Larissa Siqueira Chaves
EVOLUÇÃO E SAZONALIDADE CLIMÁTICA DAS DOENÇAS
CARDIOVASCULARES E RESPIRTÓRIAS
EM PASSA QUATRO–MG.
LARISSA SIQUEIRA CHAVES
EVOLUÇÃO E SAZONALIDADE CLIMÁTICA DAS DOENÇAS
CARDIOVASCULARES E RESPIRTÓRIAS EM
PASSA QUATRO–MG.
Orientadora: Sandra Elisa Contri Pitton
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus de Rio Claro, para obtenção do grau de Ecólogo.
cardiovasculares e respiratórias em Passa Quatro-MG / Larissa Siqueira Chaves. - Rio Claro : [s.n.], 2011 61 f. : il., figs., gráfs., tabs., mapas
Trabalho de conclusão de curso (Ecologia)
-Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro
Orientador: Sandra Elisa Contri Pitton 1. Geografia médica. 2. Enfermidades. 3. Morbi-mortalidade. I. Título.
Este trabalho tem o objetivo de analisar a morbi-mortalidade por doenças do aparelho respiratório e circulatório na população de Passa Quatro - MG, descrevendo o comportamento das internações e dos óbitos segundo os tipos de agravos, o sexo e a faixa etária. As informações, que serviram de base para o estudo, foram obtidas através das Autorizações de Internações Hospitalares do SUS – Ministério da Saúde (DATASUS). Observou-se que as doenças cardiovasculares, no geral, levaram a mais internações e óbitos, sendo a população feminina a mais afetada. Houve um decréscimo no número de internações por pneumonia, e aumento nos casos de DPOC em mulheres. As internações por doenças respiratórias apresentaram um padrão sazonal mais marcante, principalmente pneumonia e asma.
1. INTRODUÇÃO ...4
2. OBJETIVO...7
3. METODOLOGIA...8
4. O ESTADO DA ARTE ...10
4.1. A Geografia Médica ...10
4.2 As Doenças Respiratórias ...16
4.3. As Doenças Circulatórias...21
5. ÁREA DE ESTUDO...27
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO...31
6.1. Morbidade Hospitalar...31
6.2. Mortalidade...40
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...50
1. INTRODUÇÃO
Atualmente as doenças do aparelho respiratório e circulatório são as
principais causas de óbitos no mundo, segundo OMS, Organização Mundial da
Saúde (2008). As que provocaram maior número de mortes, no ano de 2004, foram
as doenças isquêmicas do coração (12,2%), doenças cerebrovasculares (9,9%),
infecções do trato respiratório inferior (7%) e doenças pulmonares obstrutivas
crônicas (5,1%). Prevêem-se para o ano de 2030 que essas mesmas enfermidades
serão as principais responsáveis pelos óbitos do mundo (Tabela 1).
Tabela 1 – Ranking das principais causas de morte prevista para o ano de 2030
Fonte: OMS, 2008
No Brasil as doenças circulatórias são as maiores causas de morte, 27,88%
da população brasileira morreu no ano de 2004 em decorrência de doenças do
respiratório ocupam a quinta posição no ranking de causas de mortes no país,
contabilizando 9,98% de óbitos ocorridos no ano de 2004.
Os índices de mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares têm
se mostrado, muitas vezes vinculados a variações climáticas. A maior parte das
mortes ocasionadas pelo frio está mais relacionada aos efeitos diretos da exposição
do corpo a temperaturas mais baixas do que ao aumento do estresse no sistema
circulatório. Da mesma forma, em ambientes com calor moderadamente alto, as
mortes parecem estar mais relacionadas a efeitos diretos da exposição do corpo ao
calor, sendo que o aumento do estresse cardiovascular não tem grande relevância
(KUNST, LOOMAN e MACKENBCH, 1993).
Outros autores também mostraram que há relação entre o aumento da
incidência de doenças cardiovasculares com baixas temperaturas e umidade, que se
verifica nos meses de inverno, principalmente julho e agosto. Sendo assim,
podemos citar os trabalhos de Pitton e Domingos (2004), Castilho (2006),
Pascoalino (2008) e Mitchell, Blane e Bartley (2002) que mostram justamente isso.
No que concerne às doenças respiratórias, os baixos índices de umidade
relativa do ar fazem com que as concentrações de partículas em suspensão e vírus
aumentem, o que favorece o surgimento de casos de diversas doenças respiratórias.
A alta amplitude térmica e a poluição atmosférica também são fatores positivos para
o aumento do número de pacientes com essas doenças. Por esse motivo, os meses
de inverno são aqueles que apresentam a maior incidência de doenças do aparelho
respiratório (CASTILHO, 2006).
Além da mortalidade, outro aspecto extremamente importante, é a morbidade,
ou seja, as internações hospitalares que são realizadas em decorrência de um
estado de saúde agravado por certa doença. Segundo Toyoshima, Ito e Gouveia
(2004)
as doenças respiratórias têm também um papel de destaque na morbidade da população, sendo freqüente causa de absenteísmo na escola e no trabalho, além de exercer enorme pressão sobre os serviços de saúde.
Porém, informações mais precisas sobre morbidade foram disponibilizadas
somente a partir do ano de 1997 pelo Ministério da Saúde, através do Sistema de
Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS).
As informações referentes à morbidade, adquiridas através do SIH,
clínico, custo da hospitalização, aspectos da epidemiologia, além de subsidiar
informações para promover medidas que evocam o planejamento e a tomada de
decisão, visando à organização dos serviços de saúde e o controle de doenças. Por
esse motivo constituem uma rica fonte de informações sobre as internações e suas
causas (LESSA et al., 2000; GAWRYSZEWSKI, KOIZUMI e MELLO-JORGE, 2004).
Todas as análises são referentes a uma cidade, Passa Quatro-MG, uma vez
que a metodologia inicial prevista de comparar os dados entre essa cidade e a de
Cruzeiro-SP não foi possível, pois a comparação entre duas cidades tão desiguais
seria praticamente impossível. Por esse motivo a cidade de Passa Quatro foi
escolhida para a elaboração e análise dos dados, foi uma escolha meramente
2. OBJETIVO
O objetivo geral do presente trabalho consistia em analisar a incidência e a
evolução das patologias cardiovasculares e respiratórias ao longo do período de
1999 a 2008 em duas cidades vizinhas, Passa Quatro-MG e Cruzeiro-SP. Porém,
devido a dificuldades de ordem comparativa entre essas cidades, não foi possível a
comparação, principalmente porque a diferença populacional entre elas é mais do
que o dobro. Assim, o estudo será focado somente em um município, Passa
Quatro-MG.
Os objetivos específicos são, portanto, realizar um breve levantamento
histórico do município de Passa Quatro, analisar as características climáticas da
cidade e obter um levantamento da ocorrência de doenças do aparelho respiratório e
3. METODOLOGIA
A primeira etapa de elaboração deste estudo foi o levantamento bibliográfico
referente à Geografia Médica e às doenças respiratórias e circulatórias.
Posteriormente, os dados que serviram de base para o desenvolvimento do
trabalho foram aqueles disponibilizados pelo DATASUS, na página da Internet
referente a “Informações de Saúde”, na qual inclui os dados de Morbidade e
Mortalidade analisados. A base de dados do DATASUS é proveniente das
informações hospitalares do SUS, do Sistema de Informação Hospitalar (SIH), elas
são oriundas dos hospitais públicos e particulares conveniados que emitem AIH
(Autorização de Internação Hospitalar), que por sua vez são processadas e
disponibilizadas na Internet (Figura 3). A classificação das doenças é de acordo com
a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com
a Saúde (CID -10), utilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a partir do ano de
1998.
Para tanto, foi selecionado o período de 1999 a 2008, como forma de
contabilizar dez anos de dados. Esse intervalo foi escolhido a partir do ano de 2008,
que é o último ano com dados completos disponibilizados pelo DATASUS.
