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As transformações na indústria editorial de livros no Brasil e os desafios para as empresas brasileiras

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Academic year: 2017

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL

RELATÓRIO DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Leomar Cláudio Korth

AS TRANSFORMAÇÕES NA INDÚSTRIA EDITORIAL DE LIVROS NO BRASIL E OS DESAFIOS PARA AS EMPRESAS BRASILEIRAS.

PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO: ANA LÚCIA GUEDES APRESENTADO EM: ____/____/____.

________________________________________ ASSINATURA DO PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO

________________________________________

ASSINATURA DO CHEFE DO CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

(2)

RESUMO

(3)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...4

1.1 Objetivo...4

1.2 Relevância ...6

2 REFERENCIAL TEÓRICO ...8

2.1 GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA...8

2.1.1 Conceito...8

2.1.2 Determinantes da globalização ...11

2.1.3 Implicações dos determinantes da globalização ...13

2.1.3.1 Implicações Tecnológicas ...13

2.1.3.2 Implicações Políticas...20

2.1.3.3 Implicações Econômicas ...22

2.1.4 Resumo das implicações dos determinantes da globalização...29

2.2 Critérios de análise ...29

3 METODOLOGIA ...31

3.1 Desenho de pesquisa...31

3.1.1 Coleta de dados...32

3.1.2 Análise dos dados ...33

3.1.3 Limitações do método ...36

4 DESCRIÇÃO DO CASO: INDÚSTRIA EDITORIAL DE LIVROS NO BRASIL 37 4.1 Panorama do mercado mundial de livros...37

4.2 Panorama do mercado brasileiro de livros...43

4.3 Impactos da dimensão tecnológica ...50

4.4 Impactos da dimensão política e institucional...53

4.5 Impactos da dimensão sistêmica e estrutural ...56

4.6 O comércio exterior e a internacionalização das empresas brasileiras...61

4.7 Análise das transformações da indústria editorial brasileira...62

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ...66

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1 INTRODUÇÃO

A presente dissertação consiste em um estudo de caso setorial focado no processo de abertura da economia brasileira na década de 90. O setor escolhido para a realização da pesquisa foi a indústria editorial de livros e o estudo teve como objetivo identificar e analisar as alterações recentes sofridas pelo setor em decorrência do processo de globalização econômica.

Neste primeiro capítulo são apresentados os objetivos e a relevância do estudo. O segundo capítulo contém o referencial teórico que trata da globalização econômica do ponto de vista conceitual, de seus determinantes e respectivas implicações. Ao final do capítulo são definidos os critérios utilizados para análise da indústria editorial. O terceiro capítulo foi dedicado à metodologia de pesquisa e o quarto capítulo à descrição e à análise indústria editorial com base nos critérios adotados. O quinto e último capítulo traz as conclusões e recomendações para aprofundamentos e novos estudos sobre o tema.

1.1 Objetivo

A proposta do estudo foi a de investigar o impacto da globalização em um determinado setor industrial, qual seja a indústria editorial. Dado que a indústria editorial se subdivide em diferentes segmentos de negócios (jornais, revistas, livros, etc.) e que cada qual apresenta particularidades distintas, o estudo foi focado somente na indústria editorial de livros. Assim sendo, o objetivo geral do trabalho foi analisar a natureza das transformações na indústria editorial de livros no Brasil face à globalização. O período analisado corresponde ao início da abertura econômica do Brasil até a atualidade, ou seja, de 1990 a 2005.

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− A dimensão tecnológica que aborda os adventos da Internet, do livro eletrônico - e-book, do papel eletrônico - e-paper e outras evoluções relevantes para a indústria, identificadas no decorrer do trabalho .

− A dimensão política e institucional que contempla os aspectos relacionados à desregulamentação econômica, ao sistema de comércio, aos acordos, tratados e convenções internacionais, à legislação e ao mercado governamental.

− A dimensão sistêmica e estrutural (econômica) que inclui a questão das empresas multinacionais (EMNs), do investimento direto estrangeiro, das fusões e aquisições, da concorrência e da internacionalização do comércio e das empresas.

Diante de tal proposição foi assim definida a pergunta, ou problema, de pesquisa:

Como as dimensões tecnológica, política-institucional e sistêmica-estrutural da globalização impactaram na indústria editorial de livros do Brasil, no período de 1990 a 2004?

Para responder a esta pergunta alguns objetivos específicos foram previamente buscados e alcançados (conforme resultados apresentados no capítulo 4), são eles:

− Descrição do panorama do mercado internacional do livro, do seu tamanho, da sua organização e das convenções que regem o setor;

− Descrição do mercado brasileiro do livro, seu tamanho e sua evolução, as regulamentações, a organização e a estrutura do setor;

− Identificação das transformações relevantes na indústria a partir da década de 1990, período em que o Brasil iniciou o processo de abertura econômica;

− Análise das transformações quanto a sua natureza relacionado-as a cada uma das três dimensões explicitadas no objetivo principal;

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Embora a pesquisa estivesse a priori restrita às três dimensões de análise acima propostas, previu-se que no decorrer do estudo novas dimensões pudessem emergir e, revelando-se relevantes, fossem também consideradas. Assim sendo, no capítulo 4, incluiu-se também um tópico que trata especificamente do comércio exterior e da internacionalização das empresas brasileiras.

1.2 Relevância

Controverso é o tema globalização, tanto a respeito de seu significado quanto da sua abrangência e das conseqüências que acarreta nas diferentes esferas da sociedade – social, político-legal, econômica, cultural, tecnológica, etc. Muito se tem debatido nos últimos anos sobre este assunto e a literatura é vasta contemplando inúmeras perspectivas de análise.

Na área de ciências sociais o fenômeno denominado de globalização é objeto de estudo de vários autores que o analisam sob perspectivas diversas, desde a sociologia política (HELD & MCGREW, 2001; SKLAIR, 2001), passando pela economia política (GILPIN, 2000 e 2001; STOPFORD & STRANGE, 1991), pelo âmbito dos negócios internacionais (GONÇALVES, 1999; BEAUSANG, 2003) e da gestão internacional (GHEMAWAT, 2003). As contribuições de alguns destes autores, consideradas relevantes para o presente estudo, são apresentadas no desenvolvimento do referencial teórico.

Contudo, mesmo no campo das ciências sociais e da administração, embora haja um número expressivo de publicações sobre o tema, grande parte delas dedicam-se a uma abordagem essencialmente teórica, de forma que se prescinde de estudos empíricos que de fato identifiquem e analisem in loco como a globalização afeta as relações sociais, os setores econômicos e as organizações especificamente.

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A escolha desta indústria como campo de investigação se justifica pelas seguintes constatações: a) pela relevância econômica da indústria que movimenta R$2,47 bilhões1 ano no Brasil e que emprega diretamente 20.057 pessoas2; b) pela importância que o setor exerce sobre a formação do cidadão, sobre a difusão do conhecimento e da cultura do país; c) pela recente entrada de concorrentes internacionais no mercado brasileiro, tais como a americana Reader´s Digest, a espanhola Planeta, a holandesa Elsevier, a francesa Larousse, entre outras; d) pelas limitações de crescimento do mercado brasileiro que, no período de 1995 a 2003 fez cair em 48% o faturamento das editoras nacionais e em 50% o número de exemplares vendidos, gerando somente no ano de 2003 um encalhe de 44 milhões de exemplares3, e; e) pelo surgimento do comércio eletrônico, do livro eletrônico e de outras inovações tecnológicas que podem influenciar a indústria.

GONÇALVES (1999) considera que a globalização é resultado de três grupos de fatores determinantes: a) o desenvolvimento tecnológico associado à revolução da informática e das telecomunicações e à conseqüente redução dos custos operacionais e dos custos de transação em escala global; b) fatores de ordem política e institucional vinculados à ascensão das idéias liberais ao longo dos anos 80 e a resultante desregulamentação do sistema econômico em nível global; c) fatores de ordem sistêmica e estrutural no sentido da globalização como parte integrante de um movimento de acumulação em escala global. A queda no potencial de crescimento dos mercados domésticos dos países desenvolvidos fez com que o capital abundante migrasse da esfera produtiva real para a esfera financeira. Além da resultante expansão dos mercados de capitais domésticos e internacional, inicia-se uma forte pressão por parte das grandes potências no intuito de forçar o acesso de bens e serviços no mercado internacional.

