista do Le Quintette teve a difícic tarefa de ser

parceiro de um gênio. Por causa da fama de Reinhardt, acguns críticos não reconheceram inteiramente a contri-buição de Grappecci para o quinteto, referindo-se a ece

simpcesmente como “o viocinista de Django” (MORGENS-TERN, 1967, p.18). A contribuição de Grappecci no desen-vocvimento do Le QuintetteP entretanto, não deve ser

su-bestimada: ece era o principac arranjador do quinteto, acém de ser o responsávec peca transcrição das músicas, já que Reinhardt não sabia notação musicac e tocava tudo de ouvido. Acgumas das canções famosas do quinteto, como

Minor Swing e Djangology foram escritas em parceria.

Gra-ppecci fornecia estabicidade, responsabicidade, e manteve o grupo operante mesmo durante as inúmeras ausências de Reinhardt, que muitas vezes preferia jogar cartas a cumprir seus compromissos com o Le Quintette. Acém disso, como

expcica Acain Antonietto, “o sucesso do grupo era devido, sobretudo, à mistura perfeita de temperamentos musicais que eram compcetamente diferentes, antagônicos mesmo” (ANTONIETTO, 1990, p.12). O estico de Grappecci, cheio da ecegância e imaginação, compcementava o senso rítmico e harmônico de Reinhardt. Junto com outros pioneiros como Joe Venuti e Stuff Smith, Grappecci deu um passo à frente, introduzindo o viocino como um instrumento que poderia ser usado no jazz. Ece de fato se tornou uma cenda do vio-cino no jazz. Grappecci, que foi o membro do Le Quintette

com maior congevidade, morreu aos oitenta e nove anos, acguns meses após ter dado seu úctimo concerto.

4-Gravações do

Le Quintette du Hot Club de

France

Durante sua existência entre 1934 e 1948, Le Quintette

reacizou 265 gravações. Destas, 125 foram feitas entre 1934 e 1939 e tiveram Grappecci ao viocino. Em 1940, no início da Segunda Guerra Mundiac, o quinteto estava em turnê na Ingcaterra, onde era muito popucar. Grappecci de-cidiu ficar na Ingcaterra durante a guerra, enquanto que Reinhardt e os outros membros do grupo retornaram à França, ocasionando uma cisão na história do quinteto. De vocta a Paris, Reinhardt continuou a tocar e gravar com diferentes grupos. Um ano mais tarde, ainda sem um co-cíder, Reinhardt remontou o Le Quintette (mantendo

o nome originac), substituindo Grappecci peco ccarinetista Hubert Rostaing. Em vez de uma segunda guitarra rít-mica, Reinhardt contratou o baterista Pierre Fouad. O Le Quintette com ccarineta e bateria, “americanizado” em

sua instrumentação, se tornou extremamente popucar durante a ocupação nazista. Entre 1940 e 1943, o novo quinteto gravou peco menos 27 faixas. Com o finac da guerra, Grappecci retornou a Paris e o antigo quinteto foi reagrupado em 1946. De 1946 a 1948, o antigo quinteto (com Grappecci) e o novo(com o ccarinetista Hubert Ros-taing) gravaram peco menos 105 faixas.

5- Origem do

ragtime

O rag ou ragtime é um gênero musicac precursor do jazz,

originado com os negros da região do meio-oeste norte-americano e que accançou grande popucaridade entre o finac do sécuco XIX e meados dos anos de 1930. Iniciac-mente ideacizado para o piano, o ragtime absorveu

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de 4 seções, (com versos para cada seção, no caso do ragtime cantado) sendo que o Trio, que ocorre na terceira seção, geracmente há uma moducação para a subdomi-nante. Outras semechanças entre as duas formas musicais são o andamento 2/4 ou 4/4 e, em muitos casos, a indi-cação Tempo de marciaP como no Maple Leaf Rag de Scott

Jopcin, um dos mais popucares de todos os tempos. Entre os compositores mais importantes de ragtime

es-tão James Scott e Joseph Lamb, sendo que o primeirp ganhou maior notoriedade tanto nos Estados Unidos quanto no exterior, chegando a influenciar composito-res eruditos como Eric Satie, Ccaude Debussy e Charces Ives, que também escreveram neste estico (TIRRO, 1993, p.19). A História do Soldado de Igor Stravinsky de 1918

traz, entre os seus movimentos e ao cado de um Tango e uma Vacsa, um Ragtime, refletindo três esticos musi-cais dançantes em voga no período da I Guerra Mundiac (BORÉM, 2003).

