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Estudo comparativo dos níveis séricos de vitamina D em pacientes asmáticos e não asmáticos: a Hipovitaminose D e suas correlações com a Asma

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Academic year: 2017

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(1)

Mariana Bragatto dos Santos Costa

ESTUDO COMPARATIVO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE VITAMINA D

EM PACIENTES ASMÁTICOS E NÃO ASMÁTICOS:

A Hipovitaminose D e Suas Correlações com a Asma

(2)

ESTUDO COMPARATIVO DOS NÍVEIS SÉRICOS DE VITAMINA D

EM PACIENTES ASMÁTICOS E NÃO ASMÁTICOS:

A Hipovitaminose D e Suas Correlações com a Asma

Projeto de dissertação apresentado ao

Programa de Pós-graduação em Saúde

da Criança e do Adolescente, da

Faculdade de Medicina da Universidade

Federal de Minas Gerais, como requisito

parcial à obtenção do título de Mestre.

Linha de pesquisa: Distúrbios do Trato

Respiratório.

Orientador: Prof

a

. Dr

a

. Maria Jussara

Fernandes Fontes.

Belo Horizonte

Faculdade de Medicina

UFMG

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(4)
(5)

A Deus, pelo dom da vida e pela oportunidade de realizar este trabalho.  À  minha  orientadora,  Profa.  Dra.  Maria  Jussara  Fernandes  Fontes,  pelos 

ensinamentos, incentivo e disponibilidade. 

Ao Dr Ennio Leão, nosso mestre maior, os meus agradecimentos e o meu  carinho. 

Ao Dr Cassio da Cunha Ibiapina, pela disponibilidade, ajuda e incentivo.  Aos colegas pediatras do Hospital Infantil São Camilo (HISC), pela ajuda na  coleta do banco de dados. 

Ao  residente  de  Pediatria  do  HISC,  Jaderson,  pela  participação  no  desenvolvimento do trabalho. 

Aos diretores do HISC, em especial Dr. Olival, Dr. Guerra e Dra. Marisa, por 

permitirem  a  realização  deste  trabalho  e  sempre  incentivar  o  corpo  clínico  ao  aperfeiçoamento teórico e profissional. 

Aos  pacientes  do  Hospital  Infantil  São  Camilo,  razão  deste  e  de  outros  trabalhos. 

Ao meu esposo, Ricardo, pelo amor, compreensão e incentivo constantes.  As minhas filhas, Letícia e Clara, pela compreensão e paciência. 

(6)

A  asma  é  uma  doença  inflamatória  crônica  das  vias  aéreas,  caracterizada  especialmente  pela  hiper­responsividade  do  sistema imune  e desencadeada  em  sua maior parte por estímulos ambientais. A vitamina D é um nutriente cuja principal  fonte é a produção endógena nos tecidos cutâneos após a exposição à luz solar. A  função mais conhecida da vitamina D é a regulação do metabolismo do cálcio e  fósforo,  entretanto,  recentemente,  outras  funções  vêm  sendo  prospostas.  O  seu  receptor (VDR) está presente em várias células do organismo, incluindo células de  defesa,  o  que  sugere  participação  dessa  vitamina  na  modulação  da  resposta  imunológica. O objetivo deste trabalho foi revisar artigos relacionados a esse tema  e estudar a prevalência da hipovitaminose D entre uma amostra populacional de  lactentes,  crianças  e  adolescentes  asmáticos  e  comparar  com  um  grupo  não  asmático.  Para  isso,  realizou­se  estudo  transversal  com  população  pediátrica  composta de pacientes asmáticos e pacientes­controle não asmáticos, com idade  entre seis dias de vida e 18 anos de idade, sem distinção de  cor, gênero, idioma e  crença,  atendidos  no  Hospital  Infantil  São  Camilo  (HISC),  na  cidade  de  Belo  Horizonte,  no  período  de  2012  a  2013.  Foram  avaliados  os  níveis  séricos  de  vitamina D e feita a correlação com as seguintes variáveis: dados antropométricos,  nível  socioeconômico,  escolaridade  dos  pais,  estação  do  ano,  dosagem  de  hemoglobina, dosagem de eosinófilos, de imunoglobulinas, uso de corticoide oral e  inalatório  profilático  e  nível  de  controle  da  doença  asmática.  A  prevalência  de  insuficiência e deficiência de vitamina D na amostra estudada foi significativamente  maior no grupo asmático quando comparado ao grupo­controle (p = 0,028; OR 0,53;  IC 0,36 a 0,78). No grupo dos pacientes asmáticos, 113 (53,05%) eram do sexo  feminino. As médias obtidas foram: idade, 56,69 meses; índice de massa corporal  –  IMC  (Center of Disease Control and Prevention ­ CDC  ­ escore  z),  0,28; 

imunoglobulina  E  sérica,  233,46;  eosinofilia  2,29%;  e hemoglobina média,  11,98  g/dL. Houve diferença estatisticamente significativa quanto aos níveis séricos de  vitamina D nas três categorias analisadas (deficiente, insuficiente ou suficiente) em  relação  à  estação  do  ano  (p<0,001)  e  à  exposição  solar  (p=0,003).  Níveis  mais  baixos de vitamina D foram observados durante o inverno e a primavera (mediana  = 26,7 e 26,9, respectivamente) e mais altos no verão (mediana 30,3) (p<0,001). A  prevalência de níveis de vitamina D insuficientes ou deficientes no inverno foi de  66,6%. Pela análise multivariada, considerando­se a vitamina D quantitativa, o fato  de o paciente ser do grupo controle aumentou 1,78 ng/mL o valor da vitamina D; o  aumento  de  um  ano  na  idade da coleta é acompanhado do aumento de 0,0184  ng/mL no valor da vitamina D e o aumento de uma unidade (g/dL) de hemoglobina  é  acompanhado  do  aumento  de  0,703  ng/mL  de  vitamina  D.  Concluiu­se  que  a  insuficiência ou deficiência sérica de vitamina D é um possível e importante fator  de risco modificável para a prevalência da asma. 

(7)

Asthma  is  a  chronic  inflammatory  airway  disease,  characterized  by  hyper  responsiveness  of  the  immune  system  and  mostly  triggered  by  environmental  factors. Vitamin D is a nutrient whose main source is the endogenous production in  skin tissue after sunlight exposure and its most known function is the regulation of  calcium  and  phosphorus  metabolism,  however,  recently,  other  roles  have  been  proposed. Vitamin D’s receptor exists in several body cells, including immune cells,  suggesting its participation in the modulation of the immunological response. This  study aimed to review  papers related to such subject; to study the prevalence of  vitamin D deficiency in a sample of infants, children and adolescents with asthma  and to compare with a group of non asthmatic patients (control). For this purpose a  cross­sectional study with asthmatic  and non asthmatic  patients  was  carried out.  Children aging between six days of life and 18 years old, without distinction of color,  gender, language and belief, assisted at the Hospital Infantil São Camilo (HISC), in  the city of Belo Horizonte, in the period from 2012 to 2013 participated of the study.  Serum levels of vitamin D were measured and correlated with anthropometrics data,  socioeconomic status, parents' education, season of the year, hemoglobin levels,  eosinophils  number,  immunoglobulin  levels,  use  of  oral  and  prophylactic  inhaled  corticosteroids and the level of asthmatic disease control. The prevalence of vitamin  D  insufficiency  and  deficiency  was  significantly  higher  in  the  asthmatic  group  compared to the control group (p = 0.001; OR 0.53; IC 0.36 to 0.78). In the asthmatic  group, 106 (47.1%) were female. The means were: age, 56.69 months; body mass  index  – BMI  (Center  of  Disease Control  and  Prevention ­ CDC  –  z  score),  0.28;  serum immunoglobulin E, 233.46; eosinophilia 2.29%; and mean hemoglobin, 11.98  g/dL. There was statistically significant difference regarding blood levels of vitamin  D  between  the  three  evaluated  categories  (deficient,  insufficient  or  sufficient)  in  relation to the season of the year (p <0.001) and to the sunlight exposure (p=0.003).  Lower levels of vitamin D were observed during winter and spring (median = 26.7  and 26.9, respectively) and higher level was observed in the summer (median 30.3)  (p <0.001). The prevalence of vitamin D insufficiency or deficiency in the winter was  of  66.6%.  By  the  multivariate  analysis,  considering  vitamin  D  as  a  quantitative  variable, the fact that the patient be in the control group increased 1.78 ng/mL the  value of vitamin D; an increase of one year in the age of the collection is followed  by an increase of 0.0184 ng/mL in the value of vitamin D and the increase of one  unit (g/dL) of hemoglobin is followed by an increase of 0.703 ng/mL of vitamin D.  Serum vitamin D insufficiency or deficiency is a possible and important modifiable  risk factor for the prevalence of asthma. 

