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Processo de trabalho e acidentes de trabalho em coletores de lixo domiciliar na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.

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Academic year: 2017

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Processo de t rabalho e acident es de t rabalho

em colet ores de lixo domiciliar na cidade

do Rio de Janeiro, Brasil

The lab o r p ro c e ss and wo rk-re late d ac c id e nts

amo ng g arb ag e c o lle c to rs in Rio d e Jane iro , Brazil

1 Cen tro d e Saú d e Germ an o Sin v a l Fa ria , Escola N a cion a l d e Sa ú d e Pú b lica , Fu n d a çã o Osw a ld o Cru z . Ru a Leop old o Bu lh ões 1480, Rio d e Ja n eiro, RJ 21041- 210, Bra sil.

2 Dep artam en to d e En d em ias Sa m u el Pessoa , Escola N a cion a l d e Sa ú d e Pú b lica , Fu n d a çã o Osw a ld o Cru z . Ru a Leop old o Bu lh ões 1480, Rio d e Ja n eiro, RJ 21041- 210, Bra sil.

3 Cen tro d e Estu d os d a Saú d e d o Tra b a lh a d or e Ecologia Hu m a n a , Escola N a cion a l d e Sa ú d e Pú b lica , Fu n d a çã o Osw a ld o Cru z . Ru a Leop old o Bu lh ões 1480, Rio d e Ja n eiro, RJ 21041- 210, Bra sil.

M a rt a Pim en t a Velloso 1 Eliz a b et h M oreira d os Sa n t os 2 Lu iz An t on io d os An jos 3

Abst ract T h is st u d y d escrib es t h e w ork p erform ed b y ga rb a ge collect ors in t h e Rio d e Ja n eiro Cit y St reet Clea n in g Com p a n y (COM LU RB) (Rio Com p rid o d iv ision ) a n d it s con seq u en ces for t h ei r h ea lt h . D a t a w ere collect ed t h rou gh i n t erv i ew s a n d on - si t e v i d eo d ocu m en t a t i on . A d e-t a iled d escrip e-t ion of e-t h e w ork p rocess w a s p erform ed . In a d d ie-t ion , w e a n a lyz ed e-t h e w ork ers’ re-p ort s of t h eir lifet im e ex re-p erien ce w it h job-relat ed risk s an d accid en t s.

Key words W ork ers’ Hea lt h ; Occu p a t ion a l Hea lt h ; Occu p a t ion a l Accid en t s; Accid en t s; W ork -p la ce

Resumo O p resen t e t ra b a lh o d escrev e o p rocesso d e t ra b a lh o d a colet a d e lix o d om icilia r v ist o p elo p róp rio t ra b a lh a d or. A u n id a d e esp ecífica d e a n á lise foi o gru p o d e t ra b a lh a d ores d a Com -p a n h i a M u n i ci -p a l d e Li m -p ez a U rb a n a d o Ri o d e Ja n ei ro (COM LU RB) lo t a d o s n a gerên ci a d e lim p ez a lest e (LGL-3), n o bairro d o Rio Com p rid o. A m et od ologia u t iliz ad a baseou -se n a recu p e-ra çã o d a v iv ên cia d o t e-ra b a lh a d or sob re o seu t e-ra b a lh o, a crescid a d a ob serv a çã o d o p esq u isa d or, regist ra d a em v íd eo. En t re os riscos id en t ifica d os n o p rocesso d a colet a d e lix o, d est a ca m -se: m e-câ n i cos (cort es, feri m en t os, a t rop ela m en t os, q u ed a s gra v es), ergon ôm i cos (esforço ex cessi v o), b iológico (con t a t o com a gen t es b iológicos p a t ogên icos), q u ím ico (su b st â n cia s q u ím ica s t óx ica s) e sociais (falt a d e t rein am en t o p ara o serv iço).

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Introdução

O lixo é d efin id o, em geral, com o o resíd u o sólid o d esca rta d o p ela p o p u la çã o. Os p ro fissio -n ais e-n carregad os d e su a coleta e d o seu d esti-n o fiesti-n al são ch am ad os geesti-n ericam eesti-n te d e lixei-ros ou garis. No in ício d o sécu lo, os serviços d e lim p eza u rb a n a fo ra m e n t re gu e s à in icia t iva p riva d a , q u a n d o en tã o o s Irm ã o s Ga r ys a ssu -m ira-m a co-m p an h ia in d u strial d o Rio d e Jan ei-ro, p or au torização d o govern o m u n icip al, p a-ra d e se m p e n h a r o s se r viço s d e co le t a , t a-ra n s-p orte e d estin o d o lixo. Desd e en tão, os trab alh a d o re s d a co le ta d e lixo p a ssa ra m a se r d e n o m in a d o s p elo n o m e gen érico d e seu s p a -trões: garis.

A visão social d esse gru p o d e trab alh ad ores e su a p róp ria au to-im agem são p rob lem áticas d o p o n to d e vista d e n o ssa so cied a d e. Oco rre qu e h á u m m en osp rezo p ela referid a ocu p ação q u e se o rigin a d o s p ró p rio s lixeiro s, d e su a s con d ições econ ôm icas e d e trab alh o ad versas, q u e d in am icam en te in teragem com a im agem social d a p róp ria p rofissão.

