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Terra Natal, de Ferreira Itajubá, e a permanência do romantismo

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Academic year: 2017

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LITERATURA COMPARADA

MAYARA COSTA PINHEIRO

TERRA NATAL

, DE FERREIRA ITAJUBÁ,

E A PERMANÊNCIA DO ROMANTISMO

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TERRA NATAL

, DE FERREIRA ITAJUBÁ,

E A PERMANÊNCIA DO ROMANTISMO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre.

Área de Concentração: Literatura Comparada

Linha de pesquisa: Literatura e Memória Cultural

Orientador: Prof. Dr. Andrey Pereira de Oliveira

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Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).

Pinheiro, Mayara Costa.

Terra Natal, de Ferreira Itajubá, e a permanência do romantismo / Mayara Costa Pinheiro. – 2012.

128 f. -

Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguaguem) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, Natal, 2012. Orientador: Prof. Dr. Andrey Pereira de Oliveira.

1. Literatura brasileira. 2. Romantismo. 3. Terra Natal – Itajubá, Ferreira, 1877-1912. I. Oliveira, Andrey Pereira de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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TERRA NATAL

, DE FERREIRA ITAJUBÁ,

E A PERMANÊNCIA DO ROMANTISMO

Data da defesa: 23 de abril de 2012

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________ Prof. Dr. Andrey Pereira de Oliveira (UFRN)

(Orientador)

_______________________________________________ Prof. Dr. Milton Marques Júnior (UFPB)

(Examinador externo)

_______________________________________________ Prof. Dr. Humberto Hermenegildo de Araújo (UFRN)

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Dedico este trabalho ao poeta Manoel Virgílio Ferreira Itajubá,

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Na última década, muitos pesquisadores literários perderam a confiança no valor intrínseco de sua disciplina. Como que complexados por não serem cientistas, ou envergonhados por não estarem diretamente empenhados nas questões sociais do momento, improvisaram-se como antropólogos e sociólogos para ver apenas, nos textos literários, questões de etnia, gênero ou política. Ora, tudo isso está presente no texto literário, mas não de maneira imediata. O texto literário não é apenas reflexo e documento; o texto literário é uma forma de mediação, é uma mediação pela forma.

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Nesta dissertação, procuramos mostrar que a obra Terra Natal, produzida pelo poeta

norte-rio-grandense Ferreira Itajubá, apresenta, predominantemente, temas e formas do Romantismo, mesmo tendo sido publicada em 1914, ano em que a estética romântica não estava mais em voga na Literatura Brasileira. Inicialmente, traçamos considerações sobre Ferreira Itajubá, incluindo a sua biografia, sua produção bibliográfica e a fortuna crítica acerca da sua obra. Em seguida, delineamos o percurso do Romantismo desde seu surgimento na Europa, passando pela sua difusão no Brasil, até chegar à sua repercussão no Rio Grande do Norte. Por fim, desenvolvemos uma análise de Terra Natal, na qual tanto ressaltamos

aspectos contextuais e estruturais, como temáticos. Elegemos para uma leitura mais detalhada os cantos VIII, IX, XVIII, XXI, bem como a canção “Viola”, presente no canto VIII. Durante a análise, destacamos os seguintes temas românticos: o exílio, a evasão para o passado, a exaltação do solo natal, a visão romântica da figura feminina, a projeção do estado d’alma na natureza e a religiosidade; sempre tentando estabelecer diálogos entre Terra Natal e a obra de

autores consagrados do romantismo brasileiro, a exemplo de Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, José de Alencar, Visconde de Taunay e Castro Alves, com o fim de mostrar a filiação de Terra Natal aos ideais de uma tradição romântica.

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In this dissertation we argue that the work Terra Natal, by the poet Ferreira Itajubá, presents,

predominantly, themes and forms typical of the Romantic period, although it came out in 1914, when the romantic aesthetic was no longer popular in Brazilian Literature. Firstly, we discuss about Ferreira Itajubá’s biography, his bibliographic production as well as the critical fortune of his works. Secondly, we outline the course of the Romantic Movement from its emergence in Europe to its arrival in Brazil as well as its impact in the state of Rio Grande do Norte. Finally, we analyze of Terra Natal, taking into account other aspects such as context

and structure through the analysis of the poems VII, IX, XVIII, XXI and also of the song “Viola”, inserted in the poem VIII. We highlight the following romantic themes during the analysis: exile, nostalgia for the past, cult of native land, the romantic view of woman, projection of soul’s state on nature, and religiosity. We will try to create dialogues between

Terra Natal and works of popular Romantic Brazilian writers, such as Gonçalves Dias,

Casimiro de Abreu, José de Alencar,Visconde de Taunay and Castro Alves, in order to show the affiliation of the above-referenced work and the Romantic ideals.

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1 - FERREIRA ITAJUBÁ: CONSIDERAÇÕES ACERCA DA VIDA E OBRA 13

1.1 FERREIRA ITAJUBÁ: UM BARDO ROMÂNTICO 13

1.1.1 Considerações biográficas 13

1.1.2 Produção bibliográfica 21

1.1.3 Fortuna crítica sobre Ferreira Itajubá e sua obra 27

2 – O ROMANTISMO: AS ORIGENS EUROPEIAS, A DIFUSÃO NO BRASIL E A

REPERCUSSÃO TARDIA NO RIO GRANDE DO NORTE 38

2.1 O SURGIMENTO DO ROMANTISMO NA EUROPA 38

2.2 ASPECTOS DA POESIA E DA PROSA ROMÂNTICA NO BRASIL 42

2.3 O ROMANTISMO NA LITERATURA NORTE-RIOGRANDENSE 49

2.3.1 Contexto inicial de produção 49

2.3.2 O Romantismo tardio das letras norte-rio-grandenses 58

3 - TERRA NATAL: UMA ESTÉTICA ROMÂNTICA 61

3.1 ASPECTOS CONTEXTUAIS E ESTRUTURAIS 61

3.1.1 Possíveis motivações para o exílio do eu-lírico 63

3.1.2 A estruturação do enredo a partir da troca de cartas 68

3.2 LEITURA DO TECIDO IMAGÉTICO ROMÂNTICO PRESENTE EM TERRA NATAL 73

3.2.1 Prólogo, Preâmbulo... 73

3.2.2 Poema introdutório – Um prenúncio dos cantos 79

3.2.3 Canto VIII ─ A escrita redentora 90

3.2.4 Canção “Viola” ─ Dedilhando as cordas da viola... 94

3.2.5 Canto IX ─ Branca: o “lyrio derribado” 100

3.2.6 Canto XVIII ─ Exaltação da terra e o apego pelo passado 111

3.2.7 Canto XXI - Exílio: degredo do corpo, retiro d’alma 116

CONSIDERAÇÕES FINAIS 121

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INTRODUÇÃO

Propor-se a estudar a obra de um autor que ainda não foi mencionado nas obras cânones da crítica da Literatura Brasileira e que até mesmo é pouco conhecido no âmbito local, torna-se, por muitas vezes, um desafio. Seja pela dificuldade em encontrar exemplares de sua obra em bibliotecas e livrarias, seja pela escassez ou inexistência de comentários e análises mais apuradas com que possamos concordar ou discordar.

O nome Manoel Virgílio Ferreira Itajubá (1877? - 1912) sempre é lembrado nas antologias da Literatura Norte-rio-grandense, mas essa menção, geralmente, só se restringe a fatos biográficos. Desde que Terra Natal, seu primeiro livro, foi publicado em 1914, dois

anos após a sua morte, e até o presente momento, a fortuna crítica de sua obra pouco avançou. O nome Ferreira Itajubá esteve, por décadas, atrelado ao ranço da boêmia e às dúvidas sobre o ano e o local de seu nascimento, no entanto a sua obra sempre ficou em segundo plano. Os diversos poemas que publicou na imprensa da época ficaram esquecidos por anos entre as páginas de jornais emboloradas, devido à má conservação dos acervos das instituições culturais. Atualmente, essa questão está, praticamente, sanada, pois boa parte desses poemas está reunida na antologia Dispersos (2009).

Outro aspecto a se considerar é a falta de reedições do volume de suas Poesias Completas, reeditada pela segunda e última vez em 1965, por sinal com alguns erros: o

olvidamento de versos de alguns cantos de Terra Natal e o esquecimento de dois poemas de Harmonias do Norte.

Desse modo, levando em consideração os aspectos mencionados acima, a produção da dissertação “Terra Natal, de Ferreira Itajubá, e a permanência do Romantismo” intenta trazer

contribuições à fortuna crítica sobre Ferreira Itajubá, o qual carece de um estudo crítico-analítico de sua obra, pois os textos que se propõem a comentar a produção do poeta trazem, praticamente, apenas informações biográficas, ou então, empreendem uma crítica impressionista num tom laudatório, sem realizar uma análise aos moldes da crítica literária.

