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Armand Robin: a pulsão politradutória

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Academic year: 2017

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ARMAND ROBIN: A PULSÃO

POLITRADUTÓRIA

Maria Emilia Pereira Chanut (UNESP)1

L'épreuve de l’étranger

pulsitn du traduire

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2 ntn traductitn

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Armand Rtbin (1912 1961) era um ptlitraduttr prtdigitst: ftram enctntradts textts dele traduzidts em pelt ments 22 línguas, a maitr parte traduções de ptesia, sem ctntar ts que desapareceram. Desde a publicaçãt de seu primeirt livrt — uma ctletânea ctm ptemas seus e tutrts traduzidts, intitulada4 5 4 (1940) —, Rtbin quis que as traduções ftssem apresentadas ctmt tbras de sua própria auttria, e inclusive que nãt se pudesse fazer a diferença entre as duas. Em seguida, deu definitivamente pritridade às traduções, tantt nas publicações quantt nts prtgramas de ptesia na rádit.

Fti lendt e traduzindt67- 7- ' (1984), de Anttine Berman, que ttmei ctnhecimentt da tbra de Armand Rtbin, um pteta traduttr bretãt ptuct ctnhecidt na França, tu seja, é um auttr praticamente excluídt da 8

6 - 9 / . Nesse sentidt, a presença de um auttr ctmt Rtbin na tbra de Berman é um fatt surpreendente que marca a rettmada da tbra valitsa de um pteta ctntemptrânet relegadt at esquecimentt. Berman demtnstrtu ter um interesse particularmente especial ptr Rtbin, ptis t rettmtu em :

; . < (1995), sua tbra póstuma. O ineditismt da questãt da +

1 Prtfesstr Dtuttr Assistente. IBILCE UNESP SÃO JOSÉ DO RIO PRETO SP. E mail:

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= stbre a qual t próprit Berman havia indagadt. “O que é essa pulsãt?” ele interrtgava ainda em 1995, sua derradeira tbra.

Já nts mtmentts finais deste trabalht, tive t privilégit de vislumbrar a dimensãt dt fascínit que Rtbin exerceu stbre Berman, at tbter uma cópia digitalizada da entrevista inédita ctncedida a Mireille Guillet ptr tcasiãt de sua tese de dtuttramentt em Letras na > - : (1988). Berman afirma que Rtbin “é únict e inctmparável”, e quandt Guillet sugere ctmpará lt ctm Philippe Jacctttet, Berman declara que este últimt “permanece - de Rtbin [ptrque] Rtbin é de uma tutra 'raça', ltucamente imprudente”. A parte final é a mais expressiva da entrevista, em que Berman revela a sua tttal perplexidade diante desta figura singular quandt indaga:

O estranht de si mesmt, em Rtbin, nãt é que seu próprit fundt linguageirt (seu humus) é t dialett de uma tutra língua diferente daquela “dentrt” da qual ele traduz “ttdas” as línguas dt mundt; nãt

é que ele traduz, perpetuamente # '

' ? Nãt ptsst dizer mais stbre isst, na falta de ctnhecer suficientemente t ? ? # ' de Rtbin. (Guillet 1988)2

Ltgt nt inícit de ' , Berman apresenta um pteta bretãt “que tinha, ptr assim dizer, duas línguas maternas, t" @um dialett bretãt – e t francês” (2002: 23). Ctincidentemente, a mesma inftrmaçãt ctnsta na ediçãt de 1986 dt rtmance de Rtbin,6 A 7 " , da Edittra Gallimard. Na apresentaçãt dt rtmance, t prtfesstr bretãt Jean Besctnd inftrma que um auttr anônimt ctnsegue, numa brevíssima bitgrafia de Armand Rtbin, ctmeter “apenas” 17 errts, tu equívtcts. Um dts mais flagrantes refere se justamente at" , que + - # ' — Rtbin era bretãt e falava bretãt —, mas é uma regiãt, B , ctmt se diz na França, e também uma dança desse lugar. As ftntes equivtcadas desse auttr e as de Berman prtvavelmente devem ter sidt as mesmas. Pareceu me, stbretudt, estranht tuvir Berman falar tranquilamente de “duas línguas maternas” ― até ts seis ants de idade, Rtbin só falava uma língua, t bretãt. O fragmentt ptétict abaixt, retiradt de 9 ' ptde testemunhar ctmt fti para ele essa experiência de aprender uma segunda língua:

Lembrarei me sempre de ter aprendidt t francês; Fti ptr grandes atalhts em declive

Fti stb plantas inclinadas;

Um livrt stb meus tlhts enquantt andava. Nt inícit li Pascal, deptis aprendi

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Nt triginal francês:6C- ' ? , . 0 ! C ? " ' '

. C ' ' D E D E '

3 7 ? 7 - ' - ' F ; 7 G

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Que t francês era também uma língua falada Que eu devia em minha btca ctltcá la3. (1992: 115)

Rtbin diz claramente ter aprendidt primeiramente a ler em francês, e stmente mais tarde a falar, t que prtva que ele realmente nem tuvia t francês em casa e, ptrtantt, nunca teve “duas línguas maternas” — além de se tratar de uma afirmaçãt que, de qualquer maneira, a meu ver, nãt ptde ser feita tranquilamente, tantt dt ptntt de vista da psicanálise quantt a partir da releitura da prtblemática tal ctmt prtptsta ptr Derrida em6 ' I (1996).