No Brasil alguns estudos avaliaram os efeitos do processo de globalização na economia brasileira sob o ponto de vista produtivo, muitos dos quais desenvolvidos por organismos governamentais, tais como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)4, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)5,

1 Segundo dados da Câmara Brasileira de Livros (CBL) - Ver Tabela 5.

2 Câmara Brasileira de Livros (CBL) apud BNDES (1999) - referente ao ano de 1998, sendo 16.151

permanentes e mais 3.906 temporários.

3 Revista Época, Ed. 330, Set. 2004 – Edição Eletrônica (acesso em 29 de Outubro de 2004).

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entre outros. Existem também estudos do próprio BNDES sobre o setor editorial brasileiro, porém nenhum trata especificamente do impacto da abertura econômica sobre esta indústria especificamente.

O próximo capítulo apresenta o desenvolvimento do referencial teórico e, conseqüentemente, os critérios de análise que foram usados na fase empírica da pesquisa.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

No sentido de dar consistência teórica a esta dissertação, buscou-se na literatura acadêmica e em estudos científicos uma definição apropriada de globalização, dos seus determinantes e de suas respectivas implicações para a economia nacional, para então definir dos critérios de análise da indústria editorial de livros.

2.1 GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA

Inicialmente convém esclarecer que adotamos, para fins deste estudo, o termo globalização do ponto de vista econômico e relativo à abertura da economia do Brasil a partir dos anos 90.

2.1.1 Conceito

Dado às múltiplas dimensões envolvidas no que se denomina hoje de globalização torna-se difícil estabelecer um conceito único para este fenômeno. Assim, a maioria dos conceitos encontrados na literatura tende a abranger aspectos sempre relacionados a uma determinada perspectiva de análise adotada pelo autor. Embora a globalização possa ser analisada sob perspectivas diversas – cultural, ambiental, trabalhista, geográfico, etc – não podemos negar que a origem do processo globalizante deriva de aspectos especialmente econômicos, políticos e tecnológicos. As demais

5 NEGRI, F.; MARIANO F. L. Impacto das empresas estrangeiras sobre o comércio exterior brasileiro:

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perspectivas têm muito mais a ver com as conseqüências da globalização do que propriamente com as causas.

GILPIN (2004) afirma que, de acordo com a tese da globalização, uma mudança quantitativa verificou-se nas questões humanas à medida que o fluxo de grandes quantidades de comércio, investimento e tecnologias através das fronteiras nacionais adquiriu proporções inéditas.

Outro conceito é dado por GONÇALVES (1999). Para ele a globalização é a ocorrência simultânea de três processos, a saber: a expansão extraordinária dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais; o acirramento da concorrência nos mercados mundiais; e maior integração entre os sistemas econômicos nacionais.

Um conceito um pouco mais amplo é dado por HELD & MCGREW, (2001, p. 11). Segundo os autores a globalização tem sido diversamente concebida como ação à distância (quando os atos dos agentes sociais de um lugar podem ter conseqüências significativas para terceiros distantes); como compressão espaço-temporal (numa referência ao modo como a comunicação eletrônica instantânea vem desgastando as limitações da distância e do tempo na organização e na interação sociais); como interdependência acelerada (entendida como a intensificação do entrelaçamento entre economias e sociedades nacionais, de tal modo que os acontecimentos de um país têm um impacto direto em outros); como um mundo em processo de encolhimento (erosão das fronteiras e das barreiras geográficas à atividade socioeconômica); e, entre outros conceitos, como integração global, reordenação das relações de poder inter-regionais, consciência da situação global e intensificação da interligação inter-regional.

A maioria dos conceitos, no entanto, atribui a aspectos políticos, econômicos e tecnológicos o que se denomina globalização econômica. O fenômeno contudo, gera debates intensos no meio acadêmico e está longe de um consenso. A palavra globalização surgiu há poucas décadas e, embora hoje seja utilizada e discutida em praticamente todos os países, não há ainda uma posição única sobre a sua efetiva ocorrência ou ineditismo. Para os que assumem a ocorrência do fenômeno a discussão que se estabelece é se a globalização traz mais benefícios ou prejuízos à economia mundial, às economias nacionais e à sociedade como um todo.

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mundial já teve períodos de liberdade comercial ainda mais profunda do que o atual. Eles referem-se à época anterior a primeira guerra mundial – a chamada Pax Britânica - e ao período entre guerras – Pax Americana. Para GILPIN (2004) o sistema de comércio ainda responde mais a critérios políticos do que econômicos e está ameaçado pelo protecionismo, pelo regionalismo econômico e pela instabilidade financeira.

Há posições que consideram o discurso sobre a globalização como uma construção primordialmente ideológica – um mito conveniente, que, em parte, ajuda a justificar e legitimar o projeto global neoliberal - desregulamentação, privatização, programas de ajuste estrutural e limitação do governo - isto é, a criação de um livre mercado global e a consolidação do capitalismo anglo-americano nas principais regiões econômicas do mundo. Outros tendem a afirmar que, sem uma nação hegemônica para policiar o sistema liberal, segue-se uma corrida para a auto-suficiência econômica e a ruptura da ordem mundial (HELD & MCGREW, 2001).

Alguns críticos da globalização defendem que a política, ou o Estado, é que responde aos interesses do mercado ou do capital (LEYS, 2004). Ou seja, assumem a existência de um mundo cada vez mais globalizado e, acima de tudo, abordam os aspectos que consideram mais prejudiciais à sociedade. Nesta linha podemos citar também o trabalho de GONÇALVES (1999) a respeito das privatizações no Brasil.

SKLAIR (2001), por sua vez, refutando a posição dos estado-centristas, identifica através de um estudo realizado com as quinhentas maiores empresas multinacionais, a existência de uma classe capitalista transnacional que se move e evolui com interesses próprios. Interesses estes que nem sempre coincidem com os interesses governamentais ou das sociedades de sua origem ou de onde essa classe, formada por empresas multinacionais (EMNs), atue.

Para alguns a globalização é um fenômeno primordialmente econômico, já para outros, a globalização reflete também mudanças estruturais reais na escala da organização social moderna, o que se evidencia, entre outras manifestações, pelo crescimento das empresas multinacionais, pelos mercados financeiros mundiais, pela difusão da cultura popular e pelo destaque dado à degradação ambiental do planeta.

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produtos, maior concorrência e, portanto melhor qualidade de produtos e serviços, expansão do comércio e geração de empregos e distribuição de renda.

Um panorama mais esclarecedor das diferentes perspectivas da globalização é dado por THOMPSON apud GUEDES & FARIA (2002) que identifica três principais correntes de pensamento. As mesmas estão representadas na tabela 1 abaixo juntamente com os pressupostos básicos de cada uma.

Tabela 1 : Perspectivas da Globalização

Perspectivas Pressupostos

Globalista

• Economia global totalmente desenvolvida

• Novas redes transnacionais de interdependência e integração

• Redundância da categoria “economia nacional”

• Conformação ao critério de competitividade internacional

• Defendida por neoliberais e condenada por neomarxistas

Tradicionalista

• A economia internacional não progrediu para economia global

• Permanência da categoria “economia nacional”

• A cooperação das autoridades nacionais e internacionais pode desafiar forças do mercado, gerenciando e governando a economia

• Benefícios de bem-estar assegurados no nível nacional

Transformacionista

• Intensa interdependência e integração erodindo o sistema econômico internacional

• Restrições na condução da política econômica nacional

• Dificuldade na formação da política pública internacional

• Economias locais e nacionais desintegram-se em sociedades cosmopolitas combinadas, interdependentes e integradas

Fonte: THOMPSON apud GUEDES & FARIA (2002).