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1,25(OH)2D  1,25­di­hidroxivitamina D3 

25(OH)D  25 (OH) vitamina D  7­DHC  7­deidrocolesterol 

AIDS  Síndrome da deficiência imunoadquirida  ANOVA  Análise de Variância 

BSMC  Células musculares lisas brônquicas  CDC  Center of Disease Control and Prevention

CEBPB  CCAAT/enhancer-binding protein beta

CEP  Comitê de Ética em Pesquisa  CVF  Capacidade vital forçada  E/I  Estatura/Idade 

EUA  Estados Unidos da América do Norte  FEIA  Fluoroenzimaimunoensaio 

FEV  Volume expiratório forçado  FVC  Capacidade vital forçada 

GINA  Global Initiative for Asthma Guidelines

HISC  Hospital Infantil São Camilo  IgE  Imunoglobulina E 

IL  Interleucina 

IMC  Índice de massa corporal 

IVAS  Infecção de vias aéreas superiores  NHS  Nurses’ Health Study

NK  Natural killers

OMS  Organização Mundial de Saúde  PCR  Reação em cadeia da polimerase  PFE  Pico de fluxo expiratório 

PG  Prostaglandinas 

P/I  Peso/Idade 

PTH  Paratormônio 

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TCLE  Termo de Consentimento Livre e Esclarecido  TGFβ Fator de crescimento transformador beta 

Th  T helper

Tregs  Linfócitos T reguladores  UTI  Unidade de Terapia Intensiva  UVB  Ultravioleta B 

VD  Vitamina D 

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1 INTRODUÇÃO...  11

1.1 Vitamina D: definição, tipos, fontes e metabolismo...  13

1.2 Avaliação laboratorial dos níveis de vitamina D...  15

1.3 Prevalência e fatores de risco...  15

1.4 Funções da vitamina D...  16

1.5 Relações entre asma e vitamina D...  18

2 OBJETIVOS...  28

2.1 Objetivo principal...  28

2.2 Objetivos específicos...  28

3 PACIENTES E MÉTODOS...  30

3.1 Delineamento do estudo...  30

3.2 Área do estudo...  30

3.3 População do estudo...  30

3.3.1 Critérios de inclusão...  31

3.3.2 Critérios de exclusão...  31

3.3.3 Amostragem...  32

3.3.4 Cálculo amostral...  32

3.3.5 Tamanho da amostra...  33

3.4 Diagnóstico de asma e “síndrome sibilante”...  33

3.5 Coleta de dados...  35

3.5.1 Exames complementares...  36

3.5.1.1 Hemograma e dosagem da vitamina D...  36

3.5.1.2 Dosagem de imunoglobulinas...  37

3.6 Definição de variáveis...  37

3.6.1 Variáveis dependentes...  37

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas aprovadas pelo Acordo  Ortográfico assinado entre os países que integram a Comunidade de Países de Língua 

(11)

3.6.2.2 Variáveis rendas antropométricas e biológicas...  38

3.6.2.3 Variáveis ambientais...  38

3.7 Análise dos resultados...  38

3.8 Aspectos éticos...  39

3.8.1 Riscos...  40

3.8.2 Benefícios...  40

4 RESULTADOS...  41

4.1 Artigo original ­ Estudo comparativo dos níveis séricos de vitamina D em  pacientes  asmáticos  e  não  asmáticos:  a  hipovitaminose  D  e  suas  correlações com a asma...  41 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...  61

REFERÊNCIAS...  62

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1 INTRODUÇÃO

A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, na qual muitas  células  e  elementos  celulares  têm  participação.  A  inflamação  crônica  está  associada à hiper­responsividade das vias aéreas, que leva a episódios recorrentes  de sibilos, dispneia, opressão torácica e tosse, particularmente à noite ou no início  da manhã. Esses episódios são uma consequência da obstrução ao fluxo aéreo  intrapulmonar,  generalizada  e  variável,  reversível  espontaneamente  ou  com  tratamento1

Nos  Estados  Unidos  da  América  do  Norte  (EUA),  pesquisas  recentes  mostram que a prevalência da asma continua a aumentar entre crianças e adultos  de todos os grupos raciais e étnicos2. No Brasil, a prevalência da asma está entre 

uma das maiores do mundo; estima­se que existam aproximadamente 20 milhões  de asmáticos, considerando­se prevalência global de 10%1

As  infecções  de  vias  aéreas  inferiores  que  ocorrem  no  início  da  vida  contribuem  para  o  risco  do  aparecimento  da  asma.  Tem  sido  observado  que  o  número dessas infecções  e a gravidade da sensibilização alérgica nos primeiros  dois anos de vida combinam­se para aumentar acentuadamente o risco de asma  com  a  idade  de  cinco  anos  de  maneira  dose­dependente3.  Existem  evidências 

experimentais  de  que  a  vitamina  D  (VD)  induz  proteção  contra  infecções  respiratórias4 e  sensibilidade  alérgica5,  além  de  participar  em  vários  processos 

imunológicos6.  Isso  sugere  o  papel  direto  da  vitamina  D  na  prevenção  do 

desenvolvimento da asma e de outras doenças alérgicas, assim como no controle  das exacerbações em pacientes asmáticos. 

A  deficiência  de  vitamina  D  tem  aumentado  mundialmente,  apesar  do  consumo crescente de complexos multivitamínicos e de produtos fortificados com  a vitamina, mesmo em países tropicais, com latitudes baixas e repletos de sol7,8

Dados recentes admitem que metade da população mundial apresenta insuficiência  dessa  vitamina9.  Junto  com  a  "redescoberta"  da  deficiência  de  vitamina  D,  a 

(13)

Segundo o guideline publicado pela Endocrine Society, em 2011, crianças e 

adultos jovens estão entre as faixas etárias de risco para hipovitaminose D. Grupos  de  risco  para  deficiência  de  VD  incluem  grávidas,  crianças,  idosos  e  pacientes  hospitalizados11

Essa  deficiência  de  VD  é  preocupante,  principalmente  em  crianças  que  estão  em  fase  de  crescimento  acelerado  e  com  necessidades  nutricionais  aumentadas,  inclusive  da  VD2,6Segundo  a  Organização  Mundial  de  Saúde,  as 

crianças com alto risco são aquelas com exposição solar limitada8

Além  disso,  a  hipovitaminose  D  é,  muitas  vezes,  subdiagnosticada  e  não  tratada8 Essa  omissão  pode  ser  prejudicial  à  saúde  da  criança,  levando  a 

alterações  músculo­esqueléticas,  cujo  quadro  mais  grave  é  o  raquitismo,  com,  inclusive,  repercussões  pulmonares  constituídas  pelo  quadro  conhecido  como  “pulmão raquítico”. 

A  descoberta  de  que  a  maioria  dos  tecidos  e  células  do  corpo  tem  um  receptor de vitamina D e que vários deles possuem as enzimas necessárias para a  conversão da vitamina D na sua forma ativa (1,25(OH)2D) tem levantado grandes  discussões  sobre  as  outras  funções  da  vitamina,  além  daquelas  clássicas  na  regulação  do  metabolismo  mineral,  tais  como  sua  participação  em  processos  inflamatórios,  na  imunomodulação  e  “modulação”  da  atividade  celular,  além  de  provocar  questionamentos  sobre  os  níveis  atuais  indicativos  de  suplementação10,12,13

Dessa forma,  considerando  as  outras  funções  da vitamina  D,  que  não as  clássicas,  a  insuficiência  de  VD  em  crianças  implica  um  fator  de  risco  para  desenvolvimento de doenças crônicas ao longo da vida, incluindo asma, diabetes,  cardiopatias e câncer14

O trabalho em tela objetiva explicitar as relações entre a asma e a deficiência  de vitamina D, contribuindo com as políticas públicas para o aprofundamento e a  ampliação do tratamento da asma em lactentes, crianças e adolescentes, de forma  a promover a saúde, o bem­estar e a equidade social. 