Figura 3: Esquema da obtenção de dados pelo DATASUS (LESSA et al., 2000)
Assim sendo, após análise preliminar do período de 10 anos, através da
por doenças respiratórias e circulatórias foram selecionados para as análises mais
detalhadas realizadas a posteriori, que incluem: a representação de quatro
enfermidades, dispostas mensalmente, que acometem mais frequentemente a
população; a representação por faixa etária para cada ano (de maior e de menor
ocorrência), grupo de doença (cardiovascular e respiratória) e as quatro
enfermidades mais frequentes; a representação por sexo para cada ano, grupo de
doença (cardiovascular e respiratória) e as quatro enfermidades mais frequentes. A
mesma metodologia foi aplicada para os dados de mortalidade. Todos os dados
mencionados foram dispostos em gráficos, perfazendo um total de 35 gráficos.
4. O ESTADO DA ARTE
4.1. A Geografia Médica
A humanidade e o clima são mutuamente influenciados. O homem interfere
no clima através de muitas ações, como urbanização, industrialização,
desflorestamento, atividades estas que podem alterar o clima local e regional
(AYOADE, 1996). Da mesma forma, o clima influencia em muitas atividades
realizadas pelo homem como a agricultura, o vestuário e a moradia, além disso,
variações climáticas atingem diretamente a saúde e bem-estar humanos, havendo
íntima relação entre o tipo climático vigente e a incidência de determinadas doenças,
principalmente às que se referem ao sistema respiratório, seja por meio da alteração
da resistência do corpo humano, seja propiciando a propagação e dispersão de
microorganismos patogênicos (AYOADE, 1996). Porém, o clima por si só não é
capaz de gerar a doença, juntamente com ele atuam diversos fatores tanto
ambientais, socioeconômicos, quanto do próprio indivíduo sujeito a ela (CASTILHO,
2006). Tomemos como exemplo o continente africano, no qual, podem-se citar dois
fatores que conjuntamente agravam não só as patologias, mas o estado geral da
saúde coletiva. São eles a alta incidência de AIDS na população africana e a
pobreza que a assola. As consequências da ação conjunta desses fatores são
maiores nesse continente do que em qualquer outra parte do mundo, eles são
capazes de gerar grande impacto na ocorrência de doenças respiratórias, assim
como a maior incidência em mulheres que em homens (DESALU; OLUWAFEMI;
OJO, 2009).
A saúde pública, principalmente em regiões urbano-industriais é um assunto
de grande repercussão, mas, foi somente com o advir da Revolução Industrial que
se iniciaram os estudos referentes à qualidade de vida em áreas urbanas. A partir do
século XX, esse tipo de abordagem passou a ser mais frequente, mas foi nas
décadas de 1960 e 1970, com o surgimento dos geógrafos-climatólogos que várias
abordagens sobre o assunto surgiram (ZEN, 2004). Esses estudos, relacionados ao
ambiente e à saúde, na área da geografia são abordados pela Geografia Médica.
Para Lacaz (1972) a Geografia Médica mostra o quão importante o “meio
O surgimento da Geografia Médica se deu juntamente com o surgimento da
própria medicina com Hipócrates aproximadamente 480 a.C, quando este publicou a
obra intitulada “Dos ares, das águas e dos lugares”. É aí que pela primeira vez
associam-se os fatores externos aos malefícios que atingem os seres humanos;
fazendo uso dos princípios geográficos, Hipócrates, avaliou os fatores geoclimáticos
que podem influenciar nas endemias e epidemias numa população. É a primeira vez
que se concede a fatores externos a responsabilidade das patologias humanas
(PARAGUASSU-CHAVES, 2001).
Nos séculos XVI e XVII, a Geografia Médica ganha impulso, após um período
obscuro da Idade Medieval, com o advento do Mercantilismo e a descoberta de
novas terras, além das indo-européias. Os colonizadores se vêem obrigados a
conhecer as doenças dessas novas colônias, seja em prol do comércio, seja
somente para a própria proteção física (PARAGUASSU-CHAVES, 2001).
Durante o século XIX, como resultado dos estudos realizados por Louis
Pasteur, que os trabalhos referentes à medicina geográfica ficaram delegados
novamente à obscuridade científica (CASTILHO, 2006). A visão e os
descobrimentos de Pasteur tiveram, portanto, um significado negativo para o
desenvolvimento da Geografia Médica, uma vez que delegavam maior importância
ao agente etiológico em si do que ao meio ambiente inserido nesse contexto
(PARAGUASSU-CHAVES, 2001).
Segundo Barros (2006), até meados do século XX, considerado a fase inicial
do progresso da Geografia Médica, os trabalhos desenvolvidos se baseavam na
epidemiologia geográfica com grande influência das áreas médica e biológicas. Uma
vez que anteriormente a esse período os trabalhos encontravam-se sob a óptica da
medicina, sendo a geografia somente o meio, uma ciência auxiliar. No Brasil, os
poucos pesquisadores que existiam na área eram predominantemente da área
médica, como médicos sanitaristas e epidemiologistas.
Um dos grandes nomes da geografia mundial foi Sorre, que contribuiu e muito
para a Geografia como ciência, introduzindo conceitos que mudaram a visão da
climatologia até então (SPERANDIO, 2006). Max Sorre (apud Sperandio, 2006, p.
55-56):
A climatologia dinâmica é compreendida como sendo o estudo da circulação
atmosférica, o que compreende a análise das massas atmosféricas, assim como os
fenômenos resultantes de seus encontros tais como frentes, ciclones, entre outros
(NIMER, 1979). Nimer (1979) faz uma distinção de forma clara e simples entre
climatologia dinâmica e a meteorologia:
Enquanto o meteorologista se interessa por massas de ar e frentes como problemas individuais que ele tem que enfrentar em seu trabalho diário, o climatologista dinâmico, conforme define Bergeron, usa-os como instrumentos para explicar os fenômenos climáticos persistentes. Ele não está, como o meteorologista, interessado em nenhum ciclone individualizado, mas sim na persistência de certos tipos de ciclone ou de frentes, em suas tendências a seguir certas trajetórias e em suas diferenciações ou analogias de uma região para outra. Em suma, está interessado em outra feição da circulação atmosférica: compreender o porquê de certos anos serem mais úmidos ou mais frios que outros.
Grande parte da obra sorreana enfoca a relação existente entre os aspectos
climáticos e as doenças (BARROS, 2006). Foi na obra intitulada “Les Fondements
de la Géographie Humaine“ (1951) que Sorre (apud Barros, 2006, p. 3-4) aborda as
relações entre os tipos de tempo e a fisiologia dos organismos, assim como a
importância da Geográfica Médica. Ainda, segundo o mesmo autor, muitos médicos
tentaram medir a correlação entre os aspectos geográficos e climatológicos à
fisiologia humana.
Segundo Lemos e Lima (2002) Sorre criou, ainda, o termo complexo
patogênico que “se constitui a partir dos agentes causais, seus vetores, o meio
ambiente e o próprio ser humano”. Para Sorre apud Paraguaçu-Chaves (2001) esse
termo se refere à probabilidade de a saúde do homem ser afetada pelo ambiente no
qual ele está inserido, principalmente no que se refere às doenças
infecto-parasitárias, sendo que os complexos patogênicos são infinitos em número e em
variedade e o seu conhecimento constitui a base para toda a Geografia Médica.