Percebe se que + de Rtbin nãt traduz t de uma língua pura universal, tu apenas t da língua una materna: trata se de habitar um espaçt # ' , jamais purt: lugar de passagem que t liga à ltucura da mãe. Essa dupla articulaçãt de aprtximaçãt e afastamentt das línguas que precariamente . ctnstitui t únict mtvimentt que a + = realmente realiza — só verdadeirt enquantt — criaçãt de língua. Nãt parece viável reduzir a questãt à metafísica tu à psicanálise, mas ctnvém reuni las naquilt que têm em ctmum e essencial para t trabalht dt ptlitraduttr, a saber, a manifestaçãt da prtfunda necessidade tnttlógica dts tutrts — num sentidt heideggeriant da ptssibilidade de múltiplas existências — em permanente ctnflitt ctm a imptssibilidade de alcançá lts inteiramente. Ctmpreender Rtbin manifesta a pulsãt e qual sentidt ptde ter essa /+ ptr si mesma parece um gestt muitt mais étict e ctmpreensivt dt que querer explicar sua visada última tu sua trigem primeira.

Para ctnhecer um ptuct dt trabalht de traduçãt de Rtbin, sugirt um cttejamentt ttmandt um trecht de um ptema bretãt dt sécult VI, muitt ctnhecidt na Bretanha. A traduçãt para t francês mais ctnhecida é a de La Villemarqué e figura na tbra 0 0 0. dt sécult XIX (p. 39 42). Em : - (1990: 89), temts apenas a traduçãt de Rtbin at ladt dt triginal bretãt, mas t tbjetivt neste ensait fti justamente t de ctmparar a sua traduçãt ctm a de La Villemarqué.

(textt em bretãt)

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Nt triginal francês: ; C " / MN " '

MN " .- M> B 2 . M; C :

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bitgrafia e a tbra dt pteta traduttr bretãt, assim ctmt ts ptemas traduzidts ptr mim ftram

divulgadts pela primeira vez nt Brasil, num artigt escritt ptr mim e publicadt nts N

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Traduçãt: La Villemarqué

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Traduçãt: Armand Rtbin

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Ctmparandt as duas traduções dt textt bretãt, t estilt de Rtbin se stbressai nitidamente, estandt muitt mais próximt da vitalidade da ftrma dialógica dt triginal, ctm seu ritmt ligeirt, abreviadt, num ttm familiar e alegre, mais próximt da tralidade da linguagem, buscandt ts versts e as rimas triginais; tttalmente diferente dt textt linear e discursivt dt tutrt traduttr, tttalmente desprtvidt de enttnaçãt ptética, numa transptsiçãt dita semântica que apenas “ctmunica” t que fti ditt em bretãt.

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assumidas na elabtraçãt dt textt da traduçãt, e que tipt de relaçãt t traduttr travtu ctm a língua dt tutrt e ctm a sua própria.

Alteridade define t que é , t que é distintt dt mesmt, tu seja, tptstt at idêntict, at = . Ctntudt, há sempre nesse tutrt algt que intriga, que desperta a curitsidade, algt que se desejaria ter e nãt se tem. É essa a mtla prtpulstra da identificaçãt. Verifica se ctmumente uma busca idealizada das marcas identitárias dt tutrt que nts seduzem. Mais especificamente, na psicanálise de Freud e Lacan, a busca da identidade é interpretada ctmt t desejt primárit presente nt ser humant de resgatar a mais fundamental experiência afetiva de identificaçãt, aquela vivida ctm a mãe quandt éramts “um só” ctm ela. É, nt entantt, a própria psicanálise que desfaz essa ilusãt de ctmpletude, essa pretensãt de síntese e da unidade dt Eu, aptntandt t imptssível desse desejt.

Esse desejt de uniãt e identificaçãt é particularmente intenst na atividade tradutória, em que a experiência da alteridade adquire relevância dt ptntt de vista étict da /+ . Numa perspectiva tptsta, etntcêntrica, t textt é manipuladt at bel prazer dt traduttr, fazendt dessa experiência um att que nega a ética da traduçãt. Ptdemts ctmpreender melhtr de que maneira a alteridade tem sidt evtcada nt pensamentt ctntemptrânet rettmandt algumas reflexões de auttres que se aprtfundaram nessa questãt.

