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Escolha ocupacional e ingresso na ocupação: um estudo de fatores determinantes

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ESCOLHA OCUPACIONAL E INGRESSO NA OCUPACÃO

UM ESTUDO DE FATORES DETERMINANTES

(2)

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ESCOLHA OCUPACIONAL E INGRESSO NA OCUPAÇÃO - um estudo de fatores determinantes

Teresinha França

Dissertação submetida corno requi, sito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação.

Orientad.ora:

Profa. Míriam Limoeiro Cardoso

Rio de Janeiro

FUNDAÇÃO GETúLIO VARGAS

INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM EDUCAÇÃO DEPARTftMENTO DE PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

(3)

A meus nais

(4)

" ' .

Meus mais sinceros agradecimentos:

a minha orientadora, Profa. Miriam .Limpei

ro Cardoso

-por ter acreditado na possibilidade de se fazer este trabalho e

por ter me ajudado a encontrar o.caminho de fazê-lo;

ao Prof. Antônio Gomes Penna pela precio-sa colaboração;

aoProf. Celso João Ferretti pela inesti-mável contribuição;

a todas as pessoas que colaboraram, discu tindo comigo a idéia original ou o encamI nhamento posterior do trabalho;

a todos os amigos que contribuiram com seu apoio e interesse;

ao Prof. Geraldo Faria e a Maria do Socorro Barreira pela participação especial.

Agradeço ainda:

ã

Universidade Federal de Goiás e

ã

CAPES que me propiciaram condições para fazer o Curso de Mestrado, por meio da licença re munerada e da bolsa de estudos

(5)

. '.'

R E S U M O

Este é um trabalho teórico que analisa a ques-tão do estudo dos determinantes da Escolha Ocupacional e do Ingresso na Ocupação. Inicialmente realiza uma críti-ca de algumas formulações teóricríti-cas vigentes, apontando o contefido ideológico a elas subjacente, em especial no ca-so de formulações de natureza psicológica. A seguir pro-poe alguns pontos de referência para o estabelecimento de uma posição teórica alternativa, que parte da considera-.çao do indivíduo numa perspectiva de totalidade, do indi

víduo trabalhador na concretude das relações capitalis-tas de produção e de trabalho.

Nessa abordagem recomenda-se aos que se dedicam ao estudo dos aspectos psíquicos que não deixem que a ê~ . fase no psicológico encubra a importância do econômico. Igualmente os que tratam do econômico nao devem descurar o pape.l dos aspectos psíquicos.

A B S T R A C T

This is a theoretical investigation which analizes what determines occupational choice and occupational entry. Firstly, a criticism on theoretical formulations in made, pointing out its surrounding ideology, with special empha-sis on formulations of psychological n~ture. Then, it pro-vides some reference points in order to establish an alte~

(6)

' .

.'

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

.

. . .

.

. . .

.

. .

.

. . . .

CAPITULO I - A TEORIZAÇÃO EM TORNO DA ESCOLHA OCUPA CIONAL E DO INGRESSO NA OCUPAÇÃO • . . 1.1 - Origens da investigação

1.2 - Contribuições para a teorização I.2.a - A contribuição dos psicólogos. I.2.b - A contribuição dos sociólogos I.2.c - A contribuição interdisciplinar

CAPITULO 11 - CONSIDERACOES CRITICAS J •

11.1 - As formulações psicológicas

11.l.a O revestimento ideolóp,ico da

teo-ria . .

.

. .

.

II.l.b - Escolha Ocupacional e Ideologia Liberal

11.2 As formulações sociológicas

P.ágina

I

1

1

3

3

14 17

. 22

2.2

25

31 36 11.3 - O esquema interdiscinlinar . . . . . 36 11.4 - Proposta (provisória) de

encaminha-mento da questão • • . . . • . 37

CAPITULO IIr..; EM BUSCA DE FUNDAMENTAÇÃO TEORICA. 43

CAPITULO IV - A QUESTÃO DO INDIVIDUO SOCIAL IV.l - O indivíduo como ser natural IV.2 - O indivíduo como ser histórico

IV.3 - O significado da produção da vida ma terial para o indivíduo . . . • IV.4 - Indivíduo e relações sociais IV.5 - Classe social e indivíduo

CAPITULO V - (la. parte) O INDIVIDUO E AS RELAÇOES CAPITALISTAS DE PRODUÇÃO E DE TRABALHO V.l - O indivíduo "livre" e isolado . . . V.2 - A produção de mercadorias . . . V.3 - Trabalho abstrato e indivíduo abstra

54 55 56

58

66

68

74 74 76

(7)

'I.

Página

V.4 - A compra e venda da força de

traba-lho . . . . 80

V.S - Trabalho excedente (e mais valia) 81 V.6 -. Trabalho manual vs. trabalho intelec

tual . . . . V.7 Alienação do trabalho . . .

V.8 - O trabalhador e as oportunidades de

84 8S

trabalho . . . 87 V.9 - A questão da auto-realização no

tra-balho . . . . . 90

(2a. parte)

O INDIVIDUO E O TRABALHO FORA DA

ES-FERA DA PRODUÇÃO . 94

V.lO - A atividade humana transformada em

mercadoria . . . " . 97

V.ll - A desqualificação do trabalho nas ocu

pações do Terciário . . . . . 99 V.12 - A subordinação da atividade

intelec-tual . . . . . 103

CONCLUSj'\·O ~ • • • • • . • . . ." . . . . " . . . • . 109

BIBLIOGRAFIA ' I ' .

' • • I ' • • • , • • _ . _to _ . • . ' • • • • • • • • • • • • •

(8)

1.:

INTRODUÇÃO

Este trabalho decorre de estudos que tenho fei-to a respeifei-to do problema da entrada do indivíduo para uma ocu-· pação, dos fatores que o levam a seguir uma carreira em vez de outra, a trabalhar nesta profissão e não naquela. Trata-se de uma p~oblemática relevante para a Psicologia e a Educação. Con-frontàda com a mesma, comecei por abordá-la com base no instru-mental que eu possuía em virtude de minha formação nas ~reas de Psicologia e da Educação. Deparei-me então com a alternativa de definir o objeto de estudo do ponto de vista do processo da Es-colha Ocupacional, abordagem típica da Psicologia e que é muito comum na literatura corrente. No entanto, tendo em mente 0$ pr~

cessos que ocorrem a um indivíduo situado em sua realidade con-creta, essa abordagem não se revelou basta.nte adequada. Se visa mos o indivíduo que procura trabalho no contexto de uma forma -çao econômico-social capitalista, vemos que o objeto não pode

ser abordado simplesmente sob o ângulo da Escolha Ocupacional. A Escolha não é o fator desisivo, pois, não garante o ingresso do indivíduo na ocupação, como ilustra o confronto de todos os anos entre a euforia dos aprovados no Exame Vestibular e o desa lento dos recém-formados frente à limitação do mercado de traba lho.

Por outro lado, o ingresso na ocupaçao pode ou não ser precedido_de uma opção do candidato. Isto se evidencia ·por exemplo no denso contingente de jovens em particular nos estra-tos sócio-econômicos mais baixos que, premidos pela necessidade de ganhar a vida, ingressam em ocupações que jamais escolheriam se pudessem escolher. O ingresso em dada ocupação como parte da força de trabalho é assim determinado em grande parte por fato-res alheios ao plano individual no qual se dá a escolha; decor-re de forças que se situam noutro plano, o plano 'econômico - so cial.

