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Ecologia dos oligochaeta da Amazônia. II. Estudo da estivação e da atividade de Chibui bari, através da produção de excrementos.

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ECOLOGIA DOS OLIGOCHAETA DA AMAZÔNIA. II. ESTUDO DA ESTIVAÇÂO Ε DA ATIVIDADE DE Chibui  barí, ATRAVΙS DA PRODUÇΓO DE EXCREMENTOS. 

Rafael Torquemada Guerra (*) 

RESUMO 

Trabalhando em uma capoeÃAa no Parque Zoobotd.nA.co da UFAc {UnlveAoldcr'.e fedeAal do

AcAe, Rio Branco, AC, Bftcu.il), &tt&te. ieXembro de 1983 e. ago-òto de. 1984, eòtüdamoò a

Mo-tivação e a produção de excrementoò em Chibui. barÁ. Rlghí & GueAAa (7985), utilizando 50

qua.dn.adoo com 50 cm c/e lado. VeAl&lca-òe que. a atividade dekta mlyihoca eσ­ta limitada ã

eòtação dcu> chavão permanecendo em eòtlvação duAante o veAão. Ao longo do peAA.odo de ei 

tudo não ocoAreu grande vari.ação na tempe/iatura e no pH do òolo medidor a 7 5 cm de

pro-fundidade. A produção anual de. excAeme.ntoò variou de 13,1 a 88,3 ton/'ha/ano nat daaó

iub-ãre^ e^tudadaò.

INTRODUÇΓO 

Muitos trabalhos tκm sido realizados sobre a atividade e a produηγo de excrementos  dos oligoquetas desde que Darwin (l88l) chamou a atenηγo sobre a importβncia que estes  animais tinham para o solo, principalmente no tocante ao "turnover" e aferti1 idade. En  tre eles podem­se citar os de Stockli (1928), Evans & Guild (19^7), Evans(19^8), Sharpley  & Syers (1976, 1977), todos levados a efeito em ecossistemas temperados. Em ecossiste­ mas tropicais ou sub­tropicais apontam-se principalmente os de Madge (1969), Watanabe 

(1975), Watanabe & Ruaysoongnern (1984) feitos na Africa e Asia. Entretanto, nγo hα da  dos disponíveis a este respeito para um ecossistema tropical importante como ι o da Ama  zτnia. 

Sharpley & Syers (1977) destacam que estudos sobre a variaηγo sazonal na ativida­ de das minhocas tem sido largamente baseados no n٥mero de minhocas presentes. Menor aten  ηao tem sido dada a variaηγo sazonal da produηγo de excrementos em superfície como índi  ce desta atividade levando­se em conta ainda que esta variaηγo e influenciada diretamen  te pela variaηγo da temperatura e da umidade do solo. A atividade de Chibui barí Righi  & Guerra, 1985, minhoca da família Glossoscolecidae, ι analisada aqui ao longo de um ano  de estudo utilizando a produηγo de excrementos, considerada por vαrios autores, entre  eles Edwards δ Lofty (1977) como um bom índice desta atividade. 

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MATERIAL Ε MΙTODOS 

Area de estudos

0 trabalho foi realizado entre setembro de 7983 e agosto de no Parque Zoobo­ tγnico da Universidade Federal do Acre, localizado a 9°58 1 lat S e 67°^81 long W,  e m R i o  Branco. Em uma capoeira em diferentes estαgios de regeneraηγo, foram colocados ao acaso  50 quadrados com 50 cm de lado e quinzenaImente coletados os excrementos que se encontra  vam em seu interior. 0 transecto em que foram colocados os quadrados foi dividido em  area A e αrea B, por atravessar dois tipos diferentes de vegetaηγo. Na primeira, os 30  cm superficiais do solo eram do tipo areno­argiloso com pouca inclinaηγo e cobertura ve_  getal rala de gramfneas nγo rasteiras (capim sapι) e algumas piperaceae, havendo ausκn­ cia de liteira sobre o solo e insolaηao direta sobre este. Jα a segunda apresentava­se  plana com o mesmo tipo de solo da αrea A mas com cobertura vegetal do t ipo arbυreo/arbus  tivo, um sombreamento elevado e pouquíssima gramíneas rasteiras, ocorria nesta αrea uma  boa camada de liteira sobre o solo. A variaηγo da temperatura a 15 cm de profundidade  foi determinada mediante a colocaηγo de 10 termτmetros ao acaso em cada αrea. Para ana  U s a r a variaηγo percentual do teor de αgua, foram colhidas, semanalmente, 10 amostras  do solo a 15 cm de profundidade, em cada αrea. Estas amostras bem como os excrementos  das minhocas, foram levados γ estufa a 105°C durante 72 horas para determinar­se respec_  ti vγmente o percentual do teor de γgua e o peso seco. Os dados da precipitaηγo mensal  foram fornecidos pela Estaηγo de Meteorologia da UFAc. Antes de coletar os excrementos  quinzenaImente, mediram­se a altura e o diβmetro destes. Atravιs de amostragens ante­ riores (Righi & Guerra, 1985) confirmou­se que na area estudada ocorria apena uma espι­ cie de minhoca de comportamento endogeico segundo a classificaηγo proposta por Bouchι  (1971). 