2.1.2 Determinantes da globalização

GILPIN (2004) afirma que a globalização econômica tem sido estimulada por acontecimentos políticos, econômicos e tecnológicos. Em posição semelhante, GONÇALVES (1999) diz que a globalização econômica é resultado de determinantes: a) tecnológicos; b) políticos e institucionais; e c) sistêmicos e estruturais.

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produtivas e do acesso à informação. GILPIN (2004) também se refere aos avanços tecnológicos e científicas, incluindo, além da informática e das telecomunicações, a biotecnologia, a microeletrônica e novos materiais (ver GILPIN, 2004: p. 50-51);

b. Os aspectos políticos e institucionais referem-se à ascensão das idéias liberais, originárias dos líderes das nações desenvolvidas, mais precisamente os EUA e a Grã-Bretanha, que desencadearam o processo de desregulamentação do sistema financeiro, ainda nos anos 70, permitindo a livre circulação internacional de fluxos financeiros, inicialmente nos países desenvolvidos. A evolução de tais idéias, aliadas aos interesses expansionistas das grandes potências e ao estado de endividamento dos países emergentes, fez surgir uma onda de desregulamentação do sistema econômico ao longo dos anos 80 e que no Brasil culminou com a abertura da economia no início da década de 90.

c. Os aspectos sistêmicos e estruturais consistem nas limitações de expansão das economias desenvolvidas em termos de demanda aliadas a um elevado grau de acumulação de capital. Estes dois aspectos fazem com que surja uma pressão por acesso a novos mercados, seja através da exportação ou de investimento diretos em economias com maior potencial de crescimento e demanda.

De acordo com GONÇALVES, BAUMANN, PRADO & CANUTO apud

GONÇALVES (1999, p. 25-27), a globalização pode ser definida como a interação de três processos distintos, que têm ocorrido ao longo dos últimos vinte anos, e afetam as dimensões financeira, produtivo-real, comercial e tecnológica, das relações econômicas internacionais, são eles:

a. Aumento extraordinário dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais;

b. Acirramento da concorrência internacional;

c. Crescente integração dos sistemas econômicos nacionais.

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2.1.3 Implicações dos determinantes da globalização

O presente item é dedicado a contribuições obtidas na literatura específica, de autores que estudaram o fenômeno da globalização ou as transformações ocorridas na economia brasileira no período que está em análise nesta dissertação. Seguindo a proposição de GONÇALVES (1999) adotada nos objetivos deste trabalho, as implicações levantadas foram ordenadas de acordo com cada determinante, como segue.

2.1.3.1 Implicações Tecnológicas

Para MOREIRA (1999, p. 337), a política de substituição das importações adotada no Brasil até o início da década de 90 contribuiu para a formação de estruturas de mercado ineficientes nas quais o número de firmas era, ao mesmo tempo, grande demais para permitir escalas competitivas e insuficiente para garantir um ambiente competitivo. Segundo o autor “a proteção indiscriminada também estimulou linhas de produto excessivamente diversificadas – resultado das restrições à especialização impostas pelo limites do mercado doméstico, somadas às oportunidades oferecidas pela falta de concorrência internacional – e elevado grau de integração vertical, como contrapartida às exigências dos índices de nacionalização, que impediam as firmas de se beneficiarem de ganhos de especialização. (...) A proteção elevada por tempo indeterminado e as generosas margens de lucro a elas associadas reduziram drasticamente os incentivos para que as firmas diminuíssem custos ou atualizassem suas linhas de produtos. O resultado foi um quadro, quase generalizado entre as empresas domésticas e estrangeiras, de custos elevados e produtos tecnologicamente defasados”.

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resultados medidos em termos de produtividade no trabalho – valor agregado sobre o pessoal ocupado – indicaram uma correlação positiva no sentido de um crescimento significativamente maior nas empresas com maior participação de capital estrangeiro. Este dado indica que as empresas estrangeiras foram mais bem sucedidas na implementação de melhorias e aprimoramento tecnológico do que as firmas nacionais, provavelmente porque aquelas dispunham mais facilmente de recursos tecnológicos fornecidos por suas matrizes. Por outro lado, percebemos que esta melhoria exerce pouco efeito na composição do produto interno bruto (PIB), conforme tabela 2, apresentada por KUPFER (2005) para demonstrar que não houve alteração significativa em termos de participação dos setores de maior ou menor intensidade de diferentes fatores no período de 1991 a 2001.

Tabela 2 -Composição Estrutural do PIB: 1991-2001 – Anos selecionados (em %)

Setor 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Agricultura 7,8 7,7 7,6 9,9 9,0 8,3 8,0 8,2 8,2 7,7 8,0

Indústria 36,2 38,7 41,6 40,0 36,7 34,7 35,2 34,6 35,6 37,5 35,8 Manufatura 24,9 26,4 29,0 26,8 23,9 21,5 21,6 21,0 21,5 22,5 21,1 Serviços 56,0 53,6 50,8 50,1 54,3 57,0 56,8 57,1 56,2 55,0 56,2

Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Fonte: DECNA/IBGE apud KUPFER (2005).

Já os índices de produção industrial apresentados na tabela 3 demonstram que a evolução mais significativa entre 1991 e 2000 ocorreu no setor de bens duráveis, seguido de commodities industriais e alimentos e bebidas. Commodities agrícolas, indústria tradicional e difusores de progresso técnico chegaram a 2000 com índices praticamente equivalentes a 1991.

Tabela 3 - Índices de Produção Industrial: 1991-2000 – Base Fixa (1991=100)

Grupo Industrial 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Commodities Industriais 100 99,7 103,7 109,5 109,6 115,9 122,8 126,8 130,3 138,2 Commodities Agrícolas 100 101,9 98,4 94,4 97,2 100,6 104,0 101,2 105,4 98,9 Indústria Tradicional * 100 93,4 101,4 105,3 104,8 103,6 104,1 101,3 100,0 104,3 Alimentos e Bebidas 100 95,7 98,9 107,2 121,6 127,0 127,3 128,9 128,9 130,5 Difusores de Progresso

Técnico 100 94,7 102,0 123,3 120,0 107,8 105,2 105,6 98,3 108,2 BensDuráveis 100 89,8 115,2 133,0 147,6 153,4 165,8 133,9 123,1 148,6 Indústria Manufatureira 100 96,3 103,5 111,4 113,4 115,4 119,9 117,4 116,7 124,2 * Exceto Alimentos e Bebidas

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Outro aspecto analisado é o comportamento das empresas brasileiras com relação à tecnologia. Conforme demonstrado nos gráficos abaixo, o esforço em termos de inovação, embora existente, permanece muito incipiente (ver figura 1). Menos de 1/3 das empresas realizaram algum tipo de inovação no período de 1998 a 2000, e somente 11,28% inovaram simultaneamente em produto e processo.

Figura 1 -Participação Percentual do Número de Empresas que Implementaram Inovações 1998-2000

31,52 13,94

11,28 6,3

0 10 20 30 40

Que implementaram

inovações Só processo Produto e processo Só produto

Fonte: IBGE/PINTEC 2000 apud KUPFER (2005).

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Figura 2 -Importância das Atividades de Inovação Realizadas – 1998-2000

76,63 59,06 44,08 34,14 27,78 16,36 8,21

0 20 40 60 80

Aquisiçao de Maq & Equip. Projeto Ind & outras prep. Técnicas Introdução de inovações tecnológicas no mercado Aquisição externa de P&D

Fonte: IBGE/PINTEC 2000 apud KUPFER (2005).

Um outro dado importante a ser considerado, segundo ARBIX & MENDONÇA (2005) é o desempenho do sistema de proteção da propriedade industrial. Como demonstra a tabela 4, embora o número de registros tenha crescido, os dados desagregados mostram uma prevalência acentuada de registros por não-residentes, muito provavelmente por empresas estrangeiras estimuladas pela lei de propriedade intelectual sancionada em 1996 e no âmbito do Tratado de Cooperação de Patentes (PCT).