Dessa forma, o conceito de complexo patogênico viria a tornar mais vasta à
capacidade de análise e elucidação que tinha a geografia, até então restrita à
caracterização do meio físico, na medida em que abordava as relações entre o meio
e o homem no contexto da ecologia. Este conceito permitiu que se abordasse, sob
sua própria ótica, uma ampla diversidade de doenças infecciosas e parasitárias,
Anteriormente a Sorre e seu conceito de complexo patogênico, Henry Sigerist,
George Rosen, Erwin Ackerknecht e Fielding H. Garrison, nas décadas de 1930 e
1940, no “Bulletin of the History of Medicine”, já tentavam associar os elementos da
natureza com o surgimento de determinados agravos em uma população, ou seja,
como o clima, a vegetação, a umidade, a poluição urbana, afetariam a saúde da
população. Foi a partir daí que começou a surgir a Topografia Médica, que utiliza
mapeamento como ferramenta principal para relacionar saúde e ambiente num
determinado local, dando uma nova perspectiva aos estudos que consideravam os
aspectos ambientais como agentes formadores de determinadas doenças em um
local especifico (VALENCIUS, 2000; EDLER, 2001).
Dentro do âmbito da Topografia Médica pode-se citar o trabalho de Santos et
al. (2001), no qual, os autores utilizam Sistema de Informação Geográfica (SIG) para
espacializar as residências de vítimas de acidentes de transportes, homicídios e
suicídio na cidade de Porto Alegre - RS, com o intuito de identificar pontualmente
esses eventos. Estudos que utilizam como ferramenta o SIG, na Geografia Médica,
são primordiais para o planejamento de medidas que concernem à saúde coletiva,
auxiliando na prevenção de óbitos, na medida em que pontuam os grupos
vulneráveis aos fatores correlacionados à origem dos mesmos (ARAÚJO, J. R.;
FERREIRA, E. F.; ABREL, M. H. N. G, 2008; EDLER, 2001).
No Brasil, os estudos de Afrânio Peixoto foram os precursores em
correlacionar algumas enfermidades com os estados climáticos brasileiros, iniciando,
pois, a Climatologia Médica no Brasil, e consequentemente, desmitificando o que se
denominavam de doenças tropicais (SOUZA, C. G.; SANTA’ANA NETO, J. L., 2008).
Um dos grandes nomes da Geografia Médica no Brasil foi Carlos da Silva
Lacaz (1915 – 2002) que juntamente com colaboradores elaborou a obra intitulada
“Introdução à Geografia Médica do Brasil”, trabalho este que possui características
mais descritivas que conceitual, ou seja, a obra está mais vinculada a traçar padrões
de distribuição regional, que a buscar pela interdisciplinarização do assunto
(FERREIRA, 1991).
Para Lacaz (1972) “na Geografia Médica, o estudo do enfermo é inseparável
do seu ambiente, do biótopo onde se desenvolvem os fenômenos de ecologia
os parâmetros climáticos temperatura do ar, umidade, precipitação, pressão atmosférica e ventos afetam a saúde humana de forma direta (sensação de conforto, mortalidade e morbidade por doenças sistêmicas) e indireta (doenças infecciosas transportadas por vetores-ar, água, solo e alimentos), pois o corpo humano está em permanente contato com seu meio ambiente atmosférico pelo intermédio de trocas térmicas, hídricas e gasosas. [...] Por outro lado, muitas doenças têm ocorrência sazonal, o que está provavelmente relacionado às condições climáticas, como escarlatina, difteria e icterícia, que na Suíça ocorrem principalmente no inverno, enquanto o sarampo, gripe e catapora são mais comuns na primavera. Enfermidades respiratórias e do coração têm o máximo no fim do inverno e início da primavera, na Inglaterra e Austrália (PITTON, S. E. e DOMINGOS, A. E.,2004).
Outro trabalho de grande impacto foi a obra “Geografia da Fome” de Josué de
Castro, de 1965, na qual o autor apresenta um estudo amplo sobre a insegurança
alimentar no Brasil, em cada região do país, associando a carência alimentar com
fatores sociais, econômicos, políticos e da saúde.
A fome, no Brasil, que perdura, apesar dos enormes progressos alcançados em vários setores de nossas atividades, é conseqüência, antes de tudo, do seu passado histórico, com os seus grupos humanos sempre em luta e quase nunca em harmonia com os quadros naturais. Luta, em certos casos, provocada e por culpa, portanto, da agressividade do meio, que iniciou abertamente as hostilidades, mas quase sempre por inabilidade do elemento colonizador, indiferente a tudo que não significasse vantagem direta e imediata para os seus planos de aventura mercantil. Aventura desdobrada em ciclos sucessivos de economia destrutiva, ou pelo menos desequilibraste da saúde econômica da nação: a do pau-brasil, a da cana-de-açúcar, a da caça ao índio, a da mineração, a da lavoura nômade, a do café, a da extração da borracha, e finalmente a da industrialização artificial baseada no ficcionismo das barreiras alfandegárias e no regime da inflação. [...] Em última análise, esta situação de desajustamento econômico e social foi conseqüência da inaptidão do estado político para servir de poder equilibrante entre os interesses privados e o interesse coletivo (CASTRO, 1965).
Audy (1954) ao descrever os padrões de doenças na Somalilândia, república
democrática localizada no Chifre da África, associou as infecções respiratórias às
moradias da população que ali reside, conjunto de casebres amontoados, que
facilitam a propagação de doenças, ao clima seco e frequentes tempestades de
areia. Também observou que os efeitos de algumas enfermidades são agravados
pela desnutrição da população.
Em 1958, May cunhou o termo ecologia da doença, que segundo Mayer
(1999) é baseado no conceito de que para que uma doença ocorra são necessários
agentes e hospedeiros que entrem em contato mútuo, num mesmo lugar, num
físico e social. Dessa forma, a ecologia da doença aborda como a humanidade,
incluindo a sua cultura, organização social e comportamento; o mundo físico, que
inclui a topografia, vegetação e clima; a biologia, que alberga a ecologia do vetor e
do patógeno, interagem conjuntamente na produção de focos de doenças. Embora o
termo ecologia da doença tenha sido desenvolvido para doenças infecciosas e
doenças decorrentes da desnutrição, também pode ser aplicado às doenças
crônicas como doenças cardiovasculares, câncer, doenças neurológicas, sendo que
todas essas enfermidades, de alguma forma estão correlacionadas com fatores
políticos, sociais, econômicos e culturais (MAYER, 1996).
Para May a relação homem e ambiente é indissociável, da mesma forma que
o meio lhe provém alimento, também consiste num reservatório de doenças.
[...] from the Waters the people get their food, also their cholera, their dysenteries, their typhoid fever, their malaria; from the earth they get their hookworm; from the crowded villages they get their tuberculosis, and their yaws; from the type of housing they have been forced to adopt they get their plague and typhus; and from the food which earth, temperature, and rain produce, their protein deficiencies, their beri beri (May apud Mayer, 1996).
Sendo assim, os trabalhos de May e de Josué de Castro nos permitem inferir
que a Geografia Médica está muito além da distribuição espacial das patologias; as
questões sociais, o modo como elas interagem e influenciam na saúde e bem estar
do homem, também possuem grande relevância.
Devido à grande variabilidade climática do Brasil e também por se constituir
num tema de grande relevância para a qualidade de vida da população, os estudos
sob a ótica da Geografia Médica aqui se deram com maior frequência relacionando o
clima e o surgimento de determinadas doenças. Embora não houvesse muitos
profissionais que se dedicaram a estudos relacionados à Geografia Médica, aqueles
que se propuseram a isso eram principalmente médicos, epidemiologistas,
sanitaristas, entre outros (CASTILHO, 2006; BARROS, 2006).
Com relação aos trabalhos recentes, no Brasil, dentro do âmbito da Geografia
Médica podemos citar o trabalho de Sobral (1988) no qual se delimita uma conexão
direta entre a incidência de agravos respiratórios em crianças na Grande São Paulo
em função do aumento da poluição atmosférica.