Tornava-se assim necessário ampliar a perspecti-va de abordagem da questão. O objeto de estudo deveria ser

(9)

-.0"

tituído nao só pela Escolha. Ocupacional como também pelo Ingre~

so na Ocupação. O estudo deveria abarcar o complexo conjunto de determinantes envolvidos em um é outro processos, bem como . a

relação entre os dois. Essa determinação abrange mais do que os deter~inantes que se situam no plano individual, onde atuam fa-tores p~ssoais, como é o caso dos psicológicos (aptidões, tendê~

cias, áspirações, et-c~)." Ela engloba também fatores de outra natureza, que se originam do plano de inserção" do indivíduo na estrutura produtiva e se relacionam ao mercado de trabalho.

Ao ampliar o ângulo de tratamento do tema, depa-rei-me com um campo novo, o econômico, com o qual não estava fa-miliarizada; impunha-se no entanto levá-lo em conta se se qui-sesse captar as reais determinações dos processos em questão. Ti ve então que abordar este campo, num esforço de encontrar o . en-foque adequado à natureza do objeto de estudo. Colocava-se aí a questão de encontrar um referencial suficientemente amplo para incluir o econômico, "bem corno os outros aspectos envolvidos. Ao

longo do estudo tento buscar os pontos de referência para o es-tabelecimento deste quadro. No trabalho, relato o processo que vivenciei: o surgimento da questão, as dificuldades sentidas "diante dela, as soluções tentadas', o caminho enfim seguido. Ao mes-mo tempo' apresento os elementos teóricos que orientaram"·

mi-, nhas opçoes •.

De início eu pretendia fazer uma investigação teõ .:- -rica-empírica acerca dos determinantes da Escolha Ocupacional e

do Ingresso na Ocupação. Buscando estabelecer a fundam~ntação

teórica necessária, fiz" primeiro urna análise da teorização exis-tente em torno do problema. Conforme ilustro com algumas

for-o mulações, .. as explicações encontradas" não satisfaziam às

eXigên-cias do estudo, urna vez colocado o obJeto na perspectiva aqui adotada. Pensei então utilizar corno referencial' a PsicologiaCO!! creta (de G. Politzer); nesta, aspectos psicológicos corno os que são envolvidos nos processos de Escolha Ocupacional e de Ingres-so. na Ocupação são enfocados no contexto mais amplo de outros as -pectos da vida humana, de outros fatos cuja determinação nao e

..

. 'basicamente ·psicológica.

(10)

-Entretanto, numa análise mais detida, percebi, com

base nas próprias indicações da Psicologia Concreta,que mesmose~

do mais ampla do que outras perspectivas dentro da Psicologia, eê,.

ta abordagem, basicamente psicológica, ainda não seria adequada

ao objeto de f~studo; não comportaria a amplitude de determinan-te envolvidos nos processos em questão. A área de abrangência

da Psic'ologia compreende a parte relativa ao indivíduo, num

es-tudo que pretendia abarcar outros tipos de determinantes

situa-dos além; do plano individual. A questão teórica continuava as-. sim.por resolv~r. Era portanto impossível nesse momento deter-minar a via metodológica a seguir na investigação teôrico-empíri

ca uma vez que a opção metodológica não é algo independente

dentro da investigação. Decidi então alterar o projeto

origi-nal; desisti da parte empírica e passei a dedicar-me a um estudo

de natureza teórica, tentando esclarecer a dificuldade

encontra-da, ,qualificá-la.

Situei como ponto central do problema teórico a

concepçao de indivíduo 'ou das relações entre índivíduo e

socie-"dade da qual se deriva um modo de encarar o indivíduo enquanto

trabalhador, alvo da investigação. A crítica das formulações e~

,

tudadas no início sugeria estar subjacente à maioria delas (as psicológicas principalmente) uma concepção que nao correspondia

ao indivíduo concreto que o estudo visava. rl'ratava-se do indi vf

duo concebido como um ser genérico, a-histórico, abstraído das

condiçoes objetivas nas quais se desenrolam todas as suas ações.

Proponho então uma concepção alternativa que pre~

supoe ser a realidade e·conômico-social do indivíduo a base real

de seus comportamentos individuais. O trabalhador é visto como

'um indivíduo social cujo modo de ser e de atuar é basicamente constituído pelas relações sociais que vive; tais relações sao

fundadas nas condições materiais da produção sOC,ial, condições

essas que, nas sociedades de classe, decorrem fundamentalmente da

classe social a que o indivíduo pertence.

(11)

-.'. fi •

Sendo históricas essas relações, há que situá-las num momento determinado. O estudo do indivíduo-trabalhador numa formação econômico-social capitalista hoje requer a investigação do modo espec'ífico como' esse indivíduo é afetado pelas relações sociais que vive nas atuais condições capitalistas de produção e de ~x:abalho. Essa investigação é feita a seguir no trabalho •

. A partir daí, recoloco a questão da Escolha· Ocu-pacional' e do Ingresso na Ocupação. Tento discutir as prin-cipais implicações que teria, para o trabalhador ou candidato a trabalho,. sua inserção no .contexto analisado. É então redimen-sionada a questão de seu ingresso numa ocupação corno parte. da força de trabalho e de suas possíveis chances de opção pessoal dentro desse processo.

Quanto à bibliografia utilizada no trabalho, as obras citadas são indicadas ao final de cada capítulo. As de-mais constam da Bibliografia, ao final do tralJalho.

"\

- IV

(12)

CAPITULO I

A TEORIZAÇÃO EM TORNO DA ESCOLHA OCUPACIONAL E DO INGRESSO NA OCUPAÇÃO

Neste capítulo busco urna fundaméntação teórica s~ tisfatória para o estudo dos determinantes da Escolha Oc~

pacional e· do Ingresso na Ocupação. Neste sentido faço urna análise de algumas formulações existentes a respeito do problema.

1.1 - ORIGENS DA INVESTIGAÇÃO

A necessidade de um estudo dos determinan-tes da Escolha Ocupacional e do Ingresso na Ocupação foi sentida, cada vez mais, ao longo de minha experiência co-rno professora da disciplina Orientação Vocacional, no Cur so de Pedagogia da Universidade Federal de Goiás. Integr~

da no currículo da Orientação Educacional esta discipli-na tem visado preparar orientadoras. que assistam alunos de 19 e 29 graus na tornada de decisões em relação ao

in-gresso numa -ocupação. Senti então necessidade de teorias que fundamentassem esta prática e assim deparei-me com "a questão da relação teoria-prática, um verdadeiro problema para educadores, que vivem às voltas com teorias que nao conseguem praticar, ou o risco das práticas que não cons~

guem fundamentar ou ainda, o que ê pior, a experiência de-sagradável de acasalar teorias e práticas às vezes contr~

ditórias."l Foi então que decidi partir para um exame das teorias que fundamentam o processo da Escolha Ocupacional e do Ingresso na Ocupação.

(13)

2

cio. O "Dictionary" transcreve a definição da Internatio nal Standafd Classification of Occupations (1949) Gene bra: Interriational Labour Office: "A ocupação é um tipo de trabalho desempenhado pelo indivíduo, independente da organização na qual trabalha e do "status" de emprego do indivíduo.,,2

A busca de fundamentação para uma atividade prá-tica pode ter o propósito de chegar a uma explicação do processo em questão, bem como o de dar indicações de for-mas de intervenção. Quanto a mim, não havia uma preocupa-ção intervencionista, pelo menos imediata. Meu interesse principal era conhecer a explicação do processo. Secunda-riamente, então, é que eu poderia pensar o problema da i~

tervenção.

