• Nenhum resultado encontrado

Relação do homem com a natureza no pensamento de João Amós Comenius

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Relação do homem com a natureza no pensamento de João Amós Comenius"

Copied!
114
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Carloman Cordovil Heiderich

RELAÇÃO DO HOMEM COM A NATUREZA NO

PENSAMENTO DE JOÃO AMÓS COMENIUS

(2)

CARLOMAN CORDOVIL HEIDERICH

RELAÇÃO DO HOMEM COM A NATUREZA NO

PENSAMENTO DE JOÃO AMÓS COMENIUS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião.

Orientador: Prof. Dr. Edson Pereira Lopes

(3)

H465r Heiderich, Carloman Cordovil

Relação do homem com a natureza no pensamento de João Amós Comenius / Carloman Cordovil Heiderich – 2011.

114 f. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.

Bibliografia: f. 112-114

1. Homem 2. Natureza 3. Didática Magna 4. Pampaedia I. Título II. Comenius, João Amós

(4)

CARLOMAN CORDOVIL HEIDERICH

RELAÇÃO DO HOMEM COM A NATUREZA NO

PENSAMENTO DE JOÃO AMÓS COMENIUS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião.

.

Aprovada em __/__/__

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________ Prof. Dr. Edson Pereira Lopes – Orientador

Universidade Presbiteriana Mackenzie

________________________________________________________ Prof. Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes

Universidade Presbiteriana Mackenzie

(5)

Universidade Metodista de São Paulo

Aos meus Pais, Cloves e Eunice Heiderich (in memoriam), por me ensinarem os primeiros passos na vida cristã e pelos constantes incentivos na vida acadêmica.

À minha amada esposa Katia Heiderich, grande incentivadora dos meus estudos.

(6)

AGRADECIMENTOS

Ao soberano Deus, o criador dos céus e da terra, sustentador e razão da minha existência, que bondosamente me concedeu a bênção e a alegria da conclusão desta pesquisa.

Ao Instituto Presbiteriano Mackenzie pelo incentivo à prática de investigação acadêmica, meus sinceros agradecimentos pela concessão da bolsa de estudo que me possibilitou a conclusão deste projeto.

Ao prof. Dr. Edson Pereira Lopes, minha sincera gratidão pela paciência e responsabilidade com que me orientou, fazendo jus ao significado do termo orientação.

Aos professores, Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes e Dr. James Reaves Farris, a minha mais profunda gratidão por se dignarem em participar da minha banca examinadora e pelas valorosas contribuições que deram para a conclusão desta pesquisa.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação, mestrado em Ciências da Religião, meus agradecimentos pela humildade e lição de vida que me ensinaram.

(7)

RESUMO

Nos últimos anos vem crescendo a discussão em torno das questões ambientais. Prova disto está no fato de que o ano de 2010 foi declarado, pela Organização das Nações Unidas (ONU), o ano da Biodiversidade. Segundo seu site oficial trata-se de uma celebração da vida na terra e a valorização da diversidade da vida. Na resposta a pergunta quanto à razão da ONU ter escolhido o ano de 2010, explicita-se que o homem é parte integrante da natureza e tem o poder de protegê-la ou de destruí-la. A presente pesquisa tem como pano de fundo a reflexão que envolve o meio ambiente e o ano da Biodiversidade. Inicialmente a intenção era utilizar o termo “meio ambiente” no

pensamento comeniano, todavia, por se tratar de um termo da sociedade atual, entendeu-se que seria mais adequado, discorrer a respeito da relação do homem com a natureza, tendo como foco duas obras de João Amós Comenius: Didática magna e Pampaedia. Por conseguinte, teve como objetivo norteador da pesquisa identificar no pensamento de João Amós Comenius a relação do homem com a natureza. Para tanto, partiu-se do princípio norteador de que João Amós Comenius demonstrou na Didática magna e em sua Pampaedia teve preocupação em acenar para seu mundo que uma relação imprópria do homem com a natureza, sobretudo, quando este, dela se utiliza para fins exploratórios e incompatíveis com a finalidade para qual foi criada, faz com que ela sofra e com ela o ser humano.

(8)

ABSTRACT

In recent years it comes growing the quarrel around the ambient questions. Test of this is in the fact of that the year of 2010 was declared, for the Organization of United Nations (ONU), the year of Biodiversity. As its official site is about a celebration of the life in the land and the valuation of the diversity of the life. In the reply the question how much at the rate of the ONU to have chosen the year of 2010, explicit one that the man is integrant part of the nature and has the power to protect it or to destroy it. The present research has as deep cloth of the reflection that involves the environment and the year of Biodiversity. Initially the intention was to use the term “environment” in the

comeniano thought, however, for if dealing with a term of the current society, it was understood that more it would be adjusted, to discourse regarding the relation of the man with the nature, having as focus two workmanships of John Comenius: Great Didactics and Pampaedia. Therefore, it had as objective principal of the research to identify in the thought of John Comenius the relation of the man of the one with the nature. For in such a way, it was broken of the norteador principle of that John Comenius demonstrated in the Great Didactics and in its Pampaedia he had concern in waving for its world that an improper relation of the man with the nature, over all, when this of it if uses for exploratórios ends and incompatible with the purpose for which she was servant, it makes with that it suffers and with it the human being.

(9)

SUMÁRIO

Considerações Iniciais

... 10

Capítulo I

-

Ensinos fundamentais da Didática magna de Comenius

... 14

O homem é a mais elevada e perfeita das criaturas ... 17

O fim último do homem está fora desta vida... 18

São três os graus de preparação para a vida eterna: conhecer, dominar e conduzir para Deus a si mesmo e, consigo todas as coisas ... 19

Temos em nós por natureza as sementes da instrução, das virtudes e da religião ... 20

O homem para ser homem precisa ser formado ... 21

A formação do homem é muito fácil na primeira infância: ou melhor, só pode ser dada nessa idade ... 23

É necessário que toda a juventude receba uma formação conjunta, na escola ... 24

Toda a juventude, de ambos os sexos, deve ser enviada à escola ... 25

A educação nas escolas deve ser universal ... 26

Até hoje faltaram escolas que correspondessem perfeitamente a seus fins ... 27

As escolas podem ser reformadas e melhoradas ... 28

A base de toda reforma escolar é a ordem exata em tudo ... 29

A ordem exata da escola deve ser inspirada na natureza e ser tal que nenhum obstáculo a retarde ... 30

Princípios para prolongar a vida ... 31

Método para ensino das ciências em geral ... 32

Método para ensino das artes... 33

Método para ensino das línguas... 34

Da disciplina escolar ... 36

Sobre a quádrupla divisão das escolas, segundo a idade ... 36

A escola Materna ... 37

A escola vernácula ... 38

A escola latina ... 38

A Academia ... 39

A organização universal e perfeita das escolas ... 40

Requisitos necessários para começar a pôr em prática este método universal ... 41

Capítulo II -

Ensinos fundamentais da Pampaedia de João Amós

Comenius

... 43

Panscolia ... 45

Educação para todos ... 47

A relevância da Instituição Escolar ... 47

Pambiblia ... 48

Pandidascália ... 50

Informações úteis aos pais sobre os primeiros cuidados com as crianças ainda no seio maternal ... 54

Cuidadosa formação do filho do nascimento até os seis anos de idade ... 56

Classe da Escola Primária... 69

Segunda Classe da Escola Primária ... 69

Terceira Classe da Escola Primária: A ética infantil aprendida pelas coisas sensíveis ... 70

(10)

Classe Quinta ... 71

Classe sexta ... 73

Capítulo III

-

A relação homem-natureza no pensamento de João Amós

Comenius

... 76

Do geocentrismo para o heliocentrismo ... 78

A revolução do saber e da ciência ... 79

Ciência discutida sistematicamente na procura de método ... 80

O homem pode conhecer o Criador por meio da natureza ... 81

A criação do homem, formado a partir da natureza ... 82

Ensinar os homens a usar e fruir corretamente da natureza ... 88

O método único do ensino é o que segue as leis da natureza ... 92

A natureza aguarda o momento propício ... 94

A natureza prepara a matéria antes de começar a introduzir-lhe a forma ... 94

A natureza toma um indivíduo apto e prepara-o antes, oportunamente ... 95

A natureza não procede confusamente, mas de modo claro ... 95

A natureza começa todas as operações pelas partes mais internas ... 95

A natureza inicia todas as suas formações pelas coisas mais gerais e acaba pelas mais particulares... 96