Castro (2000), em seu trabalho, mostra a influência do clima urbano na
mesma forma, Castilho (2006) analisa a incidência e distribuição de doenças
cardiovasculares e respiratórias na população de São José do Rio Preto, SP,
associando-as a fatores sociais e econômicos da população.
Paraguaçu-Chaves (2001); Ferreira (2003); Pitton e Domingos (2007) e
Mazetto (1996 e 2001) também contribuíram com trabalhos significantes para a
Geografia Médica brasileira.
As pesquisas na área da Geografia Médica, no Brasil, estão em crescimento
contínuo. A organização do 1º Simpósio Nacional de Geografia da Saúde em
Presidente Prudente-SP, no ano de 2003, é um exemplo disso, sendo que
subsequentemente ocorreu a segunda edição do evento, em 2005, no Rio de
Janeiro.
4.2. As Doenças Respiratórias
São denominadas doenças respiratórias aquelas que de alguma forma
atingem o trato e os órgãos que compõe o aparelho respiratório. De acordo com a
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde (CID-10) baseada na Nomenclatura Internacional de Doenças, estabelecida
pela Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças do aparelho respiratório
estão compiladas no Capitulo X do CID-10. Neste capítulo há treze agrupamentos,
nos quais as enfermidades respiratórias se subdividem, são eles: Infecções agudas
das vias aéreas superiores; Influenza (gripe) e pneumonia; Outras infecções agudas
das vias aéreas inferiores; Outras doenças das vias aéreas superiores; Doenças
crônicas das vias aéreas inferiores; Doenças pulmonares devidas a agentes
externos; Outras doenças respiratórias que afetam principalmente o interstício;
Afecções necróticas e supurativas das vias aéreas inferiores; Outras doenças da
pleura; Outras doenças do aparelho respiratório; Pneumonia em doenças
classificadas em outra parte; Derrame pleural em afecções classificadas em outra
parte; Transtornos respiratórios em doenças classificadas em outra parte. Sendo
que em cada agrupamento há diversas doenças correlacionadas (OMS, 2011).
Grande parte dos estudos atuais sobre doenças respiratórias se baseia na
associação entre a incidência dessas doenças e a poluição atmosférica. Num estudo
realizado em Londres, Inglaterra, observou-se que o ozônio, dentre todos os outros
internações por doenças respiratórias. A conclusão a que chegou o estudo é que o
índice fixado pelo Expert Panel on Air Quality Standards de 50 ppb de O3 possui
uma margem de segurança baixa ou quase nula, e que para tanto precisa ser
revisado (PONCE DE LEON et al., 1996).
Num outro estudo dos mesmos autores, porém focando a mortalidade em
Londres, encontrou-se que mortalidade diária estava sim correlacionada com
diversos indicadores de poluição, principalmente ozônio, e fumaça preta. Também
se observou associações com nitrogênio, dióxido de carbono e dióxido de enxofre,
mas isto ocorreu devido ao fato desses poluentes estarem associados ao ozônio e à
fumaça preta. Assim, a principal implicação para a saúde pública reside no fato de
que os índices de poluição medidos afetam negativamente o pulmão e geram
mortalidade, seja em longo ou em curto prazo, e que, para tanto, as autoridades
competentes devem estar cientes disso para criar políticas de redução da emissão
de poluentes (ANDERSON et al., 1996).
Um estudo realizado pela Swiss Study on Air Pollution and Lung Diseases in
Adults (SAPALDIA) verificou que exposições em longo prazo à poluição atmosférica,
mesmo que sob baixos índices, estão relacionadas à alta prevalência de sintomas
respiratórios, como falta de ar e bronquite crônica, assim como, concluiu-se que
fumo passivo e poluição atmosférica são desfavoráveis a saúde do sistema
respiratório e que exposições em longo prazo a estes elementos são responsáveis
pelo aparecimento de doenças respiratórias em adultos (ZEMP, et al., 1999).
Há diversos outros estudos que mostram a estreita relação entre doenças
respiratórias e poluição atmosférica. Tais como os trabalhos que mostram:
associação positiva entre taxa de mortalidade e nível de poluição atmosférica em
longo prazo, principalmente no que diz respeito a partículas inaláveis e partículas de
sulfato (DOCKERY, et al., 1993); material particulado de indústria siderúrgica esteve
fortemente correlacionado com índice de morbidade, as admissões hospitalares
foram mais ocorrentes em infantes que adultos e principalmente devido a bronquites
e asmas, os casos tanto de internações quanto de mortalidade decaíram quando a
mesma fábrica ficou fechada por 14 meses (POPE, 1989); concentrações de
monóxido de carbono, durante os meses de inverno, estão relacionadas com
aumento nos casos de bronquites e doenças do trato respiratório superior, o que não
se procede com os casos de asma (GIORDIAN et al., 1996); inflamações das vias
derivado de combustão de madeira, por outro lado, fuligem e material particulado
não têm correlação significativa com pressão arterial, alteração da espirometria ou
da frequência cardíaca (JANSEN et al., 2005).
Numa revisão sobre o assunto Pope (2000) sumarizou a epidemiologia da
poluição por material particulado mostrando os mecanismos biológicos e indicando
os grupos suscetíveis (Tabela 2).
Tabela 2 – Grupos suscetíveis a efeitos na saúde em decorrência da exposição ao material particulado
Fonte: Pope, 2010
As classes sociais mais baixas, as pessoas que no início da infância tiveram
uma ou mais doenças respiratórias, os que estão sujeitos a altas concentrações de
poluentes, são os grupos que estariam mais predispostos à incapacidade
respiratória. Na infância, exposição a poluentes atmosféricos e as circunstâncias
sociais são mais determinantes, enquanto que o hábito de fumar é o fator
preponderante na faixa dos 20 anos para doenças respiratórias (COLLEY,
DOUGLAS e REID, 1973).
No Brasil, uma problemática frequente é a questão das queimadas e os
efeitos adversos que causam na saúde humana. Num levantamento realizado em
Presidente Prudente e Teodoro Sampaio, no Estado de São Paulo, nos meses em
que ocorrem as queimadas sazonais da cana-de-açúcar presumiu-se que o grande
número de internações era devido à emissão de material particulado oriundo da
No estado de São Paulo, grande produtor de cana-de-açúcar, um
mapeamento mostrou que as áreas onde se concentram as queimadas são aquelas
que apresentam os maiores índices de internações por doenças respiratórias, o
trabalho mostra como é importante a utilização do Sistema de Informação
Geográfica (SIG) em estudos exploratórios e de correlação na área da saúde
(LOPES e RIBEIRO, 2006).
Num estudo realizado por Fernandez (2008), enfocando o efeito das
queimadas de cana-de-açúcar, em Ribeirão Preto, sobre o bem estar das pessoas,
ficou evidente que os episódios de queima das plantações de cana interferem na
morbidade por doenças respiratórias e que os custos envolvidos são grandes, tanto
os custos referentes à perda do bem-estar devido à queda na qualidade de saúde,
quanto ao custo da hospitalização por doenças respiratórias. O aumento das
internações por doenças respiratórias em Ribeirão Preto, principalmente de crianças
e idosos pôde ser explicado pela poluição atmosférica. Esse quadro epidemiológico
está vinculado ao nível de desenvolvimento econômico e social da cidade, uma vez
que, os indicadores socioeconômicos mostraram o alto e crescente nível de
desenvolvimento local (ROSEIRO e TAKAYANAGUI, 2006).
Na região amazônica, as queimadas também são problemas constantes,
principalmente nos meses de seca. Em Rio Branco, no Acre, em setembro de 2005,
ano em que ocorreu a maior seca na região em 60 anos, foi notificado que durante o
mês analisado, 23 dias do mesmo apresentaram valor excessivo de material
particulado, ou seja, além dos limites de qualidade de ar estabelecido pela OMS. A
maior incidência de doenças respiratórias se deu em crianças, seguidas de idosos,
mostrando que esses episódios estavam fortemente correlacionados com as
queimadas. Também foi concluído que havia uma correlação positiva entre
concentração de PM e a incidência de asma na população (MASCARENHAS et al.,
2008).