Os co leto res d e lixo vêem -se o b riga d o s, d iariam en te, a ter qu e lid ar com u m a realid ad e tão u n iversalm en te ab jeta, sem receb erem sa-lários con d ign os, socialm en te eq ü itativos, até m esm o q u an d o com p arad os aos d e ou tras ca-tego ria s p erten cen tes a o seto r terciá rio, n o qu al se in serem . Não existem , p ortan to, con d i-çõ es em q u e q u a lq u er n ego cia çã o so cia l d e p restígio p ro fissio n a l p u d esse su p era r a m b a s as fon tes d e m al-estar p síqu ico em relação à vi-d a e ivi-d en tivi-d avi-d e p rofission al vi-d os lixeiros.

No Mu n icíp io d o Rio d e Jan eiro, são coleta-d os coleta-d iariam en te cerca coleta-d e qu atro m il ton elacoleta-d as d e lixo d om iciliar, resu ltan tes d as ativid ad es d e u m a p o p u la çã o d e seis m ilh õ es h a b ita n tes. A Com lu rb – Com p an h ia Mu n icip al d e Lim p eza Urb an a – é a resp on sável p ela coleta d e lixo n a cid ad e, trab alh an d o com u m a frota d e m ais d e trezen tos veícu los com p actad ores e cin q ü en ta veícu los b ascu lan tes, com u m corp o d e fu n cio-n ários em torcio-n o d e 1.400 coletores p ara o p ro-cesso d e reco lh im en to d e lixo d o m icilia r. A atu ação d a Com lu rb se d á d e form a d escen tra-liza d a , p o ssu in d o 26 Gerên cia s Regio n a is d e Op era çã o, cu ja á rea d e a tu a çã o co in cid e, n a m aioria d os casos, com as Regiões Ad m in istra-tivas (An jos et al., 1995).

Este a rtigo d escreve, d eta lh a d a m en te, a s várias etap as d o p rocesso d e trab alh o d a coleta d e lixo d o m icilia r, a ssin a la n d o n a s m esm a s a esp ecificid ad e d e con d ições d e risco.

Algu n s estu d o s so b re o a ssu n to fo ra m en -co n tra d o s n a litera tu ra (Ro b a zzi, 1991; Ilá rio, 1989; Pereira, 1978; Silva, 1973), en tretan to eles

n ão fazem u m a d escrição sistem atizad ora d as vá ria s eta p a s q u e co m p õ em este p ro cesso d e trab alh o.

M et odologia

O p resen te estu d o, rea liza d o en tre ju n h o d e 1994 e ja n eiro d e 1995, en vo lveu o s tra b a lh a -d o res lo ta -d o s n a Gerên cia -d e Lim p eza Leste (LGL-3), situ a d a n o b a irro d o Rio Co m p rid o, sen d o con stitu íd a p or 29 garis com id ad e en tre 25 e 56 a n o s, n a su a m a io ria sem terem co m p leta d o o p rim eiro gra u e co m u m a ren d a fa -m ilia r e-m -m éd ia d e d o is a três sa lá r io s -m ín i-m o s. Atra vés d esta gerên cia , sã o co leta d a s 48 to n ela d a s d e lixo p o r d ia co m u m a m éd ia p er cap itad e 2,86 t/ h om em / d ia. Por qu estões op

e-ra cio n a is, fo i p o ssível fa zer en trevista co m 24 tra b a lh a d o res. Esses tra b a lh a d o res p o ssu ía m vín cu lo em p rega tício co m a em p resa , sen d o regid o s p elo regim e d a CLT. To d o s a ceita ra m p articip ar volu n tariam en te d a p esqu isa.

Nesta in vestiga çã o, u tiliza ra m -se d ois in s-tru m en tos d e coleta d e d ad os: a) en trevista se-m i-estru tu rada sobre aciden tes relacion ados ao trabalh o e b) film agem do p rocesso de trabalh o.

Ent revist a semi-est rut urada sobre acident es relacionados ao t rabalho

Este in stru m en to a b ra n geu q u estõ es estru tu -rad as e ab ertas (Velloso, 1995). As qu estões es-tru tu ra d a s a b o rd a ra m o s se gu in te s a sp e cto s: acid en tes relacion ad os ao trab alh o (ACT); ser-viço s d e segu ra n ça , h igien e e m ed icin a exis-ten tes n a em p resa; exam es d e saú d e ad m issio-n a is e p erió d ico s; eq u ip a m eissio-n to s d e p ro teçã o in d ivid u a l e co letiva (EPIs e EPCs) fo rn ecid o s p ela em p resa; existên cia d e u m órgão m isto d e p articip ação trab alh ad or/ em p resa p ara in ter-vir n a m elh oria d a h igien e, segu ran ça e saú d e d os trab alh ad ores; trein am en to ou orien tação p ara evitar os riscos p resen tes n o am b ien te d e tra b a lh o. Os d a d o s o b tid o s d e ssa s p e rgu n ta s fo ra m a n o ta d o s, e a s fa la s d o tra b a lh a d o r in -terp retad as, con form e estu d o d e caso d escrito em Becker (1994).

Filmagem do processo de t rabalho da colet a de lixo domiciliar

Co n sid era n d o -se q u e o p ro cesso d e tra b a lh o en vo lve d iferen tes ciclo s e a tivid a d es, p ro ce-d eu -se a u m a am ostragem ce-d esses p rocessos n a form a ab aixo d escrita (Barn es, 1977).