(14)

1.1 Vitamina D: definição, tipos, fontes e metabolismo

O termo “vitamina D” é utilizado para os esteroides que possuam a atividade  biológica  de  colecalciferol.  É  conhecida  como  um  hormônio  diferenciado,  já  que  grande  parte  da  sua  via  metabólica  está  intimamente  relacionada  à  radiação  ultravioleta sobre a pele6,7

Os seres humanos obtêm a vitamina D por meio da dieta ou da exposição à  luz  solar.  Do  ponto  de  vista  evolutivo,  os  seres  humanos  não  precisariam  obter  vitamina D por meio da dieta, porque têm um mecanismo fotossintético na pele15

A principal fonte de obtenção da vitamina D é a partir da produção endógena  nos tecidos cutâneos após a exposição à luz solar. Apesar de também poder ser  obtida  a  partir  da  dieta,  ela  não  está  disponível  nos  alimentos  habitualmente  consumidos pela população, embora, atualmente, muitos sejam enriquecidos com  essa vitamina, suprindo, assim, parte das necessidades diárias16. A fonte dietética 

assume mais importância em idosos, pessoas institucionalizadas e habitantes de  locais  com  pouca  incidência  solar.  Óleo  de  fígado  de  peixe  (principalmente  bacalhau), gema de ovo e vísceras, como fígado, são os alimentos com os mais  altos teores da vitamina17

Existem duas formas fisiologicamente ativas de vitamina D: a vitamina D2 ou  ergocalciferol e a vitamina D3 ou colecalciferol, ambas com atividade antirraquítica.  A primeira provém da irradiação do ergosterol, e está presente nos alimentos de  origem  vegetal  e  nos  alimentos  fortificados18.  Já  a  vitamina  D3  resulta  da 

transformação  não  enzimática  do  precursor  7­deidrocolesterol  existente  na  pele  pela ação dos raios ultravioletas do sol. Quando o indivíduo é exposto à luz solar,  a radiação ultravioleta B (UVB) penetra na pele e converte o 7­deidrocolesterol (7-DHC),  presente  na  pele,  em  pré­vitamina  D3,  que  é  então  rapidamente  transformada em vitamina D3 por uma reação termicamente induzida15

Em qualquer uma das duas formas, por meio da dieta ou da exposição à luz  solar,  a  vitamina  D  segue  o  mesmo  percurso  no  organismo.  Primeiramente,  é  levada  ao  fígado,  onde  sofre  hidroxilação,  originando  a  25  (OH)  vitamina  D  -25(OH)D – ou calcidiol8. A 25(OH)D necessita, ainda, de uma última hidroxilação 

para se tornar plenamente ativa19. Essa hidroxilação ocorre nos rins por ação da 

enzima  1­α­hidroxilase,  que  é  estimulada  pelo  paratormônio  e  inibida  por  altas 

(15)

D3  ou  calcitriol  (1,25(OH)2D),  metabólito  biologicamente  mais  ativo,  lançado  na 

corrente sanguínea que se liga aos receptores de vitamina D (RVD) e age ativando  fatores de transcrição20

FIGURA 1 – Metabolismo da vitamina D

A  vitamina  D  é  produzida  a  partir  do  7­desidrocolesterol  na  pele  ou  por  ingestão  na  dieta.  É  convertida no fígado em 25­hidroxivitamina D e no rim em 1,25­di­hidroxivitamina D, a forma ativa  da vitamina. 1,25­di­hidroxivitamina D estimula a expressão de RANKL, um importante regulador da  maturação e função de osteoclastos, em osteoblastos, e aumenta a absorção intestinal de cálcio e  fósforo no intestino. PAD, proteína de ligação da vitamina D (α1­globulina). 

(16)

1.2 Avaliação laboratorial dos níveis de vitamina D

A 1,25(OH)2D é autolimitante, pois aumenta a expressão de uma enzima que 

metaboliza a 25(OH)D e a 1,25(OH)2D em formas inativas e hidrossolúveis. No que 

diz respeito à meia­vida desses metabólitos, a 1,25(OH)2D apresenta meia­vida de 

6­8h, enquanto a meia­vida da 25(OH)D é de 2­3 semanas20. E é em função dessa 

meia­vida  maior  que  nos  exames  usuais  para  mensuração  da  VD  utiliza­se  a  concentração sérica da 25(OH)D21

A hipovitaminose pode ser uma insuficiência ou uma deficiência. Apesar de  não  existir  consenso  na  literatura  sobre  os  níveis  ideais  de  VD,  a  maioria  dos  estudiosos propõe como nível desejável (ou suficiente) de VD circulante (medido  como  25(OH)D)  pelo  menos  30  ng/mL;  entre  21  e  29  ng/mL  como  níveis  insuficientes;  e  valores  abaixo  de  20  ng/mL  como  deficiência.  A  intoxicação  por  vitamina D é caracterizada com níveis acima de 150 ng/mL6,10,22. Há sugestões de 

que os níveis ainda mais altos que 40 ng/mL podem ser benéficos para a saúde  geral, porém essa questão requer aprofundamento23

Endocrine Society recomenda,  para  alcançar  a  melhor  saúde  óssea,  a 

suplementação de crianças até um ano com pelo menos 400 UI/dia; entre 1 e 70  anos, pelo menos 600 UI/dia, enquanto acima dos 70 anos, 800 UI/dia19

1.3 Prevalência e fatores de risco

A  hipovitaminose  D  é  um  problema  de  saúde  mundial8 e  no  Brasil  esse 

quadro  não  é  diferente.  Segundo  o guideline de  2011 da Endocrine Society

crianças e adultos jovens estão entre as faixas etárias de risco para deficiência ou  insuficiência de VD19

(17)

Entre  os  fatores  de  risco  para  hipovitaminose  D  podem­se  citar  as  altas  latitudes,  o  inverno,  o  uso  de  leite  materno  exclusivo  por  filhos  de  mães  que  apresentam  níveis  deficientes  de  vitamina  D  durante  a  gravidez,  a  pele  de  cor  escura, além dos hábitos de vida da população, tais como a crescente urbanização,  a  entrada  precoce  de  crianças  nas  creches  e  escolas,  a  violência  urbana  e  a  consequente  redução  do  tempo  de  brincadeiras  ao  ar  livre,  entre  outros  que  influenciam o tempo de exposição ao sol24

Fatores  culturais  (por  exemplo,  o  tempo  de  permanência  em  ambientes  fechados e o uso de protetor solar) podem influenciar de forma mais significativa as  taxas  de  VD  de  uma  população  do  que  a  própria  localização  geográfica  e  a  consequente incidência solar naquele meio15

Alguns dos grupos de risco de deficiência de VD incluem grávidas, crianças,  idosos e pacientes hospitalizados11

Há  que  considerar,  ainda,  que  algumas  doenças  crônicas,  tais  como  fibrose cística, artrite reumatoide, insuficiência cardíaca congestiva, síndrome da  deficiência  imunoadquirida  (AIDS),  síndrome  nefrótica,  doença  renal  crônica,  doenças  hematológicas, esclerose múltipla, demência e mal  de Parkinson, e o  uso  de  alguns  medicamentos,  como  anticonvulsivantes,  antifúngicos,  antirretrovirais,  colestiramina  e  diuréticos,  também  constituem  fatores  de  risco  para a hipovitaminose D25. Esses medicamentos podem aumentar o catabolismo 

e acelerar a destruição da vitamina D no organismo10

1.4 Funções da vitamina D

Os efeitos diversos da vitamina D no organismo atuam de forma similar aos  hormônios,  ou  seja, influenciando  as  vias  metabólicas,  as  funções  celulares  e  a  expressão de inúmeros genes. 