A natureza não procede por saltos, mas gradualmente ... 96

Depois de iniciar uma obra, a natureza não a interrompe, mas conclui ... 97

A natureza está sempre atenta para evitar as coisas contrárias e nocivas... 97

A natureza inicia pela privação ... 98

A natureza predispõe a matéria a desejar a forma ... 98

A natureza extrai tudo de princípios pequenos em quantidade, mas válidos pela virtude ... 98

A natureza nunca excede, mas contenta-se com pouco ... 99

A natureza não se apressa, mas anda com vigor ... 99

A natureza só pare o que, tendo amadurecido em seu seio, deseja vir à luz ... 99

A natureza ajuda-se sozinha de todos os modos possíveis ... 99

A natureza só produz aquilo cujo uso logo se manifesta ... 100

A natureza faz tudo com uniformidade ... 100

Princípios em que se fundamenta a solidez no ensino e no aprender ... 100

Princípios de um ensino rápido e conciso ... 101

Sentidos; os instrumentos naturais para o ensino do método único ... 102

Considerações Finais

... 109

(11)

Considerações Iniciais

Nos últimos anos têm crescido a discussão em torno das questões ambientais. Prova disto está no fato de que o ano de 2010 é declarado, pela Organização das Nações Unidas (ONU), o ano da Biodiversidade. Segundo seu site oficial trata-se de uma celebração da vida na terra e a valorização da diversidade da vida. Na resposta para a pergunta quanto à razão da ONU ter escolhido o ano de 2010, explicita-se que o homem é parte integrante da natureza e tem o poder de protegê-la ou de destruí-la. O vocativo do ano da Biodiversidade tem como finalidade o cuidado da vida com vistas a um futuro melhor1.

A presente pesquisa, cujo título é: “Relação do homem com a natureza no pensamento de João Amós Comenius” tem como pano de fundo a reflexão que envolve o meio ambiente e o ano da Biodiversidade. Inicialmente a intenção era utilizar o termo

“meio ambiente” no pensamento comeniano, todavia, por se tratar de um termo da

sociedade atual, entende-se que é mais adequado, discorrer a respeito da relação do homem com a natureza, tendo como foco duas obras de João Amós Comenius: Didática magna e Pampaedia.

Por conseguinte, tem-se como objetivo norteador identificar no pensamento de João Amós Comenius a relação do homem do com a natureza. A partir do objetivo específico, o qual conduz ao problema da pesquisa e, conforme Azevedo (2001, p. 46), o problema é a pergunta que a pesquisa pretende resolver, a qual deve ser apresentada em forma interrogativa, a indagação suscitada é:

- É possível identificar, na Didática magna e na Pampaedia, o pensamento de João Amós Comenius a respeito da relação do homem com a natureza? Parte-se da hipótese central de que João Amós Comenius demonstra na Didática magna bem como na Pampaedia, preocupação com uma possível relação imprópria do homem com a natureza, sobretudo, quando este dela se utiliza para fins exploratórios e incompatíveis com a finalidade para qual é criada. Assim, a natureza passa a sofrer e com ela o ser humano. Isto implica acenar para o princípio de que, ainda que não seja possível utilizar

o termo “meio ambiente” no pensamento comeniano, pode-se concebê-lo, na forma como ele apresenta a reflexão da relação do homem com a natureza. Há indícios de sua

1Para maiores esclarecimentos ler: The United Nations declared 2010 to be the International Year of

(12)

preocupação com o futuro do planeta, futuro este diretamente relacionado com a responsabilidade do homem no cuidado e proteção do seu habitat.

Sob esta perspectiva, a presente pesquisa reveste-se de suma relevância para a sociedade atual, pois, explora um foco do pensamento de Comenius que não seja somente o pedagógico como pode ser visto na obra, publicada, pela Editora Unicamp, de Kulesza (1992), cujo título é: Comenius: a persistência da utopia em educação. Em autores como Bohumila Araújo em Atualidade do pensamento de Comenius, obra publicada pela Editora Federal da Universidade da Bahia, no ano de 1996. Não se pode esquecer do texto de Gasparin Comênio ou arte de ensinar tudo a todos. São Paulo: Papirus, 1994. Por fim, é necessário lembrar que Covello escreve a obra Comenius, datada de 1999, a qual se reveste de importância por ser uma das primeiras literaturas brasileiras a discorrer acerca da vida e principais obras comenianas.

Observa-se que há um intervalo de quatro anos entre a última obra que é a de Covello e a de Lopes, isso implica em afirmar que as obras a respeito de Comenius ficaram restrita a estes pensadores e suas respectivas obras, o que permite Lopes (2003) assinalar que uma das relevâncias de sua obra consiste no princípio de que há pouca literatura, no Brasil, que trata do pensamento de Comenius. Segundo ele, as poucas obras que tratam das temáticas comenianas têm como foco o aspecto pedagógico e não consideram seus pensamentos teológicos. Assim, demonstra em sua obra, “O conceito

teológico e pedagógico na Didática magna de Comenius”, editada pela Editora Mackenzie, em 2003, o caráter teológico de Comenius. Nesta obra, o autor sublinha que o teológico precedia, no pensamento comeniano, o pedagógico. Este foco é uma descoberta na busca pela compreensão do pensamento, do então Comenius, conhecido

apenas como o “pedagôgo”.

(13)

No momento, Lopes tem se preocupado em difundir, no Brasil, os pensamentos de Comenius, escrevendo para periódicos religiosos e educacionais. Entretanto, nesta prévia revisão de literatura, percebe-se que há um razoável avanço no estudo de Comenius. Só na Universidade Presbiteriana Mackenzie os Trabalhos de Graduação Interdisciplinar, também conhecidos como Trabalho de Conclusão de Curso são: 06. Dissertações de Mestrado são: 05. Grupo de Pesquisa com subvenção pelo Mackpesquisa 01.

Todavia, fica explicitado que ainda não tem sido abordado o pensamento de Comenius sob a perspectiva da relação do homem com a natureza. Assim, esta pesquisa se reveste de importância, porque se propõe trazer uma reflexão ainda não discutida, na acadêmia brasileira, nos mais diferentes trabalhos que tratam de Comenius. Além disso, é a oportunidade de revisitar a Didática magna e a Pampaedia, esta última pouco conhecida dos pesquisadores brasileiros, talvez porque, esteja esgotada desde 1971.

Na tratativa do procedimento metodológico é possível eleger a pesquisa bibliográfica como o caminho a ser percorrido e o procedimento adotado é o da leitura e análise das obras Didática magna e da Pampaedia. Na fundamentação bibliográfica, destacam-se como fontes as seguintes obras de Comenius: Didática magna (1997) e Pampaedia (1971), e as obras que aparecem nas referências bibliográficas desta pesquisa: GASPARIN (1994); KULESZA NARODOWSKI (2002); ARAÚJO (1996); CAULY (1995) e RIBEIRO (2003). Como referencial teórico serão utilizados os textos de Lopes (2003 e 2006) porque fazem interface com o pensamento teológico e pedagógico de Comenius.

Após esta parte introdutória, como finalidade metodológica, a pesquisa se divide em três capítulos, a saber:

No primeiro capítulo cujo título é: Ensinos fundamentais da Didática magna de Comenius. A tônica é propiciar uma concepção panorâmica dos principais ensinos da Didática magna. A finalidade consiste em prover, além do acesso, a oportunidade para revisitar os principais pressupostos teológicos e pedagógicos de Comenius e, assim identificar nesta obra conceitos tais como: homem, criação, natureza, dentre outras temáticas.

(14)

Como resultado lógico dos dois capítulos anteriores, o terceiro trata da Relação do homem com a natureza no pensamento de Comenius. A partir das duas obras, Didática magna e Pampaedia, é possível identificar os princípios da relação do homem com a natureza. Com isso, alcançar o objetivo e verificar a hipótese proposta nesta reflexão.

(15)

Capítulo I

Ensinos fundamentais da

Didática magna

de Comenius

Feita a parte introdutória, é mister neste capítulo propiciar uma compreensão dos ensinos fundamentais da Didática magna de Comenius com a intenção de indicar os principais ensinos expostos na citada obra para prover sustentação ao último capítulo quanto à relação homem-natureza, que é o objeto de estudo desta pesquisa.

A Didática magna, inicialmente chamada de Didática theca, começa a ser composta entre os anos 1628-1632. É razoável compreender que ocorrem algumas motivações na vida e pensamento de Comenius que colaboram para que ele deixe sua obra no campo teológico-pedagógico com ênfase política, dirigida a priori, ao público theco.