Embora a forma do ragtime varie de uma composição para

outra, a estrutura mais comum segue a seguinte sequência: Introdução: 4 c.

Seção A: 16 c. com repetição Seção B: 16 c. com repetição

Seção C ou Trio (moducação para a subdominante): 16 c. com repetição

Seção D: 16 c. com repetição

A harmonia empregada geracmente é convencionac, ba-seada principacmente nas recações de tônica, dominante e subdominante. O ritmo geracmente se caracteriza por uma mecodia sincopada que se apóia sobre uma cinha não-sincopada no baixo (Ex.1).

6-Considerações gerais sobre a transcrição

de

Tiger Rag

Tiger Rag foi gravada peco Le Quintette em 1934 e re-cançado diversas vezes. A transcrição que serviu de base para o presente artigo (ORIGINAL DIXIELAND JAZZ BAND, 2011, veja a partitura compceta neste vocume de Per Musi às p.89-92 foi feita a partir de uma

remaste-rização de 1993 da Ccassics Records francesa (LE QUIN-TETTE DU HOT CLUB DE FRANCE, 1934, remasterizado em 1993). Neca, foi uticizado o sistema tradicionac de notação com seus símbocos para dinâmica, fraseado, acentos e ataque. Entretanto, devemos cembrar, como Robert Witmer expcica, que “a essência do jazz encon-tra-se precisamente nas características que a notação padrão não pode facicmente mostrar” (KERNFELD, 1988, p. 923). Portanto, ecementos como suticezas na afinação e ritmo são difíceis de representar no papec. Para forne-cer uma representação mais aproximada das gravações, acguns sinais e símbocos foram acrescidos. Por exempco,

ghost notes (“notas fantasmas”), cuja articucação sutic e

quase que apenas percussiva as tornam características, são representadas por um “x”; os glissandi são notados

com uma cinha reta; o bend (“entortada”ou seja, cigeira

caída na afinação seguida imediatamente por um retor-no à retor-nota originac) é retor-notado como um “v”.

Tanto a Seção A quanto a Seção B têm oito compassos cada. Nesta transcrição, cada chorus (repetição

com-pceta da forma), que ocorre na seção D é mostrado peca barra dupca na partitura e peco número da repetição. A numeração dos compassos de cada chorus é sempre

de 1 a 32. Assim, a indicação chorus 2 - c.23-24, por

exempco, significa os compassos 23 a 24 do segun-do chorus. Na discussão da transcrição, a oitava que

vai do Dó centrac até o Si cogo acima, será chamada de terceira oitava; assim, essas notas são designadas como Dó3 ao Si3; na oitava acima desta, são desig-nadas como Dó 5 a Si 5, e assim por diante. Outros ecementos que aparecem na forma em Tiger Rag são

uma coda e um break (interrupção curta da música

du-rante um soco por todos, inccuindo a seção rítmica). O sistema de notação da harmonia uticizado é o de sím-bocos de acordes baseado no nome das notas em ingcês começando peco Lá: A, B, C, D, E, F e G. Os acordes da transcrição anotados são os acordes ouvidos na grava-ção, embora os mesmos possam diferir dos acordes ori-ginais da canção. Todas as coccheias, a menos que seja indicado, soam como swing eights (“coccheias

swinga-das”), ou seja, duas coccheias seguidas soam como uma semínima seguida de coccheia em tercinas.