Os efeitos biológicos da 1,25(OH)2D são mediados pelo receptor da vitamina 

D (RVD). O RVD é um receptor hormonal nuclear presente em alguns órgãos como  o  estômago,  cérebro,  pele,  pâncreas,  tecido  muscular,  células  B  e  T  ativadas  e  alguns outros tecidos, o que regula a diferenciação celular e a função de muitos  tipos  celulares14.  É  expresso  em  quase  todas  as  células  humanas  e  parece 

(18)

A ação clássica da VD é regular e manter os níveis séricos de cálcio e fósforo  por meio da absorção intestinal e reabsorção renal desses íons, conservando­os  em  concentrações  plasmáticas  adequadas  para  garantir  a  mineralização  e  o  crescimento  ósseo  em  crianças  e  adolescentes  e  a  saúde  óssea  em  todas  as  etapas da vida26

Entretanto,  nos  últimos  anos,  a  VD  vem  sendo  estudada  por  diversos  autores,  nos  mais  variados  aspectos,  devido  às  evidências  de  ações  não  calcêmicas da vitamina D, mediadas pelo RVD27

Há evidências de que a VD também é capaz de influenciar na formação da  resposta imune, na função muscular e na secreção do paratormônio (PTH) e função  das células ósseas, e de ter possível atividade anticancerígena8,28

A  partir  da  modulação  da  autoimunidade  interferindo  no  equilíbrio  das  respostas  T helper ­ Th1  (celular)  e  Th2  (humoral)  ­,  concentrações  baixas  de 

25(OH)D  parecem  favorecer  o  sistema  imunológico  a  desenvolver  células  T  autorreativas direcionadas contra tecidos do próprio organismo e propiciar a síntese  de  interleucinas  pró­inflamatórias  (interleucina  ­ IL12,  interferon  gama),  aumentando o risco de ocorrência de doenças autoimunes29

No que diz respeito à atuação da VD no sistema imune, sabe­se, ainda, que  o RVD é expresso nos monócitos, assim como nos macrófagos, células dendríticas, 

natural killers (NK), células T e B. A ativação do RVD desencadeia potente atividade 

antiproliferativa, prodiferenciação e imunomoduladora, mantendo equilíbrio entre as  respostas Th1 (celular) e Th2 (humoral)14

A  ativação  do  RVD  propicia  mudança  no  padrão  de  citocinas,  o  que  irá  estimular  as  células  T  reguladoras  e  ainda  levará  ao  aumento  da  atividade  fagocítica  de  macrófagos  e  à  ativação  de  células  NK14.  Assim,  a recorrência  de 

infecções,  principalmente  do  trato  respiratório,  talvez  represente  um  indício  de  hipovitaminose D. 

A atuação da VD está relacionada diretamente aos níveis de PTH e cálcio.  A hipovitaminose D ocasiona baixa absorção do cálcio da dieta, apenas 10­15%  serão absorvidos, com consequente queda na concentração sérica desse íon. A  hipocalcemia estimula a liberação do PTH, que irá induzir a produção da enzima 1-alfa­hidroxilase nos tecidos, aumentado a síntese local de 1,25(OH)2D14,30. 

(19)

a  concentração  de  PTH  permaneça  elevada,  provocando  a  diminuição  da  mineralização  óssea  e,  consequentemente,  deformações  ósseas,  quadro  conhecido como raquitismo/osteomalácia14

A  deficiência  de  VD  durante  o  desenvolvimento  ósseo  pode  ocasionar  o  rosário raquítico – abaulamento das junções costocondrais – e o alargamento das  placas  epifisárias  dos  ossos  longos  em  crianças  com  raquitismo,  devido  à  interrupção da maturação dos condrócitos e à inibição da mineralização normal das  placas de crescimento9

1.5 Relações entre asma e vitamina D

Hoje, diante da descoberta das inúmeras outras funções da vitamina D além  daquelas  relacionadas  ao  metabolismo  mineral,  tais  como  sua  participação  em  processos  inflamatórios,  imunomodulação  e  “modulação”  da  atividade  celular10

vários estudos tentam elucidar o papel da VD nas doenças alérgicas31

Apesar do crescente número de estudos sobre a vitamina D, não existe ainda  consenso sobre o papel exato da hipovitaminose D na asma7. Entretanto, a maioria 

dos estudos identifica uma relação direta entre hipovitaminose D e o aumento na  prevalência e exacerbação da asma32

A seguir será descrita a compilação dos principais dados já estudados sobre  o papel da VD com os diferentes mecanismos da asma. 

a) Genética 

Várias pesquisas têm evidenciado associação genética em relação à VD e o  desenvolvimento da asma e outras doenças alérgicas24

O estudo do genoma para a asma identificou ligações com pelo menos 17  cromossomos diferentes, incluindo o cromossomo 12, região q13­23. Nesse local  também se pode encontrar o gene responsável pela síntese do receptor da vitamina  D (RVD)33,34

(20)

(humoral); regulação da contração e proliferação do músculo liso das vias aéreas;  redução  do  processo  inflamatório;  reversão  da  resistência  do  organismo  aos  corticosteroides  (pela  indução  da  IL10  pelas  células  T­reg);  além  de  inibir  a  produção de prostaglandias35,36

Parece  que  alguns  genes  têm  também  importância  funcional  para  o  movimento  celular,  o  crescimento,  proliferação  e  a  morte  celular,  o  que  provavelmente desempenha papel na remodelação das vias aéreas, que ocorre em  alguns pacientes asmáticos35

Tendo  em  vista  o  caráter  inflamatório  da  asma,  caracterizado  pelo  desbalanço da resposta Th1xTh2, e o papel da VD na imunomodulação, trabalha-se  com  a  hipótedesbalanço da resposta Th1xTh2, e o papel da VD na imunomodulação, trabalha-se  de  que  o  RVD  pode  funcionar  como  um  regulador  de  suscetibilidade  para asma e atopia34. Há evidências  de que  déficits  de  25(OH)D 

aumentam  o  risco  de  doenças  autoimunes,  pela  maior  resposta  de  células  T  e  síntese de interleucinas pró­inflamatórias26,37

Diversos autores que pesquisaram a relação genética da asma e síntese de  RVD a partir da pesquisa do cromossomo 12 salientaram que variantes de RVD  foram associadas à maior prevalência de doenças imunomediadas34

Coorte  realizada  em  Quebec  com  famílias  da  região  selecionadas  pela  história  clínica  de  asma,  internações  hospitalares  por  exacerbações  e/ou  dependência de corticoesteroides, além de atopia, enfatizou forte associação entre  genética e variantes do RVD. Foram analisados 12 polimorfismos e desses, seis  foram associados ao fenótipo de asma (0,0005 < p < 0,05)34

Já  na  pesquisa  “Nurses’ Health Study (NHS)”,  quatro  dos  cinco 

polimorfismos avaliados estão associados à asma. Destes quatro simple nucleotide polymorphisms (SNP),  três  são com  os  mesmos  alelos,  o que  se  verificou  estar 

associado na coorte mencionada34

Assim, além do papel central do RVD no metabolismo ósseo, ele parece ser  um  candidato  promissor  para  pesquisas  futuras  sobre  inúmeras  doenças,  imunitárias  e  inflamatórias,  devido  à  sua  participação  diversificada  em  inúmeros  processos celulares, inclusive a asma10,34

(21)

portanto,  provável  participação  da  VD  na  suscetibilidade  para  asma  e  outras  doenças alérgicas38

A  hipovitaminose  D,  como  demonstram  algumas  pesquisas,  associa­se  à  alta  prevalência  de  asma  e  de  exacerbações  graves.  Além  disso,  ambas  apresentam  vários  fatores  de  risco  comuns,  incluindo  alta  latitude,  estação  do  inverno, a industrialização, a má dieta, obesidade e pigmentação escura da pele24

A vitamina D pode exercer papel sobre a responsividade das vias aéreas, função  pulmonar, controle da asma e, talvez, na resistência aos corticosteroides31

A  deficiência  de  vitamina  D  constitui­se  então  em  um  fator  de  risco  que  poderia  explicar  parte  desse  padrão  epidemiológico,  além  de  surgir  com  papel  promissor para inclusão em estratégias preventivas9

Os dados atuais sugerem que níveis adequados de VD e o RVD funcionando  normalmente são fundamentais para o bom desenvolvimento do sistema imune33

b) Infecções 

O  papel  das  infecções  como  agente  desencadeador  do  início  da  asma  permanece como tema de estudo de diversos autores. Infecções virais respiratórias  no  início  da  vida  têm  sido  associadas  ao  desenvolvimento  de  asma,  além  de  apresentarem­se  como  fator  de  risco  importante  para  as  exacerbações  asmáticas39