Após a Batalha da Montanha Branca ocorrida 1620 (KULESZA, 1992, p. 31) que, resulta na destruição da Boêmia, com o propósito de reconstruir, restaurar e

incentivar “o sofredor povo checo a desejar a reforma do seu mundo por meio de educação de qualidade, que seria a única salvação do gênero humano” (LOPES, 2006, p. 189-190), Comenius escreve a Didática tcheca, mais tarde ampliada ao seu mundo, como Didática magna.

A Didática theca é iniciada em 1628 e pode ser considerada como uma resposta à nova Constituição de 1627, que prescreve a instauração do catolicismo romano como religião oficial, colocando o alemão como língua oficial, em detrimento ao theco.

Trata-se, portanto, não só de Comenius prosseguir seus trabalhos na área educacional, mas também, de fazer pelo theco aquilo que os Habsburgos estão fazendo pelo alemão e pelo catolicismo romano. Sua intenção demonstra a preocupação com a evidente proposta de supressão do theco, da implantação da língua alemã e da religião católica romana.

Escrever em língua theca não significa apenas formular o único fundamento legítimo de uma educação nacional e aberta a todos; “seria realizar um ato de resistência cultural contra o invasor e formular uma resposta política a uma política educativa sob a base dos ensinos jesuítas” (CAULY, 1995, p. 128).

(16)

Nós ousamos prometer uma Didática Magna, ou seja, uma arte universal de ensinar tudo a todos: de ensinar de modo certo, para obter resultados; de ensinar de modo fácil, portanto, sem que docentes e discentes se molestem ou enfadem, mas ao contrário, tenham grande alegria; de ensinar de modo sólido, não superficialmente, de qualquer maneira, mas para conduzir à verdadeira cultura, aos bons costumes, a uma piedade mais profunda.

E, em outra parte da obra, Comenius (1997, p. 11) declara:

Didática Magna que mostra a arte universal de ensinar tudo a todos, ou seja, o modo certo e excelente para criar em todas as comunidades, cidades ou vilarejos de qualquer reino cristão escolas, tais que a juventude dos dois sexos, sem excluir ninguém, possa receber uma formação em letras, ser aprimorada nos costumes, educada para a piedade.

Nota-se, portanto, que o objetivo último da obra de Comenius (1997, p. 11) está

em sua proposição: “[...] tais que a juventude dos dois sexos, sem excluir ninguém,

possa receber uma formação em letras, ser aprimorada nos costumes, educada para a

piedade”. O foco da educação comeniana está firmado no tripé: ensino, moral e piedade. Infere-se daí que há uma preocupação não só com o ensino, conhecimento e cultura, com os costumes morais, mas a tônica está na piedade. Por esta razão, a expressão final de suas palavras: “educada para a piedade”. O pressuposto de Comenius é que a educação constitui-se o meio para conduzir o homem à piedade.

Compreende-se assim que a preocupação de Comenius (1997, p. 14) é demonstrar que, por meio da Didática magna, os leitores entendam que a salvação do gênero humano somente pode ocorrer por meio da educação:

Sem dúvida a empresa é muito séria e, assim como deve por todos ser desejada, também deve ser ponderada pelo juízo de todos, e todos em conjunto devem levá-la adiante, pois ela diz respeito à salvação comum do gênero humano.

No mesmo sentido, mais adiante, afirma Comenius (1997, p. 15):

(17)

tentar coisas tão grandiosas, mas, sobretudo, prometê-las, visto que tudo isso é feito com um fim salutar.

Os pressupostos acima mostram ainter-relação que Comenius estabelece entre a teologia e a pedagogia, que são indissociáveis, visto que a educação deve conduzir à piedade e, por extensão, ao verdadeiro conhecimento de Deus (CUNHA, 2005)2.

Sendo assim, Comenius (1997) conclama aos leitores que não menosprezem o que ele escreve, antes, que leiam sua obra e, depois, emitam juízo de valor. Ao exortá-los para a leitura, ele está consciente de que a empresa que está determinado a realizar não é tarefa fácil. No entanto, partindo do pressuposto de que a educação é a salvação ou a cura para o gênero humano, segundo Lopes (2003, p. 128) duas certezas fazem com que ele persevere neste empreendimento: o bem público e a obediência a Deus.

O bem público, conforme desejado por Comenius (1997, p. 19), refere-se à sua intensa preocupação em colaborar para que todas as pessoas tenham acesso à arte de aprender, pois pretende que sua obra seja de utilidade pública.

Por lei da natureza, quem souber a maneira de prestar socorro a alguém em dificuldade não deverá deixar de prestá-lo: sobretudo quando (como em nosso caso) não se tratar de um homem apenas, mas de muitos, nem apenas homens, mas de cidades, províncias, reinos, aliás, de todo o gênero humano. [...] Se alguém tiver encontrado coisas melhores, que faça outro tanto, para que não seja acusado pelo Senhor de pôr suas minas no cofre e de escondê-las, pois Ele deseja que seus servos negociem e que a mina de cada um deles, posta no banco, dê como frutos outras minas.

No princípio do bem público, percebe-se a questão teológica como tônica em relação à questão pedagógica, pois está consciente de que, se Deus lhe tem dado uma percepção a ponto de despertar, no seu íntimo, o desejo de buscar colaborar com a raça humana, na questão educacional, não se pode omitir, mas assumir a responsabilidade e ensinar tudo a todos. Este é o princípio motivador de Comenius e, por esta mesma razão, traduz a Didática para o latim, a fim de ser mais facilmente compreendida, estando ao alcance de um público maior.

Outra certeza motivadora de seus empreendimentos, apesar da dificuldade, conforme acentua Lopes (2003, p. 129), relaciona-se com a obediência a Deus.

(18)

Comenius (1997, p. 19) está consciente de que sua concepção pedagógica não é resultado do acaso, ela é concedida pelo próprio Senhor, e assim, deve ser posta à

disposição de todos. “O que o Senhor me concedeu observar ponho à disposição de todos, para que seja comum. [...] É lícito buscar coisas grandiosas, sempre o foi e será, e não será em vão o trabalhado iniciado em nome do Senhor” (COMENIUS, 1997, p. 19).

Está explicitado, portanto, que o objetivo central de Comenius, ao escrever a Didática magna, é prover educação a todos, uma vez que ela é o remédio divino para a cura da corrupção do gênero humano. Todavia, ela somente cumprirá esta função se estiver alicerçada no ensino, moral e piedade, como termos indissociáveis entre si.

Com esta síntese em mente é necessário pontuar os princípios fundamentais dos ensinos de Comenius na Didática magna, sem perder o foco desta pesquisa que é identificar na Didática magna e na Pampaedia o pensamento de Comenius a respeito da relação do homem com a natureza. Com preocupação metodológica, sistematiza-se alguns dos seus principais temas.

O homem é a mais elevada e perfeita das criaturas

Comenius faz uso da máxima de Pítaco: “conhece-te a ti mesmo”, utilizada depois por Sócrates e colocada na entrada do templo de Delfos (LOPES, 2010, p. 23-24) para mostrar quão importante é o homem diante de seu Criador.

Assim, começa seu trabalho com a valorização do homem, dizendo ser tal criatura, excelsa e singular na obra da criação; e que,

por ser imagem e semelhança de seu Criador, não pode ser ignorante; ao contrário, deve ser instruída em todas as sabedorias, e em todas as artes.

(19)

O fim último do homem está fora desta vida

Comenius (1997, p. 43-47) demonstra ser o homem a mais esplêndida criatura já criada, e como tal deve ser instruída. Após isso, ele pontua que tão excelsa criatura não pode ter uma existência limitada a esta vida. O homem deve gozar, em Cristo, uma vida eterna, abundante e perfeita. A vida presente é imperfeita e insaciável, tanto na área do poder e riqueza quanto na do conhecimento, como afirma Salomão3: “Todas as coisas são canseiras, tais que ninguém as pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem se

enchem os ouvidos de ouvir” (Eclesiastes 1.8).

Na concepção de Comenius, mesmo aqueles considerados como pagãos, não tratam a morte física como fim de tudo; ao contrário, dizem que a pessoa que morre faz uma viajem, transmigra-se para outro lugar (COMENIUS, 1997, p. 46). Conclui Comenius (1997, p. 46) que muito maior razão tem o cristão de vislumbrar a realidade de um mundo melhor e mais feliz, tendo Cristo como seu precursor; primogênito entre muitos irmãos e arquétipo de todos os que devem ser reformados à imagem de Deus, também nós que fazemos parte do seu reino não devemos permanecer aqui, mas migrar para a vida eterna, morada que contém a perfeição e o verdadeiro gozo.