Um fato a ser considerado é que a combustão de biomassa gera muitos
poluentes com capacidade cancerígena tais como furanos, dioxinas e
hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) encontrados tanto na fumaça quanto
nas partículas liberadas. Esses compostos, quando em contato em longo prazo com
o homem, podem induzir ao câncer no trato e órgãos do sistema respiratório,
mundo tanto homens quanto mulheres, estimado para o ano de 2010 (Figura 1)
(JEMAL et al., 2010; RIBEIRO e ASSUNÇÃO, 2002).
Figura 1: Dez neoplasias que mais matam por sexo para o ano de 2010. (JEMAL et al., 2010)
A atividade humana gera grandes impactos ambientais e para a saúde,
podendo ter efeitos drásticos futuramente quanto à saúde coletiva. Dos estudos que
foram realizados sobre a extensão da problemática das queimadas na saúde do
homem poucos realmente avaliaram com exatidão os efeitos da combustão de
biomassa na saúde humana (ARBEX et al., 2004).
As doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC), que segundo projeção
da OMS (2009) será a terceira maior causa de morte no ano de 2030, merecem
destaque dentre as doenças respiratórias. A projeção para aumento no tabagismo
seria responsável pelo aumento de 5,1% das mortes em 2004 para 8,6% de mortes
em 2030. De qualquer forma, o hábito de fumar estaria relacionado com seis das
oito maiores causas de óbito no mundo todo, sejam em grande ou pequena
proporção, sendo que as DPOCs têm a maior proporção de mortes atribuídas ao
Figura 2: Oito causas de óbitos que mais matam no mundo e os óbitos atribuídos ao tabagismo em
2005 (OMS, 2008).
As DPOCs incluem asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, rinite alérgica,
doenças ocupacionais dos pulmões e hipertensão pulmonar. As pessoas com
alguma dessas doenças crônicas encontram dificuldade em respirar, o que
consequentemente pode afetar várias de suas atividades diárias. No Brasil, as
DPOCs atingem duas em cada dez pessoas. Além do tabagismo, a poluição
ambiental também é um fator de risco para as DPOCs (CONGRESSO BRASILEIRO
DE PEDIATRIA, 2006).
A compreensão da epidemiologia das doenças respiratórias é de extrema
importância para tentar controlar ou mesmo diminuir o número de casos crescentes
desse grupo de doença. O tratamento e a cura de muitas delas são custosos para a
saúde pública. Por esse motivo estudos que abordem as doenças respiratórias e a
saúde coletiva são sempre importantes, pois constituem importantes instrumentos
que propiciam tomadas de decisões.
4.3. As Doenças Circulatórias
As doenças do aparelho circulatório são aquelas que atingem o coração,
artérias e veias sanguíneas, de acordo com o CID-10, possuem 17 agrupamentos
sendo eles: Febre reumática aguda; Doenças reumáticas crônicas do coração;
pulmonar e da circulação pulmonar; Outras formas de doença do coração; Doenças
cerebrovasculares; Doenças das artérias, das arteríolas e dos capilares; Doenças
das veias, dos vasos linfáticos e dos gânglios linfáticos, não classificadas em outra
parte; Outros transtornos, e os não especificados do aparelho circulatório;
Pericardite em doenças classificadas em outra parte; Endocardite e transtornos
valvulares cardíacos em doenças classificadas em outra parte; Miocardite em
doenças classificadas em outra parte; Cardiomiopatia em doenças classificadas em
outra parte; Outras afecções cardíacas em doenças classificadas em outra parte;
Transtornos cerebrovasculares em doenças classificadas em outra parte;
Transtornos das artérias, das arteríolas e dos capilares em doenças classificadas em
outra parte. Cada agrupamento consiste em várias categorias e subcategorias, nas
quais as doenças cardiovasculares se subdividem (OMS, 2011).
As doenças cardiovasculares são as maiores causas de óbitos no mundo,
sendo que as doenças isquêmicas do coração foram responsáveis por 12,2% das
mortes mundiais, já no Brasil, as doenças cerebrovasculares são as que provocaram
o maior número de óbitos no ano de 2008, segundo o DATASUS (excetuando as
neoplasias malignas), um total de 9,19% das mortes registradas.
Vários estudos apontaram para os fatores de risco das doenças
cardiovasculares. Há dois tipos de risco, aqueles que comprovadamente são causais
e aqueles que estão associados à patologia, mas que não há comprovação,
denominados de indicadores de risco. Os indicadores de risco são também de dois
tipos os de predisposição e os que afetam diretamente, obesidade e tabaco,
respectivamente, exemplificam os indicadores de ricos. Assim, num estudo realizado
em cinco núcleos urbanos de Cotia-SP, a obesidade estava presente em 38% dos
indivíduos que apresentavam algum tipo de doença cardiovascular, associando a
isso a falta de exercício físico e dieta inadequada, o risco de ter alguma doença
cardiovascular aumenta consideravelmente (YUSUF et al.,1997). Assim sendo, a
Tabela 3 – Indicadores de risco para as doenças cardiovasculares
FATORES DE RISCO CAUSAIS INDICADORES DE RISCO
Tabagismo Baixo nível socioeconômico
Nível de LDL elevado Fatores pró-trombóticos elevados
Nível de HDL baixo Indício de infecção ou inflamação
Pressão arterial elevada Níveis elevados de homocisteína
Nível de glicose elevado Níveis elevados de lipoproteína
Sedentarismo
Fatores psicológicos (depressão, propensão à raiva, hostilidade, estresse, momentos de dificuldade na vida) e colapso nas estruturas sociais (perda do suporte e
coesão social)
Obesidade
Alimentação
Modificado de Yusuf et al. (2001)
Além dos fatores de risco, há que se considerar os fatores genéticos
relacionados ao surgimento dessas doenças, dessa forma, pessoas que têm no
histórico familiar a ocorrência de doenças relacionadas ao sistema circulatório estão
mais propensas a adquiri-las em algum momento do que aqueles indivíduos que não
possuem qualquer indício das mesmas na família. Porém as doenças do aparelho
circulatório constituem um grupo de doenças polimórficas, ou seja, a ocorrência é
determinada pela combinação de vários genes, que associados aos fatores
ambientais e qualidade de vida da pessoa podem ser expressos ou não, dessa
forma, só a genética não é suficiente para gerar a doença (TAVARES, 2000).
As condições socioeconômicas e as doenças cardiovasculares são
inversamente correlacionadas, ou seja, essas doenças acometem mais os
indivíduos das classes baixas da sociedade, aqueles que geralmente possuem
acesso escasso a tratamentos e outros serviços de saúde, por outro lado, as
pessoas das classes mais favorecida possuem acesso a bens e serviços, e muitas
vezes de melhor qualidade. Além de tudo, os fatores de risco são mais frequentes
nos indivíduos de baixa renda que são os que possuem menos conhecimento sobre
metade dos óbitos por doenças cardiovasculares antes dos 65 anos pôde ser
relacionada à pobreza. Em São José do Rio Preto, a população menos favorecida
apresentou os maiores coeficientes de mortalidade por doenças cardiovasculares,
num estudo realizado em 2003, mostrando que os fatores socioeconômicos são
preponderantes na incidência dessas doenças. (ISHITANI et al., 2006; BASSANESI,
AZAMBUJA e ACHUTTI, 2008; GODOY et al., 2007).
