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Academic year: 2017

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Introdução

O nível de aptidão física

afeta o desempenho do árbitro de futebol?

CDD. 20.ed. 613.7 796.022 796.33

Caio Max Augusto VIEIRA* Eduardo Caldas COSTA** Marcelo Saldanha AOKI***

*Departamento de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Norte;

**Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte;

* * * E s c o l a d e A r t e s , C i ê n c i a s e H u m a n i d a d e s , Universidade de São Paulo.

Resumo

Os objetivos do presente estudo foram: a) descrever a demanda física imposta aos árbitros de futebol brasileiros durante partidas oiciais e b) analisar se o nível de aptidão física interfere no desempenho da arbitragem. Os árbitros (n = 11) foram avaliados durante jogos oiciais (n = 21) do campeonato Potiguar 2009. A média de idade foi de 36,36 ± 6,34 anos. A distância percorrida, a velocidade (média e máxima) e a frequência cardíaca (média e máxima) foram registradas durante as partidas. A análise da arbitragem foi realizada por avaliador credenciado pela Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol (FNF), seguindo os critérios estabelecidos pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A distância percorrida, a velocidade e a frequência cardíaca foram, respectivamente, 10,50 ± 0,35 km, 6,43 ± 0,26 km/h (média), 19,84 ± 1,56 km/h (máxima), 162,77 ± 7,44 bpm (média) e 182,22 ± 7,72 bpm (máxima). Foi evidenciada correlação signiicativa entre o O2máx e a distância percorrida no segundo tempo (r = 0,517) (p ≤ 0,05). O O2máx também apresentou correlação com a velocidade máxima de deslocamento (r = 0,506) (p ≤ 0,05). Já o percentual de gordura apresentou correlação negativa com a velocidade máxima no segundo tempo (r = -0,471) (p ≤ 0,05). Foi detectada correlação positiva entre o desempenho da arbitragem e o O2máx (r = 0,530) (p ≤ 0,05). Com relação ao percentual de gordura, o mesmo apresentou correlação negativa com o desempenho do árbitro (r = -0,496) (p ≤ 0,05). Os resultados do presente estudo indicam que os árbitros de futebol são submetidos à alta sobrecarga física/isiológica durante as partidas. Os resultados obtidos também sugerem que os parâmetros associados com a aptidão física (composição corporal e o O2máx) podem interferir no desempenho da arbitragem.

UNITERMOS: Árbitros de futebol; Demanda física; Composição corporal; Consumo máximo de oxigênio.

O futebol é um dos esportes mais praticados no mundo. Em 2003, cerca de 220 milhões de pessoas foram consideradas membros ativos da Federation Inter-nationale de Football Association (FIFA), sendo que 150 milhões eram jogadores (homens e mulheres) em algum nível competitivo (Castagna, abt & D’OttaviO, 2007).

Nas últimas décadas, o futebol experienciou signi-icativo avanço do proissionalismo (gOmes & sOuza,

2008). Essas mudanças ocorridas nos últimos anos, principalmente em função das maiores exigências físi-cas, intensiicaram a carga de treinamento imposta aos atletas (COhen, abDalla, ejnisman & amarO, 1997).

Sem dúvida, este maior nível de exigência física alterou o padrão de jogo, tornando-o mais rápido e intenso (metaxas, KOutlianOs, KOuiDi & Deligiannis, 2005).

Neste contexto do futebol moderno, é plausível assumir que a demanda física dos árbitros também tenha sofrido aumento. Para atender esse novo padrão, o desenvolvimento da aptidão física especíica para o futebol se torna fundamental. E, nesse processo, me-recem destaque a composição corporal, a potência ae-róbia e a potência anaeae-róbia. Entretanto, por não fazer parte, de forma importante, da economia do futebol, a preparação dos árbitros tem sido negligenciada ao longo dos anos (Castagna, abt & D’OttaviO, 2007).