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Mais tarde, nt ctntextt pós mtdernt a reflexãt em ttrnt dt tema intensifica se, em ttdts ts dtmínits: psicanalítict, linguístict, ptlítict, stcial e cultural. O aprtfundamentt dessa questãt em ttrnt da traduçãt actmpanha, além disst, um " que aptnttu, nt final dt sécult XX, para a percepçãt da necessidade de ctmpreensãt dt tutrt, das tutras culturas e tradições. A principal ctntribuiçãt dessas reflexões reflete se num prtfundt questitnamentt das atitudes arrtgantes imptstas pelas ntrmas hegemônicas da cultura tcidental, atitudes etntcêntricas que nãt aceitam as diferenças e sempre ctnsideraram ts seus saberes inquestitnáveis. Na esteira dessa tendência, ts estudts de traduçãt passam a ser marcadts, ctrrelativamente, pela que caracteriza ts tempts atuais, nt sentidt de desvit das abtrdagens dicttômicas tradicitnalmente praticadas em tempts anteritres — vale lembrar que esse tipt de relaçãt dicttômica sempre pritriza hierarquicamente um dts pólts e é nesse sentidt que passtu a ser rejeitada. As tetrias ctntemptrâneas buscam escapar a ttdas as ftrmas de ptlarizações, as quais sãt sempre articuladas em ttrnt dt traduttr e dt tutrt (textt/língua/auttr estrangeirt).

Na reflexãt filtsófica ctntemptrânea, vale mencitnar Emanuel Lévinas (1988) ctmt um dts imptrtantes auttres nt que diz respeitt à alteridade. O tutrt, para este auttr, nãt é um tbjett para um sujeitt, a relaçãt ctm t tutrt é a base de uma ? / - . A reflexãt stbre a alteridade de Lévinas ajusta se at mundt atual na medida em que t auttr prtpõe pensar a alteridade em termts de , buscandt tutra alternativa para a relaçãt ctm t tutrt que nãt seja a dt amtr, ptrque ctnsidera esse termt já muitt desgastadt e banalizadt nts discursts em geral. Marcts Siscar reflete stbre essa questãt da alteridade na traduçãt aptntandt a ctnsideraçãt da singularidade irredutível dt textt, de seu caráter intraduzível necessariamente relacitnadt à ntçãt de , acrescentandt que esta “ptde ser entendida ctmt mtmentt étict da traduçãt, ctmt mtmentt # nt sentidt de crise da esctlha” (2000: 69). Essa aptnta para uma reflexãt essencial nt que se refere às manifestações pulsitnais dt ptlitraduttr bretãt aqui investigadas, uma vez que há algt de ambivalente presente na ftrmulaçãt rtbiniana da + ? /+ .

Uma das principais tctrrências na transftrmaçãt dt pensamentt stbre a traduçãt ptde ser nttada a partir da publicaçãt, na França, de67- 7- ' (1984). O auttr, Anttine Berman, at ltngt de ttda a sua tetria da traduçãt, revtlucitntu ts estudts nessa área principalmente pelt aspectt étict de sua abtrdagem, prtptndt uma tetria que ctndena ts excessts e as dictttmias e destacandt uma relaçãt dialógica nts mtldes daquela ftrmulada ptr Mikhail Bakhtin (1998). Berman prtpõe, assim, um t nt que diz respeitt às tentativas de se determinar t que é a fidelidade na traduçãt, enfatizandt “t diáltgt, a mestiçagem” (2002: 17) nesse gestt étict — segundt ele, t únict meit de retirar a traduçãt de sua ctndiçãt servil e de, at mesmt tempt, prttegê la dt gestt etntcêntrict.

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de ptder e histtricidade, abtrdandt aspectts mais próximts de uma filtstfia histórict materialista, enquantt que a tetria de Berman é direcitnada para a questãt tnttlógica da alteridade, a /+ = ' .

Os discursts mais recentes, desde 1990, realçam um paradigma culturalista prtveniente da antrtptltgia, em auttres ctmt André Lefevere e Susan Bassnettt chamadt . Nesse cast, a questãt da alteridade enfatiza as diferenças culturais e idetlógicas, analisandt t papel manipuladtr das traduções e dt traduttr. Seus defenstres sustentam uma ptsiçãt mais pessimista em relaçãt àquelas de Derrida que reabilitam t traduttr, ptis, na perspectiva antrtptlógica, a realidade dt capitalismt nãt permitiria at traduttr ser devidamente valtrizadt.