A teoria deveria conformar-se aos fatos observa-dos que davam origem a duas ordens de daobserva-dos: a) daobserva-dos as-sistemáticos, provenientes de observações diretas feitas por mim, por minhas alunas e por orientadoras em exercí-cio; b) dados oriundos de levantamentos que relacionavam camada social de origem dos alunos com as profissões que acabavam seguindo.

Assim, procurávamos uma teoria que se aplicasse

à

população de alunos envolvida em nossa prática. Nossas ori entadoras trabalhavam geralmente em 'Escolas Públicas de 19 e 29 graus aonde iam ter alunos oriundos de médias e

baixas camadas sociais da população (embora nao das mais baixas, pois estes, como se sabe, não chegam até esses graus). Eu tinha em mente que a teorização em Escolha Ocu pacional e Ingresso na Ocupação é específica do tipo de . formação social em que os dados são obtidos; reflete a re laçãodo indivíduo com os outros indivíduos no mundo do trabalho, relação esta que ê determinada pelo modo de pr~

dução vigente, pelo nível de desenvolvimento da produção, pelo tipo de divisão social do trabalho existente e por outros fatores derivados.

(14)

3

1,2 - CONTRIBUIÇOES PARA A TEORIZAÇAO

Constatei que a teorização nesta área nao estava ainda mui to desenvolvida, que apenas nas úl timas d~

cadas as explicações te6ricas t~nham começado a surgir, de modo que seus esforços mal tinham chegado a resultados es cassos, embora existissem muitas tentativas neste senti-do.

A variedade de fatores que interferem na Escolha Ocupacional e no Ingresso na Ocupação tem levado estudio-sos de várias áreas a se interessarem por tais fatores.Al guns estudiosos têm apresentado suas contribuições separ~

damente, evidenciando a prevalência de determinantes eco-nõmicos, socio16gicos ou psico16gicos. Outros têm tenta-do um trabalho conjunto. Estas várias contribuições, en-tretanto, não se apresentam de maneira integrada. Não se tem conseguido reunir de forma sistematizada os estudos dispersos pelas várias áreas de modo que constituam uma explicação unitária e coerente do processo.

O âmago da questão parecia situar-se na dificul-dade em se teorizar a respeito de um comportamento, enca-rado como resultado de interação indivíduo-meio. Em obra sua Martins infere da literatura examinada que, especialmente quanto ao aspecto evolutivo do comportamento voca -cional, o estudo das características pessoais e sua inte-ração com as variáveis dinâmicas do ambiente ainda não foi devidamente t'ratado pelos te6ricos.

I.2.a) A Contribuição dos Psic6logos

Existe uma grande preocupação por parte dos psic6logos da área de Aconselhamento e de outras. áreas com a necessidade de formulações te6ricasa respeito do problema. A contribuição destes estudiosos mereceu maior atenção, neste trabalho, acarretando maior peso desta sec çao por duas razões:

19 ) po~ provir desta área a maior parte dos est~

(15)

4

29 ) por ser este tipo de contribuição o mais co-nhecido e utilizado na área da Orientação Edu cacional.

Este privilégio do aspecto psicológico na Educa çao reflete uma tendência tão conhecida quanto inquietan-te. O psicologismo na educação é apontado por Carlos Ro-drigues Brandão. "Os educadores libertam-se aos poucos de um psicologismo do século XIX. Deixam de pensar na educa-çao apenas em termos de ",homem", "pessoa" e "personalida-de" e descobrem as dimensões sociais do que pensam e pra-ticam. Mas as análises dos determinantes sócio-culturais da atuação pedagógica são ainda pouco pratica1as e pouco compreend idas pelos diversos espec ialis tas da educação. ,,3 Na área da Orientação Educacional, então, é patente a hi-pertrofia da fundamentação psicológica, em detrimento dos outros tipos de fundamentos, o que pode ser constatado por exemplo por meio de uma análise de currículos destes cur-sos.

Pode-se ver claramente como isto tem a ver com uma preocupação em termos de intervenção imediata, predo-minantemente a nível individual. O objetivo fundamental da Orientação Vocacional tem sido auxiliar o indivíduo no pr~

cesso de escolha, de modo que chegue a realizar opções a-dequadas. Este objetivo envolve outros mais específicos, quais sejam:

- ajudar o indivíduo a colher, organizar e usar informações a respeito de si mesmo e do mundo do trabalho;

ajudar o indivíduo a conseguir uma metodologia que o instrumente nas decisões vocacionais.

(16)

5

r

Ao passar ao exame das teorias psicológicas, eu nao pretendia fazer uma revisão exaustiva delas. Tive en tão que estabelecer critérios de escolha. Embora haja es-tudos realizados a respeito de Escolha Ocupacional, não há, que eu saiba, teorias formuladas a partir de dados de no~

sa realidade nacional. Escolhi então examinar duas teo-rias de autores americanos: Super e Holland. Ao optar por estas duas formulações, tive em mente o propósito de uti-lizá-las a título de ilustração das características desta modalidade de explicação, isto é, a explicação psicológi-ca da Escolha Ocupacional. Ao selecionar apenas, 2 exem-plares tive que deixar de lado outras formulações que tal vez servissem igualmente ao meu propósito. Seja como for, as duas me pareceram suficientemente representativas da e~ plicação psicológica e era isso o que interessay~ Além do mais a teoria de Super é das mais conhecidas, sendo muito utilizada nos nossos cursos e estudos a respeito de Orieg

tação Vocacional.

I

Creio ser necessário aqui um esclárecimento. Os dois autores, Super e Holland, não enfocaram a Escolha Ocu pacional explicitamente sob o ângulo da determinação do processo. Por isso no caso de Super utilizei, além da teo ria, um texto onde ele trata especificamente dos determi-nantes. No caso de Holland, julguei poder inferir do tex-to da teoria sua concepção da determinação da escolha ocu pacional.

Os Estudos de Super

Passarei agora

à

análise das formulações deste autor, um dos mais conhecidos pesquisadores na área. An-tes de entrar propriamente no exame de sua teoria achei conveniente analisar o texto acima referido. Além de tra-tar do problema dos determinantes, é um trabalho mais ,re-cente.

Nesta conferência, ao colocar a questão da deter minação da Escolha Ocupacional, Super situa o processo c~

(17)

resol-6

ve a questão. Assim por exemplo ele diz: "é importante in dicar ao se tratar de determinantes psicol6gicos que eles nada mais são do que uma classe de determinantes. O mais 'poderoso determinante, entre todos, como já foi demonstr~

do mais de uma vez, é a posição social. Importante também é a estrutura da oportunidade local, tanto educativa qua~ to ocupacional. Também o são as condições econõmicas e o mercado de trabalho. As atitudes sociais têm sua parte; é difícil decidir se a raça, o sexo, os impedimentos físi-cos devem ser considerados como determinantes físifísi-cos, so ciais ou pSicológicos."S

A análise deste trecho evidencia a fflta de um princípio norteador da articulação dos determinantes. Ap~

sar de reconhecer o peso limitado do psicológico no conjunto, as colocações do texto não me parecem suficiente -mente coerentes com este reconhecimento. Assim, por exem-plo, Super diz que a posição social é o fator mais poder~

so, mas leva a cabo a análise dos fatores de ordem psico-lógica

à

margem desta afirmação, não os enfocando na sua relação com a posição social do indivíduo.

Após esta introdução, o autor passa a examinar a influência dos vários tipos de determinantes psíquic~s.