Diz Comenius (1997, p. 47):

Os israelitas foram gerados no Egito; de lá, transferidos para o deserto, depois de superarem os obstáculos dos montes e do Mar Vermelho, construíram os tabernáculos, aprenderam a Lei, combateram os inimigos; finalmente – atravessaram forçosamente o Jordão – tornaram-se herdeiros da terra de Canaã, por onde corriam rios de leite e mel.

Na concepção comeniana, o ser humano possui três moradas: o útero materno, a Terra e o Céu. “A primeira vida prepara à segunda; a segunda para a terceira; a terceira é em si mesma, sem fim” (COMENIUS, 1997, p. 47). Este tema é desenvolvido mais à frente quando afirma “esta vida não passa de preparação para a vida eterna”

(COMENIUS, 1997, p. 49).

Para Comenius, o homem por trazer em si a imagem de Deus deve desfrutar de um gozo sem fim na eternidade e a realidade da vida presente é um meio de preparação

para a outra vida. “Esta vida sobre a terra não passa de preparação para a vida Eterna, e

3 A discussão a respeito da autoria do livro de Eclesiastes é controversa, mas Comenius, seguindo a

(20)

por esse motivo, não é de admirar que a alma, utilizando o corpo, procure obter o que

quer que lhe seja últil na vida futura” (COMENIUS, 1997, p. 49).

Com essa perspectiva é relevante destacar que para Comenius, todas as coisas criadas, o mundo visível, de qualquer lado que se olhe, demonstra que só foi criado para ser útil ao homem, conforme se percebe nesta afirmação: “tudo neste mundo é feito em

função do homem, de tal sorte que quando o número dos eleitos for completado não haverá mais razão para a continuidade deste planeta, de tal sorte que esta vida não passa

de preparação para a outra” (COMENIUS, 1997, p. 51).

Para Comenius, Deus chama alguns por já estarem preparados como Enoque; outros, por abusarem da longanimidade do Criador, são por Ele ordenados que sejam arrebatados pela morte, “bem-aventurado aquele que sai do útero materno com os membros bem formados; mil vezes bem-aventurado àquele que deixar esta vida com a

alma limpa” (COMENIUS, 1997, p. 51). Ele denomina esta vida de caminho, jornada, porta, espera; e a nós de peregrinos, forasteiros, inquilinos, pessoas no aguardo de outra cidade, que durará para sempre, conforme Gêneses 47.9; Salmo 39.13; João 7.12 e Lucas 12.34.

São três os graus de preparação para a vida eterna: conhecer, dominar e

conduzir para Deus a si mesmo e, consigo todas as coisas

Se no capítulo anterior a ênfase recai sobre esta vida, no capítulo quatro Comenius mostra, primeiro que o fim último do homem é a vida eterna com Deus. Por outro lado, entende que o homem criado à imagem e semelhança de Deus, com autoridade de dominar os animais (Gênesis 1.26), é uma criatura racional, pensante, senhora das criaturas, feita à imagem de seu Criador e para seu deleite. (COMENIUS, 1997, p. 53).

(21)

conhecimento das técnicas e a arte da homilética para que, como diz Salomão (Eclesiastes 5.18), em coisa alguma, pequena ou grande, haja nada de desconhecido.

Como tal é imbuído de requisitos peculiares como: conhecer todas as coisas; dominar todas as coisas, inclusive a si mesmo, e reconduzir a si mesmo e as demais coisas para Deus (COMENIUS, 1997, p. 55).

Observa-se, pois, que são aspectos interligados e, portanto, inseparáveis, nos quais se fundamentam a vida presente e a futura.

A convicção de Comenius (1997, p. 56) é a de que:

Quanto mais nesta vida obrarmos por amor à instrução, à virtude, à piedade, tanto mais nos aproximaremos do fim último. Portanto, serão estas três a razão de ser de nossa vida; sejam todas as outras coisas acessórios, óbices.

Temos em nós por natureza as sementes da instrução, das virtudes e da

religião

A capacidade de indagar, inquirir e conhecer, abordada no capítulo anterior e neste levada a proporções maiores, não está relacionada com a natureza pervertida do homem depois do pecado, mas sim, ao estado primitivo e original para o qual o homem deve ser reconduzido na consumação dos tempos, e assim, viver como antes (COMENIUS, 1997, p. 57).

Segundo Comenius a capacidade de aprender da mente humana é ilimitada. Por mais que se viva, por mais que se dedique aos conhecimentos, nunca se aprenderá tudo. A mente humana é comparada a uma semente que, embora não exista na forma da erva ou da planta, sem dúvida contém em si a erva ou a planta, pois que, uma vez enterrada expande para baixo as raízes, e para cima os brotos, os ramos e os galhos, vindo a produzir folhas, flores e frutos. Como a semente, o homem nada recebe do exterior, mas apenas precisa expandir e desenvolver as coisas que já traz implícitas em si, mostrando a natureza de cada uma. (COMENIUS, 1997, p. 62).

(22)

que o universo contém. Uns com maior intensidade, outros com menor, não importa, para Comenius todo cérebro, de algum modo, as recebe, as representa e as retém (COMENIUS, 1997, p. 63).

Comenius cita Salomão quando se admira de que todos os rios desemboquem no oceano e, no entanto, não enchem o mar (Eclesiastes 1.7), e conclui: “e quem não admirará o abismo de nossa memória, que engole tudo e tudo restitui, e não obstante nunca está vazio nem cheio? Para ele, então, nossa mente é maior que o mundo”

(COMENIUS, 1997, p. 65).

Por fim, como parte inerente da conduta ideal e do homem completo, Comenius levanta a bandeira da verticalidade, ou do relacionamento homem Deus. Cita Aristóteles

que diz: “Todos os homens têm a noção dos deuses, e todos atribuem um lugar supremo

a um nome divino” (De Coelo, liv. I cap. 3). Apropria-se, também, da contribuição de

Platão em Timeu, ao afirmar que “Deus é o bem supremo, que está acima de qualquer

substância, qualquer natureza, sendo por todos, desejado” (COMENIUS apud

CALCÍDIO, Comm. In Timaeum, p. 176).

Enfim, Comenius argumenta que até os pagãos concordam com uma vida

piedosa e santa, ou seja, “para o homem é mais natural e mais fácil tornar-se sábio, honesto e santo pela graça do Espírito Santo do que desse progresso ser impedido pela sobrevinda perversidade” (COMENIUS, 1997, p. 70).

O homem para ser homem precisa ser formado

Foi observado no tópico anterior que a natureza proporciona ao homem as sementes da ciência, da honestidade e da religião, mas não concede estas coisas de modo pronto e acabado, ou seja, a ciência, a virtude e a religião só podem ser alcançadas com o estudo, com o esforço pessoal e com a prece.

É o que trata o capítulo VI. O homem para ser homem precisa ter conhecimento. Com razão alguém definiu o homem como um animal disciplinável, uma vez que ninguém pode tornar-se homem sem disciplina (COMENIUS, 1997, p. 71).

(23)

O homem não tem de nascença nada mais que a aptidão, necessitando assim ser ensinado aos poucos a se sentar, a ficar ereto, a andar, a movimentar as mãos para aprender a realizar um determinado trabalho. Precisa, pois, de preparação para a perfeição.

Toma-se como exemplo o primeiro casal, Adão e Eva, crer-se que tinham já uma escola onde podiam conversar, ouvir e aprender. Contudo, a experiência de Eva era pequena. Se ela tivesse um pouco mais de conhecimento, fruto da experiência, saberia que um animal como a serpente não era dotada de capacidade para dialogar, e, portanto, não teria caído na conversa. É claro que no estado de corrupção as coisas se tornam bem mais difíceis de serem aprendidas. Se o homem nasce com a mente nua, como se fosse uma tábua rasa, que não sabe fazer, dizer ou entender coisa alguma, tudo deverá começar dos fundamentos (COMENIUS, 1997, p. 73).