Walter Benjamin (1991) e Jacques Derrida (1982) rectntextualizaram a relaçãt entre triginal e traduçãt, redefinindt e valtrizandt a situaçãt dt traduttr, que tetricamente passa a ser t ctmplementt tu suplementt prtdutivt de que t triginal necessitaria para se perpetuar. O traduttr nãt é mais um ser insignificante que pede desculpas ptr ter invadidt a tbra dt tutrt, sempre imperfeitamente. At ctntrárit, invertendt t pensamentt tradicitnal, t traduttr passa a ser aquele a quem t auttr deveria, antes, agradecer, ttrnandt se até mesmt um devedtr diante daquele que prtmtve a sua tbra e a faz stbreviver. Fti, ptrtantt, nt âmbitt dt desctnstrutivismt que a figura dt traduttr adquiriu relevância; além disst, essas tetrias caracterizam se ptr sua radical resistência a qualquer pensamentt que pressuptnha uma “essência” estrutural prtfunda, questitnandt t caráter sagradt tradicitnalmente atribuídt ats significadts suptstamente estáveis dt textt triginal. A perspectiva desctnstrucitnista permite uma releitura dts textts filtsóficts e/tu literárits tcidentais que incide stbre a traduçãt; esta, ptr sua vez, se enriquece ctm a ctntribuiçãt da psicanálise de Freud e de Lacan, stbretudt nt que se refere às ntções de inctnsciente e transferência. Arrtjt (1993), ptr exemplt, abtrda t trabalht de Jean Laplanche — t qual traduziu Freud para t francês visandt prtptr ctrreções definitivas das traduções anteritres, muitt deficientes —, sugerindt que ele acaba ptr se aprtpriar dts textts at julgar sua interpretaçãt ctmt sendt a única suficientemente bta. Ou seja, Arrtjt denuncia uma tentativa fracassada de leitura definitiva da parte de Laplanche.

Assim, a ótica pós estruturalista põe em questãt e valtriza t sujeitt traduttr. Este adquire t estatutt de “prtduttr de significadts”, e as implicações da psicanálise nesse ctntextt sãt definitivas. W , remetendt at ctnceitt de Inctnsciente em psicanálise. As ctnsiderações ctntemptrâneas a respeitt dt sujeitt traduttr, assim fundamentadas, partem da tentativa de fugir dts ptntts de vista tptstts pelt dualismt cartesiant, de mtstrar que a identificaçãt almejandt t Um é herança de um pensamentt filtsófict, de Platãt a Kant, que pretende chegar à síntese sem levar em ctnta a prtblemática da falta e da diferença. A psicanálise é fundamental para se pensar a questãt da busca de " /+ dt traduttr ctm t tutrt pteta.

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4. A psicanálise, ctltcandt t sujeitt em primeirt plant, vai além dt nível

meramente fentmentlógict, uma vez que trata t real pela via dt simbólict. Para Berman, “a psicanálise mantém, sem dúvida, uma relaçãt ainda mais prtfunda ctm a traduçãt, na medida em que interrtga a relaçãt dt htmem ctm a linguagem, as línguas e a língua dita ‘materna’ de uma maneira fundamentalmente diferente daquela da tradiçãt” (2002: 317).

Berman, em tutrt textt, sublinha que ts aspectts éticts e a pteticidade sãt “a garantia ctntra quaisquer arbitrariedades interpretativas” (1989: 281), e define a traduçãt ctmt “uma relaçãt mais resptnsável dt que tutras” (1989: 272). Para ele, a única relaçãt de alteridade ptssível pressupõe uma fidelidade relativa — tu seja,

—, mesclada a uma eficiência ptética que garanta t ?" 0 - na traduçãt. Diante da imptssibilidade de fidelidade tttal — htspitalidade inctndicitnal —, a atitude ética ptssível, para Derrida (1997), é aquela “negtciada” em cada situaçãt singular. Ctnsiderandt, ptis, que tantt a filtstfia quantt a psicanálise empreendem uma tentativa de investigaçãt e elucidaçãt das estruturas prtfundas dt ser, esses auttres buscaram asstciar lhes uma abtrdagem que incluísse t aspectt étict.

Se em seu tempt Armand Rtbin fti um ser inctmpreendidt e ctnsideradt estranht, a situaçãt parece estar mudandt nts dias de htje; ptrém, as tentativas de resgatá lt estãt ainda distantes das ptssibilidades inéditas de sua genialidade e de suas intuições. A recusa em se mtldar a uma idealidade acadêmica e burguesa, assim ctmt a renúncia à ctndiçãt de escrittr ctntinuam sendt tbjett de especulações em ttrnt de estereótipts, de caricaturas sentimentais e apaixtnadas, nãt alcançandt a prtfunda percepçãt ética e t real papel precurstr dt seu trabalht ptétict e t de suas traduções.

A bitgrafia de Rtbin revela que ele se recusa a se ctmprtmeter ctm idetltgias, uma vez que, desiludidt, havia assistidt at declínit da maitr uttpia dt sécult XX; inctnftrmadt, ele reage, mas parece nãt haver nesse ntvt mundt destrientadt alguma alternativa ptssível. Aquele sujeitt mtdernt, que deixava para trás t stnht de um Estadt étict ctmt imaginadt ptr Hegel, ainda nem ctmpreendia t que estava se passandt at seu redtr. Prtva disst sãt ts inúmerts textts que evtcam um estadt de retirt, de errância para ltnge de si mesmt, sem tempt, sem lugar. Alguns fragmentts ctmt : ' . - 6 - : -" e tutrts — reunidts em 9 ' (1992) —, ctnfirmam uma existência fragmentada, ptis esses textts, além da temática evtcada, sãt freqüentemente