A  VD  vem  sendo  intensamente  estudada  nos  últimos  anos  sob  diversos  aspectos, sendo um deles  o provável efeito imunológico, relacionado  à reduzida  incidência de infecções7,40,41

Essa característica é de fundamental importância quando se consideram as  evidências  de  que  os  vírus  respiratórios  são  importantes  fatores  causais  para  exacerbação da asma7. Soma­se a essa importância o fato de que a associação 

precoce de infecções com episódios de sibilância pode ser fator predisponente para  o desenvolvimento de asma ao longo da infância42. Jackson et al. acompanharam 

(22)

Alguns estudos sugerem que níveis séricos mais altos de vitamina D estão  associados a menor risco de exacerbações asmáticas graves e um dos possíveis  mecanismos para essa relação seria a menor incidência de infecções7,41

Ginde et al.  relacionaram  os  níveis  séricos  de  vitamina D  à  incidência  de 

infecção  de  vias  aéreas  superiores  (IVAS)  em  18.883  pacientes  maiores  de  12  anos, de 1988 a 1994. Apurou­se que os níveis dessa vitamina são inversamente  associados à incidência de IVAS43

A  influência  da  suplementação  de  vitamina  D  sobre  a  incidência  da  gripe  sazonal  A  foi  analisada  em  escolares  por  Urashima et al.  Foi  realizado  estudo 

randomizado duplo­cego com crianças japonesas no período de dezembro de 2008  a  março  de  2009,  comparando  a  suplementação  de  vitamina  D  com  o  grupo-controle, que recebeu placebo. A incidência de gripe A foi diagnosticada a partir da  coleta de swab de nasofaringe. Como desfecho, registraram que a suplementação 

de vitamina D durante o inverno pode reduzir a incidência de influenza A44

Acredita­se  que  essa  proteção  contra  infecções  relacionadas  à  suplementação de vitamina D ocorre devido à indução da produção de proteínas  antimicrobianas, em especial a catelicidina45, a qual possui efeitos antibacterianos 

e antivirais36,40. Essas proteínas apresentam atividade microbicida contra algumas 

bactérias, além de ação contra fungos e vírus36. Sob estímulo da ligação da VD 

com  RVD,  essa  proteína  é  secretada  por  várias  células  inflamatórias,  incluindo  monócitos e neutrófilos, além do epitélio respiratório24

Apesar  das  evidências  descritas,  ainda  são  necessários  estudos  prospectivos  que  mostrem  a  real  influência  da  vitamina  D  na  diminuição  das  infecções e, consequentemente, na frequência e intensidade das exacerbações da  asma7

c) Efeitos da vitamina D no sistema imunológico 

RVD  e  enzimas  envolvidas  com  o  metabolismo  da  vitamina  D  foram  identificadas em células do sistema imune, como as células T, as células B ativadas  e as  células  dendríticas46­49.  Diversos  trabalhos38,50 têm demonstrado que a VD 

(23)

possibilitando a expressão de citocinas potencialmente inibitórias (IL10 e fator de  crescimento transformador beta ­ TGFβ

), e inibe a ativação de celulas­T antígeno-específicas52

Estudos  revelam  que  variantes  genéticas  associadas  ao  gene  RVD  são  responsáveis por alterações que afetam a resposta inflamatória do paciente33,34

Níveis séricos de VD no sangue são inversamente proporcionais à gravidade  da asma, à capacidade de resposta ao glicocorticoide, aos níveis de imunoglobulina  E (IgE) e eosinofilia, além do grau de remodelação das vias respiratórias53. Para 

entender os motivos dessa relação inversamente proporcional entre a concentração  sanguínea  de  VD  e  as  diversas  apresentações  de  asma,  é  de  fundamental  importância entender o papel da VD na imunomodulação do sistema imune26,53

Em  estudo  realizado  com  7.288  participantes,  Hyppönen et al.  (2009) 

observaram a existência de relação entre o nível de VD e IgE. Pacientes com níveis  séricos de 25(OH)D inferiores a 25 nmol/L apresentaram níveis de IgE 56% mais  elevados que o grupo controle e pacientes com níveis séricos de 25(OH)D entre  100­125  nmol/L  apresentaram  níveis  de  IgE  29%  mais  elevados  que  o  grupo  controle. Em 2011, foi encontrado resultado similar em roedores. A partir de culturas  de  linfócitos  B,  foi  evidenciado  que  agonistas  dos  receptores  de  vitamina  D  diminuem a produção de IgE por células B periféricas55. Portanto, a VD é capaz 

tanto de diminuir o nível de IgE como sua sensibilização. 

Pesquisas  documentam  que  a  VD,  quando  em  níveis  normais,  atua  no  equilíbrio  entre  as  respostas  Th1  (celular)  e  Th2  (humoral).  Níveis  baixos  foram  relacionados  ao  desenvolvimento  de  células  T  autorreativas  e  à  síntese  de  interleucinas  pró­inflamatórias,  mecanismos  esses  bem  descritos  na  hiper-responsividade das vias aéreas dos pacientes asmáticos33

Crianças que receberam suplementação de VD exibiram menor número de  exacerbações asmáticas do que crianças sem suplementação44

A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, marcada pela  reversibilidade da obstrução, hipersecreção de muco e hiper­responsividade  das  vias  aéreas48,53.  As  crises  são,  em  sua  maioria,  desencadeadas  por  estímulos 

ambientais que provocam resposta inflamatória, sobretudo mediadas  por células  Th2, responsáveis também pela remodelação brônquica53

(24)

contratilidade anormal de células musculares lisas brônquicas (BSMC). As BSMCs  constituem um sistema autócrino que, quando ativado num estado sensibilizado, é  capaz  de  produzir  e  de  responder  às  citocinas  pró­inflamatórias  e  outras  moléculas35. Bosse et al. utilizaram um modelo in vitro para pesquisar os efeitos da 

VD sobre essas células. Foram utilizadas BSMC derivadas de um homem latino-americano, de 31 anos. Nesse estudo apurou­se RVD em BSMCs. A funcionalidade  do  receptor  foi  avaliada  utilizando­se  estimulação  com  1,25(OH)2D3,  com  consequente  alteração  na  transcrição  genética  em  BSMC.  Entre  os  genes  investigados,  percebeu­se  upregulation em  um  fator  de  transcrição 

(CCAAT/enhancer-binding protein beta ­ CEBPB)  e  em  uma  citocina 

pró-inflamatória (IL6). O estímulo com VD também aumentou a expressão de AKR1C3,  que  atua  na  patogênese  da  asma  por  regulação  da  síntese  de  prostaglandinas  (PG),  responsáveis  pelo  recrutamento  de  células  T  para  as  vias  respiratórias  imediatamente após a exposição ao alérgeno35

O AKR1C3 é um gene responsável pela enzima 20­cetoesteroide redutase,  que inativa o cortisol, contribuindo na promoção da resposta inflamatória em vias  respiratórias alérgicas. Observou­se também upregulation em genes envolvidos na 

contração do músculo liso. Sob estímulo, o fator de crescimento endotelial vascular  (VEGF)  provoca  hiperplasia  do  músculo  liso  e  fibrose  subepitelial,  marcando  a  remodelação encontrada em pacientes asmáticos35

A asma é  uma  doença mediada por Th2, caracterizada pela  produção de  citocinas pró­inflamatórias, como a IL4, IL5 e IL1324. A IL4, entre outras funções é 

responsável por manter a produção de Th2, inibir a resposta Th1, induzir a síntese  de IgE, além da quimiotaxia e ativação dos fibroblastos, que participam do processo  de  remodelamento24.  A  IL5  é  determinante  na  diferenciação,  recrutamento, 

ativação,  adesão  e  sobrevida  dos  eosinófilos24,56.  A  IL13  também  desempenha 

importante papel na indução da síntese de IgE24,56. El­Shazly et al. obtiveram, por 

meio de culturas de células NK de 16 adultos, que a vitamina D3 bloqueia o efeito  da IL15 sobre a P38 MAP quinase, reduzindo, assim, a produção de IL8 a partir das  células NK. E pode ser responsável pelo recrutamento e aumento da sobrevivência  de eosinofilos57