Esta dissertação será composta por três capítulos e tentará mostrar que a obra Terra Natal possui, em predominância, temas e formas do Romantismo, mesmo tendo sido

publicada em 1914, quando a estética romântica não estava mais em voga na produção literária brasileira.

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outros autores tanto da Literatura Norte-rio-grandense, como da Literatura Brasileira, para definir o lugar de sua produção na tradição literária brasileira. Além disso, realizaremos uma abordagem imanente do texto e, quando necessário, poremos em destaque vinculações entre a literatura e a sociedade, tentando perceber, através do método dialético, como o texto literário e seu contexto de produção dialogam.

No primeiro capítulo, “Ferreira Itajubá: considerações acerca da vida e obra”, traçaremos um perfil biográfico de Ferreira Itajubá, a título de apresentação do poeta, assim como um panorama sobre a publicação de sua obra. Em seguida, faremos um levantamento, em ordem cronológica, acerca da fortuna crítica produzida sobre sua obra, comentando grande parte do que já foi escrito sobre ele.

No segundo capítulo, “O Romantismo: as origens europeias, a difusão no Brasil e a repercussão tardia no Rio Grande do Norte”, será delineado o percurso do Romantismo desde seu surgimento na Europa, passando por sua difusão no Brasil, até chegar à sua repercussão tardia no Rio Grande do Norte. No intento de descrever o movimento literário romântico, desde a sua origem na Europa até sua difusão no Brasil, destacaremos as principais características do movimento, bem como os principais autores e os aspectos específicos do Romantismo brasileiro. Para tanto, utilizaremos as seguintes obras: História social da arte e da literatura (1998), de Arnold Hauser; alguns dos artigos presentes na obra Literatura no Brasil: era romântica (1999), organizada por Afrânio Coutinho e Eduardo de Faria Coutinho; A literatura brasileira: origens e unidade (2004), de José Aderaldo Castello; História Concisa da Literatura Brasileira (2006), de Alfredo Bosi; História da Literatura Brasileira: das origens ao Romantismo (2008), de Massaud Moisés. Para apresentar a importância do

Romantismo na construção da identidade da Literatura Brasileira, utilizaremos, além das obras anteriormente citadas, principalmente, a obra Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos (2006), de Antonio Candido. Acerca da repercussão do Romantismo no

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da produção literária norte-rio-grandense, especificamente, a obra dos poetas Lourival Açucena, Segundo Wanderley, Auta de Sousa e Henrique Castriciano, com o fim de contextualizar o momento de produção e publicação de Terra Natal. Para empreender os

comentários sobre a literatura produzida no Rio Grande do Norte, no período citado, utilizaremos a obra Informação da Literatura Potiguar (2001), de Tarcísio Gurgel, assim

como a introdução e algumas seções da antologia Literatura do Rio Grande do Norte (2001),

organizada por Constância Lima Duarte e Diva Cunha Macêdo.

No terceiro capítulo, “Terra Natal: uma estética romântica”, desenvolveremos uma

análise estética e temática de Terra Natal. Nesse capítulo, inicialmente, comentaremos

aspectos externos ao texto, como as possíveis causas que motivaram o exílio do eu-lírico, bem como outras de ordem estrutural, como o hibridismo dos gêneros, a estruturação do enredo através de cartas e a própria estrutura de composição. Em seguida, realizaremos uma análise semântica e estilística, com o fim de mostrar os principais temas e formas românticos presentes no poema, através da leitura analítica do Preâmbulo, do poema introdutório, dos cantos VIII, IX, XVIII, XXI e da canção “Viola”, presente no canto VIII.

No decorrer da análise destacaremos, principalmente, os temas românticos mais recorrentes em Terra Natal. No “Preambulo”, a prosa poética que explica as motivações para

a produção da obra, ressaltaremos a caracterização da paisagem da terra natal, palco das lembranças do eu-lírico e do sofrimento dos entes queridos que lá ficaram, assim como o apego e o orgulho do enunciador de nela ter nascido e ainda os aspectos metalinguísticos presentes; na análise do “poema introdutório” serão mostradas a relação proposta pelo eu-lírico entre as fases da vida e os ciclos naturais das estações do ano, a nostalgia da infância, além da louvação da figura materna e da exaltação da terra de origem; na análise do canto VIII, abordaremos o tema da escrita como forma encontrada pelo eu-lírico de compartilhar, e por conseguinte, diminuir as dores provocadas pelo exílio; na leitura da canção “Viola” ressaltaremos a sua notável musicalidade, bem como a partilha do mesmo estado anímico entre o eu-lírico e a viola; no canto IX, tocaremos no tema da visão romântica sobre a figura feminina e na relação amorosa entre o eu-lírico e Branca, assim como o seu romântico fim; no canto XVIII, daremos destaque ao apego pelo passado, demonstrado pelo eu-lírico e a exaltação da terra de origem, estabelecendo uma comparação entre Terra Natal e a “Canção

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1 - FERREIRA ITAJUBÁ: CONSIDERAÇÕES ACERCA DA VIDA E OBRA

1.1 FERREIRA ITAJUBÁ: UM BARDO ROMÂNTICO

Se este estudo se pautasse na obra de Dostoiévksi, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, autores muito conhecidos, esta parte introdutória com aspectos biobibliográficos, possivelmente seria desnecessária. Mas como a obra na qual se pauta este estudo, Terra Natal, é de autoria do poeta norte-rio-grandense Ferreira Itajubá, que é pouco

conhecido no meio literário nacional e até mesmo local, julgou-se necessária a inclusão desta apresentação sobre o poeta, que compreende aspectos de sua biografia e obra, assim como de sua fortuna crítica.

1.1.1 Considerações biográficas

Nasci á margem do Rio Potengy, onde o mangal rumoreja ao sopro do vento salso.

Ferreira Itajubá

Manoel Virgílio Ferreira, filho do pescador Joaquim José Ferreira e da artesã Francisca Ferreira de Oliveira, nasceu em 21 de agosto de um ano ainda incerto, na cidade de Natal, no estado do Rio Grande do Norte. Há uma imprecisão em relação ao ano de seu nascimento, a dúvida permeia entre os anos de 1875, 1876 e 1877. Alguns autores, a exemplo de Clementino Câmara (1951), no discurso de posse da Academia Norte-rio-grandense de Letras, defendeu o ano de 1875. Outros apontaram como mais preciso o ano de 1876, como fizeram Ezequiel Wanderley e Câmara Cascudo, respectivamente, nas obras Poetas do Rio Grande do Norte (1922) e Alma Patrícia (1921). Entretanto, em 1º de outubro de 1896, como

ressaltou José Bezerra Gomes, na obra Retrato de Ferreira Itajubá, “o próprio poeta [...] ao

lavrar o termo de sua nomeação para escrevente da Associação de Praticagem, escreveu com a própria mão: “Manoel Ferreira Itajubá, filho de Joaquim José Ferreira, natural deste estado, nasce a 21 de agosto de 1877’” (1944, p.28).

No texto intitulado “Como tenho vivido”1, publicado no jornal “A Capital”, em 6 de

1 Após a publicação no jornal “A Capital”, este texto foi publicado no jornal “O Canguleiro”, na edição de

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março de 1910, Itajubá fez um relato de sua biografia, comentando seu nascimento, sua formação, cargos que ocupou, sua vida amorosa e aspectos sobre sua produção literária. No início da autobiografia, Itajubá afirmou sobre o seu nascimento:

Nasci á margem do Rio Potengy, onde o mangal rumoreja ao sopro do vento salso.

Sou, portanto, natural do Rio Grande do Norte, da terra amada em cujo seio ardente Albuquerque soltou o primeiro bardo de liberdade e floresceu a semente fecunda da democracia pacifica fundada por Pedro Velho.2 (ITAJUBÁ, 1910, p.1)

No primeiro parágrafo do texto citado acima, Itajubá registrou as margens do Rio Potengi, como o local de seu nascimento, e, dessa forma, podemos subentender que o poeta se referiu a cidade de Natal, já que a foz do Rio Potengi está localizada nessa cidade. Ainda no mesmo trecho, Itajubá caracterizou o referido rio através da vegetação típica da região: o mangal ou mangue, ecossistema costeiro, que “rumoreja ao sopro do vento salso”. Esse vento salso tem o mesmo significado de vento salgado, típico do litoral, região onde está localizada a cidade de Natal. No parágrafo seguinte, afirmou a sua naturalidade norte-rio-grandense e fez menção à República, que ele chamou de “democracia pacifica”, significativo momento político brasileiro que ele vivenciou. Vale salientar que no Rio Grande do Norte, a República teve como principal representante Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, mais conhecido por Pedro Velho (mencionado na citação), integrante da família Albuquerque Maranhão, muito influente na política desse estado.