RESULTADOS Ε DISCUSSΓO 

Apesar de ocorrerem duas estaηυes bem distintas e definidas na regiγo, o verγo ou  estaηγo seca e o inverno ou estaηγo chuvosa, a temperatura nγo apresenta grandes varia­ ηυes, com exceηγo do final do inverno e início do verγo quando ocorrem as friagens, pe­ ríodo em que a temperatura pode cair a aproximadamente 10°C (Ribeiro, 1977). Mesmo as­ sim, a mιdia mensal da temperatura dos 30 cm superficiais do solo nγo apresentou varia­ ηυes elevadas entre as duas estaηυes. Porιm, devido a diferenηa de tipo de cobertura ve  getal e por ocorrer insolaηao direta sobre o solo na αrea A, estas mιdias sempre foram  superiores nessa αrea em relaηγo ΰs da αrea Β (Fig. 1). 0 pH do solo nγo apresentou mo  difícaηυes notαveis ao longo do estudo, nem entre estaηυes e nem entre as duas αreas, va_  riando entre 5,1 e 5,6. No local de estudo verificou­se que a umidade do soloestavadi  retamente relacionada com a precipitaηγo (Fig. l): a estaηγo chuvosa teve início nos me  ses de novembro­dezembro e estendeu­se atι abril­maio, alcanηando o seu pico mαximo nos  meses de janeiro­fevereiro; a umidade do solo comeηou a aumentar logo apσs o início das 

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chuvas e nγo apresentou diferenηas relevantes entre as duas αreas, comeηando a diminuir  com o fim das chuvas. 

Segundo Rapoport & Tschapek ( 1 9 6 7 ) , hα uma relaηγo direta entre a umidade do solo  e as atividades da fauna que nele vive e, aparentemente, o fenτmeno do início e do fim  da estivaηγo dependem da existκncia de αgua livre no solo. A estivaηao ou qualquer ou­ tro tipo de ritmo, por ser uma suspensγo temporαria e periσdica das atiνidades, pode ser

encarada como parte de uma estratιgia geral da evoluηγo. Margalef ( 1 9 7 M explica isto 

da seguinte forma: "Se em um segmento da vida de uma espιcie, as condiηυes ambientais  sγo tais que mesmo contando com uma atividade normal, nao se poderia deixar um certo n٥  mero de descendentes aue compensassem a mortalidade natural ocorrida durante este mesmo  período, ι vantajoso nγo querer manter aquela vida ativa, sempre que a inatividade pos­ sa associar­se a um decrιscimo da mortalidade natural". Ou seja, uma atividade em perío  do mais curto acarreta uma mortalidade menor, logo, os períodos de inatividade ou de es­

tivaηγo como no caso de Chibui bari sγo vantajosos nesse sentido. 

A atividade das minhocas, expressa pela produηγo de excrementos, teve seu início  deslocado em relaηγo ao início das chuvas e da elevaηγo da umidade do solo. Esse deslo  camento de tempo pode ser atribuído ao período gasto para que estas saiam da estivaηγo,  se alimentem, escavem galerias e venham γ superfície depositar os excrementos. Estes  apresentavam formato de torre, semelhante ao descrito por Edwards & Lofty (1977) para  Notoscolex sp. Anos 1 5 d ias , sua a 11ura media var iou entre 1 3 e 17 cm podendo alcanηar atι  30 cm (Fig. 2) aproximadamente, e o diβmetro de 3,0 a 5,5 cm. A produηγo de excremen­ tos, que teve início em dezembro, quase um mκs apσs o início das chuvas, apresentou um  decrιscimo em fevereiro nas duas αreas (Fig. 1 e Tabela II). Nesta ιpoca, como foi ve­ rificado atravιs de escavaηυes em outras αreas semelhantes por Guerra (1985), os animais  entravam em acasalamento, retomando a seguir novamente o ritmo normal das atiνidades, ex