Tabela 4 - Brasil: pedidos de patentes depositados no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), segundo tipos e origem do depositante – 1992-2002

Tipos de patentes e

origem do depositante 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Total 10.909 12.639 13.362 15.839 17.916 20.388 21.593 23.947 24.192 23.707 24.098

Residentes 5.393 6.402 6.279 7.232 7.008 7.140 7.057 8.322 8.946 9.519 10.102 Não-residentes 5.516 6.237 7.083 8.607 10.908 13.248 14.536 15.625 15.246 14.188 13.996

Privilégio de Intenção 5.130 5.387 5.254 5.978 5.895 6.441 6.171 6.696 6.728 6.587 5.997

Residentes 2.100 2.429 2.269 2.707 2.611 2.683 2.514 2.849 3.077 3.298 3.098 Não-residentes 3.030 2.958 2.985 3.271 3.284 3.758 3.657 3.847 3.651 3.289 2.899

Modelo de Utilidade 2.232 2.618 2.505 3.074 2.975 3.010 2.835 3.323 3.189 3.366 3.462

Residentes 2.207 2.575 2.446 3.024 2.911 2.916 2.762 3.247 3.104 3.280 3.416

Não-residentes 26 43 59 50 64 94 73 76 85 86 46

Desenho Industrial 1.472 2.091 2.186 2.081 2.144 2.289 2.592 2951 3.555 3.717 4.349

Residentes 1.086 1.398 1.564 1.497 1.467 1.497 1.677 2.135 2.676 2.849 3.848 Não-residentes 368 693 622 584 677 792 915 816 879 868 865

PCT * 2.074 2.543 3.417 4.706 6.902 8.614 9.928 10.907 10.645 9.950 10.187

Residentes 4 19 15 42 30 21 13 4

Não-residentes 2.074 2.543 3.417 4.702 6.883 8.599 9.886 10.877 10.624 9.937 10.183 * Pedidos computados pelo ano de depósito internacional, até 2001.

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A tecnologia de informação é outro aspecto que precisa ser considerado, já que é um dos principais pontos no contexto da dimensão tecnológica da globalização. No Brasil, apesar da abertura das fronteiras a entrada de produtos de informática, a difusão do uso do computador e da Internet ainda não atingiu a maioria da população. Segundo TIGRE (2005) a maior dificuldade está no alto custo da tecnologia quando comparada ao poder aquisitivo da população dos países em desenvolvimento como o Brasil. As tecnologias desenvolvidas em países ricos são adequados aos seus consumidores mas são inacessíveis a grande parcela da população brasileira que não dispõe de renda suficiente para arcar com custos de hardware, software e acesso a rede mundial de computadores.

O software livre, embora disponível, ainda não encontra espaço na cultura profundamente arraigada de uso de sistemas e aplicativos para ambiente Windows. No ano de 2002 apenas 14,2% dos domicílios eram servidos por computador, e somente 10,3% por acesso a Internet, segundo TIGRE (2005). A tabela 5 apresenta alguns dados que ilustram a situação do Brasil, em termos de tecnologias de informação e comunicação (TIC), em comparação com outros países e o mundo.

Tabela 5 - Infra-estrutura de TIC, 2000 (por 100 habitantes)

País Usuários de

Internet

Computadores Pessoais

Telefones Fixos Celulares Fixos Relação Internet/telefones

Brasil 8,22 7,48 22,32 20,06 0,36

Chile 20,14 11,93 23,04 42,83 0,87

EUA 53,75 62,50 65,89 89,00 0,60

Mundo 9,72 9,22 18,04 18,87 0,51

Fonte: ITU (2003) apud TIGRE (2005)

Uma posição mais enfática e conclusiva do impacto da liberalização econômica, para efeitos de tecnologia e inovação, é dada por KATZ, (2005, p. 371-374). O autor relaciona as recentes transformações nos sistemas de inovação latino-americanos como efeito da globalização e das reformas estruturais implementadas no processo de abertura econômica. Para o autor estas transformações, de modo geral entre as economias em desenvolvimento, foram:

(18)

produzidos, bem como da força de trabalho mal qualificada por bens e recursos de engenharia externos;

b) os esforços de pesquisa e desenvolvimento (P&D) foram reduzidos significativamente. As empresas estatais, que mantinham centros de pesquisa no país, a partir da privatização passaram a fazer parte de sistemas internacionalmente integrados, coordenados pelas matrizes estrangeiras e a adotar tecnologias desenvolvidas no exterior;

c) entre subsidiárias locais de corporações transnacionais e nos grandes conglomerados nacionais a adoção de novas tecnologias de produção baseada na informática tem se difundido, assim como tecnologias e ferramentas modernas de gestão, além do comércio eletrônico que, embora ainda pequeno em termos de volume, apresenta rápida expansão;

d) a transição para estas novas tecnologias ainda encontra limitações entre as pequenas e médias empresas familiares, por questões de falta de capacidades ou habilidades tecnológicas iniciais que possibilitem uma transição, além de dificuldades de acesso a financiamento;

e) a privatização das estatais resultou em melhoria significativa dos serviços, a exemplo das telecomunicações, energia, transportes, água, etc. A redução da defasagem nestes setores foi, entretanto, obtida mediante a importação de tecnologias e recursos de engenharia das matrizes estrangeiras ou de subcontratados internacionais, em detrimento de qualquer possibilidade de desenvolvimento ou de uso de recursos tecnológicos locais;

f) houve redução da integração vertical das empresas com diminuição do número de componentes de produção local. Muitas empresas optaram por utilizar insumos e componentes importados, por vantagens de custo ou diferencial tecnológico, em substituição a tradicionais fornecedores nacionais, em sua maioria constituídos de empresas familiares, ou mesmo por conveniência ou relacionamento já estabelecido com fornecedores internacionais pelas matrizes no caso das subsidiárias de corporações estrangeiras;

(19)

metrologia e controle de qualidade, mais fáceis de vender ao setor privado e de retorno financeiro mais rápido;

h) grandes universidades públicas latino-americanas, dedicadas a P&D com recursos públicos, passaram a cobrar anuidades equiparando-se às instituições privadas;

i) incorporação das regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) no campo da propriedade intelectual, estendendo-se à indústria farmacêutica, de software, de microorganismos, etc., gerando aumento significativo no pagamento de direitos de propriedade;

j) ampliação do papel do setor privado na formação de capital humano, inclusive no ensino fundamental, médio e superior, embora sem o compromisso com atividades de P&D que permanecem dependendo, quase que exclusivamente de recursos públicos escassos.

Pode-se concluir após a consulta aos estudos mencionados neste tópico, que tratam da questão tecnológica no período pós-abertura da economia, que os benefícios imediatos proporcionados pelo acesso a recursos tecnológicos superiores aos então disponíveis, conduziram o país a uma posição de mera adoção, aquisição e dependência de conteúdo tecnológico externo em substituição às iniciativas já incipientes de P&D nacionais.

Houve melhoria em termos de acesso e disponibilidade de recursos tecnológicos mais abundantes, modernos e econômicos. Estes recursos, embora mais econômicos, não estão, todavia ao alcance do poder de compra de grande parte da população brasileira e, exatamente por serem mais baratos e tecnologicamente superiores os recursos importados ganharam mercado em detrimento das tecnologias locais, cujo desenvolvimento foi abandonado por falta de competitividade. As empresas locais, por vantagens de custo e comodidade, preferem adquirir ou adotar tecnologias já disponíveis ao invés de investir em P&D. As tecnologias adquiridas não são, todavia exclusivas e, portanto não significam qualquer vantagem competitiva contra as empresas internacionais que detém as patentes e que investem em P&D.

(20)

fazem não conseguem transformar o uso da tecnologia em ganhos de produtividade e competitividade.