No trecho a seguir, o poeta comentou sobre a sua formação inicial e a produção de seus primeiros versos:

Aos 12 anos, brinquei nos lençóis alvadios que se estendem da Paraíba até a costa cearense, e nos bancos escolares do professor Joaquim Lourival Soares da Câmara, compus os meus primeiros versos que intitulei - Novas Canções. (ITAJUBÁ, 1910, p.1)

A passagem do início desse parágrafo, “brinquei nos lençóis alvadios que se estendem da Paraíba até a costa cearense”, refere-se a toda costa do Rio Grande do Norte, que muito se assemelha a passagem seguinte, presente no “Preambulo” de Terra Natal:

Durante esta parte sobre a biografia de Ferreira Itajubá, nos valeremos de alguns fragmentos desse texto para ilustrar passagens significativas da vida do poeta.

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E porque não hei de amar o isolamento das planicies arenosas se nellas passei os dias alegres da meninice, brincando nas dunas prateadas que si desemrolam de Parahyba até á costa luminosa “onde a jandaia canta na fronde da carnaúba”? (ITAJUBÁ, 1914, p. II)

Comparando as duas passagens, percebe-se que no “Preambulo”, os “lençóis alvadios” foram substituídos pelas “dunas prateadas” e a expressão “costa cearense” foi substituída por “costa luminosa”. Além disso, foi acrescentada uma passagem do romance Iracema (1865),

do romancista romântico José de Alencar, “onde a jandaia canta na fronde da carnaúba”, obra que se tornou símbolo mítico da fundação do estado do Ceará e da brasilidade, sobretudo.

Ainda no trecho citado da autobiografia, Itajubá falou de seu professor de primeiras letras Joaquim Lourival Soares Câmara, conhecido como professor Panqueca, filho do primeiro poeta norte-rio-grandense, Lourival Açucena, sobre o qual falaremos no capítulo seguinte. Itajubá, além de ter sido aluno do professor Panqueca, também foi aluno de Tertuliano Pinheiro, o professor Terto.

Anos depois, Itajubá continuou seus estudos no colégio Atheneu: “aos 14 prestei exame da língua vernácula no Atheneu-Riograndense” e aos 16 anos chegou a analisar “trechos de Horácio e Virgílio” (ITAJUBÁ, 1910, p.1). Nesse trecho e desde o início de sua autobiografia, podemos ver que a aproximação de Itajubá com a literatura veio desde cedo, ainda nas primeiras lições da escola e através da análise dos poetas latinos Horácio e Virgílio, que provavelmente foram as suas primeiras noções sobre os versos lírico e épico, gêneros esses que ele veio a produzir anos depois. Na época da escola, participou de um jornalzinho manuscrito, no qual começou a escrever as primeiras quadras “sob o pseudônimo de Itajubá, ulteriormente adotado como se de família fora” (CÂMARA, 1951, p. 84), passando assim a ser chamado de Manoel Virgílio Ferreira Itajubá. Nas horas vagas, entregava-se “ao exercício da palavra rimada: do que resultou a coleção de versos magoados que denominei de

Harmonias do Norte” (ITAJUBÁ, 1910, p.1). Aos 22 anos, inspirando-se numa lenda praieira

do Rio Grande do Norte, produziu Terra Natal, seu poema mais longo e mais comentado pela

crítica impressionista: “aos 22 rebentaram-me as primeiras illusões de uma paixão que, inspirada numa lenda praieira do Rio Grande do Norte, fez nascer o Terra Natal [...]”

(ITAJUBÁ, 1910, p.1).

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jornais foi “O Torpedo”, sobre o qual Itajubá nos revelou que: “dirigi O Torpedo onde, em

decassylabos harmoniosos e singelos, sob o pseudonymo de Stella Romariz, enumerei os dotes de coração e de alma, do povo amigo, cantei a belleza peregrina das moças da minha terra.” (ITAJUBÁ, 1910, p.1).

Como podemos ver, Itajubá cursou apenas os estudos iniciais não chegando a ser aluno de um curso superior de Direito ou Medicina, como muitos filhos de berço nobre, tendo sido incapacitado por dois motivos: ter advindo de uma família humilde e pelo fato de seu pai ter falecido quando o poeta ainda era criança. Esses dois fatos obrigaram-no a priorizar o trabalho, mas mesmo enfrentando essas dificuldades, a sua pouca escolaridade não foi obstáculo para ele se destacar como poeta.

Sobre as atividades que exerceu, Itajubá, aos 16 anos, passou a trabalhar na “casa comercial do português António Sátiro do Rego Pinto” e aos 18 foi para Macau trabalhar em outra casa comercial. O trabalho nessa cidade durou apenas um mês, por dois motivos: pelo fato de ter ficado doente e pelo sentimento de saudade despertado na ausência de sua terra. Ao voltar para Natal, retomou as suas atividades no comércio do português António Sátiro. Após a morte desse comerciante, Itajubá exerceu a profissão de professor de primeiras letras, ofício que abandonou após ser chamado para exercer o cargo de escrevente da Associação de Praticagem do Rio Grande do Norte. Além dessas atividades, Itajubá foi proprietário de um circo-amador, pintor de letreiros, contínuo do Atheneu Norte-Rio-Grandense, e também participante de jornaizinhos estudantis.

Sobre o seu período como funcionário do Atheneu, ele afirmou em “Como tenho vivido”:

Hoje sou empregado do Atheneu ganhando 120.000 rs mensalmente, com que sustento minha velha mãe e uma irmã solteira: duas creaturas adoraveis que me enluaram as noites da juventude, desfolhando rosas sobre a terra que piso, enlevado no sonho de um futuro melhor. (ITAJUBÁ, 1910, p.1)

Percebemos que ao se referir à sua mãe e à sua irmã, o poeta expressa um forte sentimentalismo através da linguagem romântica que utiliza não só nas suas obras, mas também para falar de sua vida. Segundo ele, as duas mulheres trouxeram luz para as noites escuras de sua vida e encheram de delicadeza o seu caminho através das pétalas de rosas, que o fez crer na esperança de tempos vindouros melhores.

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participante ativo de eventos político-sociais (inaugurações, homenagens, benefícios), nos quais, geralmente, discursava e declamava seus poemas.

Ferreira Itajubá casou duas vezes. A primeira vez com Emília Marques da Silva e a segunda vez com Maria Antonieta. Com Emília teve três filhos: “Milton, Itamar e Nazareno” (MELO, 1981/1982, p.26), sendo que os dois primeiros vieram a falecer com poucos meses de vida. Sobre o seu primeiro casamento Itajubá afirmou:

Aos 24 casei-me civilmente. Fui infeliz na escolha da mulher que lhe dei o nome.

Aos 32 abandonei-a por motivos aliás muito justos e incompativeis com os princípios nobiltantes da moral que rege os povos civilisados.

(ITAJUBÁ, 1910, p.1)

Em sua autobiografia, percebemos que Itajubá pareceu encarar a sua vida de forma romântica, como se fosse uma personagem das narrativas do Romantismo. Dessa forma, nota-se que o modo de ele enxergar a vida, com nota-sentimentalidade e subjetivismo, foi além de suas obras e se manifestou em sua vida. Por essa razão, concordamos com Tarcísio Gurgel (2001, p. 50), quando ele afirma que Itajubá “foi romântico até na sua existência pessoal”.

Sobre esse assunto, Francisco das Chagas Pereira (1981) ressalta a existência de um espírito romântico em Itajubá: “Na realidade, Virgílio Ferreira não teve culpa de nascer romântico. Refiro-me aqui a temperamento romântico e não ainda, a estilo de época” (1981,

p. 17, grifo do autor).

Sobre essa diferença entre temperamento romântico e o Romantismo enquanto estilo de época, Afrânio Coutinho (1999, p. 7) afirma que é necessário estabelecer “uma distinção entre o estado de alma romântico e o movimento ou escola de âmbito universal que viveu entre os meados do século XVIII e do século XIX”. Coutinho mostra que “o estado da alma ou temperamento romântico é uma constante universal, oposta à atitude clássica. [...]” (COUTINHO, 1999, p. 7). Esse temperamento marcou presença em diversas épocas e nações, e assim, esteve presente bem antes do período em que o Romantismo se estabeleceu como estilo de época. Por isso, Coutinho (1999) mostra a presença do estado de alma romântico em autores como Ovídio e Dante, na literatura lírica da Idade Média, e no Renascimento, ou seja, em autores e momentos culturais que foram anteriores ao Romantismo enquanto movimento.

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produziu e publicou a sua obra, o Romantismo não era mais o estilo de época em voga na Literatura Brasileira.

