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ARTIGO
ORIGINAL
Evaluation
of
factors
associated
with
vertical
HIV-1
transmission
夽
Matheus
Costa
da
Rosa,
Rubens
Caurio
Lobato,
Carla
Vitola
Gonc
¸alves,
Naylê
Maria
Oliveira
da
Silva,
Maria
Fernanda
Martínez
Barral,
Ana
Maria
Barral
de
Martinez
e
Vanusa
Pousada
da
Hora
∗UniversidadeFederaldoRioGrande(FURG),RioGrande,RS,Brasil
Recebidoem22deoutubrode2014;aceitoem22dedezembrode2014
KEYWORDS
Human
immunodeficiency virustype1; Verticalinfection transmission; Pregnantwoman
Abstract
Objective: To compare the prevalenceand factorsassociated with vertical transmission of human immunodeficiency virus1(HIV---1) amongpregnant womentreatedinthe periodsof 1998-2004and2005-2011inareferenceserviceforthecareofHIV-infectedpatientsinsouthern Brazil.
Methods: Thiswasadescriptiveandanalyticalstudythatusedthedatabasesoflaboratories fromtheCD4andSTDs/AIDSViralLoadNationalLaboratoryNetworkoftheBrazilianMinistry ofHealth. HIV-1-infectedpregnantwomenwere selectedafter anactivesearch forclinical informationandobstetricandneonataldatafromtheirmedicalrecordsbetweentheyearsof 1998to2011.
Results: 102pregnantwomenwereanalyzed between1998and2004and251intheperiod between 2005 and2011, totaling 353 children born to pregnantwomen with HIV-1. Itwas observedthattheverticaltransmissionratewas11.8%between1998and2004and3.2%between 2005snf2011(p<0.001).Theincreaseduseofantiretroviraldrugs(p=0.02),thedecreasein viralload(p<0.001),andtimeofmembranerupturelowerthan4h(p<0.001)wereassociated withthedecreaseofverticaltransmissionfactorswhencomparingthetwoperiods.
Conclusion: Itwasobserved adecreaseintherateofverticaltransmissioninrecentyears. Accordingtothestudiedvariables,issuggestedthattheriskfactorsforverticaltransmission ofHIV-1wereabsenceofantiretroviraltherapy,highviralloadinthepregnantwomen, and membranerupturetime>4h.
©2015SociedadeBrasileiradePediatria.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrightsreserved.
DOIserefereaoartigo:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2014.12.005
夽 Comocitaresteartigo:daRosaMC,LobatoRC,Gonc¸alvesCV,SilvaNM,BarralMF,MartinezAM,etal.Evaluationoffactorsassociated
withverticalHIV-1transmission.JPediatr(RioJ).2015;91:523---8. ∗Autorparacorrespondência.
E-mail:dahoravp@gmail.com(V.P.daHora).
PALAVRAS-CHAVE
Vírusda
imunodeficiência humanatipo1; Transmissãovertical deinfecc¸ões; Grávidas
Avaliac¸ãodosfatoresassociadosàtransmissãoverticaldeHIV-1
Resumo
Objetivo: CompararaprevalênciaeosfatoresassociadosàtransmissãoverticaldeHIV-1entre grávidastratadasde 1998-2004ede2005-2011em um servic¸o dereferênciadecuidado de pacientescomHIVnosuldoBrasil.
Métodos: Estudodescritivo eanalítico queusouasbases dedadosdelaboratórios daRede NacionaldeLaboratóriosdeCD4eCargaViraldeDST/AidsdoMinistériodaSaúde.Asgrávidas comHIV-1foramselecionadasemumapesquisaativadeinformac¸õesclínicasedadosobstétricos eneonataisemseusprontuáriosmédicosentre1998-2011.
Resultados: Foramanalisadas102grávidasentre1998e2004e251entre2005-2011,nototal 353crianc¸asnascidasdegrávidascomHIV-1.Observou-sequeatransmissãoverticalfoide11,8% entre1998e2004ede3,2%entre2005-2011(p<0,001).Omaiorusodemedicamentos antir-retrovirais(p=0,02),areduc¸ãonacargaviral(p<0,001)eotempoderupturademembranas menordoquequatrohoras(p<0,001)foramassociadosàreduc¸ãonosfatoresdetransmissão verticalquandoosdoisperíodossãocomparados.