Os fatores de risco também podem estar relacionados aos hábitos familiares,
ou seja, pais e mães que são fumantes, sedentários, com dieta rica em gorduras
total e saturada, com excesso de peso ou obesidade, acabam influenciando e
promovendo a maior frequência de fatores de risco nos filhos. Para isso, seriam
necessárias intervenções no sentido de diminuir os fatores de risco com o intuito de
reduzir a probabilidade do surgimento de doenças crônicas na vida adulta, uma vez
que muitas das doenças do aparelho circulatório têm inicio na infância e
adolescência (MENDES et al., 2006; GUEDES e GUEDES, 2001).
As características climáticas também possuem certa relação com a incidência
das doenças cardiovasculares. Estudos mostram que há sazonalidade na
distribuição das patologias e que elas se concentram nos meses de inverno, com
tempo seco e estável, temperaturas baixas, baixa umidade relativa, grandes
amplitudes térmicas. Há estudos, entretanto, que não encontraram uma relação
clara entre a temperatura e a incidência de internações por doenças
cardiovasculares, principalmente devido ao fato de se tratarem de doenças de
natureza crônica (DOMINGOS, 2001; PITTON e DOMINGOS, 2004; MURARA e
AMORIM, 2007; HAJAT e HAINES, 2002).
Por outro lado, altas temperaturas são consideradas fatores de risco para
infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral. Num estudo realizado no
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, mostrou que 2,8%
das internações anuais por AVC e 4,9% das internações por infarto agudo do
miocárdio são em decorrência de temperaturas elevadas (RUMEL et al., 1993).
McMichael et al. (2008) mostrou que o calor está relacionado com mortes por
doenças cardiovasculares na maioria das cidades de países de baixa-média renda
analisados (Déli, Monterrey, Cidade do México, Chiang Mai, Bangkok, Salvador, São
Paulo, Santiago, Cidade do Cabo, Ljubljana, Bucareste e Sofia), e, quanto ao frio, as
cidades européias, Cidade do México, Bangkok, São Paulo, Santiago e Cidade do
foram observados estão não só relacionados a fatores do clima, mas também a
fatores não climáticos, como poluição do ar, tipo de moradia, condições sanitárias e
socioeconômicas, assim como o desenvolvimento econômico dos países já
mencionados.
Modificação na coagulação sanguínea, disfunção cardíaca, indução de
arteriosclerose, aumento da probabilidade de ocorrência de morte súbita, aumento
na pressão arterial, são efeitos da exposição à poluição atmosférica (COLOMBINI,
2008; CANÇADO, 2003).
Dos poluentes atmosféricos, SO2 está positivamente relacionado à morbidade
de idosos com 65 anos ou mais e crianças, enquanto que CO e NO2 provocam
internações em quase todas as faixas etárias, outros poluentes também afetam a
saúde das pessoas como material particulado, ozônio e monóxido de nitrogênio.
Mesmo quando os níveis desses poluentes estão abaixo daqueles estabelecidos
pelos padrões de qualidade eles são capazes de promover efeitos negativos na
saúde cardiorrespiratória (FUNG et al., 2010; ALVES, SCOTTO e FREITAS, 2010).
O efeito do dióxido de enxofre na morbidade é rápido. O aumento diário na
concentração desse composto na atmosfera reflete simultaneamente no maior
número de internações por doenças cardiovasculares, principalmente doenças
isquêmicas do coração. Por outro lado, o dióxido de nitrogênio também é um
poluente significante para doenças isquêmicas do coração (SUNYER et al., 2003;
WONG et al., 2001).
Kan et al. (2008), em um estudo realizado em Xangai, constatou que o sexo,
a idade, a estação do ano e a educação podem modificar o efeito da poluição
atmosférica. Nesse estudo, os efeitos da poluição foram mais evidentes, em
mulheres, idosos, no inverno e em pessoas com baixos índices de escolaridade.
Informações como essa são importantes para a implantação de políticas ambientais
e sociais que visem mitigar esses efeitos e diminuir a incidência de doenças do
aparelho circulatório.
Muitos outros trabalhos enfocaram a poluição e as doenças do aparelho
circulatório. Estudos como os de Morris e Naumova (1998); Dominici et al. (2006),
Negrete et al. (2010) mostram a relação positiva entre poluição atmosférica e
aumento de internações por doenças cardiovasculares, já os trabalhos de Burnett,
Cakmak e Brook (1998); Pope et al. (2004) mostram a relação entre a poluição
Atualmente estamos vivenciando um boom de doenças cardiovasculares, seja
devido ao aumento da expectativa de vida, ao estilo de vida sedentário, à má
alimentação, ao tabagismo, à poluição atmosférica, ao estresse. Medidas, no
entanto, precisam ser tomadas com o intuito de combater o franco crescimento no
número de mortes e de casos de doenças cardiovasculares crônicas. Para
Bassanesi, Azambuja e Achutti (2008) essas medidas devem
priorizar políticas de saúde que, além de resultarem em ganhos diretos na saúde, estimulem o crescimento econômico nacional e a melhoria das condições sociais. E promover políticas inter-setoriais de desenvolvimento econômico que valorizem a promoção da saúde e a redução da morbidade e mortalidade por doenças crônicas na população.
No Brasil, um estudo em andamento organizado pelos Ministérios da Saúde e
da Ciência e Tecnologia, o ELSA Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto),
tem o objetivo de investigar a incidência e os fatores de risco, principalmente, para
as doenças cardiovasculares e o diabetes. Dessa forma, este estudo poderá
fornecer subsídios para futuras políticas públicas brasileiras com o intuito de diminuir
a incidência de doenças cardiovasculares, sendo fundamental para a gestão da
5. ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo está localizada na região sul de Minas Gerais, mais
precisamente na microrregião de São Lourenço, na qual o município de Passa
Quatro-MG (22° 23' 24" S 44° 58' 01" W) está inseri do (Figura 4).
O povoado de Passa Quatro começou por volta do ano de 1673, quando os
bandeirantes Jaques Felix e Fernão Dias Paes Leme ao atravessarem a garganta do
Embaú encontraram o primeiro pouso no Sertão das “Geraes”. Com o decorrer dos
anos muitos outros desbravadores chegaram e se instalaram atraídos pelo lugar
privilegiado e tão promissor. Dessa forma, as habitações iam aumentando,
juntamente com a criação de gado e as plantações (ALMEIDA, 2008).
No ano de 1733 Passa Quatro passou a ser sesmaria, em 1854 torna-se
distrito, em 1869 à freguesia de Capivary, somente em 1888, quatro anos depois da
construção da ferrovia Minas and Rio Railway Company, interligando Cruzeiro (SP) a
Três Corações (MG), foi que se deu a emancipação da cidade, tornando-se
Município de Passa Quatro a partir de então (ALMEIDA, 2008; MOSSRI, 1990).
Dessa forma, observa-se que a evolução de povoado a município foi bastante
lenta, e até hoje o crescimento populacional é ainda brando.
As atividades que impulsionam o crescimento do município, no início, foram
principalmente a agricultura, especialmente o cultivo de batata, e a pecuária.
Atualmente há algumas indústrias de destaque, como, fábricas de embalagens,
parafusos, mineração, principalmente de água mineral, confecções, sacolas
plásticas e papel (MOSSRI, 1990).
Porém, atualmente, o setor terciário é o responsável pela maior parte das
divisas de Passa Quatro, estas, estão principalmente relacionadas ao setor de
turismo que vem ganhando destaque no município.