Ao analisar o modo como Itajubá fez o relato de sua vida no texto autobiográfico “Como tenho vivido”, podemos perceber mais uma vez que o poeta estende o estilo romântico de produzir a sua obra ao modo de narrar a sua vida:

Velei ao luar melancholico das nossas noites; recitei ao pé dos violões sentimentais, nas horas do relento; dancei nos salões dos pescadores humildes, pela seifa do milho; ingeri os vapores do vinho nas festas populares, á sombra das árvores; assisti ao desafio dos homens rudes, ao rojão das violas; applaudi a harmonia tradicional dos prezepes e diverti com os bohemios da ephoca, respirando o perfume dos cajueiros nas aldeias amigas. (ITAJUBÁ, 1910, p.1)

Nesse trecho, nota-se a linguagem bem adjetivada e sentimental ao relatar momentos passados pelo poeta em sua vida, como em o “luar melancholico” e os “violões sentimentais”. O encadeamento de ações registradas no trecho transcrito acima, ocorridas em diversos momentos da vida de Itajubá, é mostrado através do uso do paralelismo sintático. Dessa forma, nota-se o modo como o poeta conseguiu literatizar a história de sua vida, ao fazer uso de uma linguagem e de estruturas do texto literário. Isso não ocorreu apenas no trecho acima, mas em outros, como no seguinte:

Apesar das inclemências por que tenho passado; ainda embalo esperanças, ainda nutro illusões, debaixo do nevoeiro tormentoso que, de quando em vez, me arrasa os olhos d’água, me enluta o coração batido pela amargura dolorosa da orphandade paterna. (ITAJUBÁ, 1910, p.1)

Aqui, Itajubá expressou as dores que estava sentido e fez uso da metáfora “nevoeiro tormentoso” para se referir ao grande volume de coisas más que ocorriam em sua vida e que alimentavam uma imensa tristeza (“me arrasa os olhos d’água”). Novamente, fez uso do paralelismo e também da repetição de palavras no início de algumas orações, constituindo uma anáfora, como é caso do advérbio “ainda” e do pronome oblíquo “me”. Essa repetição objetivou enfatizar as dores que ele vinha sentido.

O poeta finalizou seu texto da seguinte forma:

Eis em poucas palavras a historia da minha vida de bohemio passada á luz do sol que flagella os sertões e escalda os campos argillosos da terra que me serviu de berço e onde descansam as cinzas dos meus maiores.

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Nesse trecho, o autor considerou a sua vida como a de um boêmio. Em seguida, falou que o sol flagela e escalda a natureza de sua terra. E assim, estabeleceu uma analogia com sua vida, pois a natureza de sua terra é castigada pelo sol; e sua vida, por diversos acontecimentos que a tornaram triste e melancólica. Ao fazer essa relação, o poeta utilizou um recurso romântico ao projetar o seu estado de alma na natureza, o mesmo que utilizou em seus poemas, como veremos mais adiante. E ao finalizar sua autobiografia com a frase retórica “Ao seu tempo voltarei”, Itajubá pareceu prever a repercussão que a sua obra ganharia com a posteridade.

Além do que vemos em sua autobiografia, podemos observar que o autor tinha predileção pela linguagem romântica em outros de seus textos em prosa, como é o caso de “Ainda o ‘Verbenas’ ”, no qual ele se propôs a falar sobre o livro de poesias de Anna Lima (1882-1918), também poeta norte-rio-grandense:

Há tempos li este mimoso livro de poesias da inspirada poetisa – Anna Lima.[...]

Em cada verso seu parece a gente ouvir o gorgeio sonoro de um rouxinol, e ver em cada estrofe como que a naturalidade de uma flor que desabrocha.[...] É por isso que o Verbenas é para mim um perfumoso escrínio de belíssimas

jóias! (ITAJUBÁ, 2009, p. 124-125)

Nos trechos citados, percebemos que Itajubá ressaltou diversos aspectos ao descrever o livro da poeta, tais como: sons, ao comparar os versos ao “gorgeio sonoro de um rouxinol”; perfumes, “o Verbenas é para mim um perfumoso escrínio de belíssimas jóias!”; e também, a

delicadeza e o encanto dos versos femininos, ao adjetivar o livro de “mimoso” e considerar os versos naturais como desabrochar de uma flor. Desse modo, vemos que Itajubá se utilizou do sentimentalismo romântico para mostrar as sensações despertadas pela leitura do livro da poeta, na medida em que associou caracteres sinestésicos para adjetivar Verbenas.

Dessa forma, vemos que Itajubá demonstrou em sua linguagem ser um romântico aos moldes daquilo que Afrânio Coutinho (1999, p. 7) chamou de estado de alma romântico, caraterizado por ser “exaltado, entusiasta, colorido, emocional e apaixonado”.

Além da sua visão de mundo romântica, Itajubá foi romântico até na configuração de sua morte, como acredita Gurgel (2001, p. 49):

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mesma maneira que o seu nascimento teve a incerteza da localização, o seu desaparecimento teve a circunstância da obscuridade.

Essa viagem ao Rio de Janeiro ocorreu no início de 1912. Conta José Bezerra Gomes, em Retrato de Ferreira Itajubá (1944, p.41), que ao entrevistar D. Florência, irmã do poeta,

ela relatou que Itajubá saiu de Natal levando consigo o poema “O perfil de Jesus”, dizendo que iria mostrá-lo a Olavo Bilac. Todavia, não obteve sucesso na cirurgia e veio a falecer em 30 de julho de 1912, na Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro. A repercussão de sua morte na imprensa local ocorreu na edição de 1º de agosto de 1912, do jornal “A Republica”, na seção “Fallecimentos”:

Sabemos haver fallecido no Rio, em consequencia de uma intervenção cirurgica, o nosso conterraneo Sr. Manoel Ferreira Itajubá, funcionario da Associação de Patricagem.

O extinto era um litterato de bastante merito tendo colaborado por vezes nesta folha, com apreciadas produções em prosa e verso.

Deixa vários livros inéditos entre os quais os poemas “Terra Natal” e “Perfil de Jesus”

Nossos pêsames à sua família.

Sua morte também foi noticiada na seção “Obtuario”, do jornal “O Paiz”, publicado no Rio de Janeiro, na edição de 3 agosto de 1912: “Dia 31 – Cemiterio de S. Francisco Xavier – [...] Manoel Ferreira Itajuba, 36 annos, casado, Santa Casa.”.

Seus restos mortais foram trazidos para Natal com a presteza de Aristóteles Costa, Eloy de Souza e Henrique Castriciano, conterrâneos do poeta que estavam no Rio de Janeiro, na época. Porém, Itajubá não teve uma despedida digna da que merecia, porque após seus restos mortais chegarem a Natal, ficaram alguns dias na casa de Henrique Castriciano, depois foram depositados no ossuário da Igreja do Bom Jesus das Dores, e acabaram indo para uma vala comum, em ocasião de uma reforma na igreja, assim como afirmou Câmara Cascudo (1965, p. 156).

Desse modo, o triste e prematuro fim de Itajubá se equipara ao de alguns poetas românticos, como Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo e Junqueira Freire, e também de algumas figuras importantes da cultura do Rio Grande do Norte, como a poeta Auta de Souza (1876-1901), o poeta Gothardo Neto (1881-1911), e o entusiasta da aviação Augusto Severo3 (1864- 1902), como o próprio Itajubá observou no texto sobre esse entusiasta da aviação:

3 Augusto Severo de Albuquerque Maranhão (1864- 1902), natural de Macaíba/RN. Foi político, jornalista,

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“Não sei porque motivo os gênios de minha terra vão para a Eternidade na flor da juventude, quando principiam a ver como Moisés a Terra Prometida!” (ITAJUBÁ, 2009, p. 133-135).

Quatro anos após a morte de Itajubá, em 1916, foi publicada uma “Polyanthéa” em sua homenagem, que trazia em sua capa: “À memoria do poeta rio-grandense do Norte Manoel Virgilio Ferreira Itajubá por um grupo de intellectuaes seus patrícios e admiradores no seu saudoso quatriênio de sua morte” (MEIRA et al., 1916). Essa homenagem, que curiosamente tinha como local de publicação “Belém do Grão Pará” (atual cidade Belém, capital do estado do Pará) e a data de 30 de julho de 1916, trouxe produções dos seguintes autores: Augusto Meira (1873-1964), Luiz Torres (?), Barreto Sobrinho (1891 -1961), Severino Silva (1887-1962), Angione Costa (1888-1954) e Peregrino Júnior (1898-1983). Todos esses autores nasceram em cidades do estado do Rio Grande do Norte, mas também tiveram experiências no atual estado do Pará, seja para estudar ou trabalhar. Porém, o que mais intriga é o porquê de publicar essa homenagem no “Belém do Grão Pará” e não em Natal, no Rio Grande do Norte, local em que Itajubá nasceu e viveu toda a sua vida. Teria o poeta alguma relação com esse estado? O exílio narrado por ele em Terra Natal teria realmente acontecido? Ou a

publicação foi uma mera conveniência dos próprios autores que a organizaram, já que residiam naquele estado, na época. Ficam então, mais dúvidas pairando sobre a vida de Ferreira Itajubá, com a sua biografia cheia de lacunas.

1.1.2 Produção bibliográfica

Escrevi para o povo, que me compreende, sem esforço, pela linguagem espontânea do coração e da alma.

Ferreira Itajubá

(23)

constitui, predominantemente, nos temas e formas como romântica. Sendo assim, destacamos essa preferência do poeta pela produção romântica, que refletiu diretamente em suas obras, como um dos argumentos para justificar a proposição a ser defendida neste trabalho: a vinculação de Terra Natal ao Romantismo.