(25)

a  1,25(OH)2D  pode  ser  uma  forma  de  tratamento  adicional  nas  doenças  autoimunes e alérgicas, a partir da aplicação tópica de 1,25(OH)2D em ratos, nos  quais a VD aumenta a capacidade imunorreguladora de células T CD4+ e CD25

para suprimir Th1/Th17 e as respostas imunitárias de Th259

A hiper­responsividade do sistema imune na asma está relacionada a déficits  em linfócitos T reguladores  (Tregs), que atuam como moduladores de respostas  imunes exacerbadas, e à IL10, citocina anti­inflamatória41,60,61. Algumas pesquisas 

com  ratos  mostraram  que  estímulos  com  VD  promovem  redução  na  hiper-responsividade  da  asma24.  Além  disso,  níveis  séricos  de  VD  são  diretamente 

proporcionais à existência dessas moléculas reguladoras do sistema imune62

Resposta  mediada  por  Th17  também  tem  sido  verificada  em  asmáticos  graves24. Células Th17 secretam IL17, que possui importante papel na defesa do 

organismo  contra  fungos  e  bactérias,  entretanto,  a  produção  excessiva  está  associada  à  hiper­responsividade  das  vias  aéreas24,  além  de  resistência  aos 

corticoides no tratamento da asma61. Essa citocina é responsável por neutrofilia, 

remodelamento das vias aéreas e indução de mais citocinas pró­inflamatórias24

Cabe ressaltar, ainda, o potencial papel terapêutico da VD na resistência aos  corticosteroides em pacientes asmáticos, aumentando a responsividade ao uso do  medicamento63. A partir de células T coletadas do sangue periférico de asmáticos 

sensíveis a corticoides e de asmáticos resistentes a corticoides, constatou­se que  a suplementação de VD foi útil para reverter a resistência esteroide por meio da  indução de células Treg, secretoras de IL1063

Um papel adicional da VD na asma alérgica pode ser o de potencializar os  efeitos da imunoterapia64. O uso associado de fluticasona e vitamina D diminui a 

atividade dos músculos lisos das vias respiratórias, promovendo menos secreção  de citocinas pró­inflamatórias65

d) Efeitos sobre o desenvolvimento dos pulmões e a função pulmonar 

Estudos têm confirmado que a VD é necessária para o desenvolvimento do  pulmão intraútero e para a sua função normal. Acredita­se que déficits ainda em  períodos gestacionais podem predispor ao desenvolvimento de asma6

(26)

importante para a maturação pulmonar e para a produção de surfactante, por meio  de efeitos sobre os pneumócitos tipo 27. Com base em amostras de pulmões de 

rato, constatou­se que os pneumócitos tipo 2 têm sua função afetada pela ação da  1,25(OH)2D37,66

Com a descoberta da participação da VD no crescimento e desenvolvimento  pulmonar7, despertou­se o interesse em investigar a influência da suplementação 

de VD durante a gestação, visto que o déficit dessa vitamina pode ser um fator de  risco potencialmente modificável para a redução da prevalência de sibilância em  crianças67

Gaultier et al. compararam ratos com 50 dias de vida, sendo que um grupo 

havia nascido de genitoras que receberam suplementação de VD e outro grupo de  genitoras privadas desse estímulo. Nesse estudo, observou­se que a privação de  VD  foi  responsável  por  menos  complacência  pulmonar  em  relação  ao  grupo  nascido de animais que receberam o suplemento7,41,68

A  proteína  calbindina,  presente  em  vários  tecidos  do  corpo  humano,  está  sendo utilizada como um marcador de ação da VD. Existem relatos recentes de que  altos níveis de calbindina são observados em tecido de pulmão fetal humano, em  estágios  iniciais,  fato  que  fortalece  a  ideia  da  participação  da  VD  no  desenvolvimento pulmonar7

Zosk et al. foram os primeiros a demonstrar alterações na função pulmonar 

em proles de ratos com controle dietético de VD. Ratos provenientes de genitoras  com deficiência de VD foram analisados com duas semanas de idade e tiveram sua  estrutura pulmonar analisada histologicamente. A deficiência de VD não alterou o  crescimento somático, mas diminuiu o volume pulmonar e foi responsável por um  déficit  funcional  que  não  pôde  ser  inteiramente  explicado  pelo  menor  volume,  sugerindo também alteração estrutural do parênquima pulmonar69

Objetivando  entender  e  verificar  o  papel  da  VD  no  desenvolvimento  pulmonar  humano,  algumas  coortes  propuseram  comparar  grupos  de  crianças  cujas mães tiveram ingestão adequada de VD durante a gestação com grupos cujas  mães tiveram ingestão inadequada. Coorte realizada em Boston70 analisou 1.194 

(27)

Devereux et al.  utilizaram  amostra  aleatória  de  2.000  mulheres  grávidas 

saudáveis,  com  mediana  de  12  semanas  de  gestação,  recrutadas  durante  avaliações pré­natais no Hospital Maternidade Aberdeen, na Escócia67. Por meio 

de  questionários,  foi  verificada  a  ingestão  materna  de  VD  até  a  32ª  semana  de  gestação. As crianças provenientes dessas gestações foram avaliadas aos dois e  cinco anos. Foi questionado às famílias sobre episódios de chieira ou diagnóstico  prévio de asma. Ao final, tais crianças participaram de avaliações dietéticas, função  respiratória e testes alérgicos. Da amostra inicial, estavam disponíveis para análise  dados de 1.212 crianças. O baixo aporte de VD durante a gestação associou­se ao  aumento da prevalência de sibilância em crianças na idade de cinco anos. O risco  relativo foi proporcional ao da coorte de Boston, realizada por Camargo et al.70. A 

relação do aporte adequado de VD com a baixa prevalência de asma obtidas nesse  estudo foi independente de tabagismo materno e do aporte de ingestão de VD por  parte das crianças de cinco anos67

Os mesmos autores também evidenciaram que a deficiência na ingestão de  VD  durante  a  gestação  correlacionou­se  com  reduzida  resposta  dos  pacientes  asmáticos ao broncodilatador67

Além da influência da suplementação de VD materna durante o período de  formação  e  maturação  pulmonar,  outros  estudos  analisaram  a  relação  entre  a  capacidade  funcional  pulmonar  e  os  níveis  séricos  de  VD.  Relação  diretamente  proporcional foi captada entre a concentração sanguínea de VD  e maior volume  expiratório  forçado  no  primeiro  segundo  (VEF1)  e  a  capacidade  vital  forçada  (CVF)31,41,71 em adolescentes72 e adultos73

Estudo transversal em hospitais de Bangalore, na Índia, no período de março  a  agosto  de  2013,  objetivou  verificar  os  níveis  séricos  de  VD  em  crianças  com  asma71. Foram  acompanhadas  88 crianças  entre cinco e 18 anos, pareadas  por 

sexo  e  faixa  etária,  sendo  44  diagnosticadas  como  asmáticas,  de  acordo  com  avaliação clínica definida pela Global Initiative for Asthma Guidelines (GINA), e 44 

(28)

crianças asmáticas tinham níveis séricos de VD deficientes e 31,28% tinham níveis  insuficientes de VD71

No  mesmo  estudo,  foi  encontrada,  ainda,  correlação  diretamente  proporcional  entre  os  níveis  de  VD  e  o  VEF1  e  volume  expiratório  forçado/  capacidade vital forçada (FEV1/FVC)71

O estudo realizado por Searing et al. com 100 crianças e adolescentes (até 

18 anos) asmáticos também corrobora as evidências atuais15. Foram mensurados 

os níveis séricos de 25(OH)D nesses pacientes. Verificou­se insuficiência de VD  em 47% e deficiência em 17% dos pacientes. Foi relatado, ainda, que os pacientes  com déficits séricos dessa vitamina também exibiam aumento da necessidade de  corticosteroides, mais episódios de exacerbação e diminuição da VEF115

Diante  dos  dados  apresentados,  pode­se  concluir  que  a  VD  exerce  importante  papel  na  formação  e  maturação  pulmonar6,7,41,69,  além  de  estar 

relacionada diretamente à melhor função respiratória15,31,67,70,71. Entretanto, novas 

(29)

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo principal

Avaliar  a  prevalência  de  hipovitaminose  D  (nível  sérico  de  25(OH)D  <  30  ng/mL) em pacientes pediátricos, asmáticos e não asmáticos, com idades variadas,  desde o nascimento até os 18 anos, atendidos no Hospital Infantil São Camilo. Em  seguida, comparar as taxas de prevalência entre os dois grupos. 