O investimento em P&D permanece restrito às instituições públicas com recursos cada vez mais limitados. As empresas de capital externo estabelecidas no país, fazem uso de tecnologias de última geração para ganhar competitividade e mercado no Brasil, as atividades de P&D de produtos, processos, gestão permanecem, no entanto, sendo desenvolvidas no exterior, o que limita as possibilidades de desenvolvimento de um corpo técnico qualificado na indústria local.

2.1.3.2 Implicações Políticas

As idéias liberais das potências européias, precisamente a Grã-Bretanha, aliada aos Estados Unidos da América, começaram a ser implementadas, segundo GONÇALVES (1999) ainda na década de 70 no âmbito da liberalização do mercado financeiro. Estas idéias alcançaram êxito nos países em desenvolvimento à medida que estes, mergulhados no endividamento externo, passaram a depender da atração de investimentos internacionais. Esta situação forçou a liberalização da economia, a partir do final da década de 80, permitindo o ingresso de investimento externo direto (IED) como nunca antes visto e derrubando as barreiras alfandegárias existentes até então aos produtos estrangeiros.

Segundo AVERGUB (1999), entre 1988 e 1993, realizou-se amplo processo de liberalização comercial no Brasil, através do qual se concedeu maior transparência à estrutura de proteção, eliminaram-se as principais barreiras não-tarifárias e reduziram-se gradativamente o nível e o grau de proteção a indústria local.

(21)

Outro aspecto importante foi a iniciativa ou retomada de projetos de integração regional, denominado Novo Regionalismo (EITHER, 1998 apud AVERBUG 1999). Segundo este autor o novo regionalismo caracteriza-se por três aspectos fundamentais que contrastam com regionalismo antigo: a) boa parte dos países em desenvolvimento abandonou suas políticas autárquicas e protecionistas e se abriu ao comércio multilateral; b) o investimento direto estrangeiro, principalmente de países desenvolvidos em alguns países em desenvolvimento (PED) passou a ter papel fundamental na economia mundial; c) a liberalização do comércio de manufaturados entre países industrializados passou a ser muito mais completa do que no passado.

A despeito dos resultados efetivos alcançados com a formação de blocos regionais, importante destaque foi dado às tentativas de integração como o MERCOSUL6, ALCA7, entre outros acordos de comércio na década de 90.

Contudo, talvez o impacto mais significante da abertura no Brasil, que tem recebido maior atenção de parte dos estudiosos, tenha sido resultado da desregulamentação da economia no que se refere ao ingresso do investimento direto estrangeiro. O investimento estrangeiro gerou uma onda de fusões e aquisições, com destaque para a privatização das empresas estatais (ver tabela 6, abaixo).

Tabela 6 - Fusões e Aquisições Efetuadas, por Setor de Atividade – 1992-1998

Setores 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 Total

Alimentos, bebidas e fumo 12 28 21 24 38 49 36 208

Financeiro 4 8 15 20 31 36 28 142

Químico e petroquímico 4 18 14 13 18 22 25 114

Metalurgia e siderurgia 11 13 11 9 17 18 23 102

Elétrico e eletrônico 2 7 5 14 15 19 9 71

Telecomunicações 1 7 5 8 5 14 31 71

Outros 24 69 104 124 204 209 193 938

Total 58 150 175 212 328 372 351 1646

Fonte: KPMG apud GIAMBIAGI & MOREIRA (1999).

6 Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) é um bloco econômico formado por Argentina, Brasil, Paraguai

e Uruguai atualmente constituído de uma área de livre comércio e de uma união aduaneira em implementação, mas com pretensões de se tornar um mercado comum.

7 A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) é formada pelos países do continente americano, com

(22)

A maior presença de capital externo tem, segundo GONÇALVES (1999), efeitos em diversas dimensões: na esfera política no que se refere à soberania nacional e à correlação de forças políticas internas; no ambiente sócio-cultural em termos de valores, oferta e demanda de bens e serviços; e no contexto econômico nas esferas produtivo-real, comercial, tecnológica e monetário-financeira. As principais conseqüências para o país, segundo o autor, são a fragilidade institucional e a vulnerabilidade externa.

A fragilidade institucional se refere à capacidade – ou incapacidade – de o Estado nacional se contrapor aos interesses das empresas de capital externo quando estes não convergem com os interesses gerais do país. A maior presença de capital externo tem, portanto, reflexos não só na economia, mas também na política, uma vez que as grandes corporações internacionais dispõem de fontes externas de poder que os grupos privados nacionais não têm.

A importância que o capital externo passou a exercer na economia nacional faz com que o próprio Estado exerça suas políticas de forma submissa aos interesses do capital externo. As instituições públicas, segundo o autor, deterioraram-se, bem como o poder de controle, repressão e regulação do Estado-Nacional. Isso aliado à presença e ao poder das empresas transnacionais expõe o país a riscos e incertezas nas dimensões político-institucional e econômica.

JAGUARIBE (2005) é taxativo: “o neoliberalismo, implícito, na condução da economia, nas décadas de 80 e 90, paralisou o crescimento do país, deixou deteriorar-se seriamente sua infra-estrutura de transportes, comunicações e eletricidade, elevou dramaticamente seu endividamento externo e, sobretudo, interno e aumentou, perigosamente, a taxa de desemprego”.

2.1.3.3 Implicações Econômicas

(23)

importância destacada ao processo de privatização e ao tamanho do mercado como determinantes à entrada de capital estrangeiro.

Já para NONNEMBERG & MENDONÇA (2004), os determinantes dos investimentos externos diretos podem ser relativos às firmas e a características dos países de origem (push factors) ou a fatores locacionais (pull factors).No estudo os autores citam as principais teorias ou abordagens relacionadas ao tema e autores expoentes (entre eles OHLIN, 1933; HYMER, 1976; KINDLEBERGER, 1969; CAVES, 1971; BUCLEY & CASSON, 1976 e 1981; MARKUSSEN & VENABLES, 1995; BUCKLEY & GHAURI, 1991; DUNNING, 1993; VERNON, 1966; GRAHAM,

1978, 1998 e 2000; e CANTWELL, 2000; apud NONNENBERG & MENDONÇA,

2004).8

NONNENBERG & MENDONÇA (2004) analisaram uma amostra de 38 países em desenvolvimento para identificar quais determinantes são relevantes para o ingresso de IDE. As evidências coletadas indicaram que o PIB, o grau de escolaridade, o coeficiente de abertura econômica, a inflação e o risco país são fatores locacionais importantes na atração de investimentos. Por outro lado, o crescimento do mercado de capitais nos países desenvolvidos apresentou-se como determinante para o investimento no exterior por parte das economias mais ricas. Concluiu-se também que há relação de causalidade entre PIB e IDE, mas não no sentido IDE e PIB, ou seja, o aumento do PIB gera maior IDE, mas maior fluxo de IDE não aponta necessariamente para um aumento de PIB.

O impacto do fluxo de investimento externo para o Brasil foi o objeto de estudo de LAPLANE & SARTI (1999). Os autores apontam quatro questões que consideram relevantes a respeito do IDE: a) a internacionalização da estrutura produtiva nacional observada pela presença de empresas estrangeiras principalmente no processo de privatizações e pelo aumento de 31% em 1990 para 44% em 1996 de participação das firmas de capital externo nas vendas totais das quinhentas maiores empresas estabelecidas no país (ver tabela 7). No mesmo período as empresas nacionais tiveram redução da participação de 42,7% em 1990 para 35,7% em 1996 e as estatais de 26,2% para 20,2%; b) o aumento da remessa de lucros e dividendos, que em 1996 foi de US$3,8 bilhões, em 1998 alcançou US$6,5 bilhões, ou seja, um aumento de mais de

8 Para maiores detalhes sobre as teorias de internacionalização ver NONNENBERG & MENDONÇA

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70%; c) o impacto na balança comercial como resultado do aumento das importações de bens de capital para atender aos investimentos na estrutura produtiva e de insumos e componentes para a produção das empresas estrangeiras; d) o impacto na balança comercial resultante do IDE destinado à produção para exportação; e) Impactos na competitividade e encadeamentos produtivos e tecnológicos.