A participação de Itajubá na imprensa começou em 1896, quando lançou seu primeiro jornal, “O Eco”, um hebdomadário joco-sério, publicado aos domingos, de duração efêmera. A sua participação na imprensa prosseguiu com a criação da revista literária “A Manhã”4, que teve seu primeiro número lançado em 2 de junho de 1897, o único que se tem notícia. Por terem sido tão efêmeros, não há registros de suas edições em acervos, por isso não se sabe o conteúdo que compunha essas duas publicações.

Até onde sabemos, o primeiro poema de Itajubá publicado na imprensa foi “As tardes do Jordão”5, especificamente na revista “Oásis”, órgão do Grêmio Literário Le Monde Marche. Em edições posteriores dessa mesma revista, o poeta publicou mais três poemas: “O meu estudo (Imitação)”, “No sepulcro”; “As andorinhas”. Após suas contribuições na revista “Oásis”, o poeta passou a publicar, em 1897, no jornal “A Republica”, principal periódico do Estado, atrelado ao governo local6. Além desses dois periódicos, Itajubá publicou em muitos outros veículos de Natal, a exemplo dos jornais “O Potiguar”, órgão do Grêmio 12 de outubro; “O Potengi”; “O Trabalho”; “Gazeta do Comércio”; “Diário do Natal”; “A Capital”; “O Torpedo”; “A Ordem”; “O Arurau”; “A Tampa”; “A Rua”; e das revistas “Pax”, órgão do Grêmio Literário Augusto Severo e “Potiguar”, da Oficina Literária Lourival Açucena.7. Até onde sabemos, há dois registros de publicações de Itajubá fora das fronteiras do Rio Grande do Norte, especificamente no estado do Amazonas. É o que nos informa a seguinte nota publicada na coluna “Varias”, na edição de 18 de janeiro de 1911, do jornal “A Republica8”: “O Diario do Amazonas transcreveu d’A Republica os sonetos ‘Lembras-te’ e ‘Noivos’ do

nosso conterrâneo sr. Ferreira Itajubá”. A outra publicação ocorreu no jornal “Correio do

4 A primeira referência a esta revista aparece na revista “Oásis” (órgão do Grêmio Literário Le Monde Marche),

na edição de 15 abril de 1897, n.54, ano IV, p. 2.

5 ITAJUBÁ, 2009, p. 38. (Oásis, Natal, 15 maio 1896.)

6 O primeiro poema publicado em “A República” intitulava-se “Reminiscência” e está presente na edição de 8

outubro de 1897.

7 Esses periódicos foram publicados nos seguintes intervalos no tempo: “Oásis” (1894-1904), “A República”

(1889-1987), “O Potiguar” (1904-1908), “O Potengi” (1906-1908), “O Trabalho” (1905-1907), “Gazeta do Comércio” (1901-1905/ 1907-1908), “Diário do Natal” (1895-1913), “A Capital” (1908-1910?), “O Torpedo”(1908-1910), “A Ordem”(1909-1915?) , “O Arurau”(1905-1908), “A Tampa”, “A Rua” (1910-?), “Pax” (1907-1912?),” e “Potiguar” (1910-1911?)

8 Essas informações foram colhidas em pesquisa em diversas edições do jornal “A Republica”, presente no

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Norte”, de Manaus, na edição de 24 de fevereiro de 1911, a qual tivemos acesso e que também transcreve o poema “Lembras-te”, em sua primeira página. A publicação desses poemas nos jornais da cidade de Manaus/AM é um tanto intrigante, assim como a “Polyanthéa”, em homenagem ao poeta (que mencionamos na seção anterior) ter sido publicada na cidade de Belém/PA.

Além da poesia e da prosa, Ferreira Itajubá ainda se aventurou na produção de dramaturgia, ao escrever a comédia “Um Plano de Mulher”, que foi encenada em 5 de maio de 1907, no Teatro Carlos Gomes (atual Alberto Maranhão), em Natal. A encenação dessa peça rendeu muita polêmica na época, pois não agradou ao público, conforme foi publicado nos jornais da época9, o que provocou desavenças entre J. Paulo, o ator da peça, e Itajubá, que publicaram textos sobre o assunto em jornais locais. O texto de J. Paulo intitulado “Um artista em cena” foi publicado na coluna “Solicitadas” do jornal “A Republica”, na edição de 8 maio, 1907. Em resposta a esse texto, Itajubá publica os textos: “Respondendo I” e “Respondendo II”, na “Columna Livre” do jornal “Diário do Natal”, respectivamente, nas edições de 12 de maio e 15 de maio de 190710. Em “Respondendo I”, Ferreira Itajubá se redimiu da culpa pelo insucesso do espetáculo, atribuído pelo ator J. Paulo ao próprio roteiro produzido pelo poeta. Itajubá se defendeu justificando que no ensaio geral, realizado um dia antes da apresentação do espetáculo, ou seja, dia 4 de maio de 1907, já havia percebido que o ator J. Paulo “não se conduzia bem [...] no difícil papel do matuto” (ITAJUBÁ, 2009, p. 150). Mas mesmo assim, o

poeta decidiu manter a apresentação e não cancelá-la em consideração ao público, ao próprio ator, que se dispôs com entusiasmo a representar o papel de matuto, e as Lojas Maçônicas, que apadrinhou o espetáculo. No outro texto, “Respondendo II”, Ferreira Itajubá procurou reafirmar que o insucesso do espetáculo foi causado pela encenação não convincente de J. Paulo e para argumentar a sua opinião, Itajubá disse que quando esta mesma peça foi encenada no teatro da sociedade dramática José de Alencar, o espetáculo “agradou extraordinariamente a todos que assistiram” (ITAJUBÁ, 2009, p. 155).

Tratando especificamente de sua produção poética, Ferreira Itajubá afirmou no texto “Como tenho vivido” que o poema Terra Natal foi composto por ele aos 22 anos:

Aos 22 rebentaram-me as primeiras ilusões de uma paixão que, inspirada numa lenda praieira do Rio Grande do Norte, fez nascer o Terra Natal, em

9 A crítica à comédia foi publicada na coluna “Theatro Carlos Gomes”, no jornal “A República”, de 6 maio,

1907: “[...] A comedia do sr. Manoel Ferreira Itajubá, denominada Um plano de mulher, não agradou; e o ato de concerto esteve regular. [...]”

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cujas páginas, repassadas de mágoa e saudade, falei das lendas e tradições potiguares, dos amores e desgostos de Branca, a inditosa lavandisca das praias salgadias. (ITAJUBÁ, 1910, p.1)

Apenas em 1914, dois anos após o falecimento do poeta, por iniciativa de Henrique Castriciano, o poema foi publicado. Em 1927, uma edição intitulada Poesias Completas foi

publicada pela Imprensa Diocesana e reuniu Terra Natal e Harmonias do Norte, sendo esta

última uma compilação de poemas esparsos. No ano de 1965, a Fundação José Augusto publicou a segunda edição das Poesias Completas.

No que concerne a Terra Natal, objeto central deste estudo, ao compararmos suas três

edições póstumas ─ 1914, 1927 e 1965 ─ encontramos algumas divergências. Na primeira

edição, de 1914, a obra apresenta a seguinte epígrafe “Terra da minha Patria abre-me o seio./ Na morte ao menos”, que faz parte da obra Camões (1825), de Almeida Garret, poeta do

Romantismo português. Porém, essa epígrafe que explicitamente aproxima Ferreira Itajubá do contexto do Romantismo não está presente em nenhuma das duas edições de Poesias Completas, que incluem Terra Natal e Harmonias do Norte. Apesar de sua ausência nas duas

últimas edições, consideramos a epígrafe contida na primeira edição do poema um elemento de fundamental importância para a compreensão da obra de Itajubá. Pois, em conjunto com as transcrições de poemas românticos que Itajubá empreendeu em seus cadernos de manuscritos, temos um indício relevante da vinculação do poeta à estética romântica, vinculação essa que procuraremos demonstrar pormenorizadamente no poema Terra Natal.

Outra divergência entre as edições seria a modificação na dedicatória, pois, na edição de 1914, ela se apresentava da seguinte forma: “À minha mãe Maria Ferreira”, em uma única página; enquanto na outra aparece: “À memória de meu pai Joaquim José Ferreira”. Nas duas edições seguintes, a dedicatória foi modificada: “À memória de meus pais Joaquim José Ferreira e Maria Ferreira”, disposta em uma única página. Vale salientar que o nome da mãe de Itajubá não é Maria Ferreira, como foi escrito nas dedicatórias, mas sim Francisca Ferreira de Oliveira, como observou José Bezerra Gomes (1944, p. 37), em Retrato de Ferreira Itajubá. Outra modificação que deve ser salientada é o fato da prosa que antecede o início dos

versos ser chamada de “Preambulo” na edição de 1914, enquanto que nas duas seguintes esse título foi omitido.