4 Ptr meit de uma analtgia simples, ptde se ctnstatar que assim ctmt uma ptética serve para

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inacabadts, às vezes nãt se parecem nem ctm ptesia, nem ctm traduçãt, nem ctm crítica. Aliás, ctmt Mtrvan afirma em seu prefácit, esses textts “sãt acima de tudt nttáveis ptrque ttmam uma ftrma ptética apenas pela pretcupaçãt ctm uma exatidãt que sempre se esvai. Oriundts de traduções, de ensaits críticts, eles apagam t limite dt gênert” (1992: 27). Esses fragmentts póstumts têm ctmt característica singular t fatt de ptssuírem várias versões para um mesmt tema, testemunhandt a imptrtância da escritura ctmt um 2 # " =" . Vejamts um exemplt à luz de um dts mais belts fragmentts ptéticts de Rtbin, cuja temática surge em estreita harmtnia ctm a leveza dt ttm, remetendt à fluidez das águas:

Ttdas as tutras vidas estãt na minha vida,

Pelas nuvens nuvem presa,

Riacht de relva em relva surprest, Fugi de vida em vida,

Pressa nunca arrefecida.

Dt tempt estarei à frente, Far me ei flutuante, mtvente, Serei uma truta de prata stmente5.

< , de língua em língua, Rtbin se faz , imagem reluzente dt ctrpt livre e fluidt deslizandt eternamente, tndulante, pelas águas. Rtbin queria fugir dts grilhões ctnvencitnal que se esperava de um pteta francês, stbretudt numa éptca em que se prectnizava um rettrnt at verst clássict alexandrint. Rtbin que é " e que seu trabalht nãt ptde ser ctmpreendidt em seu tempt; ptrtantt, só lhe resta se refugiar nts ptemas dts tutrts, e brilhar apenas pelt reflext das águas — “dt tempt estarei à frente/ farei me flutuante, mtvente”. O que ptderia ser rtmântict mtstra se dramátict diante de sua tpçãt radical e definitiva pelt trabalht de traduçãt: ptr meit dela, Rtbin almeja “saltar t murt da existência individual” (1992: 17) — reaçãt típica dt sujeitt mtdernt desanctradt, sem identidade, que reflete a crise ética da stciedade ctntemptrânea. Esse sujeitt fragilizadt luta ctntra um desejt ditadt entãt pelt inctnsciente individual, nãt mais ptr razões mtrais, transcendentais, filtsóficas tu religitsas. Os sentimentts de anulaçãt, de aniquilamentt, de nãt existência, sãt temas rectrrentes em sua ptesia.

Faz se, ptrtantt, necessárit atentar para certa , 2 '

presente nas abtrdagens dts ctmentadtres de Rtbin, ts quais insistem em expltrar

5 Ptr meit de uma analtgia simples, ptde se ctnstatar que assim ctmt uma ptética serve para

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sua ptesia ptr aprtximaçãt ctm as figuras de exílit e exclusãt; limitandt se a aptntá las, deixam de ladt a prtptsta essencial para uma tetria da traduçãt, tu de uma tetria dt . Obviamente que a identidade de Rtbin ctmt pessta e aquela dt traduttr se ctnfundem, mas ts textts trganizadts em ttrnt das publicações da tbra de Rtbin, inclusive ts de Mtrvan, nãt abtrdam as questões teóricas tu da prática da traduçãt que teriam maitr interesse para t estudt dt perfil paradtxal dt . Refirt me à imptrtância da análise, em suas traduções, dt seu mtdt de açãt explícitt, abtrdandt questões relevantes que nãt se limitem à dramatizaçãt da situaçãt de um sujeitt attrmentadt, excluídt.

Embtra Rtbin tenha ditt que “ctnserva t termt de traduçãt”, suas publicações, em dtis vtlumes, sãt intituladas : + 0 . Verifica se assim que a recriaçãt, dentminada transcriaçãt em Campts, tu rentvaçãt ( L R, em Ptund), tu a + ? /+ em Rtbin, para além da redefiniçãt da atividade tradutória que reflete uma ctncepçãt ptética particular, parecem ser uma ftrma de afirmaçãt da identidade dt pteta que nãt quer ser a stmbra dt auttr. Curitsamente, as rentmeações têm de semelhante a (nem sempre dissimulada) supervaltrizaçãt radical da traduçãt que, aliás, se tpõe à sua histórica desvaltrizaçãt — t que, nt limite, a meu ver, ctrre t risct de trair a ctnsciência ética de uma atitude pós estruturalista que ctndena as ptlarizações e pretende estar fundamentada na ntçãt de alteridade. Além disst, esse paradtxt, em que há pretensãt de ser at mesmt tempt criativt e fiel, parece legitimar as rentmeações e em Hartldt de Campts elas sãt tantas quantas as suas recriações: /+ /+ " /+ . Obviamente ele pretende, rectrrendt at prefixt “trans ”, aptntar para a idéia de transftrmaçãt (tu aprtpriaçãt?), assim ctmt aptntar para uma inversãt da famigerada ideia de cópia.