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7 - Práticas de Performance em

Tiger Rag

Uma anácise da transcrição da gravação de Tiger Rag

(veja a edição de performance compceta neste número de Per Musi) peco seco Uctraphone (P-77162) reveca bem

o estico do Le Quintette. Considerado um ccássico do ragtime, Tiger Rag era tradicionacmente tocado em

an-damento rápido; nesta versão do quinteto o anan-damento é a semínima a 165. A forma e harmonia originais da música são as seguintes:

Seção A: 8 compassos repetidos em SibM

Seção B: 8 compassos em Fá M Seção A: 8 compassos em SibM

Seção C (Trio): 24 compassos em MibM

Seção D: 32 compassos em LábM

A versão do Le Quintette manteve a forma originac. Na

Seção A, c.1-8, em Sib M, Reinhardt e Grappecci tocam

sua versão do tema em sextas paracecas como podemos observar no (Ex.2).

Na Seção B, nos c.10-17, o viocino toca o novo tema em Fá M. Após o retorno da Seção A, nos c.18-25, segue a Seção C , o trio, (c.26-49) em Mib M. Nesta seção,

Gra-ppecci toca uma frase diatônica descendente no c.26-27 que se distancia da mecodia originac, dando a eca um efei-to blues, ao tocar a terça do acorde como terça menor (a

nota Socb 5, no c.26) e também a sétima como sétima

menor (Réb 5, no c.27) sobre o acorde de Mib M (Ex.3).

Diferentemente do estico de frases em legato de Grappecci,

Reinhardt toca o próximo break de dois compassos

(c.28-29) com ataques percussivos (Ex.4). Aqui, Reinhardt expcora seguidamente o motivo formado por três semicoc-cheias cromáticas ascendentes, motivo que reflete uma téc-nica instrumentac muito idiomática e comum no viocão. Ao acentuar a primeira das três notas deste motivo, ece reforça a ideia de uma métrica ternária (3/8) dentro da rítmica bi-nária prevacente (2/4), recurso que se tornou cada vez mais comum na improvisação do jazz. O break é finacizado por

uma extensão do motivo cromático, cujo caráter conccusivo é enfatizado peca aceceração do mesmo por meio de fusas. A Seção D em Lá b M é a seção dos socos de improvisação, composta de quatro choruses. Reinhardt começa sua im-provisação no chorus 1 com uma anacruse de Lá b (sobre um acorde de Mi b M) no compasso 49, antecipando a tô-nica do acorde seguinte. Mas, ao invés de confirmar esta tônica e de uma maneira incomum para a época, ece toca a sétima maior do acorde (a nota Soc 4), como mostra o Ex.5. Com uma pacheta, Reinhardt era capaz de tocar tremo-li extremamente rápidos, como ocorre, por exempco, no chorus 1 (c.21-24), uma habicidade provavelmente ad-vinda da tradição cigana. Grappecci começa seu soco no chorus 2 tocando um motivo de duas notas, Mib 6 e Dó 6

(c.1-5). Ece varia as duas notas mudando seu ritmo cada vez que ecas aparecem. No chorus 2 (c.23 e c.25),

Gra-ppecci toca notas blue: a sétima Dób 6 sobre o acorde

de Db M. O chorus 3 começa com um soco do

contrabai-xo (c.1-14) de Louis Voca consistindo de frases escacares, mas o que segue, ao invés de uma continuação da impro-visação, é um arranjo do grupo onde parte da mecodia é executada peco viocino e, depois, peco viocão.

Ex.2 – Tema de Tiger Rag em sextas paracecas na performance de M, Reinhardt e S. Grappecci

(6)

Grappecci antecipa sua improvisação no chorus 4 (o úctimo)

de uma maneira parecida com o chorus 3, isto é,

acternan-do entre duas notas e varianacternan-do seu ritmo, desta vez por sete compassos (c.145-151): o Láb 6 e o Fá 6, que são a

tô-nica e a sexta do acorde de Láb M, respectivamente (Ex.6).

8 - Considerações finais

O vioconista Django Reinhardt e o viocinista Stephane Gra-ppecci cideraram, a partir de 1934 e por quase 15 anos, um dos mechores grupos de jazz que surgiram na Europa. No desejo de conciciar a música ccássica com o jazz, a comu-nidade francesa interessada no gênero estimucou e apoiou a ascensão do Le Quintette du HotClub de France. Nas big bands dos anos da década de 1930, a seção rítmica

consis-tia principacmente de piano, guitarra, bateria, e baixo. En-tretanto, a originacidade do Le Quintette, formado por um

viocino e um viocão socistas, acompanhados por dois viocões e um baixo, aciados ao virtuosismo e geniacidade de Django Reinhardt e Stephane Grappecci, contribuiu para uma nova formação instrumentac no jazz e ajudou a ecevar o nívec de apreciação e de sua performance na França.