Recentemente, alguns estudos avaliaram o desem-penho dos árbitros em testes físicos (bartha, PetriDis,

hamar, Puhl & Castagna, 2009; Castagna, abt

& D’OttaviO, 2002a, 2002b, 2005; Castagna, abt,

(2)

Métodos

Amostra Procedimentos

Avaliações físicas

(Castagna & abt, 2003; Castagna, abt & D’OttaviO,

2004; Castagna & D’OttaviO, 2001; D’OttaviO &

Castagna, 2001; mallO, navarrO, garCía-aranDa,

gilis & helsen, 2008; tessitOre, COrtis, meeusen &

CaPraniCa, 2007) e as relações existentes entre a

perfor-mance obtida nos testes físicos e a atuação durante os jogos (Castagna, abt & D’OttaviO, 2002a, 2002b; Castagna

& D’OttaviO, 2001). No entanto, apesar do local de

destaque do futebol brasileiro no cenário internacional, os estudos com árbitros brasileiros são escassos.

Castagna, abte D’OttaviO (2004) demonstraram

que os árbitros de elite do campeonato italiano (série A) são os que percorrem maior distância durante os jogos (~13 km), seguidos pelos árbitros europeus (sem contabilizar os italianos) que atuam na Union of European Football Associations (UEFA) (~11,5 km). Alguns estudos internacionais reportaram que durante partidas oiciais os mesmos se deslocam entre 41,8 e 73,8% do tempo em baixa intensidade (3-13 km/h), 11 a 46,3% em média intensidade (>13-18 km/h) e 4,1 a 17,7% em alta intensidade (>18 km/h) (Castagna,

abt & D’OttaviO, 2007). Somado a isso, a cada quatro

segundos, aproximadamente, há alteração no modo de deslocamento, totalizando ~1.300 mudanças. Desse total ~45% e ~12%, respectivamente, ocorrem em baixa e alta intensidade (KrustruP & bangsbO, 2001).

No que se refere ao peril geral do árbitro de fu-tebol, os dados supracitados devem ser levados em consideração, visto que esses indivíduos apresentam em média 15-20 anos a mais que os jogadores. Além disto, geralmente, os mesmos atuam de forma amadora e não podem ser substituídos durante as partidas (Castagna, abt & D’OttaviO, 2007).

Portanto, diante da importância do árbitro para o jogo de futebol e da carência de trabalhos nacionais acerca da análise de desempenho desses proissionais durante partidas oficiais, o objetivo do presente estudo foi descrever o comportamento de parâmetros relacionados à demanda física (distância percorrida, velocidade e frequência cardíaca) imposta aos árbitros em jogos oficiais e verificar possíveis associações destes parâmetros com componentes da aptidão física (composição corporal e potência aeróbia). Além disso, considerando o aumento das demandas físicas do futebol, é plausível especular que o condicionamento físico dos árbitros influencie a qualidade da sua arbitragem. A im de testar esta hipótese, o presente trabalho também investigou o nível de correlação entre a composição corporal e a potência aeróbia com o desempenho da arbitragem nas partidas, avaliado pelos critérios estabelecidos no “Manual do observador” da Confederação Brasileira de Futebol (CBF, 2007).

A amostra do estudo foi composta por 11 árbitros proissionais (sexo masculino; 36,36 ± 6,34 anos; IMC = 24,54 ± 1,80 kg/m²; percentual de gordura = 16,45 ± 3,90%; O2máx = 44,98 ± 2,67 ml/kg/min, e; tempo de experiência = 8,90 ± 4,25 anos) do quadro “A” da Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol (FNF). Todos os voluntários foram escalados para arbitrar, pelo menos, um jogo do campeonato Potiguar proissional da temporada de 2009. Os critérios de inclusão adotados foram: apresentar pelo menos três anos de experiência no quadro “A” da FNF e não apresentar nenhuma alteração osteomioarticular que limitasse parcial e/ou totalmente a realização dos testes físicos. Todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Protocolo de no 282/09).

Inicialmente, foram realizadas a avaliação da composição corporal e o teste de 2.400 metros. Isso ocorreu nos dias de treinamento comum a todos, na última semana antes do início do campeonato Potiguar de 2009. As coletas referentes à análise da demanda física nas partidas ocorreram de acordo com a escala de arbitragem determinada pela FNF, sem que isso causasse qualquer alteração no cronograma da mesma.