Os autores afirmam que os projetos de investimento das empresas estrangeiras, concentrados nos setores automobilístico e eletroeletrônico, visam prioritariamente suprir o mercado interno. Algumas empresas atraídas pela disponibilidade de recursos naturais do país atuam como plataformas de exportação, principalmente de commodities, produtos agro-alimentares ou minerais, ou de insumos industriais intensivos em energia. As demais empresas, no entanto, que atuam nos setores de bens de consumo e de bens de capital, têm seu foco no mercado interno e não priorizam a exportação, com exceção de um número reduzido que assumiu um papel de fornecedora regional, para o MERCOSUL, ou mundial de um produto ou componente específico. Mesmo nestes casos, em que o comércio intrafirma teve uma evolução significativa, os coeficientes de importação permanecem maiores que os de exportação. Isso significa que as matrizes estrangeiras atuam mais como fornecedoras de materiais do que como compradoras da produção das filiais brasileiras. A conclusão é que a expectativa de que o IED possa significar a geração de superávits na balança comercial não está se confirmando. O interesse do IED é primordialmente o de explorar o mercado brasileiro ou, no máximo, o mercado regional através do fluxo de comércio interfiliais no âmbito do MERCOSUL.

Tabela 7 - Brasil: participação das empresas Estatais e Privadas Nacionais e Estrangeiras no Total das Vendas das Quinhentas Maiores Empresas – 1975-1995.

Empresas 1975 1980 1985 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996

Estrangeiras 41,8 32,5 28,5 31,0 31,0 31,3 35,0 32,0 33,3 44,1

Nacionais 34,8 35,9 40,7 42,7 42,4 41,7 40,2 44,0 43,6 35,7

Estatais 23,4 31,6 30,8 26,2 26,6 27,0 24,8 24,0 23,1 20,2

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

(25)

Por outro lado, o IED, segundo os autores, favorece o desenvolvimento tecnológico e a competitividade da indústria, principalmente nos setores de bens de consumo duráveis e não duráveis. Isso se faz através da modernização de produtos e processos, bem como de métodos de gestão. A melhoria da competitividade é, no entanto acompanhada de um enfraquecimento da capacidade de a indústria gerar crescimento econômico e distribuição de renda, uma vez que utiliza tecnologias importadas e não contribui para geração local de inovação e elimina postos de trabalho.

MOREIRA (1999) analisou a indústria de transformação brasileira no período de 1995 a 1997 com o objetivo de buscar evidências em favor do argumento de que o IDE pós-abertura comercial teve características distintas dos investimentos do período anterior a 1990, caracterizado pelo regime de substituição às importações. Os investimentos mais recentes seriam, no seu ponto de vista, mais vantajosos para o Brasil em termos de custo benefício. Para evidenciar isso, buscou dados referentes a três aspectos: a) o progresso técnico; b) a concentração; e c) o comércio exterior.

A caracterização da indústria no Brasil antes da abertura da economia às importações é dada por baixo nível de eficiência, escalas pouco competitivas, preços domésticos muito superiores aos preços praticados no mercado internacional, tecnologias de produção e de gestão ultrapassadas e produtos tecnologicamente defasados, entre outros aspectos. As empresas estrangeiras então estabelecidas no país faziam parte deste contexto e pouco teriam contribuído para o desenvolvimento do país, para a inovação e para a melhoria do nível de competitividade da indústria.

A abertura do mercado à concorrência internacional teria gerado um processo de transformação na indústria em busca de maior eficiência. Essas mudanças estariam relacionadas a: a) maior volume de inovações; b) elevação do grau de concentração da produção doméstica; c) perda de participação do capital nacional na economia; d) maior inserção das empresas estrangeiras no comércio internacional.

(26)

inovação e de maior eficiência para fazer frente a concorrência dos produtos importados.

Da mesma forma os resultados encontrados relativos à concentração, indicaram uma reversão do contexto de dispersão da produção e de concentração de mercado observada no período do regime de substituição das importações. A partir de 1995, quando a abertura já se havia consolidado, observou-se um movimento em direção à uma maior concentração da produção como resultado provável da busca de ganhos de escala pelas empresas, bem como no sentido de uma menor concentração da participação no mercado, já que os produtos importados passaram a ter uma participação maior.

A concentração da produção foi, segundo o autor, mais expressiva nos segmentos intensivos em capital e com maior participação do capital externo. Em setores em que o capital estrangeiro tem menor participação o grau de concentração foi menor, o que sugere que as empresas de capital nacional movimentam-se mais lentamente na reestruturação em busca de ganhos de escala.

Para avaliar a participação de mercado das empresas estrangeiras o autor comparou dados da Receita Operacional Líquida das pessoas jurídicas de 1980 e 1995, conforme demonstrado na tabela 8. Neste intervalo a participação das empresas com mais de 10% de capital estrangeiro subiu de 28% em 1980 para 43% em 1995. ROCHA & KUPFER (2002) apud KUPFER (2005) também chamam a atenção para este dado indicando uma evolução da participação das empresas estrangeiras no mercado brasileiro de 14,8% para 36,4% de 1991 a 1999. No mesmo período as estatais reduziram sua participação de 44,6% para 24,3% e as firmas de capital nacional de 40,6% para 39,3%.

(27)

Tabela 8 - Participação das Empresas com Capital Estrangeiro1 na Receita Operacional Líquida da Indústria de Transformação – 1980–1995 (em %)

Setor por Intensidade de Fator 1980 1995 Variação

Intensivos em Capital

Outros Equipamentos de Transporte 14 63 349

Máquinas para Escritório e Informática 33 72 119

Máquinas e Materiais Elétricos 30 57 90

Material Eletrônico e de Comunicação 35 54 57

Máquinas e Equipamentos 41 64 55

Produtos Químicos 46 68 47

Produtos de Metal 23 28 20

Metalurgia Básica 34 40 19

Instrumentos Médico-Hospitalares, de Precisão e Óticos 28 29 2

Veículos Automotores 95 100 6

Produtos Têxteis 22 20 -11

Média2 36 54 68

Intensivos em Trabalho

Móveis e Diversos 3 24 713

Editorial e Gráfica 3 13 341

Couros e Calçados 2 5 117

Vestuário e Acessórios 5 11 105

Celulose e Papel 21 42 99

Média2 7 19 275

Intensivos em Recursos Naturais

Alimentos e Bebidas 16 28 78

Produtos de Madeira 5 9 73

Fumo 73 100 37

Minerais Não-Metálicos 28 33 17

Borracha e Plástico 40 35 -13

Média2 32 41 38

Média Geral2 28 43 111

Fonte: IRPJ de 1996 e BACEM (1998) para os dados de 1995, e WILLMORE (1987), para os dados de 1980, apud GIAMBIAGI & MOREIRA (1999, p. 353).

(1) Mais de 10% do capital total. (2) Média a dois dígitos

(28)

Em se tratando de importações, a propensão das empresas de capital externo é, independentemente do volume de faturamento, em geral superior a das empresas nacionais. MOREIRA (1999) conclui que a abertura comercial da economia brasileira alterou significativamente os determinantes e a forma de o investimento estrangeiro operar no país. Para o autor, as empresas estrangeiras, que no regime de substituição das importações investiam no Brasil basicamente como uma estratégia para superar as barreiras comerciais impostas pelo regime aos produtos importados, se obrigaram, tal como as empresas nacionais, a buscar maior eficiência, atualização tecnológica e ganho de escala para não sucumbir à concorrência dos produtos oriundos do exterior que passaram a entrar com preços mais baixos no país.

O êxito das empresas de capital estrangeiro, por contarem com a oferta de tecnologias e recursos de suas matrizes instaladas em mercados tecnologicamente avançados e competitivos, foi mais rápido do que das empresas de capital nacional. De tal forma que, as empresas com capital estrangeiro puderam atualizar-se tecnologicamente com mais agilidade e, mediante fusões e aquisições, expandir a sua capacidade de escala, garantindo produtos mais avançados e a preços bem mais próximos dos praticados internacionalmente. Daí o crescimento em termos de participação no faturamento das empresas de capital externo em detrimento da perda de participação das empresas nacionais.