Vale  ressaltar  que  o  Hospital  Infantil  São  Camilo  é  hoje  o  único  hospital  privado  de  Belo  Horizonte  que  se  dedica  exclusivamente  à  atenção  infantil,  absorvendo grande demanda da população do Estado de Minas Gerais. 

2.2 Objetivos específicos

a)  Caracterizar  e  comparar  os  grupos  asma  e  controle  em  relação  a:  idade,  gênero, renda familiar, cor, história familiar positiva para doenças alérgicas,  exposição solar, eosinofilia, IMC – CDC (escore Z). 

b)  Classificar  a  gravidade  da  asma  de  acordo  com  o  controle  da  doença  segundo as diretrizes do GINA. 

c) Analisar a distribuição dos níveis de vitamina D na amostra total estudada  (grupo­asma  e  grupo­controle),  calculando  a  mediana  e  a  prevalência  da  hipovitaminose D (valores de vitamina D < 30 ng/mL) da amostra total.  d)  Calcular e comparar as prevalências de hipovitaminose D em asmáticos e 

não asmáticos. 

e)  Estratificar  os  níveis  séricos  de  vitamina  D  medidos  na  amostra  em  três  categorias:  deficiente  (β 20  ng/mL),  insuficiente  (20,01  a  29,99  ng/mL)  e 

suficiente (≥30 ng/mL). 

(30)
(31)

3 PACIENTES E MÉTODOS

3.1 Delineamento do estudo

Trata­se  de  estudo  transversal  de  prevalência  de  hipovitaminose  D  na  população  de  pacientes  pediátricos  asmáticos  comparados  a  controles.  Essa  prevalência  será  estimada  pela  dosagem  de  25(OH)D  em  pacientes  pediátricos  com idades variadas, desde o nascimento até os 18 anos, atendidos no Hospital  Infantil São Camilo. Em seguida, serão feitas a estratificação dos níveis de vitamina  D em três categorias (suficiente, insuficiente e deficiente) e a comparação com o  grupo, idade, estação do ano, exposição solar, contagem de eosinófilos, nível de  hemoglobina, níveis de imunoglobulina E (IgE), controle da doença asmática, uso  de corticoide oral, de corticoide inalatório profilático e história familiar de doenças  alérgicas. 

3.2 Área de estudo

O  estudo  foi  realizado  no  Hospital  Infantil  São  Camilo  em  pacientes  asmáticos  e  não  asmáticos  que  atenderam  aos  critérios  de  inclusão  e  exclusão  desta pesquisa e que foram avaliados pela autora. Foram realizados anamnese,  exame  físico,  aplicação  de  questionário,  exames  para  a  avaliação  da  condição  alérgica  (IgE  total,  IgE  específica  para  ácaros,  mofo  e  baratas),  hemograma  e  dosagem de 25(OH)D. 

3.3 População do estudo

(32)

3.3.1 Critérios de inclusão

Os critérios de inclusão para os pacientes asmáticos foram: 

a)  Consulta pediátrica no Hospital Infantil São Camilo. 

b)  diagnóstico  médico  de  asma  ou  “síndrome  sibilante”  confirmado  por  avaliação realizada por pediatra do Hospital Infantil São Camilo com base  nos  critérios  propostos  pelas  Diretrizes  da  Sociedade  Brasileira  de  Pneumologia e Tisiologia para o Manejo da Asma1 e GINA39

c)  idade até 18 anos;

d)  recrutamento feito de junho de 2012 a junho de 2013.

Os critérios de inclusão para os pacientes­controle foram: 

a)  Consulta pediátrica no Hospital Infantil São Camilo;

b)  não apresentar diagnóstico médico de asma ou “síndrome sibilante”;

c)  diagnóstico  de  asma  ou  “síndrome  sibilante”  excluído  após  avaliação realizada por pediatra do Hospital Infantil São Camilo;

d)  idade até 18 anos;

e)  recrutamento feito de junho de 2012 a junho de 2013.

3.3.2 Critérios de exclusão

Foram  excluídos  do  estudo  os  pacientes  que  apresentaram  os  seguintes  critérios: 

a)  Doenças crônicas, exceto asma, que alteram o metabolismo da vitamina D  (paralisia  cerebral,  fibrose  cística,  síndromes  má­absortivas,  insuficiência  renal  crônica,  síndrome  nefrótica,  talassemias,  insuficiência  cardíaca  e/ou  imobilização prolongada); 

(33)

meses, exceto o corticoide oral utilizado por períodos de até sete dias para  o tratamento da crise aguda de asma ; 

c)  uso de suplementos de vitamina D e/ou fórmulas infantis; 

d)  não assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE);  e)  discordância em realizar os exames necessários à execução da pesquisa. 

3.3.3 Amostragem

Foi feita amostra de casos consecutivos, composta de todos os indivíduos  acessíveis  que  atenderam  aos  critérios  de  entrada.  Estes  foram  arrolados  consecutivamente, para minimizar­se o custo, o voluntarismo e outro tipo de viés  de seleção. 

Pacientes  pediátricos  que,  ao  serem  atendidos  no  Hospital  Infantil  São  Camilo,  apresentaram  o diagnóstico médico  de asma ou “síndrome sibilante”  ou  que  tiveram  esse  diagnóstico  excluído  após  avaliação  e  que  atenderam  aos  critérios de inclusão foram convidados a participar do estudo. 

3.3.4 Cálculo amostral

Para  obtenção  do  número  de  pacientes  necessários  à  constituição  da  amostra, foi realizado estudo­piloto com 130 pacientes, sendo 54 asmáticos e 76  controles. 

A partir do estudo­piloto, o tamanho da amostra de pacientes foi calculado  considerando­se  a  comparação  da  prevalência  de  hipovitaminose  D  entre  pacientes asmáticos (p1) versus a prevalência de hipovitaminose D entre pacientes 

não asmáticos (p2). Duas hipóteses foram avaliadas nessa situação: 

(34)

b) H1: a prevalência de hipovitaminose D na população pediátrica de asmáticos  é diferente da prevalência de hipovitaminose D na população pediátrica de  não asmáticos; p1 ≠p2. 

Levando­se  em  consideração  os  percentuais  de  hipovitaminose  D  encontrados (54% nos pacientes controles e 72% nos pacientes asmáticos), erro  alfa de 5% e poder estatístico de 80%, estimou­se o tamanho da amostra com 123  pacientes por grupo. 

Tendo em vista que a dosagem de vitamina D vem sendo feita rotineiramente  na avaliação dos pacientes pediátricos do HISC, foi possível obter número amostral  maior  que  o  calculado,  aumentando  consideravelmente  o  poder  estatístico  do  presente estudo. 

3.3.5 Tamanho da amostra

Foram  selecionados  inicialmente  453  pacientes,  dos  quais  14  foram  excluídos ­ as amostras sanguíneas de oito deles eram em quantidade ou qualidade  insuficiente para a realização dos exames; um paciente era portador de síndrome  nefrótica; dois estavam utilizando suplementos de vitamina D; e três estavam em  uso de anticonvulsivantes. 

Após exclusão desses pacientes, o banco de dados foi confeccionado com  as informações completas de 439 pacientes (96,9% da amostra inicial), sendo 226  pacientes­controle e 213 pacientes asmáticos. 