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eces-sário p ara en ch er u m cam in h ão d e lixo) d en tro d os roteiros d a coleta d e lixo. A m éd ia d o tem p o d e d u ração d os ciclos foi igu al a 120 m in u -to s e h a via , em gera l, d o is ciclo s p o r m a n h ã . Para a realização d as film agen s, foram sortea-d os três ciclos m atin ais em três sortea-d ias sortea-d iferen tes. Em cad a, sortearam -se q u aren ta in tervalos d e trin ta se gu n d o s d o s 240 in te rva lo s p o ssíve is. No d ia d a ob servação, u m d os três trab alh ad o-res qu e form avam u m a gu arn ição era sortead o p a ra ser o b ser va d o. Os tra b a lh a d o res n ã o fo -ram avisad os d e q u em h avia sid o sortead o p a-ra ser film ad o.

O trab alh ad or escolh id o aleatoriam en te foi en tã o film a d o rea liza n d o su a s a tivid a d es, d u -ra n te trin ta segu n d os n os q u a ren ta in terva los d e tem p o sortead os. Esse trab alh ad or foi film a-d o in a-d ep en a-d en tem en te a-d o qu e estava fazen a-d o, e h ou ve algu m as situ ações em qu e n ão foi p os-sível film ar, tais com o: o trab alh ad or estava em lu gar d e d ifícil acesso, com o n o p resíd io (on d e fo i p ro ib id a a film a gem ), e em lo ca is d estin a -d os ao tráfico -d e -d rogas. A ob servação in clu iu , p ortan to, ativid ad e d e coleta d e lixo em favela, in d ú strias gráficas e farm acêu tica, resid ên cias coletivas e in d ivid u ais e em p resíd io. Ou tras in -form ações foram ob tid as n a gerên cia.

Os riscos ob servad os n o p rocesso d e trab a-lh o foram categorizad os d e acord o com a p ro-p o sta d e Ma tto s (1992), em seis tiro-p o s: físico s, qu ím icos, ergon ôm icos, m ecân icos, b iológicos e sociais.

Aspect os referent es à organização do processo de t rabalho

Equipe de t rabalho: guarnição

A gu a rn içã o u su a lm en te é co m p o sta p o r três coletores e o ‘p u xad or’, qu e vai à fren te ju n tan d o o lixo p ara facilitar o serviço. Por acord o in -tern o d a gu arn ição, existe u m a d ivisão d e tare-fas, qu e são ad equ ad as às características d e ca-d a com p on en te ca-d o gru p o, sejam elas físicas ou d e exp eriên cia. Ap esar d e atu alm en te n ão h a-ver in cen tivo fin a n ceiro à h iera rq u iza çã o d e resp on sab ilid ad es n a eq u ip e, a gu arn ição p ro-d u z in tern am en te u m a ro-d ivisão ro-d e tarefas e resp on sa b ilid a d es. O líd er é u su a lm en te resresp on -sável p or d irecion ar o gru p o em su as tarefas e p resta r escla recim en to s à p o p u la çã o so b re a s ativid ad es d e coleta.

Turnos e jornada de t rabalho

Na região in vestigad a, os serviços d e coleta são realizad os em d ois tu rn os: p ela m an h ã, a p artir d as 6h 30 m in , e à tard e, a p artir d as 15h . O tu

r-n o d u ra em m éd ia seis h o ra s d iá ria s, exceto qu an d o acon tece algu m im p revisto, geralm en -te relacion ad o a p rob lem as técn ico-op eracio-n ais, com o falta d e m aeracio-n u teeracio-n ção d o veícu lo co-letor d e lixo.

Não existe p au sa d u ran te o p rocesso d a co-leta – os coletores realizam su as tarefas em rit-m o a celera d o e a s a tivid a d es sã o in terro rit-m p i-d as som en te q u an i-d o o veícu lo coletor vai i-d esp ejar o lixo n a u n id ad e d e d eesp ósito. En tretan -to, u m p eríod o d e ap roxim ad am en te u m a h ora é d estin ad o a refeição d a gu arn ição ou p rep a-ração d o lixo p ara coleta. Além d isso, estes tra-b alh ad ores con som em tem p o con sid erável d o seu d ia locom oven d o-se d e casa p ara o local d e trab alh o, con sid eran d o q u e m etad e d os en tre-vistad os gasta cerca d e d u as h oras p ara realiza-ção d esse trajeto.

Cont role e supervisão dos serviços

de colet a

Os serviços d a coleta d e lixo d om iciliar exigem u m con trole geren cia l loca l d e três n íveis: u m in stru m en to d e registro d e in form ações (Boletim Diário d e Op erações, BDO), p rocessam en -to d e d ad os e em issão d e relatórios e u m siste-m a d e su p er visã o d ireta a cio n a d o siste-m ed ia n te qu eixas d a p op u lação.

O p rim eiro n ível refere-se a o registro d a s in form ações, q u e é con sid erad o a b ase d o sis-tem a d e con trole. A cop ilação e an álise d essas in form ações vão p erm itir u m a op eração d o sis-tem a d a co leta visa n d o sem p re a u m a m a io r eficiên cia d o serviço p elo m en o r cu sto. As in -form ações q u e con stam n o b oletim en volvem d ad os d e d iferen tes locais:

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-cias, acid en tes com o veícu lo coletor ou com o trab alh ad or.