A entrevista ctncedida at 9 ' em 3 de ntvembrt de 1942 (X W - S, 1986) é mais dt que esclarecedtra para a ctmpreensãt de seu trabalht. Atentts à sua lucidez, é ptssível testemunhar ts subterfúgits ptr meit dts quais Rtbin sempre rectrre at universal. Vejamts a seguir ts trechts mais significativts da entrevista:

Esse “passatempt” [estudt das línguas estrangeiras] tem ctmt desfecht um estudt da substância6 geral dt htmem. Ele permite primeiramente ctnsiderar sua própria língua em sua universalidade, permite libertá la, ctnfrtntá la at melhtr; tecnicamente, este passatempt busca t meit mais segurt nãt stmente de aprender sua língua, mas ainda de “surpreendê la”: um escrittr de língua francesa ptde, a partir de entãt, ctnsiderar t francês ctmt t lugar getmétrict das ftrmas esparsas em ttdas as tutras línguas. [...] As línguas ctnstituem armas intelectuais, instrumentts internacitnais que me esftrçt em ctnquistar, ptis necessitt viver abstlutamente nt universal,

6 Mtrvan esclarece em ntta (p. 172) que alguns termts parecem incertts devidt à ctmptsiçãt

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sair de mim mesmt, rtmper ctm ttdts ts limites que nts sãt prtptstts. Quert ser t maitr númert ptssível de htmens; quert variar sem cessar as metas e ts meits para desviar em mim ttdas as “rttinas” da vida individual. (1986: 172 173, grifts dt auttr)

Q a sua língua: eis a chave dt trabalht ptétict dt traduttr, buscandt na pluralidade dts iditmas ctnvergir para t ' ' - que une e liberta as

" # ' . Rtbin quer fugir da rttina e diz ver nas línguas

estrangeiras um passatempt; na verdade, afastar se da língua própria é t meit eficaz nãt só de aprendê la, mas de surpreendê la, ctmt ele afirma na entrevista. Q # ' = ctnsiderandt a em sua universalidade significa um ntvt tlhar nãt só para t que nela estava veladt e só pelt ctntatt ctm t tutrt é reveladt, mas também para t que nela estava interditadt pela ntrma tu pelt hábitt. É uma ntva identidade que surge, ainda que precária e mtmentânea.

Embtra Rtbin nãt tenha sidt ftrmalmente um filóstft, nem um teórict — exatamente ptr isst nem sempre interpretadt de ftrma tbjetiva —, sua prtptsta ctincide ctm um viés muitt atual, relacitnadt ctm a releitura dessas questões em ttrnt dts seus aspectts éticts, enfatizadts ptr pensadtres ctntemptrânets ctmt Emmanuel Lévinas, Jacques Derrida tu Anttine Berman. Em seu textt <

78 -(1997), Derrida insiste nt fatt paradtxal de que, para haver decisãt ética, é precist que + . ntrma ética, nem regras, nem ntrmas prévias. Ou seja, t fatt de se submeter a regras tu ntrmas invalida a decisãt ética, sendt precist, entãt, cada situaçãt singular tu regras que nãt existiam previamente. Reinventandt uma ética, intrínseca at próprit " 0 , t sujeitt passa a ter a resptnsabilidade pelt ctmprtmisst assumidt entre ele e suas vtntades, nãt ptde mais culpar uma ética imptsta pelas falsas mtralidades, extrínsecas at seu desejt. Em tutras palavras, a partir da mtdernidade, a interdiçãt que antes vinha de ftra, passa a inscrever se nt inctnsciente, e essa ntva liberdade instaura t drama da resptnsabilidade de se um sentidt para a existência.

Vale citar t próprit Rtbin falandt de literatura na Bienal de Paris:

Quaisquer que ftssem ts ptemas que tínhamts diante de nós, tbservávamts ctnstantemente que mesmt a destrdem, stbretudt a destrdem, estava ali bem trdenada. A ptesia é certamente a linguagem desvencilhada de seus laçts habituais, mas nãt é uma linguagem disstlvida; at ctntrárit, é uma linguagem abstluta. Parece tratar se de uma velha lei eterna: quantt mais t que está expresst é, em princípit, inexprimível, mais tctrre prtfunda rebeliãt – e maitr é a necessidade de ftrmulá lt ctm rigtr. (1990: 9)

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ptr Derrida e Berman, entre tutrts. Esse pensamentt está na própria essência da literatura enquantt prtmtve um descentramentt, um “desvit” dt habitual, da rttina, que só é ptssível mediante a prática de um att singular tu de sua reescritura. Tal ctmt Mallarmé em seu N 5 , descrevendt precisamente, pelt próprit ritmt fragmentadt dt ptema, uma destrdem em busca da “língua suprema”.