Conclusão: Observou-se uma reduc¸ão nataxa de transmissãovertical nos últimosanos. De acordocomasvariáveisestudadas,sugere-sequeosfatoresderiscodetransmissãovertical deHIV-1foramausênciadeterapiaantirretroviral,altacargaviraldasgrávidasetempode rupturamaiordoquequatrohoras.
©2015SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todososdireitos reservados.
Introduc
¸ão
A transmissão vertical (TV) do vírus da imunodeficiência humanatipo1podeocorreremtrêsimportantesperíodos: intrauterino,nonascimentoouduranteaamamentac¸ão.1O
HIV-1podesertransmitidodentrodoúteropelotransporte
celulartransplacental,pormeiodeumainfecc¸ão
progres-sivados trofoblastos daplacenta atéque o vírus atinjaa
circulac¸ão fetal ou devido a rupturas na barreira
placen-táriaseguidasdemicrotransfusõesdamãeparaofeto.2A
transmissão durante o parto ocorre pelo contato do feto
comassecrec¸õesinfectadasdamãe aopassar pelocanal
vaginal,por meio de umainfecc¸ão ascendente da vagina
paraasmembranasfetaiseparaolíquidoamnióticooupor
meiodaabsorc¸ãonoaparelhodigestivodorecém-nascido.
Noperíodoapósoparto,aprincipalformadetransmissãoé
aamamentac¸ão.3
A rotade transmissãoverticaldo HIV-1 podeser
influ-enciada por diversos fatores, como o tipo de parto,4 o
usodeterapiaantirretroviral,5inflamac¸õesoraisno
recém--nascido,6 prematuridade e alta carga viral materna.7
Além desses fatores, a diversidade genética do vírus
parecedesempenharumimportante papel na transmissão
vertical.1,8
Aepidemia desíndrome daimunodeficiênciaadquirida
(Aids)está em processo de estabilizac¸ão; contudo,ainda
apresentaaltastaxasdetransmissão,especialmenteentre
mulheres,oquecaracterizaafeminizac¸ãodadoenc¸a.9
Por-tanto, é importante entender o perfil epidemiológico das
grávidase,dessaforma,daTV,poisasalterac¸õesna
preva-lênciadependemdefatorescomoousodeantirretrovirais
e aadesão das grávidas ao tratamento pré-natal.Esses e
outrosfatorespoderãolevaraumaquedanaTVefacilitar,
portanto,aadoc¸ãodemedidaspreventivasmaisefetivas.9,10
Estimou-seque,de1980ajunhode2013,718.230pessoas
viviam com HIV/Aids no Brasil.11 De acordo com o
bole-tim epidemiológico brasileiro de 2013, com análises de
informac¸õesdesde2010,aprevalênciadainfecc¸ãoporHIV
emgrávidaserade0,38%.11Atransmissãoverticalsetornou
umgrandedesafioàsaúdepúblicaedadosepidemiológicos
mostramque80%doscasosdeHIVemcrianc¸ascommenos
de13anosocorrerampormeiodaTV.11
Devidoaonúmerocadavezmaiordegrávidasinfectadas,
ac¸õescomoodesenvolvimentodeprogramas
governamen-taise o monitoramentode grávidas têmsido implantadas
desde2000noBrasileanotificac¸ãocompulsóriade
mulhe-resinfectadasecrianc¸as expostassetornouobrigatória.11
De acordo com o Sistema de Informac¸ão de Agravos de
Notificac¸ão(Sinan),11de2000a2013foramrelatados77.066
casosdeHIV em grávidase aregião SuldoBrasilestáem
segundolugar,com31,3%doscasos,atrásapenasdaregião
Sudeste (41,7%) e seguida das regiões Nordeste (14,9%),
Norte(6,3%)eCentro-Oeste(5,7%).Aocompararataxade
detecc¸ãodaAidsemcrianc¸ascommenosdecincoanos
(indi-cadorusadonoBrasilparamonitoraratransmissãovertical
doHIV)entre2012e2003,houvereduc¸ãode35,8%.11
Este estudo pretendeu comparar a prevalência e os
fatoresrelacionadosà transmissãoverticaldoHIV-1 entre
mulherestratadasde1998a2004ede2005a2011emum
servic¸odereferênciadecuidadodepacientescomHIVno
suldoBrasil,noHospitalUniversitáriodaUniversidade
Fede-raldoRioGrande(HU-FURG),nacidadedeRioGrande,RS,
Brasil.