Comenius, ao demonstrar que o homem aprende na escola, usa exemplos de

alguns que, “raptados durante a infância por animais ferozes e educados em meio a eles,

não teriam mais inteligência que os brutos e tampouco aprenderiam a fazer com a língua, com as mãos e com os pés, nada diferente do que fazem as feras, se antes não

voltassem a viver um pouco entre os homens” (COMENIUS, 1997, p. 74). Com

exemplos reais Comenius (1997, p. 74) demonstra que a educação é necessária para todos:

Pôr volta de 1540 numa aldeia de Hessen, em meio aos bosques, um menino de três anos perdeu-se devido à incúria dos pais. Depois de alguns anos os camponeses viram que, com os lobos, corria um animal de aspecto diferente, quadrúpede, sim, mas com rosto humano. Tendo se espalhado a noticia, o prefeito do lugar ordenou que fosse feita a tentativa de capturá-lo vivo de algum modo. Preso, foi levado ao prefeito e, depois, ao landgrave de Cassel. Introduzido na sala do príncipe, começou a debater-se, fugiu e escondeu-se debaixo de um banco, de onde ficou olhando com aspecto torvo e ululando de um modo terrível. O príncipe ordenou que fosse criado em meio aos homens: pouco a pouco a fera foi se tornando mais mansa, depois se ergueu sobre as patas de trás e começou a andar com dois pés; finalmente, começou a falar de modo inteligível e a tornar-se homem. Então, pelo pouco que conseguia lembrar, contou que tinha sido raptado e criado por lobos e que com eles costumava sair para caçar. M. Dresser descreve essa história, entre outras, em seu livro Sobre o ensino antigo e moderno.

(24)

papagaio de bela plumagem. Ou uma bainha de ouro com um punhal de chumbo (COMENIUS, 1997, p. 76).

Enfim, o propósito de Comenius neste capítulo é deixar claro que, para todos os que nascem homens, a educação é indispensável, a fim de que sejam homens e não animais ferozes, como no exemplo dado. Conclui com o texto de Sabedoria 3.11:

“Infeliz de quem despreza a sabedoria e a disciplina; vã é sua esperança (de atingir seu objetivo), infrutíferos os esforços, inúteis as obras”.

A formação do homem é muito fácil na primeira infância: ou melhor, só

pode ser dada nessa idade

No capítulo anterior discorreu-se sobre a vertente de que, ao homem, a educarão é sine qua non. Neste, observar-se-á que a formação do homem não se dá por acaso, mas é constituída de norte e de rumo.

Comenius levanta a tese de que somente na primeira fase da vida é possível aprender com facilidade. Assim como a árvore frutífera para dar frutos doces precisa ser cultivada por um agricultor experiente, que a plante, irrigue e pode; da mesma forma, o homem, por si só, cresce com feições humanas, sem, contudo tornar-se animal racional, sábio, honesto e piedoso. Tais valores só podem ser adquiridos se nele forem enxertados os brotos da sabedoria, da honestidade e da piedade. Para fazer o enxerto, tem um tempo, e esse tempo é enquanto é jovem (COMENIUS, 1997, p. 78).

Não é só com o homem que se dá esse processo, mas é da natureza de todas as coisas que nascem, tanto racionais, irracionais, como plantas. E mais fácil ensinar uma criança do que um adulto, e mais fácil domar um poltro do que um cavalo adulto, e mais fácil dobrar uma vara nova do que uma velha e nodosa.

Para a formação do homem, Deus lhe deu os anos da juventude, diferentemente dos irracionais que com um ano de vida já vivem por contra própria. O homem necessita de vinte a vinte e cinco anos para sua formação completa.

Diz Comenius (1997, p. 80-81):

(25)

Enfim, deixa claro ser perigoso não infundir no homem regras de vida desde o berço, uma vez que, apreendidas coisas inconvenientes, delas dificilmente se desvencilhará, mesmo com a ingerência de magistrados e ministros da Igreja. Conclui mostrando a necessidade de urgência por parte da família, do governo e da religião em salvar o gênero humano, e para tanto, deve-se começar no berço.

É necessário que toda a juventude receba uma formação conjunta, na

escola

Tendo verificado anteriormente que a juventude não pode crescer desregradamente, mas que necessita de cuidados a partir dos primeiros dias de vida, neste capítulo Comenius diz quem de fato tem a responsabilidade na condução da criança, para que esta alcance a devida instrução nas letras, nos costumes e na piedade.

Tal responsabilidade é, primeiramente, dos pais, desde o começo da humanidade. Em Gêneses 18.19, está escrito: “Porque eu o escolhi para que ordene a

seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor, e pratiquem a justiça e o juízo, para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito”.

Ha uma recomendação geral de Deus a todos os pais tanto no Velho Testamento

quanto no Novo. Deuteronômio 6.7: “Inculcarás minhas palavras em teus filhos e delas falaras enquanto estiveres em casa, caminhando, ao te deitares e ao te levantares”.

Efésios 6.4: “E vós pais, não provoqueis a ira de vossos filhos, mas criai-os na

disciplina e na admoestação do Senhor”.

(26)

Este costume deve ser mantido a ponto de, em cada comunidade humana bem organizada, ser aberta uma escola para a educação comum da juventude. E assim como os pais de família se apropriam da colaboração de outros para as lides domesticas, como buscar o alfaiate quando precisa de roupa ou do sapateiro quando precisa de sapatos etc, assim também, deve buscar a escola para ajudar na educação dos filhos. Comenius argumenta que, mesmo havendo pais inteiramente dedicados à instrução de seus filhos, mesmo assim o ensino em grupo é mais rendoso.

Comenius (1997, p. 85-87) assevera:

É natural fazer o que os outros fazem, ir aonde os outros vão, seguir quem nos precede e ir à frente de quem nos segue. [...] A escola é, pois, fundamental para a instrução da juventude. E assim como se devem preparar os pesqueiros para os peixes e os pomares para as plantas, também se devem preparar as escolas para os jovens.

Toda a juventude, de ambos os sexos, deve ser enviada à escola

Observou-se a concepção de Comenius com respeito à responsabilidade de quem deve ensinar – os pais e as escolas – neste, ele pontua que todos, igualmente, de estirpe nobre ou comum, ricos ou pobres, meninos ou meninas, em todas as cidades, aldeias, povoadas e vilarejos, devem ser levados à escola para aprender (COMENIUS, 1997, p. 89).

Apropria-se do fato de que Deus não faz acepção de pessoas, ao se posicionar dizendo que:

Se permitirmos que apenas alguns aprimorem seus talentos, excluindo os demais, estaremos ofendendo não só nossos semelhantes naturais, mas a Deus mesmo, que deseja ser conhecido, amado e louvado por todos aqueles nos quais imprimiu sua imagem (COMENIUS, 1997, p. 89).

(27)

Numa época em que à mulher é negado o direito de estudar, visto ser ela tida como rés, sem direitos de cidadania, nem do saber, ao ponto de Hipólito, em Eurípides,

dizer: “Odeio a mulher douta, e que em minha casa nenhuma haja que saiba mais do que convém a uma mulher; e, no entanto a própria Vênus de Chipre à mulher douta dá

astúcia maior” (Eurípides, Hipólito, 640-643). Comenius (1997, p. 91-92) vem a público dizer o seguinte:

Não há qualquer motivo válido para excluir o sexo feminino dos estudos da sabedoria, uma vez que, como os homens, elas também são imagem de Deus, participam da graça divina e do reino do século futuro. São dotadas de inteligência aguçada e aptas ao saber, também para elas estão abertas portas de postos elevados.

Assim, Comenius advoga que as mulheres devem ser instruídas por meio dos livros que permitem adquirir para sempre virtudes verdadeiras e verdadeira piedade, com o verdadeiro conhecimento de Deus e de suas obras.

A educação nas escolas deve ser universal

No capítulo anterior Comenius defende a tese de que a educação é para todas as pessoas, homens, mulheres, ricos e pobre, sem acepção de raça ou de cor. Neste, trata da questão de sua universalidade, onde dá sentido e expressão à sua máxima “ensinar tudo a todos”. Isso não quer dizer que ele apregoava um conhecimento exato e completo para todos, no que diz respeito a todas as ciências e artes, o que não seria nem útil, nem possível a ninguém. A idéia é a de que se coloque todas as crianças na escola. É na infância, na primeira educação que se prepara para a vida, e de que depende tudo o mais. Se não há instrução formal na infância, dificilmente se terá uma sociedade ajustada, boa e feliz. Conclui o capítulo dizendo:

(28)

Até hoje faltaram escolas que correspondessem perfeitamente a seus fins

Tratou-se do papel fundamental que a escola tem na formação da juventude. Observar-se-á, agora, que o propósito da escola, em si, é ser uma verdadeira oficina de homens, onde as mentes dos alunos sejam construídas e iluminadas pelo fulgor do saber, onde se ensina tudo a todos.