Ele focaliza,então:

- maturidade vocacional - inteligência

- aptidões específicas - valores

- necessidades

- traços de personalidade - auto-conceito

~lgumas considerações me parécem relevantes com relação a Jesta secção. Ao analisar as "necessidades" como um tipo de determinantes, Super começa afirmando: "As

ne-..

cessidades constituem um aspecto da personalidade que e ainda mais fundamental do que os valores e interesses. Uma necessidade é um impulso que resulta da carência de algo

(18)

, , . .

7

rarquia7 de relativa predominância, segundo a qual a cate goria de necess idade predominante domina toda a conduta do indivíduo, quando em extremo grau de carência. Somente quando a satisfação é obtida, pelo menos em um grau razoa vel, é que emerge a categoria seguinte, de ordem mais ele vada. As necessidades mais fundamentais são as fisiol6gi-cas comumente chamadas necessidades de sobrevivência. As necessidades de nível superior têm mais possibilidade de se manifestar quando são satisfeitas, pelo menos parcial-mente as necessidades de nível inferior. Ao aplicar a for ,mulação de Maslow ã questão da Escolha Ocupaciopal, Super

afirma: "As necessidades podem exercer influência na es-colha ocupacional, quando estão satisfeitas aS mais funda mentais, e as de nível superior impulsionam os homens em diferentes direções de acordo com suas capacidades, seus interesses e suas experiências. Mas como a maioria das ne cessidades pode ser satisfeita de diversos modos e muitas atividades podem suprir dada necessidade, elas estão me-nos claramente relacionadas com a escolha ocupacional do

" "d- ,,8

que os lnteresses e as aptl oes.

Vê-se que Super esta se referindo a indivíduos que, livres da pressao das necessidades de sobrevivência, podem de fato escolher conforme outros tipos de necessid~

des. Entretanto isso não acontece com a totalidade dos in divíduos em sociedades como a nossa, onde muito comumente ocorre que, enquanto necessidades básicas mais prementes , (por exemplo fisiol6gicas e de segurança) não forem satis feitas, pelo menos razoavelmente, uma pessoa estará moti-vada para ingressar numa ocupação, ainda que apenas por ver nela um meio de satisfazer estas necessidades tão ur-gentes; nesse caso motivos "de ordem mais elevada" s6 po~

teriormente poderiam vir a atuar. Começa a se evidenciar aqui o ponto nevrálgico do enfoque da "Escolha". Ele se re fere a um processo que ocorre com uma parcela restrita da população. Desse modo, afasta-nos da determinação ao ní-vel da base da pirâmide de necessidades, ignorando o imen

(19)

8

Outro determinante analisado por Super é o auto-conceito, que alias tem lugar destacado na sua concepçao. Super Afirma que o individuo toma decisões ligadas i ocu-·paçao com base no seu auto-conceito, na situação em que

se ve a si mesmo. Reconhece ainda ser o auto-conceito fun ção da história individual, portanto determinado por es-sa história. Apees-sar disso, como assinala Ferretti, deixa de "apontar que esse auto-conceito é também determinante da própria história de vida do individuo, na medida em que se estabelece entre ele (o auto-conceito) e as condições objetivas de existência do individuo uma relação

dialéti-ca que a ambos afeta. 9 1

Ana Maria Poppovic realizou com sua equi~e um es tudo de caracteristicas psicológicas de um grupo de ado-lescentes paulistas culturalmente marginalizados. Compar~

do com outro, este grupo apresentou um auto-conceito mais negativo. Segundo as autoras, este resultado segue a mes-ma direção de pesquisas apontadas anteriormente no traba-lho e que mostram haver uma diferença entre os distintos grupos sócio-econômicos, com relação a auto-conceito.Con~

tata-se estreita relação entre "status" sócio-econômico baixo e auto-concei to negativo. Baseando-se na tese de que o auto-conceito é basicamente produto da aprendizagem so-cial do indivíduo, afirmam ainda ser a auto-estima da cri-ança, baseada, em grande parte, no grau de auto-estima de . seus pais. "O pai de classe baixa, independentemente de suas c~racteristicas pessoais, não é um modelo satisfató-rio de identificação, na medida em que ele própsatisfató-rio não só aceita como assume o julgamento depreciativo que a socie-dade faz dele. Em nossa cultura, infelizmente, o sucesso econômico é considerado como uma prova conclusiva de sup~

(20)

9

\ A questão que estamos discutindo decorre da es-tratégia de se analisar isoladamente os determinantes psi cológicos. A partir de então, eles são tratados de "per-,si" como se atuassem num espaço exclusivamente seu. Por i~

to o resultado da análise constitui quase que um conjunto de afirmações genéricas que não elucidam suficientemente a quest~o. Assim, por exemplo, pouco vale saber que o au-to-conceito afeta a Escolha Ocupacional de um grupo, se não compreendermos a form~ como anteriormente, a car~ncia

econômica já levou este grupo a se considerar inferior aos outros.

No caso do determinante "intelig~nciª," Super já

1

o coloca de outra maneira. "Esta (a intelig~ncia) tem es-treita'relação empírica é conceitualmente, de diversos m~

dos, tanto com a posição sócio-econômica quanto 'com a edu cação. ~ simultaneamente causa e efeito, quanto mais se tem de uma, mais se obtém da outra."ll Nota-se um passo ã frente, na medida em que ele não analisa o determinante, isolado mas o reconhece, na condição de determinado, ao mesmo tempo causa e efeito. Entretanto, como nao coloca

corretamente a questão da determinação, situa o vetor da

depend~ncia atuando igualmente nos dois sentidos (do meio

para a intelig~ncia e da intelig~ncia para o meio). Assim é que, continuando a citação acima, afirma: "Uma posição social elevada quer dizer muitos estímulos para o desen -,volvimento intelectual' e para o ~xito educativo. O ~xito

educativo superior facilita a continui~ade do desenvolvi-mento intelectual. E um aI to ní.Vel de intelie~ncia conduz

a uma substancial consecução educativa e a uma superior

. - - . ,12

pos l.çao economlca.'

Passo agora a analisar propriamente a teoria de Desenvolvimento Ocupacional, de Super.

A teoria ê enunciada em 10 proposições:

,1 - As pessoas diferem em suas capacidades, inte

resses e personaLidade.

2 - Em virtude dessas caracteristiaas cada

pes-soa se quaLifica para certo número de

(21)

10

3 - Cada uma destas ocupaçoes requer um padrão

'.

caracteristico de capacidades, interesses e

traços de personaLidade, permitindo porem

tanto certa variedade de ocupaçoes para cada

individuo, quanto certa variedade de indivi

duos em cada ocupaçao.

Às proposições 2 e 3 está subjacente o pressupo~

to de que o indivíduo tem certa liberdade na escolha da ocupaçao, isto

ê,

conforme suas aptidões pode exercer pe-lo menos um pouco de controle sobre seu futuro vocacional.

, 4 - As preferências e competências vocacionais,

as situações em que as pessoas v~vem e

tra-baLham e portanto sua auto-avaLiação muda

com o tempo e a experiência.

5 - Este processo pode ser resumido numa série de

estágios vitais, com caracter{sticas

prias.

J

pro-Tais estagios talvez nao se apliquem ao caso de indivíduos que não têm o privilégio de escolher sua pro-fissão, passando por toda a elaboração psicológica que o processo neste' caso envolve (ex. fase das fantasias, fase das tentativas, fase realística etc.)

6 - A natureza do padrão de carreira (is to é, o níveZ

ocupacionaL atingido, a sequência, frequên

-cia e duração do ensaio e do trabalho

está-veL) é determinada pelo niveL sócio-econômi

co dos pais, peLa capacidade mentaL, por

ca-racteristicas de personaLidade e peLas

opor-tunidades às quais o individuo se expõe.