3.4 Diagnóstico de asma e “síndrome sibilante”

O diagnóstico, a classificação e a exclusão da asma foram estabelecidos por  pediatras  do  Hospital  São  Camilo,  que  observaram  os  critérios  propostos  pelas  Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para o Manejo da  Asma1 e GINA39

(35)

torácico, sobretudo  à noite  ou  nas  primeiras  horas  da manhã; tais  sintomas  são  marcados  pela  recorrência.  Geralmente  a  exacerbação  é  desencadeada  por  alérgenos ambientais, infecções de vias aéreas superiores ou exercício e observa-se melhora espontânea ou após o uso de medicações específicas para asma. É  forte o caráter genético, registrando­se, na maioria dos casos, história familiar de  atopia.  Já  o  exame  físico  é  inespecífico,  sendo  os  sibilos,  frequentemente  presentes,  não  patognomônicos  da  doença,  e  sua  ausência  não  exclui  o  diagnóstico. A confirmação pode ser feita por métodos objetivos, visto que os sinais  e sintomas da asma não são exclusivos  dessa condição. Os testes diagnósticos  disponíveis  na  prática  clínica,  que  avaliam  a  capacidade  funcional  do  paciente,  incluem  espirometria  (antes  e  após  o  uso  de  broncodilatador),  testes  de  broncoprovocação e medidas seriadas de pico de fluxo expiratório (PFE). Em certos  casos,  a  comprovação  da  reversibilidade  da  obstrução  ao  fluxo  aéreo  pode  ser  demonstrada apenas com o teste terapêutico com corticoide oral1

Conforme o documento GINA, o diagnóstico de asma em crianças com até 

cinco anos de idade é um desafio, porque os episódios de sibilância e tosse são  também comuns em crianças que não têm asma, principalmente em menores de  três anos39

Sibilos caracterizam a doença respiratória como chiado ou doença sibilante.  Episódios de doença sibilante são característicos de crianças que sofrem de asma,  mas  também  podem  ocorrer  em  crianças  não  asmáticas  afetadas  por  infecções  respiratórias agudas76, além de outras doenças localizadas e/ou que interferem nas 

vias  respiratórias,  como  rinossinusite  crônica,  refluxo  gastroesofágico,  fibrose  cística, entre outras2,3,29.  Independentemente da causa, a sibilância em lactentes 

tem elevada morbidade, traduzida por frequentes consultas em serviços de pronto-atendimento e hospitalizações. Assim  sendo, crianças  menores de dois  anos  de  vida e que manifestem pelo menos três episódios de sibilância no período de 12  meses  são  denominadas  sibilantes  recorrentes78.  Apesar  dos  avanços  na 

compreensão da doença, grande parte dos pneumologistas pediátricos ainda aceita  a definição clínica que considera como asma a recorrência de dispneia e sibilância  por pelo menos três vezes antes do segundo ano de vida, após exclusão de outras  doenças que provocam esse sintoma79,80

(36)

seus níveis de controle. O controle compreende a avaliação das limitações clínicas  e a redução dos riscos futuros de novas crises. 

Tendo como base, preferencialmente, as últimas quatro semanas, o controle  é avaliado de acordo com o grau dos sintomas, a necessidade de medicação de  alívio, a limitação de atividades físicas e a intensidade da limitação ao fluxo aéreo  (avaliação  da  função  pulmonar).  A  partir  desses  parâmetros,  a  asma  pode  ser  caracterizada como controlada, parcialmente controlada e não controlada. 

QUADRO 1 – Níveis de controle de asmaa 

Avaliação do controle clínico atual (preferencialmente nas últimas quatro semanas)  Parâmetros Asma

controlada

Asma parcialmente controlada

Asma não controlada

Todos os  parâmetros 

abaixo 

1 ou 2 dos parâmetros 

abaixo  parâmetros da asma 3 ou mais dos  pacialmente controlada  Sintomas diurnos  Nenhum ou β2 

por semana  ≥3 por semana  Limitação de atividades  Nenhuma  Qualquer 

Sintomas/ despertares 

noturnos  Nenhum  Qualquer 

Necessidade de 

medicação de alívio  Nenhuma ou por semana β2  ≥3 por semana  Função pulmonar (PFE 

ou VEF1)b,c 

Normal  <80% predito ou do  melhor prévio (se 

conhecido)  Avaliação dos riscos futuros

(exacerbações, instabilidade, declínio acelerado da função pulmonar e efeitos adversos)  Características que estão associadas a aumento dos riscos de eventos adversos no futuro: mau  controle clínico, exacerbações frequentes no último ano,a admissão prévia em UTI, baixo VEF1

exposição à fumaça do tabaco e necessidade de usar medicação em altas dosagens. 

Por  definição,  uma  exacerbação  em  qualquer  semana  é  indicativa  de  asma  não  controlada.

Qualquer exacerbação é indicativa da necessidade de revisão do tratamento de manutenção.

Valores pré­broncoldilatador sob o uso da medicação controladora atual.

Não aplicável na avaliação do controle da asma em crianças menores de cinco anos.

Fonte: Diretrizes da  Sociedade  Brasileira  de Pneumologia  e  Tisiologia para o  Manejo  da  Asma1,

adaptado de GINA39.

3.5 Coleta de dados

(37)

renda  familiar,  cor,  uso  de  vitamina  D,  história  familiar  para  doenças  alérgicas,  tempo médio de exposição solar diária, controle da asma e dados antropométricos.  A avaliação física baseava­se na medida de dados vitais, aferição do peso  e  estatura.  A  pesquisa  no  prontuário  consistia  em  encontrar  dados  relevantes  à  pesquisa  que  porventura  não  houvessem  sido  respondidos  no  questionário.  Os  parâmetros  antropométricos  mais  utilizados  na  infância  são  o  peso  e  a  altura/comprimento,  variando  conforme  idade  e  sexo.  Para  este  trabalho  foram  consideradas como referência as curvas de crescimento da Organização Mundial  de Saúde (OMS), que a partir do peso e da altura possibilitam a análise de alguns  índices antropométricos, entre eles: peso/idade (P/I), estatura/idade (E/I) e índice  de massa corporal para idade (IMC/I). 

3.5.1 Exames complementares

Os exames laboratoriais foram realizados a partir das amostras sanguíneas  coletadas dos pacientes que já tinham indicação de punção venosa para coleta de  exames. Dessa forma, não foram realizadas punções venosas nas crianças apenas  para coletar a amostra da pesquisa, evitando­lhes incômodos desnecessários. 

Todas  as  amostras  foram  coletadas  sob  as  mesmas  condições,  sendo  manipuladas e alocadas da mesma forma, acondicionadas em criotubos com rosca  externa  (tubos  estéreis);  e  posteriormente  enviadas  ao  mesmo  laboratório  para  serem analisadas com a utilização de equipamentos calibrados, com uso de soro  controle, evitando­se assim erros pré­analíticos e analíticos. 

Foram realizados  hemograma e dosagem sérica de 25(OH)D de todos os  pacientes e dos asmáticos foram dosadas também as imunoglobulinas (IgE total e  IgE específica para ácaros, mofo e baratas). 

Os resultados dos exames foram entregues aos pais ou responsáveis. 

3.5.1.1 Hemograma e dosagem da vitamina D 

(38)

Para  análise  da  VD,  utilizou­se  o  método  de  quimioluminescência.  A  dosagem sérica de 25(OH)D é considerada a medida mais confiável para avaliar a  hipovitaminose D, pois apresenta a maior meia­vida (duas a três semanas)21

Não  existe  consenso  literário  sobre  os  níveis  ideais  de  VD.  O  presente  estudo utilizou os níveis propostos pela maioria dos autores, ou seja, considerado  suficientes  quando  os  níveis  de  VD  séricos  ­ medidos  como  25(OH)D  ­ forem  superiores  a  30  ng/mL,  insuficientes  quando  entre  21  e  30  ng/mL  e  deficientes  quando menores que 20 ng/mL10,22

3.5.1.2 Dosagem de imunoglobulinas 

Para avaliação do “perfil atópico” dos pacientes asmáticos estudados foram  realizados exames complementares que incluíram a dosagem sérica da IgE total e  específica. Para a  dosagem  da IgE total, utilizou­se  o método  de ImmunoCap®,  sendo  considerado  sugestivo  de  atopia  valores  acima  de  100  UI/mL  e  para  a  dosagem de IgE específica o método ImmunoCap fluoenzimaimunoensaio®, sendo  considerados relevantes níveis superiores a 3,5 kU/L (classe III) para os alérgenos  de: ácaros (Dermatophagoides pteronyssinusDermatophagoides farinae Blomia tropicalis),  barata  (Blatella germanica)  e  fungos  (Penicillium notatumCladosporidium herbarumAspergillus fumigatus Alternaria alternata). 

3.6 Definição de variáveis

3.6.1 Variáveis dependentes

Resultados da dosagem sérica de 25(OH)D estratificada em três categorias  conforme o nível de vitamina D: deficiente (β20 ng/mL), insuficiente (20,01 a 29,99 

Imagem

FIGURA 1 – Metabolismo da vitamina D

Referências

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