Comenius indaga: “qual a escola que se propôs a atingir tal grau de perfeição?” E ele mesmo responde que não houve no passado, e que em seus dias ainda não existiam (COMENIUS, 1997, p. 103).

Martinho Lutero escreve, em 1525, a todos os magistrados, prefeitos e líderes de modo geral das cidades alemãs, orientando que encorajassem e exigissem a criação de escolas. Entre outras coisas, manifesta, dois desejos:

Primeiro, que em cada cidade, aldeia ou vilarejo sejam edificadas escolas para a instrução de toda a juventude de ambos os sexos, de tal sorte que mesmo quem se dedique à agricultura e a outros ofícios, estando na escola durante pelo menos duas horas por dia, seja instruído nas letras, na moral e na religião; segundo, que as crianças sejam educadas com um método mais fácil, não só para que não se afastem dos estudos, mas, ao contrário, para que se sintam seduzidas por eles, a fim de que, como se diz, encontre nos estudos um prazer não inferior ao que sente, quando passa, o dia inteiro a brincar com nozes, bolas ou a correr.

Para Comenius, o conselho de Lutero é dos mais sábios e melhores, mas que até seus dias (de Comenius), não passa de desejo do reformador. Volta a indagar: onde estão essas escolas para todos? Onde está esse método agradável? (COMENIUS, 1997, p. 104).

E infelizmente, mais adiante, Comenius (1997, p. 104-106) conclui:

(29)

As escolas podem ser reformadas e melhoradas

Percebe-se, no capítulo anterior, a preocupação de Comenius por não haver escola que cumpra com a finalidade para a qual existe. Neste, ele diz que embora seja raro o tratamento de uma doença inveterada, quando se descobre um remédio, o doente dificilmente repudia quem o inventou. Partindo desta premissa se propõe a apresentar uma organização escolar em que:

Toda juventude nela seja educada (exceto os que não têm inteligência); [...] Seja educada em todas as coisas que podem tornar o homem sábio, honesto e piedoso; [...] Essa formação, que é a preparação para a vida, seja concluída antes da idade adulta; [...] e seja tal que se desenvolva sem severidade e sem pancadas, sem nenhuma coação, com a máxima delicadeza e suavidade, quase de modo espontâneo (assim como um corpo vivo aumenta lentamente sua estatura; desde que alimentado e assistido e exercitado, o corpo, quase sem aperceber-se, adquire altura e robustez; da mesma forma, os alimentos, os nutrientes, os exercícios se convertem no espírito em sabedoria, virtude e piedade); [...] Todos sejam educados para uma cultura não vistosa, mas verdadeira, não superficial mas sólida, de tal sorte que o homem, como animal racional, seja guiado por sua própria razão e não pela de outrem e se habitue não só a ler e a entender nos livros as opiniões alheias e a guardá-las de cor e a recitá-las, mas a penetrar por si mesmo na raiz das coisas e delas extrair autêntico conhecimento e utilidade; [...] E que essa educação não seja cansativa, mas facílima, ou facilitadora (COMENIUS, 1997, p. 109-110).

Não há lugar para coisas difíceis na escola. Entre todos os povos, coisas antes tidas por dificílimas provocam o riso da posteridade. Para Comenius, as sementes da ciência, da moral e da piedade são por natureza inerentes a todos os homens, com exceção dos monstros humanos, sendo preciso apenas um pequeno estímulo e de sábia orientação.

Diz Comenius (1997, p. 115):

(30)

Por fim, Comenius cita Plutarco: “Não está em poder de ninguém a qualidade dos filhos que nascem, mas está em nosso poder obrar de tal modo que se saiam bem

com uma educação correta”. Para Comenius toda a juventude, com diversas índoles,

pode ser educada e formada com um método único e idêntico. Certamente que as deficiências e os excessos podem ser mais bem supridos em idade tenra.

A base de toda reforma escolar é a ordem exata em tudo

Comenius aborda a questão da má qualidade do ensino, e apresenta fundamentos para que se tenha uma escola de boa qualidade. Neste, ele vai dizer que a ordem exata de tudo é a base de toda reforma no ensino.

Comenius enumera uma série de coisas e de fatos onde, de modo sequencial, demonstra a ordem contínua e permanente do universo, concluindo que tudo depende de uma única ordem. A lógica é que, se o universo é sustentado por uma ordem superior, que promove a disposição de todas as coisas, grandes e pequenas, durável enquanto a ordem for mantida, argumenta Comenius (1997, p. 124-127):

[...] O fato de cada criatura se manter dentro de seus limites, conforme a ordem dada pela natureza e a ordem de cada uma, isto contribui para manter a ordem do universo. A imutável ordem do firmamento é que faz o tempo girar através de séculos, com intervalos fixos de anos, meses e dias. [...] A arte de ensinar não exige mais que uma disposição tecnicamente bem feita do tempo, das coisas e do método. Se a escola for capaz de estabelecê-la com precisão, ensinar tudo a todos os jovens que vão frequentá-la, não será mais difícil que navegar sobre o oceano e ir para o Novo Mundo. [...] Tudo ocorrerá tão fácil como o funcionamento de um relógio perfeitamente equilibrado pelos pesos.

(31)

A ordem exata da escola deve ser inspirada na natureza e ser tal que

nenhum obstáculo a retarde

Destacou-se a questão da ordem no ensino no capítulo anterior. Neste, Comenius diz em que bases tal ordem deve ser inspirada e construída.

Nada nem ninguém podem ajudar mais no ensino-aprendizagem que a própria natureza. Comenius se apropria de vários exemplos da criação para comprovar seu raciocínio. Entre outros, usa o exemplo do peixe. Veja-se seu argumento:

Vê-se um peixe a nadar? Esse é um fato natural. Mas se o homem desejar imitá-lo deverá agir com meios e movimentos semelhantes aos do peixe, e deverá mover os braços em lugar das barbatanas e os pés em lugar da cauda, do mesmo modo como o peixe move suas barbatanas. Até os navios são construídos com a mesma idéia: em lugar barbatanas, os remos ou as velas; em lugar da cauda, o timão (COMENIUS, 1997, p. 130).

Para Comenius, os exemplos evidenciam o fato de que a ordem desejada por ele da arte de ensinar e de aprender tudo só pode ser extraída da escola da natureza. Quando isto acontece as coisas artificiais, ocorrerão com facilidade e espontaneidade. Cita

Cícero, em uma de suas afirmações que “se seguirmos a orientação da natureza, nunca

poderemos errar e tendo a natureza como guia, não é possível errar” e conclui com um

apelo ao dizer: “Esperamos que, observando o modo como a natureza procede para

fazer isto ou aquilo, sejamos convencidos a proceder de modo análogo” (COMENIUS,

1997, p. 131).

Encerra este capítulo com o que chama de indícios da natureza que propiciam uma melhor aprendizagem, ou seja, para que o homem possa se aprofundar mais na sabedoria, é preciso:

Prolongar a vida, a fim de aprender tudo o que é necessário; [...] Abreviar as artes, a fim de aprender mais rapidamente; [...] Agarrar as ocasiões, a fim de aprender no modo certo; [...] Despertar o engenho, a fim de aprender facilmente; [...] Aguçar o juízo, a fim de aprender com solidez (COMENIUS 1997, p. 135).

(32)

Princípios para prolongar a vida

No capítulo anterior, Comenius cuida de dizer que a natureza é a grande mestra para tudo. Neste, ele demonstra que a vida não é medida pela quantidade de anos que se vive, mas pelo modo como é vivida, pelos resultados auferidos nos anos que Deus nos concede viver.

Sêneca também pensava assim:

A vida é longa quando é plena; e é plena quando a alma consegue atingir seu próprio bem, e tiver poder sobre si mesma. E ainda, fazendo recomendações a Lucílio, diz: “Exorto-te, caro Lucílio, a agir de tal modo que nossa vida, assim como as coisas preciosas, tenha

mais valor que o tempo”. E em seguida: “Portanto, é de se louvar e de

incluir no número dos felizes aquele que soube empregar bem esse

pouco de tempo, por mais breve, que lhe coube”. E: “Assim como o

homem pode ser perfeito com um corpo menor que o comum, também a vida pode ser perfeita numa medida menor de tempo. O decurso mais longo de vida é aquele que levamos para conquistar a sabedoria e pô-la em prática. Quem a alcança não atinge a meta mais distante,

porém a mais importante” (Sêneca, Epistulae, XCIII, 1- 8).