Métodos
Apesar do desenvolvimentodeprogramas governamen-taisbrasileirosedomonitoramentodasgrávidasimplantado em 2000, os cuidados de saúde de pacientes com HIV comec¸aram noHospital Universitário Dr. Miguel Riet Cor-rea Jr.(FURG) em 1994 devido ao exame e à observac¸ão subsequente da alta incidência de casos na região. Esses cuidadosforamregulamentadospeloMinistériodaSaúdedo Brasil e, posteriormente,todos osprotocolos decuidados seguiamessasrecomendac¸ões.Devidoamudanc¸as,comoa maiorprevalênciadosubtipoviralCe adiferenc¸aentreo modeloterapêuticoefarmacêuticodospacientescomHIV encaminhadosnosdiferentesperíodosanalisados, decidiu--se estratificar os dados para viabilizar as análises. Além disso,issopoderiarelataraeficáciadosmodelosdecuidado recomendadospeloMinistériodaSaúdedoBrasil.8,12
Desde1998,todasasgrávidasquepassarampeloHospital
UniversitárioDr.MiguelRietCorreaJr.daUniversidade
Fede-raldoRioGrande(HU-FURG)foramsubmetidasaexamesde
HIV/Aids,conformerecomendadopelasdiretrizesdo
Minis-tériodaSaúdedoBrasil.Asgrávidasqueapresentaramdois
examessorológicospositivoseumexamedeconfirmac¸ãoe
doisexamesconsecutivoscomcargaviraldetectávelforam
classificadascomo infectadaspelo HIV.As mãesassinaram
umconsentimentoinformadoparaparticipardestapesquisa
eesteestudofoiaprovadopeloComitêdeÉticaemPesquisa
daFURG(23116001368/2003-44).
O resultado analisado foi a TV do HIV-1 em
recém--nascidos e as variáveis estudadas foram: uso de
tera-pia antirretroviral altamente ativa (HAART) --- Biovir®
(lamivudina+zidovudina, GlaxoSmithKline Brasil, RJ,
Bra-sil)+Kaletra®(LopinavireRitonavir,Abbot,IL,EUA)durante
agravidez,quantidadedecélulasCD4+Tnos últimostrês
mesesdegravidez,cargaviraldasgrávidas,tipodeparto,
tempo de ruptura e peso dos recém-nascidos (Kg) depois
do parto. O uso de terapia antirretroviral foi classificado
como:a)completo---quandoamãerecebeuantirretrovirais
durante a gravideze no momentodo parto, bemcomo o
recém-nascido;eb)incompleto---quandonomínimoumdos
trêsprocedimentosfoifeitoouquandoamãenãorecebeu
antirretrovirais. As variáveis sociodemográficasnão foram
padronizadas entreesses períodos. Portanto,não foi
pos-sível determinar o perfil demográfico dapopulac¸ão deste
estudo.
Osdadosforamanalisadoscomaversão8.0dosoftware
estatísticoStata(StataCorp,CollegeStation,TX,EUA).Uma
análisedescritivadasvariáveisnuméricasfoifeitadeacordo
comosperíodosestudados,apresentadasporfrequências,
valoresmédios,desviopadrãoevalordepsignificativode
0,05deumtestebicaudal.
Resultados
Nesteestudo,353crianc¸as nascidasdegrávidascomHIV-1 foramanalisadasentre1998e2011,assistidasnoHU-FURG nacidadedeRioGrande(RS).
Esteestudomostrouqueastaxasdetransmissãovertical obtidasentre1998e2004e2005e2011caíramdeforma sig-nificativa(p<0,001),de11,8%para3,2%,respectivamente. Éinteressanteobservarosresultadosem diferentes perío-dos,emqueataxadetransmissãoentre1998e2000foide
11,8%
7,7%
2,7% 2,9%
1998-2000 0%
5% 10% 15%
2001-2004 2005-2008
Períodos Estudados
Frequência
(%)
2009-2011
Figura1 Comparac¸ãodatransmissãoverticaldeHIV-1entre 1998e2011emumservic¸odereferência.
11,8%,de2001a2004,de7,7%,de2005a2008,de2,7%e de2009a2011,de2,9%(fig.1).
Noquedizrespeitoàsvariáveisanalisadasemambosos
períodos estudados (tabela 1), foi possível observar que,
entre 1998 e 2004, 79,4% das grávidas apresentaram um
tempoderupturademembranasuperioraquatrohoras.Em
contrapartida,entre2005e2011,apenas10,8%dasgrávidas
apresentaramumtempoderupturademembranasuperior
aquatrohoras(p<0,001).