Os determinantes sao simplesmente enumerados. não se estabelecendo entre eles a relação de determinação que os articularia numa totalidade. Nada há que indique nesta mera enumeração que o nível sócio-econômico seja priorit~

rio em relação

à

capacidade mental ou a caracterítiscas de pers,onalidade. Parece haver mais uma indeterminação ou uma

(22)

11

7 - O desenvolvimento através dos estágios pode ser guiado em parte pela facilitação dos pr~

cessos de maturação de capacidades e intere~

ses e em parte pe lo aux{lio dado ao a luno na avaliação da realidade e no desenvolvimento do auto-conceito.

E

interessante esta proposição, mas representa uma carga muito pesada sobre os ombros dos encarregados da Orieniação Vocaciona1."

8 - O processo de desenvolvimento vocacional #

e esssencialmente o processo de

desenvolvimen-"

to e implementação do auto-conceito: é um pr~

cesso de compromisso em que o auto-conceito consiste no produto de aptidões herdadas, constituição neural e endócrina, oportunidade para oportunidadesempenhar vários papéis e avalia -çao do grau em que os resultados do desempe-nho de papéis merece a aprovaçao de superio-res e companheiros.

Aplic.a-se aqui o que discuti anteriormente ares peito do auto-conceito como determinante e como determina do.

9 - O processo de compromisso entre indiv{duos e

fatore~ sociais, entre auto-conceito e reali dade é um processo de desempenho de papéis ...

10 - A satisfação no trabalho e na vida depende da extensão em que o indiv{duo encontra adequa-do emprego de suas capacidades, interesses, traços de personalidade e valores. Esta sa-tisfação depende de o indivisuo se estabele-cer em um tipo de trabalho, uma situação de

trabalho, um modo de vida no qual ele possa desempenhar o tipo de papel que suas experi ências levaram-no a considerar como apropria do.

(23)

12

ra ele a ocupaçao ou carreira de um indivíduo é uma forma de manifestação de si, um meio de autoexpressão, origi -nando-se em uma força interna para a qual o indivíduo bu~

"ca expres.são em seu comportamento ocupacional. E o acalen tado ideal do trabalho como expressão da personalidade,c.2. mo meio de realização de potencialidades humanas.

Os Estudos de Holland

A próxima teoria a examinar é a de J.L.Holland. Assim como Super, ele adota o ponto de vista segundo o qual a escolha de uma profissão é uma express~o da perso-nalidade. Com base na teoria psicológica geral, Holland pressupoe que, a época em que uma pessoa escolhe sua pr.2. fissão, ela é um produto de sua hereditariedade "e de seu ambiente. A pessoa desenvolve modos preferenciais de li-dar com o ambiente, o que se poderia chamar seu "estilo de vida". Este padrão de orientações adaptativas é que guia o indivíduo em direção a um ambiente educacional que ira de encontro a sua orientação pessoal. Para cada pes-soa as orientações podem ser ordenadas de acordo com sua força relativa em uma hierarquia. O estilo de vida que en cabeça a hierarquia determina a direção principal da esc.2. lha. Por exemplo, se se trata de uma orientação intelec -tual no topo da hierarquia, esta orientação sera decisi-" va no direcionamento dOa escolha. A ocupação nesta teoria

é encarada como um "modo de vida", um ambiente, em vez de um conjunto isolado de funções.

A partir daí, Holland vai ter a outro pressunos-to de sua teoria, o de que os membros de uma profissão têm personalidades semelhantes e uma história semelhante de desenvolvimento pessoal. Outro pressuposto relacionado é o de que as pessoas de um grupo profissional, pelo fato

.

de terem personalidades similares, respondem de maneira idêntica a muitas situações e problemas e criam ambientes interpessoais característicos. Ainda outro pressuposto

-

e

(24)

13

Com base nestes pressupostos Holland formulou sua teoria que pode ser contida em quatro enunc.iados básicos:

1 - Em nossa cultura a maioria das pessoas pode

ser categorizada em um dos seis tipos:

rea-lista~ intelectual~ social~ convencional, em

preendedor e artlstico.

2 - Existem seis principais tipos de ambientes

ocupacionais que correspondem aos seis tipos acima mencionados.

:5 - As pessoas procuram ambientes e profissões que

lhes permitam exercer suas aptidões e habili

tações~ expressar suas atitudes ~valores~ e~

frentarproblemas~ desempenhar papéis agrad~

veis e evitar os desagradáveis.

4 - O comportamento de uma pessoa pode 'ser expli

cado pela interação de seu padrão de perBon~

lidade e de seu ambiente.

Holland partiu de sua experiência como psicólogo clínico e conselheiro, trabalhando com perfis de interes-ses, obtidos de estudantes que aspiravam a profissões esp~

cíficas e a áreas ocupacionais típicas. O fato de traba -lhar com estes tipos de amostra restringe as possibilida-des de generalização de sua teoria. Por isso Carkhuff e colaboradores, num artigo em que criticam as teorias de Escolha Ocupacional, assim se referem àquele autor: "Ou-tro aspecto do trabalho de Holland merece mençao sua atenção a fatores extra-individuais, cuja influência

é

usualmente reconhecida, embora subestimada pela maioria dos teóricos. Assim ele chega à conclusão de que pessoas com determinados padrões de personalidade conseguem êxito em alguns ambientes, mas não em outros. Entretanto, ape-sar de sua atenção a tais fatores, Holland tem, no passa-do, limitado sua pesquisa em grande parte a pessoas que ~

presentam um funcionamento pessoal em níveis elevados, p~

pulações cujos membros não somente aspiram a vocações que requerem treinamento profissional, mas também têm a máxi-ma liberdade na sua escolha vocacional.,,13

(25)

14

ta preecupaçae cem a maneira cerne esta influência se da-ria em relaçãO' a indivídues pertencentes a diferentes clas ses seciais.

NO' estude de Ana Maria Peppevic, já mencienade, aO' investigar as aspirações prefissienais des alunes, a e-quipe censtateu que 54,9% des alunes respenderam que des~

jariam trabalhar legO' após e términO' de ginásiO'. Este re-sultadO' leveu a uma cerrelaçãe pente bisserial (p.p.bis.

=

- 0,52) cem e nível sócie.-ecenômice des alunes a nível de significância de 0,01. O fater "deseje de trabalhar legO''' fei pertante censiderade cerne um fater que realmente dis-tinguia e adelescente culturalmente marginali~ade des eu· tres adelescentes. SegundO' es auteres, entende-se este re sultade, nãO' tantO' cerne uma verdadeira aspiraçãO' de alu-nO', mas cerne uma censequência de sendO' de realidade de j~

vem de meiO' sócie-ecenômice pebre. Os resul tade faz pensar que este grupO' nãO' pede "se dar aO' luxO''' de viver tede um precesse de escelha de ecupaçãe, idênticO' aO' de candida-tes

à

Universidade que pedem.às vezes ficar anes a fie na dependência ecenômica des pais, preparande-se para ingre~

sar na prefiss~e que escelheram.

Evidentemente, para es que pretendem "trabalhar lege", duvida-se que e trabalhe seja um meiO' de expressãO' da persenalidade, algo motivadO' per interesses, aptidões e tendências. Em vez disto é mais provável que decorra de

·um fator motivacional mais imediatO' ~ a necessidade de ga nhar a' yida.

I.2.b) Contribuição de Sociólogos

(26)

15

Além disto, utilizei-as com o mesmo propósito que tive em relação às teorias psicológicas: a ilustração de um tipo de abordagem.