Apesar da desnacionalização de diversos setores, principalmente de indústrias intensivas em capital, o autor sugere que os benefícios para o país foram maiores a partir da abertura, uma vez que permitiu o acesso da indústria, seja ela de capital externo ou nacional, a tecnologias de produto, produção e gestão mais compatíveis com os padrões internacionais, refletindo em ganhos de produtividade e competitividade.

(29)

2.1.4 Resumo das implicações dos determinantes da globalização

Um resumo dos resultados obtidos dos estudos apresentados neste capítulo é apresentado no Tabela 9, abaixo.

Tabela 9 - Determinantes, Mecanismos e Implicações da Globalização

Determinantes Mecanismos Implicações para o país

Políticos e institucionais • Desregulamentação do sistema econômico-financeiro

• Perda de poder do Estado

• Crise institucional

Econômicos

(sistêmicos e estruturais)

• Investimento Externo Direto (IED)

• Fusões e aquisições e privatização

• Comércio internacional

• Desnacionalização da estrutura produtiva do país

• Ganhos de escala pelos grandes grupos empresariais

• Vulnerabilidade externa

• Déficit comercial

• Crescimento da remessas de lucros e dividendos ao exterior

• Concentração da produção

• Perda de mercado pelas empresas nacionais

Tecnológicos

• Pesquisa e

desenvolvimento (P&D)

• Registro de patentes

• Aquisição de tecnologia

• Tecnologia da informação

• Melhoria do conteúdo tecnológico da produção mediante adoção de tecnologias importadas

• Déficit comercial de bens de tecnologia

• Pagamento crescente de direitos de propriedade

• Surgimento do comércio eletrônico

• Redução do conteúdo tecnológico nacional nos produtos e processos com extinção de iniciativas locais de desenvolvimento

• Permanência dos esforços de P&D limitados à iniciativa pública

• Aumento do número de registros de propriedade industrial, principalmente por estrangeiros.

2.2 Critérios de análise

Com base no desenvolvimento do referencial teórico, a coleta e análise dos dados primários e secundários referentes à indústria editorial de livros do Brasil foi realizada segundo os critérios de análise relacionados a seguir.

I. Na dimensão política institucional

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b) O envolvimento do Estado na produção e no mercado de livros.

II. Na dimensão econômica

a) A evolução do comércio internacional;

b) A evolução do investimento externo direto na indústria; c) A concentração da produção editorial;

d) A concentração do mercado editorial.

III. Na dimensão tecnológica

a) A atualização tecnológica da indústria; b) A evolução do comércio eletrônico;

c) As evoluções tecnológicas em termos de novos materiais; d) A origem das inovações (P&D x aquisição externa); e) A origem do conteúdo editorial (nacional x estrangeiro).

Adicionalmente aos critérios relacionados às três dimensões acima especificadas procurou-se obter dados indicativos do posicionamento das empresas de capital nacional com relação ao estágio ou iniciativas de internacionalização. Dado que o investimento externo no Brasil é evidente, este estudo buscou levantar a existência de ações e/ou projetos de fluxo contrário, ou seja, de desenvolvimento de mercados externos, seja através de exportações ou investimento direto em mercados estrangeiros pelas editoras brasileiras. Assim sendo, o último critério de análise consiste no seguinte tópico:

IV. Internacionalização da indústria

a) Estágio atual de internacionalização das editoras nacionais; b) Principais mercados de exportação e/ou de investimento;

c) Iniciativas e/ou projetos de médio e longo prazo com vistas ao mercado externo.

(31)

3 METODOLOGIA

Nos tópicos que se seguem são apresentados o desenho de pesquisa, os procedimentos de coleta e de análise dos dados e as limitações do método de pesquisa.

3.1 Desenho de pesquisa

Segundo a definição de GIL (2002) um método de pesquisa pode ser assim classificado: a) quanto aos objetivos; e b) quanto aos procedimentos técnicos.

Quanto aos objetivos, o método utilizado para esta pesquisa consiste em uma pesquisa exploratória uma vez que existem poucos estudos acadêmicos disponíveis sobre a indústria em questão, bem como trabalhos empíricos sobre os impactos da globalização em setores industriais no Brasil são escassos. Considera-se a pesquisa exploratória apropriada para este caso, pois seu objetivo é exatamente o de buscar uma maior familiaridade com o problema de pesquisa, o aprimoramento de idéias, a descoberta de intuições e a constituição de hipóteses e novas problemáticas de investigação.

Tabela 10 – Estratégias de Pesquisa

Estratégia Forma da questão de

pesquisa Exige controle sobre eventos comportamentais? Focaliza acontecimentos contemporâneos?

Experimento Como, por que Sim Sim

Levantamento Quem, o que, onde,

quantos, quanto Não Sim

Análise de arquivos Quem, o que, onde, quantos, quanto

Não Sim/Não

Pesquisa histórica Como, por que Não Não

Estudo de caso Como, por que Não Sim.

Fonte: YIN (2001, p. 24)

(32)

quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real (YIN, 2001). O estudo de caso diferencia-se da pesquisa histórica por focalizar acontecimentos contemporâneos (ver tabela 10). A pesquisa histórica, no entanto, conforme a abordagem de RICHARDSON (1999), estará também contemplada uma vez que a etapa de coleta e análise de informações documentais e bibliográficas corresponderá ao período histórico de 1990 a 2005.

O estudo de caso pode ser único ou múltiplo e a unidade de análise pode ser um ou mais indivíduos, grupos, organizações, eventos, países ou regiões (ROESCH, 1999). De acordo com esta afirmação optou-se para o presente trabalho por um estudo de caso setorial único da indústria editorial de livros no Brasil. Quanto à definição da unidade-caso será um estudo de caso coletivo que segundo GIL (2002) tem o propósito de estudar características de uma população. Esta população é constituída, neste caso, pelas principais empresas editoras nacionais9, pelas associações e organizações mais representativas ligadas ao mercado do livro10, pelos agentes literários de maior influência e demais organismos com efetiva influência na indústria.

3.1.1 Coleta de dados

A coleta dos dados secundários foi efetuada através de consulta a documentos, obras e fontes impressas ou eletrônicas de dados relacionadas nas referências bibliográficas deste relatório. Os dados primários foram obtidos por meio de entrevistas semi-estruturadas com representantes das unidades-caso, conforme tabela abaixo.11

Tabela 11 – Unidades-caso da pesquisa

Empresas Entidades de classe Agentes Literários

Grupo Editorial Record CBL – Câmara Brasileira do Livro Agência Literária BMSR Siciliano S/A SNEL – Sindicado Nacional dos Editores de Livros

Imago Editora

Foram efetivamente entrevistados representantes em cargos de direção das unidades-caso constantes na tabela 11. No caso das empresas, foram entrevistados

9 Ver Tabela 19 no item 4.2. 10 Ver Quadro 1 no item 4.2.

(33)

diretores responsáveis diretamente pelas decisões estratégicas de suas respectivas firmas e, portanto, capacitados plenamente pelo fornecimento das informações coletadas. Estas empresas foram o Grupo Editorial Record, a Siciliano e a Imago Editora.

Dentre as entidades de classe foram entrevistados diretores da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) que estão entre as entidades mais representativas da indústria editorial do Brasil. A entrevista também foi realizada com a Agência Literária BMSR.

Todas as entrevistas foram realizadas nos meses de Julho e Agosto de 2005 e registradas em gravação de áudio (fita cassete) com a devida autorização dos entrevistados.

Foram ainda contatadas as editoras Objetiva, Rocco, FTD e Nova Fronteira, e, dentre as entidades de classe, a Liga Brasileira de Editoras (LIBRE). Estas empresas e entidades, no entanto, não estão contempladas no estudo porque não responderam à solicitação ou não estavam disponíveis no período em que as entrevistas foram realizadas, ou ainda, estavam passando por processos de aquisição no período, no caso da editora Objetiva e da Nova Fronteira.