Passa Quatro-MG possui uma área territorial total de 277 km², sendo que
90% desse território é montanhoso, 8% é ondulado e somente 2% é plano. A
população residente é de 15 584 pessoas, das quais 11 985 moram na área urbana
e 3 599 na zona rural. A densidade populacional municipal é de aproximadamente
56 habitantes/km². A evolução da população da cidade indica que está ocorrendo
uma estabilização no crescimento populacional, ou seja, com a diminuição da taxa
de aumento populacional a população tende a se equilibrar, tornando-se constante
15584 15285
14855
14168
11365
12045
13408
6000 8000 10000 12000 14000 16000 18000
1970 1980 1991 1996 2000 2007 2010
Habitantes
Figura 5: Série histórica da população de Passa Quatro-MG
No que tange a formação vegetal da região, Morssi (1990) esclarece bem o
que ocorre em quase toda a extensão da Serra da Mantiqueira, assim,
as diferentes formações vegetais primárias, quase em sua totalidade estão substituídas por pastagens, existindo apenas testemunhos de vegetação arbórea primária. A presença desses testemunhos e as condições climáticas fazem considerar que as formações vegetais primárias, que influíram no desenvolvimento do solo, deveriam corresponder as formações florestais subtropicais de altitude, que fazem parte de Serra da Mantiqueira, destacando-se as florestas de araucárias que ocorrem em altitudes acima de 1200m de clima mesotérmico com verões frescos. Ocorrem também florestas latifoliadas e outras espécies de pinheiros.
O desmatamento ainda é um fator preocupante na região, uma vez que não
tendo mais possibilidade de expansão das atividades nas poucas áreas de planícies
que existem, as áreas de encostas sofrem com a especulação imobiliária, a
implantação de pastagens e as vastas plantações de eucaliptos, principalmente
incentivada pela indústria de papel existente no município.
Na região sul de Minas Gerais, segundo a classificação de Köppen, o clima
encontrado é o Cwa, que se caracteriza por clima subtropical de inverno seco e
verão quente, sendo que a ocorrência de temperaturas inferiores a 18°C é constante
no inverno e no verão as temperaturas ultrapassam os 22°C (ANTUNES, 1986).
Segundo o Instituto de Geociências Aplicadas – IGA (2011) a temperatura média
anual é de 18,8°C, sendo que a temperatura média má xima anual é de 25,7°C e a
média mínima anual é de 13°C. O índice de pluviosid ade, segundo o mesmo instituto
O Município conta com apenas um Hospital, que é a Santa Casa de Caridade
de Passa Quatro, fundada em 1907, portanto, uma instituição filantrópica. Possui um
total de 62 leitos. Há também seis equipes de PSF (Programa Saúde da Família),
um em cada bairro principal, responsáveis pelo atendimento primário e
acompanhamento familiar dos pacientes. Há ainda o Pronto Atendimento municipal,
encarregado dos atendimentos emergenciais. Em termos gerais, ocorrem 6,3
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1 Morbidade Hospitalar
Foram contabilizadas 2210 internações por doenças do aparelho circulatório e
1807 internações por doenças respiratórias no município de Passa Quatro-MG no
período de 10 anos (1999 a 2008). Sendo que, em todos os anos, as doenças
cardíacas superaram, em número, as doenças respiratórias, com exceção dos anos
2000 e 2002 (Figura 6). Percebe-se, ainda, que a partir do ano de 2005 as doenças
respiratórias estão em ascensão, enquanto que as cardiovasculares apresentaram
queda com aumento somente no último intervalo (do ano de 2007 para o ano de
2008). É interessante ressaltar o espelhamento em certos pontos da curva,
principalmente em relação ao ano de 2005, que é o ano de maior ocorrência de
internações por doenças do aparelho circulatório e o ano em que há a menor
morbidade para as doenças do aparelho respiratório.
0 50 100 150 200 250 300
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Número de Internações
Doenças do aparelho circulatório Doenças do aparelho respiratório
Figura 6: Internações totais por doenças circulatórias e respiratórias, por ano, de 1999 a 2008.
Analisados os anos de maior e menor incidência de cada grupo de doença,
com o intuito de melhor exemplificar o que ocorreu nesses 10 anos, notou-se que
para o grupo das doenças do aparelho circulatório as enfermidades mais ocorrentes
são insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e veias varicosas das
extremidades inferiores, já para o grupo das doenças do aparelho respiratório foram
pneumonia, doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC) e asma. Assim, os
respectivamente, 2002 e 2005 e, enquanto que para as doenças respiratórias os
anos foram 2005 e 2007, respectivamente os de maior e menor incidência.
A insuficiência cardíaca ocorreu durante todos os meses dos anos de 2005 e
2007, não apresentando uma sazonalidade aparente, enquanto que veias varicosas
das extremidades inferiores foram relativamente constantes durante o ano de 2005 e
por outro lado apresentaram maior incidência nos meses de inverno, no ano de
2007. Acidente vascular cerebral (AVC) ocorreu com maior frequência nos meses
mais quentes, em ambos os anos, enquanto que outras doenças do coração
oscilaram durante o ano (Figuras 7 e 8).
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Número
de Internações
Insuficiência cardíaca
Veias varicosas das extremidades inferiores
Acidente vascular cerebral não especifico: hemorrágico ou isquêmico Outras doenças do coração
Figura 7: Distribuição anual das quatro enfermidades cardiovasculares mais frequentes no ano de
2005 (maior ocorrência).
Foi registrado em torno de 29,3% de queda no número de internações totais
por doenças do aparelho circulatório do ano de maior ocorrência, 2005 com relação
ao ano de 2007, ano de menor ocorrência de internações pela doença. Em
comparação com as doenças respiratórias essa queda foi pouco menor, já que do
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Número de Internações
Insuficiência cardíaca
Acidente vascular cerebral não específico: hemorrágico ou isquêmico Outras doenças isquêmicas do coração
Veias varicosas das extremidades inferiores
Figura 8: Distribuição anual das quatro enfermidades cardiovasculares mais frequentes no ano de
2007 (menor ocorrência).
No ano de 2002, a pneumonia foi a grande responsável pelas internações por
doenças respiratórias, da mesma forma, manteve um padrão sazonal, ou seja, a
frequência foi maior nos meses mais frios e secos. De um modo geral, tanto a asma
quanto outras doenças do aparelho respiratório possuem certa sazonalidade,
enquanto que as DPOC oscilam pouco e mantém a constância (Figura 9).
0 5 10 15 20 25
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Número
de Internações
Pneumonia
Outras doenças do aparelho respiratório Asma
Bronquite enfisema e outras doenças pulmares obstrutivas crônicas
Figura 9: Distribuição anual das quatro enfermidades respiratórias mais frequentes no ano de 2002
(maior ocorrência).
O ano de 2005 (Figura 10), de menor ocorrência para doenças respiratórias
não apresentou a sazonalidade tão evidente e característica no ano de 2002, porém,
as DPOC oscilaram em torno de uma a duas internações por mês, como ocorreu no
ano de 2002.
0 5 10 15 20 25
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Número
de Internações
Pneumonia Asma
Outras doenças do aparelho respiratório
Bronquite enfisema e outras doenças pulmonares obstrutivas crônicas
Figura 10: Distribuição anual das quatro enfermidades respiratórias mais frequentes no ano de 2005
(menor ocorrência).
Ocorreu diferença no número de internações entre os sexos, em mulheres foi
superior que em homens. No ano em que houve a maior incidência essa diferença
foi maior do que no ano de menor incidência, para doenças cardiovasculares (Figura
11). 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2005 2007 Número de Internações Masculino Feminino
Figura 11: Internações por doenças cardiovasculares de acordo com sexo nos anos de 2005 e 2007,
anos de maior e menor ocorrência, respectivamente.
Tanto no ano de 2005 quanto no de 2007, a insuficiência cárdica foi
predominante tanto em homens quanto em mulheres. Veias varicosas das
extremidades inferiores, no ano de 2005, alcançaram níveis tão alto quanto
internações por varicosas inferiores é devido a internações pré-operatórias, e que
isso se dá principalmente no sexo feminino (Figuras 12 e 13).
0 10 20 30 40 50
Masculino Feminino
Número de Internações
Insuficiência cardíaca Veias varicosas das extremidades inferiores
Acidente vascular cerebral não específico hemorrágico ou isquêmico Outras doenças do coração
Figura 12: Internações pelas quatro enfermidades cardíacas de acordo com sexo no ano de 2005
(ano de maior ocorrência).