O segu n d o n ível d o sistem a d e con trole, ou seja , o p ro cessa m en to e a n á lise d a s in fo r m a -çõ es, resu lta n a em issã o d e rela tó rio s d iá rio s, sem an ais e m en sais, en q u an to o terceiro n ível é feito p ela p op u lação. Esse ú ltim o en volve re-clam ações – n estes casos u m su p ervisor d efin i-d o p ela gerên cia com p arece ao local p ara veri-ficação e en cam in h am en to d e solu ções.

Caract erização das at ividades do processo de t rabalho

O trab alh o d a coleta d e lixo d om iciliar con siste n a rem oção d o lixo p u trescível (d om iciliar, co-m ercia l, in d u stria l e d e fa vela s) eco-m d ia s a lter-n a d o s, co m d esca lter-n so a o s d o m ilter-n go s. O lixo é reco lh id o p ela gu a rn içã o (n a s ca lça d a s em fren te à s ed ifica ções) e d ep osita d o n o veícu lo co leto r, sen d o a co n d icio n a d o em recip ien tes d e d o is tip o s: co m reto rn o e sem reto rn o. Os recip ien tes co m reto rn o sã o a q u eles q u e sã o d evolvid os aos u su ários ap ós seu esvaziam en -to. Sã o ge ra lm e n te con t a in ersd e fe rro ga lva -n iza d o, p lá stico d u ro o u la tã o. Os recip ie-n tes sem retorn o são aqu eles qu e são colocad os n os veícu los coletores ju n tam en te com o lixo n eles con tid os. São geralm en te sacos p lásticos ou d e p ap el com cap acid ad e até 200 l.

Na s fa vela s, o lixo é a co n d icio n a d o em gra n d es ca ixa s d e cim en to co m u m a en tra d a la tera l p o r o n d e o co leto r p o d e p en etra r em seu in terio r, p a ra m elh o r co leta r o s d etrito s. Esse lixo é b a sta n te d esorga n iza d o, sen d o d ep osita d o n a ca ixa , m u ita s vezes, sem em b a la -gen s, p rod u zin d o od or b a sta n te d esa gra d á vel ocasion ad o p ela su a d ecom p osição. Nessa cir-cu n stâ n cia , a va rred u ra to rn a -se n ecessá ria , sen d o u tiliza d o s o s segu in tes in str u m en to s: p en eira, an cin h o, vassou ra e p á.

O a co n d icio n a m en to d o lixo n o s p réd io s resid en ciais é feito em sacos p lásticos ou latões co m ca p a cid a d e d e 200 l. Na s resid ên cia s, é m a is u tiliza d o o a co n d icio n a m en to em sa co s p lá sticos p eq u en os ou recip ien tes d e p lá stico ou lata, com cap acid ad e d e 20 l, sen d o às vezes n ecessá ria a va rred u ra d o s resíd u o s só lid o s, oriu n d os d as em b alagen s p lásticas rom p id as.

Na s in d ú stria s o u n o co m ércio, o lixo é a co n d icio n a d o em la tõ es co m ca p a cid a d e d e 50 l até 200 l. No p resíd io, é acon d icion ad o em latões (200 l) ou caçam b as p rovid as d e q u atro ro d a s co m ca p a cid a d e d e 1.050 l. Devid o à q u a n tid a d e excessiva d e lixo, a o se d esp eja r o m esm o n o veícu lo coletor, caem resíd u os p ara fora d os recip ien tes, torn an d o-se n ecessária a varred u ra.

Descrição das operações

As ativid ad es realizad as p elos três trab alh ad o-re s so r t e a d o s fo ra m ca ra ct e riza d a s e m n ove d ife re n te s tip o s d e o p e ra çõ e s, a b a ixo d e scri-tas:

a) Tran sp orte e m an u seio d e recip ien tes rígi-d o s gra n rígi-d es (la tã o ) – leva n ta r e tra n sp o rta r, com aju d a d e ou tro trab alh ad or, latão d e 200 l com m ovim en tos rotatórios até o veícu lo coleto r, o n d e, a in d a a u xilia d o p elo m esm o tra b a lh ad or, levan ta e d esp eja seu con teú d o fazen -d o m ovim en tos gira tórios -d o la tã o p a ra solta r o lixo d o m esm o. Em segu id a , d evo lve o reci-p ien te ao local d e origem .

b ) Tran sp orte e m an u seio d e recip ien tes m ol-d áveis p eq u en os (sacola) – recolh er vários sa-cos p lástisa-cos m en ores, com cap acid ad e d e 20 l cad a (flexion an d o o tron co sem d ob rar os joe-lh os), arrem essan d o-os p ara d en tro d o veícu lo coletor.

c) Tran sp orte e m an u seio d e recip ien tes m ol-d á veis gra n ol-d es (sa co ) – a rra sta r sa co p lá stico, com cap acid ad e d e 200 l, até o veícu lo coletor, o n d e o recip ien te é leva n ta d o e seu co n teú d o d esp eja d o, d evo lven d o -o a o lo ca l d e o rigem (qu e d everia ser sem retorn o).