Na edição de 1927, alguns lapsos de ortografia foram cometidos, mas foram amenizados pela presença de uma “Ementa” nas últimas páginas do livro. Na edição de 1965, alguns versos de Terra Natal foram omitidos, especificamente dos cantos VII, XVII e XXVII.

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preferimos selecionar a edição de 1914 para empreender a análise a ser realizada neste trabalho, tendo em vista que, provavelmente, foi a matriz para as edições posteriores. Além disso, manteremos, neste trabalho, a ortografia conforme a edição selecionada, sem atualizações.

No ano de 1993, foi publicado o livro Gracioso Ramalhete, sob a organização de

Claudio Pinto Galvão. Neste livro, foram reunidos os sonetos publicados por Ferreira Itajubá, sob o pseudônimo Stella Romariz, no jornal “O Torpedo” (1908-1910), órgão da Divisão Branca. Os sonetos com assinatura de Stella Romariz homenageavam as moças que participavam da Divisão Branca, atribuindo a cada uma delas o nome de uma flor. Além dos sonetos de Itajubá, o volume traz ainda poemas produzidos pelo sucessor de Itajubá na coluna, Gotardo Neto, que utilizava o pseudônimo Eliza Bastos.

Em 2009, foi publicada, pelo Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-Grandenses (NCCEN) e pela Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a antologia Dispersos11. Essa antologia compõe-se de poemas e textos em prosa publicados por

Ferreira Itajubá em jornais e revistas da imprensa de Natal, entre 1896 a 1911, além de poemas encontrados no caderno de manuscritos anteriormente referido, que, provavelmente, foram os primeiros textos produzidos pelo autor.

No que diz respeito aos temas e formas praticadas por Ferreira Itajubá em sua produção, observamos a preponderância da estética romântica, como viemos afirmando. A maioria de suas poesias trazem como ambientação a natureza tropical e litorânea da cidade de Natal. Dentre os temas, podemos destacar a projeção do estado anímico na natureza; o apego à terra de origem, expresso através de um forte telurismo e de um acentuado gosto pela cor local, como no poema “Terra Mater”; a evasão no tempo, que se manifesta através do retorno ao passado de forma saudosista, como no poema “Lima de Carne”, ou por meio do avanço para o futuro, na esperança de cessar as dores do presente, como em alguns cantos de Terra Natal; e a religiosidade, que se configura através de menções a figuras e episódios bíblicos. A

respeito do amor, em Terra Natal, vemos o tema do amor único entre Branca e seu noivo, que

parte para o Amazonas deixando-a em sua terra. Em Harmonias do Norte, o amor é mais

fortuito, pois cada eu-lírico dos poemas se vê desperto pela paixão por diferentes mulheres, como nos poemas “Maria”, “Samaritana” e “É cedo, fica”, mas também há espaço para o amor único em “Foram dias de Inverno” e “Noivos”. As relações amorosas não são

11 Esta compilação foi organizada pelo Prof. Dr. Humberto Hermenegildo de Araújo, professor titular da UFRN,

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platônicas, concretizam-se em encontros noturnos em alcovas e leitos, caracterizados por beijos e pelo desejo de um seio ardente, que por vezes tende a aparecer. Há também lugar para os relacionamentos rompidos como em “Desterro” e “Amor antigo”.

Acerca de outros dois temas, o exílio e a melancolia, também presentes na poesia de Itajubá, Gurgel (2001, p.51) afirma: “toda a sua poesia tem o acento de partida, e a inevitável melancolia de um romântico compulsivo”. Sobre o tema do exílio, podemos propor a seguinte sequência: em alguns poemas de Harmonias do Norte há um desejo do eu-lírico migrar para

outros lugares na esperança de cessar as suas dores, por isso a constante presença de aves migrantes como pintassilgos, andorinhas e arribaçãs. Podemos encontrar esse desejo de migração nos poemas “De Natal ao Pará”, “Aves de arribação”, “Ave de arribação” e “De viagem”. Em Terra Natal, como veremos mais adiante, a migração se concretiza, mas o

eu-lírico não demonstra estar entusiasmado com a viagem que ele chama por várias vezes forçada e demostra que é melhor sofrer as desilusões da vida perto dos seus do que longe deles. Em Dispersos, numa significativa parte dos poemas, há um eu-lírico que expressa a

experiência de ter migrado, como nos poemas “Longe da pátria”, “Lembras-te” e “De volta ao lar”.

Sobre a melancolia, percebemos que em muitos de seus poemas há uma constante dor sem motivações explícitas, presente tanto nos poemas de Harmonias do Norte: “Dor secreta”

e “Cansado de sofrer”, como em Dispersos, a exemplo de: “Cismando” e “Sombras da noite”.

Em Terra Natal, a causa dessa dor é a distância da terra de origem, enquanto que nas outras

obras não são explicitadas a causa, constituindo assim a melancolia.

No que diz respeito às formas poéticas, Itajubá utilizou frequentemente os seguintes tipos de estrofes: dísticos, quadras, sextilhas, oitavas, sétimas, décimas, bem como o soneto. A métrica de seus poemas variou entre hexassílabos, heptassílabos decassílabos e dodecassílabos, sendo este último, o metro no qual são compostos quase todos os cantos de

Terra Natal. Em alguns de seus poemas, fez uso da musicalidade através de anáforas,

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encadeia quase que sem fôlego suas emoções, muitas vezes representadas nos textos através da ausência de vírgulas ou pontos.

1.1.3 Fortuna crítica sobre Ferreira Itajubá e sua obra

[...] o mais nosso dos poetas do Rio Grande do Norte, aquele cujo coração palpita mais em harmonia conosco e tudo que nos cerca.

Henrique Castriciano

A fortuna crítica acerca de Ferreira Itajubá possui um número significativo de artigos em jornais e revistas do século XX que, em sua maioria, foram publicados na imprensa da cidade de Natal. Alguns livros se propuseram a comentar sua vida e obra. Seu nome está quase sempre presente nos livros e antologias que a produção literária norte-rio-grandense se dispõe a apresentar. Por ser patrono da cadeia de número 19, da Academia Norte-rio-grandense de Letras, Itajubá foi lembrado nos discursos de posse dos ocupantes.

Porém, na época em que Itajubá produziu a sua obra, no fim do século XIX e início do século XX, a crítica produzida no Brasil e, por conseguinte, no Rio Grande do Norte, apresentava um tom impressionista, também conhecida por crítica de rodapé ou crítica jornalística. Esse tipo de crítica era geralmente publicado na imprensa periódica e caracterizava-se por estar baseada nas emoções suscitadas pelo texto no leitor, que, geralmente, não tinha embasamentos teóricos mais apurados.

Mesmo com o surgimento da crítica especializada ou crítica universitária, o corpus

composto pelas poesias de Ferreira Itajubá não despertou o interesse dos pesquisadores que se propuseram empreender uma análise seguindo os métodos acadêmicos da crítica literária, assim sua fortuna crítica não avançou em nível analítico. Sendo este um dos motivos, senão o principal, que justifica a realização deste trabalho.

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instrução” não corresponde a real escolaridade do poeta, como pudemos ver nos comentários à sua biografia, em especial no próprio relato de Itajubá ao falar sobre a sua formação no texto “Como tenho vivido” (1910).

Castriciano (1908) incluiu Itajubá na geração literária do Rio Grande do Norte por ele designada, “em falta de melhor designação”, de impressionista, e ressaltou que o estilo de Itajubá divergia dos demais integrantes dessa geração, pois “ele é da família dos cantores nativistas em boa hora apaixonado pelas tradições e pela vida exterior do país em que nasceram” (CASTRICIANO, 1908, p.1). Provavelmente, Castriciano observou que Itajubá se diferenciou dos poetas que lhe foram contemporâneos pelo fato de o poeta transcender a preferência dos outros escritores em se pautarem apenas em temas intimistas, com a preocupação quase que exclusiva no indivíduo. Itajubá foi além, pois ao tratar de “assuntos brasileiros, de imagens nossas, formadas com os nomes de pássaros, de aves e de paisagens nortistas” (CASTRICIANO, 1908, p.1) mostrou uma preocupação em relatar também a vida exterior, mesmo que essas descrições extrínsecas ao “eu” refletissem o seu estado interior.

Por volta de dois meses após publicação do artigo de Castriciano, Itajubá volta a ser citado na imprensa local, em 25 de julho de 1908, no jornal “A Republica”, mais precisamente no artigo “Literatura indígena”, de Afonso Duarte de Barros12. Nesse artigo, o autor engradeceu a figura de Itajubá e equiparou-o aos grandes poetas potiguares da época: Henrique Castriciano, Segundo Wanderley, Auta de Souza e Gotardo Neto. Segundo Tarcísio Gurgel (2001, p. 49, nota 32), após a publicação desse artigo, “Itajubá passa a publicar de modo sistemático, nos dois anos que se seguem, por vezes até com o destaque do canto alto, à direita, da primeira página principal jornal da Capital”

Na edição de agosto de 1908, a revista PAX, do Grêmio Augusto Severo, trouxe um artigo de Carlos de Sévigné13, em ocasião do aniversário do poeta. Nesse texto, Sévigné fez comentários elogiosos a Itajubá e observações sobre os dois livros do poeta: Harmonias do Norte e Terra Natal, que, na época, estavam a ser publicados. Sobre Terra Natal, fez um

comentário curioso ao afirmar que “é um poema de dezoito cantos, contendo mil duzentos e tantos alexandrinos modernos”, enquanto que a versão que conhecemos possui trinta e quatro cantos e mil novecentos e setenta e nove versos.