presso mais uma vez pelo aumento na produηγo de excrementos. Em abril verificou­se novo 

aumento nesta produηγo, desta vez devido γ atividade dos jovens eclodidos pouco antes.  Isto foi confirmado pelo aparecimento tambιm de torres de excrementos mais baixas e fi­ nas, com alturas variando entre 3,5 e 8,0 cm e diβmetro de 1,0 a 2,5 cm ao final de 15  dias. 0 pico mαximo de produηγo de excrementos, em maio, estα mais uma vez des1ocado em  relaηγo as chuvas, uma vez que estas jα estavam chegando ao fim e a umidade do solo co­ meηava a diminuir Em maio estaria entγo concentrado um maior esforηo de a 1imentar­se e  escavar galerias, principalmente por parte dos jovens, desta vez para entrar novamente  em estivaηγo e permanecer assim atι o início da prσxima estaηγo chuvosa, seis meses de­ pois. Em trabalho concomitante, utilizando Chibui bari e Pontoscolex corethrurus tam­ bιm da família Glossoscolecidae, realizado durante o verγo, verificamos que mesmo manten  do o solo bem ٥mido, C. bari nao entrou em atividade, sσ ocorrendo isto quando comeηou o  inverno. P. corethrurus permaneceu ativa durante todo o ano, ocorrendo a estivaηγo sσ  em alguns indivíduos. Este fato nos leva a crer que a estivaηao em Chibui bari nγo es­

teja ligada apenas γ umidade do solo, mas tambιm a um ritmo endogeno. Poderíamos propor  entγo uma classificaηγo destas duas espιcies em relaηγo γ estivaηao, enquanto decorrente  da umidade do solo, que seria a de estimaηγo obrigatσria para Chibui bari e a de estiva 

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ηγo Facultative para  P o n t o5c o \ c o r e t h r u r u s . 

Verificamos, entγo, que as atividades desta espιcie de minhoca estγ limitada ne£  ta regiγo, a estacao das chuvas. 0 fator que limita esta atividade é a umidade do soiu  ijma'vei que a temperatura deste bem como o prt, fatores que podem influencisr na atfvida_  de ou na presenηa das minhocas nos diferentes ecossistemas, nao sofreram a I teraηces acηn_ 

tLiadas com a mudanηa de estaηυes. Este comportamento e iíme Ihante a o ver i f iηado por L_a_  nabe & fiuaysoongncrn Οί^δ) em Pfteretíma s p . na Tailβndia, Gates (136Ί) em Burma e na Cn_  dia e Laveile (1571) na Africa Ocidental, 

A produηγo anual de. excrementos, reduzida aos meses de dezembro a junho, foi de  23,? ion/ha na αrea A e de 86,3 tem/ha na αrea B, Podemos verificar que a produηγo J C J U Í

registrada para esta espιcie situa-se numa posiηγo intermediαria unira a s obtidas era o_u t ros trabalhados feitos em regiυes tropicais (Tabela 1). Na verdade, esta quant i dade  m ^  dida nao corresponde γ produηγo real ja que, rio intervalo das coletas, a ttiuva carreou  uma qrands parte dos excrementos produíicíos que, consequentenwnte., nγo puderam ser quan­

tificados. Alem disso, em trabalho enterior (Guerra, i^SS) foi verificado qui uma par­ te das excrementos eram depositados no interior das galerias­ A deposi cio dos excremen^  tos na superfície do soío foi observada tanto a noite quanto a lu7 do diü nos mais dife  rentes horαrios n a αrea B, ao passo que na area A sυ foi obsurvada a noite, Este fato  pode ser explicado pela diferenηa de cobertura vegetal das duas arcas levando­se cm con.  s ide raηγo que cs ics snir­ojí. quando expostos j. luz direta perdem aqua rap i damente pe I a su_  perfTcie do corpo. Poderíamos concluir, entΰo, ojue a grande d Ί f crenηa na quantidade de  excrementos prcduíídos nas duas αreas e devido a diferenηa e­ntre os ambientes quanto γ  presenηa de líteira cobrindo o solo e ao tipo de. cobertura veqtinS que evita ou nγu a pe_ netracγo direía de luz sobre o scüe. 