Não encontrando nestas formulações uma elabora -çao tão completa que preenchesse o arcabouço de uma verda deira formulação teórica, procurei destacar os pontos que me pareceram significativos.

Miller e Form

Estes autores apresentam seu ponto de vista na secção intitulada "O ajustamento social do trabalhador."

. 1

O essencial de sua formulação está contido num trecho que, embora longo, acho útil transcrever: "Os indivíduos encon tram suas metas ocupacionais por meio de uma composição que inclui experiência de trabalho, observação e expecta-tiva. Embora seja notável o progresso no uso de testes c! entíficos, é ainda verdade que tentativas e erros, em lu-gar de Aconselhamento formal, constituem o processo pelo qual, com maior frequência, pessoas, que trabalham, che-gam a ingressas nos seus empregos. De fato, quanto. mais se estuda histórias de casos, mais se torna claro que aci dente é o f~tor decisivo na determinação da ocupaçao de uma maioria de trabalhadores. O acidente de nascimento es tabelece a família, raça, nacionalidade, classe social,s~

tor residencial e em grande extensão oportunidade educa -cional e cultural. Isto significa que a família e seu "st~

tus" impõem limites bastante definidos dentro dos quais o novo indivíduo observará as atividades de trabalho e pa!. ticipará na vida do trabalho. Para algumas pessoas estas fronteiras abrangem amplas áreas, para outras, o alcance de observação e experiência é comprimido em estreitos li-mites. E à medida que as oportunidades diminuem, as expe~

tativas também o fazem. O mundo social no qual vive o can-didato ao trabalho pode constranger as expectativas ocup~

cionais tão completamente quanto ele exclui as oportunid~

(27)

16

No restante do capítulo os autores se dedicam a ilustrar seu ponto de vista, isto é, descrevem corno o meio cultural opera para prover experi~ncias de trabalho, ob-·servações e expectativas ocupacionais para o trabalhador

nos seus primeiros anos de trabalho.

Caplow

Apresentando seu ponto de vista este autor afir-.ma: II independent e do contexto particular em que~ tão, esc o

lha ocupacional pode ser entendida em termos de dois limi tes teóricos. Em um extremo, a ocupação dos pais determi-na a do filho e determi-nao se permite surgir qualquer problema de escolha individual. No outro extremo as funções ,ocupacionais são rigorosamente atribuídas de acordo com caracte -rísticas individa-ais determinadas por testes e observa-ções."lS

Ao analisar o primeiro limite mencionado, a in-fluência da ocuuaçao dos pais na escolha do filho, Caplow faz urna distinção importante. Herança direta da ocupação dos pais

é

o caso em que a ocupação do filho

é

determina da diretamente pela do pai. Isto não é muito comum, hoje em dia, pelomenos na zona urbana. No outro caso, ternos a herança do nível ocupacional em que as escolhas possíveis ao filho são limitadas. pelas circunstâncias de seu ambien te educacional. Este tipo de herança é considerado mais a propriado para se compreender os vários tipos de mecanis-mos que operam para restringira amplitude das escolhas ocupacionais de muitos indivíduos.

(28)

17

I.2.c) Contribuição Interdisciplinar

o

estudo que examino a seguir ilustra o esforço de especialistas de diferentes areas que, atuan-do em conjunto, chegam a uma formulação mais completa atuan-do que as anteriores, tentando corrigir as limitações ineren

tes a pontos de vista oriundos de uma única disciplina. O estudo foi realizado por Blau, Gustad, Jessor, Parnes e Wilcock - respectivamente um sociólogo, dois psi-cólogos e dois economistas. Os autores deixam claro que a proposição deles é um esquema conceitual e nã-o uma teo-ria. Segundo eles "em geral uma teoria preocupa-se com a ordem entre varios determinantes, isto é, com as interco-nexões dos determinantes diretos com os mais remotos. A função de um esquema conceitual de escolha e seleção ocu-pacional

é

chamar a atenção para os diferentes tipos de f~ . tores antecedentes, sendo que as exatas relações entre e-les têm que ser determinadas pela pesquisa empírica,

an-t o o . . . o d 1 °d ,,16

es que uma teor1a s1stemat1ca possa ser esenvo V1 a.

Neste esquema, o deslocamento do foco da escolha, do sujeito, como na perspectiva psicológica, para uma es-trutura mais ampla, da qual ele

é

apenas uma parte, dete! mina desde o início uma modificação substancial na manei-ra como

é

encarado o ingresso na ocupação. Este decorre, em última instância, de dois processos interrelacionados: escolha e seleção ocu~aciona1.

(29)

se1e-18

-çao que e feita pelos seletores, isto é, por todos os a-gentes cujas ações afetam as chances do candidato de ob-ter alguma posição no processo de seleção. Naturalmente ,que as qualificações e outras características pessoais do candidato afetam este processo, mas, igualmente, influen-ciam-no fatores outros que estão além de seu controle e que ele pode até mesmo desconhecer, como as condições ec~

nômicas e a política de empregos. Assim, o processo de s~ leção, bem como o processo de escolha devem ser tomadosem conta para se explicar por que as pessoas acabam ingres sando nesta ou naquela ocupação. O estudo do desenvolvi -mento pessoal do indivíduo é importante para ~e compreen-der a escolha, mas para se estudar a seleção há que se a-nalisar as mudanças históricas nas condições sócio-econô micas.

O processo de ingresso na ocupaçao é afetado pe-la estrutura social de duas maneiras:

- na medida em que a estrutura social é a matriz de experiências sociais que canaliza o desen -volvimento da personalidade de trabalhadores potenciais;

- na medida em que ela define as condições de oportunidade ocupacional nas quais a seleção ocorre.

Este duplo efeito é representado no diagrama co~

tido na figura 1. Acompanhand~-o, vemos que o lado esque! do refere-se ao processo de escolha, e o direito, ao de seleção. No lado esquerdo, no quadro, parte-se da dotação biológica que se desenvolve segundo determinada estrutura social, resultando em um conjunto de característic~s pes-soais (retângulos 2 e 3) algumas delas rel~cionando-se di retamente com a determinação da escolha.

Do lado direito, a estrutura social em mudança (retângulo I I I) desemboca em de'terminado ponto da organi-zação sócio-econômica (retângulo 11) da qual alguns aspe~

(30)

19

FIGURA I

ESQUEMA CONCEITUAL DA ESCOLHA E SELEÇÃO OCUPACIONAL*

ENTRADA NA FORÇA DE TRABALHO

Escolha Ocupacional

1

Hierarquia de

Preferências

Individuo

t

51·

Hierarquia de

expectativas

1 - DETERMINANTES IMEDIATOS

Informação ocupacional Qualificações técnicas

Caracteristicas do papel social Hierarquia de valores

....

J

2 -ATRIBUTOS SOCIO-PSICOLOGICOS

~Ivel geral do conhecimento Habilidades e nivel educacional Posição social e relações

Orientação em relação à vida ocupa cional (sua importância, identifica ção com ~odelQ,aspirações,

etc.)-3 - DESENVOLVIMENTO DA PERSONALI-DADE

Desenvolvimento educacional Processos de socialização

Efeitos de recursos financeiros dispon!veis _

Influências familiares diferenciais

Padrões ideais Práticas Seleção Ocupacional

f

'1 da agência

!