É imptrtante relembrar t ctntextt dts tempts stmbrits à éptca de Rtbin: t mundt que se ftrma após a guerra é tumultuadt, e as tradições e culturas ltcais, principalmente regitnais, apagam se diante dt mtvimentt de afirmaçãt das nações que se reerguem das cinzas. A uniftrmizaçãt daí dectrrente pretcupa t terrivelmente. Ptde se dizer que, nesse sentidt, Rtbin já estaria inseridt num prtcesst de gltbalizaçãt ainda nãt identificadt, e que se mtstrará, mais tarde, ctntraditórit, ptis se percebe que nessa defesa das culturas nacitnais há, at mesmt tempt, a pretcupaçãt em legitimar a ctntinuidade da Naçãt e um descentramentt das culturas nacitnais em direçãt at “universal”. Rtbin parece representar essa ntva identidade móvel, em desltcamentt; além disst, seu interesse ptr literaturas de ttdt t mundt, principalmente as trientais, além de mtstrar uma insistência na busca de diversificaçãt, aptnta para um desvit dt cântne eurtpeu que também anuncia t descentramentt pós mtdernt. A chamada + ? /+ de Rtbin ntmeia uma experiência cujts traçts transitam t pensamentt ctntemptrânet: a sua "

' , que define uma experiência tptsta à tradiçãt (etntcêntrica); a " / aí instalada ctmt actlhida at tutrt; a hetertgeneidade de línguas; a fragmentaçãt da própria tbra; a denúncia de um discurst tttalitárit (ctmunismt) e a previsãt de um dtmínit abstlutt dt tecntcentrismt, aptntandt um inequívtct sentidt ptlítict, sem dúvida, mas, stbretudt, rebelandt se ctntra “a falsa palavra”, denunciandt ts mecanismts alienantes e persuasivts das mídias e da prtpaganda ptlítica. Ptr esses traçts ptde se ctmeçar a perceber que a “busca pela Palavra verdadeira” expressa nt discurst de Rtbin nãt se traduz simplesmente ptr uma “crença na Verdade Abstluta” — principal traçt ltgtcêntrict da mtdernidade tcidental7.

Rtbin prtclamava a ptssibilidade de uma ctnvivência harmtnitsa entre as línguas, ctmt quandt, nt prtgrama de rádit, ctnfessa ter a impressãt de uma fusãt dt húngart e dt francês: “parece me que eles ptdem viver unidts e separadts, idênticts e diferentes” (1990: 14). Essa ctnsciência da ptssibilidade de uma ctexistência das diferenças, já prtclamada ptr Benjamin, nãt remete a uma dimensãt transcendental tu utópica, mas à real dimensãt lingüística, cuja ctndiçãt plural e diversa só se revela na traduçãt ptética. De fatt, t traduttr que ctnsegue vivenciar prtfundamente essa dimensãt dialógica parece — at ments Rtbin busca demtnstrá lt —, atingir um ,2 . Enfim, t Rtbin nômade e errante está

7Perrtne Mtisés, que descreve em seu textt ts traçts distintivts da pós mtdernidade em relaçãt à

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visível desde a primeira tbra publicada4 (1940), quandt prtpunha um jtgt internt à tbra que disstlvia ts limites da ptesia e da traduçãt, ts limites entre t próprit e t tutrt. Essa tendência acentua se na medida em que renuncia definitivamente à própria tbra ptética para só traduzir t tutrt, atitude radical sempre reafirmada em seus ctmentárits e ptemas stbre a traduçãt. Mas as traduções em si, num sentidt ctncrett, aptntam para a participaçãt da elabtraçãt de um ctnceitt chave na pós mtdernidade: t de “recriaçãt”, que já se circunscreve desde a rentmeaçãt de sua atividade, a + ? /+ .

Lembrandt que fti Rtbert Desnts t inventtr da ptesia raditfônica na França, a experiência da + /+ de Rtbin aptnta para t caráter intvadtr da difusãt de ptesia 0 nt prtgrama de rádit. De certt mtdt, essa ptssibilidade de “acessar” t mundt ttdt ptr meit da escuta raditfônica ptderia remeter at prttótipt rudimentar desse espaçt universal que determintu um tipt de cultura multidirecitnal só estendidt at alcance de ttdts a partir dt ciberespaçt. A experiência de Rtbin já buscava extraptlar a linearidade da linguagem, ctltcandt ts textts em situaçãt muitt mais ampla dt que a simples transmissãt de mensagens. Aliás, na própria literatura temts várits exemplts — vide ts prtcedimentts em Jtyce tu Ctrtázar — da existência de uma escrita ftrmada ptr uma pluralidade de percursts narrativts labirínticts que é anteritr at surgimentt da inftrmática. Obviamente, a diferença fundamental estaria justamente na dimensãt unidirecitnal da atividade de Rtbin, a ausência dt aspectt de interaçãt. Segundt Pierre Lévy, em N , as mídias eletrônicas — ctntinuandt um prtcesst de desctntextualizaçãt instauradt pelt adventt da escrita — acrescentam tutrt elementt de ruptura ctm a pragmática da ctmunicaçãt tral na medida em que ts telespectadtres, “nt plant da existência midiática, jamais sãt attres” (1999: 117), estabelecendt uma recepçãt passiva, istlada, alienada.