d ) Tran sp orte e m an u seio d e recip ien tes rígi-d o s p eq u en o s (la ta p eq u en a ) – leva n ta r e tran sp ortar vários recip ien tes d e lata e d e p lás-tico, três d e ca d a vez, co m ca p a cid a d e d e 20 l ca d a , d esp eja n d o seu s co n teú d o s n o veícu lo coletor e d evolven d o-os ao local d e origem . e) Tran sp orte e m an u seio d e recip ien tes rígi-d o s p a rcia lm en te m eca n iza rígi-d o s (ca ça m b a ) – em p u rra r, co m m a is três tra b a lh a d o res, u m a caçam b a p rovid a d e q u atro rod as com cap aci-d aaci-d e aci-d e 1.050 litros, até en caixe n o veícu lo coletor através d e gan ch os, sen d o su sp en sa e in -clin a d a a u to m a tica m en te, d esp eja n d o o seu con teú d o n o veícu lo coletor. No fin al d a op era-ção, a caçam b a é d esen caixad a e d ep ositad a n o local d e origem .

f) Va rred u ra (va sso u ra ) – a va rred u ra é d e -sem p en h ad a p or d ois trab alh ad ores. Um é res-p o n sá vel res-p o r res-p ega r a va sso u ra , lo ca liza d a n a la tera l tra seira d o veícu lo, va rren d o o s resto s d e lixo q u e estavam fora d as em b alagen s p lás-tica s. Reto rn a r a va sso u ra a o seu lo ca l d e o r i-gem . O o u tro reco lh e o lixo u su a lm en te co m au xílio d e d ois p ed aços d e m ad eira d ep ositan -d o-o n o veícu lo coletor.

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h ) Tran sp orte e m an u seio d e recip ien tes rígi-d os m érígi-d ios (lata m érígi-d ia) – com aju rígi-d a rígi-d e ou tro trab alh ad or, levan tar e tran sp ortar com m ovi-m en tos giratórios u ovi-m latão coovi-m cap acid ad e d e 50 l ou 100 l, d esp ejan d o com m ovim en tos ro-tatórios, ain d a au xiliad o p elo m esm o colega, o con teú d o d o recip ien te n o in terior d o veícu lo co leto r. Em segu id a , d evo lver o recip ien te a o local d e origem .

i) Tra n sp o rte e m a n u seio d e lixo em p en eira (p en eira) – segu rar u m a p en eira, flexion an d o o tron co, m an ten d o as p ern as p raticam en te esti-cad as, en q u an to ou tro trab alh ad or d ep osita o lixo n o in terior d a m esm a com u m a p á ou an cin h o. Ap ós o tran sb ord o d a p en eira, com aju -d a -d e u m terceiro trab alh a-d or, levan ta e tran s-p orta a m esm a até o veícu lo coletor, on d e d es-p eja o lixo e con tin u a a oes-p eração.

Sen d o essa o p era çã o rea liza d a n a fa vela , on d e o lixo é b astan te d esorgan izad o (sem em -b alagen s), torn a-se n ecessária a varred u ra d es-ses resíd u os n o fin al d a m esm a.

As operações e seus prováveis impact os

na saúde do t rabalhador

Os trab alh ad ores, p or realizarem su as ativid a-d es ao ar livre, ficam exp ostos ao calor, ao frio, à ch u va e, ain d a, às variações b ru scas d e tem -p era tu ra . Du ra n te o -p ro cesso d e tra b a lh o, o co m p a cta d o r d e lixo é a cio n a d o freq ü en te -m en te, ocasion an d o ru íd o qu e se so-m a aos ru í-d os p roí-d u zií-d os n o trân sito e n as ru as.

As a tivid a d es d e co leta sã o rea liza d a s n o s m orros e em ru as d e asfalto p recário, p ortan to o s tra b a lh a d o res fica m su jeito s a trep id a çã o p elo fato d e viajarem n o estrib o d o veícu lo

co-letor. Du ran te o recolh im en to d o lixo, os cole-to res so b em e d escem la d eira s, p erco rren d o q u ilô m etro s a p é. Além d isso, o s h o rá rio s d e coleta m u itas vezes coin cid em com o d e tráfe-go in ten so, p o ssib ilita n d o a cid en tes co m o atrop elam en tos e colisões.

As ativid ad es d esen volvid as p elos trab alh a-d o res (a-d escrita s a n terio rm en te) va ria m en o r-m er-m en te ( Ta b ela 1). A p rin cip a l ra zã o d esta va ria çã o p a rece esta r rela cion a d a com o loca l on d e o lixo é coletad o.

Algu m a s d essa s o p era çõ es sã o rea liza d a s p or tod os os trab alh ad ores. O tran sp orte e m a-n u seio d o lixo resid ea-n cial d e h ab itações coleti-va s ou in d ivid u a is (la tã o e sa cola ) sã o a s m a is freq ü en tes (20,5% d o tem p o ca d a ) e co n sti-tu em -se em ativid ad es d e risco n a m ed id a qu e o lixo n ão é acon d icion ad o ad equ ad am en te. As co n seq ü ên cia s p a ra o tra b a lh a d o r sã o u su a l-m en te d escrita s col-m o cortes e/ ou feril-m en tos ocasion ad os p ela p resen ça d e ob jetos p erfu ro-cortan tes.