Foram realizadas as medidas da massa corporal (kg), estatura (m), IMC (kg/m2) e percentual de gordura.

O cálculo do percentual de gordura foi efetivado por avaliador experiente através da plicometria (adipômetro Lange® cientíico com variação de 0,1 mm), através do protocolo de jaCKsOn e POllOCK (1978) de sete dobras

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Resultados

Os dados referentes à demanda física imposta aos árbitros nas partidas do campeonato Potiguar de 2009 são apresentados na TABELA 1.

Na TABELA 2 estão dispostos, separadamente, dados relacionados às exigências físicas referentes ao primeiro e ao segundo tempo de jogo. É possível observar que a velocidade média de deslocamento, assim como a frequência cardíaca média foram superiores no primeiro tempo (p ≤ 0,05).

Na TABELA 3 encontra-se a análise de correlação entre as variáveis relacionadas às demandas da

Avaliação da demanda física durante as partidas

Para avaliação da demanda física imposta aos árbitros durante as partidas foram estabelecidas as se-guintes variáveis: distância percorrida (km), velocidade média e máxima (km/h), frequência cardíaca média e máxima (bpm). Para coleta das variáveis relacionadas com a demanda física durante os jogos foi utilizado um GPS (Global Positioning System) de pulso (Gar-min® modelo Forerunner 405) com cardiofrequen-címetro acoplado. Os árbitros foram, previamente, instruídos sobre o manuseio do equipamento.

Análise do desempenho da arbitragem

A análise do desempenho dos árbitros foi reali-zada por três avaliadores oiciais credenciados pela FNF. Por haver mais de uma partida por “rodada” no campeonato, somente um avaliador foi responsável por avaliar o desempenho da arbitragem em cada partida. Como instrumento avaliativo foi usado o “Manual do observador”, ferramenta padrão - ins-tituída pela CBF - para esse propósito.

Foram contemplados três aspectos para análise de desempenho do árbitro, tendo cada um, tópicos espe-cíicos: a) aspecto técnico: 1) posicionamento com bola em jogo, 2) posicionamento com bola fora de jogo, 3) aplicação correta e coerente das regras, 4) coerência nos critérios das decisões, 5) utilização adequada das sinali-zações, 6) utilização do som do apito, 7) agilização do jogo, 8) interpretação das vantagens, 9) interpretação

da indicação do impedimento e 10) integração com os árbitros assistentes e o quarto árbitro; b) aspecto disci-plinar: 11) autoridade constante em campo, 12) arbitra-gem preventiva, 13) controle emocional, 14) aplicação correta das advertências (cartão amarelo), 15) aplicação correta das expulsões (cartão vermelho), 16) postura na aplicação dos cartões e 17) presença nas jogadas, e; c) aspecto físico: 18) resistência física durante a partida, 19) velocidade (deslocamento rápido) e 20) aceleração.

Para avaliação do desempenho geral da arbi-tragem adotou-se a recomendação da CBF. Cada aspecto supracitado (técnico, disciplinar e físico) foi avaliado através de seus tópicos corresponden-tes. Nesse sentido, o avaliador da partida deiniu um escore variando de 0-10 para cada um dos 20 tópicos supracitados (ex. aspecto técnico, tópico 1. posicionamento com bola em jogo = 7,0). Após isso, todos os escores foram somados e divididos por 20, sendo deinida, portanto, a nota inal do árbitro na partida. No tocante à análise do aspecto físico isoladamente, os escores de resistência, velocidade e aceleração foram somados e divididos por três, obe-decendo ao mesmo critério deinido previamente.