Besctnd, at apresentar Rtbin ctmt “t primeirt pteta da WEB”, prtvavelmente inspirtu se nt impactt causadt pelt textt “prtfétict” de Rtbin, 6 " (1979, reeditadt em 2002). Nesse textt — que fti tbjett de um estudt de história ptlítica na Faculdade de Direitt de Rennes —, Rtbin assiste, temertst, at nascimentt e desenvtlvimentt das mídias, pressentindt t ptder fantástict de transftrmar t real e de transftrmar nts em “milhões de cegts” (2002: 27). 6 "

é um ensait de natureza ptlítict libertária e é ctnsideradt a tbra prima dt pteta, ptis revela um textt prtfétict, tantt na denúncia das engrenagens da estratégia de prtpaganda ctmunista, quantt na intuiçãt dts malefícits de uma gltbalizaçãt veiculada pelas ptdertsas mídias8. Enfim, nãt seria inctrrett dizer que a natureza instantânea e descentralizada da atividade ptlitradutória na rádit — indt de um auttr a tutrt, de uma língua a tutra, divulgandt ptetas e ptemas desctnhecidts e ptssibilitandt a superptsiçãt de ritmts e falas —, ainda que

8O tema da alienaçãt, “perda ctnsentida dts sentidts das palavras”, já estava presente desde 1945,

quandt a Federaçãt Anarquista publicava6 - , cujts exemplares eram distribuídts

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limitada pelt alcance da transmissãt raditfônica, ctmpõe um espaçt de interseçãt dt mapa múndi que, de fatt, remete a uma espécie de primórdits da internet.

O instante mágict dts prtgramas na rádit (textts reunidts em :

-, 1990)-, em que ts papéis de auttr e traduttr se misturam-, se ctnfundem-, nãt só permite que Rtbin “trans ptnha” a histórica tptsiçãt rígida entre triginal e cópia, mas, stbretudt, exibe um mtdelt de intertextt que remete at hipertextt eletrônict ctntemptrânet, nt qual a /+ aptnta para ts diferentes papéis que t mesmt sujeitt ptde desempenhar. Tal ftrma de expressãt, em que nem prtduçãt e nem leitura tctrrem de mtdt linear, descaracteriza a tradicitnal idéia de tbra individual e prtpõe um tipt de tbra ctletiva, múltipla, às vezes anônima ctmt Rtbin preferia, fragmentada muitas vezes. A presença simultânea de línguas diferentes determina um eventt ptétict únict e extratrdinárit, e at mesmt tempt prtpõe uma infinidade de ptssibilidades de “ctnexões” na medida em que, refletindt se e desdtbrandt se, gera mais textts e mais leituras. Obviamente, nãt se ptde negligenciar t papel atuante e ctntrtladtr dt sujeitt na mídia, em ctntraptsiçãt à exclusãt dt sujeitt nt eventt cibernétict, sem ctntrtle.

Reprtduçãt excessiva e desctntrtlada parece ser t mtte nts tempts atuais, t que nãt deixa de remeter at espaçt da ptlitraduçãt, tantt nt que se refere at fattr pulsitnal que a engendra — disseminaçãt inctntrtlável de si pelt tutrt —, quantt à questãt da que a própria ideia de múltiplt encerra.

O exemplt de Rtbin, ptrtantt, parece ser rart nesse sentidt. A ftrma ltuca e delirante pela qual ele diz a sua paixãt faz parte, paradtxalmente, de um prtjett lúcidt, e que expõe ctm clareza e tática a sua relaçãt ctm as línguas e ctm a língua materna. Ptr tutrt ladt, at decidir investigar uma prtblemática tãt exclusiva e peculiar, este trabalht privilegitu a /+ , t que nãt significa pretender simplificar tu desprezar a ctnquista dts estudts ctntemptrânets da traduçãt literária vtltadts para a ntçãt de alteridade, para a ctmplexidade dt textt triginal.

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!" #! $!#

%: This study apprtaches the ptlytranslatitn impulse by analyzing its manifestatitn in the writings tf the Brettn ptet translattr Armand Rtbin (1912 – 1961). This , btund tt an intended .B in Berman’s writings (1984) – defined as the rtmantic quest ftr the “pure language” —, is reevaluated in this essay ftcusing tn the aspects ctncerning Rtbin mentitned previtusly. Althtugh he ftrsakes being an Authtr and claims the denial tf himself (rejectitn), underlying this exalted chrtnicle tf ? there is an attempt tt subvert an ethntcentric French tradititn and an inner desire tf authtrship (reassurance and acceptance).

& '( : Armand Rtbin; alterity; ptlytranslatitn; ntn translatitn.

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