Com a finalidade de reforçar seu argumento, faz referência a homens como Alexandre Magno que morre aos 33 anos, sendo cultíssimo nas letras, tanto quanto vencedor de batalhas, chegando a conquistar o mundo com sua sabedoria na implementação de decisões, e não apenas com o poder bélico. Giovani Pico della Mirandola que vive menos que Alexandre, mas nos estudos da sabedoria o supera. Depois de outros, cita Jesus Cristo como o exemplo maior, que esteve na terra por apenas 33 anos e realizou a grande obra da Redenção, o que, em parte, foi feito para dar aos homens um exemplo de como a vida do homem, conquanto breve, é suficiente para obter os recursos necessários à eternidade (COMENIUS, 1997, p. 138).

Contra os reclamos pela brevidade da vida, a receita comeniana é: “Agir de tal

modo que: Se defenda o corpo das doenças e da morte; e se disponha a mente a fazer

tudo com sabedoria”. Se para viver muito uma árvore precisa de umidade constante,

(33)

trabalhos, das férias e das recreações dos docentes e discentes de seu quadro (COMENIUS, 1997, p. 139).

Comenius termina este capítulo com considerações a respeito do crescimento lento de uma árvore ou do próprio ser humano que não é perceptível seu

desenvolvimento, fazendo citação de uma máxima do filósofo Hesíodo: “Soma pouco

ao pouco, e mais um pouquinho a esse pouco, em pouco tempo terás acumulado um

montão” (COMENIUS, 1997, p. 143).

Ora, se um dia tem vinte e quatro horas, o homem pode usar oito horas para dormir, oito para trabalhar e lhe sobram ainda oito para outras atividades, entre elas, aprender pelo menos uma lição de vida por dia. Se isto acontece, com sériedade, no final da vida cada homem é um sábio. Para Comenius, pois, a grande questão é saber utilizar bem a vida.

Método para ensino das ciências em geral

No capítulo XIX trata-se dos princípios de um ensino rápido e conciso. Discorrer-se-á no capítulo XX sobre método para ensino das ciências em geral. Segundo Comenius é necessário unir, para por em prática, todas as observações esparsas sobre o modo de ensinar as ciências, as artes, as línguas, a moral e a piedade. Comenius (1997, p. 231-233) pontua quatro condições como sendo indispensáveis ao jovem que deseja

descortinar as partes mais abscônditas das ciências: “Aos que estudam: que o olho da mente seja puro; que os objetos estejam próximos; que a atenção seja viva; que, com o devido método, todas as coisas sejam oferecidas à observação interligadas. Só então

será possível aprender tudo com segurança e rapidez”.

Para os que ensinam, Comenius (1977, p. 237-240) tem uma receita recheada de regras, as quais julgam de fundamental importância. Ao apresentar as regras, é categórico:

(34)

compreendida; e, por ultimo, devem ser ensinadas as diferenças entre as coisas, para que o conhecimento de cada uma delas seja distinto.

Como nem todos os que labutam com a docência têm a capacidade de realizar a tarefa impar de ensinar, conclui o capítulo XX dizendo que todas as disciplinas ensinadas nas escolas deverão ser elaboradas segundo essas regras metodológicas (COMENIUS, 1997, p. 242).

Método para ensino das artes

Discorreu-se sobre método para ensino das ciências em geral, abordar-se-á sobre método para ensino das artes. Comenius (1997, p. 243), ao citar Vives, afirma: “A teoria

é fácil e breve, e proporciona apenas deleite; a prática, ao contrario, é árdua e demorada,

mas de grande utilidade”.

Para Comenius são três os requisitos da arte: “modelo, matéria e instrumentos”

(COMENIUS, 1997, p. 243). E assim para que haja o ensino, se faz necessário o uso correto desses elementos, a orientação prudente e o exercício frequente.

Comenius (1997, p. 244-251) destaca seis cânones para o uso correto da arte; três, no que se refere à orientação correta e dois para a elaboração de exercícios. Ele diz:

Quanto ao uso: aprender a fazer fazendo, deve haver sempre uma forma e uma norma estabelecida dos trabalhos por fazer, o uso dos instrumentos deve ser mostrado mais com fatos que com palavras, ou seja, mais com exemplos que com regras, o exercício é iniciado pelos primeiros rudimentos, e não com obras já acabadas, os primeiros exercícios dos principiantes devem ser feitos com matéria conhecida, e a imitação deve relacionar-se diretamente com a forma prescrita, só depois poderá ser mais livre. Quanto à orientação: que as formas das coisas por fazer sejam as mais perfeitas possíveis; assim, quem conseguir imitá-las bem poderá ser considerado perfeito em sua arte; a primeira tentativa de imitação deve ser a mais exata possível, de tal modo que não se afaste nem um pouquinho do modelo. Quanto aos exercícios: o professor deve corrigir imediatamente os erros e acrescentar as observações que se chamam regras e exceções às regras; o ensino completo de uma arte consiste em síntese e analise.

(35)

Método para ensino das línguas

Pelo fato das línguas não fazerem parte da instrução ou do saber, não se deve gastar tempo com todas elas, até porque não é possível aprendê-las todas, mas se deve gastar tempo apenas com as que são necessárias, ou seja, os teólogos devem aprender hebraico e grego, os filósofos o grego e o árabe, para a vida cotidiana as línguas vernáculas etc (COMENIUS, 1997, p. 253).

Segundo Comenius as línguas não devem ser estudadas em toda a sua dimensão, mas apenas para poder ler e entender os livros. Ninguém domina plenamente uma língua; nem mesmo Cícero conhecia a língua latina em sua totalidade, ele mesmo confessava não conhecer os vocábulos dos artesãos (Cícero, De finibus, II, 2, 4).

Comenius (1997, p. 259) tem uma receita prática para o estudo e aprendizagem, com rapidez e facilidade de várias línguas, o qual pode ser resumido em oito regras, a saber:

Aprenda-se uma língua por vez; cada língua deve ser aprendida em dado tempo, para que não se torne principal o que é secundário, e não se perca com palavras o tempo devido ao estudo das coisas; cada língua deve ser aprendida mais com a prática que pelas regras; mas as regras ajudam a prática e a consolidam; as regras das línguas devem ser gramaticais, e não filosóficas; ao escrever as regras de uma nova língua, deve-se fazer referência a uma já conhecida, para poder mostrar apenas as diferenças entre uma e outra; os primeiros exercícios de uma nova língua devem ser acerca de temas já conhecidos; e, todas as línguas, portanto, podem ser aprendidas com um mesmo método.

Apliquem-se as regras acima às quatro idades da vida: infantil, em que se começa a falar de qualquer jeito; adolescência, em que se aprende a falar com propriedade; juvenil, em que se aprende a falar com elegância, e a idade viril em que se aprende a falar com vigor, que certamente, há de se aprender uma língua (COMENIUS, 1997, p. 259).

(36)

Comenius, estes capítulos, XXIII e XXIV serão objeto de estudo. “Se quisermos reformar as escolas segundo os princípios do verdadeiro cristianismo, ou retiramos das escolas os livros de autores pagãos, ou os usamos com cautela maior que a atual”

(COMENIUS, 1997, p. 260).

Comenius é enfático, ousado e destemido, ao orientar as escolas cristãs a que tirem de seus quadros docentes todos aqueles que não professam o cristianismo, indo à cata de cristãos convictos para assumirem tal posto. Para ele é um censurável abuso da

liberdade cristã, chegando à raia da “profanação, o fato de se elevar e de se comprazer

mais em Plauto, Cícero, Ovídio, Catulo, Vênus, Aristóteles e outros, do que no próprio

Cristo” (COMENIUS, 1997, p. 289).

A postura comeniana é a de que os filhos do Reino devem ter uma instrução que reflita o ensino exarado nas páginas da Bíblia. Deus é enfático na proibição explicita de

seu povo quando à cultura e os usos pagãos: “Não aprendais o caminho das nações”

(Jeremias 10.2); II Reis 1.3: “Porventura não haverá Deus em Israel para irdes consultar Belzebu, deus de Ecrom?” Por que diz isso? “Porque toda sabedoria vem de Deus e está sempre nele, e ainda a raiz da Sabedoria a quem foi revelada” (Eclesiastes 1.1,6). Já o salmista afirma de si mesmo: Tu, pelos teus mandamentos, me fazes mais sábio que meus inimigos, pois estão sempre comigo. Tenho mais entendimento que todos os meus mestres porque medito nos teus testemunhos (Salmo 119.98-99). Também Salomão, o mais sábio dos homens, diz: O Senhor dá a sabedoria e de sua boca expande a prudência e a ciência (Provérbios 2.6). Comenius conclui com as palavras de João 6.68: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras de vida eterna.