Análise estatística

Para caracterização e disposição dos resultados foi utilizada a estatística descritiva (média e desvio-padrão). Todas as variáveis apresentaram distribuição normal, veriicado através do método Shapiro-Wilk. Para análise de diferença (primeiro vs. segundo tempo) foi utilizado o teste t de Student pareado. Para análise de correlação das variáveis analisadas foi utilizado o coeiciente de correlação de Pearson. O pacote estatístico SPSS® versão 15.0 foi utilizado para esses ins, sendo adotado um p-valor ≤ 0,05 como signiicância estatística.

partida e as variáveis da aptidão física (composição corporal e resistência aeróbia). Houve correlação positiva do O2máx com a distância percorrida no segundo tempo da partida, a velocidade máxima atingida no segundo tempo de jogo e a velocidade máxima durante a partida toda (p ≤ 0,05). O percentual de gordura apresentou correlação negativa com a velocidade máxima empregada no segundo tempo de jogo (p ≤ 0,05). Além disso, foi detectada correlação negativa entre o percentual de gordura e o O2máx (p ≤ 0,01).

2.400 metros (realizado em terreno plano) proposto por margaria, aghemO e Piñera limas (1975) foi

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Demanda física imposta aos árbitros de futebol durante partidas do Campeonato Potiguar 2009.

TABELA 1

-TABELA 4 - Correlação da capacidade cardiorrespiratória e composição corporal com desempenho de arbitragem.

bpm = batimentos por minuto.

* = diferença estatisti-camente significativa (p-valor ≤ 0,05).

VO2máx = consumo má-ximo de oxigênio; * = p-valor ≤ 0,05; ** = p-valor ≤ 0,01;

Na TABELA 4 são apresentados os resultados referentes à análise de correlação da composição corporal e do O2máx com o desempenho da arbitragem.

É possível observar que o desempenho físico e geral dos árbitros se correlacionou, negativamente, com o percentual de gordura e, positivamente, com o O2máx.

Variáveis Média ± Desvio-padrão

Duração da partida (min) 95,66 ± 1,90

Distância percorrida (km) 10,50 ± 0,35

Velocidade média (km/h) 6,43 ± 0,26

Velocidade máxima (km/h) 19,84 ± 1,56

Frequência cardíaca média (bpm) 162,77 ± 7,44

Frequência cardíaca máxima (bpm) 182,22 ± 7,72

TABELA 2 - Demanda física imposta aos árbitros de futebol durante partidas do campeonato Potiguar 2009: primeiro vs. segundo tempo de jogo.

Variáveis 1o tempo 2o tempo p-valora

Duração (min) 46,84 ± 1,12 48,82 ± 1,22 < 0,001*

Distância percorrida (km) 5,22 ± 0,14 5,27 ± 0,31 0,577

Velocidade média (km/h) 6,57 ± 0,40 6,29 ± 0,35 0,037*

Velocidade máxima (km/h) 19,79 ± 1,57 19,89 ± 2,11 0,826

Frequência cardíaca média (bpm) 164 ± 7,80 161,55 ± 7,87 0,040* Frequência cardíaca máxima (bpm) 181,85 ± 7,17 182,60 ± 8,53 0,294

TABELA 3 - Correlação entre índices de demanda física nos jogos, capacidade cardiorrespiratória e composição corporal.

VO2máx = consumo má-ximo de oxigênio; * = p-valor ≤ 0,05; ** = p-valor ≤ 0,01;

Variáveis

% de Gorduraa

O2máxa

Distância 1o Tempo (km) 0,252 - 0,140

Distância 2o Tempo (km) - 0,429 0,517*

Distância Total (km) - 0,278 0,376

Velocidade Média 1o Tempo (km/h) 0,125 - 0,054

Velocidade Média 2o Tempo (km/h) - 0,268 0,322

Velocidade Média Total (km/h) - 0,086 0,179

Velocidade Máxima 1o Tempo (km/h) - 0,148 0,279

Velocidade Máxima 2o Tempo (km/h) - 0,471* 0,533*

Velocidade Máxima Total (km/h) - 0,391 0,506*

% de Gordura - - 0,868**

Variáveis

Desempenho da arbitragem % de Gordura O

2máx

Nota referente ao aspecto físico -0,758** 0,748**

(5)