SUWHAfiV

do Αα­ΐ ί [.¾½ Btanco, A C A P , &iaiíÂ) bíiQoeij:»! Stptznt'ts:, and Atttjttit, the Chibui baAi fcíijfct £ Gu?Via, Γ ¢85 itc&jA&g <">ι «secoHdíWrf líCgáíÂííot <Ά anaJty&td in &i$ty KÇâ&teò ineaiuunq jji£t# « n f ' . m c í e ­ t i Ü Í I C Í I i/a"?, ­riu? c^if* pií.ji?n< ijt <ftej£*.t«.&*íç4wpií çpt&c&d diCQ Λ fjüWnight. Tk$ zfotffge.i of tUç pií> 0tí ΐτΐΰ4ΛίθΛ 5 ítHtí ίΐιτηοΐΛΛΐίΐ Λ tíiÈ 4oi£ ufeir.e

díííe^iHÍJted -ífrtuHgtouii the pit.ii-d i'f study. Jin . Ê M - Ϊ -leaion the aaathwuns activLtit ά, (ituUi-ii ''.<· tin: *w'i?y  í w . s n . ' fffl Luηuíe^ ("ί*απ ι tfeif.cfflííefl ÍB Wítffí ­ T/iii zetixittfH t6n&atiè&d

ofííij by the. α·Αΐ mniotufio. iino> the tempi*a.twie.&i\ti pHetc wt p»p«?ir.r ί^ίρναϋί . «aii­('(Ti<wr4 thAougfiout fftp i/eiiA, rfee btJAti'iL'tijq, r^c. tej**íçjtíàn ã^sl the I I A ^ C Í . Ó I J ^ t ^ c w w *te pe.*jí<?*irf>(í f i n i n g ­fiiã p&Uad< ·''•­ " nr..' , s fíu tiw.n/ . j i a i f n , f ^ E IW-'TJIIA auto* inatiitiv_

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itàiHtün., T(\« coif: ptedtitiivKj tSÂO nmfjjt^ii, u\u ithçWt iO tfha/yum the inxxamn ynoaictioii in a­TCíi pjj ΰíu<^, flit íttíexMedt&tP. mw^u­íí1

. Í U N Í I . ­ ^ ΐ ί 1

 .^uf.íi cbftUTiόcí V J I C - ΐ J I C ΐ Í A O J L U C J Í C

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AGRADECIMENTOS

Somos gratos ao Dr. Gilberto Righi do Departamento de Zoologia da USP pela identi  ficacao da espιcie, ao biσlogo Flαvio Luizlo do Departamento de Ecologia do INPA pelas  sugestυes e críticas apresentadas e ao Sr. Edgard Sibrγo pelo trabalho tιcn i co de campo. 

Tabela 1. Dados de produηγo de excrementos por oligoquetas em diferentes regiυes trop_i_  ca i s. 

A u t o r L o c a l Produção t/ha/ano

NYE, P. H. (1955)  Floresta trop. ٥mida (Ghana)  50,4 

ROY, S. K. ( 1 9 5 7 ) Solo de Jardim (índia)  1.5­5,0 

MADGE, D. S. (1965)  Pastagem (Nigιria)  222,3 

MADGE, D. S. ( I 9 6 9 ) Pastagem (Nigιria)  173 

LAVELLE, P. (1975)  Savana (Costa dň Marfim)  507 

WATANABE, Η. & S. 132,6

RUAYSOONGNERN (1984) Pastagem (Thailandia) 2 2 4,9

Este estudo Capoei ra (Brasi1) 23,7-88,3

Tabela 2 . Produηγo mensal de excrementos, em  K g / m2, por Chibui bari 

Area  Mκs  SET.  OUT.  NOV.  DEZ.  JAN.  FEV.  MAR.  ABR.  MAI.  JUN.

j

 JUL. AGO. 

Β

0,24

0,82 0,30

1 , 2 3

0,13

0,90 0,24

1,37 0,37

1 , 9 0

1 ,02

2,43 0, 0 5

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U M I D A D E D O S O L O

» * ­*

T E M P E R A T U R A D O S O L O

C — K g / m2

/ m e s

2.0

1,0·

P R O D U Η Γ O D E E X C R E M E N T O S

A

S E T O U r NOV. D E Z . J A N F E V M A R . A B R . Μ A I . J U N . J U L . A G O .

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Fig. 2. Montículo de excrementos em forma de torre produzido por Chibui bari. 

Referκncias bibliogrαficas 

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Imagem

Tabela  2 . Produηγo mensal de excrementos, em  K g / m 2 , por Chibui bari 
Fig. 2. Montículo de excrementos em forma de torre produzido por Chibui bari.  Referκncias bibliogrαficas  Bouche, Μ. B. ­ 1971. Relations entre les structures spatialles et fonctionelles des  ιcosystθmes illustrιes par le rode pιdobiologique des vers de t

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