Estimativas.

realistas de seleção

I -DETERMINANTES IMEDIATOS

Oportunidades formais (demanda) Requisitos funcionais

Requisitos não funcionais

Quantidade de tipos de recompensa

í

11 - ORGANIZAÇAo SOCIO-ECONOMICA

Distribuição ocupacional e rotativi dade da mão de obra

Divisão de trabalho

politica de organizações relevantes (governo, firmas, sindicatos, etc.) Estágio do ciclo econômico

_ _ _ _ _ 1;. _ _ _ _

111 - MUDANÇA HISTORICA

Tendências na mobilidade social Modificações na composição indus-trial

Desenvolvimento histórico das orga-nizações sociais

Mudanças no nivel e na estrutura da demanda pelo consumidor

CONDIÇOES BIOLOGICAS

Potencial Inato

ESTRUTURA SOCIAL Sistema de estratificação social Valores e normas culturais

Caracteristicas demográficas Tipo de economia

(31)

20

Os autores chamam a atenção para dois pontos:

que estes dois aspectos escolha e seleção -estão separados apenas para efeito de análise, mas que devem ser considerados juntos;

- que as listas de fatores no n9 e no 29 retâng~

10 são ilustrativas e não exaustivas. Isto se prende a sua advertência inicial de que se tra tava de um esquema conceitual e não de urna teo ria.

Passo agora a analisar corno os autores concebem os processos propriamente de escolha e seleçã9' Segundo e les, "urna escolha entre vários cursos de ação possíveis pode ser conceituada corno motivada por dois conjuntos in-ter-relacionados de fatores: a avaliação individual das recompensas oferecidas pelas diferentes alternativas e a estimativa do sujeito de suas chances de ser canaz de rea lizar cada urna destas alternativas.,,17 Tanto as avalia-ções quanto as alternativas são concebidas corno sendo or-ganizadas de um modo para cada pessoa: urna hierarquia de preferências e,umahierarquia de expectativas. O processo de escolha

ê

concebido corno um processo de compromisso en tre "preferência por" e "expectativas de" ser capaz de eg trar em várias ocupações. Este compromisso não ê algo es-tático, mas modifica-se continuamente, urna vez que as ex-,pectativas e também as' preferênCias se transformam ao lon

go da busca de urna carreira.

No processo de seleção as decisões relativas a ca da candidato são orientadas pelos padrões ideais do empre gador e pela estimativa que ele faz de que um candidato, melhor do que aquele que tem à mão, possa surgir em futu-ro próximo.

(32)

...

N

o

T A S

1 ... ULHOA, Joel Pimentel. O pensar e o fazer; estudo

so-bre o problema da ciência como valor para o Orienta-dor Educacional. Goiânia, Julho 1977 - o. 11 (Traba-lho apresentado no VI Encontro Nacional de Orientado res Educacionais).

2 ... GOLD, J.

&

KOLB, W. A Dictionary of the Social Scien ces. New York, Free Press, 1965. p. 14 (compilação sob os auspícios da UNESCQ).

3 - BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Valores Sócio-Culturais e Orientação Educacional. Trabalho anresentado no VI En contro Nacional de Orientadores Educacionais. Goiâ -=-nia, julho, 1977, p. 17.

4 - PELLETIER et alii. Desenvolvimento Vocactonal e cres

cimento pessoal; enfoque operatório. Petrópolis, Vo-=-zes, 1977. p. 26.

5 - SUPER, Donald E. "Determinantes psíquicas .da Esco -lha Ocupacional". Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada. Rio de Janeiro, 27(2} p. 3-17. Abril/Junho 1975.

6 ... Idem,up. 10.

7 -

E

a seguinte a ordem hierárquica das necessidades: fi siológicas, segurança, afetivas, "status" ou prestI gio, auto-realização.

8 - SUPER, D~nald E. op. cit., p. 10.

9 - FERRETTI, João Celso. Correspondência. 1980. São Pau lo.

10 - POPPOVIC, Ana Maria et alii. Marginalização Cultural: uma metodologia para seu estudo. Cadernos de Pesqui-sa. São Paulo, n9 7, ju1ho/1973, p. 42.

11 - SUPER, Donald E. op. cit., p. 8-9. 12 ... Idem, p. 9.

13 - CARKHUFF, Robert R. et alii. Do we have a theory of Vocational choiche? Personnel and Guidanae Journal.

n9 4 - dezembro/1967, p. 342.

14 ... MILLER, Delbert C.

&

FORM, William H. Industrial So-ciology; an introdction to the Sociology of work

re-lations. New York, Harper

&

Brothers Publishers,1951,

p.

651-15- CAPLOW, Theodore. The Sociology of Wcprk. Minneapo1is, University of Minnesota press, 1954, p. 214.

16 - BLAU, Peter M. et a1ii. Occupationa1 choiche: a con-ceptual framework. In: Zitowsky Dona1d G. (org.) Vo-cation·al Behavior; readings in theory and reseal'ch.

New York, Holt, Rinehart and Winters Inc. 1968, p. 359.

(33)

CAP!TULO 11

CONSIDERAÇOES CR!TICAS

Ao longo do exame das teorias psicológicas che-guei a criticar alguns aspectos particulares delas. Este capítulo, entretanto, dedica-se especialmente a uma críti ca das várias formulações analisadas.

Devo antes esclarecer que não se trata, de criti-ca que abranja todos os aspectos da formulação teórica, mas tão somente aqueles que interessam ao propósito deste

trabalho: a investigação dos determinantes.

11.1 - As Formulações Psicológicas

Em contraste com a ênfase nos fatores ex-ternos, dada por teorias não psicológicas, as teorias psi cológicas se concentram mais no indivíduo em si mesmo, co mo conjunto crucial de variáveis no processo de tomada de decisão quanto

ã

escolha a seguir. O foco da determinação ê constituído pelas características do indivíduo; ê o pr~

cesso psicológico que dirige a escolha, considerando-se a estrutura econômica como condições dadas que meramente im , põem limites nos quaii o processo psicológico opera. Os d~

terminantes considerados são fundamentalmente fatores in-ternos, relativos ã personalidade.

Esta abordagem reflete as deficiências básicas das abordagens feitas a partir de perspectivas parciais. Cada uma delas, pelo próprio fato de derivar-se de uma disciplina, superenfatiza certas variáveis, deixando de 1~

var em conta outras que seriam relevantes para a compreen sao do pr~cesso global. Deste modo as teorias psicológi -cas não englobam o total de forças que atuam sobre o pro-cesso, determinando-o. Sua deficiência básica consiste pois em se proporem a empreender uma tarefa inviável: a

(34)

compor-.• 1

23

tamento global, complexo, cujas determinações transcendem a esfera psicológica.

Em consequência, sua explicação nao me satisfa-zia. Eu sentia que aquelas formulações não captavam o pr~ 'cesso que ocorre com indivíduos reais, concretos, como e~

tes com que nos deparamos cotidianamente. Pareciam antes referir-se a indivíduos tomados abstratamente, soando de~

te modo como formulações arbitrárias, construções artifi-ciais, alheias às situações reais.

O que faltaria a esta abordagem que a fazia es-tranha ã vida do homem concreto?

Em primeiro lugar ela não levava em conta a con~

tituição fundamentalmente histórica do homem. '1 Segundo Ch~ telet, a exigência da consideração da historicidade, como traço fundamental da realidade humana, traduz-se em parti cular no fato de que "nenhuma determinação descoberta co- . mo constitutiva do ser-empírico do homem pode ser consid~

rada em sua essência e em suas manifestações ~omo a-histª rica. ,,1 E não

é

possível falar-se em predicados que por t.2,

\ I

da eternidade estejam inscritos no sujeito. Por exemplo, podemos dizer que fundamentalmente o homem

é

necessidade uma vez que

é

fundamental no homem, em qualquer tempo e lugar, a necessidade como relação primordial dele com sua situação. Mas esta necessidade assume esta ou aquela de-terminação, sendo pois abstrato falar-se de necessidade em geral.