3.1.2 Análise dos dados

A resposta à pergunta de pesquisa foi alcançada mediante o exame e interpretação predominantemente qualitativa dos dados coletados.

Para tanto a análise baseou-se na proposição teórica12 de GONÇALVES (1999) de que a globalização é resultado de determinantes tecnológicos, políticos-institucionais e sistêmicos-estruturais. Utilizando-se destas três dimensões de análise buscou-se, através de fontes diversas de dados13, evidenciar como estes determinantes afetaram a indústria editorial de livros no Brasil no período de 1990 até 2005.

YIN (2001) sugere quatro métodos principais de análise qualitativa para estudos de caso: adequação ao padrão; construção da explanação; análise de séries temporais; e modelos lógicos de programa.

(34)

De acordo com essa classificação, o presente estudo utilizou o método de adequação ao padrão uma vez que o objetivo foi analisar o efeito da globalização na indústria editorial no período posterior ao início da abertura econômica do Brasil, buscando evidenciar que estes efeitos são decorrentes de determinantes tecnológicos, político-institucionais e sistêmico-estruturais de acordo com o padrão proposto por GONÇALVES (1999).

Pode-se afirmar que a pesquisa histórica também foi utilizada no presente estudo, uma vez que a busca de informações da década de 1990 suporta a explicação da realidade atual da indústria editorial de livros. Neste sentido RICHARDSON (1999) esclarece que a pesquisa histórica tem como um de seus objetivos básicos contribuir para a solução de problemas atuais através do exame de acontecimentos passados. Ainda segundo o autor, a análise dos dados da pesquisa histórica é mais qualitativa, sem muita utilização de métodos estatísticos. Geralmente, no começo de uma pesquisa histórica não é possível determinar com exatidão toda a informação requerida, pois muitos dados surgem da análise das partes documentais.

Pelo fato de a análise primordialmente qualitativa de dados históricos estar sujeira a interpretações e subjetividades, RICHARDSON (1999) propõe um rigor acentuado na avaliação das informações a considerar e de suas fontes. Segundo ele, o pesquisador, além de avaliar as fontes, deve analisar as informações produzidas, procurando estabelecer sua consistência interna e externa e seriedade no momento que ocorrem os fatos, examinando opiniões sobre a capacidade, integridade e qualidade das informações produzidas. O pesquisador deve examinar também a respeitabilidade da fonte no transcurso dos anos, procurando referências existentes em relação à própria fonte e ao trabalho produzido por ela.

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Após verificada a autenticidade do documento e a exatidão da informação registrada o pesquisador terá condições de iniciar a sua interpretação.

Para YIN (2001, p. 57), no entanto, a validade interna é uma preocupação apenas para estudos de caso causais (ou explanatórios) nos quais o pesquisador conclui, equivocadamente, que há uma relação causal entre x e y sem saber que um terceiro fator – z – pode, na verdade, ter causado y. (...) Essa lógica não é aplicável aos estudos descritivos ou exploratórios que não estão preocupados em fazer proposições causais.

A evidência externa consiste na prova de que uma informação ou fato histórico é realmente verdadeiro e não falso ou não autêntico. Segundo RICHARDSON (1999) para tratar da consistência externa de um documento, compara-se dito documento com a informação do mesmo acontecimento proporcionada por outras fontes. Se duas fontes de comprovada confiabilidade coincidem com a informação apresentada no documento em exame, pode-se aceitar essa informação como um fato histórico. Assim para aceitar como fato um dado histórico precisa-se do seguinte: a) corroboração do dado por duas fontes de reconhecida confiabilidade; e b) nenhuma fonte confiável deve apresentar uma visão contrária dos acontecimentos relatados.

YIN (2001) sugere ainda teste da validade do constructo durante a fase de coleta de dados. Para tanto recomenda: a) selecionar os tipos específicos de mudanças que devem ser estudadas (em relação aos objetivos originais do estudo); e b) demonstrar que as medidas selecionadas dessas mudanças realmente refletem os tipos específicos de mudanças que foram selecionadas. Neste sentido, os tipos de mudanças selecionados para este estudo são aqueles propostos por GONÇALVES (1999) e as medidas utilizadas para evidenciar as mudanças foram adotadas após a etapa de pesquisa documental.

As evidências foram buscadas e apresentadas através da construção e interpretação de tabelas, gráficos, números e depoimentos coletados referentes ao período em questão e aos aspectos contemplados em cada uma das três dimensões propostas pela teoria.

Visando proporcionar maior confiabilidade aos resultados da pesquisa YIN (2001) recomenda o uso de protocolo de estudo de caso14 que se destina a orientar o

14 Sobre o protocolo de estudos de caso, ver YIN (2001, p.60 e 89-91). No presente estudo foram

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pesquisador ao conduzir o estudo de caso. O intuito é certificar-se de que, se um pesquisador seguiu exatamente os mesmo procedimentos descritos por outro que veio antes dele e conduziu o mesmíssimo estudo de caso novamente, o último pesquisador deve chegar às mesmas descobertas e conclusões.

3.1.3 Limitações do método

Apesar das controvérsias e objeções que existem em relação ao estudo de caso como método de pesquisa, especificamente quanto a possíveis vieses por falta de rigor científico e dificuldades de gerar resultados generalizáveis, ainda assim ele é um método muito utilizado e aplicável a investigações com propósitos exploratórios (YIN, 2001).

Para evitar conclusões tendenciosas, dado que as análises qualitativas estão sujeitas a um nível considerável de subjetividade, há que se ter extremo cuidado para que as interpretações sejam feitas com o máximo de imparcialidade, isenção e rigor científico.

Outra limitação, embora controversa, do método de estudo de caso é que ele fornece pouca base para gerar resultados generalizáveis. A tal afirmação, YIN (2001) argumenta que os estudos de caso, tal como os experimentos, são generalizáveis a proposições teóricas, e não a populações ou universos. Nesse sentido, o estudo de caso, como o experimento, não representa uma amostragem, e o objetivo do pesquisador é expandir e generalizar teorias (generalização analítica) e não enumerar freqüências (generalização estatística).

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4 DESCRIÇÃO DO CASO: INDÚSTRIA EDITORIAL DE LIVROS NO BRASIL

Este capítulo contém seis tópicos que apresentam, na seqüência, um breve panorama do mercado mundial de livros, o mercado brasileiro de livros, o impacto das dimensões tecnológica, política e sistêmica da globalização na indústria nacional de livros e, finalmente, um tópico sobre a internacionalização da empresas editoriais brasileiras.

4.1 Panorama do mercado mundial de livros

Os Estados Unidos da América constitui-se no maior mercado consumidor de livros e também no maior produtor de artigos impressos e o maior exportador desta categoria de produtos. Na seqüência aparecem Alemanha, Reino Unido e França. Considerando-se exclusivamente o segmento de livros, os Estados Unidos aparecem também como o maior importador e o principal exportador mundial com uma produção industrial estimada em US$ 24 bilhões em 1999 e US$ 23 bilhões em 1998. Nestes mesmos anos as exportações americanas superam US$ 2 bilhões e as importações US$

1,4 bilhões (US DEPARTMENT OF COMMERCE AND MCGRAW-HILL

COMPANIES, 1999 apud GORINI & BRANCO, 2000).

Em número de títulos publicados, porém os americanos são superados pelo

Reino Unido e pela Alemanha (ver tabela 12). Há nos EUA uma tendência à

Imagem

Tabela 1 : Perspectivas da Globalização
Tabela 3 - Índices de Produção Industrial: 1991-2000 – Base Fixa (1991=100)
Figura 1 -Participação Percentual do Número de Empresas que Implementaram Inovações  1998-2000  31,5213,9411,286,3 0 10 20 30 40Que implementaraminovaçõesSó processoProduto e processoSó produto
Figura 2 -Importância das Atividades de Inovação Realizadas – 1998-2000  76,6359,0644,0834,1427,7816,368,21 0 20 40 60 80
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Referências

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