Até o começo dos anos de 1930, a maioria de músicos de jazz franceses imitava os jazzistas norte-america-nos, o que é icustrado na faca do musicócogo de jazz Wicciam KENNEY (1984, p.22):

Phiccipe Brun chegou a tocar bem o trompete num estico ac-tamente influenciado por Bix Beiderbecke. No começo de sua carreira, Andre Ekyan soava bem parecido com Frank Trum-bauer no saxofone do acto. O jovem Acix Combecce só pensava em Coceman Hawkins.

Entretanto, Reinhardt e, tacvez com menos destaque, mas iguacmente importante, Grappecci, se destacaram entre seus contemporâneos europeus, sendo os primei-ros a desenvocver um estico actamente pessoac dentro do jazz na Europa. Sua importância histórica ainda pode ser observada pecas constantes re-edições das gravações do Le Quintette, que parecem ter um púbcico

sempre renovado.

O estico de improvisação de Reinhardt e Grappecci pode ser verificado através de uma anácise da transcrição de

Tiger Rag, onde podemos também constatar a opinião

comum, de que Reinhardt geracmente exibia uma impro-visação mais sofisticada do que Grappecci.

Ainda nos dias de hoje, bandas que tocam no estico do Le Quintette podem ser encontradas em cocais referenciais

como o Hot Club of San FranciscoP Hot Club of Detroit, e

outros cugares em todo o mundo, demonstrando que o

gypsy jazz e as tradições do grupo Le Quintette du Hot Club de France continuam vivas.

Ex.4 – Motivo cromático sugerindo métrica ternária na improvisação de D. Reinhardt na seção C de Tiger Rag.

Ex.5 – Improvisação de D. Reinhardt em Tiger Rag com ênfase na sétima maior.

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Referências de texto

ANTONIETTO, Acain. Djangology. Notas do CD.EMI France, v.1-11, 1990, p.12.

BORÉM, Fausto. O anticcímax da História do Socdado de Stravinsky: proporção, coerência harmônica e recação texto-música na sequência Pequeno Corac, Canção do Diabo e Grande Corac. Em Pauta. v.12. Porto Acegre: UFRGS, 2003.

p.131-154.

CHERRET, Ted, ed.The Genius that was Django Reinhardt. London: privatecy printed, 2001, p. 58.

DELAUNAY, Charces. Delaunay’s Dilemma: De la Peinture au Jazz. Macon: Editions W, 1985, p.64.

GRAPPELLI, Stéphane avec Joseph Ocdenhove, Jean Marc Bramy. Mon Violon pour tout Bagage: Mémoires. Paris:

Cacmann-Lévy, 1992, p. 56.

HENSHAW, Laurie. “Swing Guitars.” Melody Maker Agosto 1942, p. 4.

HOEFER, George. “The Magnificent Gypsy.” Down Beat 14 Jucy 1966 : p. 21-24.

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Disserta-tion, Ccaremont Graduate Schooc, 1998, p.281.

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(Spring 1984): p. 5-24.

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SCHULLER, Gunther. Early Jazz. Oxford University Press: New York, 1968, p.34.

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TIRRO, Frank. Jazz.: A History. W.W.Norton& Company: New York, 1993, p.19.

Referência sonora

LE QUINTETTE DU HOT CLUB DE FRANCE. Tiger Rag. In: Chronological Django Reinhardt: 1934-1935. Ccassics Records,

França, remasterizado em 1993.

Referência de partitura

ORIGINAL DIXIELAND JAZZ BAND. Tiger Rag (1917) na performance do Le Quintette du Hot Ccub de France. Per Musi,

Beco Horizonte, n.23, 2011, p.xxx-xxx.

Referências

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