O presente estudo teve como objetivo descrever a demanda física imposta aos árbitros de futebol durante partidas oiciais. Além disto, outro objetivo do estudo foi investigar a inluência do nível de aptidão física sobre o desempenho da arbitragem. Os principais achados foram: a) os parâmetros relacionados à demanda física da partida (distância percorrida, velocidade e frequência cardíaca) apre-sentaram comportamento similar em comparação ao, previamente, observado em árbitros interna-cionais, caracterizando o alto padrão de demanda física destes proissionais, b) o critério de avaliação da arbitragem relacionado ao aspecto físico apresen-tou correlação com o O2máx (r = 0,748) e com o percentual de gordura (r = -0,758) e c) com relação à nota geral atribuída à arbitragem, também foram observadas correlações com o O2máx (r = 0,530) e com o percentual de gordura (r = -0,496).

A média de idade observada foi semelhante à encontrada por Da silva e rODriguez-añes (2001)

em árbitros paranaenses (34,5 anos) e rOntOYannis,

staliKas, sarrOs e vlastaris (1998), ao avaliar árbitros

gregos (36,3 anos). Esses autores apontam ainda que a idade dos árbitros, quando comparada com a dos atletas, é superior em cerca de 10 anos, e que essa diferença é menor em outros esportes. Castagna, abte D’OttaviO

(2007) reportam delta ainda maior nesse aspecto, diferença de 15-20 anos entre os atletas e os árbitros.

Com relação à composição corporal, o valor médio de percentual de gordura observado (16,5%) é muito semelhante ao encontrado no trabalho de rOntOYannis

et al. (1998) (16,7%) e Da silva e rODriguez-añes

(2003) (17,3%). Apesar do número de estudos com esse foco de investigação ser limitado, os dados dispo-níveis indicam que o nível de adiposidade da amostra avaliada encontra-se próximo aos índices observados na elite internacional (helsen & bultYnCK, 2004).

A respeito da demanda física imposta aos árbitros, os resultados reportados parecem corroborar os dados apresentados na literatura internacional. Tem sido relatado que os árbitros de futebol percorrem apro-ximadamente 10 km em partidas oiciais em uma intensidade média de 85-90% da frequência cardíaca máxima (Castagna, abte D’OttaviO, 2007).

A média da distância percorrida (~10,5 km) pelos árbitros potiguares foi superior ao valor médio percorrido por árbitros da primeira divisão australiana e inglesa (9,4 km) (Catterall, reillY, atKinsOn &

COlDWells, 1993; jOhnsOn & mCnaughtOn,

1994), árbitros brasileiros - série A e B - (9,15 km)

Discussão

(Da silva, FernanDes & FernanDez, 2008) e árbitros

dinamarqueses (10 km) (KrustruP & bangsbO,

2001). Entretanto, os árbitros avaliados no presente estudo apresentaram valores inferiores aos percorridos por árbitros italianos da primeira divisão do Calcio (11,4 km e 13 km) (Castagna, abt &D’OttaviO,

2004; D’OttaviO & Castagna, 2001) e europeus

(não-italianos) iliados a UEFA (11,2 km) (Castagna

& D’OttaviO, 2001). Essa distância é semelhante

à percorrida pelos jogadores (meio-campistas) que mais se movimentam durante as partidas (stOlen,

Chamari, Castagna & WislOFF, 2005).

É importante salientar que pelo fato do futebol ser uma modalidade acíclica aberta, diversos fatores devem inluenciar o volume de deslocamento do árbitro na partida, tais como o padrão tático das equipes, condições climáticas, situações especíicas de jogo, estado de fadiga dos jogadores, entre outros. Esses fatores poderiam explicar a grande variabili-dade no padrão de deslocamento nas investigações acima citadas. Além disso, a própria condição física do árbitro inluencia na quantidade de deslocamento durante os jogos (Castagna, abt & D’OttaviO,

2002a; Castagna &D’OttaviO, 2001).

Diante da alta demanda física imposta aos árbitros, a capacidade cardiorrespiratória parece ser fundamental para o desempenho dos mesmos. Já é sabido que o VO2máx é o melhor indicador de capacidade cardiorres-piratória (aCsm, 2000). Castagna, abte D’OttaviO

(2007) e stOlen et al. (2005) apontam que o árbitro

de futebol proissional possui em média 45-50 ml/kg/ min de O2máx. Os resultados dos árbitros potigua-res encontram-se dentro desse peril. De fato, já foi observado que o nível adequado de VO2máx parece in-luenciar diretamente o desempenho físico dos árbitros durante as partidas (Castagna & D’OttaviO, 2001).