Nãohouvediferenc¸asignificativanotipodepartoentre
osdoisperíodosestudadosnemnopesomédiodos
recém--nascidos após o parto. O uso de terapia antirretroviral
ao longo do período gestacional foi feito por 69,7% das
grávidas. Entre 1998 e 2004, 60,7% das grávidas
aderi-ram à HAART e entre 2005 e 2011 a taxa de adesão foi
de73,3% (p<0,02), o que sugere que a adesão à terapia
antirretroviral pelas grávidas parece ser um fator
impor-tante na reduc¸ão da transmissão vertical. Considerou-se
o uso completo da ART quando as mães relataram ter
usado o medicamento durante o período pré-natal, no
parto, e seu recém-nascido recebeu profilaxia com
sus-pensãooral deZidovudina (AZT) porseis semanas após o
parto. O uso de AZT injetável e AZT oral foi verificado
comasplanilhasdecontroledeprescric¸ãode
medicamen-tos durante as internac¸ões do paciente, de acordo com
o protocoloestabelecido peloMinistério da Saúde.Desde
1998,aatenc¸ãoàPrevenc¸ãodaTransmissãoVertical(PTV)
é feita de acordo com a recomendac¸ão da monoterapia
comAZT.Em 2001,foi recomendada aterapia tripla,que
combina três ARTs, com a inserc¸ão de Biovir® e
Nelfina-vir.Em2007,deacordocomarecomendac¸ãodoMinistério
daSaúde, foi introduzidoo Kaletra®,em substituic¸ão ao
Nelfinavir.
Houve um aumento na quantidade de células CD4+ T
(células CD4+ T>500) quando os dois períodos estudados
foram comparados. De acordo com os dados analisados,
entre1998-2004foiobservadaumafrequênciade28,4%de
grávidascomaquantidadedecélulasCD4+Tmaiordoque
500.Contudo,de2005-2011,opercentualdegrávidascom
aquantidadedecélulasCD4+Tmaiordoque500aumentou
para57,3%(p<0,001).
Aoanalisaracargaviralmaterna,pode-seobservarque
as grávidas com carga viral entre indetectável e log de
2,9representavam68%de2005-2011e28,4%de1998-2004
Tabela1 Comparac¸ãodosfatoresrelacionadosàtransmissãoverticaldeHIV-1entre1998-2004e2005-2011emumservic¸ode referência
Temposderupturadamembrana ValordeP
Período N >4h % <4h % <0,001
1998-2004 102 81 79,4 21 20,6
2005-2011 251 27 10,8 224 89,2
Total 353 108 30,6 245 69,4
Tipodeparto 0,67
N Cesáreo % Normal %
1998-2004 102 39 38,2 63 61,7
2005-2011 251 90 35,8 161 64,8
Total 353 129 36,5 224 63,5
Transmissãovertical <0,001
N HIV+ % HIV- %
1998-2004 102 12 11,8 90 88,2
2005-2011 251 8 3,2 243 96,8
Total 353 20 5,7 333 94,3
Terapiaantirretroviralduranteagravidez 0,02
N Incompleta % Completa %
1998-2004 102 40 39,3 62 60,7
2005-2011 251 67 26,7 184 73,3
Total 353 107 30,3 246 69,7
QuantidadedecélulasCD4+T
N células0-199 % células200-499 % células>500 %
1998-2004 95 18 18,9 50 52,6 27 28,4
2005-2011 251 13 5,2 94 37,5 144 57,3
ValordeP <0,001 <0,001 1.00
Cargaviralmaterna---Log10
N 0-2,99 % 3,0-3,99 % 4,0-4,99 % ≥ %
1998-2004 95 27 28,4 23 24,2 35 36,8 10 10,5
2005-2011 251 173 68,9 49 19,5 26 10,3 3 1,2
Valordep <0,001 0,37 <0,001 <0,001
Sexodacrianc¸a 0,68
N Masculino % Feminino %
1998-2004 102 54 52,9 48 47,1
2005-2011 251 127 50,5 124 49,5
Total 353 181 51,3 172 48,7
Discussão
OBrasiltemcomometaaeliminac¸ãodatransmissãovertical doHIV-1(menosde1%datransmissão)até2015.11 Estudos
mostraramque épossívelimpedir novasinfecc¸õesporHIV
emcrianc¸as,poisasgrávidascomHIVtêmacessoimediatoe
adequadoaocuidadopré-nataleàHAART.13 Nesteestudo,
observou-seumataxa detransmissãoverticalde HIV-1de
5,7%em353crianc¸asnascidasdemãessoropositivasentre
1998 e 2011. Contudo, é interessante analisar a taxa de
transmissãoverticalemdiferentesperíodos.Nesteestudo,