12 Não há dados acerca desse autor, por isso fica a dúvida se esse era o nome de uma pessoa ou um pseudônimo.

Tarcísio Gurgel (2001, nota 32, p. 49) faz as seguintes indagações sobre esse autor “Afonso Duarte de Barros (Jornalista? Poeta? Simples leitor?)”, mas sem chegar a conclusões.

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Anos depois, em 9 de agosto de 1917, Henrique Castriciano, sob o pseudônimo de João Claudio, na coluna “Cinco minutos”, retomou o seu primeiro texto sobre Itajubá, publicado em maio de 1908. Nesse texto, Castriciano relembrou a repercussão positiva que o antigo artigo teve entre a intelectualidade natalense da época e a empolgação de Itajubá ao ver sua produção literária reconhecida no meio cultural de Natal. Nesse intervalo de nove anos entre os artigos de Castriciano muitos fatos significativos ocorreram, desde o aumento de publicações de Ferreira Itajubá nos jornais locais, o seu falecimento em 30 de julho de 1912 e a publicação de Terra Natal, em 1914, empreendida pelo próprio Henrique Castriciano.

Em 1921, o nome de Ferreira Itajubá voltou a ser objeto de discussão, no livro Alma Patrícia, de Câmara Cascudo, obra que trata dos principais participantes do movimento

literário no Rio Grande do Norte. Esse livro é composto de comentários acerca da biografia e das produções literárias de cada um dos dezoitos literatos selecionados14, no estilo da crítica impressionista.

Sobre Itajubá, Cascudo, além de comentar aspectos biográficos do poeta, também fez algumas considerações sobre o enredo Terra Natal. Ele ressaltou que a poesia de Itajubá se

diferenciou daquela produzida pelos outros poetas de sua época que viviam “enfurnados n’alma” por ter paisagens locais, pois “ante o sentimentalismo romântico, [ele] abriu a janela larga dos horizontes naturais, mostrando o que é nosso, terra, céu e mar.” Por isso, Cascudo afirma “Só Itajubá é nosso. É a própria terra que canta pela sua boca rude” (1921, p.133). Dessa forma, a afirmação de Cascudo comunga com opinião de Henrique Castriciano, no artigo publicado em 30 de maio de 1908, citado anteriormente, no que se refere ao diferencial da produção de Itajubá quando comparado aos poetas que lhe foram contemporâneos.

Ainda no ano de 1921, o jornalista Joaquim Inojosa publicou o artigo “Poema da tristura”, na edição de 1º de outubro da revista “Era Nova”, publicada na Paraíba. Possivelmente, essa tenha sido a primeira vez que Itajubá foi citado fora da imprensa norte-rio-grandense. Nesse artigo, Inojosa considerou Itajubá um poeta “inexcedível de melancolia”. Essa expressão “poema da tristura”, do próprio poeta, que está localizada no poema introdutório de Terra Natal, caracteriza bem as emoções apresentadas durante toda a

obra. O crítico do modernismo ainda revelou o seguinte fato que lhe admirou em Itajubá: “a espontaneidade de seus versos” (1962, p.36).

14 Os nomes selecionados foram: Sebastião Fernandes, Henrique Castriciano, Othoniel Menezes, Abner de Brito,

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No livro História do Estado do Rio Grande do Norte (1922), de Francisco da Rocha

Pombo, Itajubá é citado no capítulo “As letras do Rio Grande”. Em parte desse capítulo, Rocha Pombo traçou o que seria um esboço da vida intelectual do poeta. Para tanto, comentou

Terra Natal e mencionou as obras Perfil de Jesus e Lendas de Extremoz, ambas consideradas

desaparecidas, além de Harmonias do Norte, que só iria ser lançada em 1927, conjuntamente

com Terra Natal, no volume intitulado Poesias Completas. No mesmo ano de 1922, Ezequiel

Wanderley lançou a antologia Poetas do Rio Grande do Norte, na qual foram incluídos

aspectos biográficos de Itajubá e o seu poema “Ave de arribação”.

No ano de 1924, Câmara Cascudo publicou Joio, que segue o mesmo estilo de Alma Patrícia, no qual dedicou um de seus capítulos a Ferreira Itajubá. É um capítulo mais sucinto

que aquele presente no livro anterior, mas mantém o estilo de ressaltar traços biográficos e alguns comentários impressionistas sobre a obra. Vale ressaltar que dos dezoito autores incluídos em Alma Patrícia apenas Ferreira Itajubá foi incluído em Joio, pois, provavelmente,

Cascudo percebeu o diferencial de Itajubá quando comparado aos poetas que lhe foram contemporâneos, como vimos anteriormente.

Ferreira Itajubá ainda figuraria, décadas depois, em outros artigos de Câmara Cascudo publicados no jornal “A Republica”: “Retiro de Ferreira Itajubá”, publicado em 27 setembro 1940, e “Um retrato de Ferreira Itajubá”, em 24 janeiro de1945, ambos publicados na coluna “Acta Diurna”; além do artigo “Poesias de Ferreira Itajubá”, em 15 janeiro de 1957, publicado na coluna “Histórias e estórias”.

Em “Retiro de Ferreira Itajubá”, Cascudo descreveu um “retiro” da cidade de Natal, localizado “no fim da avenida Getúlio Vargas, quase ao descer para a Praia do Meio”, no qual, segundo ele, Itajubá colheu imagens para a sua produção poética. Pois foi nesse lugar, onde Itajubá “ficou olhando, de costas para a Cidade, o mar, os jangadeiros, as praias, os coqueiros oscilantes, as violas enfeitadas de fitas, os ventos largos que passam cantando nas areias e enxugam os grandes trasmalhos estendidos”. Cascudo ainda defendeu nesse artigo, uma possível homenagem à Itajubá, ao sugerir que fosse batizado esse “retiro” com o nome do poeta.

No artigo “Um retrato de Ferreira Itajubá”, Cascudo comentou o livro Retrato de Ferreira Itajubá, de José Bezerra Gomes, lançado em 1944, ano anterior à publicação desse

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mencionou José Bezerra Gomes. Desta vez, informou uma pesquisa que José Bezerra estava desenvolvendo na época sobre a obra de Ferreira Itajubá.

Até onde sabemos, o jornalista João Ribeiro foi o segundo autor a falar sobre Ferreira Itajubá fora das fronteiras do Rio Grande do Norte. Em artigo publicado na edição de 13 de março de 1926, do “Jornal do Brasil”15, do Rio de Janeiro, expressou o seu interesse em apresentar poetas novos, e nesse artigo pautou-se no “caboclo do norte” Ferreira Itajubá. João Ribeiro disse, num tom poético, que Terra Natal deveria ser “conhecido e amado” e que se

trata “de um poema lírico do retirante que troca a jangada pelas gaiolas do inferno verde, à

busca do ouro negro dos seringais. E volta desenganado...”. E ainda disse:

Eu quisera, pois, que se fizesse alguma justiça retrospectiva a esse poeta que não quis repetir os lugares comuns da mitologia arcádica, nem o pedantismo da chamada literatura sertaneja, nem a ênfase ao mendubi torrado na Paulicéia. (RIBEIRO, 1957, p.201)

Foi Câmara Cascudo quem apresentou a poesia de Ferreira Itajubá a João Ribeiro e a Joaquim Inojosa, assim como a Mário de Andrade, na passagem deste pelo Rio Grande do Norte. Nota-se que a partir da década de 1920, Cascudo veio a ocupar o lugar de Henrique Castriciano enquanto incentivador e, principalmente, divulgador da cultura do Rio Grande do Norte em outros estados do país. Esse papel anteriormente foi exercido por Castriciano no final do século XIX e na primeira década do século XX, através da produção e publicação em colunas de jornais, de artigos sobre as obras dos literatos norte-rio-grandenses. Castriciano também estimulou a publicação de várias obras de autores locais através da Lei de nº 145, de 6 de agosto de 1900, período em que foi secretário do governo Alberto Maranhão. Com essa lei Castriciano “convenceu o governador Alberto Maranhão da necessidade do Governo mandar imprimir, constituindo prêmio, os livros de ciência ou literatura produzidos por filhos domiciliários do Rio Grande do Norte [...]” (CASCUDO, 1965, p. 59)

A passagem de Mário de Andrade pelo estado resultou no registro sobre Ferreira Itajubá, numa espécie de diário de viagem que foi o livro O Turista aprendiz (1976),

especificamente no registro do dia 13 de janeiro de 1929. Esse mesmo registro foi publicado na edição de 19 de fevereiro de 1929 do jornal “Diário Nacional” e, posteriormente, com

15 Esse mesmo artigo foi publicado na edição de 6 de abril de 1926, no jornal “A República”, de Natal, sob o

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algumas alterações, fez parte da coletânea de crônicas Os filhos da Candinha16, no capítulo

intitulado de “Ferreira Itajubá”.