Somado a isso, dada a forte correlação encontrada entre o percentual de gordura e o O2máx nos árbitros da FNF, a composição corporal é outro aspecto que deve ser considerado na avaliação física destes proissionais.

Castagna e D’OttaviO (2001) veriicaram que

árbitros italianos com maior O2máx percorreram maiores distâncias nos jogos, além de terem perma-necido mais tempo em maior intensidade de desloca-mento e menos tempo em repouso. Ainda nessa linha,

Castagna, abte D’OttaviO (2002a) veriicaram, em

(6)

reportados no presente estudo parecem conirmar tais achados, haja vista que houve correlação positiva entre o O2máx e a distância percorrida no segundo tempo. Da mesma forma, o O2máx também apre-sentou correlação positiva com a velocidade máxima de movimentação.

A investigação referente à associação entre a potência aeróbia e o desempenho nas partidas poderia avançar, signiicativamente, através de padronização dos testes empregados nos estudos. No presente estudo foi uti-lizado o teste de 2.400 m, pela facilidade de aplicação e interpretação dos resultados. Entretanto, no cenário internacional os trabalhos têm realizado, preferen-cialmente, testes intermitentes, como o “Yo-Yo Inter-mittent Recovery Test”, por apresentar características semelhantes ao futebol (Castagna, abt &D’OttaviO,

2007; KrustruP, mOhr, nYbO, jensen, nielsen &

bangsbO, 2006). Sem dúvida, essa é uma limitação do

presente estudo. Castagna, abte D’OttaviO (2005)

veriicaram que o teste de corrida de 12 minutos não foi capaz de detectar diferença no desempenho aeróbio de árbitros de nível alto (série A e B do campeonato italiano), médio (série C) e baixo (série D). Já o “Yo-Yo Intermittent Recovery Test” mostrou-se bastante sensível para detectar estas diferenças.

No que diz respeito à análise dicotômica entre o primeiro e o segundo tempo de jogo, só foi veriica-da diferença entre a velociveriica-dade média e a frequência cardíaca média (p-valor ≤ 0,05). Estes resultados são conlitantes aos apresentados previamente na literatura.

Castagnae D’OttaviO(2001) veriicaram diferença na

distância percorrida por árbitros italianos nos diferentes tempos de jogo, havendo queda de 6% na segunda etapa (5,9 vs. 5,6 km). D’OttaviOe Castagna (2001)

avaliando árbitros da primeira divisão da Itália, obser-varam dados semelhantes, com diminuição de 4,1% no segundo tempo (5,8 vs. 5,6 km). Entretanto, Da

silva, FernanDese FernanDez (2008), ao monitorar

árbitros brasileiros, não encontraram diferença na dis-tância percorrida durante a primeira e a segunda etapa (4,6 vs. 4,5 km).

Apesar da redução na velocidade e na frequência cardíaca média dos árbitros durante o segundo tempo, a velocidade máxima e a frequência cardíaca máxima, indicadores de movimentação em alta intensidade, permaneceram semelhantes aos valores observados no primeiro tempo. Tal fato parece corroborar os achados de Castagna e D’OttaviO

(2001) e Da silva, FernanDes e FernanDez

(2008) que não observaram diferença na distância percorrida em intensidade máxima entre o primeiro e o segundo tempo. D’OttaviO e Castagna (2001),

entretanto, encontraram maior distância percorrida em velocidade máxima (>24 km/h) no segundo tempo em comparação ao primeiro tempo (225 vs. 202 m).

Com relação à avaliação da arbitragem, os resulta-dos apresentaresulta-dos corroboram a hipótese inicial de que a aptidão física inluencia o desempenho dos árbitros. Estes dados suportam o pressuposto que a qualidade da preparação física e o consequente desenvolvimen-to da aptidão física desses proissionais são aspecdesenvolvimen-tos que podem auxiliar a atuação dos mesmos.