Na op eração característica d a favela, os re-síd u os são coletad os com p en eira d evid o à fal-ta d e em b alagen s d os m esm os, o q u e n ecessa-riam en te im p lica varred u ra com p lem en tar. Is-t o e xp õ e o Is-t ra b a lh a d o r a a ge n Is-t e s q u ím ico s e b io ló gico s d e r iva d o s d a p o e ira . Fre q ü e n t e m en te, recip ien tes d e lixo servem d e criad ou ros p ara vetores d e d oen ças in fectocon tagio -sa s, d e fin in d o r isco b io ló gico im p o r t a n t e. Além d isso, é evid en te n essa a tivid a d e a exis-tên cia d e esforços físicos e p osições in ad equ a-d as rep etitivas.

As o p era çõ es d e co leta d e lixo n a s in d ú s-trias, n o com ércio e n o p resíd io en volvem ati-vid a d es q u e req u erem gra n d e esfo rço físico.

Tab e la 1

Sumário d as o p e raç õ e s d e se nvo lvid as p e lo s trê s c o le to re s d e lixo d o mic iliar d a Co mp anhia Munic ip al d e Limp e za

Urb ana d o Rio d e Jane iro , o b se rvad o s d urante um c ic lo d e trab alho , jane iro , 1995.

O perações Trabalhador I Trabalhador II Trabalhador III Tot al dos 3 t rabalhadores

n % n % n % n %

Latão –* – 4 11,8 12 48,0 16 20,5

Sac o la 3 15,9 11 32,3 2 8,0 16 20,5

Sac o 4 21,0 4 11,8 3 12,0 11 14,1

Lata p e q ue na – – 2 5,9 2 8,0 4 5,1

Caç amb a – – – – 4 16,0 4 5,1

Vasso ura – – 7 20,6 – – 7 9,0

Pap e lão – – 2 5,9 – – 2 2,6

Lata mé d ia – – 1 2,9 2 8,0 3 3,9

Pe ne ira 12 63,1 3 8,8 – – 15 19,2

To tal 19 100 34 100 25 100 78 100

(6)

Esta s o p era çõ es d e co leta d e lixo, en vo lvem o leva n ta m en to e tra n sp o rte d e la tõ es d e 200 l, la ta s d e 50 l a 100 l, ca ça m b a s d e 1.050 l, d em an d an d o d os trab alh ad ores esforço físico in -ten so. Por esse m otivo, aqu eles com p eso m aior q u e 200 l, p o r n o rm a d a em p resa , d evem ser com p artilh ad os p or colegas d a gu arn ição.

O com p actad or d e lixo localizad o n a p arte traseira d o veícu lo coletor, qu e é acion ad o p elo p ró p rio tra b a lh a d o r d u ra n te a co leta d e lixo, p o d e o ca sio n a r p ren sa gem d o s m em b ro s su -p erio res d e o u tro tra b a lh a d o r, en q u a n to esse d esem p en h a su as ativid ad es. Pôd e-se ob servar q u e, com o o veícu lo coletor é alto, existe o ris-co d e esb a rra r n o s fio s d e eletricid a d e q u e se en co n tra m em seu tra jeto, esp ecia lm en te n a s lad eiras.

O p rin cip a l risco so cia l rela cio n a d o a este p ro cesso d e tra b a lh o é a fa lta d e trein a m en to a d eq u a d o d o s tra b a lh a d o res, o q u e o s to rn a im p oten tes p ara reivin d icar m ed id as p reven tiva s co n tra a cid en tes, d o en ça s in fecto co n ta -giosas e m elh ores con d ições d e trab alh o.

Ca b e ressa lta r q u e o s risco s m en cio n a d o s n ã o a gem sob re o tra b a lh a d or d e form a isola-d a . Assim , o co rp o isola-d o tra b a lh a isola-d o r in tera ge co m o s d iverso s risco s existen tes, p o d en d o ad oecer e sofrer acid en tes.

Vivência do t rabalhador sobre os acident es relacionados ao t rabalho

Este item p rocu ra d escrever a vivên cia d o tra-b alh ad or sotra-b re os acid en tes ocorrid os d u ran te a co leta d e lixo d o m icilia r e a rela çã o d estes acid en tes com o p rocesso d e trab alh o.

Os d ad os referen tes aos ACT con form e su as ca u sa s ( Ta b ela 2) evid en cia ra m co m o m a io r ín d ice p ercen tu a l a s ca u sa s rela cio n a d a s a o a con d icion a m en to in a d eq u a d o d e lixo (73%), segu id as d as referen tes ao veícu lo coletor d e li-xo (12%), d evid o a ou tras cau sas (9%) e ligad as ao trân sito ou via p ú b lica atin gin d o o p ercen -tu al d e 6%.

Do total d e 67 acid en tes in form ad os, 35,8% ocorreram em m em b ros su p eriores e 26,8% n a co lu n a verteb ra l. Co m o se p o d eria esp era r, am b os são tam b ém os acid en tes m ais freqü en -tes con sid eran d o-se com o cau sa o acon d icio-n a m eicio-n to d o lixo, u m a vez q u e esta a tivid a d e en volve m an u seio d e m aterial p erfu rocortan te, levan tam en to e tran sp orte d e p eso.

Com o fator cau sal isolad o, verificase tam -b ém a in flu ên cia d o veícu lo co leto r d e lixo (11,9%). Neste ca so o s m em b ro s su p erio res e m ú ltip la s p a rtes a feta d a s fora m os elem en tos corp orais m ais atin gid os (75% d o total d e oito casos).