Comparando as duas versões do texto de Mário de Andrade, percebemos algumas diferenças, como destacamos a seguir:

Leio Ferreira Itajubá, um dos nomes da poesia norte-riograndense. Dizem que era muito ignorante e felizmente parece mesmo. As idéias dele não vão além da conversa, o que inda pode ser uma pena, porém os versos não têm no geral esses requebros de poética que deslustram a naturalidade do lirismo. (ANDRADE, 1976, p. 280, grifos nossos)

Leio Ferreira Itajubá, um dos nomes da poesia potiguar. E da poesia verdadeira do Brasil. Dizem que era muito ignorante e felizmente parece mesmo. As idéias dele não vão além da conversa, o que inda pode ser uma pena, porém os versos não têm no geral esses requebros de poética que deslustram muito a naturalidade do lirismo, nos contemporâneos dele. (ANDRADE, 2008, p. 86, grifos nossos)

Na primeira versão, presente em O Turista aprendiz (1976), Andrade disse que Itajubá

é “um dos nomes da poesia norte-riograndense”, enquanto que na segunda versão do artigo, publicado em Os filhos da Candinha, ele substituiu “norte-riograndense” por “potiguar”. E

ainda acrescentou que Itajubá também é um dos nomes “da poesia verdadeira do Brasil” e que os versos de Itajubá não “deslustram muito a naturalidade do lirismo, [característico] nos contemporâneos dele”. Segundo Humberto Araújo (2004, p.102), essa “sutil modificação revela um amadurecimento da leitura e um reconhecimento da amplitude do registro poético considerado”.

Veríssimo de Melo, na introdução da 2ª edição do Livro de Poemas (1970), de Jorge

Fernandes, transcreveu uma carta que ele recebeu do poeta Manuel Bandeira, na qual o poeta da pasárgada demonstrou o desejo de ler a poesia de Itajubá e também de Jorge Fernandes:

Pois bem, exijo de você, exijo dos natalenses, exijo dos rio-grandenses do Norte que nos arranjem o Jorge Fernandes e o Ferreira Itajubá. Urgentemente, Veríssimo de Melo, urgentemente!

(BANDEIRA apud MELO, 1970, p.20)

Provavelmente foram ofertados a Manuel Bandeira alguns dos poemas de Jorge Fernandes e de Ferreira Itajubá, possivelmente por Câmara Cascudo, ou por intermédio de Mário de Andrade, que chegou a conhecer a produção tanto de Jorge Fernandes, como de

16 Essa coletânea de crônicas foi organizada por Mário de Andrade em 1942 e publicada em 1943, pela Editora

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Itajubá, os quais renderam o ensaio que mencionamos acima. Tanto Jorge como Itajubá devem ter despertado em Bandeira bastante interesse, tendo em vista a solicitação dele de livros dos poetas a Veríssimo de Melo.

Em 30 de julho de 1940, Clementino Câmara assumiu a cadeira da Academia Norte-rio-grandense de Letras, da qual Ferreira Itajubá é patrono. No seu discurso17, Clementino Câmara trouxe muitos apontamentos biobibliográficos sobre Itajubá, além de comentários sobre o início de sua produção poética, chegando até a transcrever alguns de seus poemas. Ao comentar a obra, fez críticas à linguagem descuidada utilizada por Itajubá, que segundo Câmara (1951), era repleta de erros gramaticais e se devia a sua pouca instrução:

Fácil é por aqui avaliar que, pondo em confronto a poesia e o vernáculo, na impropriedade de termos e atentados a construção, Itajubá já se revelava mais poeta que cultor do idioma.

Aliás, jamais soubera ele o que era cultura; além disso, o meio em que nasceu e viveu nada lhe pôde proporcionar, e, mais ainda, estímulo nunca o teve. Era o diamante bruto cujo brilho latente nunca encontrou lapidário. (CÂMARA, 1951, p. 87)

Em 1944, é publicado o primeiro livro dedicado exclusivamente à figura de Ferreira Itajubá. O Retrato de Ferreira Itajubá, de José Bezerra Gomes, é a mais bem elaborada

biografia sobre o poeta, pois seu autor teve o cuidado de visitar diversos arquivos em busca de documentos e textos, além de ter entrevistado amigos e parentes do poeta, o que resultou num trabalho repleto de informações. Em 1947, três anos após a publicação do livro de José Bezerra Gomes, Othoniel Menezes publicou em diversos números do jornal “O Democrata” o extenso ensaio “Ferreira Itajubá: o drama da vida de província”18.

Sobre Itajubá e sua obra também foram dedicados alguns capítulos de livros produzidos por autores norte-rio-grandenses que seguem os padrões da crítica impressionista, como por exemplo, o livro Ensaios de crítica e literatura (1923), de Armando Seabra, Imagens do tempo (1966), de Edgar Barbosa, e Patronos e Acadêmicos (1972), de Veríssimo

de Melo.

Armando Seabra, no capítulo “Terra Natal”, da obra Ensaios de crítica e literatura

(1923) segue a mesma proposição de Angione Costa19 ao comparar Terra Natal à obra Miréio

17 Como foi dito, esse discurso foi proferido em 30 de julho de 1940, mas só foi publicado na primeira edição da

Revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras, no ano de 1951.

18 Este ensaio também foi republicado no número 8 da Revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras, em

maio de 1970 e na edição Othoniel Menezes: obra reunida (2011).

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(1859), do poeta francês Frédéric Mistral. Segundo Seabra, a obra de Itajubá e de Mistral se aproximariam pelo fato de ambas retratarem o cotidiano dos patrícios de suas respectivas terras. O crítico ainda afirma que“MIRÉIO e BRANCA não existiram senão no domínio da lenda e na imaginação desses dois poetas geniais.” (SEABRA, 1923, p.86).

Edgar Barbosa, no capítulo “Itajubá”, da obra Imagens do tempo (1966), chamou o

poeta de “nosso maior poeta nativista” e afirma que Itajubá “é o nosso lírico do mar, do exílio e da saudade” (BARBOSA, 1962, p. 20). Além dessas considerações sobre o poeta, Barbosa relatou o trabalho realizado por José Bezerra Gomes que procurou ampliar aquele realizado por Henrique Castriciano, “ao coligir e gramaticalizar os versos do poeta” (BARBOSA, 1962, p. 20).

No volume I de Patronos e acadêmicos, Veríssimo de Melo (1972) fez uma breve

apresentação sobre a vida e a obra de Ferreira Itajubá, patrono da cadeira de número 19, como comentamos anteriormente. Chama-o de “menestrel indígena” e “modinheiro inveterado”. Fez menção aos discursos de posse dos ocupantes da cadeira Clementino Câmara e Nilo Pereira, além de citar um trecho da introdução escrita por Esmeraldo Siqueira para a segunda edição das Poesias Completas (1965).

Com o falecimento de Clementino Câmara, em 18 de setembro de 1954, foi necessário escolher outro nome para ocupar a cadeira cujo patrono é Itajubá. O nome escolhido foi Nilo Pereira, que assumiu em 31 de agosto de 1955. E como é habitual elogiar no discurso de posse o ocupante anterior e o patrono da cadeira, novamente Itajubá foi citado. Desse modo, Nilo Pereira, em seu discurso20, além de ressaltar alguns aspectos da figura humana de Itajubá, demonstrou eruditismo ao falar do fazer poético de Itajubá, ressaltando que mesmo em verso rude o poeta produziu uma poesia espontânea e singular. Ao falar sobre a obra, Nilo Pereira supôs que o grande desencanto presente na poesia de Itajubá foi resultado da frustação social que ele, provavelmente, sofreu. Desse modo, Pereira tentou através de elementos da vida justificar a obra do poeta.

Como alguns dos poemas de Itajubá foram musicados e transformados em modinhas, seu nome foi citado em três obras sobre trovadores: nas antologias Trovadores Potiguares

(1962), organizada por Gumercindo Saraiva, Trovadores do Brasil (1966), com a organização

de Aparício Fernandes, e no estudo A modinha norte-rio-grandense (2000), de Claúdio

Galvão. Segundo Saraiva (1962), os seguintes poemas de Itajubá foram musicados: “Lua de maio” e “Recordações”, por Cirilo Lopes da Silva; “De Natal ao Pará”, por Virgílio Carneiro

20 A posse de Nilo Pereira foi em 31 de agosto de 1955, mas o discurso de posse só foi publicado na edição do

Referências

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