Sendo o futebol dependente, de forma predomi-nante, do metabolismo aeróbio, é plausível especular que a maior potência aeróbia dos árbitros maximize sua movimentação durante a partida, permitindo o acompanhamento das jogadas de forma mais precisa. Além disso, a capacidade cardiorrespiratória adequada maximiza a recuperação entre esforços intermitentes de alta intensidade, que são característicos do futebol moderno (stOlen et al., 2005). Isso pode facilitar o

deslocamento do árbitro na partida, sem prejuízo no desempenho das ações em intensidade alta (>18 km/h) e máxima (>24 km/h) (Castagna, abt &

D’OttaviO, 2007; KrustruP & bangsbO, 2001).

Somado ao exposto anteriormente, o baixo percen-tual de gordura favorece o maior O2 relativo, além de beneiciar ações relacionadas ao desenvolvimento de força rápida, como sprints de curta duração (15-20 m) em velocidade máxima (>24 km/h). Em contra partida, o excesso de peso e gordura corporal poderia afetar, negativamente, o padrão de movimentação dos árbitros e, por consequência, o julgamento das joga-das. Em lances decisivos e polêmicos, esse acompa-nhamento poderá determinar o resultado da partida. É importante ressaltar que, apesar das correlações observadas, uma limitação do presente estudo foi a ausência de testes mais especíicos para avaliar os componentes envolvidos na aptidão para o desem-penho esportivo. É plausível especular que estes componentes também apresentem relação com o desempenho dos árbitros.

(7)

Estudos adicionais são necessários a fim de comparar a sobrecarga física imposta aos árbi-tros de futebol em diferentes regiões do Brasil, uma vez que parece existir diferenças no padrão

de jogo, nas condições climáticas, no tamanho dos campos e no horário das partidas, variáveis intervenientes que podem influenciar a qualidade da arbitragem.

Abstract

Does physical itness level affect soccer referee’s performance?

The aims of the present study were to: a) report the physical demands of brazilian soccer referees during oficial matches and, b) assess if the level of itness interferes in the referees’ performance. The referees were examined during oficial games (n = 21) of the 2009 Rio Grande do Norte Soccer Federation Championship. The referees (n = 11) mean age was 36.3 ± 6.3 years. Match analysis parameters (distance covered, speed and heart rate) were assessed during oficial matches. The referee performance evaluation was conducted by an oficial member of Rio Grande do Norte Soccer Federation. The average match distance covered was 10.50 ± 0.35 km. The average speed and maximum speed were 6.43 ± 0.26 km/h and 19.84 ± 1.56 km/h, respectively. Heart rate analysis revealed the intermittent nature of the referees’ activities. The HRav and HRmax were 162.77 ± 7.44 bpm and 182.22 ± 7.72 bpm, respectively. There was a positive correlation (r = 0.517; p < 0.05) between O2max and distance covered on the second half. O2max was also correlated with the maximum speed (r = 0.506; p < 0.05). The fat mass was negatively correlated with maximum speed on the second half (r = -0.471; p < 0.05). Regarding referee performance, it was observed a positive correlation between O2max and referee evaluation score (r = 0.530; p < 0.05). On the other hand, fat mass was negatively correlated to referee evaluation score (r = -0.496; p < 0.05). The results present herein suggest that soccer referees were submitted to a high level of physical demands during the match. The results also indicate that soccer referees’ itness level can interfere in their performance.

UNITERMS: Soccer referees; Physical demands; Body composition; Maximum oxygen consumption.

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EndErEço

Marcelo Saldanha Aoki Escola de Artes, Ciências e Humanidades Universidade de São Paulo Av. Arlindo Bettio, 1.000 03828-000 - São Paulo - SP - BRASIL

e-mail: saldanha.caf@usp.br

Recebido para publicação: 25/09/2009 Revisado em: 05/03/2010

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TABELA 4 - Correlação da capacidade cardiorrespiratória e composição corporal com desempenho de arbitragem.

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