As extrem id ad es corp orais e a colu n a verte-b ral p arecem se con stitu ir n as p artes m ais vu l-n erá veis d o co rp o d o tra b a lh a d o r em rela çã o às su as ativid ad es d e trab alh o (86,5%).

Dos 67 acid en tes ocorrid os, 50,7% tiveram com o d ia gn óstico clín ico cortes, ferim en tos e 34,3% m a u jeito, to rçã o, h érn ia d e d isco, d o r m u scu lar, con tu são lom b ar e en torse.

Com o agen te cau sal isolad o referid o, o veí-cu lo co leto r d e lixo é resp o n sá vel p o r 37,5% d os a cid en tes leva n d o a fra tu ra s, e 12,5% (u m a cid en te gra ve) com seq ü ela p erm a n en te, em d ecorrên cia d o qu al o trab alh ad or teve m etad e d e d o is d ed o s d a m ã o d ireita esm a ga d o s p elo com p actad or d e lixo, ten d o qu e sofrer am p u ta-ção d os m esm os.

Portan to, segu n d o au to-in form ação, os co-letores id en tificam com o p rob lem as m ais fre-q ü en tes d e acid en tes afre-q u eles relacion ad os ao m a n u seio d e o b jeto s p erfu ro co rta n tes e à so b recarga d a fu n ção ósteom u scu lar e d a colu -n a verteb ra l co m co -n seq ü e-n te co m p ro m eti-m en to p atológico.

Do s 67 a cid en tes in fo rm a d o s, so m en te 39 (58,2%) im p lica ra m a fa sta m en to d o tra b a lh a-d or. Os a cia-d en tes resu lta n tes em a fa sta m en to d e a té 15 d ia s (n = 26 o u 66,7%) fo ra m em su a m aioria relacion ad os ao acon d icion am en to d o lixo (n = 24). En tre o s a cid en tes gra ves, isto é, Tab e la 2

Causas d o s ac id e nte s re lac io nad o s ao trab alho re fe rid as p e lo s 24 c o le to re s

d e lixo d o mic iliar e stud ad o s d a Co mp anhia Munic ip al d e Limp e za Urb ana

d o Rio d e Jane iro , julho , 1994.

Causas dos acident es n %

1. O b je to c o rtante 21 31,3

2. Esfo rç o e xc e ssivo 19 28,3

3. O b je to p e rfurante 9 13,4

4. Q ue d a d o e strib o d o ve íc ulo c o le to r 3 4,5

5. Batid a d e c o rp o c o ntra o ve íc ulo c o le to r 2 3,0

6. G anc ho d e susp e nsão d a c aç amb a d o ve íc ulo c o le to r 1 1,5

7. Pre nsag e m na p o rta d o ve íc ulo c o le to r 1 1,5

8. Pre nsag e m no c o mp ac tad o r d e lixo d o ve íc ulo c o le to r 1 1,5

9. Trânsito o u via p úb lic a 4 6,0

10. Co rp o e stranho no s o lho s 3 4,5

11. Ataq ue p o r se re s vivo s 2 3,0

12. Co ntato c o m e le tric id ad e 1 1,5

To tal 67 100,0

1 – 3 : Causas re lac io nad as ao ac o nd ic io name nto inad e q uad o d e lixo . 4 – 8 : Causas re lac io nad as ao ve íc ulo c o le to r d e lixo .

(7)

a q u eles q u e im p lica ra m licen ça co m m a is d e 15 d ias, tan to o acon d icion am en to d o lixo (n = 7), co m o p ro b lem a s rela cio n a d o s a o veícu lo coletor (n = 5) têm im p ortân cia com o cau sa re-ferid a.

É im p ortan te n otar, en tretan to, qu e d os seis acid en tes atrib u íd os ao veícu lo coletor d e lixo, cin co (83,3%) im p lica ra m a fa sta m en to co m m ais d e 15 d ias, su gerin d o q u e, ap esar d a m e-n or freq ü êe-n cia, estes acid ee-n tes coe-n cee-n trariam os d e m aior gravid ad e.

Discussão

A p resen te d iscu ssão p reten d e en fatizar os as-p ecto s m a is im as-p o rta n tes en co n tra d o s n esse estu d o p ara su b sid iar a p reven ção d os fatores d e risco existen tes n o p rocesso d e trab alh o d a coleta d e lixo d om iciliar. Deve-se ressaltar q u e esta s co n sid era çõ es serã o vá lid a s p a ra o p ro -cesso d e tra b a lh o d a gerên cia exa m in a d a o u d aqu elas qu e a ela se assem elh am .

O p rocesso d e trab alh o d a coleta d e lixo d o-m iciliar n ão é u n iforo-m e, ou seja, n ão é con stu íd o d e u m a ú n ica op eração, e sim d e n ove ti-p os d e oti-p eração. Con form e foi ob servad o, es-tas op erações variam d e acord o com a top ogra-fia d o lo ca l, o n d e o lixo é a co n d icio n a d o e re-colh id o p elos coletores.