Os pagãos não têm o que dar para o saber dos cidadãos do céu. Assim, conclui Comenius (1997, p. 294-310):

(37)

Da disciplina escolar

Observou-se anteriormente a postura de Comenius com respeito aos ensinos pagãos nas escolas cristãs; nesta parte da pesquisa a ênfase será a disciplina escolar.

Ao abordar a disciplina escolar, Comenius cita um provérbio boêmio que diz:

“Escola sem disciplina é como moinho sem água”, ou seja, assim como o moinho pára

quando lhe tiram a água, também a escola procede com lentidão se lhe for retirada a disciplina (COMENIUS, 1997, p. 311). Portanto, quem exerce a missão de ensinar tem o dever de conhecer o fim e a forma da disciplina. Na concepção de Comenius, a disciplina, antes de tudo, deve ser exercida contra quem erra, não porque errou, mas para que não erre mais. Ela deve ser exercida sem paixões, sem ira, sem ódio, porém com simplicidade e sinceridade, de tal modo que o disciplinado perceba que é para o seu bem, e o aceite como sendo um remédio, mesmo amargo, quando medicado pelo seu médico (COMENIUS, 1997, p. 312).

O âmago de toda disciplina encontra fundamento nas afirmações de Comenius (1997, p. 315):

É que a disciplina deve tender a formar, a reforçar e a favorecer sempre nos jovens que educamos uma harmonia de sentimentos semelhantes àquela que Deus quer para seus filhos, que são confiados à escola de Cristo, para que possam e saibam amar e reverenciar os que educam, não apenas se deixando conduzir aonde convém, mas desejando-o ardentemente.

Sobre a quádrupla divisão das escolas, segundo a idade

O capítulo XXVI tratou a respeito da disciplina na escola, neste abordar-se-á as divisões da escola a partir do próprio ensino, e guia da natureza. Comenius divide o período de crescimento em quatro momentos: infância, meninice, adolescência e juventude; cada um tendo uma duração de seis anos e consequentemente sua escola: a infância sendo o regaço materno; a meninice, o exercício literário; a adolescência, a escola latina, ou ginásio; e, para a juventude, a academia.

(38)

o ginásio, em todas as cidades; a Academia, em todos os reinos e nas províncias maiores (COMENIUS, 1997, p. 320).

Comenius (1997, p. 322) compara esses quatro tipos de escola às quatro estações:

A materna lembra a primavera, cheia de botões e flores cheirosas e variegadas. A vernácula representa o verão, com suas espigas maduras e frutos precoces. O ginásio corresponde ao outono, que reúne os ricos frutos dos campos, dos pomares e das vinhas, guardando-os nos depósitos seguros das mentes. A Academia, finalmente, é como o inverno, que prepara os frutos colhidos para os vários usos, para que sejam suficientes para todo o resto da vida.

A escola Materna

Após discorrer a respeito da divisão das escolas de conformidade com as faixas etárias, de zero a seis anos, infância; de sete a doze, meninice; de treze a dezoito, adolescência e de dezenove a vinte e quatro, juventude. Comenius aborda cada faixa escolar, sendo a primeira a escola materna.

A escola materna é responsável pelos primeiros rudimentos no ensino-aprendizagem da infância. Reveste-se de importância na medida em que tudo o que o homem deva ser instruído durante toda a vida, deve ser semeado e plantado a partir da escola materna.

Isso é possível ao se percorrer todos os gêneros do saber. Resume magistralmente esse saber em vinte parágrafos, que podem ser sintetizados com uma palavra para cada um deles, ou seja: “Metafísica, ciências físicas, princípios da óptica,

astronomia, geografia, cronologia, história, aritmética, geometria, estática, mecânica, dialética, gramática, retórica, poesia, música, economia, política, moral (ética), e

finalmente, religião ou piedade” (COMENIUS, 1997, p. 326-330).

(39)

A escola vernácula

Neste capítulo abordar-se-á a escola de língua vernácula, para onde devem ser enviados todos os jovens, indistintamente. Qual é, então, para Comenius a objetividade e o propósito da escola vernácula?

[...] Que todos os jovens, entre seis e doze anos (ou treze) aprendam o que terá utilidade para toda a vida: ler perfeitamente, escrever segundo as regras gramaticais do vernáculo, contar e calcular, medir segundo as normas corretas, aprender a maior parte dos salmos e dos hinos, conhecer o catecismo e as palavras mais importantes da Bíblia, começar a aprender, a entender e a por em prática a doutrina moral, saber em linhas gerais a história da origem, da corrupção e da redenção do mundo, aprender as bases da cosmografia, e finalmente, conhecer as bases gerais das artes mecânicas (COMENIUS, 1997, p. 335-336).

Se tudo isso for ensinado na escola vernácula, os jovens jamais serão surpreendidos ao ouvir qualquer coisa, além do que, eles mesmos terão maior agudeza quando utilizarem suas capacidades de pensar, de agir e de julgar (COMENIUS, 1997, p. 336-337).

A escola latina

Na escola latina os jovens devem estudar quatro línguas após o que estão aptos a serem gramáticos, com profundo conhecimento da língua latina e da vernácula, além de conhecerem o grego e o hebraico. Também são instruídas em outras ciências, vindo a ser conhecedores de dialética, retórica, aritmética, geometria, música, astronomia, física, geografia, história, ética e teologia. Tudo isso em seis anos de estudo (COMENIUS, 1997, p. 343-344).

(40)

Concluídas essas escolas, com as devidas orientações e tarefas cumpridas, o jovem estudante saberá se expressar, com propriedade, e sempre que for necessário.

Diz Comenius (1997, p. 350) que para atingir esse fim, terão a seu dispor um instrumental nada desprezível, ou seja, um bom conhecimento de coisas de todos os gêneros, frases, adágios, sentenças, fatos, etc.

A Academia

Às Academias cabe atingir o ápice e o arremate de todas as ciências e de todas as faculdades superiores. Os professores devem ser os mais seletos, os mais competentes. A Academia deve acolher os mais diligentes, os mais honestos e os mais perspicazes. Não devem ser tolerados os pseudo-estudiosos para não contaminar o ambiente.

Para tanto, Comenius expressa um desejo tríplice, no sentido de que nelas sejam feitos estudos universais, ou seja, tudo das letras e do saber deve ser tratado ali; que sejam empregados os métodos mais fáceis, seguros e eficazes; e que o acesso aos cargos públicos seja reservado apenas aos que tenham atingido a meta estabelecida e às pessoas capazes e dignas de ter nas mãos o governo das coisas humanas (COMENIUS, 1997, p. 352).

Sua proposta na Academia pode ser percebida nas seguintes palavras:

Referências

Documentos relacionados

5 apresenta uma estimativa da temperatura para a linha central do canal para uma faixa de valores do numero de Biot, todos os cálculos foram efetuados com nove

1595 A caracterização do repertório de habilidades sociais dos alunos do Grupo com Baixo Desempenho Acadêmico (GBD) e do Grupo com Alto Desempenho Acadêmico (GAD),

No pavimento superior e na fachada principal do pavimento inferior mantém vergas retas, folhas de abrir externas em veneziana, folhas de abrir internas em madeira cega, sendo

De acordo com estes resultados, e dada a reduzida explicitação, e exploração, das relações que se estabelecem entre a ciência, a tecnologia, a sociedade e o ambiente, conclui-se

Assim, de acordo com a autora, a melhoria do ensino de Matemática envolve um processo de diversificação metodológica, exigindo novas competências do professor, tais como: ser capaz

PASSO 1 - Identificar o objetivo principal a ser focado pela ME: A ME é um paradigma que contribui principalmente com melhorias nos objetivos qualidade e produtividade (Fernandes

Assim, entendo que o decreto da prefeitura deve ser observado para conferir ao poder público e à sociedade os meios para cumprir as determinações contidas na Lei Federal

Post: depois; após. Praeter legem : fora da lei. Presona grata: pessoa bem- vinda. Presunção iuris et iuris: presunção absoluta, que não admite prova em contrário.