Acidente vascular cerebral também merece destaque entre as internações por
doenças cardiovasculares, uma vez que ocorreram mais nas mulheres que nos
homens, em ambos os anos. A importância do AVC está relacionada ao fato de que
aqueles que sobrevivem têm grandes chances de apresentarem alguma
incapacidade física devido ao agravo.
0 10 20 30 40 50
Masculino Feminino
Número de Internações
Insuficiência cardíaca Acidente vascular cerebral não específico hemorrágico ou isquêmico
Outras doenças isquêmicas do coração Veias varicosas das extremidades inferiores
Figura 13: Internações pelas quatro enfermidades cardíacas de acordo com sexo no ano de 2007
(ano de menor ocorrência).
Por outro lado, as doenças do aparelho respiratório causaram mais
diferença fosse mínima. Já no ano de 2005 as internações foram mais ocorrentes
nas mulheres (Figura 14).
0 20 40 60 80 100 120
2002 2005
Número de Internações
Masculino Feminino
Figura 14: Internações por doenças respiratórias de acordo com sexo nos anos de 2002 e 2005, anos
de maior e menor ocorrência, respectivamente.
A pneumonia prevaleceu em ambos os sexos, todavia, asma e DPOC
atingiram mais o sexo feminino, no ano 2002, enquanto que em 2005, a asma
predominou levemente nos homens (Figuras 15 e 16).
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Masculino Feminino
Número de Internações
Pneumonia Outras doenças do aparelho respiratório Asma Bronquite enfisema e outras doenças pulmonares obstrutivas crônicas
Figura 15: Internações pelas quatro enfermidades respiratórias de acordo com sexo no ano de 2002
(ano de maior ocorrência)
Outras doenças do aparelho respiratório foram relevantes no ano de 2002,
nos homens, uma vez que foi a segunda causa de internação, ocorrendo mais no
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Masculino Feminino
Número de Internações
Pneumonia Asma Outras doenças do aparelho respiratório Bronquite enfisema e outras doenças pulmonares obstrutivas crônicas
Figura 16: Internações pelas quatro enfermidades respiratórias de acordo com sexo no ano de 2005
(ano de menor ocorrência).
Analisando as internações de acordo com as faixas etárias, observou-se que
o maior número de internações ocorreu na faixa dos 70 anos aos 79 anos, para
doenças cardiovasculares, tanto no ano de 2005 quanto no ano de 2007 (Figura 17).
0 10 20 30 40 50 60
2005 2007
Número de Internações
< 1 1├─┤4 5├─┤9 10├─┤14 15├─┤19 20├─┤29 30├─┤39 40├─┤49 50├─┤59 60├─┤69 70├─┤79 80 ≥
Figura 17: Internações por doenças circulatórias de acordo com faixa etária nos anos de 2005 e 2007,
anos de maior e menor ocorrência, respectivamente.
Notou-se, ainda, que insuficiência cárdica, AVC e outras doenças do coração
levaram a um maior número de internações em idosos no ano de 2007. Vale
ressaltar que os casos de AVC na faixa dos 50 a 59 anos só não foram superiores
0 5 10 15 20 25 30
Insuficiência cardíaca Outras doenças do coração Acidente vascular cerebral não específico: hemorrágico ou isquêmico
Veias varicosas das extremidades
inferiores Número
de Internações
< 1 1├─┤4 5├─┤9 10├─┤14 15├─┤19 20├─┤29 30├─┤39 40├─┤49 50├─┤59 60├─┤69 70├─┤79 80 ≥
Figura 18: Internações pelas quatro enfermidades cardiovasculares de acordo com faixa etária no ano
de 2005 (ano de maior incidência).
Varicosas das extremidades inferiores apresentaram um padrão diferenciado
com maior número de internações na população adulta, a partir da faixa etária dos
20 anos, pois como já foi mencionado, muitas dessas internações são pré-cirúrgicas
(Figuras 18 e 19). No ano de 2007, AVC e insuficiência cardíaca prevaleceu na
população idosa (Figura 19).
0 5 10 15 20 25 30 Outras doenças isquêmicas do coração
Insuficiência cardíaca Acidente vascular
cerebral não especifico hemorrágico ou
isquêmico
Veias varicosas das extremidades inferiores Número
de Internações
< 1 1├─┤4 5├─┤9 10├─┤14 15├─┤19 20├─┤29 30├─┤39 40├─┤49 50├─┤59 60├─┤69 70├─┤79 80 ≥
Figura 19: Internações pelas quatro enfermidades cardiovasculares mais frequentes de acordo com
faixa etária no ano de 2007 (ano de menor incidência).
O padrão de distribuição etária das internações por doenças respiratórias foi
diferente daquele apresentado pelas cardiovasculares, nesta última, o número de
internações aumentou com a faixa etária, enquanto que na primeira, ele foi alto aos
dois extremos etários, tanto em crianças quanto em idosos, apresentando uma
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
2002 2005
Número de Internações
< 1 1├─┤4 5├─┤9 10├─┤14 15├─┤19 20├─┤29 30├─┤39 40├─┤49 50├─┤59 60├─┤69 70├─┤79 80 ≥
Figura 20: Internações por doenças respiratórias de acordo com faixa etária nos anos de 2002 e
2005, anos de maior e menor ocorrência, respectivamente.
A pneumonia foi motivo de internação em todas as faixas etárias
principalmente em idosos e crianças. Enquanto DPOC ocorreu mais em adultos e
idosos. A asma atingiu, sobretudo, os infantes, no ano de 2002 (Figura 21).
0 5 10 15 20 25 30
Pneumonia Bronquite enfisema e outras doenças
pulmonares obstrutivas crônicas
Asma Outras doenças do aparelho respiratório Número
de Internações
< 1 1├─┤4 5├─┤9 10├─┤14 15├─┤19 20├─┤29 30├─┤39 40├─┤49 50├─┤59 60├─┤69 70├─┤79 80 ≥
Figura 21: Internações pelas quatro enfermidades respiratórias de acordo com faixa etária no ano de
2002 (ano de maior ocorrência).
A pneumonia e asma, no ano de 2005, levaram tanto crianças, adultos e
idosos a internações enquanto que DPOC ocorreu mais em adultos e idosos, o
0 5 10 15 20 25 30
Pneumonia Bronquite enfisema e outras doenças
pulmonares obstrutivas crônicas
Asma Outras doenças do aparelho respiratório Número
de Internações
< 1 1├─┤4 5├─┤9 10├─┤14 15├─┤19 20├─┤29 30├─┤39 40├─┤49 50├─┤59 60├─┤69 70├─┤79 80 ≥
Figura 22: Internações pelas quatro enfermidades respiratórias de acordo com faixa etária no ano de
2005 (ano de menor ocorrência).
6.2. Mortalidade
Foram contabilizados 404 óbitos por doenças do aparelho circulatório e 65 em
decorrência de doenças do aparelho respiratório, nos 10 anos analisados, de um
total de 1044 óbitos. No intervalo de tempo considerado, as doenças
cardiovasculares foram responsáveis por 38,7% das mortes totais registradas
enquanto que as doenças respiratórias totalizaram 6,2% dos óbitos totais, juntas,
esses dois grupos somam 44,9% de todos os óbitos ocorridos nos 10 anos, um
percentual relevante. A causa primordial de morte foram as doenças
cardiovasculares seguido das neoplasias, doenças endócrinas nutricionais e
metabólicas e doenças respiratórias (Figura 23).
0 10 20 30 40 50 60 70
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Óbitos
Doenças do aparelho circulatório Neoplasias (tumores)
Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas Doenças do aparelho respiratório
Figura 23: Distribuição ao longo de 10 anos das quatro principais causas de óbitos em Passa Quatro,