O p rocesso d e trab alh o, além d e ser con sti-tu íd o p or d iferen tes op erações, é d esorgan iza-d o. O tra b a lh a iza-d o r, a p e sa r iza-d e re a liza r ta re fa s q u e d em a n d a m esfo rço físico n a p resen ça d e ru íd o s e em ritm o a celera d o, n ã o p o ssu i p a u -sas oficializad as p ara d escan so. Além d isso, esse p rofission al está exp osto a esseis tip os d e fato -res d e risco (físico s, q u ím ico s, m ecâ n ico s, er-go n ô m ico s, b io ló gico s e so cia is). En tre estes riscos ob servad os d estacam se: atrop elam en -to, qu ed a grave, cortes, ferim en tos, esforço ex-cessivo, ru íd o, gases tóxicos (m on óxid o d e carb on o), con tato com agen tes carb iológicos p atogê -n ico s e fa lta d e trei-n a m e-n to p a ra o ser viço, con scien tizan d o o coletor d e lixo sob re os ris-cos a os q u a is fica su jeito d u ra n te a rea liza çã o d e su as tarefas. Algu n s au tores id en tificam co-m o p reju d icia is à sa ú d e d o s co leto res d e lixo d ois d os fatores ob servad os n este estu d o: o ex-cesso d e esforço físico (Kem p er et al., 1990) e o excesso d e ru íd o (Kessler et a l., 1987; Beta n -cou rt, 1993).

Co m rela çã o a o s a cid en tes d e tra b a lh o, o s coletores d e lixo d om iciliar in form aram com o cau sas m ais im p ortan tes aqu elas referen tes ao acon d icion am en to d o lixo (73%), segu id as d as relacion ad as ao veícu lo coletor d e lixo (12%). O acon d icion am en to in ad equ ad o d o lixo, d evid o

à p resen ça d e o b jeto s p erfu ro co rta n tes e a o p eso d o s recip ien tes q u e o s co n têm , é, n a m aioria d as vezes, o resp on sável p or acid en tes resu ltan d o em cortes, ferim en tos e p rob lem as d a colu n a verteb ral. As cau sas in eren tes ao veí-cu lo coletor (qu ed a d o estrib o, b atid a d o corp o con tra o veícu lo coletor, gan ch os d e su sp en são d a ca ça m b a d e lixo, p ren sa gem n a p o rta e n o com p actad or d e lixo) resu ltam , p rin cip alm en -te, em fratu ras. O acon d icion am en to d o lixo e o veícu lo co leto r ta m b ém fo ra m a s p rin cip a is ca u sa s d e a cid en tes em em p resa s p ú b lica s e p a rticu la res resp o n sá veis p ela co leta d e lixo d o m icilia r n a cid a d e d e Rib eirã o Preto, Sã o Pau lo (Rob azzi, 1991).

A gra n d e m a io ria d o s co leto res d e lixo en -tre vista d o s n o p re se n te e stu d o (80%) so fre u acid en tes d u ran te o p eríod o d e atu ação p rofis-sio n a l, sen d o q u e d o s 67 a cid en tes o co rrid o s, a p en a s 39 (58%) im p lica ra m a fa sta m en to d o trab alh ad or. Os afastam en tos d e até 15 d ias d everam se p rin cip alm en te ao acon d icion am en -to d o lixo. En tre os acid en tes m ais graves, is-to é, a q u eles q u e o ca sio n a ra m a fa sta m en to s su -p erio res a 15 d ia s, ta n to o a co n d icio n a m en to d e lixo, co m o o veícu lo co leto r fo ra m im p o r-ta n tes com o ca u sa referid a . Assim sen d o, tor-n a-se claro q u e as cau sas m ais freq ü etor-n tes d os acid en tes estão d iretam en te associad as ao p ró-p rio ró-p rocesso d e trab alh o.

Os eq u ip a m en to s d e p ro teçã o in d ivid u a l n ão são d istrib u íd os regu larm en te aos garis in -vestiga d o s co n fo rm e a d em a n d a exigid a p elo serviço. Na ob servação p relim in ar d o p rocesso d e trab alh o (realizad a em 11/ 10/ 94), os coleto-res ap coleto-resen tavam -se com u n iform e em estad o p recá rio, sem b o ta s e, à s vezes, sem lu va s. Ao con trário, n a ocasião d as film agen s d efin itivas (realizad as em 09/ 01/ 95, 10/ 01/ 95 e 12/ 01/ 95), esses tra b a lh a d o res tra ja va m u n ifo rm e co m -p leto (ca m isa e ca lça com -p rid a , b ota s, b on é e lu vas), ap esar d e terem sid o ob servad os algu n s trab alh ad ores sem as lu vas. As d iferen tes situ açõ es o b ser va d a s p o d em ser in terp reta d a s co -m o resu lta d o s p o sitivo s d essa in vestiga çã o e d e o u tra s q u e esta va m sen d o rea liza d a s n a Co m lu rb p elo Cen tro d e Estu d o s d e Sa ú d e d o Trab alh ad or e Ecologia Hu m an a (Cesteh ), isto é, a p róp ria in vestigação in flu en ciou a con d u ta d a s p esso a s o b serva d a s (Pereira , 1995). O d esu so d as lu vas p od e ser exp licad o p elo d escon -fo rto gera d o (Ferreira Ju n io r, 1985). Na en tre-vista, algu n s coletores in form aram qu e h aviam ad q u irid o d erm atite d e con tato, d evid o ao seu u so freqü en te.

(8)

a-Referências

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Referências

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