O homem se realiza na história, nao na medida em que simplesmente nela se mostra, mas porque nela se cons-trói e se completa. A noção de uma essência humana onitem poral é substituída pela noção de um devenir ao longo do qual o homem, em sua atividade sensível, forja sua pró-pria realidade. "Em última análise, a prática humana, tal como a tentamos definir em suas modalidades históricas, é. o acontecimento pelo qual o processo de formação do homem empírico - quer dizer, o próprio homem - torna-se inteli-gível em suas determinações reais.,,2

Levando-se em conta esta perspectiva, não tem sen tido falar-se da dinâmica da Escolha Ocupacional em ter-mos gerais, como se nos referísseter-mos a um ser genérico do

(35)

."

24

fixidez, n~o podendo acompanhar o dinamismo do processo real vivido por um homem, diante da problemática do traba lho. A realidade humana envolvida neste processo se forja na prática·; como prática esta realidade é viva e mutante, do mesmo modo que heterogênea, não sendo uma tarefa sim-ples captar suas reais determinações.

Esta abordagem não partia da consideração da vi-da humana, tomavi-da em sua realivi-dade empírica, como vivi-da na tural que se desenvolve nesse domínio imposto e único que é a natureza, onde o homem vive e de onde retira sua sub-sistência. O que consegue ele o obtém a partir de uma su-jeição natural, que está ligada a sua situação de fato co mo ser empírico, submetido a determinações quê não depen-dem nem de sua opinião, nem de sua decisão.

Não se sentia nas teorias psicológicas a verda -deira coerçao da necessidade, como relação primordial do homem com sua situação, como referência a partir da qual, em última análise se dá a escolha (nos casos em que ela a inda ocorre). O indivíduo neste tipo de an~lise não é vi~

to como alguém que luta contra sua realidade material,pr~

mido por exigências concretas de satisfações vitais. Não era também encarado como um trabalhador, al-guém que ocupasse um lugar no esquema da posse dos meios de produçãoe na divisão social do trabalho, lugar este que determinará suas possibilidades de ser, pelo trabalho, um agente de transformação de si mesmo e de suas condi-ções de existência.

(36)

2S

reflexão pela consciência. Ao invés de "ser-social", as a nálises tendem a encarar os indivíduos comp seres isola -dos, quase estranhos ao mundo das forças materiais e diri gidas pelo dinamismo de fatores psrquicos.

Em consequência das características discutidas, esta abordagem colocava a questão da escolha ocupacional como se houvesse sempre urna gama mais ou menos ampla de a.!. ternativas, um leque de opções poss íveis, correndo por cog ta de fatores pessoais a adequação da escolha. Não se evi denciavam definidamente, 'na análise de cada determinante, ,as influências de ordem econômica e social que !estringem

e em alguns casos anulam as possibilidades de escolha. Assim ao encerrar o exame das teorias psicológi cas estava clara a insuficiência da exnlicação que propu-nham. No entanto, uma coisa me intrigava: embor~ passr-veis das críticas mencionadas, elas apresentavam pontos a seu favor:

·"por um lado, do ponto de vista de sua constru-ção, estavam empiricamente fundamentadas em o~ servações e experimentos dos autores; quer

di-zer, havia dados que as confirmavam .

. - Por outro lado, do ponto de vista de sua acei-bação, elas eram bastante aceitas por pessoas , ' que lidam com Orientação Vocacional (principal'

mente no caso da teoria de Super).

II.I.a) O revestimento ideológico da teoria

Na busca de resposta comecei a colher e~ lementos teóricos que me permitissem compreender ~elhor a problemática do condicionamento social do çonhecimento,da qual depende muito nossa postura ante a tepria. Procurei primeiro situar o significado dos dados, mas dar fui reme tida

à

questão do objeto do conhecimento, em função do qual os dados são buscados. Sabemos hoje que o conhecimen to não

é

urna leitura do real, feita através do contato di reto com um objeto externo. O que existe é uma construção. Assim, o pensamento estrutura o real como objeto de conh~

(37)

. ' :

26

Miriam Limoeiro insiste na necessidade de uma ori entação teórica firme e coerente na condução da investig~

ção. Tal preocupação e reiteradas vezes expressa, tamanha importância lhe confere a autora: "Esta necessidade de uma 'orientação teórica mais sólida é resultado conjuntamente

de outro processo, gerado tambem pelo manejo dos pró-prios documentos3 que proporcionaram os dados da investi-gação. Consiste em que estes dados precisavam obter um sen tido. Não um sentido que se pudesse encontrar neles mes-mos, como se lhes fosse inerente, ao ser-lhes conferido .pelos autores incluídos. Isto não seria ainda um sentido

explicativo, senão somente uma parte do objeto a estudar. Parecia-me necessirio descobrir o sentido real dos dados~

que lhes desse sua dimensão social adequada, dentro de um. quadro geral de significados tratados

teoricame~te.',4

Mais. adiante refuta a suposição da objetividade plena e imedia ta dos dados, afirmando que eles não são de fato dados, c~ mo se fossem revelações ou doações, mas que na pesquisa ci

entífica eles são sempre respostas a perguntas feitas pe-lo investigador.

Para Goldman "Os dados como tais dependem tambem da visão consciente ou implícita do investigador. Não hi fatos brutos. Nenhuma monografia e integral. Apenas colo-ca certas questões

à

realidade e escolhe os fatos à luz dessas questões. Ainda mais, na imagem que constrói, a i~

portância conferida aos diferentes fatos que aceita regis :trar e. proporcional a que apresentam os problemas para o pesquisador ou investigador. Sempre há mais visão previa, um conjunto de pre-noções que decidem:

a) das questões colocadas e as nao colocadas realidade;

..

a

(38)

27

ja uma interpretação da composição do todo so cial. Consciente ou inconsciente esta presen-te toda uma presen-teoria a respeito do significado dessa amostra em relação ao conjunto social.

Mas o condicionamento social do conhecimento não é apenas uma questão de preferências dos investigadoresin dividualmente, de seus juízos de valor. Como toda produ-ção social, o conhecimento também se faz segundo condi-'ções sociais determinadas pelo momento hist6rico específ!

co em que ocorre, que regulam seu avanço e afetam as dir~

ções que toma. Assim para ilustrar um aspecto ,dessa ques-tão, lembramos que Politzer (de quem falarei adiante) e~

tabeleceu princípios de extraordinário

alcanc~

em suas-obras de Psicologia de 1928 e 1929. Entretanto,afirma Cha telet, "se Politzer não pôde explorar e tirar partido des ses princípios, numa autêntica Ps icologia Concreta, é por-que ,segundo L. Seve, de um lado, não tinha a sua dispos! ção os grandes textos marxistas, como os Manuscritos de 1844, a Ideologia Alemã ou os Grundrisse, que s6 foram pu-blicados a partir de 1932.,,6

Gramsci chama a atenção para o fato de na ciên-cia, como em o~tras areas, a realidade não poder ser bus-cada fora dos homens. "Toda a ciência é ligada às necessi dades,

ã

vida,

ã

atividade do homem",7 que é criadora

d~,

todos os valores inclusive os científicos. Diante dessa perspectiva ele condena a concepção do cientificismo

con-temporâneo a respeito da ciência. Não se pode aceitar a declaração da total autonomia da mesma, isto é, a afirma-ção de que ela não pode depender de qualquer instância ra ci onal que sej a exterior a s i mesma. Tampouco se pode sub~.

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