podeserobservadoque,entre1998-2000,ataxadeTVfoi
de11,8%,de2001a2004,de7,7%,de2005a2008,de2,7%
ede2009a2011,de2,9%.Issodemonstraqueastaxasde
TVsãorelativamentebaixasquandoanalisadasem
entre2005-2008(2,7%)e2009-2011(2,9%),oquepodeser
justificadodevidoaofatodeumapartedasgrávidascomHIV
aindanãousaraquimioprofilaxiaduranteagravidez,
especi-almenteasusuáriasdedrogas,e,atualmente,devidoaouso
específicodadrogailícitacrack.Osdadosmostraramqueos
registrosfarmacêuticospodemajudaraidentificarabaixa
adesãoaotratamento.14Devidoàestabilizac¸ãodosvalores
dastaxasdereferênciadeTVnãoapenasnesteestudo,mas
noBrasil,oMinistériodaSaúdeimplantou,em2012,ouso
de Nevirapina (NVP)(Nota Técnica n◦ 388/2012). No
Bra-sil,defende-seousodeAZTcomNPVparaaprevenc¸ãode
HIVemrecém-nascidos,poisumestudopublicado
recente-mentedemonstrouqueotratamentooralcomumasoluc¸ão
comAZTduranteseismesesassociadoaumasuspensãooral
deNPVcomtrêsdosesnaprimeirasemanadevidareduziu
significativamenteataxadetransmissãoverticaldegrávidas
quenãousaramaquimioprofilaxianagravidez.11
Levandoemcontaametadesteestudoeastaxas
obti-dasentre1998-2004 e2005-2011, observou-seumaqueda
drásticanastaxasdetransmissão,de11,8%para3,2%,
res-pectivamente,resultadoqueclaramentemostraaquedanas
taxasdetransmissãovertical.Comparandoessesresultados
comestudosfeitos na mesmaregião doBrasil, umestudo
publicadoem 2006observouumataxadeTVde11,8%em
neonatosnascidosentre1998e2003.12Posteriormente,em
outroestudo publicadoem 2010 paraamesmaregião, foi
observadaumataxa deTVde4,8% entre2003 e20078 e,
nesteestudo,foiobservadaumataxadeTVdeapenas2,9%
aoseanalisarapenasoperíodode2007a2011.Esses
resul-tados claramente demonstram que houve uma queda nas
taxas de TV de HIV-1, o que destaca a eficácia da
polí-tica nacional e do programa de controle de transmissão
vertical.
Com a aprovac¸ão da Lei n◦
9313 em 13 de novembro
de1996, o Brasilcomec¸oua confiar em seu ordenamento
jurídicocom umalegislac¸ão que garanteo acesso ao
tra-tamentoantirretroviralporpessoascomHIV/Aids.Assim,o
Brasilsetornouoprimeiropaísemergenteafornecer
tera-pia antirretroviral a pacientes que precisavam. Em 2009,
a Secretaria Substituta da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária comec¸ou a usar examesrápidos de HIV em
grá-vidas de acordo com a autorizac¸ão conferida pelo Artigo
45 do Decreto n◦
6860, de 27 de maio de 2009.9,11
Por-tanto,essasmedidasdecontroleexerceramumainfluência
naquedadastaxasdeinfecc¸ãoporHIVemcrianc¸asentreos
períodosestudados,resultadoquedemonstraaimportância
delas em servic¸ospúblicos desaúde.Quedas semelhantes
nastaxasdetransmissãoverticalsãoencontradasem
diver-sospaísesqueadotammedidasdecontrole,especialmente
ousodaterapiaantirretroviralporgrávidascomHIV.15Neste
estudo,observou-seque69,7%dasmãesfizeramusodo
tra-tamentoantirretroviralao longodoperíodogestacional,o
quesugereumaquedanataxadetransmissãovertical.Em
um estudo publicado em 2011, foi observado que de 25
crianc¸as soropositivas, 9% nasceram de mãesque
recebe-ramterapiaantirretroviralinadequadaduranteagravidez,
fatoqueocasionouumataxadeapenas1,7%detransmissão
vertical.16
Ao analisar osdiferentes períodos desteestudo,
pode--se observar que, entre1998 e 2004, 60,7% das grávidas
aderiram ao uso da terapia antirretroviral e entre 2005
e 2011 houve um aumento no número de grávidas que
aderiramàterapia antirretroviralduranteagravidez,que
totalizaram 73,3%. Isso sugere uma baixa carga viral em
grávidas e uma queda nas taxas de transmissão vertical
entre2005 e 2011, que é de apenas 3,2%. Esses
resulta-doscorroboramumestudoanterior,quedemonstrouqueos
principaisfatoresderiscoparaatransmissãodeHIVerama
falhadaterapiaantirretroviral,odiagnósticomaterno
tar-dioe, consequentemente, a alta carga viral em grávidas
no parto.8 A terapia antirretroviral na gravidez é
extre-mamenteimportanteparaimpediratransmissãoverticale
podeserusadaemqualquerperíodo,independentementeda
condic¸ãoclínicanaqualamãeseencontra.17Estudos
rela-taramqueumaaltacargaviralebaixaquantidadedecélulas
CD4+Tnagravidezsãofatoressignificativosdatransmissão
vertical.8,18
Vale destacar que um período inferior a quatro horas
paraaruptura damembranaé extremamenteimportante
parareduziratransmissãoverticaldeHIV-1.19Nesteestudo,
pode-se observar uma reduc¸ão significativa(P<0,001) no
tempoderuptura ao analisar osperíodos estudados, pois
houveumafrequênciade 79,4% degrávidas que
apresen-taramumtempoderupturasuperiora quatrohoras entre
1998-2004. Em contrapartida, de 2005-2011 a frequência
foide10,8%degrávidasqueapresentaram tempode
rup-turasuperioraquatrohoras.Adiferenc¸asignificativaentre
o tempode ruptura da membranaem ambos os períodos
estudadosé o resultado daatualizac¸ão dos protocolosde
cuidadoparagrávidascomHIV.Em2004,iniciou-seo
incen-tivoaoexamede HIVdurante o tratamentopré-natale a
implantac¸ãoadequadadeac¸õesdeprevenc¸ãode
transmis-sãoverticaldeHIVeoprimeiroprotocolofoipublicadoem
2007.De acordo com o guiabrasileiro de recomendac¸ões
deprofilaxia da transmissãode HIV e de terapia
antirre-troviralem grávidas,deveocorreragestãoativadoparto
paraimpediroprolongamentodotempoderupturada
mem-brana,umavezquequantomenorotempo,menoréorisco
datransmissãovertical.9
Apesardoesforc¸oparareduziraTV,oriscoresidualdessa
transmissãoaindaérelativamentealtoemcomparac¸ãocom
o risco observado na área da HAART.20 O fato de que a
região Sul do Brasil normalmente apresenta maior
preva-lênciadoHIV-1desubtipoC,transmissívelmaisfacilmente
noútero,8podeajudaraexplicarataxadeTVencontrada
nesteestudo.Alémdessefato,aadesãotardiaeabaixa
ade-sãoaocuidadopré-natal,especialmenteentreusuáriasde
drogas,favorecemaTV.Umestudodemonstrouqueabaixa
coberturadoexame pré-natalquantoà infecc¸ão materna
porHIV impedeo tratamento ouaprofilaxia maternae o
usoincorretodoexamerápido nainternac¸ãoparaoparto
impedeareduc¸ãoefetivadeTVdoHIV.21Paraocuidadode
grávidascombaixa adesãoaoexamepré-natalser
expan-didona regiãodesteestudo,especialmenteentreusuárias
dedrogas,oservic¸odeencaminhamentodoHospital
Univer-sitárioDr.MiguelRietCorreadaFURG/RioGrandefazuma
buscaativademulheresafavordaeficáciadocumprimento
dosprotocolosdocuidadopré-natalconformerecomendado
peloMinistériodaSaúde.
Portanto, este estudo pode sugerir que o aumento da
terapiaantirretroviralnagravidez,omomentoderuptura
damembranainferioraquatrohoraseabaixa cargaviral
contribuíramparaadiminuic¸ãodatransmissãoverticalde
compatíveiscom osdados obtidosna literatura.2,7,22
Con-tudo,maisestudosdevemserfeitosparaestabelecerquais
fatoresestãoenvolvidosnatransmissãovertical.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Agradecimentos
Ao Laboratório de Apoio à Aids, aos médicos de doenc¸as infecciosase obstetrasdoServic¸odeAids/HIVdoHospital UniversitárioDr.MiguelRietCorreadaFURGeaoMinistério daSaúde.
Referências
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